PÁGINA 10 FORTALEZA - CE, SEGUNDA-FEIRA - 25 DE ABRIL DE 2016
PÁGINAS AZUIS GERMÁN REY BELTRÁN
CULTURA PENSADA PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO APAIXONADO PELAS MUITAS FACES CULTURAIS DA AMÉRICA LATINA, O COLOMBIANO GERMÁN REY BELTRÁN COMENTA SOBRE ARTE, IDENTIDADE, JORNALISMO E POLÍTICA NO CONTINENTE
Jáder Santana
Tatiana Fortes
jader.santana@opovo.com.br
tatianafortes@opovo.com.br
C
onhecedor dos trajetos, cores e gentes de uma América Latina que nunca deixa de surpreender, o colombiano Germán Rey Beltrán esteve em Fortaleza no início do mês para participar da 6ª Conferência Municipal de Cultura. Assessor do governo colombiano para as áreas de comunicação, gestão e indústria cultural, viajou pelo continente investigando como os latino-americanos consomem e têm acesso aos bens culturais. Na entrevista a seguir, ele fala sobre os limites dissolvidos entre o erudito e o popular, o futuro do jornalismo e a importância da internet nesse novo cenário de pequenas revoluções. Politicamente atento, não deixou de comentar os protestos que explodem no continente.
O POVO - O senhor é membro da Rede Desenvolvimento e Cultura, iniciativa cujo objetivo é incorporar a dimensão cultural às políticas de desenvolvimento na IberoAmérica e no Caribe. Como acontece esse trabalho? GERMÁN REY BELTRÁN - Um dos temas que cada vez é mais debatido é a relação que pode existir entre cultura e os processos de desenvolvimento. Em 1999, eu assessorei o primeiro estudo que se fez na Colômbia sobre o impacto das indústrias culturais no Produto Interno Bruto (PIB) do País, ou seja, como a televisão, o cinema, a indústria editorial, o teatro, as novas tecnologias, os novos meios, estão influenciando e gerando rendas, empregos e economia dentro do que há um tempo se denomina como indústria cultural e hoje, mais especificamente, como economia criativa ou a economia da cultura. O segundo momento é tratar de pensar como a cultura se insere nos processos de desenvolvimento social, nos processos de desenvolvimento humano. Essa reflexão nos leva a pensar não apenas em como as grandes indústrias criativas estão aportando à economia, mas em como existem pequenos empreendimentos, experiências minúsculas, trabalhos locais no teatro, na dança, na música, na indústria editorial, que representam uma maneira de se encontrar, de conviver socialmente. OP - Puxando pelo pensamento de Arturo Escobar (antropólogo colombiano), pergunto se as políticas de desenvolvimento da América Latina conseguiram melhorar os países em termos de desigualdade e violência. GERMÁN - Gostei que você tenha mencionado o nome de Arturo Escobar, que junto com alguns intelectuais fala das políticas culturais não
apenas como definições do Estado, mas como política real, digamos. Quer dizer, hoje a democracia se realizaria também no entorno dos direitos culturais. Bem, as políticas de desenvolvimento para nossos países, acredito que são contraditórias. Por um lado, permitiram certos avanços, mas por outro não conseguiram deter alguns dos problemas mais fundos com os quais vive América Latina, como a violência, a insegurança, a questão dos direitos humanos, os problemas no meio ambiente, as crises de convivência, a exclusão da participação dos habitantes das cidades na vida cotidiana urbana. São problemas que não foram completamente superados. Mas creio que se podem apresentar alguns avanços em termos de diminuição dos índices de miséria, aumento do acesso dos cidadãos a certos serviços básicos, o crescimento de alguns países na educação universal, laica e gratuita, a transformação dos papeis de gênero e particularmente da mulher na vida social e econômica. São alguns dos aspectos que mostram avanços mas, em muitos casos, a América Latina é um laboratório das incertezas, conflitos e respostas atrasadas. OP - Há algum ponto de convergência entre as políticas culturais desses países? GERMÁN - O primeiro elemento de semelhança é que copiamos o modelo francês de cultura, o modelo de André Malraux, o célebre ministro da cultura francesa, que fazia ênfase em três grandes temas: as artes, o patrimônio e a difusão cultural. Então, podese dizer que um ponto em comum é a preocupação da relação entre artes e cultura.
PERFIL
Germán Rey Beltrán é doutor em Psicologia e professor da Pontifícia Universidade Javeriana, na Colômbia. Assessor do Ministério da Cultura colombiano para as áreas de comunicação cultural, indústrias culturais e gestão cultural, coordenou investigações sobre indicadores sociais da cultura no continente. Membro da Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-americano (FNPI) e ex-ombudsman do jornal El Tiempo, um dos mais importantes do seu país, é autor de vários livros e estudos sobre a efetividade das políticas culturais desenvolvidas na América Latina.