Terri Anne Browning-Angel´s Halo MC-04-Reclaimed - TAD

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Felicity Bolton finalmente sente que seguiu em frente com sua vida. Ela sente falta de seus amigos e família em Creswell Springs, mas agora ela tem novos amigos - uma nova família. Ela encontrou a paz que ela perdeu na noite em que perdeu seu filho. Ela faria qualquer coisa para proteger sua nova família, mesmo que isso significasse enfrentar o próprio diabo. E quando Jet Hannigan volta para sua vida é exatamente isso o que ela tem que fazer.

Jet Hannigan

é oficialmente um homem livre. Com o fim de sua condicional, ele finalmente pode fazer o que ele precisa, ir atrás da única mulher que sempre vai possuir seu coração. Ele sabe onde ela está há meses e estava esperando impaciente pelo dia em que ele poderia recuperar o que é seu. O que ele não esperava era ter que chantageá-la para voltar para Creswell Springs com ele. Com tudo acontecendo com a chefe de Flick, e o circo da mídia em torno do caos, Jet achou que o lugar mais seguro para ela era em casa, onde ele e seus irmãos poderiam protegê-la. Em vez disso, ele a leva para uma zona de guerra.

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prólogo

Felicity Não pela primeira vez na minha vida, eu quis fugir. Eu estava pensando nisso mais e mais ultimamente, e naquele momento parecia a ideia mais inteligente que eu já tive. Esse era o meu problema, no entanto. Eu tinha ideias inteligentes, mas sempre que um certo Adônis motoqueiro sorria para mim com um sorriso que nunca falhava em me derreter, eu esquecia todos os pensamentos espertos que eu já tive. É como sempre foi. Eu era uma otária sobre ele e ele sabia disso. Usou isso contra mim desde o dia em que ele olhou para mim como mais do que a melhor amiga de sua irmãzinha, e eu tinha quebrado a minha regra número um. — Você está com aquele olhar no rosto de novo — Raven Hannigan murmurou enquanto ela caminhava até o banco onde eu estava sentada. Dei de ombros, realmente sem saber do que ela estava falando e não dando a mínima para qualquer um. Era sábado à noite e tudo o que eu queria era estar em casa na cama, e dormir até que toda essa merda tivesse acabado. Eu com certeza não queria estar no bar dos Hannigan, esperando que meu ex terminasse de trepar com alguma ovelha por tempo suficiente para eu contar o que eu precisava dizer a ele. Já que eu não contei a Raven que eu estava me esgueirando com seu irmão mais velho e malvado – o atual presidente do MC – eu não mencionei isso para ela agora.

Ela provavelmente achou que eu estava sentada lá

esperando por ela sair do trabalho para que pudéssemos ir para a casa dela devorar comidas que iriam direto para a minha bunda gorda. Não é má ideia, mas eu ainda tinha que lidar com Jet Hannigan primeiro.

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Raven jogou uma bandeja cheia de garrafas de cerveja vazias na enorme lata de lixo atrás do bar antes de se virar para franzir a testa para mim. Ver a careta de Raven Hannigan em você não era algo que a maioria das pessoas queria que acontecesse. Se ela tivesse feito isso com qualquer outra pessoa no mundo, a pessoa provavelmente já estaria se mijando ao se perguntar o que teria feito para provocar essa reação. Quando ela franziu a testa para mim, eu soube que ela não estava debatendo sobre se deve ou não chutar a minha bunda ou me entregar para um de seus irmãos para que eles pudessem esconder o corpo quando acabassem. Esta menina era minha melhor amiga, a irmã do meu coração. Eu não estava com medo dela simplesmente porque eu sabia que ela nunca machucaria um fio de cabelo na minha cabeça. Isso não significava que eu era ignorante do fato de que ela poderia cortar minha garganta e me jogar no lixo de trás do bar se ela decidisse que era o que ela queria, e ninguém no lugar sequer piscaria. Era o que acontecia quando uma garota com força de vontade como Raven era criada por um grupo de motoqueiros durões. — Ela está com aquele olhar no rosto de novo — uma voz profunda que eu conhecia bem murmurou enquanto passava onde eu estava sentada no bar e deu a volta até onde sua irmã estava jogando mais algumas garrafas vazias no lixo. Enxugando as mãos na toalha do balcão, Hawk Hannigan virou a mesma careta que sua irmã tinha em seu belo rosto para mim. — Vai vomitar de novo, Flick? Eu o ignorei quando levantei meu copo de soda até meus lábios e tomei um pequeno gole. Na verdade, meu estômago não estava no seu auge e era algo que ninguém sabia, quando eu ia vomitar novamente. Eu estava fazendo muito disso ultimamente. Enjoo matinal era foda. Era a minha vez de franzir a testa neste momento. Foda? Esse pensamento realmente passou por minha cabeça? Não era meu perfil pensar coisas assim. Raven com certeza. Eu? Se você perguntasse a qualquer um no Hannigan’s o que eles pensavam sobre mim naquele segundo, eles instantaneamente diriam que eu era a pequena Flick, doce e tranquila. A pessoa que precisava de proteção. Aquela que era delicada. Frágil até.

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Eu odiava que isso era o que eles pensavam de mim, mas mesmo eu tinha que admitir que era a verdade. Eu não era tão forte quanto Raven. Eu era a menina quieta, doce e agradável. Eu não era frágil, porém, não tanto quanto todo mundo achava, de qualquer maneira. Se assim fosse, eu já teria quebrado. Eu seria uma pilha de Felicity quebrada no chão do bar que Raven teria que varrer e tentar consertar, se fosse esse o caso. Eu estava um pouco confusa, perdida com certeza, mas isso era tudo. Nada começou a rachar ainda, e enquanto eu mantiver meu coração endurecido contra Jet Hannigan, nada racharia. Um riso alto e quase nasal vagou sobre a música alta de rock e levantou vozes no bar. As noites de sábado eram sempre ocupadas no Hannigan’s, mas mesmo no meio da multidão atual eu poderia achar seu riso e sua profunda risada. Bubbles me chateando não era nada de novo. Ela era uma ovelha e até Jet começar a ficar comigo, ela foi uma de suas favoritas. Agora que não estávamos mais juntos, parecia que Jet voltou a farejar a cadela. O som de sua risada de novo fez meu queixo tremer, junto com minhas coxas. Por que ele ainda tem esse tipo de poder sobre mim? Como eu poderia não ser imune agora, quando ele tentou tanto acabar com o meu coração e ainda estava tentando fazer exatamente isso? Virei a cabeça na direção de onde o riso estava vindo, de volta para o estande dos Originais. Bubbles estava sentada no colo de Jet, e seu cabelo estava cobrindo a maior parte do rosto dele, mas mesmo de onde eu estava sentada eu podia ver seus olhos e eles estavam direto em mim. Ele estava me olhando procurando uma reação, querendo me mostrar que eu ainda era capaz de sentir alguma coisa depois da forma que terminamos tudo. Uma pontada de ciúme bateu no meu intestino, mas eu não o deixei vêlo mais que um bater dos meus cílios. Eu melhorei muito em esconder minhas emoções recentemente. — Ela está com aquele olhar no rosto de novo — resmungou Raider Hannigan segundos antes de se sentar no banco vazio ao meu lado. Grata pela distração, eu finalmente cedi e olhei para os três irmãos Hannigan. Não havia dúvida de que eles eram parentes. Eram todos excepcionalmente altos, mesmo Raven com suas longas pernas esguias. Cada

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um tinha cabelos loiros e olhos verdes únicos que tinham uma tonalidade de verde oliva jade neles. E todos eram a única família de verdade que eu conhecia. — Que olhar? — Eu exigi, sem saber do que eles estavam falando. Trabalhei muito duro para ter certeza que meu rosto não refletisse a forma como eu me sentia perdida por dentro. Passei horas no banheiro olhando para mim mesma no espelho enquanto aperfeiçoava esse olhar. — Olhos mortos — Colt Hannigan respondeu por seu irmão enquanto empurrava o membro do MC que estava sentado do meu outro lado. O motoqueiro mais velho saiu sem uma palavra e Colt tomou seu lugar, aqueles mesmos olhos verdes como seus irmãos e irmã tentando penetrar até o meu núcleo. Colt parecia mais como Jet, agia mais como ele também. Encontrar seu olhar era mais difícil para mim do que era com os outros três Hannigans, mas eu fiz apenas para ver do que ele estava falando. — Não, eles não estão assim — argumentei, mas no fundo eu sabia que ele provavelmente estava certo. Era esse o olhar que eu tinha aperfeiçoado? A expressão de olhos mortos? Droga. Isso era pior do que o olhar triste e perdido que eu estava tentando encobrir. — Sim, querida, eles estão — Colt estendeu a mão e eu tentei não recuar quando ele empurrou alguns fios de meu cabelo para trás do meu rosto. As semelhanças entre Colt e Jet eram demais para mim lidar às vezes. — Onde está a nossa Flick feliz e espirituosa? — Ele murmurou. — Eu a quero de volta. Revirei os olhos, porque era isso, fazer uma piada ou chorar em cima do pobre do motoqueiro. — Ela está cansada. Escola tem sido duro esta semana com as provas finais e toda essa baboseira... — Se for esse o caso, então você não tem nada com que se preocupar. — Raider pegou a cerveja que Hawk colocou na frente dele e a levou até os lábios. — Você arrasa em todas, Flick. Você é muito inteligente para ir mal. Ele estava certo. Eu estava confiante em todos os exames essa semana. Estudei muito e mesmo me sentindo enjoada durante a maior parte dos testes, não tropecei em nenhum. Escola sempre é fácil para mim. Era na vida real que eu parecia falhar.

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— Vocês não deveriam estar fazendo algo? Tipo administrando este lugar? — Com esse estalar duro, nós todos erguemos a cabeça para encontrar Jet em pé bem atrás de mim. Sem pensar, eu ergui minhas paredes de novo, e imediatamente ouvi três machos murmurarem algo sob a respiração quando viram meus “olhos mortos”. Jet não olhou para mim quando ele olhou de um irmão para o outro. Um pouco da irritação deixou seus olhos quando eles passaram brevemente sobre Raven. Era de se esperar, eu acho. Ele basicamente criou a irmã caçula. Raven já o considerava sua influência paterna muito antes de seu pai morrer. — Eu não sei — Hawk rosnou para seu irmão mais velho. — Você não deveria estar fazendo o mesmo? Ou você prefere Bubbles sentada em seu pau a noite toda, enquanto nós cuidamos dessa porra de bar? Jet apertou a mandíbula por alguns segundos antes de um sorriso mal se levantar no lado esquerdo de sua boca. — Sim, soa como uma boa ideia. Volte ao trabalho. — Vá se foder — Hawk rosnou. — Nah, eu vou deixar Bubbles fazer isso, mas você pode ter minhas sobras, irmão. Colt se levantou. — Que tal parar com isso? Flick não precisa ouvir essa merda. Meu coração se apertou em ver o quão protetor Colt era. Ele sempre foi o pensativo dos quatro irmãos. Ele era tão duro quanto Jet, mas tinha um lado mais suave também. Por que eu não me apaixonei por ele? — Flick nem deveria estar aqui — disse Jet a seu irmão mais novo, fogo em seus olhos quando ele pareceu mais alto do que apenas três centímetros de diferença. — Ela nem tem vinte e um ainda. Ela não tem que estar aqui. — Ei, qual diabos é o seu problema? — Hawk exigiu, pisando duro em torno do bar para enfrentar Jet. — Ela não está bebendo, então não é um problema. Afaste-se. Ela não está machucando ninguém. Você não costumava ter um problema com ela aqui. Eu vi a maneira como os olhos de Hawk estreitaram em seu irmão e rapidamente me levantei. Eu não queria ser a razão dos dois Hannigans mais

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velhos brigarem. — Eu estava prestes a sair de qualquer forma. Vejo vocês mais tarde. Colt pegou meu cotovelo. — Espere. Eu a levo até seu carro. Está escuro lá fora. Senti a temperatura cair dez graus em volta de mim quando Jet empurrou a mão de seu irmão para fora do meu braço. Quando ele substituiu a mão de Colt com a sua própria, não importava que a temperatura em torno de mim caiu com a frieza do olhar de Jet. Meu corpo instantaneamente aqueceu, escaldando minha carne onde ele me tocou. — Leve sua bunda preguiçosa de volta ao trabalho, irmãozinho. Vou me certificar que Flick chegue a seu carro. Meu primeiro pensamento foi recusar. Eu não queria ficar sozinha com Jet quando ele estava irritado com frieza. Então eu percebi que ele era a razão pela qual sai da casa da minha mãe hoje. Se eu não falar com ele agora, eu nunca poderia falar com ele novamente. Eu quase preferia que fosse assim, mas sabia que Jet precisava saber que ia ser pai. Raven estava de repente na minha frente. Seus olhos verdes permaneceram no meu rosto por um momento antes de ela se adiantar e me abraçar. Surpresa, eu a abracei de volta. — Você está bem? — Ela sussurrou no meu ouvido para que apenas eu ouvisse. — Eu estou bem, Rave. Sério. — Eu beijei seu rosto e dei um passo para trás, deixando Jet me puxar para fora de seu bar. Nenhum de nós falou enquanto ele praticamente me arrastava para o meu jipe na parte de trás do estacionamento. Para cada passo dele eu tinha que dar três. Tive sorte de encontrar uma vaga quando cheguei, o lugar estava tão cheio. Assim que chegamos no jipe, ele se virou para mim. O olhar em seu rosto me fez dar vários passos para trás, só parando quando senti o carro de alguém em minhas costas. Jet me seguiu até que três centímetros estavam nos separando. Eu podia sentir sua respiração no meu rosto e ver seus olhos brilhando sob as luzes no estacionamento. Aquelas profundezas verdes estavam em guerra com uma mistura de emoções: raiva, luxúria, desgosto. Foi o desgosto que me sentir um soco nas costelas. Ele estava enojado consigo mesmo ... ou comigo?

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Eu estava muito revoltada comigo mesma, então eu teria compreendido se ele estivesse com nojo de mim também. Eu não queria perseguir este motoqueiro estúpido, e eu não iria. Assim que eu contasse o que precisava dizer, eu iria embora. Ele não teria que reconhecer se não quisesse. Eu terminei com ele. A necessidade de fugir para longe, muito longe desta vida fodida onde eu tinha nascido estava ficando mais forte. Será que eu realmente queria que meu bebê crescesse assim? Claro que eu sabia que ele seria amado por seus tios e tia, mas e Jet? Será que ele quer mesmo o nosso bebê? Ou ele me diria para me livrar dele? Será que o meu filho cresceria sem conhecer o pai como eu cresci? Eu não sabia as respostas a essas perguntas, mas estava prestes a conseguir. — O que você quer, Flick? — Jet murmurou enquanto ele continuava a olhar para mim com essas três emoções ainda girando em seus olhos. — Sei que você veio me ver, o que eu não sei é por que. Engoli em seco, tentando fazer minha língua funcionar. Por que ele tem que cheirar tão bem? Mesmo sob o cheiro de fumaça e bebidas, eu ainda podia identificar seu cheiro único. Algo um pouco picante misturado com citrus. Talvez fosse da minha nova consciência de aromas por causa da minha gravidez, mas eu duvidava. Eu sempre fui capaz de perceber o perfume de Jet. Tão perto dele, com seu cheiro enchendo meu nariz cada vez que eu respirava, meu corpo estava reagindo de maneiras que me perturbavam. Depois de tudo o que ele me fez passar nas últimas semanas, eu não conseguia entender minha necessidade crescente por este homem. — Eu precisava falar com você — finalmente saiu depois de alguns segundos de tentar trazer de volta a umidade na minha boca. Ele se mudou um centímetro mais perto, abaixando a cabeça até que tudo o que eu podia ver eram suas íris. — Então fale. Fácil para ele dizer. Eu estava imaginando como contar a ele fazia dias. Desde a segunda, quando descobri que estou grávida, eu estava tentando descobrir como, ou até mesmo se eu deveria dizer a Jet que ele seria pai em poucos meses. Tudo o que eu elaborei soava estúpido. Como exatamente você

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diz ao homem que só queria você para algumas fodas rápidas que ele estava prestes a ser amarrado a você por pelo menos dezoito anos? Soprando um longo suspiro, eu só deixei escapar. — Estou grávida. Por um longo momento, pareceu como se ele não tivesse me ouvido. Ele não reagiu, nem mesmo piscou. Eu soube no instante em que ele realmente entendeu. Seu rosto empalideceu e seus olhos se arregalaram levemente. Ele deu um passo para trás, seus olhos indo direto para o meu estômago não tão plano. Eu sempre lutei com o meu peso, mas eu realmente perdi dois quilos na última semana. Enjoo matinal era a melhor dieta, já que tudo o que eu comia virava vômito e eu tentava me manter hidratada durante todo o dia. — Você está brincando? — Ele perguntou em voz áspera, como se não pudesse acreditar no que eu disse a ele. Ou ele não queria acreditar. — Pareço estar brincando? — rebati, incapaz de manter meu desprezo escondido por mais tempo. Ele achava que eu tinha planejado essa merda? Que eu sinceramente queria estar presa a ele por toda a vida por um bebezinho inocente? — Estou grávida, imbecil. Pronto, você sabe. Faça o que quiser com a informação, eu não dou mais a mínima. Eu empurrei o seu peito e ele foi de boa vontade. Livre, eu pisei em torno dele e abri o meu jipe. Jet não se mexeu novamente até que eu estava sentada no banco do motorista e liguei o motor. Ao vê-lo ali de pé, franzindo o cenho para mim assim, eu rolei para baixo minha janela e esperei ele falar. — Você já viu um médico? — Ele perguntou no mesmo tom áspero. — Você está bem? A primeira pergunta não me surpreendeu, mas a segunda atingiu meu coração. Ele estava preocupado comigo ou com o bebê? E isso importa? — Eu o vi há dois dias. Está tudo bem. Vou na próxima semana para fazer um ultrassom para determinar a data prevista para o parto. Jet balançou a cabeça, como se soubesse exatamente do que eu estava falando. — Quando? Onde? — Eu disse o horário e o hospital onde eu faria a consulta. Ele balançou a cabeça novamente e recuou. — Ok. Isso foi tudo o que ele disse antes de se virar e caminhar de volta para o bar. Ok. Sem “te vejo lá” ou mesmo “vá se foder, Flick”. Apenas ok. Me senti

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derrotada, porque o que eu realmente esperava dele de qualquer forma? Eu coloquei o jipe na marcha certa e dirigi para casa.

Jet Grávida. Ela estava grávida. Eu não sabia se ria ou fazia um buraco na parede. Passei a última semana fazendo as duas coisas. Um minuto eu estava rindo - o tipo de riso que você espera de lunático antes de ele torturar algum bastardo impotente à morte. E então o riso se transformava em algo genuíno, porque com toda a honestidade, eu estava meio que feliz sobre Flick estar grávida. Me dava aquele laço com ela com o qual eu lutei comigo mesmo por tantos anos, dizendo que era ridículo. Eu não estava orgulhoso de mim mesmo por querer a melhor amiga da minha irmã caçula desde que ela tinha dezesseis anos. Eu quase espanquei um homem até a morte quando ele me disse que se sentia da mesma maneira sobre a minha irmã. Como isso me torna melhor? Pensar em Bash Reid só me irritava. Eu não sabia se eu estava mais irritado comigo mesmo, ou Bash, que havia deixado a cidade o mais rápido que pôde. Eu mesmo. Sim, eu mesmo. Bash tinha seus demônios para enfrentar, eu sabia disso. Ele não teria deixado minha irmã sem uma boa razão. O filho da puta aceitou o espancamento como um homem, me fazendo respeitá-lo. Ele me mostrou o quanto amava Raven. Não, ele não teria ido sem uma boa razão. Eu estava chateado comigo mesmo porque eu não tinha tido a coragem de dizer a Flick que eu a amava. Toda vez que eu pensava no covarde que eu fui, afastando-a para evitar os meus próprios sentimentos, eu colocava meu punho através de uma parede. Eu estava fazendo Tio Chaz e seus meninos de construção lucrarem bastante, constantemente tendo que remendar os buracos que eu estava fazendo em casa, trabalho e até mesmo na porra do clube. Ninguém falou nada, entretanto. Imaginei que eles soubessem que não

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deviam perguntar o motivo de eu estar socando uma parede sólida. Sem dúvida, eles perceberam que eu não pensaria duas vezes antes de colocar esse mesmo punho machucado e ensanguentado na parte de trás de suas cabeças. A consulta de Flick foi no dia anterior, e eu não tinha ido. Não. Isso foi uma mentira. Eu fui. Estive no estacionamento do hospital e vi quando Flick entrou para sua consulta. Eu fiquei no carro enquanto eu esperava que ela saísse quarenta e sete minutos depois e não me movi até que eu a vi dentro de seu carro. Mesmo de onde eu estava estacionado, bem longe de Flick para que ela não me visse praticamente perseguindo-a, eu vi o sorriso em seu rosto bonito quando ela olhou para um pedaço de papel brilhante. Seria uma imagem de nosso bebê? Aquele sorriso agridoce era para o nosso filho? Será que ela já o amava? Murmurando uma maldição enquanto essas mesmas perguntas flutuavam pela minha cabeça mais uma vez, eu peguei uma garrafa de Jameson de trás do bar e abri enquanto sentava em um dos bancos na frente do balcão. O lugar estava vazio e ficaria assim por mais algumas horas. Meus irmãos e Raven não viriam pelas próximas duas horas para arrumar o lugar para a Igreja naquela noite. Achei que seria bom beber naquela hora e não ficar tentado a socar outra parede por enquanto. Eu já estava na metade da garrafa quando ouvi a porta abrir atrás de mim. Virando, eu encontrei Tio Jack, Razor e Tio Chaz entrando no bar com meu melhor amigo e vice-presidente, Westcliffe. Eu não queria companhia especialmente a de Westcliffe. Foi ele quem me disse para terminar com Flick em primeiro lugar. Ele entrou na minha cabeça, me fez pensar que eu não era bom para ela. Provavelmente era verdade, mas porra, eu não queria que fosse. Lembrar daquela conversinha me deu vontade de socar seu rosto. Que porra eu estava pensando, deixando Flick ir em primeiro lugar. Eu amo aquela mulher. Amo, porra. Merda, eu era um maricas. Eu precisava dizer a ela que eu a amo... Tio Jack agarrou a minha garrafa de Jameson e voltou para cabine dos Originais. Os outros seguiram-no e depois de alguns minutos lá, gritando mentalmente para mim mesmo por não ter contado a Flick que eu a amava,

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eu finalmente me levantei e voltei para ver o que os velhos sacanas queriam. Jack, Chaz, e Razor não apareciam sem uma razão. Não quando haveria Igreja em poucas horas. Rangendo os dentes, puxei uma cadeira de uma mesa próxima e tomei o meu lugar com eles. Quatro pares de olhos se estreitaram em mim, mas ninguém falou uma palavra, esperando que eu falasse. Eu passei a mão sobre o meu rosto, sentindo a barba de uma semana no meu queixo. — Eu engravidei Flick — eu murmurei, admitindo meu pecado. Houve uma longa pausa dos três homens velhos, como se estivessem me avaliando pela primeira vez desde que eu segui os passos do meu pai como presidente do Angel’s Halo MC. Westcliffe sentou-se um pouco mais reto, os olhos semicerrados ficando mais frios. Qual diabos era o problema dele de qualquer maneira? Eu estava ficando doente e cansado dessa merda quando se tratava de Flick. Ele era o único que sabia que eu estava ficando com ela. Eu pensei que podia confiar nele com isso, mas ele não fez nada além falar merda desde que eu contei a ele. Ignorando o vice-presidente, eu virei meu olhar para o Tio Jack. Ele foi como um segundo pai para mim a vida toda. O melhor amigo do meu pai e vice-presidente do clube até Mad Max Hannigan encontrar o Anjo da Morte. Deveria ser ele a tomar o lugar do presidente, mas ele queria uma geração mais jovem para assumir a gestão do clube. Os olhos cor de uísque marrom de Tio Jack eram uma mistura de desaprovação e diversão. Uma combinação estranha de ver nos olhos de qualquer um, ainda mais nos de Tio Jack. — Então case com ela. — Sim, porra. Case com a mulher. — Razor pegou a garrafa de Jameson e deu um gole longo e profundo antes de bater a garrafa de volta na mesa. — Ou eu vou te foder. Certo? Eu pisquei, incerto se ouvi corretamente. Casar com Flick? Eu não tinha pensado nisso. Casamento era a coisa mais distante na minha mente. Claro, eu amava aquele mulher, mas eu realmente quero me casar? Eu poderia torna-la minha senhora sem fazer dela minha esposa, caramba.

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Tio Chaz ergueu as mãos, colocando-as sobre a mesa quando ele olhou para mim. — Flick é uma boa menina, menino. Faça isso direito. Ou nós traremos o executor nessa questão. Estendi a mão para a garrafa de uísque e tomei um longo gole enquanto contemplava o que o velho filho da puta tinha acabado de dizer. Nem mesmo como presidente do clube eu era isento do executor. Evitava que o poder subisse a cabeça. Desde que Bash saiu, um novo foi nomeado. Eu não era estúpido o suficiente para pensar que eles não trariam Spider para isso, mas isso não significava que eu pularia para pedir Flick em casamento ali mesmo. Pode parecer um pouco extremo trazer o executor, mas eu sabia que eles se preocupavam com Flick e queriam o melhor para ela. Ela não tinha uma figura paterna para olhar por ela como eu era para Raven. — Eu vou — assegurou aos três Originais. — Apenas me dê algum tempo. Tio Jack acenou com a cabeça. — Claro, rapaz. Não tenha pressa. Mas é melhor você colocar um anel do dedo daquela menina antes que ela tenha a criança, ou você vai conhecer seu filho estando em um saco fúnebre.

Felicity Três semanas. Eu não via Jet a três semanas. Eu percebi que eu não iria vê-lo por mais tempo do que isso. Estava tudo bem, embora. Eu estava bem. Eu não precisava dele para ajudar com o bebê. Nós estaríamos muito bem sem ele. Não significava que eu não estava sentindo sua falta de interesse em seu próprio filho. Não significava que eu não fiquei chateada com ele por nem mesmo aparecer na consulta há duas semanas atrás. Eu não fui procura-lo depois, e também não iria. Ele não valia mais o meu tempo. Fiz o meu dever, contei a ele sobre o bebê. Isso era tudo o que ele teria de mim. Meu enjoo felizmente começou a desaparecer. Passei a maior parte das últimas três semanas com a minha cabeça em uma privada, seja em casa ou

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na escola. Aqueles eram os únicos lugares que eu ia nos dias de hoje, os únicos lugares que eu sabia que não teria chance de encontrar Jet. Agora que o enjoo aliviou, eu pude me concentrar sobre o que precisava ser feito. Eu fiquei para trás em algumas das minhas aulas por causa disso, e precisava passar várias horas extras após cada uma das minhas aulas para recuperar, ou correria o risco de falhar no semestre. Eu estava atrasada para sair da minha aula de Inglês hoje porque eu tinha dois trabalhos que precisavam de uma revisão antes de entregá-los. Minha mãe não tinha Internet em casa, e já que eu estava vivendo de minha bolsa de estudos, eu não podia pagar eu mesma. Sempre que eu precisava fazer alguma coisa em um computador eu sempre tinha que fazer na escola. Já estava escuro quando saí do prédio e fui até meu jipe. O estacionamento estava quase vazio, exceto pelo meu jipe e dois outros carros... E uma moto estacionada logo em frente ao meu jipe. Ver Jet encostado em sua moto com os braços cruzados sobre o peito largo, parecendo aborrecido e um pouco divertido fez o meu coração pular no meu peito. Ele obviamente estava esperando por mim e eu tive que me perguntar quanto tempo ele estava esperando. Jet conhecia minha agenda e saberia que eu devia sair da minha última aula às cinco. Agora era um pouco depois das nove. Dizendo a mim mesma que eu não me importava que ele estava lá, ou até mesmo por que ele estava lá, eu puxei as minhas chaves da minha mochila e contornei a moto. Ignorando-o completamente. Uma profunda risada vinda da direção da moto poderosa enviou um arrepio delicioso de antecipação na minha espinha, mas eu cerrei as coxas e abri a porta do lado do motorista. Jogando minha mochila no banco do passageiro, eu finalmente me virei para enfrentar o homem que eu ainda amava estupidamente. — O que você quer, Jet? — Como você está? — Ele perguntou ao invés de responder minha pergunta. Seus olhos se estreitaram em mim e eu perguntei se ele estava vendo que eu tinha perdido peso nas últimas três semanas... e se ele gostou das mudanças. — Estou bem. Como você está? — Perguntei com rigidez educada.

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— Você não parece bem — ele me assegurou quando seus olhos correram sobre mim da cabeça aos pés e, em seguida, de volta para cima. Em todos os lugares que seu olhar verde tocou, eu senti como se ele realmente tivesse passado suas mãos sobre mim. Meus mamilos apertaram e minha calcinha ficou úmida instantaneamente. Cruzando os braços sobre o peito para esconder o fato de que eu estava excitada com algo tão simples como ele passando os olhos em cima de mim, eu levantei uma sobrancelha para ele. — Você não come mais, Flick? Parece que você perdeu muito peso. O tom de sua voz me disse que ele não gostou da perda de peso. Eu não sei se deveria tomar isso como um elogio ou um insulto. O tipo usual de Jet era magra estilo modelo. Só Deus sabe que eu nunca seria tão pequena. Eu tinha curvas em todos os lugares certos, mas eu também tinha uns bons nove quilos de peso extra. Bem, dois quilos agora. Eu perdi o resto ao longo das últimas três semanas porque não conseguia manter nada no estomago. Jet gostava de mim com o peso extra? Eu nem tentei entende-lo. Só me daria dor de cabeça. — Enjoo não é divertido, Jet. E só agora está começando a aliviar para que eu possa comer algo sem vomitar. — Oh — ele murmurou e enfiou as mãos nos bolsos, fazendo seu colete apertar sobre seus ombros. — Estou feliz que você esteja se sentindo melhor. Incapaz de evitar, eu revirei os olhos. — Obrigada — eu me virei para a porta do jipe aberta, pronta para ir para casa e dormir um pouco. Eu fiquei na escola o dia todo e eu só queria algumas horas de sono. Isso não era pedir demais, não é? — Espere — ele estalou quando ele viu que eu estava saindo. — Nós deveríamos conversar. Fiz uma pausa com a minha mão na porta e virei minha cabeça para olhar para ele. — É? Achei que já tinha dito tudo o que precisávamos. Já que eu não vejo você desde que contei sobre o bebê, eu tinha certeza que você já decidiu onde seu filho estava na sua vida. Sua mandíbula se apertou e ele arrastou as mãos sobre o rosto antes de se aproximar. — Eu venho lidando com alguma merda do clube, Flick. Me desculpe, eu não estive muito presente, mas algo precisava da minha atenção.

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— Que tipo de merda do clube? — eu não tinha ouvido nada sobre algo acontecendo dentro do clube e teria sido uma das primeiras a saber. Minha mãe me contava tudo o que ela ouvia na sede do clube. Se havia alguma coisa acontecendo e ela não sabia, então era uma merda pesada. Se era tão secreto, eu sabia que Jet provavelmente não me diria nada. Os negócios do clube eram os negócios do clube. Ninguém compartilhava nada com ninguém fora do clube. Era mais seguro assim para todos, especialmente quando agências governamentais como a DEA1 e ATF2 podiam aparecer em suas portas. Então, eu fiquei surpresa quando ele finalmente falou.

Westcliffe tem causado alguns problemas. Eu não sei qual é o problema dele. Desde que o conheci, ele tem um pedaço de pau no rabo, mas é mais do que apenas isso. Estive tão distraído com você que eu realmente não tinha notado até agora... — Ele parou e eu percebi que era tudo o que ele me diria sobre Westcliffe. Jet deu de ombros novamente. — Nenhum dos outros irmãos do clube o viram nas últimas duas semanas, ou assim eles dizem. Há alguns que eu estou disposto a surrar para encontrar esse puto. Spider está chateado porque Westcliffe tem incomodado as meninas na Paradise City. Ele está na merda de lista de todo mundo agora, querida. Eu não ia dizer que fiquei surpresa ao descobrir que Westcliffe estava agindo assim. Ele sempre me deu arrepios, mas eu tive que aturá-lo ao longo dos anos. Como vice-presidente, ele estava no negócio de todo mundo que era associado ao clube. Havia até mesmo algumas vezes em que eu o encontrei olhando para mim com as expressões mais estranhas em seu rosto não tão bonito. Era uma mistura de ódio frio e luxúria. Eu não tinha ideia do por que ele iria se sentir assim comigo. Nunca encorajei nada, mas sempre tentei ser agradável. Eu era boa para todos. Agitando o pensamento para longe, eu me virei para Jet. — O que isso tem a ver com você estar aqui agora? Suas mãos voltaram para seus bolsos e eu tive a sensação de que ele estava quase vulnerável naquele momento. O que era engraçado, porque Jet

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Drug Enforcement Administration (em tradução livre: Órgão para o Combate às Drogas) Bureau of Alcohol, Tobacco, Firearms and Explosives (em tradução livre: Departamento de Alcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos) 2

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Hannigan não era vulnerável. — Eu acho que é hora de resolver essa coisa entre nós. Sobre o bebê e tudo mais. — Ok. — Então, ele seria homem e assumiria a responsabilidade pelo bebê. Isso era bom. Mesmo que eu estivesse preparada para cuidar da criança sozinha, eu não queria que ele crescesse sem conhecer o pai. Meu coração realmente levantou um pouco quando olhei para ele. — Eu acho que se você ver o bebê no domingo e segunda-feira, vai ser uma ótima ideia. Isso lhe dará tempo de criar um vínculo com ele. — Aqueles eram seus dias de folga no bar, então eu sabia que ele teria tempo para ver o filho... se ele realmente quisesse. — Ele? — A voz de Jet saiu áspera. Eu dei de ombros. — É o que eu quero, mas vou ficar feliz com qualquer um, desde que o bebê seja saudável. Ainda assim, eu gosto de pensar que é um menino. — Eu sonhava acordada com o bebê que estava crescendo com segurança sob meu coração. Se ele pareceria com seu pai, cabelo loiro e olhos verdes. Sua teimosia. Talvez o temperamento de Raven. Mas, principalmente, eu esperava que ele tivesse o meu coração. — Então você não sabe ainda? — eu balancei a cabeça e dei de ombros. — Eu não me importo com o que é, contanto que seja saudável. — Até aqui tudo bem — eu assegurei. O ultrassom mostrou que o bebê estava crescendo como esperado, tinha uma pulsação forte, e estava em uma boa posição. — Mas essa besteira de domingo e segunda-feira não vai funcionar. Acho que deveríamos nos casar, Flick. Eu fiquei tão surpresa com o que tinha acabado de sair de sua boca, que tudo o que eu podia fazer era ficar lá e piscar para ele. Depois de vários minutos, uma risada me escapou enquanto eu observava seus olhos. — Você não pode estar falando sério. — Não tinha como. De jeito nenhum. — Eu estou. É a coisa certa a fazer, querida. Quero ser uma parte da vida de nosso filho... e da sua também. Ele parecia tão certo disso também. Não. Ele nem conseguiu encontrar o meu olhar quando disse aquela última parte. Isso era ridículo. — Eu te conheço a vida toda, Jet Hannigan. Tenho certeza de que casamento nunca entrou na sua mente uma única vez. Eu não vou mentir para mim mesma,

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pensando que eu de alguma forma me tornei a exceção a isso. — Realização me bateu na cabeça como um golpe físico e meu queixo caiu. — Ahhh, os tios... Não havia outra maneira de explicar. Tio Jack, Tio Chaz, Tio George, Tio Ox e até mesmo Razor. Eles sempre foram meus tios honorários. Eles eram velhos, sim, mas ainda assustadores como o inferno para a geração mais jovem. Eu era uma das poucas fora do clube que os chamavam de tios. Eles me amavam tanto quanto amavam Raven. Eles devem ter achado que eu estava grávida e forçaram Jet a se casar comigo. Aqueles homens não ficariam felizes com Jet apenas me tornando sua senhora. Eles gostariam que ele me tornasse esposa. O olhar no rosto de Jet a seguir me disse tudo o que eu precisava saber. A risada que borbulhou em seguida tirou todo o humor e estava cheia de toda a mágoa que eu queria esconder dele e de mim mesma. — Imaginei — eu murmurei para mim mesma e balancei a cabeça para o homem de pé diante de mim. — Vamos ver se entendi agora, Jet. Qualquer chance de que eu quisesse me casar com você voou para fora da janela a cerca de seis semanas atrás. Agora eu não consigo nem olhar para você. Eu não sei como você ainda é o presidente do MC. — Irritada até a alma, eu entrei no jipe e bati a porta. Liguei o motor, eu abri a janela para olhar para ele. — Acho que você deixou suas bolas na boca de Bubbles, querido. Melhor ir pegálas. ~*~ Eu ainda estava brava quando estacionei na minha garagem. Brava não começava a expressar o que eu estava sentindo naquele momento. Eu estava tão chateada que eu estava tremendo, mas estava magoada até o meu núcleo também. Jet finalmente rachou algo dentro de mim e eu sabia que se eu não parasse logo eu acabaria em uma pilha quebrada depois de tudo. Piscando para conter as lágrimas, peguei minha mochila do banco do passageiro e fui em direção a casa.

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A primeira coisa que deveria ter me alertado que algo estava errado era que Toby não estava latindo. Ele não estava me esperando na porta para pular em cima de mim e me dar beijos piegas. O cão enorme foi um presente de Jet no ano anterior, logo depois de nosso caso ter começado. Mas eu estava tão distraída com a dor no meu coração que vacilei, a bagunça que estava na minha cabeça não me fez perceber. Jogando minha mochila no sofá na sala de estar, eu sequei o resto das minhas lágrimas e fui para a cozinha. Uma dose de algo forte que me entorpecesse seria realmente bom, mas eu não podia por causa do bebê. Puxei uma garrafa de água da geladeira em vez da garrafa de tequila que minha mãe mantinha no congelador. Tomando minha água, fui pelo corredor até o meu quarto. Assim que eu abri a porta, eu percebi que eu deveria ter prestado mais atenção. Meu coração parou quando vi Toby deitado na minha cama, com fita adesiva mantendo sua boca fechada e as patas amarradas juntas. Ele soltou um gemido suave que esfaqueou meu coração de tão lamentável. Com sua respiração seguinte, ele lançou um rosnado vicioso, me alertando para o fato de que não estávamos sozinhos no quarto. Um riso frio que enviou calafrios na minha espinha veio da direção da minha janela e senti como se estivesse me movendo em câmera lenta quando virei minha cabeça e encontrei o olhar o mal de Westcliffe. — Olá, doce Felicity.

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Capítulo um

Felicity Dois anos depois Engoli em seco quando abri meus olhos e rapidamente olhei em volta. Minhas mãos onde sempre tendiam a estar quando eu acordava todas as manhãs, direto no meu estômago. Senti-lo plano fez meu coração doer, bem como a contusão contra minhas costelas. Lutando contra as lágrimas, eu tirei meu cabeço emaranhado do rosto e joguei minhas pernas para o lado da cama. Cabeça nas mãos, eu respirei fundo várias vezes para acalmar meu coração acelerado enquanto eu empurrava para trás os sonhos que eu tive mais uma vez. Eram os mesmo toda noite. O mesmo começo. O mesmo final trágico. Algumas noites eu não tinha certeza se era sonho, ou se eu estava deitada na cama com os olhos fechados, relembrando. O sonho era tão perto da realidade do meu passado que eu não podia ter certeza às vezes. De tão drenada como eu me sentia na maior parte do tempo, talvez eu não tivesse dormido afinal de contas. — Felicity? Ergui a cabeça e encontrei Nik Armstrong parado na porta estreita da área de dormir. Depois de encontra-lo lá, eu virei meu olhar para as outras duas camas em frente à minha. Mia não estava em sua cama e eu senti um tiro instantâneo de medo antes de ouvir sua pequena doce voz da frente do ônibus junto com os gorgolejos de seu irmão bebê. — Você está com fome? — Perguntou Nik em um tom calmo, como se soubesse do pesadelo repetindo na minha cabeça e estivesse experimentando a mesma coisa.

