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DOMINGO
FORTALEZA - CEARÁ - 4 DE FEVEREIRO DE 2018
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Marcia Tiburi
“NÃO SEI ONDE OS BONS CONSERVADORES ESTÃO” Marcia Tiburi fala sobre o episódio envolvendo Kim Kataguiri, coordenador do MBL, e reflete sobre a apropriação do feminismo pelo debate partidário
JÁDER SANTANA jader.santana@opovo.com.br
Com mais de 80 mil seguidores em sua página de Facebook, a filósofa Marcia Tiburi é hoje uma das mais populares pensadoras no País. Suas posições firmes, os inúmeros livros publicados e sua participação de cinco anos no programa Saia Justa, da GNT, a transformaram em importante voz para o debate que se construiu em torno de questões ligadas ao feminismo e aos rumos da esquerda no Brasil. Na entrevista a seguir, concedida antes do lançamento de seu último livro, Feminismo em comum, em uma livraria de Fortaleza, Marcia reflete sobre o papel da imprensa na perpetuação de clichês violentos e critica o oportunismo que se gera no meio político partidário quando se abraça o feminismo. Também comenta o episódio da Rádio Guaíba, quando se retirou de um programa depois de saber que seu companheiro de debates seria Kim Kataguiri, coordenador do MBL.
O POVO - Queria resgatar o episódio com o Kim Kataguiri na Rádio Guaíba para te perguntar que tipo de debate te interessa, que tipo de debate te atrai.
Marcia Tiburi: Eu participo de debates todo o tempo, sou professora, tenho muitos estudantes, então tenho uma paciência histórica, revolucionária com todas as pessoas, assim como espero que as pessoas tenham comigo. Acho que podemos nos tratar com paciência, respeito, interesse. No entanto, não é possível participar de um debate como boi de piranha. E não é possível você aceitar que um colega de profissão, professor, não te avise do seu debatedor. Ao mesmo tempo, talvez o meu debatedor soubesse da minha presença. Eu nem sabia da presença do garoto do MBL, nem da presença do Requião. Também não perguntei, então não culpo o colega lá. Mas o debate que me interessa é o real, honesto. Sei que se tratando da esfera política, é muito difícil escapar dos sofismas, das falácias. Eu já tive oportunidades de viver situações que foram bem infelizes. Defendo, por exemplo, a legalização do aborto no Brasil, e já participei de muitos debates infelizes. Mas eu ia sempre com um propósito político. E no dia desse evento na Rádio Guaíba, eu não fui participar de uma conversa com um propósito político. Não é possível debater nem conversar com pessoas que tem uma proposta prévia de mistificação. Existem armadilhas colocadas hoje no Brasil, eu mesma sou vítima constantemente de deturpações daquilo que digo. As pessoas editam
meus vídeos, têm tentando atacar minha imagem como professora de filosofia, filósofa, escritora que sou, talvez porque hoje eu fale muito, fale bastante, fale o que penso. Não tenho nenhum problema em debater com pessoas que se posicionam à direita mas que são sérias. Nós podemos ter bons conservadores no Brasil com quem conversar. Eu não sei onde eles estão, acho que estão escondidos e preferem mandar esses personagens na frente, pessoas com intenções mais escusas. Não tenho vontade de conversar com pessoas com intenções escusas, que venham com discursos prontos, não saibam debater ideias e que façam mistificações. Sobretudo não quero aplaudir discurso de ódio e de violência, do robotizado, pré-programado. Quem faz isso acaba sendo conivente e empoderando uma esfera de comunicação violenta, o que é uma contradição, porque a comunicação devia ser não violenta. Eu tô aqui de peito aberto com você, mas às vezes a gente tem que saber se proteger. OP - O feminismo e suas bandeiras serão tema central na campanha eleitoral. E isso é bom, é positivo, mas essa presença massiva aumenta o risco de que o debate resvale para o lugar comum, para o oportunismo. A forma como a política (e aqui falo de política
“Eu nem sabia da presença do garoto do MBL. Também não perguntei, então não culpo o colega lá”