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TRINTA E SETE
XXXVII TRINTA E SETE NÃO POSSO LHE FALAR SOBRE LIBERDADE
Gostaria imensamente de falar a você sobre liberdade. Mas me sinto impedido, considerando que você não sabe o que signifi ca isso e nunca a experimentou. Você nunca foi livre. Não teve liberdade de escolher se nasceria ou não. Nem a oportunidade de escolher as pessoas com as quais conviveria durante a vida. Seus pais já vieram prontos, completos, com seus defeitos, qualidades e caráter próprios. Você talvez quisesse nascer em um berço de ouro ou numa pobre manjedoura, mas não estava ao seu alcance escolher. Quisera que todo mundo soubesse quem você era, mas as pessoas que se aproximavam, beijavam-no e diziam “que bonitinho, que gracinha, puxou o pai ou puxou a mãe” e mentiam, em relação a você, acariciando, beliscando as bochechas, puxando a “orelhinha”, apertando o “narizinho” e fazendo “bilu, bilu”, com os dedos nos lábios. Você não podia fazer nada, porque não tinha liberdade para escolher as pessoas certas que lhe agradassem e que fossem sinceras com você.
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Passaram se os tempos, você foi crescendo e não tinha liberdade para escolher o que era melhor para si. Os pais, querendo o melhor para você, (não seria o melhor e mais cômodo para eles?), escolhiam e determinavam o que você deveria escolher, sem ao menos, lhe perguntar se era isso mesmo que você gostaria ou queria.
Agora sim, serei livre, pensava você. Mas um monte de pessoas, inclusive estranhas, começaram intervir em sua vida, impondo muitas coisas que não lhe deixavam livre para ser realmente você. Apresentaram-lhe um Deus, segundo seus próprios interesses, e não o da verdadeira Lei Divina do amor. Você viu até uma imagem desenhada, de um enorme olho humano com ar de fi scal, intencionalmente criada, para lhe dizer “eu estou vendo, não faça isto ou aquilo” e você não tinha liberdade nem para fazer coisas boas, porque coisas ruins eu tenho certeza quer você não faria. Foram eles que lhe ensinaram fazer o mal e agora cortam sua liberdade, também para fazer o bem. É a doutrina.
Entrou na escola. Queria aprender ler, experimentar a ima-
ginação, ser educado para ser feliz e ser verdadeiramente uma pessoa em todos os aspectos, mas em nome de uma ordem social, intelectual, elitista e dominada por um sistema egoísta e burro, porém que tem o poder, tanto político quanto econômico, sua escola ensinou tudo o que o sistema queria, menos a liberdade de espírito e o conhecimento da verdade. A escola tinha medo que você conhecesse a verde e se tornasse uma pessoa livre. E você, como adolescente, foi taxado de revoltado, incompreensível, mentiroso, mesquinho e falso. É preciso por esses adolescentes na linha. Se lhes der liberdade eles tomam conta de nós, como se eles fossem os únicos donos da liberdade humana.
Bem passou a adolescência. Agora vem a juventude. Ufa! Até que enfi m. Mas de novo você é usado e sua possibilidade de verdadeira liberdade “cai por terra”. Você apenas gostaria de viver, mas tem que se esconder no meio da multidão, que fi ca somente assistindo os adultos que mantêm os meios de comunicação e, como num grande festival de roque, fi cam por trás, repassando drogas, para continuar tendo o que é mais vil em relação a verdadeira liberdade da juventude, o lucro fi nanceiro e a confi rmação poder sobre eles. Mais uma vez sua liberdade deixou de existir.
Você se formou. Ingressou num conselho que regulamenta seu exercício profi ssional. Esse conselho lhe condena, quando você deseja exercer, como de fato jurou, a sua profi ssão. Você não é livre para tão-somente ajudar e resolver os problemas das pessoas que lhe procuram. Em nome de uma falsa ética, você não é livre para exercer a profi ssão.
Aí casa. “Oba”! Agora sim, pensa. Adquiri a maturidade, por isso sou livre para viver. “Ledo engano”, o cônjuge manda e exige que você viva única e exclusivamente para ele. Acabou a liberdade que você nunca teve. Vieram os fi lhos. “Agora sim, esses pimpolhos vão ver o que é autoridade paterna ou materna” e começa exercer sobre eles um poder dez vez mais exigente e mais burro que seus pais exerceram sobre você. Entendeu porque não posso lhe falar sobre a verdadeira liberdade? Porque você não a conhece e nunca a experimentou. “É mole ou quer mais”.