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Mia não estava em sua cama. Mia levada por uma mulher sem rosto como uma vingança contra a mãe. Mia com sangue que não era dela em suas roupas quando Emmie Armstrong entregou sua filha chorando para um pai agitado antes de correr para o hospital para verificar a mulher que salvou sua filha. — Não de verdade — eu murmurei e alcancei o elástico na pequena prateleira acima do meu travesseiro para que eu pudesse prender meu cabelo vermelho. Alimentos não tinham tido qualquer apelo nos últimos dias. Não desde que eu fui acordada por uma Natalie Stevenson batendo na porta do ônibus de turnê e descoberto que Mia escapou enquanto eu estava dormindo. A culpa estava me sufocando, e náuseas perturbavam o meu estômago. Ninguém disse nada, não com palavras ou até mesmo olhares culposos. Eles não precisavam, eu me culpava o suficiente por todos eles. Eu era a baba de Mia e seu irmão Jagger. Era meu trabalho cuidar deles, vigiá-los, amá-los e protegê-los quando seus pais estavam trabalhando. Eu não fiz um trabalho muito bom, ao que parece. Não ouvi Mia quando ela escapou do ônibus, mas eu deveria ter previsto isso. Após a manha que ela fez mais cedo naquela noite, querendo ver seu pai se apresentar no festival de rock que era uma das últimas escalas na turnê de verão do Demon’s Wings, eu deveria saber que ela não ia apenas dormir. A menina era doce e atrevida, mas também era muito teimosa. Eu não deveria ter caído no sono quando eu sabia que ela estava apenas deitada em sua cama, fingindo estar dormindo. Eu não deveria ter... — Que tal um café? — A voz de Nik me tirou dos meus pensamentos com um pequeno sorriso. Aquele sorriso era tudo o que ele conseguia reunir nos últimos dias. Com Emmie ainda no hospital e Mia ainda perdida no pesadelo de quase ser sequestrada, fiquei surpresa que Nik encontrasse vontade de sorrir para todos. O som de vozes profundas na frente do ônibus me avisou que os outros membros da Demon’s Wings chegaram, então eu assenti. — Irei em alguns minutos — eu assegurei quando me levantei e fui em direção ao banheiro pequeno.

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Poucos minutos depois, entrei na sala de estar / kitchenette do ônibus de turismo que chamamos de casa pelas ultimas quatorze semanas. O Demon’s Wings estava fazendo sua turnê nos EUA com a OtherWorld, e eu pude ver a maior parte do país em apenas algumas semanas. Foi divertido, mas agora eu estava pronta para levar as duas crianças que eu comecei a amar como minhas e me esconder na casa em Malibu. A pequena sala de estar estava cheia de homens enormes que fariam a calcinha de qualquer mulher derreter com apenas um sorriso. Três das esposas dos quatro homens estavam sentadas no sofá longo. Uma com o bebê Jagger em seu colo fazendo-o rir enquanto outra muito grávida esfregava círculos suaves em suas costas, segurando Mia perto dela. Três crianças estavam brincando com seus brinquedos na frente das três mulheres, cada uma delas parecendo alheia à tensão no ar. — Estou indo para o hospital — Jesse Thornton, o baterista da banda, anuncia enquanto engole um grande gole do café forte que o tornou meu herói por inventar. Sem aquele café eu seria um cadáver ambulante. — Ela pode pensar que precisa cuidar de tudo com Gabriella, mas ela precisava mais estar aqui. — Não reclame com ela — Layla Thornton aconselhou o marido. — Ela tem que estar alterada agora, e ter todos os quatro aparecendo só vai fazê-la se sentir encurralada. Eu sabia que eles estavam falando sobre Emmie. Ela ainda estava no hospital, cuidando da segurança, imprensa e todo o resto para Gabriella Moreitti, a mulher que arriscou a própria vida para salvar Mia. Depois de viver com Emmie e Nik por mais de um ano, eu sabia que Emmie provavelmente estava se culpando, e ela não queria enfrentar o que estava acontecendo do lado de fora do hospital. Eu sabia e entendia sua necessidade de fingir que estava tudo bem fora das portas do hospital. — Eu falo com ela primeiro — Drake Stevenson sugeriu. — Se eu conseguir fazê-la falar comigo. Emmie não respondeu a quaisquer ligações dos membros da banda. Eles lhe deram o espaço de que ela precisava, mas parecia que estavam cansados de vê-la se esconder.

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— Vou com você — Shane Stevenson ofereceu. — Ela não pode fugir de nós dois. Nik fez uma careta. — Você diz isso, mas todos nós sabemos que ela pode. — Seu olhar foi para sua filha, aninhada contra a barriga grávida de sua tia Lana. O olhar em seu rosto pouco pálido fez seu pai balançar a cabeça e se afastar da visão, quase em derrota. — Ok. Drake, você e Shane vão em frente. Jesse e eu seguimos em poucas horas. Eu quero ter certeza de que os homens de Seller estão do lado de fora dos ônibus. Drake e Shane beijaram suas esposas e Drake deu um beijo no topo da cabeça de Mia antes de pegar sua própria filha, Neveah, e dar-lhe um aperto. Ver os dois juntos fez algo estranho para o meu coração e eu tive que desviar o olhar do amor que eu vi brilhar nos olhos azuis-acinzentados de Drake. Com a sala de estar com menos dois roqueiros enormes, parecia um pouco mais espaçoso. Peguei uma grande caneca de café forte e me sentei em uma das cadeiras na sala de estar. Ninguém falou com exceção das três crianças que estavam no chão, tagarelando uns com os outros enquanto brincavam. Mia eventualmente saiu do colo de sua tia, queixando-se de sentir um chute no estômago muitas vezes. Os grandes olhos verdes tão parecidos com os de sua mãe pareciam assombrados quando ela atravessou o pequeno espaço e subiu no meu colo. Ela colocou os braços em volta do meu pescoço e deitou a cabeça no meu peito. — Você vai esfregar a minha cabeça? — Ela perguntou em voz baixa. Eu comecei imediatamente a acariciar meus dedos através de seu cabelo do jeito que sua mãe me mostrou que Mia gostava. Nós ficamos assim por mais tempo e eu tinha certeza de que ela estava começando a adormecer - algo que a menina de cinco anos de idade precisava mais do que qualquer coisa. Ela não tinha dormido mais do que algumas horas nos últimos dois dias, pobre bebê. Sua cabeça estalou acima do meu ombro, seus pequenos ombros tremeram, e eu sabia que o pequeno cochilo que ela tinha acabado de dar foi preenchido com pesadelos. — Papai? — Ela gritou e Nik estava do outro lado da sala, levantando sua filha em seus braços. Lágrimas correram pelo rosto

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enquanto ela se escondia em seu pescoço. — Eu quero Mamãe — ela soluçou. — Por favor, papai. Eu quero Mamãe. O tormento que eu vi no rosto de Nik me fez baixar os olhos, incapaz de suportar a visão de sua dor. — Ok, bonequinha. Ok. Papai vai buscá-la. Ele tentou acalmá-la por mais alguns minutos, mais para si mesmo do que para Mia, antes que ele saísse com Jesse. O choro de Mia não diminuiu depois que seu pai saiu, se alguma coisa ficou ainda pior, sacudindo seu corpo pequeno. Suas três tias tentaram fazer de tudo para acalmá-la, mas Mia precisava de sua mãe logo, mais do que qualquer outra pessoa do planeta. Incapaz de aguentar ouvi-la chorar, eu peguei Jagger, que tinha apenas algumas semanas passadas do seu primeiro aniversário, e o levei para o banheiro para dar-lhe um banho. Eu ainda podia ouvir Mia soluçando de trás da porta fechada do banheiro e deixei algumas lágrimas minhas caírem enquanto eu cuidava do menino que parecia tanto com seu pai.

Jet Max estava em um de seus humores esta manhã. Eu não podia culpar meu sobrinho, no entanto. Eu estava em um estado de espírito também. Era o tipo de humor que o café da manhã de sua mãe não podia curar. Sentei-me à mesa da cozinha ao lado da cadeira onde o bebê estava gritando, querendo sua mãe e somente sua mãe. Se o garoto me quisesse, eu já teria colocado-o no meu colo, e oferecido os ovos com os quais eu só estava brincando, porque eles tinham pouco apelo para mim. Hoje era o meu último dia em liberdade condicional. Hoje era o dia em que eu ia encontrar Flick e trazê-la para casa. Meu estômago revirou enquanto orava para que ela viesse de bom grado. Depois de chegar a lugar nenhum com sua chefe, eu não tinha ideia de como Flick reagiria ao me ver. Ela cobriu suas trilhas bem quando deixou Creswell Springs e foi um milagre tê-la encontrado. Vê-la por acaso em uma das estações de notícias nacionais foi um tiro longo de um em sessenta bilhões.

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Se eu não estivesse assistindo TV naquela noite, especificamente aquele canal de notícias, eu ainda não teria encontrado Flick. Isso só me deixava puto. Não encontrar Flick não era uma opção. Agora que eu sabia onde ela estava, e não conseguia nem fazer aquela patroa super vadia dela me deixar falar com ela ao telefone, cada dia que passou até o final da minha liberdade condicional foi um inferno. Eu só queria ouvir sua maldita voz por dois segundos, caramba. Dois. Malditos. Segundos. — Mamãe, eu posso ter panquecas? Virei a cabeça para ver Lexa tomar seu lugar habitual na mesa da cozinha. Ela limpou o sono para fora de seus olhos azuis antes de me dar um sorriso brilhante. — Oi, tio Jet. — Oi, criança. Raven colocou um prato de panquecas em cima da mesa na frente de sua enteada, agora sua filha adotiva. Escovando um beijo nos cabelos da menina, ela virou-se para o fogão onde ela continuou a cozinhar o café da manhã enorme que ela parecia fazer quase todas as manhãs nos dias de hoje. Raven cozinhava quando ela estava feliz, então eu estava feliz por pelo menos isso. Não melhorava o meu humor, embora. — Ele está com dores de dentição ou algo assim? — Hawk perguntou quando entrou na cozinha. Ele parou na frente do fogão e pegou um dos pratos que Raven já tinha posto. Carregado com ovos, bacon, panquecas e batatas, eu imaginei que ele voltaria para repetir se pudesse. — Ou alguma coisa — Bash murmurou quando ele entrou pela porta dos fundos que dava para a entrada de automóveis. — Ele é apenas um filhinho da mamãe. Não consegue suportar ela ter a atenção de qualquer outro homem além da dele. — Soa como filho de seu pai — disse Hawk com um sorriso enquanto jogava comida em sua boca. — Soa como seu tio, também — brincou Raven do fogão. Era bom vê-la em uma espécie de humor provocativo, mas eu não conseguia encontrar a vontade de sorrir naquela manhã. — Cale a boca, Rave.

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— Peça desculpas ou você não vai pegar mais batatas — minha irmã ameaçou, segurando a espátula até que ela deu um olhar trocista para Hawk. Hawk soltou uma respiração profunda através do nariz, fazendo suas narinas inflarem. — Desculpe — ele murmurou baixinho antes de voltar a comer. Bash, incapaz de ficar ouvindo seu filho gritar e chorar, inclinou-se para pegar o bebê. Max se calou instantaneamente, mas olhou para seu pai com olhos azuis molhados. — Qual é o seu problema, garoto? Você quer sua mãe? — Sua voz era calma, provocante. — Bem, isso é muito ruim, garoto. Ela é minha. Você ouviu isso? — O sorriso no rosto do filho da puta enorme estava cheio de orgulho por seu filho. Max não se importava se seu pai estava provocando ou não, ele apenas continuou a olhar para o motoqueiro que era mais besta do que homem. — Onde está Gracie? — Raven perguntou a Hawk e eu me perguntei a mesma coisa. Normalmente, a ruivinha estaria sentada ao lado de seu homem agora. — Ela estava repassando a correspondência de ontem. Disse que viria logo — Hawk franziu a testa em direção à porta aberta que dava para a sala de estar e escadas. — Baby? — Ele gritou, um olhar preocupado no rosto. Momentos depois, Gracie apareceu na porta, mas ela não estava com seu sorriso normalmente ensolarado. Seus olhos estavam na carta que suas mãos agarravam firmemente enquanto ela caminhava para a cozinha. O rosto dela estava pálido e seus olhos estavam arregalados com uma mistura de descrença, raiva e ... medo. O ar na sala parecia crepitar com a tensão quando Hawk viu a mesma coisa nos olhos de sua senhora. — O que há de errado? — Ele perguntou, ao lado dela tão rápido que você não teria acreditado que um homem do seu tamanho realmente pudesse se mover assim. Hawk segurou o rosto de Gracie em suas mãos grandes. — Gracie? Meus olhos estavam grudados na ruiva. Eu vi quando ela engoliu em seco e fechou os olhos com força, antes de entregar a Hawk os papéis em suas mãos. — Meu avô quer me ver. — Jack?

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— Não, do lado do meu pai. Ele e meu tio querem que eu volte para uma visita. Disseram que era importante. Negócios. — Ela abriu os olhos e balançou a cabeça, uma risada sem humor escapando dela. — Provavelmente é sobre o resto da minha herança. Hawk não parecia ouvi-la enquanto seus olhos percorriam as palavras no papel, agora com ele. — Eu enviei um e-mail para seus advogados há duas semanas, dizendo que eu não queria o dinheiro. Que eu não precisava. Eu até conversei com Jenkins sobre isso. Ele estava olhando as condições de minha herança, porque eu estava pensando em doar os fundos para um abrigo de mulheres no leste. Não há jeito, então eu apenas disse que não queria. — Espere — Raven disse, franzindo a testa. — Você não tem que se casar com alguém que eles aprovem antes de aceitar? — Sim, e já que eu preferia viver nas ruas do que casar com alguém que aqueles idiotas escolhessem, eu não queria. — Gracie fez uma careta. — Mas agora isso aparece, pedindo uma reunião em pessoa sobre o assunto. Eu não sei o que está acontecendo. Eu imaginei que eles só pegariam o dinheiro para si mesmos. — É muito dinheiro, Gracie — Bash lembrou. — Talvez eles precisam de você para assinar alguns papéis ou algo assim. — Eles podem fazer isso através de Jenkins. Não preciso vê-los para assinar papéis. Eu não quero vê-los. Nunca mais. Nenhum deles tentou ajudar minha mãe quando ela precisava de ajuda. Eles são todos iguais. Cada um deles é um idiota abusivo, lixo do colarinho branco. Eles não valem meu tempo. — A veemência na voz de Gracie foi o suficiente para me assegurar de que ela quis dizer cada palavra. Hawk amassou o papel na mão. — Você não terá que vê-los, querida. Eu prometo. Vou falar com Jenkins para cuidar disso, portanto não se preocupe. — Ele enfiou o papel amassado no bolso da frente e puxou Gracie perto, beijando-a longa e profundamente. A intensidade do seu beijo me fez pensar no que Hawk viu entre as linhas escritas naquela folha de papel. Ele beijou sua senhora como se talvez não pudesse ter a chance de novamente. Quando ele finalmente se afastou,

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Gracie estava corada e teria tropeçado para trás, se meu irmão não estivesse segurando-a tão perto. — Eu te amo — ele respirou calmamente, mas eu ainda ouvi. Eu apertei meu queixo e virei meu olhar de volta para os meus ovos. Essas três pequenas palavras, ditas com tal poder pelo meu irmão, pareciam a coisa mais fácil do mundo. Então por que diabos eu não consegui dizê-las quando eu mais precisava? — Puta merda. — Colt invadiu a cozinha. — Jet, entre aqui e veja isso. — Ele não esperou tempo suficiente para que eu perguntasse o que diabos estava acontecendo. Eu empurrei meu prato de ovos frios e segui atrás do meu irmão mais novo. Depois de já ter comido, Colt foi para a sala de estar com o seu café para assistir TV. A tela plana estava atualmente em um canal de notícias local, mas eles estavam falando sobre algo que era notícia aparentemente nacional. — Neste momento, Gabriella Moreitti está em condição estável, mas crítica. Sua gerente de estrada, Annabelle Cassidy, falou com a imprensa e comentou sobre a condição da roqueira italiana, e que seus amigos e familiares atualmente estão na sala de espera orando por sua recuperação. — É isso mesmo, Darcy. — A segunda âncora de notícias falou. — Se você acabou de se juntar a nós nesta manhã, a nossa história vem direto do norte da Califórnia, onde Gabriella Moreitti está lutando por sua vida depois de sofrer dois ferimentos de bala no peito. A roqueira estava aparentemente no lugar errado na hora errada ... Ou talvez diriam alguns, no lugar certo, exatamente no momento certo. Moreitti foi baleada enquanto tenta evitar o sequestro da filha do vocalista da Demon’s Wings, Nik Armstrong. A filha do Demon está segura nos braços de seu pai, mas eu só posso imaginar, como um pai, o que ele e sua esposa estão passando. Eu sabia que meus olhos estavam selvagens quando virei para Colt e ele realmente deu vários passos para trás de mim. — Essa é uma das crianças que Flick toma conta. — Sim, eu sei. É por isso que eu lhe disse para vir ver isto. — Colt acenou com a cabeça em direção à tela plana. — Lembra quando você viu Flick na notícia há alguns meses atrás? Quando algum fã psicopata destruiu o

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ônibus de Shane Stevenson e quase matou o cachorro? Aparentemente, a mesma coisa aconteceu de novo e desta vez eles ficaram por tempo suficiente para tentar pegar a criança. Aquela garota Moreitti a salvou, mas levou dois tiros no caminho. Gelo preencheu minhas veias. Flick esteve muito perto de algum louco por duas vezes agora. Ela esteve tão perto de se machucar ou pior. E se tivesse sido ela, e não aquela garota roqueira que levou o tiro? Eu arrastei minha mão sobre meu rosto apenas para perceber que minhas mãos tremiam e rapidamente fechei os punhos. A necessidade de perfurar algo passou por mim, mas eu cerrei meu maxilar e contive essa necessidade. Eu não poderia subir pelas paredes, ainda não. O idiota que era meu agente da condicional viria para sua visita de sempre. Ele viria com papeis dizendo que eu finalmente podia viajar para fora da cidade. Se ele aparecesse e a casa estivesse acabada, teria motivo para prolongar a porra da liberdade condicional. — Flick está com eles — Raven murmurou atrás de nós e eu me virei para ver que minha irmã tinha ficado muito pálida. — Flick está segura? — Ela levantou os olhos irritados e cheios de lágrimas para mim. — Você disse que ela estava a salvo. — Eu achei que estava — Eu assegurei a ela, mas temor estava enchendo meu estômago. Depois de ver o quão próxima Flick esteve de virar a porra de uma estatística, eu sabia que estava errado. Algum fã louco estava mirando um dos caras da Demon’s Wings e Flick estava bem no meio disso. — Alguém levou um tiro, Jet. Salvando a menina pela qual ela é responsável. Poderia ter sido ela. — O queixo de Raven tremeu e ela se virou. Bash a envolveu em seus braços. — Poderia ter sido ela — ela disse e, em seguida, soluçou contra o peito de seu marido. — Mas não foi, Rave. — Colt tentou assegurar. — Ela está bem. E Jet vai buscá-la hoje à noite. Certo? — Ele praticamente rosnou para mim. Eu não hesitei, odiando os sons quebrados vindos de minha irmã tanto quanto ele. — Certo. Vou trazê-la para casa, Raven. Eu juro. Mesmo se eu tivesse que jogá-la por cima do meu ombro e amarrá-la na minha moto, eu a traria para casa.

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Capítulo Dois

Emmie Minha cabeça latejava. Uma mistura de falta de sono, um estresse que já teria matado um ser humano normal a essa altura, e a alternância entre tentar não chorar e sentir raiva de mim mesma e do mundo, estava fazendo minha cabeça doer de uma forma que nunca doeu antes. Fiquei contente pela distração constante do meu telefone, no entanto. Ele tirou minha mente do que estava esperando por mim no ônibus da turnê, na maior parte do tempo pelo menos. Eu era um covarde de merda. Me esconder atrás de cuidar de toda a merda que precisava da minha atenção no hospital quando eu deveria estar agarrada a Mia foi definitivamente o caminho dos covardes. Eu não tinha que estar aqui. Gabriella não era minha cliente, era de Annabelle Cassidy, e Annabelle mais do que sabia o que diabos ela estava fazendo. Mas a garota que eu apelidei de Cadela Troll, a mulher a quem eu odiava quase desde o momento em que a conheci, arriscou sua vida salvando a da minha filha. Eu devia a ela muito mais do que apenas cuidar da polícia e agentes federais, para não mencionar as hordas de paparazzi e fãs que tentavam entrar no hospital. Se Gabriella abrisse os olhos amanhã e me pedisse para tomar o seu lugar, eu o faria. Eu estaria disposta a dar a minha vida por ela agora. Como é que um pai paga alguém por salvar seu bebê? Eu entregaria cada centavo na minha conta bancária. Dedicaria minha vida para ficar à suas ordens. Porra, eu cairia de joelhos e beijaria seus pés, se ela quisesse. Eu seriamente esperava que não, mas eu faria se era isso que ela pedisse.

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Por enquanto, porém, tudo que eu queria era que Gabriella abrisse os olhos. Que ela vivesse para que eu pudesse dizer 'obrigado'. A sala de espera estava lotada. A maioria dos membros da OtherWorld estavam lá para apoiar Liam enquanto esperávamos que os médicos falassem algo. Até agora, ela estava estável, mas ainda em estado crítico. Drake e Shane haviam chegado a mais de uma hora atrás, mas eu estive tão ocupada que não fui lidar com eles. Não é que eu estivesse ignorando-os... Sim, tudo bem. Então, eu estava ignorando-os. Eu sabia por que estavam ali e não tinha nada a ver com Gabriella Moreitti. Vi a preocupação nos olhos azul-acinzentados dos meus dois irmãos substitutos. Eles estavam lá por mim, e eu sabia que no segundo que falarem uma palavra para mim, eu perderia o pouco de controle que ainda resta das minhas emoções. Não reconheci a mulher que eu era naquele momento. Eu estava fugindo de medo da minha filha, que precisava demais de mim, e eu falhei com ela. Eu sempre soube que não seria a melhor mãe, e esse pesadelo só reforçou isso por mim. Isso era tudo culpa minha. Eu deixei isso acontecer. Tudo o que ela queria era ver seu pai cantar sua música favorita. Isso era tudo. Uma. Porra. De. Música. E eu a fiz ir para a cama antes de sair para lidar com toda a porcaria que eu tinha que lidar em todo show da Demon’s Wings. Eu sabia o quão teimosa minha filha era. Mia era tão parecida comigo em tantos sentidos, que eu deveria ter antecipado sua fuga do ônibus. O que eu não esperava era uma cadela louca destruir o ônibus de Shane. Achei que foi uma coisa de uma vez só no início da turnê de verão. Aumentei a segurança apenas por precaução, mas eu sinceramente pensei que não aconteceria novamente. E então aconteceu, e aquela mesma cadela psicótica tentou levar o meu bebê de mim. Eu estava quebrando a cabeça, tentando descobrir quem teria uma vingança contra não apenas Harper por se casar com Shane... mas contra mim também. A verdade era que podia ser qualquer mulher. Antes de Harper aparecer, Shane transava com qualquer coisa com uma buceta. Era sempre eu quem tinha que se livrar das sobras, então eu entendia por que me odiariam. Eu nunca fui gentil, ponto, especialmente quando se tratava de me livrar das vadias que atraiam os rapazes.

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Quem quer que estava fazendo isso para Shane e Harper estava tornando obvio que estava se vingando de mim também. Eu não me importava onde a cadela estava, ou mesmo se ela tinha problemas mentais. Assim que eu a encontrasse, iria matá-la com minhas próprias mãos. Suspirando, tirei alguns fios de cabelo ruivo para fora do meu rosto e virei para voltar para a sala de espera. Eu não dormia há dias. Todo o meu corpo doía do stress que mantinha meus ombros tensos. Eu mal tinha comido e meu estômago estava fazendo o seu desconforto ser sentido, mas eu ignorei quando abri a porta. Eu precisava falar com Annabelle sobre as últimas notícias dos policiais e ... Eu sabia que ele estava na sala assim que passei pela porta. Mesmo depois de todo esse tempo, eu ainda podia sentir sempre que Nik estava na mesma sala. Meu estômago deu um nó e eu tentei não encontrar o olhar do meu marido, mas era como se ele me colocasse um feitiço e eu me encontrei presa em seu olhar azul-gelo. Lágrimas queimaram o fundo dos meus olhos e minha garganta fechou com um caroço que praticamente cortava a minha capacidade de respirar. Ele me odeia. Eu sei que ele me odeia. Eu me odeio, então ele deve me odiar também. Meu instinto de fuga tomou conta e eu comecei a voltar para porta. Um milhão de coisas ainda precisavam da minha atenção. Gostaria apenas de ir lidar com elas. Eu iria… Mãos fortes me pegaram pela cintura e ele me obrigou a encará-lo. Olhei em seus olhos. Ver lágrimas e tormento naqueles olhos azul-gelo que eu tanto amava só intensificou minha própria dor. — Emmie — ele disse com uma voz rouca. — Está tudo bem, Em. Ela está bem. Eu sabia que ele estava tentando me tranquilizar, mas nada poderia ser feito isso naquele momento. — P-por que você está aqui? — Perguntei, tentando ficar com raiva dele. Mas eu não podia. Não era culpa dele. Era minha. Toda minha. — Você deveria estar com Mia e Jagger. Eles precisam de você. — Layla e Felicity estão cuidando deles e eu deixei os ônibus cercados com os homens de Seller. É você quem precisa de mim agora, Em.

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Eu balancei minha cabeça. Eu não precisava de ninguém naquele momento. Será que ele não entende que eu machuco tudo o que toco? Que não importa o quanto eu tentasse, eu sempre acabava arruinando tudo? Por que ele não conseguia entender isso? Era só uma questão de tempo antes de eu destruir ele e nossos filhos. Suas mãos se moveram para os meus braços e Nik me balançou suavemente. — Sim, você precisa. Está tudo bem. Eu juro para você, está tudo bem. O soluço que eu estava segurando desde que encontrei Mia finalmente escapou. — Não — eu chorei. — Não está tudo bem. Nós quase a perdemos por minha culpa, Nik. E-Ela só queria ver você. Se eu tivesse aceitado, se eu tivesse deixado ela vir com a gente, então nada disso teria acontecido. Nosso bebê estaria seguro com a gente e alguma vadia não teria tentado tirá-la de mim. Seus braços me enlaçam novamente, me fazendo sentir de um jeito que eu não sentia há dias. Segura. Eu estava segura em seus braços. Nada poderia me machucar quando Nik me segurava assim. Eu não merecia sentir esse tipo de felicidade, não quando quase deixei nosso bebê ser sequestrado. Nik segurou a parte de trás da minha cabeça com a mão quando eu teria me afastado, me embalando contra seu peito, e eu não pude conter os soluços que vieram mais rápido e mais forte. — Não foi culpa sua, Em. Nada disso é culpa sua, menina. Fechei os olhos com força, tentando bloquear o mundo. — Você deve me odiar — eu sussurrei entrecortada contra ele. — Eu me odeio, Nik. Eu me odeio. — Não, menina. Não. Eu nunca poderia odiá-la. Não há nada para odiar. Você não fez nada de errado. — Senti seus lábios contra minha testa e comecei a tremer incontrolavelmente. — Mia está segura, ela está segura, mas precisa de você. Ela acha que você está brava com ela. Por favor, querida. Volte para o ônibus comigo e fale com ela. Aquelas palavras foram como um punhal no meu coração. Ah, porra. Mia, eu sinto muito. Desculpe. Eu estava escondida de todos, mas principalmente de mim mesma. Na minha covardia, eu machuquei Mia ainda

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mais do que provavelmente ela já estava. Eu não podia deixar minha menina preciosa pensar que eu estava brava com ela. Nada disso foi culpa dela. Nada disso. Ela só teve a infelicidade de nascer de mim, uma mulher que era horrível como mãe e era odiada por metade do mundo por ser uma das maiores cadelas que já andou pelo planeta. Isso era tudo sobre mim. Eu não podia deixá-la pensar isso por nem mais um segundo. Eu precisava segurá-la, balançá-la em meus braços e dizer a ela o quanto eu a amava. Ela pode não ter ganhado na loteria tendo uma mãe como eu, mas eu com certeza ganhei algo incrível o dia em que os médicos a colocaram em meus braços. Engolindo mais um soluço, eu levantei minha cabeça e balancei a cabeça. — O-Ok — eu murmurei e vi o alivio inundar o rosto de Nik. Ele me deu um sorriso triste e uniu nossos dedos quando me puxou para fora da sala. Drake, Shane, e Jesse nos seguiram para fora e para o elevador. Nenhum deles falou uma palavra quando chegamos no térreo. Eu podia sentir a tensão de todos os quatro dos meus homens, mas pela primeira vez eu não podia fazer nada para ajudar a aliviar suas mentes. Eu era inútil naquele momento. Para eles. Para Mia. Para mim mesma. A viagem de volta para o ônibus foi curta e tranquila. Eu segurei a mão de Nik como a salvação que era para mim. O polegar esfregou pequenos círculos na parte de trás da minha mão e normalmente teria me acalmado, mas não hoje. Talvez nunca mais. Eu não conseguia entender como ele não podia me odiar quando eu estava cheia de ódio por mim mesma. Como ele poderia me amar depois que eu coloquei nossa filha em risco? Como? Eu queria gritar a pergunta para ele, mas estava com muito medo de sua resposta. Talvez ele não me amasse mais depois disso, e eu sabia que teria merecido, mas eu estava desesperada para segurá-lo. Se eu não perguntasse, então eu poderia viver em ignorância abençoada. Chegando nos ônibus, eu levei o meu tempo para sair da parte de trás da SUV que um dos homens de Seller dirigiu. Os quatro grandes homens ficaram esperando por mim quando desci, bloqueando o meu caminho para o

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ônibus que eu chamei de casa o verão todo. Eu mantive meu olhar baixo, sem força para olhar qualquer um deles nos olhos e ver o ódio que eu sabia que devia estar lá. Quando eu tentei mover Jesse, ele segurou meu braço e o apertou o suficiente para me deixar saber que ele estava lá. Eu nunca tive um pai antes, mas se alguém alguma vez foi uma figura paterna na minha vida, esse alguém era Jesse Thornton. Ele me amou como dele desde que eu tinha cinco anos. Senti o calor de Nik nas minhas costas e vi Shane e Drake chegando, um de cada lado meu. Todos eles estavam se agrupando em mim de repente. Jesse ergueu a mão livre e segurou meu queixo, levantando minha cabeça e me forçando a olhá-lo nos olhos. — Eu posso ver as rodas girando nessa sua linda cabecinha, Em. Escute. Não foi culpa sua. Não sua, nem de Mia ou de Shane. A única culpa é sobre a puta que fez isso com a gente. E ela fez isso para todos nós, querida. Somos uma família e isso significa que todos estamos juntos, não importa o quê. — Seus olhos eram de um preto meianoite, e eu sabia que sua dor combinava com a minha e que todos eles estavam sentindo a mesma coisa que eu. Violados. Assustados. Puta chateados. — Eu te amo, Emmie. Nós todos te amamos. Não se esqueça disso, está me ouvindo? Não se esqueça disso. Nada que você faça vai mudar isso. Nada. Eu juro. — Eu não vejo como — eu disse a ele com a voz embargada. Minha garganta doía de todas as lágrimas que eu já chorei e as milhares ainda entupidas. — Como pode você, qualquer um de vocês, ainda me amar depois de tudo isso? Os braços de Nik abraçaram minha cintura por trás e ele beijou meu pescoço. — Como não podemos? — Ele murmurou baixinho contra a minha pele. — Eu amo você, menina. Jesse está certo. Nada disso foi culpa sua. — Ele levantou a cabeça e olhou para Shane, que estava com mandíbula tão apertada que eu me preocupei que ele ia quebrar alguma coisa. Instintivamente, eu ofereci minha mão e depois de apenas uma pequena hesitação, ele pegou. Seus dedos estavam congelando, assim como os meus. — Ninguém culpa você, Shane. — Emmie? — A voz de Shane era tão áspera quanto a dor brilhando para mim naqueles olhos azul-acinzentados, cortava algo profundo dentro do

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meu coração. Apertei o meu domínio sobre ele. — Você me culpa? Você me odeia? — N-não — eu fui rápida para assegurar. — Por que eu iria culpá-lo? — Porque quem fez isso veio atrás de mim. Fui eu quem atrai essa maluca para nossas vidas. Se não fosse por mim, Ranger não teria quase morrido todas aquelas semanas atrás, e Gabriella não estaria lutando por sua vida agora. Eu sou o culpado por tudo isso, Em. Eu. Não você. — Ele estava chorando abertamente agora e eu sai dos braços de Nik para abraçar o baixista. Shane me puxou para mais perto, enterrando o rosto no meu cabelo enquanto chorava. — Me desculpe, Em. Eu sinto tanto. — Não é culpa sua — eu assegurei. — Não é. Jesse está certo. A única a quem devemos culpar é a idiota tentando nos destruir. Contanto que fiquemos fortes e mostremos ao mundo que ela não nos rachou, ela não tem poder sobre nós. — Eu não acredito em uma palavra que estava saindo da minha boca naquele momento, porque eu com certeza acreditava que eu era culpada por toda essa merda, mas eu precisava confortá-lo. Eu precisava que ele soubesse que eu não o culpava por nada. Suas mãos apertaram quase dolorosamente em volta de mim. — Em ... — Cara, cala a boca — Drake resmungou para seu irmão quando nos abraçou. — Chega de todo mundo se culpando. Passado é passado, e é aí que eu quero colocar essa porra de semana. No passado. Porque se não o fizermos, eu vou pegar uma garrafa e começar a destruição. Eu não sabia se Drake estava brincando ou não, mas não queria arriscar. Eu não queria ser a causa de ele sair dos trilhos quando estava indo tão bem ao longo dos últimos anos. Minha mão encontrou sua camisa e eu agarrei-o em um punho, segurando-o quase tão desesperadamente quanto Shane. — Dray... — Ouça o cara, Em — Jesse ordenou, entrando no abraço em grupo. — Os dois. — Você não é grande demais para ser espancada, baby — Nik brincou suavemente quando o senti imprensar contra as minhas costas, seus braços fortes envolvendo a mim e a seus irmãos de banda.

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Minha boca estalou fechada e eu descansei minha cabeça no peito de Shane quando todos me abraçaram de uma vez, me oferecendo a força e coragem que eu precisava para enfrentar o que mais poderia vir voando em nossa direção. Sentindo um amor assim, era difícil continuar me odiando. Talvez eles estivessem certos. Talvez eu não devesse continuar culpando a mim mesma. Não fazia a dor e raiva dos últimos dias diminuírem, mas aliviou o estrangulamento que esteve em meu coração. Eu afundei em seu abraço e deixei cair mais algumas lágrimas, mas estas foram mais de alívio do que qualquer outra coisa. Foi como uma cura e quando os caras começaram a se afastar alguns minutos mais tarde, eu senti como se eu realmente pudesse respirar pela primeira vez em dias. Nik me virou em seus braços. — Eu amo você, menina. — Eu-eu também te amo, Nik. Sua mão apertou a minha e ele me puxou em direção ao nosso ônibus. — Vamos ver as crianças. Mia ficará contente em ver você. Eu balancei a cabeça e tentei dar-lhe um sorriso, mas eu sabia que ficou aquém. Seu aperto na minha mão era tranquilizador e nós caminhamos em direção ao ônibus que estava cercado por homens grandes e assustadores de ternos. Seller sequer estava me cobrando sua taxa usual para todos os homens extras. Ele estava chateado por isso ter acontecido em seu turno e foi supervisionar pessoalmente a segurança extra. Os dois homens que estavam perto da porta recuaram e Nik me puxou para o ônibus com Drake, Shane, e Jesse logo atrás de mim. Luca, Lyric e Neveah estavam brincando no meio do chão da sala. Harper, Lana, e Layla estavam sentados no sofá e estavam olhando para os bebês com amor. Jagger deve estar tirando uma soneca, porque ele não estava na sala. O meu olhar foi direto para Felicity, que estava na cadeira do outro lado da sala. Em seus braços estava a minha menina e ela estava chorando baixinho enquanto sua babá suavemente acariciava os dedos pelos longos cabelos ruivos de Mia. Eu não desperdicei mais um segundo enquanto eu atravessava a pequena distância e suavemente tocava as costas de Mia. Ela levantou a

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cabeça que estava enfiada no pescoço de Felicity. Seu rosto coberto de lágrimas brilhou ligeiramente quando percebeu que era eu. — Mamãe — ela chorou em uma voz rouca de lágrimas. — Mamãe, eu sinto muito. Meu queixo começou a tremer, mas fechei antes de acontecer. Mia não precisa ver minhas lágrimas. Elas só a fariam se sentir pior. — Você não tem nada que se desculpar, Mia. Tudo o que importa agora é que você está bem. Você está segura, baby. Ninguém nunca vai tentar machucá-la de novo. Eu juro. Alívio tomou conta de seu rosto e eu tentei sorrir para ela. Mia sempre confiou em mim de todo o coração. Se eu disser a ela que o céu é verde e a grama azul, ela aceitaria como verdade. Eu assegurar que ela estava salva era o que a minha menina assustada precisava mais do que qualquer coisa. Eu levantei-a em meus braços. — Vamos deitar, baby. Mamãe quer segurar você. Eu não olhei para qualquer outra pessoa na sala quando segui pelo corredor estreito para o quarto na parte de trás do ônibus. Sentei Mia na beira da cama e ela fugiu para o meio para que eu pudesse subir com ela. Eu tirei seus sapatos e puxei as cobertas antes de me deitar com ela. Enfiando as cobertas em torno de nós, eu envolvi Mia em meus braços. Sua cabeça ruivo descansou no meu peito, em vez de nos travesseiros, e eu respirei seu pequeno aroma limpo de menina enquanto deixei a paz de segurá-la me relaxar o suficiente para que meus olhos também se fechassem.

