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UM SURREALISTA PRA CHAMAR DE NOSSO
O C I T S Á T N A F O S R E V I N U M U A M I L O DARCÍLI
Exposição resgata produção do cearense Darcílio Lima, um dos maiores nomes do surrealismo nas artes plásticas brasileiras, e lança luz sob uma trajetória de mistério e loucura
O POVO online Veja fotos das obras de Darcílio em www.opovo.com.br/galeria
Exposição Darcílio Lima: Um Universo Fantástico Quando: até o próximo sábado, 30, das 10 às 20 horas Onde: Centro Cultural Banco do Nordeste (Rua Conde D’eu, 560 - Centro) Gratuito
Jáder Santana jader.santana@opovo.com.br
s desenhos de Darcílio Lima inquietam e incomodam. São formas antropozoomórficas, bestas híbridas que se mesclam em expressões de desespero e intensidade. Oferecem ao público - como se fossem indissociáveis - elementos de erotismo e violência. Um sexo proibido, quase culpado, que aparece em cintos de castidade, seios e membros fálicos agressivos. Cearense de Cascavel, Região Metropolitana de Fortaleza, foi no Rio de Janeiro e na Europa que produziu a maior parte de suas obras , por muito tempo ignoradas em uma espécie de limbo artístico. Vítima de um surto psicótico, pas-
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sou por instituições psiquiátricas e foi paciente na Casa das Palmeiras, administrada pela renomada psiquiatra Nise da Silveira, que incentivou sua expressão criativa e o apresentou a Ivan Serpa, um dos principais pintores em atividade no País àquela época. Em cartaz no Centro Cultural Banco do Nordeste, a exposição Darcílio Lima: Um Universo Fantástico entra agora em sua última semana de exibição. São 45 obras - desenhos a bico de pena, gravuras e pinturas - que passeiam pela fase mais produtiva do artista, morto em 1991, e ilustram a luta que travava com seus distúrbios mentais. A mostra é uma oportunidade de apresentar ao público um pouco do trabalho de Darcílio, já que a maior parte do acervo com suas obras pertence a coleções particulares. “Por volta de 1965, Darcílio experimentou um surto psicótico. Em muitos de seus trabalhos, sua psicose resultou em figuras despedaçadas, partidas, cindidas”, explica o curador da exposição, o psicanalista carioca Guilherme Gutman. Segundo ele, esse desmembramento das figuras pode representar uma espécie de não reconhecimento do mundo, a perda da unidade do eu.
Gutman chegou ao trabalho de Darcílio por meio do marchand Afonso Henrique Costa, idealizador e coordenador da exposição. Afonso, que teve a oportunidade de conviver com o artista durante suas aulas com Ivan Serpa, guarda a imagem de um cearense obsessivo: “Ele era perfeccionista. Aqueles trabalhos demoravam muito, são milhares de pontinhos com bico de pena. Existe todo o universo erótico e religioso, com cruzes, custódias, cálices, mitras papais”, pontua. Foi Afonso que começou a pesquisar o trabalho de Darcílio e reunir suas obras com colecionadores e casas de leilão. “Ele foi um artista importante e não havia nada sobre ele. Estava no limbo, no ostracismo, e eu quis resgatar. Ele foi, talvez, o maior surrealista brasileiro”, afirma.. Gutman atribui a profusão e associação de elementos eróticos e religiosos ao período mais importante da produção de Darcílio, entre os anos de 1966 e 1975. Segundo ele, o artista teve educação religiosa católica, tendo chegado a frequentar um seminário, do qual foi expulso por desenhar um nu no quadro negro. “Apesar da presença maciça desses elementos, a vida de
Darcílio pode ser considerada espartana, ou mesmo monástica: não há nenhum relato de extravagâncias ou mesmo de qualquer vida afetiva. Ao que parece, tudo foi vivido muito platonicamente, da cabeça pra dentro”. Em 1971, O cearense ganhou do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, uma bolsa para viajar pela Europa, onde conviveu com alguns dos mais importantes artistas de seu tempo, como os surrealistas Salvador Dalí e Félix Labisse. Publicou ilustrações em importantes revistas francesas e assinou contrato com a editora responsável pelas obras de Joan Miró. De volta ao Brasil, não manteve a potência de seu trabalho. Morreu no interior do Rio de Janeiro quando caiu de bicicleta e bateu a cabeça.