o vazio abarcado | aline moreno e jeff barbato

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the embraced emptiness

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Barbato, Jeff; Moreno, Aline; curadoria Jurandy Valença; O vazio abarcado / The embraced emptiness Aline Moreno, Jeff Barbato. 1. Ed; Sorocaba, SP: Ed. dos Autores, 2022. 64 pg. Tradução: Alexander Dejonghe

Edição bilíngue: português/inglês ISBN 978-65-00-50936-6

1. Artes - Exposições - Catálogos

2. Artes plásticas

I. Barbato, Jeff. II. Moreno, Aline III. Valença, Jurandy

IV. Título: o vazio abarcado V. Title: The embraced emptiness

22-123960

Índices para catálogo sistemático:

1. Artes: Catálogos de exposições 700.74

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

CDD-700.74

Proibida a reprodução deste livro sem a prévia autorização de ambos artistas envolvidos. Todos os direitos reservados. Impresso em São Paulo.

Jurandy Valença

curadoria São Paulo, 2022 curated by

sobre a pesquisa the research 22 - 23 aline moreno

sobre a pesquisa the research 34 - 35 isabel sanson portella - jeff barbato

biografias biographies 48 - 49 aline moreno e jeff barbato

o vazio abarcado the embraced emptiness 52 - 53 jurandy valença

o espaço mnemônico the mnemonic space 54 - 55 jurandy valença

a inteireza das coisas: a pluma e o tijolo the wholeness of things: the feather and the brick 56 - 57 jurandy valença

linguagético “linguagético” 58 - 59 jurandy valença

obras - por ordem de aparição pieces - sorted by appearance 61 - 57

summary
sumário
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sobre a pesquisa the research ALINE MORENO

Os trabalhos apresentados na exposição o vazio abarcado fazem parte de duas séries diferentes da minha pesquisa recente. Por um lado as pinturas, as quais me aproprio de imagens de lugares tidos como símbolos de montanha e que compõem o nosso imaginário de paisagem, que por meio do uso de imagens de satélite disponíveis na internet faço pinturas em escalas próximas da humana. Por outro lado, apresento Paisagem Infinita, uma escultura circular modular feita de gesso, madeira e papelão que sugere em sua superfície um relevo semelhante ao de uma montanha ou oceano. Ao contrário das pinturas, cujas referências são lugares reais, Paisagem Infinita foi criada a partir de um software de modelagem 3D que gera paisagens de modo automático. Essa ferramenta é capaz de gerar uma fórmula, um algoritmo, capaz de simular qualquer tipo de formação geológica causando a estranha sensação de reconhecer algo nunca antes visto. A peça em si foi produzida através de um elaborado processo manual de construção e transposição do módulo virtual para a matéria, carregando marcas do trabalho manual. Por fim, Arranha-céu é composta por caixas de madeira revestidas com fotografias de pedras recolhidas na cidade de Campinas, local onde nasci, com fundo pintado com tinta acrílica. As imagens, apresentadas de maneira recortada, ora se completam e ora se desalinham, formando uma composição fragmentada. As pedras - fragmentos mínimos que compõem as montanhas - que nas pinturas se transformam em uma fração tão pequena quanto um grão de areia, em Arranha-céu se portam, ao mesmo tempo, como miniaturas, símbolos e frações de montanhas.Assim como outras obras de minha autoria, os trabalhos lidam com a natureza enquanto conceito e idealização, buscando representar o imaginário da paisagem.

The pieces presented in the exhibition the embraced emptiness are part of two different series of my latest research. On one hand there are paintings, where I appropriate images of places understood as symbols of mountains which compose our imaginary landscapes, which I paint in an almost human scale based on satellite images available on the internet. On the other hand I present Infinite Landscape (Paisagem Infinita), a modular circular sculpture made of plaster, wood and cardboard that suggests on its surface a relief similar to that of a mountain or ocean. Unlike the paintings, in which the references are real places, Infinite Landscape was created using a 3D modeling software that automatically generates landscapes. This tool is able to generate a formula, an algorithm, capable of simulating whatever type of geological formation causing a weird sensation of recognizing something never before seen. This specific piece was produced through an ellaborate manual process of building and transposing the virtual module to materiality, containing the marks of manual labor. Lastly, Skyscraper (Arranha-céu) is composed by wooden boxes covered with photographs with rocks recovered from the city of Campinas, where I was born, the background is painted with acrylic paint. The images, presented in a cropped manner, sometimes complete each other and sometimes misalign themselves, forming a fragmented composition. The rocksminimal fragments that create a composition of mountains - which in the paintings are transformed in a fraction as small as a grain of sand, in Skyscraper behave as a sort of miniature, symbol and part of a series of mountains. Similar to other pieces of mine, the pieces in this exhibition deal with nature as a concept and as idealization, seeking to represent the landscapes of our imagination.

