Especial Luciano Carneiro - Com a Cabeça nas Nuvens: Memórias de um Sonhador

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FORTALEZA - CE, DOMINGO - 13 DE MARÇO DE 2016 Twitter: @opovoonline

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LUCIANO CARNEIRO. Com a cabeça nas nuvens: memórias de um sonhador LUCIANO CARNEIRO/ ACERVO IMS

Cultura Conhecido por muitos cearenses apenas por dar nome a uma avenida da Capital, Luciano Carneiro completaria 90 anos em 2016. Para o País, ele deixou marca de vanguarda alismo no fotojornalismo brasileiro Jáder Santana a jader.santana@opovo.com.br

G

uerra da Coreia. 1951. Veio a ordem superior: apenas um correspondente participaria da operação Tomahawk, em Munsan, pulando de paraquedas com os soldados norteamericanos. Único cearense entre candidatos de todo o mundo, Luciano Carneiro, a serviço da revista O Cruzeiro, fez sua proposta: o vencedor seria escolhido em um torneio de xadrez. O jornalista, fotógrafo, aviador e paraquedista, também teve seus dias de tabuleiro. Ouviu por aí que os russos eram os melhores com o xadrez e decidiu comprar vinis que lhe ensinassem a língua eslava. Queria ser melhor enxadrista que o irmão mais velho. Quando venceu o torneio e saltou sobre a Coreia do Sul - tendo optado por seu equipamento diante da diretiva “uma câmera ou uma arma” - legou para o mundo imagens que refletiam o olhar delicado e audacioso de um jovem de 25 anos. “Ele fez do jornalismo algo muito direto, onde a informação era o mais relevante. Isso caracteriza o perfil do Luciano. Ele representou, talvez, uma nova vertente do fotojornalismo, mais engajado, que enfrentava outras posturas mais sensacionalistas”, defende Sergio Burgi, coordenador de fotografia do Instituto Moreira Salles (IMS) e curador da exposição Do Arquivo de um Correspondente Estrangeiro: Fotografias de Luciano Carneiro, em cartaz na sede paulista do Instituto desde o dia 22 de fevereiro. Competidor nato, não admitia a possibilidade de não estar no lugar certo, na hora certa. Movido por esse espírito, viveu, fotografou e escreveu - Luciano tinha uma coluna fixa em O Cruzeiro momentos cruciais que definiram a conjuntura global na década de 1950. Somam-se à da Guerra da Coreia as coberturas que realizou da Revolução Cubana, da vida na União Soviética, dos jangadeiros no nordeste, e das heranças do cangaço. Viajou por quatro continentes, colecionou amigos - o cartunista Ziraldo foi um deles - e admiradores que o apelidaram de Robert Capa brasileiro.

Acervo com 165 imagens de Luciano Carneiro foi comprado pelo Instituto Moreira Salles e está em exposição em São Paulo “Pra mim, com inveja, foi a ida ao cu da África para encontrar o doutor Schweitzer (importante médico alemão) em sua aldeia de leprosos, em uma colônia chamada Lambarene”, comenta o fotógrafo Flávio Damm, companheiro de Luciano na redação de O Cruzeiro, quando perguntado sobre a cobertura mais relevante que o cearense teria realizado. Dos mais prestigiados fotógrafos do País, Damm participou, ao lado de Luciano e do piauiense José Medeiros, do processo de modernização da linguagem fotográfica nacional. Em 1959, quando voltava ao Rio de Janeiro depois de cobrir o primeiro baile de debutantes da nova capital federal, foi vítima de uma acidente aéreo. Em seu velório, colegas de redação, comovidos, lançaram rolos de filme sobre seu túmulo. Aos 33 anos, morreu no ar o cearense que não podia tirar a cabeça das nuvens.

BASTIDORES.

