Histórias que Cruzam a África

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SEGUNDA-FEIRA FORTALEZA - CE, - 4 DE JULHO DE 2016 WWW.OPOVO.COM.BR

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Jáder Santana jader.santana@opovo.com.br

H

á na África mais que o moçambicano Mia Couto e o angolano José Eduardo Agualusa. Em sua literatura, há mais que o realismo mágico das tradições herdadas e que o debate sobre o legado dos anos coloniais. Há contos urbanos, histórias de humor e de amor. Há violência e sexo. Fantasia e realidade. Quem se permite ir além de seus autores mais conhecidos, encontra um continente plural, de estética e linguagens originais, com referências que vão do pop ao erudito. No Brasil, foi a editora Kapulana que assumiu a tarefa de integrar às nossas leituras uma nova fração daquele cálido universo do além-mar. Com suas séries e coleções dedicadas ao que há de mais relevante na nova literatura africana, vem lançando no mercado uma boa quantidade de títulos direcionados ao público infantil e adulto, além de obras de teoria literária destinadas ao âmbito acadêmico. Diretora editorial da Kapulana e doutora em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), é Rosana Morais Weg que vem intermediando e promovendo esse intercâmbio entre continentes. “Há muito a se conhecer além de Mia Couto e Agualusa, que são escritores maravilhosos, de alto gabarito. Trouxemos, desde o ano passado, obras de Francisco Noa, Sílvia Bragança, Aldino Muianga, Ungulani Ba Ka Khosa, Hélder Faife, Pedro Pereira Lopes, Maria Celestina Fernandes, Suleiman Cassamo, Lica Sebastião e Clemente Bata”, enumera. A relação de Rosana com o continente de além-mar vem de muito antes da fundação da Kapulana, em 2012. No início dos anos 1980, cruzou o oceano para trabalhar como professora e servir na Cruz Vermelha. “Quando cheguei ao Moçambique, em 1982, fiquei surpresa com o conhecimento de literatura brasileira por parte de parcela da população moçambicana. Jorge Amado, (Carlos) Drummond e Vinícius de Morais eram bem conhecidos e suas obras agradavam e agradam ao leitor moçambicano”. Ciente da escassez de autores africanos em nosso mercado editorial, Rosana criou na empresa alguns segmentos que ajudam a suprir essa lacuna. Na coleção Vozes da África, são publicados livros de ficção infantis e para adultos, em prosa ou poesia. Já a série Contos do Moçambique é formada por dez títulos

MERCADO EDITORIAL.

HISTÓRIAS QUE CRUZAM A ÁFRICA

Representantes da nova literatura africana chegam ao Brasil e expandem nossas referências para além de Mia Couto e Agualusa

ilustrados de narrativas da tradição oral moçambicana. “A fantasia e o onírico estão sempre presentes, mas existe por partes dos novos escritores uma preocupação em tratar de temas e problemas atuais. Além disso, há no meio cultural e literário um grande empenho em recuperar e registrar as histórias da tradição oral”, comenta Rosana. Um dos autores que chegaram ao Brasil graças aos esforços da editora Kapulana foi o moçambicano Clemente Bata, que teve seu volume de contos Outras Coisas lançado por aqui. Suas histórias passeiam pelas desordens das relações humanas e abordam situações de amor, alcoolismo, crimes e violência doméstica. “As personagens vivem intensamente, o que me ajuda a questionar a essência da vida. Será que sabemos tudo sobre ela? O mundo jaz na facilidade que é pensar que tudo reside na razão, na lógica”, comentou o autor em entrevista ao O POVO por e-mail. Com a segurança de quem se permitiu conhecer a literatura que vem sendo produzida pelos nossos lados, Bata enumerou algumas de suas influências do lado de cá. “Faço parte daqueles que beberam da literatura latino-americana, que inclui, como é óbvio, autores brasileiros, mas também da Argentina, da Colômbia, do México, da Venezuela. Eles tiveram um grande impacto nas literaturas africanas, sobretudo de países onde se fala português. Li autores brasileiros, alguns clássicos e outros contemporâneos. Ocorre-me falar de Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Carlos Drummond de Andrade.” Bata acredita que a publicação desses novos autores no Brasil pode romper com estereótipos e ideias ultrapassadas sobre o velho continente. “O encontro entre a realidade literária africana e o que se faz no Brasil é sempre uma oportunidade de aprofundar o conhecimento. O Brasil precisa reencontrar-se com as suas raízes. É também uma forma de escapar dos lugares comuns”, afirma, com a segurança de quem se permitiu conhecer a literatura que vem sendo produzida pelos nossos lados.

Conheça o catálogo da Editora Kapulana em: www.kapulana.com.br

Multimídia Leia a íntegra das entrevistas http://bit.ly/29eakPQ http://bit.ly/29eXmBg


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