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Capítulo Três

Felicity O ônibus finalmente estava quieto. Todo mundo voltou para seus próprios ônibus horas atrás e Nik foi para a cama não muito tempo depois. Emmie e Mia ainda estavam dormindo nove horas depois, mas eu sabia que precisavam de descanso. Depois de dar a mamadeira noturna de Jagger, o coloquei para dormir e fechei a porta da área de dormir, ou como Emmie chamava, os abrigos. Eu estava exausta, mas não acho que conseguiria dormir. Suspirando, cai sobre o sofá na sala de estar antes de puxar o pequeno celular barato do meu bolso. Tracei meus dedos sobre os números que eu sabia de cor. A necessidade de ligar para casa e apenas ouvir a voz de Raven era esmagadora. Eu não falava com minha melhor amiga há mais de um ano, mas naquele momento eu precisava dela mais do que eu jamais precisei. Balançando a cabeça, eu joguei o telefone descartável para a extremidade oposta do sofá e me sentei, franzindo a testa para a televisão pendurada na parede sem realmente vê-la. Nik foi o último a assistir, mudando entre as notícias locais e nacionais antes de finalmente deixar em um jogo de beisebol na ESPN. O jogo já tinha acabado, mas os destaques do jogo estavam sendo repetidos. Eu não gostava muito de beisebol, mas não ligava para o que estava passando. Não era como se eu realmente estivesse assistindo. Amaldiçoando sob a minha respiração, peguei o telefone estúpido de novo e soquei de verdade os números antes de deletá-los novamente. Lágrimas queimaram minha garganta e cegaram meus olhos por alguns minutos antes que eu pudesse me controlar. Eu me perguntava como Raven estava indo. Ela

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estava de volta com Bash? Ela resolveu ser uma mãe para a menina dele? Ela sente a minha falta tanto quanto eu sinto dela? Jet voltou para casa? Essa última questão sussurrou pela parte de trás da minha cabeça e eu me encolhi com o pensamento do homem que ainda estava no meu coração com tanta força. Eu não me deixava pensar sobre ele muitas vezes ou assim eu continuei mentindo para mim mesma. Pensava nele uma centena de vezes diferentes por dia, eu apenas fingia que não. A culpa do que eu pedi a ele ainda agitava meu estômago. Eu sabia exatamente o que pedir aquele favor significaria se não desse certo, ele ficaria preso pelo resto da vida. Eu me preocupei com ele se machucar no processo, ou me odiar por pedir isso a ele, ou quanto custaria para ele ficar preso pelo resto da vida. O que custaria para Raven e sua família. Mesmo com a culpa me comendo, eu ainda não ousei ligar para Hawk para saber como foi. Fui muito covarde para ligar novamente. Só ouvir a voz do meu amigo na vez em que eu liguei causou uma dor dentro do meu peito que ainda não desapareceu completamente. A única razão por eu saber que Jet fez o que eu pedi, e conseguiu sem ser pego, foi através do cara da segurança de Emmie, Seller. Ele manteve um olho nele a pedido da chefe. Foi ele quem ligou para Emmie e disse que Vince Grady foi morto em uma briga na prisão. Que ele atacou um cara e foi morto em legítima defesa. Emmie ficou tão atordoada que eu acabei confessando a ela o que eu tinha feito. — Eu pedi um favor — eu disse a ela quando me sentei em uma das cadeiras em frente a sua mesa. Ela usava a de hóspedes como seu escritório para que não tivesse que levar clientes para dentro, em volta das crianças. Mia estava na escola e Jagger estava tirando sua soneca da tarde, mas eu levei o monitor do bebê comigo no caso de ele acordar cedo. Emmie fez uma careta para mim. — Um favor? Acenei a cabeça, encontrando seu olhar verde. — Eu não podia suportar a maneira como você e Lucy estavam tão assustadas o tempo todo, Emmie. Me desculpe se eu ultrapassei os limites, mas comecei a pensar em você e sua

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família como a minha própria. Havia algo que eu podia fazer, então eu fiz. Eu transformei Grady em um alvo. Minha chefe piscou para mim por um minuto inteiro antes de lágrimas encherem seus olhos. — Felicity... — Por favor, não ache menos de mim por fazer isso — eu implorei rapidamente. — Ou conte a alguém. Eu não estou preocupada com o que iria acontecer comigo, mas o cara que fez isso... é especial para mim. Eu não quero que isso exploda nas costas dele. — Felicity, eu nunca teria pedido isso de você, mas... obrigado — ela sussurrou. — Obrigado. Eu acabei lhe dando um pequeno sorriso triste. — Talvez você possa dormir um pouco melhor a noite agora. — Talvez — ela olhou para fora da janela do escritório, mas eu duvidava que ela realmente viu algo da bela paisagem. Lágrimas picavam meus olhos quando eu levantei. Eu deixei ela e sua estranha família entrarem em meu coração muito rapidamente. Perguntei sobre Jet na próxima vez que vi Seller. Ele deve saber sobre o cara que brigou com Grady. Ele poderia me dizer se Jet teve problemas após matar aquele homem vil. — Tanto quanto eu sei, foi decidido como autodefesa, senhorita Bolton. Creio que o Sr. Hannigan será solto em algumas semanas. Isso era para ser no final do verão passado. Eu tinha a data marcada no meu calendário no meu quarto na casa da minha mãe. Eu estava contando os dias até Jet ser solto. Depois que comecei a trabalhar para Emmie, eu ainda contava os dias, dizendo a mim mesma quantas noites de sono ainda faltava para Jet estar em casa com sua família. Eu não me iludo que ele poderia vir me procurar quando saísse. Eu sabia que ele estava feliz por se livrar de mim. Eu só fui a melhor amiga de sua irmã que o amou tão obsessivamente que arruinou sua vida. Ele provavelmente estaria fundo em Bubbles ou alguma das outras ovelhas. O ciúme me cortou como uma lâmina através da carne. Pegando o telefone, eu sai do ônibus. Ignorei os grandes homens de pé pela porta da frente e os outros estacionados ao redor do perímetro do ônibus. Eu precisava

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limpar minha cabeça, andar no ar da noite e talvez até mesmo derramar algumas lágrimas, sem o medo de alguém vê-las. Enquanto eu caminhava por todos os outros ônibus em direção à rua escura, eu segurava o celular contra o meu peito. Era a minha última tábua de salvação para minha antiga vida, da qual eu sentia mais e mais falta a cada dia que passava. Mas era uma vida da qual eu não podia voltar. Não agora. Aquela vida sugaria o resto do meu espirito – inferno, a minha vontade de viver. Eu era necessária aqui com Emmie e sua família. Era bom ser necessária para variar. Deus sabia que eu nunca fui necessária antes. Minha mãe não precisou de mim, e sequer me quis. Eu não sabia porque ela não fez um aborto para se livrar do “problema” em primeiro lugar. Eu precisava de Raven, mas não acho que ela precisava de mim. Talvez um pouco, mas não o suficiente. Jet não precisava de mim, isso era certo. Durante alguns meses, uma vida pouco impotente precisou de mim, mas Westcliffe destruiu as minhas chances de segurar aquele precioso bebezinho. Pelo que os médicos me disseram na noite em que eu perdi meu bebê, eu nunca mais poderia engravidar. Ele foi além de dar uma surra, depois de tudo. Westcliffe me deixou viva, mas ele tomou a minha vontade de viver quando matou o bebê que vinha crescendo dentro de mim, tirando a minha última conexão com o homem que eu amei e, estupidamente, ainda amava. A família de Emmie me deu de volta a vontade que eu precisava para continuar. Encontrei um propósito com eles. Eu me encontrei novamente, e realmente gostei do que eu era quando estava com eles. Eu ainda sentia saudades de todos, entretanto. Não da vida, mas das pessoas. Eu até sentia falta de minha mãe. Parando sob um poste de rua, eu olhei para o meu celular descartável. Eu pegava um novo a cada poucas semanas, usando dinheiro em vez de cartão de crédito. As conexões do clube eram muitas e eu não arriscaria que me encontrassem. Eu nunca usei o celular, entretanto, mas não podia deixar de querer – precisar – daquela conexão com eles. Meu polegar socou o número da casa de Raven e depois pairou sobre o botão de chamada. Eu não deveria, era muito arriscado, especialmente tão

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perto de Creswell Springs, que ficava a apenas cerca de duas horas de carro de onde estamos. Eu sabia que a saudade bateria e eu ia querer ir para casa. Eu ficava tentando me lembrar que não era mais casa. Não mais. Então, qual é o mal em ligar para ela? Cerrando os olhos fechados, eu me inclinei para trás contra o poste de luz. — Foda-se — eu gemi e deixei meu polegar tocar o botão que eu estava lutando comigo mesma para não bater a noite toda. O telefone tocou três vezes na outra extremidade antes que alguém respondesse. — Olá? — Uma voz feminina pouco familiar respondeu, mas não era a que eu queria ouvir. — Raven está em casa? — Eu murmurei, me perguntando por que Gracie ainda estava na casa dos Hannigans. Ela já não deveria ter encontrado seu próprio lugar? — Ela está colocando o bebê na cama. Quer deixar recado? Peço para ela ligar para você de volta assim que puder — prometeu. Bebê? Que bebê? — Hum... não. Eu-eu ligo para ela depois. — Antes de a outra mulher poder dizer outra palavra, eu desconectei e deixei a mão segurando o telefone cair ao meu lado. Raven teve um bebê? Minha melhor amiga era uma mãe agora? — Não é seguro aqui fora, Flick. Eu balancei com o som desse nome falado com aquela voz, e deixei cair o celular. Eu ouvi a coisa barata cair, mas não me importei. Minha cabeça se levantou em direção de onde a voz veio e eu vi sua silhueta na escuridão a apenas três metros de distância. Meu coração estava na minha garganta, tanto pelo susto quanto pela emoção de ouvir uma voz que eu pensei que não ouviria nunca mais. Enquanto eu olhava, Jet adiantou-se e eu tive que engolir o ar de repente. Santo inferno. Era eu, ou ele ficou ainda maior? Jet nunca foi um homem pequeno. Seus ombros sempre foram grandes e musculosos desde que eu conseguia me lembrar, mas agora aqueles ombros pareciam duas vezes mais largos. Seus músculos pareciam amontoar-se em cima um do outro,

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fazendo com que sua camiseta parecesse apertada, como se fosse rasgar se ele respirasse da forma errada. Ele não estava usando seu colete e o jeans que ele usava caia deliciosamente baixo em seus quadris. As botas nos pés eram as mesmas que eu me lembrava muito bem, no entanto. As favoritas dele. Meus olhos dispararam de volta até seu rosto, notando a ligeira palidez de sua pele geralmente bronzeada. — Há um lunático por aí e você está aqui sozinha? — Ele virou para mim. — Você está tentando se machucar, mulher? Levei um momento para encontrar a minha voz. — C-Como é que você sabe sobre isso? — Eu estava sonhando. Essa era a única explicação que eu pude pensar. Eu estava tão desesperada para ouvir uma voz familiar que estava sonhando. Não tinha como Jet aparecer lá tão preocupado comigo, não de verdade. Certo? — Todos no planeta sabem sobre isso, Flick. Está nos noticiários. — Ele deu um passo mais perto e vi o fogo em seus olhos verde-oliva. De tão perto, eu podia sentir o cheiro da mistura de aromas que eu sempre associei a Jet Hannigan. Era cheio de cítricos e especiarias e por alguma razão a combinação sempre foi direto para minha cabeça mais rápido do que um tiro de um bom uísque irlandês. — Você não deveria estar aqui sozinha. — Eu não estou sozinha — eu lembrei com uma voz que não possuía a força que eu sabia que eu precisava quando se tratava deste homem. Sonho ou não – inferno, eu ainda não sabia – eu precisava ser forte sobre Jet. — Estou com você. Ele balançou a cabeça, fazendo seu cabelo loiro cair na testa. — E se eu fosse o filho da puta que está aterrorizando sua chefe? Huh? Quem quer que seja não se importa em atirar em alguém, Flick. Você quer ser a próxima vítima? Pela primeira vez em dias que eu não pensei na mulher que virou a vida de minha nova família de cabeça para baixo. Eu não estava com medo de enfrentar essa cadela. Eu quase adorava a ideia de encará-la. Eu mostraria a ela o que era estar com medo de alguém. Uma garota não crescia com Raven

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Hannigan sem saber como revidar. Eu mostraria um soco de direita e várias outras coisas que eu cresci sabendo que um MC faria. Ignorando as perguntas de Jet, eu fiz algumas minhas. — Como está Raven? Hawk? Seus olhos se estreitaram para pequenas fendas, à menção do nome de seu irmão. — Hawk tem uma senhora agora. Gracie Morgan. Raven casou e tem um filho. Ela o chamou de Max. Felicidade por minha melhor amiga encheu meu peito. Raven estava casada e tinha um menino. Eu podia imaginar Raven com seu filho, e a vontade de vê-la cresceu até que meu coração realmente doía com a necessidade. — Estou feliz por ela. — Bem, ela não está feliz com você agora. Ela quase tem chorado todos os dias desde que viu a notícia. Estou sob ordens restritas para não voltar para casa sem você. — Ele cruzou os braços sobre o peito largo, fazendo a camisa apertar muito mais sobre os novos músculos. Eu ri, imaginando que eu realmente estava sonhando. Não tinha como no inferno eu voltar para casa com ele. Assim como não havia como no inferno que seria Jet a me levar lá.

Jet Como era possível ela ter ficado ainda mais bonita do que eu me lembrava? Ela não estava tão magra como esteve quando foi me ver em San Quentin para dizer que ia embora, mas também não estava tão voluptuosa como quando estávamos juntos. Estava no perfeito local no meio, com todas suas curvas arredondadas em uma figura de ampulheta que fez o meu corpo doer com uma necessidade que ninguém além dessa mulher podia aliviar. Seu cabelo estava mais curto agora e tingido de uma cor cereja vermelho vibrante que conferia um blush natural em suas bochechas. Foi por causa do cabelo que me levou um momento para reconhecê-la quando a vi no noticiário

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semanas atrás, mas só um momento. Eu conseguia achar minha Flick a um quilometro de distância. Graças à cobertura de notícias do que estava acontecendo com sua chefe, eu não tive que ir à procura dela. Assim que o meu agente da condicional deixou minha casa mais cedo naquela noite, eu fui até a minha moto e segui em linha reta até chegar aqui. O idiota demorou – e eu já tinha perdido a paciência quando ele saiu, mas agora que eu tinha meus olhos sobre a única pessoa que eu estava louco para ver a tanto tempo, toda a irritação rapidamente desapareceu. Mas foi apenas para ser substituída por uma nova frustração. Ela não se preocupa com sua própria segurança? Ela estava fora em uma rua deserta escura a vários quarteirões de distância do ônibus da turnê onde eu sabia que ela ficava. Não havia vista de qualquer um dos muitos guardas que eu estive observando pela última hora ou mais, tentando descobrir como diabos eu ia entrar naquela porra de ônibus para ver Flick sem causar uma merda de tempestade que eu particularmente não queria provocar. Então Flick apenas saiu do ônibus e começou a andar. Eu a segui em um ritmo mais lento, mas eu provavelmente poderia ter corrido atrás dela e ela não teria me ouvido. Ela parecia estar perdida em sua própria mente, enquanto olhava para o celular descartável em suas mãos. Eu travei quando ela de repente parou e fez uma ligação. Eu não ouvi o que ela disse, mas o olhar em seu rosto me fez aumentar o ritmo. Flick estava sofrendo e meu único pensamento era em tirar aquele olhar comovente de seu belo rosto. — Você está autorizado a deixar o distrito de Trinity, Jet? Sei que você ainda estaria sob os cuidados de seu oficial de condicional. Você vai se jogar de volta na prisão se não for cuidadoso. — Ela parecia incrédula e preocupada. — Minha liberdade condicional foi até hoje, Flick. Eu tenho toda a papelada que eu preciso. Eu estive esperando impacientemente para esta porra de dia chegar para vir até aqui. Caso contrário, teria vindo atrás de sua bunda sexy há semanas atrás. Um bufo incrédulo escapou dela. — Sim, ok. — Flick balançou a cabeça, um sorriso triste nos lábios melados. — Bem, obrigado pela visita. Vou voltar

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para o ônibus agora... Eu provavelmente dormi no sofá. Provavelmente vou acordar com um maldito torcicolo no pescoço — ela murmurou para si mesma. Eu peguei seu pulso quando ela começou a passar por mim. Seu corpo inteiro pareceu pular, como se ela tivesse sido eletrocutada. Sua cabeça disparou em confusão e seus olhos escureceram por um segundo antes da confusão dar lugar a surpresa. — Você realmente está aqui. — É claro que eu estou aqui. Você não ouviu uma palavra do que eu disse, Flick? Ela revirou os olhos azuis bonitos para mim e eu queria espancar sua bunda sexy e gostosa. — Sim, eu ouvi você, mas não acredito nisso. Pensei que estava sonhando. Que diabos, Jet? Você não pode estar aqui. — Seus olhos olharam em torno de nós um pouco freneticamente. — Os paparazzi estão em toda parte, caramba. Se eles te virem aqui ... Dei de ombros, sem me preocupar com nenhum maldito paparazzi. Se qualquer coisa, a coisa toda iria funcionar a meu favor. — Qual o problema, Flick? Com medo de que eles vão colocar dois e dois juntos e chegar a quinze? Assustada de descobrirem que eu matei um homem por sua chefe? Seu rosto ficou pálido e eu percebi que acertei. Um sorriso maligno tentou levantar nos meus lábios, mas parei antes de que pudesse se formar completamente. Eu estive me perguntando como diabos eu faria Flick voltar para casa comigo de bom grado. Agora eu sabia exatamente como, sem ter que amarrar sua doce bunda na parte de trás da minha moto. Era uma coisa bastarda a se fazer, mas eu não deixaria isso me impedir de levar Flick para casa, onde ela pertencia. — Fique quieto — ela ordenou, olhando em volta mais uma vez. — Por quê? Não é um segredo, é? — Eu me inclinei para mais perto dela, baixando a voz para um sussurro quando levantei uma sobrancelha para ela. — Eu matei aquele filho da puta para Emmie Armstrong, certo? Ela é a razão pela qual você pediu para matar Grady. Assim que eu percebi para quem Flick estava trabalhando, eu procurei um pouco sobre Emmie Armstrong e sua família. Eu escutei os Demon’s Wings muitas vezes, mas nunca soube realmente algo sobre a banda. Emmie foi a irmã substituta dos membros da banda – e pelo que os jornais diziam, foi a

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irmãzinha de Jesse Thornton. Ela ficou órfã aos onze anos e foi morar com a banda. Aos dezoito, ela se tornou a gerente da banda antes de casar com Nik Armstrong, e começou sua própria empresa de gerência. Eu também sabia que Vince Grady era o pai biológico de sua sobrinha adotada. O filho da puta levou a garota, colocando Emmie no hospital com uma concussão e o possível aborto de seu segundo filho. Peguei toda essa informação dos tabloides, então eu não tinha certeza quanto dessa merda era verdade. Não muito tempo depois, Grady apareceu em San Quentin comigo. Lembro do cara ter um grande hematoma e um nariz quebrado – e vários machucados. Eu só podia imaginar o que Thornton fez com o idiota quando pôs as mãos nele. Houve uma raiva verdadeira no espancamento de Grady. Assim como Hawk disse, havia desespero na voz de Flick quando ela ligou para pedir o favor. Um favor que eu nem pensei duas vezes antes de cumprir... e usar para meu benefício agora. Realização brilhou nos olhos de Flick. — Você não faria isso — ela respirou. — Ah, Flick. Você realmente esqueceu tanto sobre mim, baby? Eu sou um filho da puta cruel que fará qualquer coisa para ter o que quer. Não me dê o que eu quero e eu vou encontrar o primeiro idiota com uma câmera para contar tudo sobre como Emmie Armstrong me mandou uma mensagem para matar o pai parasita da sobrinha. Fogo ardia naqueles olhos azuis pelos quais eu me apaixonei a tantos anos atrás. — Emmie não teve nada a ver com isso e você sabe disso. Eu o tornei um alvo. Você não tinha que aceitar o trabalho. — Mas eu aceitei, baby. Se não tivesse sido eu, você teria várias pessoas desagraveis... caçando-a e querendo pagamento por matar aquele bastardo. Eu não podia deixar isso acontecer, Flick. Eu não poderia colocá-la nesse tipo de perigo. — Tanta preocupação — ela apertou os lábios juntos. — Pena que eu sei que você é cheio de merda. Você não se importa com o que acontece comigo, Jet. Nunca se importou. Então não jogue esse jogo comigo agora. Apenas me diga o que você quer e eu vou buscar para você, mas deixe Emmie fora disto. Ou eu juro que vou fazer sua vida um inferno.

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— O inferno não é tão ruim, Flick. Eu estive lá por tanto tempo que estou acostumado com isso. — Eu solto sua mão e cruzo os braços sobre o peito. — A única coisa que eu quero é você. Você vai voltar para casa comigo. Hoje. Então vá pegar suas coisas e vamos embora. Seus olhos se arregalaram. — Não. — Sim. Agora. — Não. Eu não vou voltar com você. Eu não posso, Jet. Eu não pertenço mais lá. Eu recomecei, estou feliz aqui. Emmie e sua família me deram uma segunda chance de uma vida que eu não achava que eu poderia continuar a viver. Este trabalho, esta família, eles me salvaram. Eu não vou abandonálos. — Eu vi as lágrimas antes que a primeira caísse pelo seu rosto. A dor que eu ouvi em sua voz e a visão daquela lágrima me eviscerou como nada mais poderia. — Eu não posso, Jet. Eu só não posso. — Por quê? — Perguntei, sentindo por ela, com ela. — Porque você não pode voltar para casa? Apenas me diga por que, Flick. Eu preciso saber por que você não pode, porque eu não entendo. Mais duas lágrimas caíram, fazendo seus cílios molharem e os olhos brilharem ainda mais com o brilho da rua. — Porque há muitas lembranças ruins. Para onde quer que eu vire vou me lembrar do que aconteceu. De por que aconteceu. — Ela enxugou as lágrimas com raiva enquanto caíam mais rápido. — Além disso, ninguém precisa de mim lá. Não você, ou Raven. Nem mesmo minha própria mãe. Mas eu sou necessária aqui, Jet. Emmie, Mia e Jagger? Eles precisam de mim. Se eu pudesse trazer Westcliffe de volta dos mortos eu iria, apenas para matá-lo de novo. A noite em que ele atacou Flick tirou mais de mim do que apenas o meu filho que crescia de forma segura na barriga de Flick. Ele roubou Flick de mim também, sabendo que ela era minha única fraqueza. Sabendo que ela era a única coisa que eu teria prazer em destruir o mundo para proteger. — Você está errada, Flick — eu disse com a voz embargada. — Você está tão errada, querida. Raven precisa de você. Ela está uma bagunça desde que você foi embora. Ela precisa de você. Eu. Preciso. De. Você. — Outra erguida descrente de suas sobrancelhas fez eu me apressar. — Talvez você não

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acredite agora, mas vou provar isso para você, baby. Então venha para casa comigo e me dê a chance de fazer isso. Por favor. Eu nunca implorei nada a ninguém na minha vida até agora. Mas isso era importante, porra. Eu estava tentando conquistar meu mundo de volta. Se Flick me queria de joelhos, então é isso que eu faria, se ela apenas me desse a oportunidade de mostrar a ela o covarde que eu fui no passado. Que eu a amava. — Eu não posso — disse ela novamente. Seu olhar permanecia em mim quando nós dois ficamos ali em um silêncio tenso - eu tentando descobrir como fazê-la voltar, e ela parecendo encontrar a vontade de ir embora. — Tchau, Jet. Ela se virou para sair. Foda-se essa merda. — Eu não estava brincando, Felicity — Eu disse e ela congelou. Eu não queria usar ameaças, mas ela não estava me deixando muita escolha. Eu seria o bastardo cruel que ela sabia que eu era se precisasse. — Se você der mais um passo, vou gritar o que eu fiz para o mundo. Não dou a mínima se isso fizer com que eu volte para a prisão. É um risco que estou disposto a correr. Mas e você está? Sua chefe está? Quão rápido você acha que vai crescer a investigação da tentativa de sequestro daquela menina quando os policiais souberam da chance de prender uma celebridade como Emmie Armstrong por acusação de ser mandante em um assassino? Eu vi seus ombros caírem, e em seguida, ela inclinou a cabeça. Ela ficou assim durante quase um minuto antes de levantar a cabeça e virar para me encarar. Havia ódio puro em seus olhos agora. — Você ganhou, Jet. Eu irei com você.

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Capítulo Quatro

Felicity Se eu pensei que Jet Hanningan não poderia quebrar meu coração mais do que ele já tinha, eu estava errada. Talvez mais errada do que eu já estive. Meu coração estava quebrado e eu tinha certeza de que pela primeira vez na minha vida eu o odiava completamente. Não era como se eu não soubesse como ele era cruel. Ele faria qualquer coisa para conseguir que as coisas caiam no lugar que ele queria que estivessem. Eu vi isso a minha vida toda. Ele foi o presidente do Angel’s Halo MC por muito tempo, e entrar no seu caminho era perigoso em uma posição tão poderosa. Talvez eu não soubesse quando, o que, ou mesmo a quem, mas eu sabia que Jet tinha ligações que usaria em um piscar de olhar para se certificar de que o que ele precisava acontecesse. Ele era um fora da lei, pelo amor de Deus. No começo eu pensei que ele não usaria o que eu pedi a ele contra mim, que ele ainda podia se preocupar comigo um pouco. Talvez não como a mulher que tinha esquentado sua cama por muitos meses, talvez nem mesmo como a mulher que quase lhe deu um filho. Mas pelo menos como um amigo, como alguém que ainda a respeitava. Eu deveria saber melhor, no entanto. Agora, enquanto eu calmamente ia até o ônibus para decidir o que eu poderia levar comigo, eu estava me xingando mentalmente por pensar de outra forma. Eu estava cega por uma névoa de raiva vermelha e as lágrimas de coração partido. Eu não queria deixar Emmie e a pequena família que eu encontrei para mim, a mulher que havia se tornado tanto uma irmã para mim como eu sempre pensei que Raven era. Mas eu sabia que não podia arriscar

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que ele contasse para alguém e fazer Emmie se meter em problemas por algo que eu tinha pedido a Jet. Um pequeno suspiro me deixou enquanto eu olhava para o berço onde Jagger dormia pacificamente. Um pequeno sorriso levantou nos cantos dos lábios do pequeno bebê adorável, como se estivesse tendo sonhos bons, e meu coração se partiu um pouco mais. Este menino foi a minha verdadeira graça salvadora. Cuidar dele curou a ferida aberta que ainda permanecia após o espancamento de Westcliffe. Poder abraçá-lo, alimentá-lo, ler para ele, e até mesmo dar banho nele todas as noites acalmaram a minha dor por não ter o meu garotinho para segurar. Limpei minhas lágrimas antes de acariciar um dedo pela bochecha macia de bebê de Jagger. Ele soltou outro suspiro e seu sorriso cresceu ainda mais. — Tchau, carinha. Um soluço ameaçou me escapar e eu rapidamente engoli antes de ir até a sala de estar. Limpei a última das minhas lágrimas, não querendo voltar lá para fora, onde eu deixei Jet, com a evidência da minha dor no meu rosto. Não era como se ele se importasse de qualquer maneira, mas eu não queria mostrar a ele o quanto ele ainda poderia me quebrar. Deixei um bilhete para Emmie na mesa da cozinha e peguei a bolsa pequena que eu tinha arrumado. Só peguei algumas trocas de roupas e algumas coisas que meu coração doeria por deixar para trás. Eu não podia levar tudo comigo, não na parte traseira da moto de Jet. Talvez Emmie me mandasse o resto. Ou eu poderia voltar. Sim, talvez eu pudesse voltar. Quando Jet se aborrecer da minha presença, quando eu me tornar nada mais que um pensamento passageiro para ele novamente. Era certo que isso aconteça. Sempre acontece. Descendo do ônibus, eu dei um aceno para os dois homens ainda de pé perto da porta. Seus olhos estavam sobre a enorme moto a vários metros de distância. Quando eu comecei a ir em direção a Jet, um dos guardas pegou meu pulso. Surpresa, eu olhei para o homem. Ele era um dos homens que Seller havia contratado depois do primeiro ataque ao ônibus de Shane e Harper. Eu conversei com o cara várias vezes e até mesmo gostava dele. Ele não tinha me dito seu nome, mas de novo, nenhum deles realmente dizia.

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— É isso que você quer fazer, senhorita Bolton? Eu sentia a tensão que irradiava de Jet antes de sentir seu calor. Ele deu um passo atrás de mim, se para intimidar o guarda ou a mim eu não tinha certeza. Eu não podia arriscar uma briga. Acordaria Emmie e Nik e sabese quem mais dos ônibus estacionados nas proximidades. — Sim, eu tenho certeza. Tome conta deles para mim. — Eu dei-lhe um sorriso e cuidadosamente soltei meu pulso antes de virar para Jet. Seu rosto estava cheio daquela expressão assustadora que ele usava quando um de seus irmãos do MC lhe chateavam. Aquele olhar era mortal. Eu coloquei a mão no peito de Jet e seu rosto suavizou ligeiramente. Seus olhos pálidos cor de jade baixaram para o meu rosto, e ele pegou a bolsa que eu segurava. — Pronta? — Sim — eu murmurei e ele gentilmente apertou minha mão na sua enquanto me levava para longe do ônibus. Alcançando sua moto, a mesma que eu me lembrei de montar ao longo dos anos, ele amarrou minha bolsa atrás e me ofereceu um capacete. Eu vacilei quando vi meu nome no interior dele. Jet me deu este capacete quando eu tinha dezessete anos, antes de ele me colocar na parte de trás da sua moto pela primeira vez e me levar para a escola. Colocando o capacete, eu observei Jet montar a máquina poderosa e colocar seu próprio capacete. Uma vez que estava no lugar, ele se virou para mim e estendeu a mão. Eu ignorei o choque de eletricidade que eletrocutou da palma da minha mão pelo meu braço e direto para aquele lugar profundo e escuro que só este homem já tocou. Subir na parte traseira da moto de Jet trouxe de volta muitas memórias e precisei de alguns segundos para recuperar o controle das minhas emoções antes de passar meus braços em torno de sua cintura. Só então ele ligou a Harley. Eu senti o barulho da moto por todo o caminho para o meu núcleo e instintivamente apertei ainda mais a cintura de Jet. Droga, por que isso era tão bom? Eu estava chateada e sofrendo de ter que deixar minha família recém-descoberta. Este homem monstruoso e sua moto sexy como o inferno não deveriam mexer tanto comigo.

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As mãos de Jet cobriram as minhas por um momento, seu polegar acariciando sobre os nós dos dedos antes de eu senti-lo soltar uma respiração difícil. Ele balançou a cabeça e segundos depois estávamos na direção a Creswell Springs. A viagem de volta para a casa que eu deixei a mais de um ano antes demorou menos de duas horas e quando ele estacionou no caminho da casa dos irmãos Hannigan, minhas pernas estavam me matando. Fazia muito tempo desde que eu estive em uma moto e a viagem foi torturante. Enquanto eu saia da traseira da moto, notei que a maioria das luzes estavam apagadas na enorme casa. A luz através da entrada da cozinha estava acesa e a luz da sala de estar também, mas era isso. Meus pés estavam finalmente firmemente no chão, mas quando dei o primeiro passo em direção à casa, meu corpo protestou e eu não consegui segurar o gemido agonizante que me deixou. Os braços fortes de Jet me pegaram pela cintura quando eu teria tropeçado. — Calma aí, querida. Eu atirei-lhe um olhar. — Me deixe sozinha — eu bati quando me afastei do seu toque, não me importando se isso fez o meu corpo pulsar em protesto contra o movimento rápido. Olhei ao redor da calçada, me perguntando quem iria me levar para casa. Jet deveria ter apenas me deixado na casa da minha mãe no caminho, mas acho que ele queria que eu visse Raven primeiro. — Hawk está em casa? — Eu reconheci as outras motos e percebi que todos os meninos Hannigan estavam em casa. — Quem está fechando o bar hoje à noite? — O bar está fechado esta semana — ele me disse com um encolher de ombros. — O novo encanamento está dando problemas e aquele encanador estupido que o Tio Chaz contratou teve que refazer o do banheiro. — Oh — era tudo que eu poderia dizer sobre isso. Pavor encheu meu peito quando eu olhei de volta para a casa. Eu não estava ansiosa para enfrentá-los. Claro que eu quis falar com Raven mais cedo naquela noite, estando tão desesperada para ouvir a voz da minha melhor amiga que acabei ligando para ela, mas falar com ela pelo telefone era muito diferente de estar cara a cara com ela.

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Hawk era o que eu mais temia, no entanto. Ele não ficou muito feliz na única vez que eu liguei para ele. Ele sabia o que o meu pedido poderia significar, e que se o irmão concordasse, Jet poderia arriscar o resto de sua vida, sua liberdade. Hawk foi tão bom para mim depois de eu ter perdido o bebê. Nós nos aproximamos mais do antes, mas eu não esperava ter sido o suficiente para pensar que ele me perdoou por colocar Jet em risco. — Você está com fome? — Jet perguntou quando abriu a porta de trás e a segurou para mim, me deixando ir para a cozinha primeiro. — Não. — Meu estômago estava uma bagunça nervosa. Eu não poderia comer nem se eu quisesse. — Você deve estar com sede. Eu deveria ter parado para pegar algo. — Foi como se Jet estivesse falando para si mesmo, em vez de mim. Ele balançou a cabeça e abriu a geladeira. Retirando uma garrafa de água, a abriu e entregou para mim. — Aqui, querida. Eu peguei a água e engoli um pequeno gole sob seu olhar atento antes de entregá-la de volta, já que ele ainda segurava a tampa. — Obrigada — eu murmurei. — Vamos. Tenho certeza que os caras estão esperando por nós. — Ele agarrou minha mão novamente e segurou-a cuidadosamente na dele quando ele me puxou em direção à sala de estar. Eu ouvi a televisão e, em seguida, um riso suave, seguida da risada profunda e inconfundível de Hawk Hannigan. Duas outras risadas se juntaram. — Eu acho que é bobagem — Colt Hannigan resmungou. — Eu também — concordou Raven. — Esta merda é fodida. Eu odeio esses shows de atividade paranormal. — Covarde — brincou Raider. — Ei! Não coma toda a pipoca. Eu parei quando os vi sentados no sofá, assistindo televisão. Pareceu tão natural, do jeito que estavam todos sentados, comendo pipoca e provocando um ao outro. Ninguém saberia que esta era uma coisa rara para os irmãos Hannigan. Eles nunca fizeram esse tipo de coisa no passado. Raven estava aconchegada contra Bash em uma extremidade do sofá, uma tigela de pipoca no colo que eles estavam dividindo. Colt estava ao lado

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de sua irmã com Hawk em seu outro lado e uma Gracie Morgan sonolenta dobrada contra seu peito. Raider estava sentado no chão na frente deles, a sua própria tigela de pipoca ao lado dele e uma cerveja em uma mão. Jet pigarreou, chamando a atenção de todos pela primeira vez. Quatro cabeças loiras viraram rapidamente seguida pela cabeça mais escura de Bash Reid e a vermelha de Gracie. O meu olhar foi direto para Raven, cujos olhos eram tão parecidos com os de seus irmãos e brilhavam com o que só poderia ser alívio. — Você está em casa — ela chorou quando pulou do colo de Bash e jogou os braços em volta de mim. Ela caiu contra mim com tanta força que quase tirou meu ar. Meus braços foram ao redor dela por vontade própria e se agarraram a ela tão forte quanto ela estava me segurando. O abraço me surpreendeu. Esta não era a garota que me lembrava, aquela teria odiado esse tipo de afeto. Raven já me abraçou um total de dez vezes em toda a nossa vida, incluindo este. Afastando-se, Raven sorriu para mim. — Estou tão feliz que você está aqui, Flick. As coisas têm sido loucas sem você. — Seus olhos viajaram sobre meu rosto e, em seguida, para baixo no meu corpo, como se estivesse à procura de lesões ou algo assim. — Você está bem? Aquela cadela louca não te machucou também, não é? Eu balancei a cabeça rapidamente. — Não. Foi apenas Gabriella. Sobrancelhas loiras levantaram. — A roqueira? — Eu assenti. — Como ela está? — Eu não tenho certeza de como ela está agora. Ela estava em condição estável na última vez que ouvi, mas crítica. — Eu não tinha ouvido falar muito sobre como ela estava indo já que Emmie voltou para o ônibus e prontamente foi direto dormir com Mia em seus braços. Meu coração doía em pensar sobre Emmie e Mia e eu me perguntei se ela já tinha acordado e encontrado minha nota. — Pare de monopolizar a menina, Rave — Colt estava de pé ao nosso lado agora, os olhos cheios de boas-vindas calorosas quando ele empurrou sua irmã de lado e passou os braços em volta de mim. — É bom ver você, Flick. Estou feliz que você está em casa.

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Eu apertei meus olhos fechados enquanto lágrimas estúpidas queimavam e ameaçavam transbordar. Não é a primeira vez que eu me perguntava por que eu não me apaixonei pelo Hannigan mais jovem, em vez de o mais velho. Colt se afastou, seus olhos me avaliando. — Como vai você? — Ela está bem — Jet retrucou. Colt murmurou alguma coisa na direção do Hannigan mais velho, mas minha atenção foi puxada em outra direção e eu perdi o que foi dito. O arranhar nas escadas fez minha cabeça estalar e eu me virei para encontrar Toby descendo pulando as escadas, suas orelhas balançando e sua cabeça grande olhando em todas as direções enquanto corria em minha direção. Meu coração parou com a visão do meu precioso cão. Eu caí de joelhos quando Toby se aproximou e deixei sua língua beijar e babar em toda minha bochecha. Ele lamentou feliz e eu passei meus braços ao redor de seu corpo enorme. — Ei você aí, carinha — eu respirei em seu pelo brilhante. — Senti sua falta. — Irmão, você deveria estar preocupado que ela parece mais feliz de ver o cão do que você — murmurou Raider e eu levantei a cabeça do pescoço de Toby para encará-lo, mas os olhos risonhos de Raider estavam em Jet. — Cale a boca, Raider — Ouvi Jet grunhir. — Só dizendo, irmão. Só dizendo. Fazendo carinho atrás das orelhas de Toby e dando-lhe um tapinha firme em suas costas, eu me levantei e, finalmente, deixei o meu olhar ir para o casal ainda sentado no sofá. Gracie me ofereceu um pequeno sorriso, mas foi a dureza nos olhos de Hawk que fez minha mandíbula apertar. Eu não ia deixa-lo me intimidar, no entanto. Eu não estava arrependida por ter feito o que fiz, e se tivesse a chance, faria tudo de novo. Eu fiz para oferecer tranquilidade a alguém que me preocupava. Não apenas para Emmie, mas a Lucy Thornton também. Ela já não tinha aquele olhar assombrado em seus olhos há meses agora, desde que seus pais contaram que seu pai biológico foi morto em uma briga de prisão. Layla me confidenciou que sua filha estava dormindo melhor agora. Era essa

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razão pela qual eu nunca me arrependeria em pedir para Jet matar Vince Grady. — Sem boas-vindas? — Eu perguntei com um tom atrevido. — Seja bem-vinda, Flick. — Seu tom estava entediado, com os olhos cheios de ódio, mas havia outra coisa lá também. Algo que eu não podia definir com certeza. Seria alívio? Hawk estava aliviado por eu estar em casa? Sim, eu duvidava. — Gee, obrigada. Se eu soubesse que seria tão caloroso, teria feito isso meses atrás — eu bati nele. Sua mandíbula se apertou e ele começou a dizer algo, mas Gracie lhe deu uma cotovelada com firmeza no tórax. — Seja agradável — ela murmurou baixinho. — Eu sou bom, baby. Ela que é uma cadela. Não pude evitar em vacilar e cerrei meus dentes. Hawk me xingando era algo que eu percebi que teria que me acostumar. — Não — Jet ordenou em um tom que mandava todos tomarem cuidado. —Flick está em casa e você vai respeitá-la. Xingue-a de novo e você com certeza não usará sua boca de novo por algumas semanas. Hawk se levantou com Gracie ainda em seus braços e, lentamente, a levantou também. Eu ouvi a outra mulher dizendo para “ser bonzinho” antes de ela se afastar dele. Hawk se virou para mim. — Sinto muito, Flick. Bemvinda a casa. Você vai ficar por muito tempo ou está pensando em sair no meio da noite do nada de novo? Eu dei de ombros. — Eu estou aqui enquanto Jet disser que eu estou. Se você acha que eu voltei voluntariamente, pense novamente. Eu não quero estar aqui. — Minha resposta foi honesta e eu não me arrependi até que eu vi o olhar no rosto de Raven. Ela parecia magoada e isso fez meu intestino agitar com a culpa, mas também inflamou a minha raiva. O que ela esperava? O que algum deles esperava? Eu me senti como se ninguém – nenhum daqueles malditos – se importava se eu estava por perto ou não. Eu não era o tipo de mulher que implorava por atenção. Eu fui embora porque eu precisava sair, para minha própria sanidade e bem-estar.

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Do sofá, Bash se levantou e deu um passo em minha direção. Seus olhos azuis elétricos estavam cheios de compreensão. Baixei os olhos para Toby que se sentou alegremente aos meus pés. — Está tarde. Foi um longo dia para todos. O temperamento de ninguém é estável quando você está cansado. Descansem um pouco e receberemos Flick em casa de manhã, como deve ser. — Sim, vamos fazer isso. — Eu balancei a cabeça e olhei para Colt. — Você se importa de me levar para a casa da minha mãe? — Você não vai para a casa de Marcie — disse Jet, rápido para me parar. — Você está em casa, e essa casa é a sua casa. Meus olhos se arregalaram de surpresa. — Você tem que estar brincando comigo. — Sério, ele tinha que estar. Não tinha como eu dormir sob o mesmo teto que ele. — Isso não vai acontecer. Voltei com você, seja grato por isso. Não tem como eu dividir o mesmo telhado com você. Eu mal suporto dividir o mesmo ar com você, quanto mais uma casa. Seus olhos se estreitaram e ele deu um passo mais perto de mim. Sentindo minha súbita tensão, Toby levantou e rosnou para o grande homem. Jet ignorou o cão. — Você vai ficar aqui, Flick. Nesta casa. No meu quarto. Na minha cama. Não haverá negociação, nem conversa. Este é o lugar onde você pertence e é onde você vai ficar, porra. Você não gosta? Que pena. — Você não pode me fazer ficar aqui — eu atirei para ele, praticamente tremendo com a raiva fazendo meu sangue ferver. — Não sou uma prisioneira, Jet. Você me disse que eu tinha que voltar com você. Nem uma vez você mencionou que eu tinha que viver com você. — Se eu tivesse dito, você teria mudado de ideia? Sabendo que teria que dividir a mesma casa comigo, a mesma cama, você teria se afastado e arriscaria a chance de eu contar para o mundo o que eu fiz para você? — Ele teve a ousadia de sorrir quando eu fiquei quieta. Ele sabia que isso não mudaria merda nenhuma. Eu não teria arriscado Emmie. Se ele tivesse dito que eu teria que me juntar a um circo como trapezista eu teria aceitado. — Acho que não — disse ele com um sorriso. — Eu te odeio. O sorriso desapareceu e sua mandíbula se apertou. — Está bem. Eu também me odeio.

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Parecia que eu estava presa lá. Eu apertei minhas mãos em punhos e olhei para ele com todo o ódio que estava queimando no meu peito. — Bom. Eu vou dormir na sua cama. Você pode ficar com o sofá. Sem negociação. Sem conversa. — Eu passei por ele. — Se você pisar naquele quarto, eu vou gritar até esse lugar cair. Com certeza você não quer acordar as crianças. — Eu comecei a subir as escadas. — Flick... — Fiz uma pausa no segundo passo quando ouvi a voz de Raven e olhei para ela. Ela olhou como se ela estivesse sem palavras por um momento e então soltou um longo suspiro pelo nariz. — Estou feliz que você está em casa. Eu realmente senti sua falta. — Eu senti sua falta também, Rave.