Terra e céu, passado e presente Estudante de Direito que sonhava com os ares, Luciano Carneiro pilotou um monomotor de Fortaleza até Poços de Caldas, em Minas Gerais, com um brevê concedido pelo Aeroclube do Ceará. “Revoada de teco-tecos” foi como um colega de O Cruzeiro batizou a viagem, realizada durante uma semana. “Ele tinha um temperamento muito dinâmico, era uma pessoa que vivia sob a própria influência”. Quem diz é Antônio Carneiro, irmão de Luciano que hoje vive na capital carioca e é editorialista do Jornal do Commercio. Foi Antônio quem recebeu as homenagens promovidas pelo então prefeito de Fortaleza, Cordeiro Neto, na ocasião do acidente que tirou a vida do fotógrafo. Na lista de admiradores também estava o magnata das comunicações nacionais na

primeira metade do século passado, Assis Chateaubriand. Em 1957, quando foi nomeado embaixador brasileiro em Londres, precisou contar com a ajuda do fotógrafo para conseguir um registro adequado da solenidade. Em uma celebração apinhada de grandes nomes de todo o mundo, Chateaubriand pediu a Luciano que entrasse clandestinamente no veículo diplomático que conduzia o novo embaixador até a Abadia de Westminster. Em um de seus voos como piloto por Fortaleza, observando as paisagens que cercavam a cidade e o avanço das moradias em diferentes direções, escreveu reportagem que citava uma dessas praias como sendo “A praia do Futuro”. O nome ficou, eterna referência ao homem que cruzou limites e viveu várias vidas em suas três décadas de história.


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FORTALEZA - CE, SEGUNDA-FEIRA - 14 DE MARÇO DE 2016

MEMÓRIA. ESPECIAL LUCIANO CARNEIRO

ROMEU DUARTE Lentes humanistas de romeuduarte@opovo.com.br

um fotógrafo engajado

Em tempos de Conflito

Filho de Luciano Carneiro, um dos maiores nomes do fotojornalismo nacional, revela o que inspirava o cearense em suas coberturas ao redor do mundo A Nicolas Ayres

LUCIANO CARNEIRO/ ACERVO IMS

Jáder Santana jader.santan@opovo.com.br

Caro (a) leitor(a), escrevo antes do cataclismo. Ou, espero, antes do que não aconteceu. Explico-me: neste fim de semana, a Taba de Alencar, nesta hora de ódio sulfúrico espalhado pelo país, presenciará alguns eventos explosivos. As concentrações dos apoiadores do mandato de Dilma Rousseff e de Lula, seu mentor, e dos que lhes fazem cerrada oposição e, last but not least, o derby fortalezense, Ceará versus Fortaleza. É muito para um week end, não? Fosse viva, diria mamãe: “Para que esse inglês véi de porta de hotel barato, cabra?!”. Saudade dela, seus olhos verde-azulados fazem uma falta danada. Lá fora, as buzinas dos bandos vestidos de verde-e-amarelo e vermelho enchem o que restou da manhã. Amanhã, será a vez de alvinegros e tricolores. Aguardemos... Meu Deus, como é cansativo discutir futebol e a crise política que ora curtimos. Diplomático, e com vários amigos do lado de lá, manifesto minhas opiniões nas redes sociais, mas não levo polêmica adiante. Vanglorio-me de nunca ter rifado quem quer que seja do meu Facebook, por mais infeliz ou insano que tenha sido, para mim, seu palpite. Discordo amplamente de Umberto Eco (a meu ver, com o perdão dos seus muitos admiradores, uma esfinge sem segredo) quando diz que a internet deu voz aos imbecis. A rede internacional de computadores nada mais é que a manifestação eletrônica da vida, esfera na qual convivemos com sábios e gente obtusa e onde não temos o direito de eliminar aqueles de quem não gostamos ou compartilhamos as ideias. Ou não? Como se comportarão as hostes dos dilmistas/lulistas e dos seus adversários? Saberão praticar a boa democracia da convivência pacífica, já que estarão tão perto uma da outra? E quanto às turmas das camisas preto-e-branco e colorida? Deixarão os péssimos exemplos das suas criminosas torcidas organizadas de lado e torcerão em fanática paz por seus times? Ah, quão cruel é a véspera dos acontecimentos. Nosso sofrimento é ampliado pela cultura produzida por esse processo conhecido como “transição brasileira”, que nunca é superado, sendo caracterizado por um costume de varrer os problemas para baixo do tapete da falsa cordialidade. Pois é, Sartre, o inferno são os outros, mas, se assim não fora, que chato seria viver num mundo de iguais, camarada. Numa semana em que perdemos George Martin, Gildo Fernandes de Oliveira, Keith Emerson e Naná Vasconcelos, os prognósticos não são nada animadores. Aliás, são tenebrosos, de lascar mesmo. O quinto Beatle aproximou a música erudita da canção popular com elegância e inovação. O Pernambuquinho foi a razão de muito menino criado nesta terra de Mãe Preta e Pai João na década de 1960, como o signatário, escolher torcer o Vozão Famoso da Ilha das Cobras. O virtuose dos teclados, junto com seus parceiros Greg Lake e Carl Palmer, construiu a base do rock progressivo. O percussionista, rei da Down Beat e do Grammy, nos ensinou a ouvir o Brasil profundo. Deixarão lembranças imorredouras. Oh, Senhor, apascentai as feras.

