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VINTE
XX VINTE
QUEM É LIVRE É FELIZ
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Existe uma falha muito grande, que precisa ser corrigida, em nossa consciência individual e coletiva em relação ao conceito que temos sobre liberdade. Seja formulado por nós mesmos ou herdado de outros. Ao entendermos que ser livre, é estar desvencilhado de qualquer limite, estamos nos reportando a um estado de acomodação do conceito de Liberdade ao nosso comportamento sonhado, desejado, idealizado e não o comportamento real, verdadeiro. Para tudo o que existe há sempre algum limite, ou traço divisório limítrofe. Nessa linha de pensamento, o que é, de fato, ser livre? Quem é verdadeiramente livre na prática? Como exercer a plena liberdade?
Salvo me provem o contrário, o único ser inteiramente livre, na real acepção da palavra, é Deus. É o único que não se submeteu a um corpo físico, nem a um estado espiritual e, muito menos, a um tempo cronológico de existência. Deus não é corpo e nem espirito porque é infi nitamente superior a ambos. Tanto o corpo físico como o estado espiritual são criaturas divinas e o tempo cronológico é de criação humana. A transcendência de Deus em relação ao ser criado é tanta que, nem ao próprio Filho Jesus enquanto Homem, permitiu pleno conhecimento do que seja a liberdade transcendente. Jesus Cristo precisou passar pela morte, (um dos mais reais limites humanos), para chegar ao estado perfeito e superior de ressuscitado. Precisou permanecer entre os limites da vida para chegar, fi nalmente á completa liberdade.
Então qual é o verdadeiro signifi cado de liberdade? Para responder esta questão é necessário corrigir nossa falha gnosiológica e “passar uma borracha” nos conceitos viciados a que nos acostumamos sobre liberdade. É cômodo para qualquer ser humano adaptar a teoria epistêmica à sua prática cotidiana. Acomodar o conceito de liberdade ao nosso bel-prazer é viver um falso estado de liberdade, o que se caracteriza mais por libertinagem. Quase sempre se toma o aspecto negativo para tentar compreender seu signifi cado. Dizemos que ser livre é não estar sujeito a nenhum limite, lei, regra ou regulamento. Não querer respeitar normas e limites é o aspecto negativo de liberdade.
É justamente o contrário. Quando têm limites é que seremos totalmente livres. Deus não é livre para não ser Deus. Mas é livre enquanto Criador. Homem não é livre para não ser Homem, mas é livre enquanto homem. Nisso consiste a soberania da liberdade do homem sobre si mesmo. Penso que Santo Agostinho percebeu bem o sentido de liberdade quando disse “Ame e faça o que quiser”.
A liberdade vista nessa dimensão positiva é a perfeição. Quanto mais um ser se aproxima da perfeição, tanto mais é livre. Mais um compreende o sentido da liberdade, tanto mais é perfeito. Porque uma pessoa que ainda está no útero materno é totalmente livre em sua vida intrauterina? Por que ela nunca tentou extrapolar a parede do útero para experimentar outra vida antes do parto. Se o fi zesse durante os nove meses de gestação não seria livre para viver como feto perfeito. Morreria ou teria que ser conservado vivo com a ajuda de equipamentos. Esse é um conceito autêntico e positivo de liberdade.
Outro exemplo positivo é quando o pai não autoriza o fi lho de menor ir a uma boate e o fi lho obedece, mesmo contrariado, os dois estão em pleno uso da liberdade, isto é, são verdadeiramente livres. Se, ao contrário o pai autorizasse, mesmo sabendo que o fi lho correria perigo de vida, ou se o pai não autorizasse e o fi lho desobedecendo e mesmo assim fosse, nenhum dos dois estaria sendo livre. Em seu aspecto negativo de liberdade a tentativa é de quebrar os limites, desfazer regras.
Diante de um abismo, por exemplo, você pode transpor os limites entre à terra fi rme e o precipício, mas terá que usar cinto de segurança e cordas amarradas a lugar seguro. Portanto, não será livre para ir e vir como quereria. Você pode saltar de um avião em grande altitude, mas terá que usar paraquedas. Assim não tem queda livre. Não é livre para espatifar-se ao chão.
Ser livre é viver até os limites entre a vida e a morte. Ao entender o sentido de liberdade em seu aspecto positivo, seremos efetivamente livres. Neste parâmetro, os fatores limitantes da liberdade são inerentes ao seu devir específi co, portanto, necessários para que ela exista e seja real. Não fugindo dos limites o ser humano pode agir livremente e não correrá risco de errar ou se perder. Nos limites você pode ser perfeito.