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CINQUENTA E QUATRO
LIV CINQUENTA E QUATRO
O TEMPO E A MEMÓRIA
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A memória humana tem uma potencialidade infi nita de armazenagem de dados. Tudo o que nossos cinco sentidos materiais, (visão, audição, olfato gustação e tato), em toda a extensão de sua existência percebem, fotografam, sentem e experimentam, são acondicionados em seus devidos “espaços” e permanecem lá para sempre.
Todos os seres humanos têm essa capacidade de armazenamento da memória. O que, algumas pessoas não conseguem, é acionar o comando mental para lembrar tudo o que necessitam ou querem, no presente. Tem-se a impressão que aquilo se apagou da memória, mas não é essa a realidade.
Existe um fator externo, que difi culta o acesso a esses dados, é o tempo. O tempo passado. Ele vai selecionando, como que, colocando obstáculos e fi ltrando o que está gravado. E vai liberando para nossas lembranças, somente o mínimo necessário. Assim ele acaba sendo um poderoso aliado do nosso organismo para que somente afl ore, para o consciente, a quantidade de lembranças, que não afetem o psiquismo e, também, o comportamento biossociológico do homem. Dessa forma o tempo corrobora para com o equilíbrio humano, por um lado, livrando o homem, da chamada e temida “loucura”, ou desequilíbrio mental e, por outro, tornando-o, aparentemente, insensível, aos acontecimentos do passado.
Com referência ao tempo, é comum dizer-se que ele “cura feridas de amor”, “ameniza dores”, “apaga sofrimentos”, ma isso é somente modo de dizer, pois em verdade, o tempo não tem esse poder. Sua única função é a de distanciar o presente do passado e medir esse espaço, o que permite que outros elementos, de igual ou de maior valor, sejam intercalados entre o fato, no passado, e a sua lembrança, no presente.
Dessa forma o tempo não tem a virtude da cura, mas a força da camufl agem. Ele esconde os fatos por detrás de outros e, somente permite que sejam vistos, sob alguns ângulos menos reais. Então
o que aconteceu, por exemplo, a uma pessoa na adolescência ou infância, aparece agora, na vida adulta, apenas como uma réstia.
É comum vermos pessoas, de certa idade, contarem fatos ocorridos com elas no passado, que são humanamente impossíveis terem acontecidos. No entanto, ela afi rma e jura, que aquilo foi verdade. Está mentindo? Não! Apenas não está conseguindo lembrar do fato total, verdadeiro e real, que possa ter acontecido. E, com o domínio de, apenas, alguns refl exos do fato, sua imaginação tem necessidade de criar outros elementos, para complementar no presente, aquele fato do passado, que não conseguiu lembrar com clareza.