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Capítulo Cinco

Jet O choro de Max me acordou na manhã seguinte. Eu grunhi e virei de lado, puxando o travesseiro que eu tirei do armário sobre a minha cabeça. Tive que dormir no sofá na noite anterior. Flick não estava brincando sobre me colocar lá. Quando eu tentei ir para o meu quarto, a porta estava trancada. Eu poderia ter quebrado a porta, mas não queria arriscar acordar Lexa e Max. Raven teria feito muito mais danos em mim do que Flick e foi só por isso que eu acampei na sala de estar, em vez de tentar a sorte com a minha própria cama. Meu sobrinho estava realmente avisando a todos como seus pulmões estavam esta manhã. Meu travesseiro não estava fazendo nada para bloquear seus gritos. Resmungando, joguei meu travesseiro do outro lado da sala com frustração e joguei as cobertas de lado. Esfregando uma mão sobre o rosto, eu entrei grogue na cozinha, onde Raven já estava fazendo café da manhã enquanto seu filho de oito meses gritava aos berros, como sempre querendo nada mais do que a atenção da mãe. Eu olhei para o garoto quando cai na cadeira ao lado da dele. — Eu não sei de quem você herdou esse temperamento, menino, mas vou tirá-lo de você, se você algum dia quiser entrar no clube. — Como você está pensando em fazer isso quando você mesmo diz que saiu do clube? — Raven resmungou para mim do fogão onde ela estava virando panquecas. Eu fiz uma careta. Ela estava certa. Eu não voltei ao clube depois de sair da prisão. Até agora, eu mantive minha promessa para Flick e fiquei fora dos negócios do MC, sabendo que se eu tivesse que escolher, seria ela sobre qualquer coisa. Não significa que eu não sinto falta, no entanto. O clube foi

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uma parte de mim por toda a minha vida. Eu entrei aos dezoito anos depois de esperar por mais de um ano observando. Era a minha vida, a única coisa que eu conhecia. Mas foi o clube que ficou entre mim e Flick e eu não ia deixar essa merda acontecer novamente. — Cale a boca, Rave. — O problema de ser tão próximo de minha irmãzinha era que ela via demais. Coisas que eu não queria que ela visse. Como o quão difícil era continuar mantendo minha promessa quando as coisas foram tão difíceis para o clube no ano passado. Eu sabia que ela não me queria fora do clube, mas Flick era mais importante para mim do que qualquer coisa. Incluindo o meu MC. O Senador Sansom pode ter se afastado, mas eu ainda me sentia desconfortável sobre como as coisas acabaram com ele. Eu vi o olhar nos olhos do filho da puta antes dele concordar em recuar. Ele estupidamente colocou fogo no bar da minha família e no processo se colocou em chamas. Ele morreu das queimaduras, mas se não tivesse, eu lhe daria uma morte dez vezes mais dolorosa do que essa. Bash fez um trabalho excepcional como presidente do clube durante toda a treta do senador. Sua calma foi uma das razões pela qual eu o queria como presidente enquanto eu estava na prisão. Ainda assim não foi fácil observar do lado de fora. Quer eu admitisse ou não, o Clube era parte da minha alma e eu estava lutando para ficar longe. Raven colocou um prato de panquecas, bacon e ovos na minha frente. Deixando o xarope ao lado do meu prato, ela me deu um beijo suave na bochecha antes de voltar para o fogão. — Então... o que exatamente você usou contra Flick para fazê-la voltar com você? Parei com o garfo a meio caminho da minha boca. Eu poderia ter dito a Raven o que eu fiz e sabia que ela não teria dito nada, nem mesmo Bash se eu perguntasse, mas não quero minha irmã arrastada para um drama que era só meu e de Flick. Bem, acho que Hawk também, mas não era como se o novo vice-presidente do clube ia dizer algo. Eu tinha certeza que Gracie nem sabia o que Hawk veio me dizer quando eu ainda estava na prisão. — Não é nada — eu murmurei antes de empurrar a garfada de ovos e panquecas em minha boca.

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— Tão ruim assim, hein? Dei de ombros e continuei a comer o meu café da manhã, tentando sem sucesso - bloquear o acesso de raiva de Max quando ele chutou as pernas e esticou os braços em direção à mãe, enquanto gritava a plenos pulmões. A porta traseira abriu com um estrondo e Matt Reid entrou com um olhar furioso em seu rosto. — Ouça, carinha — Matt resmungou quando ele se agachou ao lado de Max. — Consigo ouvir você da entrada. Consigo ouvir você do meu quarto. Do meu quarto, garoto. Isso deveria ser impossível. Pare de ser um filhinho da mamãe. Vire homem. Max não parecia se importar com o que Matt pensava sobre seu choro e só gritou mais alto. Raven chutou as pernas de Matt quando ele se levantou e foi até a mesa para sentar em seu lugar de sempre para o café da manhã. Ultimamente isso não era tão frequente. Alguma coisa estava acontecendo com Matt, mas eu não sabia o que. Eu fiquei muito preso em Flick desaparecida. — Deixe meu filho em paz, Matt. Ele pode ser um filhinho da mamãe o quanto quiser. Você fodidos podem começar a transformá-lo em um motoqueiro quando ele puder montar. Até lá, o deixem quieto. — Ela se inclinou e deu um beijo na testa do filho, que se acalmou. Por cerca de um minuto. A gritaria começou novamente. Sabendo que eu não seria ajuda para o rapaz, levantei minha caneca de café quente escaldante e tomei um longo gole, deixando o calor queimar minha garganta e cair quente na minha barriga. Imaginei que um pote cheio dessa merda iria me ajudar pelo resto do dia. — Meu Deus. — Um resmungo feminino veio da porta que dava para a sala de estar e minha cabeça se levantou para ver uma Flick grogue entrar na cozinha. Seu cabelo estava sensualmente amarrotado de sono. Ela afastou alguns fios selvagens do rosto, tornando-a ainda mais deliciosa para os meus olhos. Seus olhos pareciam um pouco inchados, fazendo eu me perguntar se ela chorou até dormir. Esse pensamento fez o café pesar um pouco demais no meu estômago e eu empurrei o restante do meu café da manhã para longe. Meus olhos não eram os únicos atraídos para a deusa de tirar o fôlego. Com o canto do olho, vi a cabeça de Matt estalar e eu atirei-lhe um olhar

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assassino que ele ignorou. Foi a reação de Max para ela, porém, que deixou todos nós felizes por ver Flick. Ele se calou quando ela começou a caminhar em direção a ele, seus grandes olhos azuis parecendo ver cada polegada dela. Flick evitou o meu lado da mesa quando ela deu a volta até Max e se agachou ao lado dele. Ela ofereceu a mão ao bebê e ele agarrou seu dedo como se fosse uma tábua de salvação. — Qual o problema, rapaz? Você é o despertador da mamãe ou algo assim? Tenho certeza que você acordou a casa inteira, talvez até todo o bairro. — A criança é um filhinho da mamãe, Flick — Matt informou com um sorriso. — Raven o deixa mandar em tudo. Flick lançou-lhe um rápido sorriso em troca. — Se você fosse tão bonito, tenho certeza que ela iria deixa-lo mandar também. — Ela voltou sua atenção para o bebê. — Certo, Max? Diga ao velho motoqueiro. Diga: “Eu sou mais bonito do que você, cara. Lide com isso.” A boca de Max abriu e ele grunhiu, como se ele estivesse tentando dizer exatamente isso, fazendo Flick e Raven rirem. Cuidadosamente, Flick soltou a mão e se levantou. Ela estava começando a sentar quando Max abriu a boca e começou a gritar novamente. Ela levantou uma sobrancelha para o meu sobrinho. — Qual o problema, amigo? Quer brincar? — Ela estendeu as mãos para ele e ele levantou os braços, querendo colo. Garoto esperto. Balançando a cabeça, levantou-o de sua cadeira e sentou-se à mesa com ele no colo, de frente para ela. — Do que ele gosta de brincar, Rave? Peek-a-boo? Patty-cake? — Ele gosta de brincar com o que todos os motoqueiros gostam de brincar — Raven assegurou com uma risada, logo que Max agarrou os peitos de Flick. Eu senti o puxão de sorriso em meus lábios. Parecia que Max era mais parecido comigo do que eu percebi. Ele parecia tanto com o pai que eu comecei a me perguntar quando ou mesmo se ele herdaria qualquer coisa de seus tios. Assim que eu o vi apertar no lugar de Flick que eu sempre gostei de apertar, soube que ele seria um inferno na terra quando ficasse mais velho. — Ele é muito mais parecido com o pai do que parece. — Calma lá, homenzinho. — Flick desembaraçou os punhos gordinhos de Max de sua camisa, segurou cada um e colocou no rosto dele. — Esses são

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meus, não seus. A única ação que você vai ter é de sua mãe quando ela te amamentar. — Ela esfregou o nariz contra o dele, fazendo-o rir. — Seja bom ou vou colocá-lo de volta em sua pequena prisão e deixar seus tios lidarem com o ruído infernal que sai de sua boca. Observar Flick com Max fez algo apertar no meu peito. Era assim que teria sido se o nosso bebê estivesse vivo? Max parecia tanto com Bash que eu sabia que eu não poderia tê-lo imaginado sendo de outro, mas a forma como Flick agia com meu sobrinho me fez perguntar se era assim que ela seria como mãe. Nós estaríamos lá sentados com nosso filho ou filha, afagando-a e rindo alegremente? Nós já teríamos consertado o que havia de quebrado em nossa relação a essa altura? Sua barriga estaria arredondada com outra criança? — Ele não é tão ruim — disse Raven com um beicinho, me tirando de minhas reflexões dolorosas. — Sim, é — eu assegurei. — Sim. Faz meus ouvidos sangrarem — Matt concordou. Raven pegou um biscoito e atirou na cabeça de Matt. Ele pegou no último segundo e deu uma mordida faminta nele. — Obrigado, Rave. — Puta merda. Está calmo aqui para variar. — Colt riu quando chegou pela porta dos fundos. Quando ele saiu? Mais a fundo, eu não pude deixar de me perguntar onde ele foi. Eu sabia que ele não passou o tempo na sede do clube. Raider comentou sobre isso há poucos dias, fazendo eu me perguntar onde meu irmãozinho estava gastando todo o seu tempo livre. — Não comece — Raven resmungou quando ela se virou de volta para a comida que ainda estava cozinhando. — Você e qualquer outra pessoa que abrir a boca para falar de Max vai ficar sem comida esta manhã. — Ah, Rave — Colt deu-lhe um abraço de um braço só, mesmo quando ele estava roubando um pedaço de bacon. — Você sabe que eu amo o rapaz. Eu só estava comentando sobre o quão calmo parece isto aqui esta manhã. Ela soltou um suspiro cansado. — É tudo graças a Flick. Ela o mantêm entretido. Os olhos do meu irmãozinho foram direto para Flick, que estava falando baixinho para Max. O olhar azul do bebê estava em transe enquanto olhava

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para ela. — Eu sabia que ela iria arrumar esse lugar. Não parecia o mesmo sem ela por perto, sabe? Eu vi o jeito como Flick reagiu a suas palavras, mas ela fingiu não ouvir Colt. Arrisquei um olhar para o fogão, e vi o olhar triste nos olhos de Raven enquanto olhava para Flick. Minha irmã estava em completo acordo com nosso irmão e eu tinha que admitir, eu também. Em pouco tempo a cozinha estava cheia de meus outros irmãos. Bash foi o último a descer, com Gracie, a poucos passos atrás. Ela estava com sua mala em uma mão e seu cabelo estava uma bagunça selvagem que ela estava tentando consertar com a mão livre. — Estou atrasada — ela chorou quando deixou cair a pasta que Hawk lhe dera de Natal. Ela amou o presente, mas não tinha ideia de que era mais uma rede de segurança para o meu irmão possessivo do que qualquer outra coisa. Ele tinha um pequeno dispositivo de localização na parte inferior do produto. Hawk pediu minha opinião sobre a coisa e eu disse que era uma boa ideia. Enquanto Gracie não descobrisse. Ela era toda sobre ter sua própria independência. Ela não queria que ele pagasse pela faculdade, então ele, Bash e Tio Jack fizeram o advogado do clube patrociná-la. Em outras palavras, eles estavam pagando-o para pagá-la, e começaram uma conta especificamente para sua taxa de matrícula. Se ela descobrisse sobre isso, eu tinha pena meu irmão. Hawk ia ter muito com que se arrepender se ela descobrir. Não que eu não teria feito o mesmo. — Aqui, pelo menos leve isso. — Raven entregou-lhe um biscoito e um pouco de bacon. — Levo almoço mais tarde, se quiser. — Eu farei isso — disse Hawk e passou os braços ao redor da cintura de Gracie antes de deixar cair a cabeça para roçar os lábios nos dela. — Dirija com cuidado. Jenkins pode se ferrar se perturbar você por estar poucos minutos atrasada. — Já é uma hora de atraso, Hawk. — Ela se afastou e passou os dedos pelo cabelo mais uma vez. — Pare de me manter acordada a noite toda — ela murmurou, corando. Hawk riu. — Não vou prometer nada, querida. — Outro sabor de seus lábios nos dela e Gracie foi praticamente correndo para fora da porta.

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Flick estava observando os dois. Quando a porta se fechou atrás das costas de Gracie, e o carro velho de Hawk ronronou para a vida na garagem, Flick olhou para Colt. — Ela trabalha para Jenkins? — Sim. — Mas... — Ela parou, balançando a cabeça. — Não importa. Não é da minha conta. — Isso mesmo, não é — resmungou Hawk do outro lado da mesa. Eu chutei a cadeira. — Acalme-se. Hawk me lançou um olhar antes de virar os olhos para os de Flick. — Sim, Gracie trabalha para Jenkins. Ela é a protegida dele, ele é o mentor dela. Ela ficará no lugar de Jenkins quando ele se aposentar. — Então, quem está pagando por isso? Você esquece que eu conheço Jenkins, Hawk. Ele não tem um osso generoso em seu corpo. Então, quem está pagando por isso? Você ou o clube? — Eu. — Ele respondeu com uma mordida gelada em seu tom de voz que eu quis dar um soco na cara dele por usar com a minha mulher. Quaisquer que sejam seus sentimentos passados por Flick, ele precisava enterrar essa merda, e rápido. Eu não teria Flick se sentindo indesejada por qualquer pessoa, especialmente Hawk. Um suspiro pela porta dos fundos fez todas as nossas cabeças virarem. Gracie estava na porta, com os olhos já se enchendo de lágrimas. Meu irmão e Flick me distraíram e eu esqueci sobre o carro na garagem, então não questionei quando ele se afastou. Eu fiz uma careta quando ela engoliu em seco e olhou para o pequeno pacote em suas mãos. — Achei isso atrás das motos. É para você, Hawk ... Eu pensei que era algo importante e não quis que você perdesse. Ela colocou o pacote ao lado da porta e recuou silenciosamente. Hawk murmurou algo vicioso em voz baixa, mas era tão baixo que não entendi o que era. Sua cadeira caiu ruidosamente pelo chão quando ele se levantou e correu atrás dela. — Gracie! Colt levantou quando os pneus do carro gritaram lá fora, e foi até onde o pequeno pacote marrom estava no chão perto da porta. — Não havia um

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pacote lá fora quando eu vim mais cedo — ele murmurou para si mesmo. — Matt, você viu isso? — Não, cara. Colt não tocou no pacote, mas agachou para dar uma olhada melhor no que era. O olhar em seu rosto fez meu sangue correr frio quando o vi empalidecer. Ele se levantou e praticamente correu até a mesa onde pegou uma Lexa de olhos sonolentos em seus braços. — Todo mundo para fora da porra da casa — ele gritou, seus olhos verdes selvagens. — É dos italianos. Todos na cozinha ficaram imóveis, inclusive eu. Demorou alguns segundos para percebemos o que Colt disse. O pacote era dos italianos. Conhecíamos um monte de italianos. Tínhamos uma aliança com uma determinada família cuja localização era a grande New York, mas eles eram rivais com outra família que ficavam principalmente fora do Sul da Califórnia. Uma família que era tão ruim quanto os irlandeses quando se tratava de fazer merda. — Porra — Eu ouvi Bash rosnar, ao mesmo tempo que aquela mesma palavra deixou minha própria boca. Eu cheguei do outro lado da mesa e agarrei o braço de Flick instintivamente. Puxei-a ao redor e contra o meu lado. Com Max ainda em seus braços, eu apertei os dois contra mim para protegêlos, e nós corremos para fora da casa através da sala de estar para não ter que passar pelo pacote. Medo misturado com raiva como eu nunca tinha experimentado antes na minha vida me sufocou e eu segurei Flick contra mim tão apertado quanto possível enquanto ela andava. Meu instinto foi apenas de buscá-la e levá-la para fora, mas ela estava com o bebê e eu não queria correr o risco de ela deixar Max cair. Bash estava com Raven, e Matt estava bem atrás deles. Lá fora, Colt estava com Lexa ainda em seus braços enquanto ele parava na calçada, um telefone em seu ouvido enquanto ele latia as ordens. — Vamos levar as crianças e as mulheres. Leve-os para o clube... O quê? — Colt estalou quando cheguei até ele e seus olhos se estreitaram quando ele ouviu quem quer que fosse que ele estava ouvindo do outro lado. — Filhos da puta do caralho. Ok. Ok. Apenas deixe-me pensar, cara. Precisamos verificar o lugar.

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Senti Flick tremer, mas quando arrisquei um olhar para ela, ela estava dando um sorriso tranquilizador para o bebê para mantê-lo calmo. Ela sempre foi forte, o tipo de mulher que um homem como eu precisava. Por que diabos eu a deixei ir, em primeiro lugar? Bash estava ao lado do meu irmão mais novo em um flash, Raven dobrada contra ele. — Mais pacotes? — Sua voz era quase animalesca. Seu rosto estava pálido e havia uma fúria selvagem em seus olhos que me deixou feliz por não estar do outro lado da ligação. Colt baixou o telefone. — Na sede do clube. Raider encontrou na porta da frente. Não podemos levá-los para o bar, e quem diabos sabe onde mais eles iriam enviar esta merda. — Pare de xingar na frente das crianças — Raven repreendeu, tirando Lexa dos braços da Colt. — Você sabe que ela repete tudo que você diz. — Desculpa. Estou um pouco chateado aqui, querida. — Colt deu um beijo na testa de Lexa. — Vá até a casa de Spider e Willa, ok? — Seus olhos encontraram os meus. — Vai com eles? Eu balancei a cabeça e enfiei Flick mais contra mim. Era natural que seja eu a levar as crianças, Raven, e Flick para a casa do executor. O resto eram do clube, algo que eu não era mais. Certo, então eu queria ser uma parte do MC novamente mais do que eu tive em qualquer outro dia durante o ano passado. Eu não tinha controle sobre o que ia acontecer a seguir, e eu precisava daquela porra de controle. Ainda segurando o braço de Flick, peguei Raven na minha mão livre. Ela se agarrou em Bash por um segundo antes de deixá-lo ir, e deixando Lexa mais confortavelmente nos braços, foi de boa vontade comigo. A moto de Hawk não estava na garagem quando passei por ela. Eu imaginei que ele seguiu Gracie até o trabalho para que pudesse resolver a tempestade de merda que ele causou admitindo a Flick o que fez. Idiota estupido. Ele deixou seu temperamento nublar a questão maior e falou sem pensar. Spider já estava de pé na porta de sua casa quando chegamos. Ele estava sem camisa, mas estava com o celular no ouvido e eu tive que assumir que ele estava falando com Colt ou Bash. Lexa se jogou em seus braços

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quando Raven entrou na casa. Willa estava descendo as escadas, franzindo a testa enquanto nós entravamos em sua casa. — O que está acontecendo? — Ela perguntou enquanto eu guiava Flick para o sofá na sala de estar. — Coisas do MC, babe — Spider informou sua esposa. — Tenho que ir. — Ele entregou Lexa para a tia. — Jet irá mantê-la segura. Certo? — Os olhos de Spider eram tão selvagens como os de Bash - como os meu, sem dúvida estavam. Eu balancei a cabeça. — Eu fico com eles — eu assegurei. — Vá fazer o que você tem que fazer, cara. Flick não ficou no sofá por muito tempo. Ela deu Max para a mãe e então se virou para mim. — Preciso falar com você. — Ela não esperou minha resposta quando se mudou para o outro lado da enorme sala de estar. Eu fiz uma careta, sabendo exatamente o que ela queria falar. Parei apenas alguns centímetros longe dela para que ninguém do outro lado da sala pudesse nos ouvir. Seu olhar azul voltou para as crianças e, em seguida, a Willa e Raven quando elas se sentaram no sofá, sussurrando umas com as outras em tons suaves para não assustar as crianças. — Quais italianos? — Ela sussurrou ferozmente, cruzando os braços sobre o peito, como se para se proteger minha resposta. — Não seus italianos — Eu assegurei a ela em um tom baixo o suficiente para que ela pudesse ouvir. — Ciro não faria essa merda. Ele tem mais... classe do que isso. — Mas você não veria aquele filho da puta mortal vindo. Se ele quisesse alguém morto, faria antes que pudesse piscar, não com uma bomba. Bombas eram uma escolha covarde. Seus ombros pareciam inclinar. Ciro era seu primo, o sobrinho de sua mãe. Sua mãe era irmã mais nova de Marcie, mas ela era muito melhor do que a mãe de Flick. Ela tinha mais classe, era mais maternal, e não abria as pernas para qualquer um que olhava duas vezes para ela. Ciro trabalhava para os italianos de New York, onde as duas irmãs cresceram, e foi a ligação de Flick com eles que definiu a nossa aliança. O clube fazia todas as corridas de proteção para o chefe de Ciro de uma costa à outra. Normalmente drogas ou armas, e por vezes outros... materiais.

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— Ele não vai ficar feliz, Jet. É mais uma razão para começar uma guerra total com a família Santino. — Seus olhos se voltaram pleiteando, a merda acontecendo entre nós dois não importando. — Você tem que ligar para ele. Você. Ele não vai gostar de qualquer outra pessoa, além de você. Você se lembra de como ele se sente sobre Bash. — Ele faria se viesse de Tio Jack — eu lembrei, preferindo ignorar o comentário sobre meu cunhado. A merda que os dois tinham contra o outro deveria ter sido posta de lado anos atrás. — Não foi Tio Jack que recebeu uma bomba de presente, Jet. Você tem que cuidar disso antes que saia de controle. Se for os caras do Santino tentando fazer uma declaração por tirar a proteção dos Vitucci da Costa Oeste... Eu levantei a mão, cortando-a e olhei rapidamente para as fêmeas sentadas no sofá. Eu não queria que qualquer uma delas ouvissem o que estávamos falando. Quanto menos souberem sobre nossa ligação com a família Vitucci, mais seguras estariam. Já era ruim o suficiente Flick saber. — Nós não sabemos se é por isso que Santino mandou a bomba, ou até mesmo se é realmente uma bomba. Colt estava apenas tomando precauções porque é seu estilo. Pelo que sabemos, poderia ser até a porra do senador contratando um assassino contra todos nós pela morte de Sansom. Seus olhos se arregalaram. — Quem? De que diabos você está falando? Eu me aproximei. — Lembra-se do cara que tentou estuprar Gracie? Você e Hawk a salvaram, disse Raven. — Ela assentiu com a cabeça. — Ele começou a tornar as coisas difíceis para o clube. E então no dia em que eu voltei, ele incendiou o bar. Ele fez Bubbles ajudá-lo porque ela estava chateada que Willa estava com Spider. Ela bateu em Raven e Raven quase perdeu Max. Bubbles fugiu antes que pudéssemos lidar com ela. A idiota ainda está lá fora escondida em algum lugar. Os olhos de Flick eram tão grandes quanto pires. — Eu perdi muito, não? — Ela murmurou, como se para si mesma. Eu balancei a cabeça. — Demais, baby. — Lembro de Sansom ser o filho de um senador, mas o que o senador tem a ver com isso?

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Eu dei de ombros. — Sansom ficou preso no fogo e morreu das queimaduras. Tivemos que reconstruir o bar. — Seu suspiro foi cheio de surpresa magoada. Eu vi a simpatia em seu olhar azul e quis muito beijá-la. Em vez disso, eu empurrei minhas mãos nos bolsos do meu jeans para não chegar até ela e continuei a contar. — Sim. Foi difícil para todos nós, Flick. Perder o bar foi ruim. Especialmente com o senador causando problemas para nós. Ele trouxe a ATF e deixou nossa vida miserável por alguns meses. Raven teve que mascarar os livros um pouco mais em silêncio por um tempo, e nós tivemos que parar todas as corridas de proteção para a Costa Leste por um tempo. Eles acabaram de recomeçar a proteção algumas semanas atrás. — Sinto muito sobre o bar — ela sussurrou, sua mão macia tocando meu peito por um momento antes de cair a seu lado. — Estou mais triste sobre Raven. Ela levou uma surra. Teve alguns ossos quebrados e quase perdeu Max no processo. Flick fechou os olhos. — Deus. — Sua voz tremeu. — Quando os investigadores do senador confirmaram que a morte de seu filho foi um acidente causado por si mesmo, o ATF parou e disse ao senador para nos deixar em paz. As coisas têm sido calmas desde então, mas eu tive um mau pressentimento sobre isso. Como esse pacote estava endereçado a Hawk, me faz pensar se é o senador trabalhando com os caras de Santino. Ela assentiu com a cabeça. — Sim, eu vejo o seu ponto. Mas você ainda tem que ligar para Ciro. — Baby, eu não tenho o direito de ligar. Já não faço mais parte do clube. Aquilo fez seus olhos se estreitarem em mim. — Por que diabos não? — Ela retrucou, fazendo com que todos os olhos virassem para nós. Eu arrastei uma mão sobre meu rosto. — Porque eu prometi que iria sair. Eu quero você mais do que o clube. Eu fiz isso para você, para nós. Ela revirou os olhos. — Não foi o clube que ficou entre nós, Jet. Foi Westcliffe e até mesmo a maldita Bubbles. Além disso, seu orgulho teimoso. Tudo que eu queria era você e tudo que você parecia querer era sua liberdade. — Ela soltou um longo suspiro e deu um pequeno passo mais perto, seus olhos suavizando. — Não fique longe do clube por minha causa. Não quero

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isso. Eu nunca pediria isso de você. Eu sei que ele é uma parte de você e pedir isso a um de vocês seria como pedir para desligar parte de si mesmo. A maior parte. Eu amava você todo, Jet. Mesmo a parte que era o presidente figurão, o motoqueiro alfa. — Ela me deu um pequeno sorriso triste. — Talvez especialmente pelo presidente, motoqueiro alfa. Meu coração se contraiu com isso, mas tropeçou na palavra “amava”. Tipo, não mais? E se eu realmente tivesse matado tudo? Eu sabia que não era algo que eu não merecia depois do jeito como a tratei no passado, mas danese tudo para o inferno se não doía. — Quero que você seja parte do clube de novo, Jet. Eu balancei minha cabeça. — E eu quero que você seja minha. Quando eu conseguir o que quero, talvez você consiga o que quer. — Meu tom saiu mais duro do que eu queria, mas eu ainda estava doendo sobre a parte do “amava”. Ela bateu o pé – bateu mesmo – e os lábios fizeram beicinho da maneira que eu lembrava tão bem de quando ela era uma garotinha. Era ruim aquilo ter me excitado? Eu não sabia direito e não dava a mínima. Meu pau estava latejando quando olhei para ela. — Você tem que voltar. Eu preciso que você ligue para Ciro. Minhas sobrancelhas levantaram. — Como eu disse, querida, vou te dar o que você quer quando eu conseguir o que eu quero. — Eu tinha certeza de que eu já tinha provado a ela que eu não estava acima de usar chantagem emocional para conseguir o que eu queria. Eu faria qualquer coisa para ter Flick de volta. Qualquer coisa. Ela bateu o pé novamente e cruzou os braços sobre o peito. Meu olhar caiu instantaneamente para os seios dela. Ah, merda. Ela não estava usando sutiã. Porra. — Jet! — Ela virou-se para mim e eu forcei meu olhar de volta para seus olhos. — Por favor, só faça isso por mim. — Claro — eu prometi com um aceno de cabeça — assim que eu conseguir o que quero. — O que exatamente você quer, então? — Ela trincou.

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— Você. Claro e simples. Eu quero que você volte. Para a minha vida, nos meus braços, na minha cama. — Por meio segundo eu vi seus olhos brilharem com uma necessidade ardente que combinava com a minha antes de ela baixar os cílios e me trancar para fora. Ela apertou sua mandíbula e a vi engolir em seco várias vezes antes de ela balançar a cabeça. Meu coração parou. — Isso é um sim? Ela soprou um suspiro longo e duro, fazendo com que suas narinas incendiassem de uma forma sexy como o inferno que fez o meu pau doer muito mais. — Sim — ela murmurou. Eu não pude manter minhas mãos para mim por um segundo. Agarreia pela cintura e a puxei contra meu corpo latejante. — Flick — eu rosnei quando abaixei a cabeça e rocei os lábios sobre ela. Tão desesperado quanto eu estava, eu mantive o beijo suave e rápido, sabendo que agora não era o momento. Se eu aprofundar o beijo naquele momento, eu sabia que ia acabar jogando Flick para cima do meu ombro e encontrar a primeira cama para transar com ela até que ela não pudesse mais suportar. Levantando minha cabeça, eu olhei para ela através dos meus cílios. Seus lábios estavam úmidos do nosso beijo e seus olhos estavam fechados, mas havia um olhar de contentamento no rosto, apesar de como ela estava entusiasmada sobre concordar em ser minha novamente. — Eu tenho coisas para fazer, então, eu acho. — Eu deixei cair mais um beijo rápido em seus lábios antes de liberá-la e pescar meu telefone do meu bolso da frente.

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Capítulo Seis

Gracie Eu mal podia ver a estrada através das minhas lágrimas. Soluço atrás de soluço sacudiu meu corpo inteiro. Eu estava desviando de tudo, mas não me atrevi a parar até que começasse a trabalhar, ou eu sabia que não chegaria no escritório naquele dia. As coisas estavam ótimas com Hawk. Eu me apaixonava mais e mais por ele todos os dias. Não foi até a noite anterior, quando Jet trouxe Flick para casa, que eu vi uma nova mudança que me fez olhar para ele um pouco melhor. Eu não tinha ideia do por que ele era tão hostil contra a outra mulher, mas desde que ele pôs os olhos sobre a beleza que seu irmão trouxe para casa eu tive um caso grave de ciúme. Mesmo quando ele estava afiando a língua para Flick, eu senti algum tipo de vibrações estranhas vindo dele que me fizeram ficar verde de inveja, pela primeira vez desde Hawk se tornou meu. Todos os pensamentos ciumentos se foram há tanto tempo, já que ele passava a maior parte da noite me fazendo chorar de prazer pelo qual me corpo se tornou viciado. É claro que eu tinha dormido demais e estava atrasada quando corri para a porta naquela manhã. Eu entrei no velho Chevelle que Hawk praticamente me deu. Quando mencionei a compra de um meu, ele fez todo o tipo de bicos, então não mencionei isso de novo e continuei a dirigir seu velho carro. Eu mal liguei o motor quando vi o pacote do lado da moto dele. Querendo mais um beijo e sim, talvez beijá-lo na frente de Flick novamente porque o ciúme estava de volta – eu sai e entrei com o pacote. Era bastante leve e endereçado a ele e eu sorri para mim mesma quando abri a porta da cozinha.

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Hawk estava olhando tão duro para Flick que não notou que eu estava ali com o pacote. — Sim, Gracie trabalha para Jenkins. Ela é a protegida dele. Ele é o mentor dela. Ela vai assumir quando ele se aposentar. — Então, quem está pagando por isso? — Flick perguntou em uma voz calma, apesar da frieza que o olhar de Hawk Hannigan estava atirando para ela. — Você esquece que eu conheço Jenkins, Hawk. Ele não tem um osso generoso em seu corpo. Então, quem está pagando por isso? Você ou o clube? Eu endureci com seu raciocínio e minha própria raiva começou a subir. Como ela ousa entrar aqui e fazer suposições como essa? Jenkins era um grande advogado e eu estava aprendendo muito mais com ele como meu mentor do que eu teria aprendido apenas na faculdade de direito. Eu já estava avançando muito além de todos os meus outros colegas de turma do segundo ano e até mesmo alguns de meus professores não estavam tão atualizados sobre direito penal como eu. Flick ficou muito tempo fora se ela achava que Jenkins não me ajudaria e — Eu. Essa única palavra cortou através dos meus pensamentos de raiva e continuou, até chegar no meu coração. Não. Não. Não. Era mentira. Tinha que ser. O olhar no rosto de Hawk me disse que não era. Flick estava certa. Ela obviamente conhecia meu homem melhor do que eu, se ela acabou de chegar e já o dissecou em questão de minutos. Eu não tinha certeza do que doeu mais: Flick conhecer Hawk tão bem e conseguir ver através de sua besteira melhor do que eu, ou ele ter agido pelas minhas costas – me fazendo de idiota. Ele mentiu para mim e têm mentido desde o início do nosso relacionamento. Com um suspiro cheio de dor que eu fui incapaz de conter, Hawk finalmente levantou a cabeça e me olhou. Diante dos meus olhos seu rosto empalideceu e se eu estava segurando a esperança de que ele estava apenas tentando marcar pontos com Flick, ela evaporou ali mesmo. Lambi meus lábios repentinamente secos e tentei encontrar a minha voz. — Eu... achei isso atrás das motos. É para você, Hawk... Eu achei que fosse algo importante e não queria que você perdesse. — Minhas mãos

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tremiam quando depositei o pacote no chão antes de me virar e correr de volta para o carro. — Gracie! — Eu pensei ter ouvido Hawk chamar, mas não podia ter certeza. Agora, quando eu estacionei no lugar de sempre fora do escritório de Jenkins, levei alguns segundos para decidir o que fazer. Mágoa e traição misturada a uma raiva que estava começando a secar meus olhos inundados de lágrimas estava queimando através de mim. Eu queria bater em alguma coisa. De preferência, os dois homens que me fizeram sentir como a idiota que eu obviamente era. Eu ouvi o estrondo de uma moto poderosa ao longe e peguei minha pasta antes de sair do carro e correr para o escritório. Samantha estava em sua mesa com um telefone no ouvido. Ela começou a sorrir quando me viu, mas o sorriso logo se transformou em preocupação com a visão de meu rosto coberto de lágrimas. — Qual o problema? — Ela perguntou, se afastando do telefone no que parecia ser o meio da conversa. — Jenkins está aí ainda? — Perguntei, passando por ela sem uma explicação. Samantha acenou com a cabeça. — Em seu escritório. — Bom — eu murmurei enquanto eu corria pelo corredor para o escritório do meu chefe. Antes que eu pudesse chegar à porta fechada, ouvi o leve zumbido da frente do escritório que nos alertou que a porta havia sido aberta. Não me preocupei em bater na porta de Jacob Jenkins antes de entrar, logo quando ouvi Samantha exigindo saber o que estava acontecendo do recém-chegado que eu só poderia assumir ser Hawk. A cabeça de Jenkins virou quando a porta bateu atrás de mim. Suas sobrancelhas foram rápidas a seguir quando ele viu meu rosto. — Gracie, qual o problema? — A preocupação que escureceu seus olhos me fez duvidar do que Flick disse por apenas um segundo. Foi tudo mentira? O vínculo que eu desenvolvi com este homem que foi a primeira figura de um pai de verdade que eu já tive foi um truque para me deixar feliz? Todo o carinho que ele

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mostrou foi apenas porque Hawk estava pagando por isso? Eu não sabia e aquilo me magoava tanto quanto a traição de Hawk. Joguei minha pasta em uma das duas cadeiras em frente à mesa enquanto eu olhava para ele. — É verdade? Hawk está pagando pelo meu curso? Ele está pagando para mim trabalhar para você? Sua preocupação foi substituída por um olhar que eu vim a conhecer bem neste homem. Era o rosto de negócios. Significava que ele estava entrando no modo de advogado e meu coração – que parecia se quebrar no caminho para o trabalho – pareceu estilhaçar. — Quem lhe disse algo assim? — Então é verdade — eu murmurei mais para mim do que ele quando me virei para olhar para fora da janela que dava para o estacionamento, não querendo que ele visse como eu estava esmagada. — Gracie A porta se abriu e Hawk invadiu a sala. Olhei para ele por apenas um segundo, vi seus olhos selvagens e ombros tensos, e rapidamente virei meu olhar de volta para o estacionamento. — Não se atreva a dirigir a porra do carro daquele jeito de novo — ele gritou para mim. Senti seus braços segundos mais tarde, quando ele agarrou meu pulso e me puxou para encará-lo. — Quase enlouqueci vendo você, Gracie. Você ficou a centímetros de atingir a lateral de um caminhão de lixo, porra. Eu fiquei? Eu não conseguia lembrar. A viagem foi um borrão pra dizer muito e eu não tinha lembrança de um caminhão de lixo. Seu toque me queimou, fazendo meu corpo me trair querendo muito mais do que esse pequeno toque. Poucas horas antes, eu estava perdida neste homem, tão perdida quanto ele esteve em mim. Eu puxei meu braço fora de seu domínio e cruzei os braços sobre o peito, esperando me segurar firme o suficiente. Eu não perderia mais de mim mesma. Esse era o problema com esperança, no entanto. Ela era enganosa, oferecendo algo precioso e levando tudo embora com apenas algumas palavras de uma língua afiada. — O que diabos está acontecendo, Hawk? — Jenkins exigiu, ainda sentado atrás de sua mesa. — Apenas um mal-entendido — garantiu Hawk Jenkins e eu bufei em descrença. — Você pode nos dar alguns minutos para resolver isso?

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O fato de que o advogado não disse uma palavra sobre usarmos seu escritório quando eu tinha o meu não me passou despercebido. Eu não aprendi em primeira mão que o clube era um grande negócio nesta cidade? Não foi apenas por causa de sua reputação que eu tive que ajudar Jenkins a falar por alguns membros do MC durante o último ano. Foi a reação de toda a cidade quando o bar dos Hannigans foi queimado. Mesmo os cidadãos que normalmente atravessavam a rua para evitar os membros do MC ofereceram suas condolências pela perda do legado de seu pai. Mesmo que o bar fosse uma espécie de território proibido para algumas das pessoas em Creswell Springs, eles respeitavam o suficiente para querer oferecer algumas palavras de compaixão. Eu me virei para encarar a janela mais uma vez. Meu cérebro mal teve tempo de perceber e pensar sobre a van atrás da lixeira antes de Hawk me virar para olhar para ele novamente. Desta vez, ele foi gentil, seu toque suave quando ele levantou meu queixo com o polegar e o indicador. Um pouco da selvageria desapareceu de seu olhar verde e eu engoli em seco quando uma nova onda de dor fez meu coração apertar. Como eu pude ser tão cega? Eu não queria ver que minha vida no ano passado foi construída sobre uma mentira? Eu me senti uma idiota e não podia evitar me perguntar se era assim que minha mãe sentia quando ela percebeu exatamente o tipo de homem com quem se casara. Tudo estava perfeito, ou tão bom quanto poderia parecer. Eu tinha um homem que pareceu me adorar em casa todas as noites e sua família havia se tornado a minha. O tipo de família que eu sempre doía para ter. Uma que moveria céus e terra para proteger aqueles amavam. Eu me senti segura e amada. Ultimamente, eu até pensei que Hawk estava pronto para levar as coisas adiante. Ele esteve dando dicas aqui e ali sobre um futuro que me fez sonhar com ele me pedindo em casamento. Agora eu nem sabia se tínhamos um futuro juntos. Quando esse pensamento correu pela minha cabeça, eu fechei meus olhos e meu coração praticamente parou. Eu amava demais esse homem. Ele era dono da minha própria alma. Como eu poderia viver sem ele?

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— Grite para mim, Gracie. Grite comigo e tire do seu sistema. Não deixe apodrecer. Com essas palavras murmuradas, meus olhos se abriram novamente. O olhar em seu rosto era de pura tortura e eu pensei ter visto medo em seus olhos. — Gritar não vai mudar nada. — Eu de todas as pessoas deveria saber disso. Gritar não funcionou para os meus pais. Era parte do problema. Gritar sempre levava aos espancamentos e, eventualmente, à morte de minha mãe. Como se ele pudesse ler minha mente, os olhos de Hawk escureceram. — Eu nunca levantaria a mão para você, baby. Inferno, eu sabia disso. Eu nunca tive que me preocupar com esse grande motoqueiro alfa. Ele podia assustar alguns homens crescidos, mas não a mim. Ele largou a mão do meu queixo e gentilmente segurou minhas duas mãos nas dele, puxando-as contra seu peito. Com a minha mão pressionada contra seu peito, eu pude sentir seu coração acelerado e me forcei a olhar para ele. Ele estava com medo? O medo em seus olhos parecia real o suficiente ... Não, não podia ser. Nada assustava Hawk. — Por favor, Gracie. Fale comigo. Eu sinto que você está me deixando de fora e isso me apavora. — Meus olhos se arregalaram com sua confissão. Eu não achei que algo poderia assustar aquele homem. Ele era tão forte, tão intocável às vezes. — Eu não posso te perder, baby. Eu não posso. Eu amo você. Porra, você me possui. Eu me afastei dele quando minha raiva aumentou. — Obviamente você me possui também. Em mais de um sentido. — Ele sabia o quanto significava para mim encontrar meu próprio caminho. Que eu não queria estar em dívida com ninguém. Era algo que minha mãe fez e eu me recusava a fazer o mesmo. Eu não acabaria como uma vítima como ela se tornou do meu pai. — Eu não sou seu dono. Aquele dinheiro ia apenas ficar em uma conta bancária em algum lugar empoeirado. — Ele enfiou as mãos nos bolsos das calças de brim e encolheu os ombros enormes. — E não era como se o dinheiro não fosse seu, baby. Aquele dinheiro é seu desde que você se tornou minha senhora.

