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CONSCIÊNCIA E ÉTICA NO TRABALHO

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SETENTA E QUATRO

SETENTA E QUATRO

LXVIII SESSENTA E OITO

CONSCIÊNCIA E ÉTICA NO TRABALHO

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Todo trabalho, dependendo ao fi m que se propõem, torna honrado e digno o homem que o realiza. O grau de consciência do trabalhador, em relação à tarefa que executa é que lhe garantira a satisfação plena, ao ver sua obra realizada. Os princípios éticos que regulam as ações laborais, quando aplicados ao trabalho, permitem que o trabalhador atinja o mais elevado patamar de dignidade e felicidade. Ao contrário, porém, se o trabalho não tem a devida e clara consciência por parte de quem o executa, nem a ética mínima e necessária, torna o homem rançoso, insociável e preguiçoso. Existe o perigo, também, de o homem, sem consciência e sem ética, exercer alguma atividade ilícita, imoral e inadequada à sua índole. É prudente notar que a ação engendrada pelo trabalhador pode ser livre, executada por sua própria vontade, ou imposta, quando será exercida em decorrência de uma necessidade maior e premente.

A propósito do trabalho consciente e ético, quero citar um exemplo que me ocorreu recentemente, lá no mato, em um pequeno sítio da família, onde tive a oportunidade de observar três tico-ticos numa incansável correria, para alimentar um fi lhote de chupim. O “danado” do fi lhote era duas vezes maior do que os pobres pássaros que o alimentavam e gritava desesperadamente enquanto, os pais adotivos, não chegavam com o alimento. O malandro, já empenado e forte, continuava usufruindo da dedicação e presteza dos pássaros trabalhadores honestos.

Na tentativa de explicar aquele fenômeno, lembrei-me das histórias contadas por pessoas mais antigas. Diziam que os chupins, para não terem o trabalho de cuidar, alimentar e acompanhar os fi lhotes, utilizam uma tática curiosa e malandra, procuram, sem nenhum princípio ético nem constrangimento de consciência, botar seus ovos nos pequenos ninhos dos tico-ticos. E estes, sem o mínimo de consciência, acreditando que os ovos eram seus, cuidavam com todo zelo que lhes era peculiar, até que os fi lhotes voassem sem perigo. Enquanto isso os chupins, despreocupados, podiam seguir pela vida afora, gozando dos longos voos, das belas

paisagens e da farta alimentação que encontravam nos campos de arroz, enquanto os pobres tico-ticos, enganados, ludibriados, escravizados, gastavam o precioso tempo de sua vida e um excesso de energia para trabalhar de graça, como “babás”, em benefício dos preguiçosos chupins.

Há uma lição que podemos tirar desse fato, pois assim também acontece na vida dos homens. Existem homens chupins e homens tico-tico. Basta olhar mais detalhadamente para enxergar quantos vivem como chupins, gozando a vida do bom e do melhor e enriquecendo aceleradamente, sem o mínimo de esforço e sem ter que dar nenhuma explicação, enquanto outros fazem os trabalhos que lhes competiria fazer, com muito pouco reconhecimento. Existem tantos homens e mulheres chupins, que não se dão nem ao luxo de “chocar”, quanto mais acompanhar, educar e alimentar os próprios fi lhos.

Nosso mundo está cheio de chupins que, de quando em quando, veem em revoada, e tomam os ninhos dos tico-ticos e, botando ali seus ovos, exigem que estes choquem e cuidem de seus fi lhos até que estejam prontos para enfrentar o mundo. Por outro lado, o que é salutar, temos uma abundância de tico-ticos que, despretensiosamente, trabalham e são o orgulho de nossa Nação. É uma pena que criem tantos outros chupins. Mas essa é a lei do trabalho.

A esperança é de que um dia todos tomem consciência, mesmo sendo chupins e, seguindo o caminho da ética e da consciência, tomem sobre si a responsabilidade do trabalho que é uma das mais sagradas vocações do homem. E o serviço desinteressado trará a riqueza e todos os bons compatíveis com a dignidade humana. Somente com o trabalho consciente, digno e honesto o mundo será melhor.

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