Esta coluna é publicada às

ascendo no cruzamento da Barão de Aratanha com a 13 de Maio, esquina do 23º Batalhão de Caçadores, e seguindo até o Aeroporto Internacional Pinto Martins, a avenida Luciano Carneiro parece homenagear, do início ao fim, a trajetória do homem que a batizou. Jornalista, fotógrafo, piloto e paraquedista, o cearense tornou-se nacionalmente conhecido por sua cobertura para a revista O Cruzeiro da Guerra da Coreia, no início dos anos 1950, quando teve que saltar de paraquedas ao lado dos soldados norte-americanos. Morreu no último ano daquela década, aos 33 anos, vítima de um acidente aéreo quando chegava ao Rio de Janeiro. Colecionou amigos e histórias, algumas das quais foram publicadas na edição de ontem de O POVO.dom. “Desde pequeno ouvi falar do espírito aventureiro do Luciano. Suas reportagens mostravam um mundo desconhecido para os brasileiros numa época pré-televisiva. Ele realmente viajou muito e as fotos sempre vinham carregadas de significado. Seus textos também eram diretos e, por vezes, flertavam com a poesia”, argumenta Luciano Carneiro Filho, que não chegou a conhecer o pai jornalista. Na data da morte, sua mãe estava grávida de sete meses. Como os fotógrafos humanistas que revolucionaram o fotojornalismo no pós-guerra (Robert Doisneau e Henri Cartier-Bresson,

N

Luciano Carneiro, em registro de fotógrafo desconhecido, durante cobertura da Copa de 1954, na Suiça. Ao lado, em 1951, as lentes de Luciano captavam a devastação da guerra na Coreia do Sul por exemplo) Luciano estava comprometido com uma postura mais idealista e objetiva. Queria influenciar a opinião pública sem oferecer interpretações que se alinhassem aos interesses ideológicos das empresas em seu caso, a enorme estrutura dos Diários Associados de Assis Chateaubriand. Para ele, o ser humano estava acima de tudo. “Ele acompanhou diversas batalhas, registrou tropas colombianas, etíopes e estava presente naquela que talvez seja uma das últimas cargas de baionetas caladas da história, perpetrada pelas tropas turcas (tropas internacionais que formavam a Aliança Anticomunista) porque, na época, já existiam rumores de que as tropas chinesas eram numerosas, mas extremamente mal armadas, e isso explica a carnificina registrada em suas lentes”, avalia Luciano Filho. Entre as coberturas de destaque na carreira de Lucia-

no ainda está sua reportagem sobre a tomada de poder de Fidel Castro, em janeiro de 1959, com a chegada vitoriosa dos revolucionários a Havana, e sua série sobre a vida na União Soviética.

LEIA AMANHÃ Na terceira reportagem do Especial Luciano Carneiro, o V&A entrevista Sergio Burgi, coordenador de fotografia do Instituto Moreira Salles (IMS) e curador da exposição Do Arquivo de um Correspondente Estrangeiro: Fotografias de Luciano Carneiro, com 160 fotos do cearense, em cartaz na sede paulista do Instituto.