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“As imperfeições e incompletudes o levam constantemente a lugares bastante iluminados, pois de cada fissura escapa a luz, de cada rasgo crescem possibilidades. O menino da boca rachada, ‘tão sem boca, tão sem lábios, tão sem fala compreensível’ cresceu na procura de outras maneiras de perceber as transformações, de conviver com a diferença e fazer dela uma busca por respeito e acolhimento. As palavras de Conceição Evaristo tocaram fundo em sua necessidade de deixar vir à tona toda a dor interna. Sua poética nasce do corpo, mas caminha por veredas mais complexas. Como rios que separam terras e raios que abrem fendas, a obra de Barbato busca mapear estruturas rachadas. Permeando seus múltiplos trabalhos encontramos a narrativa pessoal trazendo a simbologia do corpo com fissura, o estigma desses corpos marcados pela discriminação e preconceitos.” (Isabel Sanson Portella, 2022Crítica e curadora da Residência Demonstra-PT). Em o vazio abarcado entendo a fissura como uma possível conectora de dois pontos (um rio, uma linha), da mesma forma que também a encaro como rasgo separador de um corpo seja ele físico, ou imaterial. A linha férrea torna-se ícone de uma grande fissura que rasga o solo, a natureza e as origens da terra, e apresenta uma crescente de poder e abandono. Por isso, uso seu trajeto que corta o estado de São Paulo, com ênfase nos trechos dos municípios de Sorocaba e Campinas como referência para desenhar as fissuras-linhas encontradas em toda a produção aqui apresentada. Em uma inesgotável escavação usei um processo de oxidação do ferro para criar uma fissura no concreto, já em Raio R_io e abundantes em veios de ferro, cavo no concreto fissuras que conectam um fragmento ao outro, quando espalhados pelo chão e unidos pela fissura formam o desenho do trajeto da linha férrea, que em Raio R_io não se limita ao chão, projeta pela parede o trajeto de forma espelhada em aço carbono dando continuidade ao percurso proposto pela fissura do concreto esparramada pelo chão.

“The imperfections and incompleteness constantly lead him to enlightened places, as from every fissure there is a breach of light; from every rip emerge new possibilities. The by with the cracked lip ‘so mouthless, so lipless, so without understandable speech’ grew up looking for other ways of perceiving the transformations, of living with difference and making it a search for respect and acceptance.Conceição Evaristo's words touched their deep need to let all their internal pain come to the surface. Their poetry is born from the body, but walks along more complex paths.With rivers and lightnings that open cracks, Barbato’s work seeks to map cracked structures. Permeating their multiple works we can find a personal narrative bringing to light a corporal symbology with cracks; the stigma of bodies marked by discrimination and prejudice.” (Isabel Sanson Portella, 2022 - Critic and Curator of Demonstra Art Residency - PT). In the embraced emptiness, I understand the fissure as a possible connector of two points (a river, a line), in the same way I see it as a separating feature of a body, whether physical or immaterial. The railway line becomes an icon of a great fissure that tears the soil, nature and the origins of the earth, and presents a crescent of power and abandonment. Therefore, I use its route that cuts through the state of São Paulo, with emphasis on the distances of the cities of Sorocaba and Campinas as a reference to draw the cracks-lines found throughout the production presented here. In an endless excavation I used an iron oxidation process to create a crack in the concrete, on the other hand in Raio R_io and abundant in iron veins, digging in the concrete cracks that connect one fragment to another. When they are spread over the ground and joined by the crack form the drawing of the path of the railway, which in Raio R_io is not limited to the ground; it projects the path on the wall in a mirrored form in carbon steel, continuing the path proposed by the crack in the concrete spread across the floor.

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a
sobre
pesquisa
the research
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ALINE MORENO é mestranda em Poéticas Visuais na ECA-USP e formada em Artes visuais com habilitação em escultura na mesma instituição (2017). Aline Moreno frequentou o curso de artes plásticas da Universidade Paris 8 em 2016. Participou de cursos e grupos de acompanhamento de produção com Anna Bella Geiger, Cristina Suzuki, Felipe Cohen e Theo Craveiro. Participou de exposições em galerias, instituições públicas e espaços culturais como galeria B_arco/Virgílio, Hulssey Gallery, Galeria Orlando Lemos, Oá galeria, MAC-USP, Museu de Arte de Ribeirão Preto, Sesc DF, Sesc Ribeirão Preto, Pinacoteca de São Bernardo, entre outros. Tem obras em coleções particulares e acervos públicos, como da Casa do Olhar de Santo André, Pinacoteca de Piracicaba, Secretaria de Cultura de Praia Grande e Prefeitura de Ubatuba.

JEFF BARBATO é artista, designer e produtor cultural. Atualmente vive e trabalha em Sorocaba, Brasil. Bacharel em Artes Visuais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) com a investigação sobre a história e a estética das fissuras partindo da representação monstruosa da fissura labiopalatina no campo das artes visuais. Sua pesquisa em artes transita por multilinguagens, tendo o desenho e a fotografia como base para a criação de objetos, esculturas e pinturas expandidas. Jeff propõe diálogos entre os lugares em que encontra fissuras, buracos, brechas, fendas e os fragmentos, acontecimentos e desdobramentos dessa insurgência, passando por searas como corpo, sexualidade e territórios urbanos. Com olhar sensível para o imperfeito, o incompleto, o impermanente e para tudo aquilo que é esquecido e deixado à mercê de si mesmo. Em 2022 foi júri de premiação da III Mostra Coletiva de Artistas de Ubatuba, participou da residência artística portuguesa DEMONSTRA e também produziu e expos na coletiva "o encontro é um lugar impossível" no Centro Cultural Correios SP.

ALINE MORENO is a Master's student in Visual Poetics at ECA-USP and graduated in Visual Arts with a major in Sculpture at the same institution (2017). Aline Moreno attended the Visual Arts course at Paris 8 University in 2016. She participated in production follow-up courses and groups with Anna Bella Geiger, Cristina Suzuki, Felipe Cohen and Theo Craveiro. She participated in exhibitions in galleries, public institutions and cultural spaces such as B_arco/Virgílio gallery, Hulssey Gallery, Orlando Lemos Gallery, Oá gallery, MAC-USP, Ribeirão Preto Art Museum, Sesc DF, Sesc Ribeirão Preto, Pinacoteca de São Bernardo, among others. She has works in private and public collections, such as Casa do Olhar de Santo André, Pinacoteca de Piracicaba, Secretary of Culture of Praia Grande and City Hall of Ubatuba.

JEFF BARBATO is an artist, designer and cultural producer. Currently lives and works in Sorocaba, Brazil. Bachelor of Visual Arts from Universidade Estadual Paulista (UNESP) with research on the history and aesthetics of clefts starting from the monstrous representation of the cleft lip and palate in the field of visual arts. Their research in arts transits through multilingualism, having drawing and photography as the basis for the creation of objects, sculptures and expanded paintings. Jeff proposes dialogues between the places where he finds fissures, holes, gaps, fissures and the fragments, events and unfoldings of this insurgency, passing through fields such as the body, sexuality and urban territories. With a sensitive look at what is imperfect, the incomplete, the impermanent and everything that is forgotten and left to its own devices. In 2022 they were awarded with the award jury of the III Collective Exhibition of Artists of Ubatuba, participated in the Portuguese artistic residency DEMONSTRA and also produced and exhibited in the collective "the meeting is an impossible place" at Centro Cultural Correios de SP.

Biografias Biographies 48 - 49
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JURANDY VALENÇA

“Pensar requer um espaço entre no qual possam circular forças de corpos animados.”

Aline Moreno e Jeff Barbato ocupam o Museu da Cidade, na Casa de Vidro - no Lago do Café, em Campinas - com obras que compartilham uma poética visual similar. Ambos apresentam trabalhos que se situam entre o bi e o tridimensional, entre o objeto, a escultura, a fotografia e relevos que se projetam da parede, do chão e do espaço. A própria espacialidade do local, que insere o exterior no interior, e vice-versa, serve de abrigo para um diálogo no qual as obras exibidas não fecham-se em si mesmas, mas ao contrário, estabelecem uma conversa com o espaço e com a percepção que temos dele.

Ambos discutem a representação da natureza, da paisagem por meio de operações poético-visuais que remetem à cartografia. Mas não aquela que entendemos como a representação geométrica plana, simplificada e convencional da superfície terrestre ou de parte dela. Eles, de certa maneira, exibemcada um ao seu modo - um trompe l’oeil, expressão francesa e um recurso técnico-artístico empregado com a finalidade de criar uma ilusão de ótica para “enganar o olho”.

Lembro de uma frase do Italo Calvino: “Quem comanda a narração não é a voz, é o ouvido”; parafraseando o autor italiano, quem comanda a observação não é o olhar, mas o olho. Aline e Jeff nos fazem ver fragmentos, fraturas, formas esvaziadas e cheias, esburacadas, e outras que sustentam, como se essas composições abrissem uma passagem que também é uma paisagem. Uma cartografia em cuja superfície repousa o tempo e suas fissuras. Mas não é só o que está sob e sobre que está em jogo, mas também o entre. As proporções, as distâncias, o equilíbrio, as espessuras, a gravidade, profundidade, a frontalidade e a lateralidade são as ferramentas que os artistas usam de reflexão e representação das coisas e do espaço.

o vazio abarcado

Aline Moreno and Jeff Barbato occupy the Museu da Cidade, at Casa de Vidro - at Lago do Café, in Campinas - with works that share a similar visual poetics. Both present works that are situated between the bi and the three-dimensional, between the object, the sculpture, the photography and reliefs that project from the wall, the floor and the space. The very spatiality of the place, which inserts the exterior into the interior, and vice versa, serves as a shelter for a dialogue in which the exhibited works do not close in on themselves, but, on the contrary, establish a conversation with the space and with the perception we have of it.

Both discuss the representation of nature and landscape through poetic-visual operations that refer to cartography. But not what we understand as the flat, simplified and conventional geometric representation of the earth's surface or part of it. They, in a way, exhibit - each in their own way - a trompe l'oeil, a French expression and a technical-artistic resource used with the aim of creating an optical illusion to “deceive the eye”.

A phrase of Italo Calvino comes to mind: “It is not the voice that commands the narration, it is the ear”; paraphrasing the Italian author, who commands observation is not the look, but the eye. Aline and Jeff make us see fragments, fractures, empty and full forms and holes, as if these compositions open a passage that is also a landscape. A cartography on whose surface time and its cracks rest. But it is not only what is under and over that is at stake, but also what is in between. Proportions, distances, balance, thickness, gravity, depth, frontality and laterality are the tools that artists use to reflect and represent things and space.

the embraced emptiness
“Thinking requires a space in which forces of animated bodies can circulate.”
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JURANDY VALENÇA

Não é à toa que, segundo o filósofo francês Merleau-Ponty (1908-1961), “o espaço não é um ambiente (real ou lógico) em que as coisas se dispõem, mas o meio pelo qual a posição das coisas se torna possível”. Para ele, e também para Aline e Jeff, o espaço - o lugarnão é algo que se impõe, ao contrário, se constrói a partir da experiência humana. Ele só existe se houver um sujeito, o espectador/observador que o construa. Com o seu olhar e pensamento.

O repertório de formas dos artistas, em seus relevos, esculturas e fotografias constituem dispositivos mnemônicos, que se relacionam com a nossa memória. O que vemos são pedaços de uma cartografia afetiva na qual o vazio é abarcado e ilumina zonas de sombras da nossa memória. É uma demonstração topológica que incorpora a imagem, a representação do vazio, da paisagem, da passagem do tempo e suas rasuras na pele das coisas, em uma organização sutil que envolve uma troca de reciprocidades entre a ausência e a presença.

Ambos falam também sobre como as formas podem tensionar as relações com o espaço, e

como se ao mesmo tempo o redesenhasse. Jeff e suas rachaduras que povoam incompletudes, ao projetar o chão em toda sua frontalidade nas paredes, ou ao elevá-lo sobre o piso existente da Casa de Vidro, o desloca para outro patamar, criando um “palco”, um lugar de suspensão do real. Além de trazer à tona, apontando, direcionando nosso olhar para o chão para a terra, que está usando um pensamento, uma estratégia mais aristotélica do que platônica.

o espaço mnemônico

It is not a coincidence that, according to the French philosopher Merleau-Ponty (1908-1961), “space is not an environment (real or logical) in which things are arranged, but the means by which the position of things becomes possible.”. For him, and also for Aline and Jeff, the space - the place - is not something that is imposed, on the contrary, it is built from the human experience. It only exists if there is a subject, the spectator/observer who constructs it with his/her eyes and thoughts.

The artists' repertoire of forms, in their reliefs, sculptures and photographs, constitute mnemonic devices, which relate to our memory. What we see are pieces of an affectionate cartography in which the void is encompassed and illuminates shadowy areas of our memory. It is a topological demonstration that incorporates the image, the representation of the void, the landscape, the passage of time and their erasures in the skin of things, in a subtle organization that involves an exchange of reciprocity between absence and presence.

Both also talk about how shapes can tension

relationships with space, and as if at the same time they redesign it. Jeff and their cracks that populate incompleteness, when projecting the floor in all its frontality on the walls, or when raising it over the existing floor of the Glass House, moves it to another level, creating a “stage”, a place for suspension of the real. In addition to bringing to the surface, pointing, directing our gaze towards the ground towards the earth, which is using a thought, a strategy that is more Aristotelian than Platonic.

the mnemonic space 54 - 55

As esculturas e fotografias que Aline exibe carregam por si só um sentido poético, transitório, que ocupa um lugar impreciso no espaço. Como que aliviadas do seu peso, suas colunas carregam a delicada densidade de uma paisagem. Em sua imponente e enigmática escultura central, o branco do gesso que usa denota uma assepsia na escultura criando uma paisagem circular e anônima. Afinal, qual é a paisagem, de onde ela vem e para onde vai? Ela cria uma figuração que traz em si um anonimato e uma “impessoalidade altiva”, expressão que o Rodrigo Naves usou em um ensaio sobre o Antonio Lizárraga.

Ambos representam a inteireza das coisas por meio do chão fendido, rachado, trincado, das ranhuras, das junções e interposições, da repetição que se conectam, se ligam. São cavidades, cortes, fendas, interrupções, sulcos, vãos, vazios preenchidos? A superfície que vai além de ser limite, fronteira de algo ou do seu eixo, a axialidade do traçado urbano. Eles mimetizam na Casa de Vidro o ambiente, o entorno, a cidade. Os lugares deslocados do seu local de origem.

Aline e Jeff embelezam a opacidade do mundo, o seu azedume, seu pesadume e também sua leveza. Agem como topólogos que vão além da superfície das coisas. Revelam a tensão entre a [des]ordem e o acaso. Há nestes trabalhos uma leveza, aquela que Italo Calvino nos lembra, que a precisão, no antigo Egito, “era simbolizada por uma pluma que servia de peso num dos pratos da balança em que se pesavam as almas”. Essa pluma era chamada de Maat, e seu hieróglifo indicava também a unidade de comprimento, “os 33 cm do tijolo unitário”.

O que antes era privado de espessura, a superfície em si, a paisagem, passa a ter profundidade, ganha uma nova representação em obras que abrigam elementos de fratura nos quais a cidade deixa de ser um todo. Eles desconstroem a estrutura tradicional das aparências. Suas obras são representações estéticas do território no qual a geometria euclidiana, das superfícies, é posta em xeque-mate.

a inteireza das coisas: a pluma e o tijolo JURANDY VALENÇA

the wholeness of things: the feather and the brick

The sculptures and photographs that Aline exhibits carry by themselves a poetic, transitory sense, which occupies an imprecise place in space. As if relieved of its weight, its columns carry the delicate density of a landscape. In her imposing and enigmatic central sculpture, the white of the plaster she uses denotes an asepsis in the sculpture, creating a circular and anonymous landscape. After all, what is the landscape, where does it come from and where does it go? She creates a figuration that brings an anonymity and a “haughty impersonality”, an expression that Rodrigo Naves used in an essay about Antonio Lizárraga.

Both represent the wholeness of things through the split, cracked, cracked floor, the grooves, the junctions and interpositions, the repetition that connects. Are the cavities, cuts, cracks, interruptions, grooves, gaps and voids filled? The surface that goes beyond being a limit, the frontier of something or its axis, the axiality of the urban layout. In Casa de Vidro, they mimic the environment, the surroundings, the city. Places displaced from their place of origin.

Aline and Jeff embellish the opacity of the world, its bitterness, its heaviness and also its lightness. They act as topologists who go beyond the surface of things. They reveal the tension between [dis]order and chance. There is a lightness in these works, which Italo Calvino reminds us, that precision, in ancient Egypt, “was symbolized by a feather that served as a weight in one of the scales on which souls were weighed”. This plume was called Maat, and its hieroglyph also indicated the unit of length, “the 33 cm of the unitary brick”.

What was previously deprived of thickness, the surface itself, the landscape, now has depth, gains a new representation in works that harbor elements of fracture in which the city ceases to be a whole. They deconstruct the traditional structure of appearances. Their works are aesthetic representations of the territory in which Euclidean geometry, of surfaces, is put in checkmate.

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JURANDY VALENÇA

O trabalho do artista, do curador e do “crítico” tem algo de linguagético como diz o Georges Didi-Huberman, pois estabelecem uma “articulação dos signos em significantes visuais e significantes verbais e discursivos implícitos que, em última instância, constituem o sentido da imagem”. É como uma visualidade falante. Aline e Jeff apresentam essa visualidade que fala, por intermédio de uma produção sem uma única topologia, é como se a arte fosse, e é, seu próprio lugar.

Na verdade, o artista é um grande investigador que (re)cria uma topologia, uma arte que, em si, é seu próprio lugar de dúvida. Talvez o que está em jogo não é propriamente a (des)construção das formas, mas, mais que tudo, a demarcação do espaço, do lugar que suas obras ocupam. O que importa é onde o pensamento, o processo se ancora, não o seu percurso, a sua trajetória. Aqui, Aline e Jeff discutem a consciência de que o resultado final da obra não é o objeto em si, mas é o conjunto de sensações provocadas pelos elementos sólidos, matéricos, pela luz e pelo direcionamento do olhar do espectador que as obras se revelam. Eles revelam o que Robert Morris, artista pioneiro da arte minimalista,

afirmava, que a escultura - e o objeto - não poderia mais ser vista como se estivesse separada do espaço, do seu entorno.

São operações complementares, uma bem material, formada por elementos físicos, e outra imaterial, na qual abriga - por intermédio representações, imagens, esculturas e objetos - o pensamento e sua [des]construção. Talvez, aqui nesta exposição, Aline Moreno e Jeff Barbato apontem para o que o Paul Virilio, no seu livro “O Espaço Crítico” chama de crise do inteiro, “ou seja, de um espaço substancial, homogêneo, herdado da geometria grega arcaica, em benefício de um espaço acidental, heterogêneo, em que as partes, as frações, novamente tornam-se essenciais”.

JURANDY

VALENÇA maio de 2022

Jurandy Valença é artista, curador, poeta e jornalista. Atualmente é o diretor da Biblioteca Mário de Andrade

linguagético

The work of the artist, the curator and the “critic” has something linguistic, as Georges Didi-Huberman says, as they establish an “articulation of signs in visual signifiers and implicit verbal and discursive signifiers that, ultimately, constitute the meaning of Image". It's like a talking visual. Aline and Jeff present this visuality that speaks, through a production without a single topology, as if art were, and is, its own place.

In fact, the artist is a great researcher who (re)creates a topology, an art that, in itself, is its own place of doubt. Perhaps what is at stake is not exactly the (de)construction of forms, but, more than anything, the demarcation of space, of the place that his works occupy. What matters is where the thought, the process is anchored, not its path, its trajectory. Here, Aline and Jeff discuss the awareness that the final result of the work is not the object itself, but the set of sensations provoked by solid, material elements, by the light and by the direction of the spectator's gaze that the works reveal themselves. They reveal what Robert Morris, pioneer artist of minimalist art, claimed, that the sculptureand the object - could no longer be seen as if

it were separated from space, from its surroundings.

They are complementary operations, one material good, formed by physical elements, and the other immaterial, in which - through representations, images, sculptures and objects - it shelters thought and its [de]construction. Perhaps, here in this exhibition, Aline Moreno and Jeff Barbato point to what Paul Virilio, in his book “The Critical Space” calls the crisis of the whole, “that is, of a substantial, homogeneous space, inherited from archaic Greek geometry, for the benefit of an accidental, heterogeneous space, in which the parts, the fractions, once again become essential”.

JURANDY VALENÇA May 2022

Jurandy Valença is an artist, curator, poet and journalist. He is currently the director of the Mário de Andrade Library.

“linguagético” 58 - 59

ABUNDANTES EM VEIOS DE FERRO poliptico com 24 fragmentos. concreto, plastilina e tela de alumínio 300 x 160 x 3 cm. ---- jeff barbato, 2022

UMA INESGOTÁVEL ESCAVAÇÃO (PARTE 2)

Aço carbono enferrujado, tela de alumínio e concreto 50 x 50 cm. cada ---- jeff barbato, 2022

ARRANHA-CÉU madeira, papel e tinta óleo 13 x 13 x 13 cm. cada ---- aline moreno, 2022

SEM TÍTULO

madeira, papel e tinta óleo 156 x 70 cm. cada ---- aline moreno, 2022

RAIO R _ IO 01

aço carbono, plastilina, alumínio e concreto 21 x 150 x 150 cm. ---- jeff barbato, 2022

RAIO R _ IO 02 aço carbono, plastilina, alumínio e concreto 35 x 150 x 150 cm. ---- jeff barbato, 2022

PAISAGEM INFINITA

madeira, compensado, papelão, gesso, massa corrida e tinta 70 x 180 x 180 cm. ---- aline moreno, 2022

obras - por ordem de aparição pieces - sorted by appearance

ABUNDANT IN VEINS OF IRON poliptic with 24 fragments made with concrete, plastiline and aluminium mesh 300 x 160 x 3 cm. ---- jeff barbato, 2022

AN ENDLESS EXCAVATION (PART 2)

Rusted carbon steel, aluminium mesh and concrete 50 x 50 cm. each ---- jeff barbato, 2022

SKYSCRAPER

wood, paper and acrylic paint 13 x 13 x 13 cm. each ---- aline moreno, 2022

UNTITLED wood, paper and oil paint 156 x 70 cm. each ---- aline moreno, 2022

LIGHTNING RIVER 01

carbon steel, plasticine, aluminium mesh and concrete 21 x 150 x 150 cm. ---- jeff barbato, 2022

LIGHTNING RIVER 02 carbon steel, plasticine, aluminium mesh and concrete 35 x 150 x 150 cm. ---- jeff barbato, 2022

INFINITE LANDSCAPE

wood, plywood, cardboard, plaster and paint 70 x 180 x 180 cm. ---- aline moreno, 2022

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this book was published for the exhibition

este livro foi publicado em ocasião da exposição o vazio abarcado the embraced emptiness

edited by edição Jeff Barbato

de 09 de julho a 31 de agosto de 2022 Casa de Vidro (Museu da Cidade) em Campinas - SP

assistance apoio ProAC 2021 - Artistas Iniciantes Governo do Estado de São Paulo executive production produção executiva LaCasita Ateliê - Jeff Barbato

juridic and financial coordination coordenação jurídica e financeira Leandro Taveira Solange Lima da Silva

setup montagem Alexandre Silveira

educational program educativo Caio Gusmão Ferrer

curatorial text texto curatorial Jurandy Valença graphic design projeto gráfico LaCasita Ateliê photography fotografia Ana Helena Lima translation tradução Alexander Dejonghe printing impressão PSI 7 Gráfica typography tipografia FreightSans Family Bodoni MT paper type papel couchê 115gr e pólen 90g cartão 250 gr copies tiragem 500 exemplares. Dos quais 50% foram distribuídos gratuitamente para o público espontâneo. design designer André Turtelli Poles

july 09 to august 31, 2022 press relations assessoria de imprensa Marmiroli Comunicação

accessibility acessibilidade Cris Kenne brazilian sign language interpreter intérprete de libras Maurício Gut acknowledgments agradecimentos Gabriel Rapassi, Fabiola Rodrigues, Adriana Barão, Américo Villela, Gustavo Machado, Juliana Vieira, Luciana Guarani, Luisa Naves, totenpix, Cacau (Fêmea Fábrica), Cris Bei, Gabriel Torggler, Marilene D. Barbato, Milton Barbato, Eliane Moreno, Karina Souza, Reinaldo Botelho e demais pessoas e amigxs que colaboraram direta ou indiretamente.

audio-visual audiovisual Contorno Filmes

Secretaria de Cultura e Economia Criativa

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