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QUARENTA E SEIS

XLVI QUARENTA E SEIS

FICAR NISSO E MORRER DISSO

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Qualquer ser humano, em qualquer parte do Planeta, por mais instruído e experiente, por mais sábio ou santo, por mais racional ou sentimental, por mais materialista ou espiritualista, por mais rico ou pobre, por mais fraco ou poderoso que seja, mesmo pertencendo a esta ou aquela confi ssão religiosa, compactuando com qualquer ideologia, corrente fi losófi ca ou partido político, jamais compreendeu ou compreenderá o signifi cado do sofrimento, físico, psíquico ou moral, decorrentes da dor originada por um desarranjo em qualquer uma dessas dimensões. Mas a senti-lo-á e experimentá-lo-á, um dia, certamente, ainda neste Mundo.

Ante o mito da dor e do sofrimento, do prazer e do bem-estar, que são meros sentimentos provocados pelo estado físico, psicológico, temperamental e por agentes externos ao ser humano, é necessário “pisar no chão” e não viver no “mundo da lua”. Quando sente prazer, o homem, raramente se preocupa com sua origem ou com outras questões, importantes, a ele inerentes e, consigo, relacionadas. Porém, quando a dor aparece e o sofrimento lhe rouba a paz, logo surgem as indagações e a necessidade de respostas e explicações plausíveis. Qual minha origem? Qual é meu fi m? O que é e como resolver o problema da morte? Para onde vou? Quando partirei? Porquê, justamente eu? Quais as consequências da dor e do sofrimento? E as indagações continuam infi nitamente, até a dor passar.

Todavia, poucas pessoas se interessam por questionamentos mais profundos e lógicos sobre essas questões, principalmente em tempos de bonança, e deixam-se levar por mitos superstições, que, muitas vezes não levam a nada, como fazem a maioria daqueles que, pertencendo ao pensamento coletivo, aceitam tudo e a tudo se adaptam sem, sequer, perceberem que poderiam ser sujeitos e não objetos da “indústria” da dor ou do sofrimento humano. A refl exão e o questionamento são necessários para não continuarmos iludidos, como o são, inúmeras pessoas no mundo inteiro, em qualquer o tempo, por estados emocionais e sugestões, fi cando nisso e morrendo disso. Em cabeça que pensa a dor

não se instala.

Além das perquirições propostas acima, existem outros questionamentos que povoam nossa mente e, muitas vezes, tornam-se uma espécie de fuga da realidade, através de outras perguntas como: até que nível, — se é que se possa falar em mensuração de dor ou prazer —, que uma criatura pode suportar a dor ou experimentar o prazer? Qual o limite mínimo/máximo de prazer ou dor aceitáveis em um organismo humano, em qualquer de suas dimensões? É uma ilusão, fi car querendo responder indagações como essas, se sabemos que não existem respostas satisfatórias para elas, nem na ciência, nem na fi losofi a. É como querer explicar a origem da Vida ou do Universo, tudo hipóteses.

Mas, ninguém no mundo conseguiu, até hoje, fi car indiferente a essas realidades, que apenas existem onde há inteligência e emoção. Diante dos dois extremos ou dois contrários, como diriam os fi lósofos antigos, (prazer e dor), não há possibilidade, de que, qualquer ser vivo, por mais ínfi mo que seja, possa fi car sem reação, indiferente ou alienado. Tanto os sinais de dor, como os estados de prazer, transformam expressões, gestos, atitudes e comportamentos do ser humano. E refaz-se a questão, qual o signifi cado e a fi nalidade da dor, do sofrimento e do prazer?

Jamais alguém poderá avaliar, senão por diagnóstico, a dor ou o prazer de outros seres humanos. Somente quem está experimentando a dor ou provando o prazer é que poderá avaliar sua intensidade e expressar seus sentimentos. Ninguém sabe explicar ao paroxismo da dor. A grande verdade, no entanto, é que, tanto a dor como o prazer, são realidades não se escapa. O segredo, em relação à dor, está em descobrir estratégias, fazer projetos e utilizar-se de métodos efi cientes para enfrentá-la.

O exemplo vem do maior homem do mundo: Jesus Cristo, que na hora extrema de grande angústia, disse: “Meu pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas, sim o que Tu queres”. Mt 26,39b. Conhecer, compreender e suportar a dor somente é possível por um bem maior, o prazer de poder cumprir a vontade do Pai e estar com Ele no Paraíso.

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