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Eu vacilei, odiando ser chamada de senhora. Eu não queria ser sua senhora. Eu queria ser sua esposa. Não que eu fosse dizer isso a ele. — Você sabia o quanto significava para mim, Hawk. Eu queria ser capaz de fazer isso por conta própria. Minha mãe teve de contar com meu pai para cada centavo que ela tinha. Eu não queria seguir seus passos. Ele se afastou como se eu realmente o tivesse atingido. — É assim que você vê? É assim que eu faço você se sentir? Você está nos comparando com os seus malditos pais? Eu balancei minha cabeça. — Claro que não. Eu só quero ser capaz de fazer isso sozinha. — Você está fazendo isso sozinha. Você está trabalhando por cada centavo que recebe. Querida, você é uma mulher incrível e será uma advogada foda. Tudo por sua conta. Quem se importa com quem está pagando quando você está merecendo? — Ele suspirou, como se esgotado. — Mas se você continuar comparando tudo o que faz com o que aconteceu com sua mãe, e tudo o que podemos fazer com nosso relacionamento... — Ele balançou a cabeça. — O que eu tenho que fazer para provar a você que eu não sou ele, Gracie? Era a minha vez de me afastar. Era isso que eu estava fazendo? Eu fiz uma careta enquanto me apoiava na mesa de Jenkins. Talvez eu venha fazendo comparações sem perceber. Na minha necessidade de não me tornar a vítima que minha mãe foi, eu estava sabotando nosso relacionamento. Eu não queria comparar Hawk com Craig Morgan. Eles eram tão diferentes quanto a noite e o dia. Hawk era um motoqueiro assustador que escondia o grande cara que ele é, ao passo que meu pai era um homem bonito que escondia o monstro que ele realmente era. Meu queixo tremeu, e eu finalmente levantei a cabeça para olhar para ele mais uma vez. — Ainda assim você mentiu para mim. — Sim, menti, e eu sinto muito, baby. Eu sabia que se eu não fizesse, você não aceitaria o dinheiro e eu não deixaria a mulher que eu amo se matar em dois empregos para conseguir seus sonhos. — Ele me deu um sorriso terno. — Não deixe isso entre nós, Gracie. Não vou esconder mais nada de

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você, se você só colocar o orgulho de lado e aceitar a vida que posso lhe oferecer. Eu fiz uma careta, percebendo que foi meu orgulho que havia sido mais machucado do que qualquer outra coisa. Orgulho ferido misturado com o retorno do ciúme que eu estava sentindo antes quando vi Hawk e Flick se encararem fez uma fatia do meu coração sangrar por dentro. — Eu amo você, Gracie. Um nó obstruiu minha garganta e eu tive que engolir várias vezes antes de poder falar. — Eu-eu também te amo, Hawk. Braços fortes envolveram minha cintura e me puxaram contra seu corpo duro. Fechei os olhos e soltei um suspiro profundo quando deixei seu toque curar todas as peças quebradas do meu coração. Seu perfume encheu o meu nariz e eu não pude deixar de tremer com uma necessidade que só este homem causava em mim. — Quando você chegar em casa hoje à noite, trancarei nosso quarto — ele rosnou contra a minha orelha, me fazendo tremer mais uma vez. — Porra, eu pensei que tinha perdido você. Eu balancei minha cabeça contra seu peito. — Isso não teria acontecido. Só porque eu estava chateada não significava que eu teria deixado você. — Só o pensamento de terminar as coisas com ele me fez sentir rasgada ao meio. Eu não poderia viver sem ele. O ronco de um motor pela janela me confundiu. Hawk e eu levantamos a cabeça para olhar para a fonte. Eu vi a van passar através das cortinas abertas, e fiz uma careta quando peguei um vislumbre de um homem usando uma máscara de esqui. Estava quente hoje. Para que diabos alguém precisa de uma máscara de esqui? Essa pergunta mal teve tempo de pairar pela minha cabeça quando Hawk estava me empurrando para trás da mesa. Tiros soaram pelo ar e senti uma dor aguda no meu braço direito quando Hawk agarrou minha cintura e jogou nós dois no chão, rolando até que ele cobriu meu corpo inteiro com o dele. Seu rosto estava contorcido de dor, sua respiração ofegante enquanto ele olhava para mim. — Você está bem?

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— Eu estou bem — corri para assegurar. Meu braço doía e eu não sabia se tinha levado um tiro ou se foi apenas um pedaço de vidro que me pegou. Certo, então eu não estava preocupada comigo. — Você? Ele não respondeu e seus olhos começaram a baixar, a dor retorcendo o seu rosto e fazendo lágrimas queimarem meus olhos. Ele não tinha que dizer. Eu soube que ele foi baleado apenas por esse olhar. O sangue empapando sua camiseta e a minha só confirmou isso. — Hawk! — Eu chorei quando a respiração pesada no meu ouvido não soava tão dura. — Não feche seus olhos. Por favor. Fique comigo. Não feche seus olhos. — Amo você. — Sua voz era arrastada. Meu grito foi abafado pelo som de pneus guinchando fora da janela do escritório. Segundos depois, o prédio inteiro tremeu quando a van se chocou com a sala pela janela. Era como se toda a sala explodisse com a força. Mais vidro quebrou, tijolos saíram voando como mísseis e então a sala não era nada além de uma tempestade de poeira, sufocando o pouco fôlego que ainda tinha em mim. Hawk era um peso morto em cima de mim agora e lágrimas caíram dos meus olhos como lanças quentes quando eu rezei para que fosse porque ele estava apenas inconsciente e não... morto. Com o peito pressionado contra o meu próprio, eu mal podia sentir sua pulsação fraca e eu só queria segurá-lo enquanto rezava para que ele não morresse. Ouvi uma porta abrir e pés pesados correndo em nossa direção, mas o meu medo era apenas pelo homem que eu amava. — Hawk — eu sussurrei, lutando contra um soluço de puro terror. — Eu te amo. Por favor, não me deixe. Dois pares de pés pararam bem perto da minha cabeça e eu não pude conter meu gemido enquanto rolavam o corpo imóvel de Hawk de cima de mim. Dois homens em roupas e máscaras de esqui escura me levantaram. Lutei contra o aperto com tudo o que eu tinha. Mas eles devem ser especialistas em tirar as pessoas contra a sua vontade, porque me manusearam com confiança, fazendo minhas tentativas de me soltar parecerem patéticas.

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Sabendo que eu era impotente, eu tentei olhar para Hawk de novo, querendo que a última coisa que eu visse fosse o homem que eu amava. Um soco no queixo fez minha cabeça girar. Meus dentes apertaram e eu mordi a língua, fazendo com que sangue inundasse minha boca. A dor na minha mandíbula era tão intensa que me deixou tonta e eu fui impotente quando um dos homens me jogou no ombro de forma fácil e me deixou cair no chão duro da van. O homem que me pegou pulou na van, chutando minhas pernas para fora do caminho quando ele disse algo que pareceu ser italiano para minha mente atordoada. Minha coxa latejava onde ele me chutou e eu pensei ter ouvido sirenes à distância, mas não podia ter certeza já que o motorista saiu tão rápido que o cheiro de borracha queimada me sufocou. — Amarre-a. — O motorista falou em Inglês com forte sotaque desta vez. — Cubra seus olhos. Eu deslizei para trás, o medo fazendo meu estômago revirar enquanto eu tentava fugir do homem que tinha me chutado. Eu mal percorri alguns centímetros quando ele me chutou de novo. Eu vi estrelas por meio segundo antes da escuridão me engolir toda.

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Capítulo Sete

Felicity — …ela está bem. Eu estava apenas metade ouvindo Jet falar com Ciro. Estávamos de pé na cozinha de Willa e Spider enquanto ele conversava com o meu primo, mas eu não conseguia prestar atenção no que Jet estava dizendo. Minha cabeça estava virada de cabeça para baixo após as últimas vinte e quatro horas. Apenas um dia antes, as coisas já estavam mais loucas do que eu precisava. Do que eu queria. Hoje era uma nova loucura fodendo a minha vida, mas eu não era necessária, e depois das boas vindas de Hawk eu soube que não era querida lá. Eu não sabia o que Jet estava pensando me trazendo de volta, mas tudo o que eu queria era estar de volta naquele ônibus estúpido que eu chamei de casa o verão todo com Jagger e Mia e o resto da minha família recém-descoberta. — Até mais então. Eu levantei minha cabeça quando Jet agarrou um de seus celulares descartáveis e se virou para mim. — Ele está vindo em pessoa? — Eu perguntei mais para quebrar o silêncio do que por precisar saber. Claro que Ciro viria em pessoa. Não só porque eu era da família e isso agora me afetava, mas porque precisávamos lidar com a família Santino, e Ciro era bom em lidar com esse tipo de merda. Jet acenou com a cabeça uma vez. — Deve chegar a noite. — Bom. — Eu passei meus braços em volta de mim e olhei para fora da janela da cozinha novamente para que eu não tivesse que encontrar seu olhar. — Flick, se você está tendo segundos pensamentos sobre mim voltar para o clube, me diga agora.

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Minha cabeça virou com aquilo. Seus olhos verdes estavam escuros com uma emoção que há muito tempo eu não precisava decifrar nesse homem. Eu alguma vez consegui decifrar? Eu honestamente não sabia. Eu não sabia por que ele pensava que estar no clube fazia diferença para mim. O clube nunca me incomodou. O que me irritava eram as mulheres me tentando a fazer a única coisa que eu sempre prometi a mim mesma que nunca seria. Minha mãe. Eu me apaixonei por Jet Hannigan. Isso incluía o grande motoqueiro fodão, presidente do clube. Eu gostava de como ele era um alfa. O quão possessivo ele foi por mim naquela vez. Naquela época eu não tive nenhuma dúvida de quanto ele me queria. Mas eventualmente, mesmo aquilo se tornou um problema entre nós, porque me querer não era o mesmo que me amar, e tudo o que eu sempre quis foi seu amor. Tristemente, eu sabia que se ele tivesse me dado um pouco de si mesmo, eu teria aturado qualquer coisa. — Gosto mais de você no clube — eu assegurei depois de uma pequena pausa e então virei minha cabeça para trás para olhar pela janela mais uma vez. Atrás de mim, ouvi um longo suspiro, mas ele não falou. Seu telefone começou a fazer barulho, um descartável diferente do que ele tinha usado a poucos minutos atrás. — Sim? Uma súbita tensão encheu a cozinha. Eu não precisava ouvir a rouquidão de sua voz para saber que alguma coisa aconteceu. — Ele está vivo? Meu coração parou com essas três palavras e eu estava ao lado dele no instante seguinte. Seu rosto estava duro, mas seus olhos estavam mais selvagens do que eu já tinha visto nele. Segurei o braço livre e ele baixou os olhos, travando olhares comigo e eu soube: era ruim. Quem quer que estivesse do outro lado estava falando e eu pude apenas entender que era sobre um homem. Suas palavras estavam misturadas em sua pressa para falar, mas Jet parecia segui-lo bem o suficiente, dada a forma como os ombros de repente caíram em relevo. — Você fez bem, Jenkins. Nós já vamos. Ele fechou o telefone sem dizer uma palavra para o homem e esfregou sua mão agora livre sobre o seu rosto. — Hawk levou um tiro.

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Tudo dentro de mim congelou. Não. Era mentira. Tinha que ser. Nada podia tocar Hawk. Ele era muito teimoso, muito intratável. A porra de um Hannigan. Sua recepção fria quando cheguei, seu jeito de jogar farpa atrás de farpa em mim na noite anterior e naquela manhã não importava naquele momento. Eu sempre amei o idiota teimoso como um irmão e ele foi o único para quem eu pude me voltar depois de perder meu bebê. — Ele está vivo? — Dois nas costas. Ele perdeu muito sangue, mas nada importante foi atingido. Jenkins disse que ele está em cirurgia agora. Eu tenho que contar aos meninos e tirar Raven daqui. — Seus braços envolveram minha cintura tão de repente que me surpreendeu. Ele enterrou seu rosto no meu pescoço por apenas um segundo, mas parecia que ele estava tentando tirar força de mim. E de bom grado eu dei. — Fique com Willa e as crianças. Não saia daqui. Vou mandar alguém para vigiar a casa. — Espere! — Agarrei-me mais apertado quando ele começou a se afastar. — E quanto a Jenkins? Ele está bem? E Gracie? O rosto de Jet apertou. — Eles pegaram Gracie. Ah, merda. — O senador? — Porra, querida. Nesse ponto, eu não sei o que diabos está acontecendo ou por que. — Ele roçou os lábios na minha testa, me fazendo querer segurar ainda mais por apenas um momento, pois parecia tanto com os velhos tempos. Depois de apenas alguns segundos ele se afastou, o rosto definido em linhas duras que me diziam que ele estava no modo clube. O olhar em seus olhos era mortal e eu tremi com uma mistura de medo e um tiro de luxúria incandescente. — Cuidem-se até eu voltar. Willa tem os números se precisar de mim. Eu o observei ir, já rezando silenciosamente por meu amigo. Hawk tinha que estar bem. Tinha que estar. Da sala de estar, ouvi Raven dar um grito quando Jet contou a ela sobre Hawk. Segundos depois a porta da frente bateu quando irmão e irmã saíram. Tentei me recompor antes de ir para a sala para ajudar Willa com as crianças.

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Lexa estava brincando no chão em frente à televisão, enquanto Willa estava no sofá olhando para ela. Max saltou no colo, e ela ofereceu ao bebê um pequeno sorriso enquanto parecia lutar contra as lágrimas. Sentei ao lado dela e estendi a mão para o bebê que estava ficando mal-humorado por não ter toda a atenção que queria. — Bem, seja bem-vinda — disse Willa com uma triste desculpa para um riso. — Que boas-vindas, hun? Eu dei um beijo na cabeça de Max, escondendo minha careta em seu cabelo. — Sim. Seu olhar voltou para Lexa. — É natural querer agarrá-la e correr tão rápido e tão longe quanto possível para longe de toda essa merda? — Sim — eu sussurrei. Ela assentiu com a cabeça e se mexeu de modo que suas pernas estavam debaixo dela no sofá. — É o que eu quero fazer agora, mas eu sei que Spider só vai largar tudo e ir com a gente. Ele é necessário aqui, então aqui eu vou ficar. — Eu não vou dizer que estou surpresa por você ter acabado com Spider. Estou apenas curiosa de como você conseguiu que ele casasse com você. — Eu levantei Max alto e o coloquei nas minhas coxas, repetindo até que ele riu, mas mantendo a atenção em Willa. Eu conhecia Spider a minha vida toda. Ele nunca se importou muito com qualquer mulher e por isso era compreensível eu estar curiosa por ele ter se casado quando eu estava longe. Seus lábios tremeram para cima e ela finalmente cedeu e deixou-se sorrir. — Ele é louco por mim, eu acho. — Eu tenho certeza que Rave lhe deu esse discurso antes, mas vou colocar meus dois centavos. Machuque ele e eu te mato. — Spider era um dos meus amigos mais próximos e eu não hesitaria em rasgar o coração dessa garota se machucá-lo. — Raven disse a mesma coisa. Não precisa se preocupar, no entanto. Eu não planejo feri-lo ou deixar que ele vá. Ele está preso comigo. — Seu sorriso permaneceu por mais alguns segundos antes de seu olhar ir direto para as costas de sua sobrinha.

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A porta da frente praticamente saltou aberto e nós duas pulamos, percebendo que era Spider. Ele deve ter corrido porque brilhava com suor, mas não estava respirando com dificuldade. — Faça as malas, Willa. Vamos nos mudar para o clube até que essa merda esteja resolvida. — Mas eu pensei que havia um pacote deixado lá também? — Eu lembrei. Ele balançou sua cabeça. — Não era uma bomba. É seguro e todo mundo está indo para lá. Jet quer você e as crianças lá o mais rápido possível. Willa levantou e correu até as escadas. Eu sentei lá com Max, ainda mantendo-o distraído da tensão saindo de Spider. Quando Willa voltou com um saco de ginásio jogado por cima do ombro, Spider nos tirou da casa pela garagem, onde uma SUV estava estacionada. Os dois assentos já arrumados me surpreenderam, mas não questionei quando amarrei Max no menor, enquanto Willa colocava Lexa no outro. A viagem para o clube foi curta porque Spider estava dirigindo a pelo menos 10 quilômetros acima do limite. Os portões do antigo armazém que foi transformado no clube do MC muito antes de eu nascer estavam fechados e dos irmãos do MC montavam guarda na frente deles. Até acima do portão havia mais três com metralhadoras em suas mãos. Spider parou na frente da cerca e buzinou duas vezes antes de um dos irmãos abrirem o portão para nós. Spider fez um sinal para eles quando atravessou e estacionou na porta da frente do clube. Raider estava em pé dentro da porta com duas fêmeas diferentes ao lado dele. Uma eu reconheci imediatamente como Quinn, mas a garota ao lado dela era nova para mim. Enquanto eu esperei por Spider abrir a porta para mim já que as travas para as crianças estavam acionadas, eu observei as duas mulheres. Não era um segredo para ninguém que Quinn sempre foi apaixonada por Raider, mas todos sabiam que Raider não era um tipo de cara de uma mulher só. Quinn não era uma das ovelhas do clube, ao contrário de suas irmãs, e tinha desistido de Raider muito antes de eu me afastar, por isso fiquei surpresa em vê-la ali.

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— Alguém me diz o que está acontecendo? — Ouvi ela gritar para Raider quando ela olhou para ele. — Colt chamou e me disse para vir para o clube e para esperar uma estadia longa. Por que estamos em confinamento? O que está acontecendo? — Você trouxe uma muda de roupa? — Raider questionou, ignorando suas perguntas. — Se não, eu mando alguém parar em sua casa para pegar roupas e qualquer coisa que você precise. — Quando ela continuou a encarálo, ele virou a cabeça para olhar para a outra mulher em pé ao lado dele. — Kelli? Mesmo enquanto eu soltava Max do assento do carro, eu estava olhando a nova garota. Ela era mais jovem do que Quinn por pelo menos alguns anos, mas a forma como as duas estavam próximas me disse que eram protetoras uma da outra. Kelli era linda com seu rosto livre de maquiagem, corpo alto e curvas, mas Quinn? Ela era linda de morrer e desperdiçando seu amor com o idiota na frente dela. — Eu joguei roupas o suficiente lá para mim e para Quinn. Se você puder apontar para onde iremos ficar, eu gostaria de dormir um pouco. Eu mal tinha fechado os olhos quando Colt ligou. — Sua voz tinha uma rouquidão que me fez pensar se ela fumava ou se sua voz era naturalmente sexy. Raider deixou seu olhar voltar para a outra mulher por menos de um segundo antes de voltar para Kelli. — Ela conhece o caminho. Suas irmãs praticamente viveram aqui. Quinn se encolheu como se tivesse sido atingida e eu tinha que me lembrar para não apertar o bebê em meus braços. Aquele maldito. Raider era um idiota. Não me interpretem mal, eu o amava como um irmão, mas ele era um maldito babaca com qualquer mulher que ele não considerava família. O olhar cansado de Kelli virou geleira. — Sim. Tenho certeza de que elas vivem. Chupar pau é o que essas vadias fazer melhor. Pena que não têm um cérebro em suas cabeças imbecis. Tenha cuidado, Raider. Ouvi dizer que é contagioso... Oh espere. Muito tarde. Você já é um idiota fodido. — Ela pegou o braço de Quinn e correu pela porta antes que eu pudesse alcançá-las. — Quinn — Eu chamei para impedi-la de desaparecer no hospício que eu sabia que o clube estava se tornando. Eu estive em confinamento muitas

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vezes no passado e sabia exatamente o que esperar quando entrei por aquela porta. Todas as ovelhas provavelmente estavam correndo para deixar tudo pronto para as famílias que estariam conosco durante esse tempo. Era seu trabalho cuidar de nós; cozinhar e limpar... e tudo aquilo que os irmãos do MC pudessem precisar. Quinn virou e seu rosto pálido e abriu um sorriso quando me viu correndo em sua direção. — Flick. Deus, é tão bom ver você. — Tomando cuidado com o bebê em meus braços, ela me abraçou forte. — Quando Colt me disse que você realmente voltou para casa com Jet, eu não podia acreditar. Você era inteligente, querida. Você saiu. Eu só desejo poder fazer isso. — A última palavra foi dita praticamente sob sua respiração, mas eu ainda assim ouvi. — Vamos apenas dizer que eu não estou exatamente de volta em meus próprios termos — Eu assegurei e mudei Max de lado em meu colo para que eu pudesse ficar mais perto dela. Virei o meu olhar curioso para Kelli. — Este é Kelli — Quinn introduziu quando ela viu meu olhar curioso para a amiga. — Ela é minha nova colega de quarto. Meus olhos se arregalaram, não que Kelli fosse colega de quarto de Quinn, mas pelo fato de que Quinn tinha finalmente saído da casa de sua mãe e para longe de suas irmãs mal-intencionadas. Meu sorriso era quente quando ofereci minha mão a Kelli. — Oi, Kelli. Você é responsável por nossa Quinn ter seu próprio lugar? Porque se você for, eu poderia beijá-la. Kelli me deu um sorriso apertado, raiva ainda fervendo em seus olhos depois de ter que lidar com Raider. — Não fui eu. Colt conseguiu para ela e depois ela foi a procura de uma colega para ajudar com as contas. Foi amizade à primeira vista. Enquanto todo mundo estava correndo por aí fazendo o que precisava ser feito, Raider estava a poucos passos de distância, observando Quinn e franzindo a testa de Quinn para Kelli e de volta. Eu atirei-lhe um olhar frio. Qual o problema dos homens Hannigan em tratar as mulheres que os adoravam como merda? — Você não tem coisas que precisam de atenção? — Uma tonelada de merda — ele confirmou. — Mas estou muito curioso para fazer ainda. — Ele se afastou da porta onde ele estava de pé e mudou

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seu olhar para trás e para frente de Quinn para Kelli. — Na cama de quem Colt dormiu ontem à noite? Sua, Kelli? Ou na de Quinn? Qualquer pessoa em sã consciência saberia que Colt nunca dormiria com Quinn. Aqueles dois eram melhores amigos. Ele iria protegê-la até o último suspiro, mas nunca a tocaria. Eu sabia que tinha que ser Kelli se Colt estava dormindo com alguém. Significava que ele estava levando a sério? Eu nunca soube do irmão caçula dos Hannigan dormindo com ninguém, além das ovelhas do clube. Porra, eu perdi muito enquanto estive fora. Culpa fez o meu peito apertar e eu troquei Max no meu quadril e beijei o topo de sua cabeça para me distrair da pontada de dor. — Vá se foder, idiota — Quinn cuspiu nele. — Eu não respondo a você. Se você não gosta dele dormindo na minha casa, trate com ele. Não é da sua maldita conta. Kelli se empurrou entre Quinn e Raider, virando para o motoqueiro com um olhar que me fez pensar imediatamente que eu ia gostar dessa garota. — Não que isso seja da sua conta, mas seu irmão vem mantendo minha cama quente durante a noite. E enquanto você está tentando provar o quanto idiota você é, eu tenho certeza que o pênis de seu irmão é um inferno de muito maior. Todos nas proximidades imediatamente pararam o que estavam fazendo e voltaram sua atenção para Kelli agora. Ficou muito tranquilo em torno de nós de repente. Kelli sequer se preocupou em olhar para qualquer outra pessoa quando enfrentou Raider, que a fuzilava com os olhos. Você não tem que conhecer Raider por mais de cinco minutos para saber que seu pau era seu órgão favorito. Pelo que as ovelhas diziam sobre ele, eu tinha certeza que ele tinha uma maldita anaconda em suas calças. Achei que era um traço de família, porque Jet era tão grande que eu me senti desconfortável por dias após a nossa primeira vez. Quinn respirou afiado e puxou o braço de Kelli. — Não, Kell. Ele não vale a pena. — Seus ombros caíram em exaustão quando ela virou a cabeça para me dar um pequeno sorriso sem encontrar meus olhos. — Eu te vejo mais tarde, Flick. Kelli e eu vamos dormir um pouco antes que fique mais louco por aqui.

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— Sim, te vejo mais tarde — eu prometi a ela enquanto a observava entrar no clube. Quando enfim ela saiu da minha vista, virei minha fúria sobre o Hannigan idiota ao meu lado. — Sério? Qual o seu problema? Raider passou a mão pelo cabelo. — O inferno se eu sei — ele murmurou enquanto se afastava.

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Capítulo Oito

Jet Eu estava tremendo quando cheguei no hospital. Não era a primeira vez que um dos membros da minha família esteve no hospital, e com certeza não foi a primeira vez que um de meus irmãos de sangue ou do MC foram baleados. Jenkins me garantiu que nada vital foi atingido, mas eu não pude deixar de me perguntar se eu entraria lá para escutar que o meu irmão, o primeiro cara em que eu confiei não importa o que, estava morto. Raven não estava muito melhor do que eu. Ela agarrou a mão de Bash quando ele nos levou para o hospital e foi em linha reta até o elevador. Ela era mais acostumada a ver sangue do que a maioria do pessoal, mas o pensamento de nosso irmão ser baleado estava fazendo-a agir diferente de seu estado normal. Colt estava balançando para frente e para trás em seus pés, seus olhos tão selvagens quanto eu sabia que os meus tinham que estar. Raider deveria estar lá com a gente, mas nós sabíamos que ele não seria capaz de lidar com isso se Hawk não estava realmente bem. Meu irmão pode parecer um canalha sem coração, mas ele sentia mais do que qualquer um de nós. Ele era apenas melhor em esconder seus verdadeiros sentimentos. Jenkins estava esperando na porta do quarto com Samantha ao lado dele. Pela primeira vez desde que conheci o advogado, ele parecia abalado. Eu não tinha certeza se era porque seu prédio de escritórios acabou de ser destruído por alguém tentando matar meu irmão e levado Gracie, ou porque ele chegou a pensar em Gracie como uma espécie de filha de aluguel. — O que diabos aconteceu? — Raven foi a primeira a exigir antes que eu pudesse abrir minha boca. — Quem levou Gracie? — Os italianos.

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Nós todos rangemos os dentes e minha agitação só se intensificou. Eu iria destruir esses filhos da puta. — Tio Jack sabe? — Colt perguntou quando olhou em volta, certificando-se que ninguém nos ouviu. — Liguei para ele assim que desliguei o telefone com Jet — Jenkins assegurou. — Isso é uma porra — Bash murmurou. — Por que diabos o senador quer Gracie? Eu dei de ombros. — Você disse que foi ela a começar toda essa merda com Samson. Ele tentou estuprá-la e Hawk impediu. Talvez ele a queira como pagamento pela perda de seu filho. — A vingança dele foi contra o clube, não Gracie. Ele teria conseguido sua vingança matando Hawk. Levá-la foi exagero ou... — Bash murmurou outra maldição e balançou a cabeça escura. — Talvez não seja ele. — Quem diabos mais iria nos atacar assim? — Eu rosnei. — Parece que eu sei? Raven colocou a mão sobre o peito de seu marido e outra no meu. — Acalmem-se. Não vamos chegar a lugar nenhum se vocês dois começarem a brigar. Quer que seja adoraria isso. Então se acalmem. Colt começou a andar para lá e para cá e todos nos viramos para vê-lo. Era assim que meu irmão caçula funcionava. Ele era nosso resolvedor de enigmas e todos nós sabíamos que ele resolvia melhor as coisas quando andava. — As duas bombas foram chamarizes — ele estava dizendo para si mesmo. — Mas eles foram para o escritório de Jenkins e levaram Gracie. — Ele parou e nós enfrentou. — Hawk provavelmente nem deveria ter se machucado. As bombas eram para nos manter distraídos e fora do caminho por tempo suficiente para eles a pegaram. Se fosse o senador, ele teria nos atingido diretamente, não somente Gracie. — Oh inferno. — Raven balançou a cabeça. — Eu acho que sei quem é. — Quem? — Todos exigimos quando ela continuou a sacudir a cabeça. — O avô dela.

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Jenkins cuspiu um palavrão e se empurrou para longe da parede onde ele estava encostado. — Ele tem falado comigo regularmente nas duas últimas semanas. Toda vez ele quis falar com Gracie, mas eu não queria aborrecê-la. — Ela recebeu ontem uma carta que pedia para ela voltar para Connecticut para discutir os termos do testamento de seu pai — Raven nos lembrou. — Ela não quer o dinheiro, então por que eles simplesmente não a deixam? — Eu não sei — disse Jenkins com um suspiro cansado. — Mas se são eles e eles precisam dela em Connecticut, é provavelmente o lugar onde esses bastardos está pensando em levá-la. Vou fazer alguns telefonemas para as minhas conexões da Costa Leste. Puxei um dos três telefones descartáveis do meu bolso. — Se você estiver certa, Raven, então eu preciso ligar para Ciro trazer seus homens quando vier. — Colt, ligue para Tio Jack — dirigido Bash. — Falem para ele pegar Trigger e os outros irmãos. Eles podem ir verificar a sede dos Santino. Eu quero que eles estejam lá quando chegarmos. E quero alguns homens observando o senador, também. Não quero correr o risco de que seja ele e nós percamos alguma coisa. Colt assentiu com a cabeça e tirou seu próprio celular descartável. Nós pegamos as escadas para o piso térreo e saímos para termos uma melhor recepção nos telefones. Eu já estava discando para Ciro antes que as portas deslizantes automáticas fecharam atrás de nós. — O meu avião sai em trinta minutos — disse Ciro como forma de saudação. — Cancele. — Você tem notícia? — Ele não disse mais uma palavra enquanto ouvia o que eu tinha para dizer. Somente quando eu terminei ele soltou um palavrão em italiano. — Colt provavelmente está certo. Vou falar com meus homens sobre este assunto. Eu vou ver se os Morgans sabem ou viram algo suspeito. O que você quer que eu faça se eles estiveram com ela? — Que a mantenha segura. — Isso era tudo que eu poderia pedir a ele. Eu não sabia o que o clube faria e eu não era o presidente do MC agora, então não podia começar a atirar ordens quando se tratava de brincar com o Anjo

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da Morte. — Faça o que você tiver que fazer para mantê-la segura. Hawk vai matar todos nós se ela não tiver. — Felicity? — Sua voz abaixou. — Ela está segura. Na sede do clube sob confinamento. — Só pensar em Flick fez meu coração torcer e começar a correr. Porra, e se fosse ela no lugar de Gracie? Eu não poderia ter lidado com isso. Eu já estaria cortando gargantas. — Bom. Mantenha assim. — A linha ficou muda e eu cerrei minha mandíbula quando fechei o celular e voltei para o hospital sem Colt. Voltei para a sala de espera a tempo de ver uma enfermeira levando Raven e Bash para os quartos de recuperação. Notei que Jenkins e Samantha foram embora, e eu corri para acompanhar minha irmã. Assim que a porta da enfermaria se abriu, ouvi meu irmão. Segui rapidamente na direção do grito de uma enfermeira quando ela pulou para trás da pequena seção com cortinas onde Hawk estava sendo mantido. — Onde ela está? — Ele gritou algo metálico e atingiu a parede, fazendo o quarto tinir com o eco. — Onde está Gracie? Bash e eu corremos para a frente. Meu cunhado puxou a cortina e encontramos Hawk sentado em linha reta na cama, seus dedos no soro em seu braço, pronto para arrancá-lo. — Onde diabos ela está? Ele tinha lágrimas escorrendo pelo seu rosto, mas seus olhos eram os de um predador que estava preso e só queria chegar até sua companheira. Em menos de um segundo, eu recolhi os monitores conectados ao meu irmão que estavam enlouquecendo a julgar pela contagem de seus batimentos cardíacos, e recoloquei o soro que ele estava prestes a arrancar. Uma enfermeira estava tremendo de puro terror, mas ela estava, pelo menos, tentando evitar que Hawk se machucasse ainda mais. — Acalme-se — eu ordenei quando alcancei Hawk e agarrei o braço que não estava ligado ao soro. Os músculos de Hawk estavam tensos, como se ele estivesse pronto para lutar comigo, e eu aumentei meu aperto. Bash tomou o outro braço e nós dois o empurramos de volta para o colchão, mas era um inferno de uma luta mantê-lo lá. Apesar da perda de sangue e dor óbvia que eu sabia que ele devia

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estar sentindo, Hawk estava cheio de adrenalina da necessidade de encontrar Gracie. — Onde ela está, Jet? — Hawk exigiu, sua voz rouca. — Ela está bem? Ela está segura? — Calma, porra e eu vou te dizer — eu prometi, mas a verdade já devia estar em meus olhos porque Hawk só começou a lutar com mais força. — Ela está viva? Diga que ela está viva — ele gritou e forçou contra o meu aperto. — Hawk! — Raven estava na frente dele agora. Ele empurrou com o som de sua voz, mas pareceu se acalmar o suficiente para que eu não estivesse mais lutando para mantê-lo deitado. — Pare, você está prejudicando a si mesmo. Veja, você está sangrando. Olhei para baixo para encontrar duas manchas de sangue no vestido do hospital que as enfermeiras colocaram nele. Ele abriu seus pontos. — Eu não dou a mínima. Onde ela está, Raven? Onde ela está? — Suas lágrimas estavam caindo mais rápido e sua voz falhou quando um soluço atravessou seu corpo. — Conte. Para. Mim. — Eles pegaram ela — Raven disse, e todo seu corpo ficou rígido. — Os italianos a levaram, Hawk. Achamos que eles estão trabalhando com o avô dela. — Me soltem. — Sua voz estava mais calma agora, suas lágrimas secando instantaneamente. — Fiquem longe de mim. Confuso com a súbita mudança de meu irmão, eu realmente afrouxei meu aperto e recuei um passo. Depois de alguns segundos, Bash fez o mesmo. Seu olhar se concentrou em duas enfermeiras atrás de Bash, como se estivessem usando-o como um escudo. — Vocês. Tragam aquela porra de médico aqui para me costurar. — Hawk ... — Raven tentou interceder. Ele estava muito calmo, muito tranquilo. Todos nós sabíamos que quando Hawk estava assim, ele estava no seu mais mortal. — Agora. — Ele ergueu a voz o suficiente para que a enfermeira se encolhesse e corresse para fazer o ordenado.

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— Não faça nada estúpido — exortou Raven. — Você acabou de sair da cirurgia. Você não está em condições de fazer o que eu só posso imaginar que você planeja fazer. — Vá para o clube, Rave. Fique com seus filhos. — Hawk olhou para o teto. — Diga a eles que o Tio Hawk os ama. — Pare com isso — ela implorou. — Não faça isso. — Tire-a daqui, Bash. Bash mudou-se para envolver seus braços em volta da cintura dela. — Eu levo você, baby. — Não — ela gritou e lutou contra o aperto. — Hawk, você não pode. Deixe que os outros vão. Você não está em forma para ir. Por favor. Eles vão te matar. — Bash ergueu em seus braços. — Ponha-me no chão. Você não pode deixá-lo ir. Você não pode... Hawk! Sua voz desvaneceu quando a porta se fechou atrás deles e eu voltei minha atenção para o meu irmão que continuava imóvel. — O que você quer que eu faça? — Eu sabia que não havia nenhum uso em tentar convencê-lo de outra forma. Tudo o que eu podia fazer era ajudá-lo o máximo possível e tomar conta dele. — Diga a Ciro para levar uma arma para mim. E minhas facas. — E sobre Santino? — Foda-se Santino. Eu lido com ele mais tarde. Tenho que encontrar Gracie antes. — Ele fechou os olhos, apertando-os. — Vou precisar de Tio Jack e Trigger. — Bash enviou-os para demarcar a sede dos Santino. — Então ligue para eles e diga que isso é mais importante. — Sua voz era desprovida de qualquer emoção e me assustou mais do que qualquer outra coisa naquele momento. Ele estava afastando todos, como se estivesse se preparando para o pior. Como se ele estivesse realmente pensando em não voltar. — Envie alguém para ver se Colt pode marcar o próximo voo para mim.

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Capítulo Nove

Felicity Eu estava na cozinha ajudando a fazer sanduíches para mais de cem pessoas quando ouvi um grito cheio de raiva. As ovelhas que eu estava ajudando endureceram, mas eu só continuei a misturar a salada de frango que eu estava fazendo. Eu posso não ter ficado perto de Raven a mais de um ano, mas eu ainda a conhecia. Ela não mudou muito desde que fui embora. Seu grito zangado me disse aquilo claramente. Lambendo um pouco da mistura de salada do meu polegar, peguei um pano de prato e limpei meus dedos logo que a porta da cozinha se abriu e minha melhor amiga invadiu. Ao meu redor, as ovelhas desviaram do caminho ansiosamente. Com um olhar zangado no rosto de Raven, as outras mulheres começaram a murmurar desculpas e rapidamente saíram da sala. Eu continuei a tarefa quando Raven atravessou a sala e pegou um pote pesado antes de jogá-lo contra a parede oposta. Fez um barulho de batida forte quando ele caiu e então rolou para longe. Peguei os pães e comecei a fazer os sanduiches, sem me preocupar em olhar para ela enquanto ela continuava com seu surto de raiva. Outra panela, seguida rapidamente por uma frigideira, bateu na parede logo antes de uma tigela de plástico cair no mesmo local. — O que diabos está acontecendo... aqui? — Spider deu uma olhada no rosto de Raven e virou para sair pela porta de onde ele tinha acabado de enfiar a cabeça. — Não importa. Bash, o que diabos você fez dessa vez? — Sua voz sumiu quando ele foi em busca de seu amigo e presidente do clube. Sua respiração ofegante, Raven voltou para a ilha onde eu estava trabalhando. Só então eu levantei meus olhos para olhar para ela. Seu rosto estava pálido, os olhos vidrados de lágrimas de raiva. Foram as lágrimas que

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me fizeram deixar a colher cair na tigela e alcança-la. Eu passei meus braços em torno de sua cintura pequena e a trouxe para mais perto. — O que aconteceu? Ela estava tremendo, mas me deixou abraçá-la. — Ele mal saiu da cirurgia e já está lançando ordens para ir embora. Ele vai se matar, Flick. — Hawk? Ela assentiu com a cabeça loira contra o meu peito. — Ele está muito calmo. Muito perigoso assim. Eles vão para New York, meu irmão vai morrer e ele nem se importa. Eu não sabia o que dizer para ajudá-la então apenas a agarrei. Senti as lágrimas absorverem através da minha camisa, mas não me importei. Eu não estive perto da mulher que sempre considerei uma irmã por tempo demais. Eu nem conseguia me lembrar quando ela me deixou abraçá-la. Nem mesmo quando Bash foi embora, ela me deixou confortá-la. Ela tinha ido a Spider ao invés disso. Esse era o problema quando você e sua melhor amiga eram completamente opostos na maioria das coisas. Raven sempre mantinha suas emoções firmemente sob controle enquanto eu era o tipo que usava as minhas na manga na maior parte do tempo. Segurá-la agora era um momento agridoce para mim. Depois de apenas alguns minutos, ela levantou a cabeça e enxugou os olhos com as costas da mão. — Você vai com eles, Flick? Por favor? Eu preciso de alguém em quem confio cuidando dos meus irmãos e eu não posso ir por causa de Max. E o maldito Bash me colocou em prisão domiciliar. — Ela balançou a cabeça e olhou para a porta da cozinha, como se ela pudesse ver seu marido através da madeira grossa. — Por que New York? — Eu estava perdida. Obviamente eles descobriram algo, mas eu não tinha ideia do que. Se não era o senador, não deveria ser Washington, DC? Senadores trabalham na capital, certo? Raven soltou um suspiro cansado e começou a contar o que aconteceu naquela manhã. Como Hawk foi baleado e os italianos levaram Gracie. As bombas foram chamarizes e o verdadeiro alvo era a pobre Gracie. Ela até me contou sobre o testamento do pai de Gracie e o dinheiro que ela deveria herdar

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se seguisse as estipulações - casar com alguém que seu avô e tio aprovavam. Sim, eu tinha certeza de que Hawk estava enlouquecendo com isso. — Quando Bash me fez sair do hospital, Doc Robertson estava acabando de entrar. Hawk vai sair do hospital, embora ele tenha acabado de sair da cirurgia para reparar a bagunça rasgada de seu ombro e costas. Como é que ele vai atirar quando seu ombro está assim, Flick? Como? — Seu queixo tremia e ela fechou os olhos antes que outra lágrima se atrevesse a cair. — Eu não sei, querida. — Você vai? — A voz de Raven estava implorando e eu sabia que estava custando a ela fazer isso. — Sim — eu assegurei sem pensar duas vezes. Eu faria qualquer coisa por ela, mas eu estava indo por mim também. Hawk e eu podemos não ser melhores amigos, mas eu ainda me preocupava com o jumento teimoso. Raven jogou os braços ao redor do meu pescoço, me abraçando forte. — Obrigada — ela sussurrou. Eu me agarrei a ela por um momento antes de me afastar e sorrir para ela. — Já que você assustou as ovelhas, acho que você terá que me ajudar a terminar o lanche. — Ótimo — ela murmurou, mas foi até a pia lavar as mãos. Quando terminamos os sanduiches, uma salada de frutas frescas e um creme de cebola para os chips, Tio Jack e seus homens haviam chegado. Eu carreguei a bandeja pesada de sanduíches e vi o velho homem entrar no escritório do Bash com alguns dos outros irmãos. Raven pegou sua própria bandeja e seguiu o meu olhar. — É verdade? Tio Jack é realmente o avô de Gracie? Raven assentiu. — Sim. — Huh. Por essa eu não esperava. — Eu dei um passo para longe da mesa, assim que os irmãos começaram a fazer fila para pegar um prato. Raven soltou uma pequena risada. — Sim, bem há surpresas ainda maiores que vão te surpreender. Minhas sobrancelhas levantaram. — Sério? Como o quê? — Não. Eu não posso dizer. Hawk me mataria. — Ela sorriu e pegou um sanduíche antes do primeiro irmão poder alcançá-lo. — Mas mantenha os

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ouvidos abertos. Tenho certeza que essa merda vai bater no ventilador antes desta semana terminar. *** Jet chegou ao clube depois das uma da tarde. Ele não estava sozinho. Doc Robertson veio com Hawk para casa e tinha uma enorme lista de prós e contras que ele esperava que Hawk seguisse. Okay, certo. Como se isso fosse acontecer. Ele entregou duas garrafas de remédio para Raven, que tão rapidamente me entregou e me empurrou na frente do médico para ouvir os sinais que eu precisava tomar cuidado para o caso de Hawk ficar doente. — Se ele começar a mostrar quaisquer sinais de febre, leve-o para a porra de um hospital, Flick. Ou se suas feridas começarem a sangrar, garanta que sejam costurados novamente. O idiota ainda deveria estar no hospital recebendo mais transfusões de sangue, mas ele se recusou. Certifique-se de que ele coma, para que seu corpo substituía o sangue que ele perdeu. — Vou fazer o meu melhor, doutor. — Eu sei que ele provavelmente não vai tomar os analgésicos, mas estão aí só no caso. Coloque na bebida dele se precisar. Os antibióticos são uma obrigação, no entanto. O risco de infecção é maior do que ele pode imaginar. Certifique-se de que ele tome todos. — Ele olhou para o paciente e fez uma careta. — Os enfermeiros não conseguiram fazê-lo tomar a primeira dose já que ele estava caminhando para fora do hospital antes que eles pudessem injetar no soro dele. O cirurgião deu-lhe um pouco durante a cirurgia para reparar os músculos rasgados, mas não é suficiente. Faça o que você tem que fazer para colocá-los em seu sistema. Eu balancei a cabeça. — Vou fazer. Ele me deu um pequeno sorriso. — Boa sorte, Flick. Você vai precisar. — Sim. Estou muito ciente disso. Ele riu. — É bom ver você, querida. Cuide-se. Depois que o médico foi embora, eu coloquei uma garrafa de analgésicos no meu bolso e tirei as duas cápsulas de antibióticos antes de colocar a garrafa

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no meu outro bolso. Eu derramei um copo de chá e fui até o escritório onde Hawk foi logo que ele entrou pela porta com seu irmão. Jet estava na porta e fiz uma pausa longa o suficiente para olhar para ele vestindo seu colete novamente. Droga. O que aquele maldito colete de couro envelhecido fazia para deixar esse homem ainda mais atraente para mim? Jet Hannigan era sem dúvida o homem mais sexy que eu já vi, mas aquele colete só aumentava a minha consciência dele. Seus olhos encontraram os meus e eu não fui tão rápida para esconder a minha reação a ele como eu normalmente teria sido. Eu vi o clarão de desejo em seus olhos verdes. Ele se endireitou e estendeu a mão para mim. Impotente, eu coloquei minha mão na sua e deixe seu calor mergulhar em mim por um momento, saboreando a eletricidade que disparou no meu braço e em linha reta através do meu coração antes de passar para a parte mais íntima do meu corpo. Eu me dei cinco segundos antes de me afastar e forcei meu cérebro a bloqueá-lo já que eu tinha uma tarefa a cumprir. Rangendo os dentes, olhei para Hawk, que estava sentado na cadeira em frente à mesa de Bash. Ele levantou a cabeça quando me notou de pé lá e eu ofereci o copo de chá. — O que é isso? — Alguma coisa para beber com os antibióticos — Eu informei. Ele colocou o copo sobre a borda da mesa. — Não — ele disse e voltou a falar sobre Santino e seus homens. Se ele pensou que eu iria embora, ele estava louco. Eu fiz uma promessa a Raven para cuidar de seus irmãos e isso significava esse homem teimoso também. — Podemos fazer isso da maneira mais fácil, onde você os toma sozinho, ou da mais difícil. Por favor, não me faça fazer isso da maneira mais difícil. — Vá embora, Flick. Estou ocupado aqui — resmungou Hawk. Olhei para Bash que estava sentado em sua cadeira, parecendo perigoso como sempre, mas divertido. — Levante-se, Pres. Vamos ter que fazer isso da maneira mais difícil. — Bash sorriu e ficou de pé. — Seja cuidadoso. Não queremos arrebentar seus pontos.

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Bash assentiu com a cabeça enquanto caminhava ao redor da mesa. Hawk olhou para ele e começou a se levantar, mas felizmente Tio Jack estava perto e agarrou seus braços, prendendo-o no lugar. Bash caiu no colo de Hawk, tendo cuidado com suas duas feridas. Imaginei que cair no colo de Hawk era muito melhor do que ele apertar seus ombros e arriscar abrir os pontos. Eu balancei a cabeça para os dois homens enquanto eu pegava o copo de chá. — Vocês todos vão se foder — Hawk rosnou enquanto ele tentava se livrar do aperto de Tio Jack. Normalmente ele conseguiria sem sequer tentar, mas ele estava com dor e a perda de sangue o deixou fraco. — Não faça isso, Flick. Porra. — Você ainda pode fazer isso da maneira mais fácil, Hawk — eu assegurei quando ofereci as cápsulas. Tudo o que ele tinha a fazer era engolilas e eu iria embora até a hora de sair para o aeroporto. — Fique longe de mim, Bash. — Seu rugido ecoou pela sala e saiu para além do clube. O edifício inteiro ficou em silêncio e eu podia apenas imaginar que todos os olhos apontavam para o escritório. Eu dei de ombros. — Ok. O caminho difícil. — Eu agarrei o cabelo em um punho e puxei sua cabeça para trás um pouco mais duro do que realmente precisava. Ele gritou no processo e eu usei sua boca aberta como vantagem. Enfiei as duas cápsulas em sua boca e derramei um pequeno copo de chá antes de cobrir a boca e o nariz com as mãos. Ele lutou contra o meu aperto, mas eu segurei firme e depois de mais alguns segundos, ele não tinha escolha a não ser engolir. Balançando a cabeça para ele, eu soltei e fui até a porta. — Vejo você em doze horas. Jet pegou minha mão enquanto eu passava e eu deixei assim por um momento, mais uma vez saboreando seu calor antes de deixar os homens para discutir negócios.

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Capítulo Dez

Jet Aviões não eram uma forma de transporte que eu estava acostumado a usar. Tendo passado a vida toda no clube, eu desenvolvi a mentalidade “dirija ou morra” em mim. Eu raramente dirigia um carro, usando minha moto para ir do ponto A ao B na maioria das vezes. Esta era apenas a terceira vez que eu voava e não estava nem perto de animado por isso. Felizmente, o avião não estava lotado, por isso os oito de nós nos sentamos confortavelmente. Esse não era o problema, entretanto. Era meu estomago torcendo com nervosismo pelo que estava acontecendo que me fazia olhar em volta da gaiola de aço com asas como o lobo enjaulado que eu era. Tio Jack e Trigger estavam em uma conversa tranquila, sentados há algumas fileiras ao longe. Tio Jack estava lidando com sua neta ser levada tão bem quanto eu poderia esperar. O velho burro irlandês já estava discutindo com Trigger sobre como ele queria matar os bastardos. Quanto a Trigger, eu só sabia do que Hawk contou. Que havia uma chance de que Gracie fosse filha dele e não de Craig Morgan. Hawk e Trigger decidiram manter a informação para eles mesmos depois de Trigger confessar. Eles provavelmente estão desejando ter falado sobre a paternidade muito mais cedo, no entanto. Se tivessem, então talvez os Morgans não teriam levado Gracie. Espalhados pelo avião, Raider, Colt e Matt pareciam que podiam dormir o caminho todo para New York. Hawk não teve tanta sorte. Ele não tocou nos analgésicos prescritos por Doc Robertson quando ele relutantemente dispensou Hawk algumas horas antes. Ele apenas tomou os antibióticos porque FIick fez Bash e Tio Jack o seguraram a tempo de ela força-los goela abaixo.

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Do seu assento do outro lado do corredor, eu percebi que ele estava sentindo muita dor e eu não sei se isso estava contribuindo para o tom verde de seu rosto ou se era enjoo pelo voo. Eu tomei dois Dramamine antes de subir a bordo, mas essa merda não estava fazendo o que prometeu fazer. Ao meu lado, Flick se mexeu quando ela virou a página de sua revista. Hawk estava chateado que nós a trouxemos, mas eu não briguei tanto quanto podia ter feito sobre ela não vir com a gente. Eu não queria deixá-la para trás e não tinha como eu ficar em casa com meu irmão caminhando para o desconhecido. Bash queria vir, tanto quanto Raven queria, mas ambos tiveram que ficar e lidar com a tempestade de merda ainda se formando depois de os italianos terem nos alvejado. — Eu meio que esperava que ele desmaiasse para que eu não tenha que forçar aqueles malditos antibióticos em sua garganta mais uma vez — Flick murmurou enquanto ela levantava a cabeça por tempo suficiente para olhar para Hawk antes de voltar para sua revista. — Acha que ele vai me odiar para sempre? Pela expressão de tédio em seu rosto bonito, ninguém perceberia sua mágoa por pensar isso. Mas eu percebia pela forma como seus dedos tremiam quando ela virou a página de sua revista que o pensamento de Hawk odiá-la para sempre a incomodava mais do que ela queria que alguém soubesse. Eu não pude evitar o tiro de ciúme que perfurou meu peito. Apertando minha mandíbula, eu dei de ombros. — Ele vai superar isso em poucos dias. Só há muita merda acontecendo em sua cabeça agora. Quando ele tiver Gracie onde ela pertence, ele vai se acalmar. — O fato de estar calmo não é o problema agora — disse ela com um suspiro e baixou a revista, obviamente desistindo de fingir que estava lendo. — Ele é assustador como o inferno assim, Jet. Eu não sei onde sua cabeça está agora, mas se ele continuar assim eu estou com medo que ele vá cair em uma armadilha sem perceber e acabe em pedaços. Eu não estava prestes a dizer que eu mesmo estava com medo. Meu irmão não gostaria que eu expressasse as mesmas dúvidas. Eu sabia que se eu estivesse no lugar dele e fosse Flick a raptada, eu estaria no mesmo estado de espirito. Porra, era exatamente como eu me senti quando a encontrei

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espancada depois de Westcliffe bater nela. Quando eu enfim coloquei minhas mãos no bastardo, minha raiva estava transbordando e eu não hesitei quando surrei meu ex-melhor amigo por ter feito aquilo com a minha mulher. Assim como ele tomou a vida do meu filho ainda não nascido, eu tomei a dele. Não me arrependo de sua morte, mas apenas por não poder trazê-lo de volta para mata-lo de novo. Hawk provavelmente estava se sentindo da mesma maneira... Ciro e seus homens estavam esperando fora do aeroporto quando chegamos um pouco depois sete da noite. Ele tinha cinco SUVs pretas enormes a nossa espera. Ele saiu de trás de uma e seus olhos foram de motoqueiro atrás de motoqueiro antes de parar em Flick. Ela soltou uma pequena risada quando se jogou nos braços de seu primo. Ao meu redor, outros homens de terno estavam saindo dos outros veículos. Todos nós sabíamos que eles estavam carregados e nos coçamos para ter nossas próprias armas. Eu disse a Ciro para nos trazer algumas, bem como as facas que Hawk queria. Meu irmão já estava pensando em como ele iria cortaria os bastardos que levaram Gracie. Tio Jack estava tão ruim quanto sobre o fato de que sua neta foi arrancada deles, mas ele lidava um pouco melhor com suas emoções do que Hawk. E por melhor, eu quis dizer um pouco mais vocalmente. Ele já tinha me contado em detalhes como lidaria com o avô paterno de sua neta. — Você está ainda mais bonita do que eu me lembrava, priminha — Ciro murmurou tão baixo que só eu ouvi porque eu estava perto de Flick quando ele envolveu-a contra seu peito. Poucas pessoas sabiam que Flick era prima de Ciro e era assim que todos queríamos que continuasse. Se todos soubessem que eles eram família, os inimigos dele a transformariam em alvo. Eu vi alguns filhos da puta assustadores na minha vida, Bash estava no topo da lista, seguido rapidamente por Spider. Ciro Donati seria sempre o número um, no entanto. Não era qualquer coisa sobre o homem que gritava perigo, era todo o pacote. Desde a inclinação de seu queixo, a maneira como sua boina era puxada para baixo sobre seus olhos azuis frios, até mesmo o terno caro que não conseguia esconder os músculos por baixo. Com seus um metro e noventa, ele era apenas três centímetros mais alto do que eu, mas era

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vários anos mais novo. Com apenas vinte e cinco anos de idade, ele era o mais jovem soldado na folha de pagamento dos Vitucci, mas também era o mais mortífero. Como afilhado de Vito Vitucci e melhor amigo de Cristiano Vitucci, ele era o homem mais temido da Costa Leste, se não de toda a América do Norte. Ciro soltou Flick e recuou. — É bom ver você, Felicity. Peço desculpas por ser em circunstâncias tão tensas, no entanto. Vou ter que encontrar tempo para vir para a Califórnia para te visitar mais. — Você descobriu alguma coisa? — Ela perguntou em voz baixa. Ele se virou para as cinco grandes SUVs. — Vamos sair da rua. Jet, seus meninos podem dividir-se entre os outros veículos com os meus homens. Você e Hawk podem ir comigo e Felicity. — Eu não sou mais o presidente do clube, Ciro — eu lembrei o outro homem. Eu colocaria meu colete de volta logo que eu pudesse tocar na coisa, mas eu estava feliz de apenas poder falar isso. Poder dizer que faço parte do clube de novo. Bash foi perfeito no papel de presidente e eu com certeza não queria a posição de volta. Porra, eu não queria forçar os limites com Flick. Ela disse que me queria de volta no clube. Isso era o suficiente para mim. — Hawk é o vice-presidente agora, então você deve falar com ele. — Eu não reconheço seu novo presidente — disse Ciro com um aperto de mandíbula. — Sebastian Reid não é nenhum amigo meu. Vou falar com seu irmão, no entanto, se é isso que você deseja. Flick soltou um suspiro de frustração e atirou um sorriso para o primo antes de subir na parte traseira da SUV com a ajuda dele. — Precisa superar isso, Ciro. — Não é da minha natureza. — Claro que não — ela murmurou e olhou para mim por tempo suficiente para revirar os olhos azuis bonitos antes de tomar seu assento. Meu coração se apertou com esse olhar. Com o caos que vinha acontecendo durante todo o dia, parecia que voltamos no tempo. Ela estava se aproximando de mim mais e mais, me oferecendo um apoio durante essa bagunça fodida que ela sabia que eu precisava, mas nunca pedia.

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Ela foi para o meio do assento e eu subi ao lado dela, me apertando enquanto Hawk tomava cuidadosamente o outro assento da janela. Quando enfim Ciro subiu para o banco do passageiro da frente, o motorista entrou no transito e Ciro girou em seu assento para nos enfrentar. — Mandei meus homens observarem os Morgans. Houve uma atividade incomum em Connecticut nos últimos dias, ao que parece. Os punhos de Hawk cerraram, mas ele não falou. — Vito tem pessoalmente falado com o seu advogado, Jenkins, então ele sabe tanto quanto eu atualmente. Após alguma escavação cuidadosa, descobrimos que o Morgan mais velho está enfrentando uma possível falência devido a alguns investimentos imprudentes recentes. Ele não tem nenhum dinheiro sobrando. Seu filho, tio de sua mulher, a mesma coisa. O dinheiro que foi deixado para ela os ajudaria muito para se reerguerem. — Então por que não basta pegarem o dinheiro? — A voz de Hawk ainda estava perigosamente calma apesar da forma como seus punhos estavam cerrados. — É tudo sobre burocracia. Nenhum deles podem tocar no dinheiro. Os advogados amarraram bem as pontas. Eles precisam dela antes disso... E eu suponho que você saiba as estipulações do testamento? — Ela não vai se casar com ninguém além de mim. Ciro inclinou a cabeça. — Isso é bom e tudo mais, mas Morgan e seu filho devem aprovar o casamento, certo? — Sim — Hawk entre dentes. — Foi o que seu homem Jenkins disse. Parece que o Morgan mais velho já encontrou um marido para sua neta, no entanto. O olhar de meu irmão não vacilou de Ciro, mas foi Flick quem falou. — Quem? Ciro fez uma careta. — Através de minhas conexões eu descobri que os Morgans chegaram a um entendimento com Santino, que quer vir para cá. Ele vem tentando assumir as nossas empresas da Costa Leste durante anos, mas não consegue porque não tem as conexões certas. — Que porra isso tem a ver com a Gracie? — Hawk rosnou.

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— Morgan tem as conexões certas que Santino precisa — explicou Ciro. — Politicamente, pelo menos, o que é exatamente o que eles precisam. Casar a neta com o filho de Santino os coloca em uma posição que deixa Vito muito desconfortável. Tudo dentro de mim ficou frio. Porra. Eu tive que lidar com as tretas de Santino por anos. Eu sabia exatamente como o homem era, mas seu filho era um filho da puta cruel. Ele batia em suas mulheres. Spider e Bash ofereceram empregos na Paradise City para uma ou duas ao longo dos anos, oferecendo uma casa segura enquanto elas se curavam. Elas geralmente acabavam ficando porque a alternativa, a vida que teriam fora da proteção do MC, não valia a pena. Hawk e eu compartilhamos um olhar compreensivo sobre a cabeça de Flick e o olhar nos olhos do meu irmão contava sua própria história. Carlo Santino tinha uma expectativa de vida muito curta se tocasse em Gracie. — Então, eles a levaram para que? — Flick murmurou. — Um casamento de espingarda? — Mais como um casamento de fuzil automático, querida — eu disse a ela, tentando aliviar um pouco a tensão crescente enchendo a SUV. — Ela está com eles? — Hawk estava abrindo e fechando os punhos agora. — Houve um grande movimento na residência dos Morgan em Connecticut, mas até agora nenhum sinal da sua Gracie. Eu tenho olhos na casa, bem como alguns locais que Santino tem aqui na cidade. — Ciro olhou para o motorista por um breve momento antes de virar seu olhar de volta para nós. — Eu poderia ter tomado a casa a qualquer momento, mas estava esperando a chegada de vocês para fazer uma jogada. Eu não queria arriscar sua mulher estar lá e se machucar por engano. — Legalmente... — Hawk começou e respirou fundo antes de continuar, me fazendo pensar o quão ruim a sua dor realmente era. — Legalmente, se Gracie acabou por não ser filha de Morgan, o que aconteceria com o dinheiro que seu avô parece querer tão desesperadamente? Ciro sacudiu a cabeça. — Eu não sei. Não sou advogado e eu não sei os detalhes do testamento. Eu só assumo que ainda valeria. Sem um teste de

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DNA não há como refutar sua paternidade e na velocidade que os Morgans estão indo, eles vão pegar o dinheiro assim que ela se casar com o filho de Santino. Logo que eles tiverem a certidão de casamento, o dinheiro será liberado para ela e eles planejam sequestrá-lo. — Certo. — Hawk assentiu. — Vamos fazer uma visita ao velho filho da puta. Você tem um lugar seguro onde podemos deixar Flick? Senti Flick enrijecer ao meu lado. — Eu não vou a lugar nenhum sem vocês. Prometi a Raven que eu cuidaria de vocês e não vou quebrar essa promessa. Hawk sequer olhou para ela. — A casa de Vito está bem? — Scarlet e Victoria estão em casa, de modo que está fora de questão — Ciro informou com uma contração de seus lábios com a menção das filhas gêmeas de seu chefe. — Minha mãe estava esperando visitar Felicity. Vou deixá-la na casa de meus pais e nós vamos direto de lá. — Eu vou com Hawk e Jet — Flick disse com uma inclinação teimosa com o queixo que eu me lembrava bem. — Você vai para onde eu disser que vai — Hawk estalou, seu primeiro sinal de emoção verdadeira em horas. — Você nem tem porque estar aqui. — Jet — Ela sequer tentou argumentar com ele quando virou aqueles olhos azuis bonitos para mim, um apelo que eu não conseguiria ignorar se fosse qualquer outro momento. Desta vez, eu sabia que não podia aceitar, mesmo que isso me amaldiçoasse em mais do que seus olhos. Se Santino e os seus homens estavam na casa de Connecticut, não havia dúvida de que haveria balas voando logo que chegássemos lá. Eu não arriscaria sua segurança, mesmo para amolecê-la para mim. Apertando minha mandíbula, eu virei meus olhos para Ciro. — Deixe-a lá. Ouvi um suspiro cheio de dor vindo dela, mas não me atrevi a olhar. Eu só podia adivinhar o quão perigoso a situação seria e eu não podia arriscá-la. Eu ficaria feliz em deixá-la pensar que era um bastardo implacável por fazer isso sem mostrar nem um lampejo de emoção no rosto. Porque manter esta fêmea segura era a única coisa que me mantinha são.

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Capítulo Onze

Hawk Todos ao meu redor estava falando sobre o plano para invadir a casa de Morgan. Fazendo estratégias sobre onde estar, quem entraria primeiro, o que devemos usar. Não era como se pudéssemos simplesmente chegar e bater na porra da porta. Santino e os seus homens estavam lá, sabe se lá com que armas. Nós não podíamos arriscar Gracie entrar no meio de um tiroteio ao deixar o lugar em pedaços. Mesmo se fosse isso o que eu queria. Eu tinha que me lembrar que eu tinha que ser paciente. Eu não arriscaria nem um fio de cabelo na cabeça preciosa de Gracie. Era difícil manter isso em mente quando meu corpo era uma enorme bola de dor e meu coração palpitava de estar longe de Gracie por muito tempo. Ela estava bem? Ela estava com medo? Alguém tocou nela? Estas questões estavam me levando a beira da loucura, porque eu não sabia. Porra, eu precisava saber. — Quanta dor você está sentindo? Eu levantei minha cabeça para encontrar um Ciro assustador ao meu lado. O conjunto de sua mandíbula e pela forma como seus olhos azuis atiravam fogo frio debaixo de sua boina não me intimidavam como aconteciam com seus próprios homens. Eu já trabalhava com este enorme mafioso há mais de cinco anos. — Eu estou bem — eu retruquei. Ciro me olhou com seus olhos predatórios por um longo momento antes de encolher e voltar-se para os outros homens. — Jet, você, Trigger e Colt vão

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pela frente. Jack, Raider e Matt, pelo lado. Meus homens estarão na retaguarda. Eu endureci neste novo plano. — Que porra você está fazendo? — Mantendo sua bunda viva para sua irmã e mulher. — Ele falou sem olhar para mim e, em seguida, voltou a dar as ordens. Eu dei um passo para a frente, sem medo de encará-lo. Eu enfrentaria o próprio diabo para chegar até Gracie. Ciro não foi muito longe, e eu o pegaria em um piscar de olhos se fosse o que precisava para chegar até ela antes. — Eu vou na frente. — Claro que vai — ele concordou sem pestanejar. — Comigo. — De jeito nenhum. Eu vou primeiro. Gracie precisa de mim. — Eu estava tremendo de raiva e dor. Porra, doía tanto. Meu ombro ferido puxava e doía como um filho da puta e o das costas estava tão ruim quanto. Eu mal conseguia levantar meu ombro, mas não ia deixar isso me impedir de fazer o que eu precisava fazer. Ciro soltou um longo suspiro frustrado — Sua Gracie precisa de você respirando, idiota. Você mal pode se mover de dor e eu não vou ter sua morte em minha consciência. Portanto, preste atenção ou eu vou garantir que você não vá a lugar nenhum. Sabendo que eu não tinha escolha, eu mordi de volta uma maldição e cruzei os braços sobre o peito, não me importando que isso fez o meu ombro doer muito mais. Foda-se Ciro. Foda-se quem entrasse no meu caminho. Se algo acontecer com Gracie porque eu não estava lá, eu iria cortar suas gargantas. — Bem, vamos. Estaremos na casa dos Morgan dentro de vinte minutos. — Ciro acenou para seus homens e todos checaram suas armas antes de saírem do pequeno edifício onde tínhamos parado para criar estratégias antes de nos dirigir para a casa de Morgan em Connecticut. Estava escuro, a lua oferecendo pouca luz para ver os outros entrando nas cinco SUVs. Eu queria estar na mesma que Jet, a que chegaria antes, mas Ciro agarrou o meu ombro – que doeu como uma cadela – e apertou até que todos estavam onde precisavam estar. Sem espaço em qualquer um dos outros veículos, eu fui forçado a subir na parte de trás da última com Ciro.

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— Controle-se. Eu não olhei para ele quando o motorista ficou atrás do volante e começou a virar a SUV, virando meu olhar para fora da janela para a noite escura. Eu queria dar um soco no cara, quebrar sua mandíbula e alguns dentes no processo, mas isso não ia me levar a nada a não ser morto antes de poder segurar Gracie novamente. — Eu sei como você se sente, mas se você quer manter sua mulher viva é assim que tem que fazer isso. Minha cabeça estalou de volta. — Você não sabe de nada. Ela é a porra do ar no meu peito. Se algo acontecer com ela... Algo no rosto de Ciro me impediu de dizer qualquer outra coisa. Mesmo no escuro interior do veículo eu pude ver o olhar quase sombrio nos olhos do cara. Murmurando uma maldição, me virei para a janela, não querendo ver esse olhar. Ele só espelhava o meu próprio. Antes de chegarmos à propriedade dos Morgan, Ciro colocou seu fone de ouvido e começou a lembrar o plano para seus homens. Eu sabia que Jet e Tio Jack tinham um também e queria um para mim para que eu pudesse ao menos ouvir o que estava prestes a acontecer. Porra, eu sequer sabia se Gracie está na casa de Morgan. Ela poderia estar em qualquer lugar. A SUV desacelerou enquanto as três outras seguiram em frente. Me senti um homem cego lutando para encontrar o caminho enquanto eu esperava. Meu coração estava disparado, as palmas das mãos suadas, meu corpo uma grande dor latejante. O medo do desconhecido bateu no meu estômago enquanto eu esperava. E esperei. E esperei. Eu ouvi tiros ao longe, nada mais. Ela estava segura. Ela estava segura. Ela estava segura. Eu tive que continuar repetindo mentalmente essas três pequenas palavras uma e outra vez ou eu sabia que ia perder a cabeça. Ela estava segura. Ela estava segura. Por favor, Deus, deixe-a estar segura. Pareceu uma eternidade antes de Ciro acenar com a cabeça para tudo o que ele ouviu em seu ouvido. — Tudo limpo. Eles estão na casa. A SUV parou fora da casa enorme e eu não queria perder tempo esperando o motorista abrir a minha porta quando peguei minha Glock e corri

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para dentro da casa. A porta da frente estava derrubada, uma madeira cara transformada em pilhas de lascas agora. Um homem de terno que eu pensei ter reconhecido como um dos homens de Santino estava deitado no chão ao lado da porta. Eu não sabia se ele estava vivo ou morto, e não me importei. — Ela vai precisar de um médico — Eu ouvi Tio Jack dizer e meu coração gaguejou no meu peito. Lágrimas que eu não me importei em esconder queimaram meus olhos enquanto eu corria pelo corredor na direção das vozes dos meus irmãos. — Sim. É uma ferida ruim e parece estar infectado. Esses bastardos não se importaram que ela levou um tiro. — Ouvir a voz de Jet não fez a dor no meu peito diminuir nem um pouco. Eu ia vomitar. Eu sabia. Não tinha como. Eu respirei fundo uma e outra vez, e finalmente – finalmente - encontrei a sala onde todos estavam. Eles estavam na sala da família, e meus olhos selvagens procuraram ao redor, absorvendo tudo, mesmo enquanto eu procurava freneticamente por Gracie. Havia mais dois homens de terno deitados no chão, sangue fazendo uma poça em volta deles. Um homem usando uma camisa polo, calças e cabelos grisalhos estava sentado em uma cadeira com a arma de Trigger apontada para sua cabeça. Tinha que ser Morgan. A seus pés havia um outro corpo sem vida. Seus olhos estavam abertos, mas brancos como a morte, mas eu podia ver detalhes suficientes para saber que era o filho dele. — Santino não estava aqui — disse Ciro a alguém que vinha atrás de mim. — Vamos manter um olho nele. Eu mal ouvi os dois homens falando quando meu olhar foi ao redor da sala. Vi Tio Jack primeiro. Ele estava de joelhos no chão ao lado de Gracie, com Trigger do outro lado dela. Lágrimas derramadas manchavam seu rosto machucado, enquanto segurava seu braço contra ela e falava calmamente com seu avô. Jet estava sobre eles, a arma na mão, protegendo a coisa mais preciosa no meu mundo. Ver suas lágrimas me evisceraram e eu estava do outro lado da sala antes mesmo de perceber que estava em movimento. Tio Jack levantou a cabeça e acenou com a cabeça mais uma vez antes de levantar. Eu me deixei cair ao seu lado. Meus olhos devoraram a visão dela. Seu rosto era um grande

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hematoma, fazendo minha raiva aumentar em minhas veias outra vez. Alguém havia batido nela, repetidamente ao que parecia. Ela estava chorando, e a dor que eu vi profundamente em seus olhos cor de uísque fez o meu próprio corpo doer muito mais. — Baby — eu respirei e cuidadosamente acariciei um dedo sobre sua mandíbula. Agora que eu podia vê-la meu coração finalmente parecia poder bater novamente. — Hawk. — Um soluço fazia seus ombros tremerem enquanto as lágrimas caíam mais rápido. — Você está vivo. Oh Deus, eu estava com tanto medo que você estivesse morto. — Nunca. Eu sempre encontrarei um caminho de volta para você, baby. Sempre. — Eu baixei a cabeça e gentilmente e escovei meus lábios sobre seus olhos. — Hawk, eu quero ir para c-casa. — Ela estava começando a tremer, mas eu não sabia se era de dor ou se o choque estava instalando. — Tragam um cobertor — Eu gritei para o quarto, sem me importar quem executasse a ordem, desde que alguém fizesse. — Vamos levá-la para casa assim que levarmos você para um doutor, querida. — Trigger disse a ela, mantendo-a distraída. Seus olhos foram para o outro homem, com o queixo tremendo incontrolavelmente. — Eu-eu pensei que era apenas um pedaço de vidro. — Está tudo bem, querida. Vai ficar melhor logo. — Ele cuidadosamente virou o braço mais próximo a ele e me mostrou o ferimento de bala na parte de trás do braço de Gracie. Havia apenas um buraco de entrada, sem saída. A porra da bala ainda estava em seu braço. O que me preocupou mais foram as estrias vermelhas em torno da ferida. Ela já estava mostrando sinais de infecção. — Você chamou uma ambulância? — A caminho, irmão. Eles disseram que levaria 15 minutos — Raider chamou do outro lado da sala onde ele estava ajudando os outros a limpar os corpos dos mortos. Os policiais estavam prestes a chegar em todo o lugar. Eles iriam colocar os corpos em uma das SUVs e levá-los para outro lugar para eliminá-los.

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— O que você quer que eu faça com ele? — Ciro chamou, acenando com a arma no rosto de Morgan, fazendo o velho tremer e recuar para longe da arma. Seu rosto estava cinza, seus olhos aterrorizados. Eu olhei para Gracie. — O que fazemos com esse velho de merda, baby? Outra lágrima caiu de seus olhos e ela virou a cabeça, sem olhar para mim. — Eu não me importo. Eu não me importo. A dor em sua voz era mais que apenas física. Era profunda na alma. Ela foi traída por alguém que achava ser da família. Eu teria que encontrar uma maneira de dizer a ela que não eram. Será que ela me odiaria por esconder isso dela? Ela ficaria feliz que as pessoas com quem ela pensava em dividir o DNA não eram sua família? — Leve-o para o depósito junto ao cais — Jet disse a Ciro. — Vamos até lá amanhã para lidar com ele. — Entendi — Ciro assegurou quando ele levantou a arma e usou o punho para bater em Morgan. A sala ficou em silencio quando os olhos do homem reviraram e ele caiu no chão ao lado de seu filho morto. — Ligue quando estiver pronto. Estarei esperando. Sem outra palavra, Ciro e seus homens saíram. Segundos depois, ouvi três conjuntos de pneus de borracha queimando na garagem, e ouvi o som de sirenes à distância. Gracie agarrou minha mão. Seus dedos estavam gelados, mas ela se agarrou a mim com uma força surpreendente. — Não me deixe. — Nunca — eu jurei e rocei um beijo suave sobre seus olhos. — Nunca.

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Capítulo Doze

Felicity — Duas vezes em apenas alguns meses. É um verdadeiro deleite, Felicity — disse Mary Donati com um sorriso enquanto compartilhávamos uma xícara de café em sua sala de estar enorme. — Estou tão feliz que você pode poupar um pouco de tempo para mim, querida. Eu sei o quão ocupada você esteve com o seu novo emprego. Como estão os Armstrongs? Dor cortou meu coração ao pensar em Emmie e sua família, mas não foi quase tão duro quanto na noite anterior. Apenas vinte e quatro horas depois e eu estava começando a lidar com a falta deles na minha vida um pouco melhor. — As coisas ainda estão loucas com eles, tenho certeza. Eu vi minha tia um pouco antes do Demon’s Wings começar a turnê de verão. Quando fui visitar ela e o meu tio, eu não tive medo de ela me entregar para o Clube. Se eu conhecia algo sobre minha tia era sua lealdade. Ao contrário de minha mãe, eu sabia que Maria manteria o segredo. Não pela primeira vez, eu gostaria de ter nascido dessa mulher, em vez de Marcie Bolton. Eu não ia explicar a minha amada tia que seu filho basicamente me largou em sua porta como um saco de batatas antes de ir para o que eu só podia imaginar que seria uma zona de guerra. Eu sabia que ela não estava cega para a realidade de quem seu filho era, mas eu também sabia que quanto menos ela soubesse, melhor seria se os estupidos federais a levassem para interrogatório. — Senti sua falta, tia Mary. — Eu tomei mais um gole de meu café e deilhe um sorriso que não era tão forçado como quando eu cheguei. — Também senti sua falta, querida.

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Mais de duas horas se passaram desde que Ciro me deixou e minha raiva abrandou um pouco. Eu queria estar brava com Jet, mas eu entendia por que ele fez isso. Logo que eu comecei a me acalmar, eu percebi que eu provavelmente teria ficado em seu caminho. Eu teria sido uma distração que poderia ter feito alguém morrer ou se ferir. Odiando que eu estava admitindo que Jet tinha razão ao dizer ao meu primo para me deixar - mesmo que fosse só para mim mesma, eu terminei o resto do meu café e ouvi com indulgência enquanto Maria continuava a dizer como estava orgulhosa de seu filho. Outra hora se passou e meu intestino começou a queimar com ansiedade enquanto cada segundo que pareceu durar uma eternidade passava. Onze e meia veio e foi. Onde eles estão? Hawk está bem? Jet está bem? Deus, por favor, deixe-os estar bem. Vigie-os para mim. Mantenha-os seguros. Traga Jet de volta para mim inteiro. Era a mesma oração que eu repetia uma e outra vez quando descobria que Jet foi em um trabalho. Eu não era cega para o fato de que sua vida era perigosa, mas tudo o que eu queria era que ele voltasse para mim seguro e inteiro. Meu tio não estava, então era apenas Maria e eu na casa. Eu sabia que havia pelo menos um guarda do lado de fora, no entanto. Ciro e seu pai sempre deixavam Maria bem protegida em todos os momentos. Incontrolavelmente, meus olhos começaram a baixar e eu tive que lutar contra um bocejo. — Vamos lá, querida. Eu vou lhe mostrar o quarto de hóspedes. Quando seu jovem homem chegar, vou dar-lhe um quarto também. Meu jovem homem? Eu quis rir com esse pensamento. Eu nunca o considerei meu antes. Nunca pareceu isso para mim quando eu realmente estive com Jet. Claro que eu considerava todos como família, mas eu não imaginava ser reciproco. Me surpreendeu que é bom pensar dessa forma agora. Pelo menos alguns deles me acolheram em casa com um calor que descongelou meu coração com a ideia de morar lá. Eu só estava de volta na vida do MC a pouco mais de um dia, mas estava começando a se sentir normal de novo.

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Enquanto tomava um banho logo que entrei no quarto de hospedes, levei um momento para refletir sobre isso. Eu sentia falta de Emmie e as crianças. Até mesmo de Nik e o resto doS Demons, mas não era nem perto de como me senti sem Raven e os outros Hannigans quando fui trabalhar para a família Armstrong. Havia tristeza e até mesmo dor, mas não me fez ter que parar e recuperar o fôlego como quando aconteceu nas primeiras semanas que eu estava em Malibu. Sem querer admitir que era porque eu pertencia ao clube, eu me sequei e subi nos lençóis da cama king-size no meio do quarto, sem me preocupar com a camiseta que Mary me deu para dormir. Os lençóis sentiam tão bem contra minha pele e o travesseiro era espesso, mas suave. Perfeito. Envolvendo meus braços em torno dele, eu o apertei na minha barriga e deixei o sono me consumir. Já era tarde quando eu pensei ter ouvido a porta se abrir. Eu suspirei e rolei na cama. Vagamente eu sabia que eu não estava sozinha, mas eu não me sentia ameaçada. Do banheiro, ouvi o chuveiro ligar, mas minha mente ainda estava embaçada com sono e não pensei outra vez antes de dormir de novo. A sensação da cama afundando fez meus olhos se abrirem quando um corpo grande e duro entrou debaixo das cobertas comigo. Segundos depois, uma mão áspera e calejada estendeu a mão para mim e me abraçou pela minha cintura. Estava escuro no quarto, mas o modo como meu corpo pegou fogo imediatamente me disse exatamente quem era. Jet. Ele soltou um suspiro de satisfação e seus lábios roçaram minha testa. — Finalmente — grunhiu em voz baixa. — Porra, eu senti falta disso. Meus olhos fecharam enquanto eu saboreava essas palavras. Por agora, eu fingia que ele falava a verdade. Por enquanto, pelo menos, eu iria mantê-lo perto. Por agora. — Hawk está bem? — Perguntei, precisando saber se meu amigo ainda estava vivo antes de dormir de novo.

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Ele endureceu, mas acenou com a cabeça. — Ele está melhor agora que tem Gracie de volta. — Então você a encontrou? — Senti ele acenar na escuridão. — Ela está bem? Houve uma pausa e meu coração caiu no meu estômago enquanto eu imaginei tantas coisas terríveis acontecendo com a doce Gracie. — Ela foi baleada quando os italianos a levaram. A maldita coisa ainda estava em seu braço e havia sinais de infecção. Sepse, Raven disse. Eles a levaram para um hospital. Ela está recebendo os antibióticos mais fortes que eles podem dar a ela, mas ela já estava muito mal quando saímos. Tio Jack e Trigger decidiram ficar com Hawk para olhá-la. — Ela vai ficar melhor, no entanto. Certo? — É claro que vai — ele me assegurou e apertou seu braço em volta da minha cintura. — Vamos, Flick. Vamos dormir. Estou morto de cansaço. Eu não dormi na noite passada. — Ok. — Eu levantei minha cabeça para que ele pudesse colocar seu outro braço sob ele, e usá-lo como meu travesseiro. Se o travesseiro era perfeito, isso era nirvana puro. Era assim que sempre dormimos quando estávamos juntos. Com o grande corpo de Jet e seu calor, eu nem precisava de cobertor. Foi só então, com os meus seios nus pressionados contra o peito sem camisa dele, que eu me lembrei que eu fui nua para a cama. Se eu estava queimando com apenas o toque de sua mão na minha cintura, não era nada perto do que estava começando a me consumir agora. Um arrepio percorreu minha espinha. Deitada assim, nossas frentes pressionadas tão perto, eu não tinha dúvida de que ele me queria. Seu pênis estava duro como pedra e batia contra o meu estômago. — Porra, você está tentando me matar, não é? — Ele gemeu e enterrou seu rosto no meu cabelo. A mão na minha cintura se apertou em um punho e seu corpo realmente balançou. — É isso que você quer, baby? Me matar por querer você?

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Lambi meus lábios repentinamente secos. — Como é que vai matar você? — Porque eu não vou fazer assim com você, Flick. Você me conhece melhor do que isso. Eu fiz uma careta no escuro. — Mas… — Mas o que? Eu olhei para ele. — Eu achei que sexo era parte do acordo que você me fez fazer com você esta manhã. Não era isso que você queria? — É claro que é o que eu queria, mas eu não estava esperando por isso. Tudo que eu queria era ter certeza de que você estaria na minha cama todas as noites, Flick. Fazer amor é decisão sua. Eu nunca forcei uma mulher antes e eu não planejo começar agora. — Seus lábios deslizaram sobre a minha testa antes de ele apoiar o queixo em cima da minha cabeça. — Fique quieta e durma, baby. Lágrimas queimaram meus olhos enquanto eu fiquei lá, me sentindo segura. Eu pensei seriamente que o sexo seria parte do acordo que fiz com ele. Talvez eu até aceitei por causa disso, para que eu pudesse ter essa parte dele, sem deixar meu coração derreter de novo. Era tarde demais para isso agora. Sem que eu percebesse, minhas paredes caíram naquele dia e ele entrou. Ele nunca teve que se esforçar para que eu me apaixonasse por ele, no entanto. Ele me tratar de forma especial foi minha ruína da última vez, e ele nem foi tão longe dessa vez. Um pequeno toque aqui, um olhar profundo lá e eu me tornei uma poça em suas mãos de novo. Eu sabia que era porque eu não tinha me desligado dele antes. Por mais que eu quisesse acreditar que superei Jet Hannigan, eu sabia que era uma grande mentira. Eu não segui em frente. Eu não acabei de vez com ele. Quanto mais cedo eu admitir isso, melhor seria. Com os dedos trêmulos, eu toquei seu peito. Seu coração estava batendo, me dizendo que apesar de suas palavras, ele estava tão desesperado por mim quanto eu por ele. Jet respirou fundo. — Durma, Flick. Não vou tirar vantagem de você. — E s-se eu quiser que você tire? — Eu sussurrei.

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— Eu diria que você tem que ser a primeira a agir, amor. Eu consegui o que eu queria. Você de volta na minha cama, em meus braços. Qualquer coisa depois disso é apenas um bônus. Mas tem que ser você a fazer acontecer. — Seus lábios estavam quase escaldantes contra a minha bochecha. — Se você me quiser, eu estou bem aqui. Pegue o que quiser. Mas não espere que eu faça isso por você. Amor? Ele nunca me chamou assim antes. Sempre foi babe ou baby. Meu coração se apertou enquanto eu saboreava aquela pequena palavra. Como eu poderia ser tão feliz com uma palavra? Era estúpido e louco, mas eu deixei essa palavra fazer o seu caminho para as partes mais profundas da minha alma e não me surpreendi quando as partes desfiadas começaram a se curar um pouco. Com um suspiro, eu levantei minha cabeça e deslizei meus lábios sobre os dele. Ele ficou completamente imóvel. Eu sequer acho que ele estava respirando bem, então. Sorrindo para mim mesmo com a reação dele, eu o beijei de novo, suavemente. Meu dedo emaranhou pelo pequeno tufo de pelo em seu peito duro. Seus lábios tinham o mesmo gosto de como eu me lembrava. Escuro e perigoso. Foi assim que eu sempre descrevi este homem. Era um sabor delicioso. Sedutor. Poderoso. Saber que o afetava tanto quanto ele me afetava me fez sentir tão perigosa quanto eu sabia que ele era. Eu poderia fazer Jet Hannigan se esquecer de respirar com apenas um leve toque dos meus lábios contra os dele. Como eu tinha esquecido que eu sempre fui capaz de provocar essa reação neste homem? Mesmo que fosse apenas em um nível físico, Jet e eu éramos uma combinação incrível. Algumas pessoas sequer vivenciam isso. A paixão não estava lá para eles e era apenas uma vida triste para ser vivida. Eu nunca me preocupei quando se tratava da nossa atração com o outro. Foi só quando meu coração implorou por mais que as coisas deram errado entre nós. Eu não seria tão estúpida desta vez. Eu não deixaria meu coração governar nosso relacionamento, independentemente do que poderia ser. Não

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importava que eu ainda estava apaixonada por Jet. Nada disso importava. Eu só queria isso, esse fogo do desejo. Quem sabia quanto tempo duraria? Talvez ele se cansasse de mim mais uma vez em apenas algumas semanas ou meses e ele me deixaria voltar a trabalhar para Emmie. Mas eu aproveitaria cada segundo com ele. — Flick — Ele respirava o meu nome com a voz embargada. — Você tem certeza? — Shh — ordenei suavemente. — Eu quero isso. — Eu o beijei novamente. Este foi mais longo, mais duro. Mais profundo. Eu deixei minha língua deslizar dentro de sua boca quente e brinquei com sua língua até que nenhum de nós conseguia respirar. A mão na minha cintura se abriu e ele pegou meu quadril, segurando mais forte, mas não o suficiente para deixar uma contusão. Foi assim que sempre foi. Meu grande e assustador, motoqueiro alfa era duro como prego, mas quando ele me tocava, era com suavidade. Ternura. Talvez fosse por isso que eu tive tanta esperança que ele se importava comigo tanto quanto eu me importava com ele. Empurrando esse pensamento para longe, eu levantei as duas mãos para remexer meus dedos pelos seus cabelos, segurando-o no lugar enquanto eu aprofundava o beijo ainda mais. Mais baixo, seu pau duro flexionou contra o meu estômago. Eu fui incapaz de esconder o meu desejo quando minhas coxas umedeceram com a minha necessidade. Fazia tanto tempo que eu tive um homem entre as minhas pernas. Jet foi o único a explorar meus lugares mais íntimos e essa era a maneira como sempre seria. Eu não queria nenhum outro homem como queria ele e não me contentaria com o segundo melhor. Se ele queria que eu levasse as coisas para mais longe, é o que eu faria. Ainda beijando-o, eu empurrei seus ombros e ele caiu de costas de bom grado. Sua mão no meu quadril aventurou até que ele estava cobrindo minha buceta com toda sua mão. Sim, eu queria chorar. Sim. Sim. Sim. Eu montei sua cintura, me abrindo ampla para que seus dedos pudessem explorar mais profundo. Quando eles não o fizeram e ele acariciou para cima e para baixo os meus lábios encharcados, eu finalmente quebrei o beijo. Nós dois estávamos tentando recuperar o fôlego, ofegantes como se

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tivéssemos acabado de correr dois quilômetros. Eu podia ver melhor no quarto escuro agora, podia distinguir a forma de seu rosto e a forma como sua boca brilhava do nosso beijo louco. Eu o queria mais do que jamais quis em toda a minha vida. — Você... — Eu tive que parar e limpar minha garganta para que eu pudesse falar. — Você está limpo? — Porra, sim — ele rosnou, ambas as mãos segurando a minha cintura agora. — Eu não estive com ninguém desde você. Eu não acreditei nessa última parte nem por um segundo, mas eu sabia que ele não mentiria para mim sobre estar limpo. Ele pode não me amar, mas me respeitava o suficiente para não me colocar em risco. Eu me mexi em cima dele até que minha boceta latejante cobriu seu pênis pulsante. Nós dois soltamos um gemido baixo enquanto eu esfregava meu clitóris sobre a ponta, nos torturando do melhor jeito. Estrelas brilharam na frente dos meus olhos e eu tentei não chorar quando senti o orgasmo chegando com apenas essa pequena provocação. Respirando fundo, eu agarrei seu longo pau e o posicionei na minha entrada. Eu queria segurar o momento em que ele deslizou dentro de mim, mas sabia que seria rápido demais, não importa quão lento eu levei as coisas. Mordendo o lábio para não gritar de puro prazer quando deslizei em seu grande eixo, me mexi até que eu estava completa com ele. Eu estava sentada em cima dele, meu corpo levando apenas um momento para se ajudar à plenitude. — Porra — ele murmurou e agarrou meus quadris para me manter no lugar. — Porra, é tão bom. Me dê um minuto, amor. Eu já estou lutando pelo controle. Eu quero durar para você, mas não sei se posso. — Eu... eu não sei quanto tempo eu vou... — eu ofeguei. — Você é incrível dentro de mim, Jet. — Você é tão quente, Flick. Quente e úmida apenas por mim. — Ele balançou a cabeça como se estivesse realmente lutando consigo mesmo. — E apertada. Tão apertada. Eu te quero tanto, amor. Tanto.

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— Eu quero me mover — eu respirei. Com o aperto dele sobre mim, eu não podia nem mesmo mexer meus quadris e muito menos começar a montálo do jeito que eu queria. — Ainda não — ele rosnou com aquela voz áspera que eu me lembrava tão bem. Me dizia que ele estava segurando por um fio, que ele ia gozar em breve. Eu queria que ele gozasse tão desesperadamente quanto eu. Tê-lo dentro de mim estava me deixando louca. Eu queria que acabasse. E não queria que acabasse nunca. — Por favor — eu implorei, incerta se eu estava pedindo demais ou não. — Por favor, Jet. — Amor... — Suas costas arquearam e ele foi ainda mais fundo dentro de

mim.

Minhas

paredes

tremeram,

enquanto

eu

procurava

inconscientemente mais da incrível sensação de ter sua cintura me alongando mais e mais. Com um gemido, comecei a brincar com meu clitóris, incapaz de ficar mais um segundo sem algum tipo de alívio. O primeiro golpe de meu dedo médio sobre o pequeno feixe de nervos me fez tremer de prazer. Minhas paredes internas contraíram um pouco enquanto eu esfregava pequenos círculos uma e outra vez no meu clitóris. Minha entrada inundou cada vez mais com a minha necessidade crescente. — Flick — Ele mudou meus quadris ligeiramente para trás e para a frente, balançando meu corpo em seu pênis. Ele passou sobre aquele ponto secreto que sempre me fez implorar no final. — Venha para mim, amor. Afogue meu pau em seu doce mel. Eu quero sentir isso. Deixe-me sentir isso. Alcançando atrás de mim com a minha mão livre, eu segurei sua coxa enquanto eu esfregava mais duro, mais rápido, enquanto ele segurava meu quadril. Minhas coxas estavam começando a tremer, nos avisando que eu estava perigosamente perto. — Jet. — Eu sussurrei seu nome, mas eu poderia muito bem ter gritado. Minha garganta estava desfiada com a ferocidade pelo jeito como falei quando meu orgasmo bateu forte. Só então Jet me soltou. Seu toque era suave, mas firme quando ele me empurrou até o final da cama, puxando e empurrando profundamente. Seus impulsos vieram rápidos e duros, e apesar da magnitude da versão anterior, eu podia sentir outro orgasmo vindo, e que seria tão intenso quanto.

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— Flick — ele gemeu. — Ah, amor. Você se sente tão bem. Tão bem. — Seus dentes beliscaram meu pescoço enquanto ele enterrava seu rosto no meu ombro. — Preciso tanto de você. Meus braços envolveram em torno de suas costas, minhas unhas afundando profundamente em sua carne. Com cada impulso poderoso, elas cortavam suas costas. Ele gemeu e aumentou sua velocidade, sacudindo a cama. Parecia que a casa inteira estava balançando. Talvez o próprio mundo. Eu estava caindo novamente. Caindo rápido e duro e não era só por outro orgasmo. Eu estava me apaixonando mais e mais por Jet Hannigan3.

3

No original: Falling, que também pode ser traduzido como se apaixonando (Falling in love)

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Capítulo Treze

Jet Meu telefone estava gritando. Começou há cinco minutos, me tirando da melhor noite de sono que eu tive em muito tempo. Eu fiquei lá, ignorando enquanto saboreava a paz de segurar Flick em um inferno de um longo tempo. As cortinas estavam abertas, deixando entrar a luz do sol da manhã, lançando um brilho suave sobre a nudez de minha mulher. O telefone parou, apenas para começar de novo. Nem antes nem agora, não mexi um dedo para alcançá-lo na mesa de cabeceira onde eu o deixei em algum momento no meio da noite. Quem quer que fosse, provavelmente era uma emergência ou uma notícia com a qual eu precisava lidar. Eu não conseguia encontrar forças para me importar. Eu estava fisicamente esgotado após adorar o delicioso corpo de Flick a noite toda. Nenhum de nós conseguiu dormir muito depois da primeira vez em que fizemos amor, de um jeito que fez a terra tremer. Eu passei quase dois anos sem ela – sem ninguém - para compensar. Para me aliviar. Porra, quem eu estava enganando? Eu nunca aliviaria minha necessidade por Flick. Finalmente, meu telefone – o descartável – parou de tocar. Apenas para começar de novo. Flick gemeu e se moveu contra o meu lado, com a mão sobre a minha cintura apertando em um pequeno punho. — Faça parar — ela implorou em uma voz sonolenta que era ao mesmo tempo sexy e adorável. Murmurando uma maldição, eu a soltei por tempo suficiente para pegar o telefone. Quando o plástico fez um barulho de rachadura, eu soltei minha mão da dela antes de colocá-lo ao meu ouvido. — O quê? — Rosnei para o receptor.

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— Más notícias — a voz de Ciro encheu minha orelha. Ele parecia cansado e chateado. — O quê? — Um milhão de possibilidades já estavam correndo pela minha cabeça, cada uma fazendo o meu coração bater cada vez mais forte. — O velho teve um ataque cardíaco e morreu cerca de meia hora atrás. Alívio me encheu. Eu pensei que algo tinha acontecido a um dos meus irmãos ou Gracie. — E? Apenas nos poupa o trabalho de ter que acabar com ele. — Eu senti Flick enrijecer e ela se moveu até que estava apoiada em seu cotovelo. Seus olhos azuis estavam completamente acordados agora enquanto ela olhava para mim interrogativamente. Instintivamente meu olhar caiu para seu peito. Ah, inferno. Ela tinha os melhores seios do planeta. Ela era perfeita desde o topo de sua cabeça escura até as pontas de suas unhas rosa. Mas os seios... Merda. Meu pau ficou duro como aço rapidamente. Só olhar para ela me fez arder. Meu cérebro estava fechando com todo o meu sangue descendo e meu pau pulsou com necessidade por ela. Eu peguei sua mão e a abaixei, envolvendo seus dedos moles em torno de meu pau. Seus olhos se arregalaram, mas ela sorriu para mim enquanto começava a me acariciar tortuosamente. — Jet? — Ciro rosnou no meu ouvido, ao mesmo tempo em que Flick fez uma pequena torção com o pulso dela e eu quase explodi. — Você ainda está aí? Eu segurei o telefone longe da minha cabeça por tempo suficiente para limpar minha garganta e dei uma piscadela para Flick antes de responder. — Sim, cara. Estou aqui. Hawk sabe? — Eu queria falar com você primeiro. Não sei como o idiota vai lidar com o fato de que o seu novo brinquedo já está morto e ele não pode brincar com as facas à moda antiga. — Ciro soltou um suspiro cansado. — O que você quer que eu faça? — Durma um pouco. Vou falar com Hawk — eu assegurei quando estendi a mão e comecei a acariciar os mamilos duros como diamantes de Flick. Ela soltou um suspiro satisfeito. O aroma de sua excitação crescente

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encheu meu nariz e ela esfregou suas coxas como se estivesse tentando aliviar a dor entre elas. Porra, eu a queria tanto que chegava a doer. — Entendi. Ligue para o seu advogado. Ele está tentando falar com você e Hawk também, mas não conseguiu resposta de ninguém. — Eu vou fazer isso em seguida. — Eu belisquei o mamilo de Flick entre o polegar e o dedo indicador, puxando-o levemente. Sua língua escapou entre seus lábios entreabertos para atenuar seus lábios inchados de beijos. O telefone ficou mudo no meu ouvido e eu o fechei antes de jogá-lo de volta na mesa de cabeceira. — Problemas? — Flick murmurou. Sorri quando agarrei sua cintura e rolei sobre suas costas. Suas pernas abriram de boa vontade e eu me empurrei nela sem me preocupar em me certificar de que ela estava pronta. Eu sabia que estava. Minha Flick sempre estava pronta para mim. — Não, amor. Nenhum problema de modo algum. Algo brilhou em seus olhos, mas ela baixou as pálpebras para esconder antes que eu pudesse pensar sobre isso. Antes que eu pudesse perguntar a ela, ela arqueou as costas e moveu seus quadris, me fazendo afundar ainda mais dentro de sua buceta apertada como uma luva. Eu perdi toda a capacidade de pensar com clareza quando peguei tudo o que eu queria dela e devolvi um milhão de vezes. Eu não sabia quanto tempo se passou. Poderia ter sido horas, ou mesmo dias, mas quando eu levantei minha cabeça após um orgasmo que quase me fez desmaiar, foi para encontrar Flick sorrindo para mim enquanto ela acariciava os dedos carinhosamente pelo meu cabelo. — Porra, você é tão bonita. — Eu acariciei um dedo pelo seu rosto macio. Suas pestanas baixaram e ela pegou meu toque. — Eu te amo pra caramba, Flick. Cílios longos e grossos estalaram para cima, seus olhos se arregalaram. Eu vi uma mistura de surpresa e alegria que foi muito rapidamente seguida por descrença. — Nós fodemos tão forte que alguns dos seus fusíveis sobrecarregaram? Eu tenho certeza que você disse que me ama. — Eu disse.

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— Oh... — Ela engoliu em seco uma vez, duas vezes. A terceira vez que ela fez isso, ela empurrou contra o meu peito. Relutante, eu me afastei dela. — Eu deveria me vestir. A tia Maria provavelmente está me esperando para tomar café com ela e eu quero ir para o hospital para ver como Gracie e Hawk estão. Ele tomou o antibiótico? — Tio Jack deu para ele — eu disse a ela, observando-a se mover pela sala. — Bom — ela murmurou. — Flick... — Vou tomar banho — ela disse por cima do ombro enquanto pegava as roupas que usou no dia anterior e ia para o banheiro. A porta se fechou atrás dela e ouvi o som distinto da porta se trancando. Eu a deixei ir, muito magoado por sua reação à minha confissão de amor para pensar com clareza naquele momento. Que diabos? Por que ela estava agindo assim? Eu pensei que ela ficaria feliz que eu finalmente disse a ela que a amava. Filho da puta. O que diabos aconteceu? Eu pensei – esperava – que quando eu finalmente admitisse que a amava, ela diria as palavras de volta. No início, antes de eu ter arruinado as coisas entre nós, ela costumava dizer que me amava o tempo todo. Eu sabia que ela sempre quis que eu repetisse as palavras, mas eu fui muito covarde para fazer isso. Ela se sentia assim toda vez que dizia aquelas três palavrinhas e não as recebia de volta? Esfregando a dor que estava queimando em meu peito com uma mão, peguei o travesseiro com a outra e dei um soco de frustração sobre a maldita coisa. *** Foi só depois das nove que o carro que Ciro nos emprestou parou em frente ao hospital em Connecticut. Uma segunda SUV parou bem atrás de nós logo que eu estava saindo para ajudar Flick. Ela não disse uma palavra quando eu segurei sua mão antes de me virar para enfrentar meus irmãos.

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Colt atirou um olhar sujo a Raider antes de voltar sua atenção para nós e sorriu para Flick. — Bom dia. Ela devolveu o sorriso e eu tentei segurar o meu desejo de socar meu irmãozinho no rosto. Colt parecia mais comigo do que nossos outros irmãos. Será que ela sentia algo por ele? Apertando minha mandíbula, puxei-a para a entrada do hospital sem falar com ninguém. Flick não tentou puxar a mão dela e um pouco da dor no meu peito diminuiu. Depois do banho, ela saiu do banheiro agindo como se nada tivesse acontecido. Como se eu não tivesse acabado de vomitar as palavras que agitaram meu intestino durante anos. Ela sorriu, me beijou e depois desceu para tomar café da manhã com sua tia enquanto eu tomava um banho. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo dentro de sua linda cabecinha, mas se ela achava que eu diria que a amava só uma vez, ela estava louca. Agora que eu tinha quebrado o selo e deixei essas três palavrinhas escaparem, eu queria dizê-las mais e mais vezes. Eu queria dizer a ela a cada cinco segundos. Talvez se eu dissesse muitas vezes, aquele olhar de descrença em seus olhos azuis desapareceria. Talvez ela devolvesse as palavras e me tirasse da minha miséria. Raider, Colt e Matt entraram no elevador com a gente e Matt socou o botão do andar correto. Hawk não tinha respondido seu telefone quando tentei ligar para ele naquela manhã, mas Tio Jack tinha, então eu sabia que meu irmão estava bem. Ele estava apenas desmaiado na cama com Gracie. Eu não sabia como ele ia levar a notícia que Ciro me contou muito bem, ou sobre o que eu descobri com Jenkins quando liguei para ele depois do banho mais cedo. Com quatro grandes homens no elevador, Flick parecia uma garotinha presa entre nós. Eu a puxei para perto e envolvi meu braço em torno dela. Dando um beijo no topo de sua cabeça, eu atirei um olhar para Colt, avisandoo exatamente a quem ela pertencia. Ele revirou os olhos para mim e sorriu, mas não disse uma palavra quando o elevador subiu mais alto.

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Finalmente no andar certo, caminhamos pelo corredor até a sala onde deixamos Hawk com Tio Jack e Trigger para vigiar Gracie. Matt assumiu a liderança com Raider atrás dele. Eu empurrei Flick na minha frente e deixei Colt por último. Não era como se pensássemos que alguém apareceria para leva-la, mas foi incutido em nossas cabeças para cuidar de nossas mulheres. Especialmente Raven e Flick. Tio Jack estava em uma cadeira perto da janela quando entramos. Ele parecia não ter dormido muito, mas ele deu um sorriso cansado a Flick quando ela foi oferecer um abraço apertado. — Olá, querida. Meu olhar foi ao redor da sala. Trigger estava em uma cadeira ao lado da cama onde Hawk estava esparramado com Gracie. Meu irmão parecia melhor do que no dia anterior. Ele não estava pálido como a morte e sua respiração era estável enquanto ele segurava Gracie. Gracie, por outro lado, ainda parecia ruim. Seu cabelo estava uma bagunça, com o rosto pálido e coberto de suor, me fazendo perguntar o quão alta estava sua febre. O monitor cardíaco mostrava que sua frequência cardíaca estava elevada e sua respiração rápida demais. Infecção no sangue, ou sepse como Raven disse ontem quando me ligou, era perigoso. Podia desligar seu corpo todo, porque atacava os órgãos. O médico queria leva-la para a UTI, mas porque Hawk e Tio Jack se recusaram a sair do lado dela por um segundo sequer, o médico teve que colocá-la em uma sala particular, imaginando que ela ficaria melhor mais rápido se ela estivesse cercada por pessoas que a faziam se sentir segura. Por causa do ferimento à bala, a polícia foi chamada. Era o protocolo para essas coisas. Todos nós sabíamos disso e já tínhamos a história pronta antes mesmo do primeiro policial vir nos questionar na noite anterior. Nós contamos a verdade... menos alguns detalhes. Tio Jack havia dito aos policiais que os homens de Santino haviam levado sua neta porque éramos rivais na Califórnia. Viemos para Nova York para recuperá-la e a encontramos baleada. Quando os três policiais continuaram a fazer perguntas, eu liguei para Ciro e entreguei o telefone para o policial que parecia estar no comando. Eles saíram poucos minutos depois, pedindo desculpas por ter tomado tanto do nosso tempo.

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— Ele tomou seus antibióticos? — Flick perguntou a Tio Jack. — Gracie pediu para ele e ele tomou sem qualquer discussão — o velho homem assegurou com um sorriso fraco. — Ele está dormindo a cerca de seis horas agora. Ele parece estar melhorando, mas ela está ficando cada vez mais doente. Fui até a cama e balancei a perna de Hawk. A cabeça de meu irmão estalou imediatamente. — O quê? — Ele resmungou. Eu balancei a cabeça em direção à porta. Eu queria falar com ele sozinho antes de contar aos outros o que Jenkins disse. Hawk fez uma careta e depois virou-se para roçar um beijo sobre a testa suada de Gracie. — Quando foi a última vez que eles vieram ver como ela estava? — Ele perguntou a Trigger. — Aproximadamente uma hora atrás. Eles pegaram seus fluidos e substituíram a bolsa de antibióticos. A enfermeira disse que pode demorar um dia ou dois até que os antibióticos funcionem. — Trigger encolheu os ombros. — Sua frequência cardíaca aumentou nos últimos trinta minutos e sua pressão arterial está mais alta cada vez que ela vem checar. — Flick, você se importa de pegar um pano e limpar o rosto dela? — A voz de Hawk era suave, seus olhos suplicantes. Foi uma mudança drástica de como ele olhou para ela no dia anterior. Ela lhe deu um sorriso triste. — Eu não me importo. Vá falar com Jet. Eu cuido de sua Gracie. Ele engoliu em seco duas vezes, antes de assentir e beijar Gracie novamente. Moveu-se lentamente ao levantar, o corpo tenso com a dor enquanto ele esticava as costas e ombro. Murmurando uma maldição, ele me seguiu para o corredor. Enfermeiros e alguns médicos estavam por toda parte, então eu fui para a sala de espera no final do corredor e fechei a porta atrás de nós. Felizmente não havia ninguém lá dentro. Hawk esfregou as mãos sobre o rosto e olhou para a máquina de venda automática algumas vezes antes de voltar sua atenção para mim. — Novidades? Eu balancei a cabeça. — Ciro ligou. Morgan teve um ataque cardíaco. Ele está morto.

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— Filho da puta. Eu estava ansioso para acabar com aquele bastardo. — Ele balançou a cabeça. — O que você disse para Ciro fazer? — Disse para ir para casa e dormir um pouco. O corpo ainda está no armazém — eu assegurei. — E o outro Morgan? O que Ciro fez com ele? — Ele provavelmente está em uma banheira de gosma a essa altura, irmão. Você sabe que Ciro usa ácido para se livrar dos corpos. — Ciro era um especialista em fazer as pessoas desaparecem. Ele usava ácido para se livrar dos corpos e derramava as sobras no Rio Hudson. Se ele estava tentando enviar uma mensagem, ele geralmente guardava uma parte, e enviava embrulhado como um presente para os entes queridos do cara. — Ciro não é divertido. — Hawk murmurou baixinho. — Ciro não deixa emoção dominá-lo. Você estava com raiva pura ontem. Ele salvou sua bunda. — Eu não ia mentir. Quando Ciro mudou os planos no último minuto, mantendo Hawk com ele, eu quase quis abraçar o cara. A cabeça de Hawk não estava boa e eu sabia que ele teria se matado. — Ok. Então Morgan está morto e eu não pude cortar sua garganta. Algo mais? Eu preciso voltar para Gracie. — Ele me deu um olhar impaciente. Eu soltei um suspiro cansado. — Jenkins vem tentando falar com você. Eu liguei para ele para ver do que ele precisava. Ele encontrou uma brecha no testamento de Craig Morgan que ele pensou que você poderia achar interessante. — E? Eu não dou a mínima para o dinheiro daquele filho da puta. Ele quase me custou a minha mulher — ele rosnou. Eu dei de ombros. — Jenkins pensou que já que há essa brecha e Gracie sempre quis traçar seu próprio caminho, você gostaria de dar a ela essa possibilidade de independência total. Os olhos de Hawk se estreitaram. — Qual é a brecha? — Se Morgan morresse antes de Gracie se casar, o dinheiro seria revertido automaticamente para ela. O velho está morto, Hawk. De causas naturais. Tudo que Jenkins tem a fazer é agir em seu nome e mostrar aos advogados o atestado de óbito. O dinheiro é dela. Ela merece depois do que aqueles bastardos fizeram com ela.

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— Ela não é a neta de Morgan. Craig Morgan não era o pai dela. Eu dei de ombros. Hawk mencionou algo assim ontem para Ciro, perguntando sobre um teste de paternidade. Eu não pensei muito nisso na hora e não me importava agora. — Quem diabos se importa? Ela teve que aturar o idiota por anos. Teve que assistir sua mãe apanhar do bastardo. E daí o velho a sequestra para tentar casá-la com um filho da puta do mal. Se alguém merece esse dinheiro, é Gracie. — Sim. Você está certo. — Ele passou as mãos pelo cabelo e se virou para ir até a máquina de venda automática. Ele tirou um dólar do bolso e deu um soco em alguns números. Eu fiz uma careta enquanto o observava dobrar para pegar o que comprou. Quando ele se endireitou, ele tinha um pão de mel em uma das mãos. — Talvez ela esteja com fome — ele murmurou para si mesmo. — Hawk... o que você quer que eu diga a Jenkins? — Diga a ele para fazer o que ele tem que fazer. Eu o darei a ela como presente de casamento. — Ele me deu um sorriso fraco enquanto se dirigia para a porta. — É hora de eu casar com aquela mulher.

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Capítulo Quatorze

Felicity A pobre Gracie ficou doente por três dias antes de os antibióticos começarem a funcionar. Até então ela estava fraca e bastante lamentável. Isso me mostrou um novo lado de Hawk, no entanto. Um lado que eu nem sabia que existia. Ele foi suave com ela, tão amoroso. Ele segurou seu cabelo quando ela vomitou, e enxugou sua testa quando ela estava encharcada de suor de febre. Ele a abraçou enquanto ela dormia e se agarrou a ela como se nunca quisesse deixá-la ir. Era mesquinho sentir ciúmes de uma menina doente, mas eu sentia. Não da relação de Hawk com Gracie. Eu nunca pensaria nele assim, não o amaria de outra forma do que como um irmão. Não, eu estava com ciúmes da maneira como o motoqueiro tratava sua mulher. Eu sempre quis isso. Ansiava por isso. Que um homem cuidasse de mim assim, de ouvir aquelas três palavrinhas que ele repetia para ela várias vezes e traziam um brilho especial naqueles olhos castanhos. Eu fiquei no hospital por mais de uma semana depois da surra de Westcliffe Ele fez danos internos que precisaram de cirurgia. A perda do meu filho não foi a única coisa que ele tirou de mim naquela noite. Eu perdi meu baço e um pedaço do intestino se rompeu. Ao longo daquela semana, Hawk ficou comigo. Colt e Raider iam visitar tanto quanto Raven. Jet estava ausente. Descobri mais tarde que ele chegou ao fundo do poço quando me encontrou inconsciente. Eu estava quebrada, sangrando e quase morta. Ele pensou que eu ia morrer, e mesmo então, sabia que nosso bebê tinha ido embora. Havia muito sangue para ele achar que o bebê estava bem. Foi muito

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mais tarde, porém, quando eu descobri tudo. Depois que ele bateu em Westcliffe até à morte, depois que vingou a mim e meu bebê. Mas enquanto eu fiquei naquele quarto de hospital, chorando até dormir enquanto os enfermeiros bombeavam analgésicos poderosos dentro de mim, eu me senti abandonada. Eu o queria lá, segurando a minha mão. Enxugando minha testa. Beijando minha bochecha e sussurrando que ia ficar tudo bem. Que ele me amava e que iriamos passar por isso. Juntos. Isso não aconteceu, no entanto. Foi Hawk segurando o balde quando eu chorei tanto que vomitei. Foi Hawk quem limpou minha testa, sua mandíbula apertada e os punhos enrolados quando me viu desmoronar. Então, sim, eu estava um pouco ciumenta de Gracie, mas não ia demonstrar. Durante o dia, eu ficava no hospital com os outros. Onde Jet ia, eu ia. Ele não me deixou fora de sua vista. À noite eu voltava para a casa da minha tia e dormia nos braços de Jet. Nós fizemos amor uma e outra vez, mal conseguindo dormir cada noite. Antes de adormecer nas primeiras horas da manhã, ele me dizia que me amava e eu fingia estar dormindo. Essa não foi a única vez que ele disse essas palavras. Ele me dizia pelo menos uma vez por hora, como se ele estivesse cronometrando o tempo para ver quantas vezes ele dizia aquelas malditas palavras. Cada vez, o meu coração parava – saboreava aquela sensação única – mas eu nunca as reconhecia. Eu não acreditava. Eu não entendia porque ele estava dizendo agora, de qualquer forma. Elas não eram necessárias e eu honestamente não queria ouvi-las. Ouvir “Eu te amo” de Jet Hannigan era um sonho que eu já tive. Ah, inferno. Era algo que eu ainda sonhava. Mas só se fosse verdade e eu sabia que não era. Não podia ser. Ou podia? Não, claro que não podia. Eu me repreendi por pensar nisso, por esperar mesmo que um pouco. Gracie estava melhor agora. Ela não recuperou toda sua força ainda, mas felizmente a sepse diminuiu e após duas semanas na cama em casa, ela finalmente voltou a trabalhar. Algo que não deixou Hawk satisfeito, para dizer no mínimo. Ela passou mais de duas semanas no hospital e quando os

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médicos finalmente a soltaram, Ciro nos deixou usar o jato dos Vitucci para ir para casa. Fiquei triste por deixar minha tia, mas eu sabia que eu pertencia a Califórnia. Em Creswell Springs. Eu sempre pertenci lá. Era casa. Estava ficando mais fácil suportar a distância de Emmie e sua família agora. A dor de perdê-los era uma dor surda, mas eu só pensava neles algumas vezes ao longo do dia. Raven me manteve ocupada desde que voltamos de Connecticut, e com Lexa e Max lutando pela minha atenção, a saudades de Mia e Jagger não era tão ruim. Com Lexa indo à pré-escola e todos os outros indo trabalhar já que o confinamento acabou, ficaram apenas Raven e o bebê comigo esta manhã. Minha amiga corria para limpar a cozinha depois do tsunami que era a casa Hannigan depois que todos tomavam o café da manhã. Max sentou no meu colo enquanto observávamos sua mãe terminando de lavar a louça. Era estranho para mim ver Raven tão domesticada. Ela nunca cuidou de todos assim antes. A maternidade a mudou de um jeito bom e eu gostei. Esta nova Raven ainda era dura como prego, mas era mais suave também. Muito mais afetuosa. — Como Ciro estava? — Ela perguntou enquanto colocava a última panela no escorredor e secava as mãos em um pano de prato. Eu pressionei meus lábios quando pensei no pouco tempo que passei com meu primo nas duas últimas semanas. — Ocupado — era tudo que eu poderia falar para explicar como ele estava. — Aparentemente, ser um soldado de um mafioso assustador como Vito Vitucci é um trabalho ocupado. Servindo-se de uma xícara de café, Raven sentou à mesa comigo. Ela tinha um leve brilho em seus olhos verdes e eu engoli um gemido. — Ele falou de mim? — Perguntou ela maliciosamente. Revirei os olhos para ela e levantei Max no ar o suficiente para que eu pudesse olhar em seus olhos. Os olhos de Bash. — Você sabia que sua mãe quase provocou uma guerra, Max? Hmm? — Max riu como se eu estivesse contando uma piada engraçada. — Ela tinha dezessete anos e usou meu primo favorito para se vingar do seu papai grande e assustador. O Sr. Máfia e Papai quase se vingaram.

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Raven sorriu. — Nunca houve uma ameaça de guerra, Flick. Pare de drama. Eu não olhei para ela, mas continuei a falar com Max, que explodiu bolhas de cuspe para mim enquanto seus dedos estendiam a mão para o meu cabelo. — Ok, não uma guerra, mas uma briga muito desagradável. Melhor? Raven riu suavemente. — Sim. Melhor. Queremos manter os fatos, querida. — Então, um dia o Sr. Máfia aparece para cuidar de um negócio com o Tio Jet. Mamãe estava na sede do clube naquele dia e o Sr. Máfia ficou imediatamente intrigado. Sua mãe parecia interessada, mas nós dois sabemos que nem tanto. Ela amava o papai, mesmo naquela época. — Meus olhos foram para Raven, que estava fazendo uma careta, mas balançando a cabeça, então olhei de volta para Max. — Aconteceu de Papai estar por perto também, e ver o jeito como Mamãe e o Sr. Máfia estavam... flertando. — Flerte foi tudo o que aconteceu, Flick. Você sabe disso. — Então, enquanto a Mamãe e o Sr. Máfia estavam se olhando, Papai teve que sentar e fingir que não estava incomodado com o que viu. Mas Tia Flick sabia. Provavelmente Tio Jet também, pela forma como ele riu sobre isso quando tudo acabou. — Baixei Max o suficiente para beijar seu rosto e, em seguida, o ergui novamente para que ele não pudesse enredar os dedos no meu cabelo. As raízes cresceram no último mês e eu ainda estava em cima do muro sobre pintá-lo de novo. Jet não disse se gostou ou não e eu estava dividida entre a vontade de agradá-lo e querer irritá-lo. — O Sr. Executor tinha um temperamento ruim. Algo que eu tenho certeza que você herdou, garoto. — Sim — Raven concordou. — Mamãe foi jantar com o Sr. Máfia e Papai, que era o executor na época, os seguiu. Papai não sabia que o Sr. Máfia não tinha tocado na Mamãe do jeito como ele aparentemente estava tendo pesadelos. Novamente Raven assentiu. — Ciro é um bom rapaz. Além disso... Acho que ele gostava de outra pessoa. Eu dei de ombros. — Eu ainda acho. Na verdade, parece que é algo mais do que apenas gostar. — Especialmente depois do que aconteceu em Nova

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York. Eu não sabia se ria ou se ficava chateada com o meu primo pelo que ele tinha feito... Max soltou um grito infeliz e eu sorri para ele. — Quer que eu continue a história, rapaz? Ele soprou mais bolhas de saliva para mim e eu percebi que era a sua maneira de dizer sim. — O Sr. Máfia levou Mamãe para jantar. Papai, não gostando do que estava vendo, os seguiu. Ele assistiu pela janela enquanto Mamãe e o Sr. Máfia comiam e conversavam. — Eu balancei a cabeça para as memórias. Era divertido pensar sobre o quão obcecado Bash havia sido. Como totalmente apaixonado por Raven ele era, ainda na época. — Um dia, Max, meu amor, você vai aprender a regra mais sagrada do clube: Ninguém toca em Raven. E eu tenho certeza que ela vai se estender a Lexa e qualquer outra irmã ou prima que você possa ter. Naquela época, era uma regra que seu pai levou a sério e aplicava de todo o coração. Então, quando o Sr. Máfia tocou a bochecha da Mamãe... — Foi apenas para limpar uma mancha de chantilly da minha sobremesa — Raven murmurou. — Papai ficou um pouco histérico, invadiu o restaurante e bateu no Sr. Máfia. A briga que se seguiu foi uma das que os irmãos do MC continuam a falar com admiração. Ninguém, nem um único homem, conseguiu enfrentar seu pai naquela noite, mas o Sr. Máfia revidou e bateu ainda mais. Ele era como uma máquina. Não dava para acreditar quando viram o Papai machucado e sangrento no dia seguinte. — Virou um banho de sangue muito rápido — Raven concordou. — Jet não sabia se ria ou gritava quando apareceu para falar com o gerente do restaurante e me pegar. — Sr. Máfia Man retornou a grande e assustadora New York e se recusou a lidar com alguém que não fosse o tio Jet novamente. Ele ainda não reconhece a promoção do Papai como presidente. — Eu esfreguei meu nariz contra Max, fazendo-o rir. — Mas Papai ganhou o prêmio no final, então eu acho que ele pode ser o melhor homem. Ele tem a Mamãe e você.

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Eu sentei lá abraçando e brincando com Max por mais alguns minutos. Eu estava tão perdida em segurar o bebê que não percebi o quão tranquila Raven ficou. Foi somente quando ela falou que eu percebi o quão conturbado seus pensamentos se tornaram. — Por que você não me contou sobre o bebê, Flick? Aumentei meu aperto sobre Max quando meus olhos fecharam de dor. Durante o meu tempo longe com Emmie e sua família, o buraco que estava em meu coração desde a morte do meu bebê curou até que era do tamanho de uma pequena picada. Eu tinha certeza de que aquele pequeno buraco nunca cicatrizaria completamente. Como poderia quando eu tinha querido e amado aquele bebê desde o segundo em que descobri que ele estava crescendo sob o meu coração? A dor que eu ouvi na voz de Raven só acrescentou a minha própria. Quando abri os olhos para encontrar o olhar dela, eu esperava ver traição por não confiar nela sobre a minha gravidez. Tudo o que eu vi foi confusão e dor... por mim. — Eu... — Eu parei e balancei a cabeça antes de tentar novamente. — Você estava passando por tanta coisa, Rave. Você estava sentindo falta de Bash e sofrendo muito. Eu não queria adicionar minha merda na mistura. — Sinto muito, Flick. Sinto tanto. — Lágrimas vidraram seus olhos e ela piscou rapidamente, mas algumas escaparam de qualquer maneira. — Eu fui uma amiga horrível. Egoísta e tão presa em minha própria merda que eu não podia ver o quanto você estava sofrendo. Você e Jet perderam tanto e eu não consegui abrir os olhos por tempo suficiente para ver o quanto você estava sofrendo. Eu alcancei até o outro lado e peguei uma de suas mãos. Quando eu apertei a mão dela, ela apertou de volta. — Você se lembra quando você estava se esgueirando com Bash? De como foi emocionante manter esse segredo? Saber que era só você e ele em algum tipo de paraíso secreto? Ela franziu a testa, pensando sobre isso, e depois assentiu. Eu dei-lhe um sorriso triste. — Era assim comigo quando eu estava com Jet. Por um tempo, pelo menos. O bebê era uma parte desse paraíso secreto e senti como se contar a alguém, mesmo a você - sobre isso, então seria como perder tudo de novo. Eu queria segurar o paraíso secreto por tanto tempo quanto possível.

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A pressão de Raven na minha mão aumentou. — Eu entendo, Flick. Sério. Mas se você tivesse falado comigo sobre isso, eu poderia ter ajudado você. Eu sei que eu não poderia ter feito a dor desaparecer completamente, mas se você tivesse alguém em quem confiar, alguém para ajudá-la a lamentar pelo bebê - talvez você não teria sentido necessidade de fugir. Ela estava certa. Se eu tivesse confiado nela, então talvez a dor não teria ficado tão fora de controle que eu me senti com apenas duas opções sobrando. Me matar para ficar longe da dor... ou fugir dela. Eu estava feliz por ter fugido ao invés de tomar o caminho mais fácil. Só agora eu podia ver quanta dor e destruição eu teria deixado para trás se tivesse acabado com a minha vida. — Sinto muito, Rave. Minha cabeça estava muito confusa. Eu senti como se ninguém precisasse de mim. Como se eu estivesse sentada só ocupando espaço em suas vidas. — Eu me afastei e passei a mão sobre as costas de Max. Segurar o bebê me trouxe um tipo de paz que eu só encontrei com o pequeno Jagger. Nenhum bebê jamais seria um substituto para o bebê que eu perdi, mas fazia com que fosse mais fácil pensar sobre o meu bebê não nascido sem quebrar meu coração. Um fôlego trêmulo deixou Raven e eu levantei minha cabeça para encontrá-la enxugando algumas lágrimas. — Eu nunca senti como se você estivesse apenas ocupando espaço na minha vida, Flick. A vida no clube é dura – endurece você. Às vezes, é fria com o tipo de escuridão de que os pesadelos são feitos. Por toda a minha vida, sempre houve uma pessoa que me deu a luz do sol quando as coisas ficavam muito frias, a luz quando as coisas ficavam muito escuras. Era você, Flick. Será sempre você. — Ela balançou a cabeça e quase com raiva enxugou as lágrimas que continuavam a cair em seu belo rosto. — Então não ouse nunca pensar que você não é necessária aqui. Que não é desejada. Eu amo você, todos amamos. Eu não... — Ela parou, engoliu em seco várias vezes e soltou um suspiro cansado antes de continuar. — Eu não quero me sentir de novo como quando você foi embora. Nunca mais. Preciso de você na minha vida. Eu quero você nela. Você é a parte suave para a minha dura e eu acho que uma parte de mim morreria sem você.

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Minhas próprias lágrimas estavam fluindo livremente agora. — Rave. Eu respirei o nome dela e ela apertou minha mão mais uma vez. Nenhuma de nós falou novamente por um longo tempo enquanto ficamos lá, absorvendo tudo que Raven tinha acabado de dizer, enquanto ela parecia empurrar um pouco de sua força em mim através de nossas mãos entrelaçadas. Depois de um tempo, nossas lágrimas secaram e Max começou a lamentar. Ele estava com fome e precisava de uma nova fralda. Raven levouo para o quarto para trocá-lo e alimentá-lo antes de colocá-lo para dormir. Precisando de alguns minutos para mim mesma, eu permaneci na minha cadeira na mesa da cozinha. Até a conversa com Raven, eu honestamente pensei que não era necessária na vida de ninguém. Agora eu poderia olhar para trás através de seus olhos e ver que eu estava errada. Eu estava magoada – e sim, com raiva também – para ver que eu tinha uma família inteira para me ajudar a enfrentar a perda que quase me aleijou mental e emocionalmente. Eu odiava ter machucado Raven e os outros quando fui embora, mas eu realmente não podia me arrepender de fugir. Eu encontrei a paz quando estava sofrendo e fiz novos amigos que sempre teriam um lugar no meu coração. Eu me curei e vivi algumas aventuras loucas com uma família que eu passei a considerar como a minha própria. Fiz uma careta com o pensamento de Emmie e sua família. Eu ainda não falei com ela. Eu honestamente não sei o que dizer. Ela me ligou pelo menos uma centena de vezes ao longo das últimas semanas, mas eu não conseguia responder. As mensagens de voz que ela deixava me disseram que tudo estava melhorando. Os policiais ainda não tinham ideia de quem tentou levar Mia e atirou em Gabriella Moreitti. Pelo menos Mia estava melhor agora, no entanto, deixando o pesadelo de seu sequestro para trás. Talvez ela sequer se lembre daquilo quando ficar mais velha. Talvez. Gabriella estava indo bem também, agora que podia se mover. Na última mensagem de voz de Emmie, ela disse que talvez eles estivessem a caminho de casa. — Eu gostaria que você fosse conosco, Felicity

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— foi a última coisa que ela sussurrou antes de terminar a chamada três dias antes. Eu não estava tão magoada por não ir com eles para casa como poderia ter estado quando voltei para Creswell Springs depois de Jet ter me chantageado a voltar. O telefone no balcão começou a tocar e eu me empurrei para longe da mesa para me levantar e atender. — Alô? — Hey, amor. — Minha calcinha ficou instantaneamente úmida e meu coração se contorceu em meu peito ao som da voz profunda de Jet. — Você está ocupada? — N-não — eu murmurei, lambendo meus lábios repentinamente secos. — E aí? — Estou quase terminando de fazer o inventário. Gostaria de sair hoje à noite? Algo em sua voz me derreteu e eu não conseguia entender. Ele parecia quase... tímido. Carinhoso até. Jet já foi assim? Carinhoso às vezes, mas nunca tímido. Claro, ele nunca me chamou para sair antes. Talvez ele tenha achado que eu recusaria. — O que você tem em mente? Seu riso era profunda e deliciosamente sexy, fazendo minha calcinha ficar embaraçosamente molhada. Eu apertei minhas coxas juntas, e me encostei no balcão. — É uma surpresa, mas eu prometo que você vai desfrutar de cada minuto. Droga. Quando ele usava esse tom eu não conseguia resistir a ele. Era mais suave do que o seu tom quase duro normal. Suave, quase amorosamente suave. Isso me fez sentir especial e esse era um estado de espírito falso e perigoso. — Hum... certo. Por que não? — Eu sabia que era uma má ideia, deixá-lo fazer o que ele tinha planejado. Eu sabia que já estava na zona de perigo, onde meu coração estava em risco, embora eu venha tentando o máximo mantê-lo trancado durante as últimas semanas. O problema era que eu não podia evitar. Eu queria cada segundo que ele estava disposto a me dar até que se aborrecesse e me jogasse fora de sua vida como da última vez. — Quer que eu vá buscá-la?

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Eu balancei a cabeça, embora eu soubesse que ele não podia me ver. — Não. Eu te encontro lá. Quando e onde? — Eu precisava sair da casa, limpar a minha cabeça com um agradável passeio relaxante antes de vê-lo. — No bar. Que tal às sete? — Havia uma nota tímida em sua voz de novo e eu tive que apertar as pernas em uma tentativa de abafar a dor que pulsava no fundo do meu lugar mais íntimo. — Vejo você depois.

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Capítulo Quinze

Jet Eu não era o tipo de cara romântico. Eu cresci com um homem que adorava sua esposa, mas a única maneira que ele demonstrava era voltando para casa com ela todas as noites. Isso era tudo o que minha mãe sempre quis, ele em sua cama todas as noites, segurando-a. Eles foram felizes, e mesmo após a morte de minha mãe, meu pai permaneceu fiel à sua memória. Pelo último mês eu venho tentando o jeito do meu pai. Indo para casa passar as noites abraçando-a e fazendo amor com ela a noite toda. Dizendolhe uma e outra vez que eu a amava. Não estava funcionando. Flick não suavizou comigo seguindo o exemplo de meu pai. Ela ainda não reconhecia quando eu dizia que a amava. Ela estava afastada de mim, não fisicamente, mas emocionalmente, e isso estava me deixando louco. Era hora de tentar outra coisa antes de perde-la de novo. Chantageá-la para voltar comigo provavelmente não me fez começar com o pé direito, mas porra, era o que eu sabia fazer. Eu não gosto de jogar justo quando se tratava de algo que eu queria. Algo que me preocupava. Alguém que eu amava. Fêmeas gostavam de corações, flores e essas merdas, certo? Porra, eu não tinha ideia. Eu nunca tive que fazer isso e sabia que minha irmã não gosta desse tipo de porcaria. Ela era tão dura quanto qualquer um dos meus irmãos, seja de sangue ou do clube. Minha culpa - eu tinha certeza, mas inferno, pelo menos ela poderia cuidar de si mesma se fosse preciso. Não que Flick não pudesse. Eu sabia que ela poderia, eu só não quero que ela precise. Eu queria cuidar dela. Para sempre.

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Se ela apenas abrisse seus olhos teimosos e visse isso, minha vida seria um inferno de muito mais fácil. Eu não sabia nada sobre como ser romântico para uma fêmea, mas estava aprendendo. Eu ouvi alguns conselhos de Gracie - de todas as pessoas. Esperava que funcionasse, porque eu estava morrendo lentamente por dentro por não ouvir Flick dizer que me amava como ela costumava fazer. Meus irmãos provavelmente zoariam comigo quando descobrissem o que eu estava fazendo, mas eu não dava a mínima. Eu aceitarei ser chamado de pau mandado se eu tiver os resultados que eu tanto ansiava. Hawk, Colt e Raider estavam no meio do bar olhando em volta como eu nunca os vi fazerem antes. Reconstruímos o lugar para parecer exatamente como o velho bar que nosso pai construiu com as próprias mãos. Houve algumas mudanças aqui e ali, que foram necessárias, e não realmente queridas. Parecia bom, um bar de quem alguém se orgulharia, mas sem o coração e a alma que o bar do nosso pai já teve. Pelo menos ainda não. O coração e a alma viriam com o tempo. Com suor e sangue e memórias felizes que todos nós faríamos aqui com o nosso MC. Naquela noite, porém, não se parecia com nada que já vi antes. Não neste bar ou o do nosso pai. Fiz meus três irmãos me ajudarem. Nós não abriríamos ao público esta noite porque eu tinha algo especial planejado. Flick teria seu ato romântico. — Parece que o Cupido passou por aqui — resmungou Raider quando golpeou um dos balões em forma de coração que enchiam a maior parte do lugar. Ele esvaziou três dos pequenos tanques de hélio para encher todos os balões rosa, e amarrou cada um com malditas fitas plissadas do jeito que Gracie lhe mostrou para fazer quando ela veio para checar nosso progresso em sua hora de almoço. Pela forma como meu irmão estava olhando pela sala, eu temia que ele explodisse a qualquer momento. Ele era alérgico a qualquer merda romântica, e eu não acho que poderia ficar mais romântico do que isso. Rosas e tulipas estavam em vários vidros, vasos, e até mesmo em algumas garrafas de cerveja ao redor da sala. Pétalas de rosas brancas e cor

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de rosa foram espalhadas pelo chão e levavam diretamente para um coração enorme que não tinha nada além de pétalas de rosas vermelhas. No meio do estupido coração estavam pelo menos vinte almofadas espalhadas ao longo de um cobertor grosso. Não havia luzes acesas no bar; em vez disso, o local era pouco iluminado com pelo menos duas mil luzes de velas perfumadas que Gracie me assegurou que fariam Flick pular em meus braços. — Se esta merda funcionar, me avise. — Colt passou os dedos em uma das fitas de um balão em forma de coração rosa. — Eu poderia fazer o mesmo com Kelli. — Eu não vejo Kelli querendo esse tipo de merda feminina — Raider especulou para Colt. — Eu a imagino sendo o tipo de garota que prefere correntes e chicotes em vez de corações e flores. Colt sorriu. — Você não está errado, mas isso pode ser divertido de tentar também. — Vocês dois são idiotas — Hawk rosnou. Puxando as chaves do bolso, ele se dirigiu para a porta. — Estou indo para casa. Boa sorte, irmão. Eu balancei a cabeça, incerto se deveria estar com ciúmes do meu próprio irmão ou não. Desde que Gracie voltou, Hawk mudou com Flick. Ele não rosnava para ela como fazia quando ela chegou. Eles pareciam próximos de novo, amigos. Melhor para eles que fosse apenas amizade. Eu não hesitaria em matar o meu próprio irmão se ele se atrevesse a tirar Flick de mim... Porra. Eu sabia que era simplesmente o estúpido ciúme falando. Qualquer um com olhos na cabeça podia ver que Hawk adorava Gracie. Ele adorava o chão que ela pisava. A maneira como ele tomou conta dela quando ela estava tão doente no hospital, as lágrimas que ele não teve vergonha em deixar cair enquanto ele temia que ela não melhorasse. Hawk amava Gracie de um jeito que eu nunca vi um homem amar sua mulher antes. Eu provavelmente deveria seguir seu exemplo, mas não tinha como eu pedir a ele por conselhos sobre como fazer Flick me amar de novo. Gracie foi a minha segunda escolha, porque eu sabia que ela não ia rir até cair ou me zoar sobre querer algo que eu provavelmente não merecia.

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— Nós já vamos também — Colt chamou quando ele e Raider foram para a porta. — Vejo você amanhã, irmão. Espero que você consiga o que quer hoje à noite. Eu não sabia se ele estava sendo sarcástico ou sério, então não respondi. Conhecendo meus irmãos, poderia ter sido qualquer um. Dando uma última olhada ao redor do bar, eu soltei um suspiro nervoso e sai para o estacionamento para esperar Flick. Eram quase sete e eu sabia que ela chegaria em breve. Nervosismo agitou meu estômago, fez minhas mãos suarem e meu coração bater mais rápido. Eu já quis algo tanto quanto eu quero que essa noite dê certo? Sim. Ela. Eu sempre a quis tanto assim, mas fui muito covarde para dizer. Isso mudaria essa noite, no entanto. Era hora de eu mostrar a ela que ela significava mais para mim do que qualquer coisa ou qualquer um. Porra, eu estava enlouquecendo. O som de um motor potente chamou minha atenção e eu levantei minha cabeça para encontrar Flick estacionando o Challenger de Raven no estacionamento. Desde que Raven teve Max, ela estava dirigindo um Tahoe preto e raramente dirigia o carro. Não era suficientemente grande para as crianças e tudo o mais que possam precisar transportar, então o carro basicamente ficou estacionado na garagem. Desligando o motor, Flick saiu, franzindo a testa enquanto caminhava em minha direção. — O que está acontecendo? Por que não há mais ninguém aqui? É quinta-feira. Imaginei que o lugar estaria lotado. Eu a peguei pela cintura e a puxei contra mim, parando suas palavras com um beijo lento e suave que deixou o meu corpo dolorido por ela. Beijei-a longo e lento, amando o jeito como seu corpo tremia e como ela se derretia contra mim. Quando levantei minha cabeça mais do que um minuto depois, ela estava ofegante e seus olhos estavam cheios de necessidade que eu sabia que só eu podia fazê-la sentir. — Eu te amo, Flick.

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Algo brilhou em seus olhos, algo que eu não via em um longo, longo tempo. Quando ela não disse nada, mas baixou os olhos, eu não senti a queimadura usual de perda e dor no estômago. Não depois de ver seus olhos. Quer ela admitisse ou não, Flick ainda me amava. Saber isso me fez sentir como se eu pudesse conquistar o mundo. Seus olhos azuis caíram no chão e eu deu um beijo em sua testa. — Vamos entrar. Temos todo o lugar para nós esta noite. Olhos surpreendidos pegaram os meus. — Sério? Eu sorri para esconder meu nervosismo. — Sério. Entrelaçando seus dedos com os meus, eu a puxei para a porta. Enquanto caminhávamos para o bar pouco iluminado, eu peguei o controle remoto que controlava os alto-falantes que estavam ligados a um aparelho de som no escritório. O som de Jazz encheu o bar, logo que eu ouvi Flick suspirar ao meu lado. Eu me virei para vê-la enquanto ela contemplava a sala. Ela não tinha visto o interior do bar desde que reconstruímos, então era tudo novo para ela, mas ela não estava reparando no novo balcão, as mesas ou as cadeiras que meus irmãos do MC construíram a mão. Ela não viu nada, além das centenas de balões flutuando em direção ao teto, as centenas de dólares em rosas, e a quantidade louca de velas acesas. Seu olhar foi lentamente em direção as pétalas que moldavam o coração enorme que Gracie me ajudou a criar e as almofadas em cima do cobertor grosso e macio que foram salpicadas por doces pétalas de rosas perfumadas. Flick engoliu em seco e ergueu o olhar azul para encontrar o meu. — Quem fez isto? Dei de ombros como se não fosse grande coisa. — Meus irmãos e Gracie me ajudaram. Sua testa enrugou adoravelmente. — Mas por que? — Porque eu amo você e você merece toda essa merda romântica. — Eu fiz uma careta. — Eu não dei isso para você da primeira vez, mas juro que vou tentar o meu melhor agora. — Eu... eu não sei o que dizer — ela sussurrou. — Está bonito, Jet. Obrigado. — Ela colocou os braços em volta da minha cintura e enterrou o rosto no meu colete. — Obrigado.

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— Então, você gosta? Ela assentiu com a cabeça, sem levantar a cabeça. — Eu amei. Alívio praticamente fez meus ombros caírem quando eu passei meus braços em torno de sua cintura fina e beijei o topo de sua cabeça. Mesmo na iluminação fraca eu podia ver que a raiz de seu cabelo tingido cresceu, mas ela não coloriu de novo. Eu esperava que não fizesse. Vermelho era sexy pra caralho, mas sua cor natural era o que eu queria ver nela. Eu meio que sentia falta do cabelo escuro brilhante. Fazia tanto tempo e eu fui tão obcecado pela beleza pura dele por anos até que eu finalmente cedi e tomei o que eu queria. Senti algo úmido passar pela minha camiseta através do meu colete, e percebi que ela estava chorando. Meu estomago torceu porque eu perdia o controle quando ela chorava, e peguei seu queixo entre o polegar e o dedo indicador e a obriguei a levantar a cabeça para que eu pudesse ver seu rosto. Lágrimas caiam pelo seu belo rosto. — O que está errado? Ela me deu um sorriso trêmulo. — Nada. Estou apenas um pouco sobrecarregada. — Isso é demais? — Eu olhei ao redor, absorvendo tudo de novo. — Gracie me ajudou a planejar. Ela sabe mais sobre esse tipo de coisa do que eu. Se for demais, eu arrumo. — Não! — Ela gritou quando eu comecei a me afastar. — Não — ela riu. — Isto é perfeito. Eu nunca esperaria. É tão doce, Jet. Honestamente, eu amei tudo. É incrível. — Jura? Ela riu de novo e o som doce e feminino de sua voz foi direto para o meu já dolorido pau. — Juro. — Bom. — Mantendo um braço em volta da cintura dela, eu a levei para o cobertor no meio do coração enorme. Com cuidado, segurando-a como se ela fosse porcelana fina, ajudei-a a sentar. Uma vez que ela estava confortável, eu peguei a cesta que segurava o nosso jantar de trás do bar e me juntei a ela. — O que quer que seja, tem um cheiro incrível. — Ela levantou a tampa do cesto e seus olhos se estreitaram antes de mais algumas lágrimas caírem por suas bochechas. — Você fez Aggie fazer todos os meus favoritos?

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— Claro. Hoje é sobre você, amor. — Eu bati as mãos, forçando-as para longe para que eu pudesse retirar os potes de frango, macarrão e palitos de pão. Peguei os pratos e garfos que Aggie incluiu. Girei o espaguete no garfo e o levantei em direção a seus lábios. O queixo de Flick tremeu por meio segundo antes de ela abrir a boca e dar a primeira mordida. Seus olhos se fecharam enquanto mastigava. — Isso nunca fica velho — ela murmurou ao redor da comida em sua boca. — Aggie é um anjo quando se trata de cozinhar. Eu alimentei-lhe mais duas vezes antes de pegar uma para mim. Quando ela lambeu os lábios, me levantei para servi-la com um copo de vinho para ela e uma cerveja para mim. Pelos próximos quinze minutos eu alimentei nos dóis e quase não falamos. Eu nunca soube que ver alguém comer poderia ser tão erótico. Ver seus lábios envolverem o garfo, observar sua mandíbula mover enquanto ela mastigava, como a língua saia para lamber uma mancha de molho no canto de sua boca... Quando eu levantei a última mordida para alimentá-la, meu corpo era uma grande dor. Eu podia sentir a tensão sexual irradiando dela, sabia que eu não era o único completamente excitado por essa experiência estranhamente íntima. Minha mão não estava tão firme como no início da refeição quando eu substituí os recipientes e alcancei a fatia de cheesecake que Aggie fez para a sobremesa. Framboesa e chocolate cobriam a enorme fatia do doce e eu peguei o garfo limpo para iniciar a alimentação de Flick novamente. — Eu amo esse molho de framboesa que ela faz — disse Flick enquanto saboreava a primeira mordida. Estendendo a mão, ela tocou o dedo indicador para o molho que caiu no prato antes de levantar o dedo e oferecê-lo para mim. — Prove. Faminto, eu chupei seu dedo lentamente, me certificando de pegar todos os últimos vestígios do molho. Algo selvagem brilhou nos olhos dela e de repente ela estava puxando o prato da minha mão e empurrando-o com a cesta para longe antes de subir para o meu colo. Assim que ela estava em meus braços, os braços estavam ao redor do meu pescoço, seus dedos suaves passando pelo meu cabelo enquanto ela me segurava exatamente onde ela me queria e mergulhava para um beijo que roubou nossas respirações.

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Eu queria levar as coisas devagar esta noite. Queria que nosso amor fosse tão doce e mágico como tudo o que eu tinha tentado criar apenas para ela, mas um sabor de sua boca e eu estava perdido. Mesmo tendo passado a noite toda de ontem fazendo amor com ela várias vezes, parecia que eu não a tocava há semanas. Eu não acho que jamais iria conseguir o suficiente dela. Agarrando sua bunda, eu levantei de joelhos e cuidadosamente a deitei de modo que sua cabeça estava em um dos travesseiros. Os shorts de algodão que ela usava eram fáceis o suficiente para se livrar e eu garanti em tirar a calcinha com ele. Sua buceta já estava encharcada e minha boca encheu de água com o doce aroma de sua excitação. Incapaz de parar, eu abaixei a cabeça e fiz uma refeição de sua buceta encharcada. — Oh, Deus — ela gemeu e abriu suas coxas ainda mais para mim. — Oh... Deus. — Seus quadris empurraram contra mim, buscando o alívio que ela sabia que eu ficaria feliz em dar a ela. — Por favor. Por favor. Oh, Deus, por favor. Eu sorri contra seus lábios molhados. — Deus não pode ajudá-la esta noite, amor. Uma risada sem fôlego escapou dela, seguida por um gemido agudo quando eu empurrei minha língua na sua. Sua bunda perfeita levantou do chão quando ela implorou por mais. Meu pau pressionou dolorosamente contra minha calça jeans e me afastei para que eu pudesse me livrar deles antes de fazer danos permanentes a mim mesmo. Olhos azuis se abriram e ela soltou um grito de dor, mas eu estava de volta dentro de segundos, lambendo-a na abertura escaldante de seu clitóris. — Jet — ela engasgou, montando minha língua. — Por favor. Eu preciso de você. Murmurando uma maldição, eu arranquei sua camiseta de seu corpo e fui rapidamente para o sutiã. Quando ela enfim estava nua embaixo de mim, eu agarrei meu pau e empurrei para dentro tão profundo nela que eu não poderia dizer onde ela terminava e eu começava. Ah, porra, era tão bom. Isso era o paraíso e eu não queria sair nunca. Se eu soubesse que isso estava me esperando do outro lado da morte, eu teria prazer em morrer ali mesmo.

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Paredes úmidas e quentes contraíram em torno de meu eixo e eu empurrei meu quadril, fazendo nos dois gemerem. Antes de Flick, eu fodi muitas mulheres, mas nenhuma delas se comparava a ela. Nenhuma. Talvez fosse por isso que não houve ninguém depois dela. Eu sabia que ninguém poderia recriar esse sentimento para mim, o prazer avassalador que me faz sentir como eu estava morrendo misturado a paz mais incrível que eu já senti na minha vida. Eu peguei os lábios e a beijei longo e forte quando empurrei nela novamente. Unhas afiadas rasgaram pelas minhas costas. Senti sua abertura se abrir e sorri para ela. — É isso, amor. Me marque como seu. — Jet. — Eu te amo, Flick. Eu te amo pra caralho. Senti suas paredes começam a convulsionar e sabia que ela estava perto. Meus quadris assumiram uma vontade própria quando eu aumentei meu ritmo, empurrando nela duro e rápido. Minhas bolas apertaram e eu sabia que era apenas uma questão de segundos antes de eu explodir dentro dela. Eu tentei segurar, mas era tão bom. O primeiro tiro do meu gozo bateu em suas paredes no exato momento em que ela gritou meu nome. — Jet! — Porra. Ah, porra. — Eu apertei minha mandíbula quando esvaziei dentro dela, minhas costas arqueando tão forte que eu tinha certeza que minha espinha quebraria se meu gozo não acabasse em breve. Ele continuou, sua buceta apertando muito mais. Nada se comparava a isso. Nada. Tempo não tinha nenhum significado quando eu lentamente me tornei ciente do que me rodeava. Eu estava deitado em cima de Flick, provavelmente esmagando-a, mas ela não parecia se importar enquanto acariciava meu cabelo com uma mão e traçava pequenos corações nas minhas costas com a outra. Eu estava encharcado de suor e misturado com o dela. O bar cheirava a sexo misturado com o aroma doce das velas. Era potente o suficiente para me deixar viciado. Seus dedos de repente pararam de traçar esses pequenos corações que sentiam tão bem nas minhas costas. Não gostando da falta da sensação, eu

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levantei minha cabeça. Seus olhos pareciam vazios, como se ela estivesse tendo pensamentos profundos. — O que você está pensando? — Perguntei, curioso. Cílios escuros vibraram e ela balançou a cabeça como se quisesse se livrar do torpor. — Eu só estava pensando que eu vou sentir falta disso quando você se cansar de mim de novo.

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Capítulo Dezesseis

Felicity Se eu estava surpresa que Jet me chamou para sair, não foi nada comparado com o que eu senti quando eu entrei no bar vazio com ele. Jet Hannigan não fazia coisas românticas. Nunca. Então eu fiquei encantada quando passei pelas portas com ele e vi... um romântico conto de fadas, era o mais próximo que eu podia falar do que encontrei ali. Balões de coração estavam por toda parte, pendurados por longas fitas brancas e rosas. As fitas combinavam com rosas de verdade colocadas em vários vasos e algumas garrafas de cerveja. Também haviam velas, centenas e centenas delas, jogando o tipo de brilho sobre o lugar que gritava “Vou fazer amor com você” no chão cercado por almofadas macias no meio de um maldito coração feito de pétalas de rosa. Era a coisa de que sonhos românticos eram feitos, algo que eu nunca teria esperado de Jet, especialmente não para mim. No entanto, ele fez, e parecia tão adoravelmente tímido sobre a coisa toda. Na verdade, ele se preocupou que eu não gostasse, e isso tocou meu coração de uma forma que eu há muito tempo perdi a esperança de Jet realmente fazer. Quando ele me alimentou com minha refeição favorita – sim, me alimentou, como se eu fosse algo precioso para ele – eu me apaixonei ainda mais. Eu sequer achei que era possível amá-lo mais do que eu já amava, mas ele provou que eu estava errada. Tão malditamente errada. O sexo foi explosivo. Eu atingi um novo patamar durante esse orgasmo rápido e louco que tivemos juntos. Me assustou muito mesmo enquanto eu saboreava cada segundo. Mas quando eu enfim comecei a sair da névoa que começava a se desvanecer, me perdi no passado, e tudo no que eu conseguia

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pensar era como eu sobreviveria quando ele se cansasse de mim mais uma vez. Honestamente, eu não acho que eu conseguiria. Fugir não seria uma opção neste momento, porque eu estaria muito abalada. Além de quebrada. Não haveria como me esconder da dor, exceto para acabar com tudo. Eu não disse essa parte, no entanto. Não adiantava colocar esse tipo de pressão sobre ele. Agora o rosto de Jet ficou pálido, então cinza, mas rapidamente se transformou escuro com raiva. — Você não ouviu nada do que eu disse a você nas últimas quatro semanas, Flick? Minhas sobrancelhas levantaram, confusas. — O que você tem dito? Ele se afastou, parecendo não se importar que estava nu da cintura para baixo ou que o pau dele estava coberto de uma mistura de ambos os nossos orgasmos. Ele se sentou no chão e olhou para mim. — Eu te amo, Flick. Eu te amo por tanto tempo que nem me lembro mais de uma época em que eu não te amei. Me sentei e puxei um dos travesseiros no meu colo para esconder minha nudez dele. Me senti mais vulnerável naquele momento do que eu jamais senti antes. Foi estranho, me sentir tão exposta quando a raiva já estava começando a construir no meu peito. — Você está dizendo que me amava há dois anos atrás? — De jeito nenhum. Eu não podia acreditar nisso. Podia? Não. Não. Mas... Não. — Claro que eu amava — ele explodiu. — Eu te amava tanto que fiquei louco quando Westcliffe bateu em você. Eu tinha certeza de que ele tinha matado você e tudo que eu conseguia pensar era em matá-lo com minhas próprias mãos. Eu queria acabar com ele e depois me juntar a você se você tivesse morrido. Eu não podia pensar nesse caminho, aquele em que ele teria “se juntado” a mim se eu realmente tivesse morrido. Só pensar em Jet morto me

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magoava demais, então eu ignorei. — Você me amava — eu repeti, balançando a cabeça em descrença — mas você ainda rasgou o meu coração, me fazendo sentir como a única coisa que você sabia que eu nunca quis ser. Minha mãe. — Eu praticamente cuspi a última palavra e me levantei com raiva, procurando as roupas que ele tirou de mim em nossa necessidade desesperada de nos tornar um só. — Você entende porque eu sou cética de que você não ficará entediado comigo dessa vez? Você diz que me amava antes, mas jogou meu amor de volta na minha cara quando não me quis mais, e vai fazer a mesma coisa de novo. É apenas uma questão de tempo antes que você se canse de mim, Jet. Eu encontrei a minha camisa e a vesti, sem me preocupar em parar por tempo suficiente para vestir o sutiã. Imagem após imagem dele me fazendo sentir como uma ovelha do clube, dele com Bubbles no bar, de seu rosto sem emoção rindo de mim por me atrever a me apaixonar por ele, todas passando pela minha mente e eu era incapaz de mandá-las para longe. Elas me rasgaram como golpes físicos e só me deixaram mais irritada. Vendo minha bermuda e calcinha, eu vesti as duas de volta tão rápido quanto pude com as mãos tremendo, antes de me virar para encará-lo novamente. Ele ainda estava no cobertor, e só um olhar para seu cabelo era o suficiente para dizer ao mundo que eu tinha acabado de deixá-lo me foder sem sentido. Seu rosto estava fechado, seu peito ainda coberto com sua camiseta e colete, subindo e descendo com sua respiração áspera. Ele parecia mais chateado do que eu poderia me lembrar, mas não me importei naquele momento. Eu estava chateada também. — Dizer que me ama não significa nada, Jet. Eu desisti de ouvir você dizer essas três palavrinhas há muito tempo — eu atirei, tão magoada que era tudo que eu poderia fazer para me manter em pé. — Não tenho expectativas do futuro com você porque eu não acho que vamos ter um. Mentirosa. Eu esmaguei aquela voz irritante com força antes que ela pudesse crescer na minha cabeça. Talvez eu fosse uma mentirosa, mas era mais fácil fingir que eu não era. Eu ainda tinha o meu orgulho, caramba. Era tudo o que

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restava. O Senhor sabia que meu coração tinha ido embora; ele pertencia a Jet. Sempre seria assim. — O que preciso fazer para convencê-la de que o que você tanto teme não vai acontecer de novo, Flick? — Ele perguntou com uma voz tão calma que eu não sabia se eu tinha ouvido certo ou não. Não fazia sentido para mim. Ele parecia irritado, mas sua voz me dizia outra coisa. Ele levantou a cabeça e eu vi seus olhos. Eles estavam cheios de um tormento que eu não entendia, não vindo dele. Se eu estivesse em pé na frente de um espelho, eu certamente entenderia, porque era o mesmo tormento que eu sabia estar refletido em meus próprios olhos. — Como posso fazer você ver o que você é para mim? Que não importa o que aconteça, não haverá mais ninguém? Como posso provar que, enquanto eu respirar, você sempre será a única que eu vou querer? A dor em sua voz me fez parar. Eu abri minha boca – para rir, gritar ou chorar com ele – eu não tinha certeza do que teria feito, mas nada poderia escapar através do nó que agora estava me sufocando. Lentamente, como se ele não tivesse energia sobrando em seu corpo enorme, ele se levantou e cruzou a curta distância até mim. Uma grande mão se estendeu, os dedos calejados acariciando minha bochecha. Seu toque era suave, tão suave que roubou o ar do meu peito. — Será que eu vou ser capaz de provar isso a você, Flick? Será que você vai perceber que eu sou completamente e incondicionalmente seu tanto quanto você é minha? Mais uma vez eu tentei falar, mas nada veio. Meu coração estava batendo contra minhas costelas, lágrimas queimaram minha garganta, mas meus olhos permaneceram estranhamente secos. Jet soltou uma risada áspera, sem humor. — Eu te amo mais do que tudo, Flick. Que qualquer coisa. Tudo o que eu quero é que você seja feliz. Eu faço você feliz? Será que serei capaz de fazer? Ou eu já destruí tudo quando fui tão estupido a dois anos atrás? Por que eu não podia falar? Eu queria gritar para ele que ele era a única pessoa que poderia realmente me fazer feliz e, ao mesmo tempo, me esmagar até que eu fosse um nada. Minha mente estava uma bagunça e eu não conseguia nem formar uma frase junta. Eu estava tão confusa, tão perdida.

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Nada disso fazia sentido para mim. A dor em seus olhos, torcendo seu rosto, era quase demais para testemunhar, mas eu não conseguia desviar os olhos. Ele interpretou a minha falta de resposta como uma negativa e seus ombros caíram em derrota. — Se eu não posso te fazer feliz, o que fará? — Ele fez uma careta, como se já soubesse a resposta. — Viver com os roqueiros? Você estava feliz lá? Meu queixo começou a tremer, mas eu ainda não tinha a capacidade de falar, nem chorar. — Ok, Flick. Eu entendo. — Ele balançou a cabeça e se afastou de mim. Ele pegou sua calça jeans e deu um passo para eles, seus movimentos espasmódicos, não como os de predador como geralmente era. Meu coração estava rachando, mas desta vez eu não poderia culpar Jet. Estava quebrando porque eu podia vê-lo quebrando diante dos meus olhos e eu não podia fazer nada para detê-lo. A luta interna que estava em guerra dentro do meu cérebro não me deixava mover um dedo. Eu queria abraçá-lo e dizer que o amava, que nunca parei de amar, e ao mesmo tempo, eu precisava segurar essas palavras, mantê-las escondidas em segurança dele para me proteger. Com seu jeans agora cobrindo-o, ele se virou para mim novamente. Seus olhos estavam molhados, o que foi como um soco no peito, derrubando todo o ar dos meus pulmões. Este homem não era o meu grande, e mau motoqueiro alfa. Este era um homem que parecia que tinha perdido tudo e não sabia o que fazer a seguir. Ele deu um passo na minha frente e abaixou a cabeça até que seus lábios tocaram minha testa. Eu senti seus lábios vacilarem e quis tocá-lo, segurá-lo e nunca deixá-lo ir, mas meus braços estavam tão pouco cooperantes quanto a minha voz. — Vamos lá. Eu pisquei então. — Para o-onde? — Isso foi minha voz? Parecia dura, quase estrangulada. Enquanto se movia através da minha garganta, parecia que eu estava rasgando o tecido delicado, machucando minhas cordas vocais. — É hora de você voltar para onde é feliz, amor. ***

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Jet parou o carro na garagem em sua casa e desligou o motor, mas não se mexeu para sair. Em vez disso, ele ficou no banco do motorista, olhando fixamente para fora do para-brisa. Sentei ao lado dele, ainda incapaz de fazer a minha voz cooperar. Mesmo que ela funcionasse, porém, eu não tinha ideia do que eu diria. Eu perguntaria se ele está falando a verdade? Eu imploraria para que ele me amasse como ele alegava amar? Ou será que riria na cara dele e o mandaria para o inferno? Longos minutos se passaram e ele finalmente soltou um suspiro cansado. —Vou pegar as coisas que eu trouxe com você. Volto em alguns minutos. Não quero que você entre. Só vai deixar Raven chateada... e eu não acho que eu poderia lidar com isso agora. Eu não mexi mais que um músculo quando ele saiu do Challenger e fechou a porta silenciosamente. Eu o vi entrar pela porta dos fundos e depois, lentamente, contei os segundos na minha cabeça, tentando não pensar sobre o que estava realmente acontecendo. Ele ia me mandar de volta para os Armstrongs, para Emmie, Mia e Jagger. Ele queria que eu fosse feliz e pensava que estar com eles era o que eu queria. Era o que eu queria? Eu seria feliz lá? O caos na minha cabeça tornou impossível para mim responder. Jet voltou um momento depois, definitivamente muito cedo para eu descobrir o que eu queria. Ele jogou a pequena mala que eu trouxe comigo no banco de trás e, em seguida, colocou o carro em ré e saiu da garagem. Suas grandes mãos estavam fechadas com tanta força no volante que estavam brancas, e sua mandíbula estava fechada tão forte que eu me preocupei que ele lascaria um dente. Nenhum de nós falou enquanto ele dirigia em direção ao aeroporto. Eu porque

não

conseguia

descobrir

como

fazer

minhas

cordas

vocais

funcionarem, e ele, porque... eu não sabia. Eu não conseguia tirar os olhos dele enquanto ele dirigia, então eu vi o momento em que ele perdeu a luta contra suas emoções e algumas lágrimas realmente caíram de seus olhos. Eu ansiava por tocá-lo, para escovar as lágrimas e dizer que tudo ia ficar bem.

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Diga a ele que você o ama. Diga a ele. Diga. Diga alguma coisa, caramba. Qualquer coisa. — J-Jet... — O nome dele chiou da minha garganta apertada, mas era muito fraco e ele não pareceu ter me ouvido. Eu tentei novamente. — Jet. Sua cabeça se virou para mim, ao mesmo tempo que sua mão se moveu para bater o sinal de seta. Nós chegamos no aeroporto sem que eu realmente percebesse. — Você vai estar em casa logo, Flick. A primeira lágrima escorreu de meus olhos com a visão de seu rosto devastado pela dor. Era demais e eu não conseguia encontrar a capacidade de falar novamente. Jet parou no estacionamento de desembarque no aeroporto e saiu. Eu não podia me mover, não me atrevi a tentar, por medo de me quebrar. A porta do lado do passageiro se abriu e ele me ofereceu sua mão. Fiquei olhando para ele por mais tempo, incerta se deveria aceitar ou não. Se eu queria aceitar ou não. — Hora de ir, amor. Balançando a cabeça, eu finalmente dei-lhe a minha mão e me puxei para fora até ele. Quando eu estava em pé na calçada, ele deu a volta para pegar minha mala e minha bolsa que eu tinha colocado no banco de trás antes de ir para o bar mais cedo. Ele entregou as duas para mim e puxou a carteira. