Especial Luciano Carneiro - Com a Cabeça nas Nuvens: Memórias de um Sonhador

Page 1

PÁGINA 19

FORTALEZA - CE, DOMINGO - 13 DE MARÇO DE 2016 Twitter: @opovoonline

facebook.com/opovoonline

WhatsApp: 98201 9291

ASSINE, ANUNCIE: 3254 1010

VIDA&ARTE.dom

FALE COM A REDAÇÃO COTIDIANO: 3255 6248 NEGÓCIOS: 3255 6110 CONJUNTURA: 3255 6105 VIDA&ARTE: 3255 6137 PORTAL: 3255 6198 GERAL: 3255 6101

LUCIANO CARNEIRO. Com a cabeça nas nuvens: memórias de um sonhador LUCIANO CARNEIRO/ ACERVO IMS

Cultura Conhecido por muitos cearenses apenas por dar nome a uma avenida da Capital, Luciano Carneiro completaria 90 anos em 2016. Para o País, ele deixou marca de vanguarda alismo no fotojornalismo brasileiro Jáder Santana a jader.santana@opovo.com.br

G

uerra da Coreia. 1951. Veio a ordem superior: apenas um correspondente participaria da operação Tomahawk, em Munsan, pulando de paraquedas com os soldados norteamericanos. Único cearense entre candidatos de todo o mundo, Luciano Carneiro, a serviço da revista O Cruzeiro, fez sua proposta: o vencedor seria escolhido em um torneio de xadrez. O jornalista, fotógrafo, aviador e paraquedista, também teve seus dias de tabuleiro. Ouviu por aí que os russos eram os melhores com o xadrez e decidiu comprar vinis que lhe ensinassem a língua eslava. Queria ser melhor enxadrista que o irmão mais velho. Quando venceu o torneio e saltou sobre a Coreia do Sul - tendo optado por seu equipamento diante da diretiva “uma câmera ou uma arma” - legou para o mundo imagens que refletiam o olhar delicado e audacioso de um jovem de 25 anos. “Ele fez do jornalismo algo muito direto, onde a informação era o mais relevante. Isso caracteriza o perfil do Luciano. Ele representou, talvez, uma nova vertente do fotojornalismo, mais engajado, que enfrentava outras posturas mais sensacionalistas”, defende Sergio Burgi, coordenador de fotografia do Instituto Moreira Salles (IMS) e curador da exposição Do Arquivo de um Correspondente Estrangeiro: Fotografias de Luciano Carneiro, em cartaz na sede paulista do Instituto desde o dia 22 de fevereiro. Competidor nato, não admitia a possibilidade de não estar no lugar certo, na hora certa. Movido por esse espírito, viveu, fotografou e escreveu - Luciano tinha uma coluna fixa em O Cruzeiro momentos cruciais que definiram a conjuntura global na década de 1950. Somam-se à da Guerra da Coreia as coberturas que realizou da Revolução Cubana, da vida na União Soviética, dos jangadeiros no nordeste, e das heranças do cangaço. Viajou por quatro continentes, colecionou amigos - o cartunista Ziraldo foi um deles - e admiradores que o apelidaram de Robert Capa brasileiro.

Acervo com 165 imagens de Luciano Carneiro foi comprado pelo Instituto Moreira Salles e está em exposição em São Paulo “Pra mim, com inveja, foi a ida ao cu da África para encontrar o doutor Schweitzer (importante médico alemão) em sua aldeia de leprosos, em uma colônia chamada Lambarene”, comenta o fotógrafo Flávio Damm, companheiro de Luciano na redação de O Cruzeiro, quando perguntado sobre a cobertura mais relevante que o cearense teria realizado. Dos mais prestigiados fotógrafos do País, Damm participou, ao lado de Luciano e do piauiense José Medeiros, do processo de modernização da linguagem fotográfica nacional. Em 1959, quando voltava ao Rio de Janeiro depois de cobrir o primeiro baile de debutantes da nova capital federal, foi vítima de uma acidente aéreo. Em seu velório, colegas de redação, comovidos, lançaram rolos de filme sobre seu túmulo. Aos 33 anos, morreu no ar o cearense que não podia tirar a cabeça das nuvens.

BASTIDORES.

Terra e céu, passado e presente Estudante de Direito que sonhava com os ares, Luciano Carneiro pilotou um monomotor de Fortaleza até Poços de Caldas, em Minas Gerais, com um brevê concedido pelo Aeroclube do Ceará. “Revoada de teco-tecos” foi como um colega de O Cruzeiro batizou a viagem, realizada durante uma semana. “Ele tinha um temperamento muito dinâmico, era uma pessoa que vivia sob a própria influência”. Quem diz é Antônio Carneiro, irmão de Luciano que hoje vive na capital carioca e é editorialista do Jornal do Commercio. Foi Antônio quem recebeu as homenagens promovidas pelo então prefeito de Fortaleza, Cordeiro Neto, na ocasião do acidente que tirou a vida do fotógrafo. Na lista de admiradores também estava o magnata das comunicações nacionais na

primeira metade do século passado, Assis Chateaubriand. Em 1957, quando foi nomeado embaixador brasileiro em Londres, precisou contar com a ajuda do fotógrafo para conseguir um registro adequado da solenidade. Em uma celebração apinhada de grandes nomes de todo o mundo, Chateaubriand pediu a Luciano que entrasse clandestinamente no veículo diplomático que conduzia o novo embaixador até a Abadia de Westminster. Em um de seus voos como piloto por Fortaleza, observando as paisagens que cercavam a cidade e o avanço das moradias em diferentes direções, escreveu reportagem que citava uma dessas praias como sendo “A praia do Futuro”. O nome ficou, eterna referência ao homem que cruzou limites e viveu várias vidas em suas três décadas de história.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.