Multimídia Leia a matéria publicada ontem em http://bit.ly/1QTNGJx

Em sua edição do dia 23 de dezembro de 1959, O POVO relatou aquele que seria o maior desastre aéreo daquele ano. O avião Viscount, da Vasp, chocou-se no ar contra uma pequena aeronave de treinamento da Escola de Aeronáutica. Morreram os 31 passageiros do avião e outras onze pessoas que estavam na região da queda. Entre os mortos estava Luciano Carneiro, homenageado com um quadro no centro da página e citado “por suas qualidades pessoais e de jornalista [...] como um dos mais completos repórteres da revista O Cruzeiro”.

DIA DA POESIA.SARAU

ACL inaugura Jardim da Poesia

DEIVYSON TEIXEIRA, EM 5/6/2012

Mariana Amorim Especial para O POVO

segundas

marianaamorim@opovo.com.br

CONFIRA ESTA E OUTRAS COLUNAS EM: www.opovo.com.br/colunas

BREVES

REGULAÇÃO.

INSCRIÇÕES.

A Ancine anunciou que deve apresentar projeto de lei para regulamentar serviços de vídeo sob demanda, como a Netflix. Inspirado na legislação de países europeus, o novo marco regulatório deverá estabelecer cotas para produções nacionais e criar um novo tributo para as empresas do setor. O texto deve passar por consulta pública antes de ser submetido ao Congresso.

Interessados em participar da nova turma da oficina de iniciação teatral Garimpo de Talentos podem se inscrever até 1º de abril (ou até o preenchimento das 90 fichas de inscrição) na sede da Secultfor (Rua Pereira Filgueiras, 4 – Centro). O atendimento é das 8h30min às 16h30min. Serão ofertadas 30 vagas, para candidatos a partir de 16 anos. Informações: 3105 1386

O aniversário de nascimento do poeta baiano Castro Alves, neste 14 de março, foi a data escolhida para marcar o Dia Nacional da Poesia. Como forma de celebrar a arte de escrever em versos, a Academia Cearense de letras (ACL), juntamente com a Academia Cearense de Médicos Escritores (Acemes), realiza seu primeiro Sarau Poético. Além de comemorar a data, evento marca a inauguração de uma nova área na sede da ACL: o Jardim Suspenso da Poesia. “Vamos inaugurar e dar vida a esse jardim”, afirma José Telles, presidente da Academia Cearense de Médicos Escritores. Segundo ele, o objetivo do espaço, localizado no Palácio da Luz, é promover e proporcionar base literária aos poetas. “É uma área para encontros descontraídos e para trocar ideias sem pretensões. É muito importante viver a poesia e ter um espaço dedicado a isso é o primeiro passo”. O evento de hoje é aberto ao público e não é necessária a realização de inscrições. “É livre para qualquer poeta. A poesia é o passe de entrada. Estão todos convidados, tanto para declamar, quanto para

Jardim da Poesia será inaugurado no Palácio da Luz, sede da Academia Cearense de Letras assistir”, declara José. A inauguração ainda conta com a entrega de medalhas a três acadêmicos (Regina Lima Verde, Carlos Viana e próprio José Telles). Em seguida, será dado inicio ao sarau que vai reunir convidados de todas as 45 agremiações ligadas a Academia Cearense de Letras. Para José, a noite da poesia é uma maneira de promover a Academia Cearense de Médicos Escritores, fundada em 2015. Ele afirma que o evento irá lançar e promover a nova Acemes. “É para

apresentar a nossa academia. E temos planos: a gente quer tornar esse sarau poético frequente, ou pelo menos, em um evento trimestral”. Durante a noite, os convidados poderão falar sobre suas experiências com a literatura, especialmente com a poesia, e recitar poemas de autoria própria, de escritores consagrados e de desconhecidos do grande público. “Não é necessário ser ligado à academia para declamar, o microfone é livre para quem tiver um verso a ser dito”, comple-

ta José Telles. Além da poesia, um violão animará a festa. “É o fundo musical que a noite pede. Um violão, a poesia e um bom uísque”, convida.

Sarau Poético Quando: hoje, 14, às 19 horas Onde: Academia Cearense de Letras (Rua do Rosário,1 - Centro) Gratuito Telefone: 3253 4275


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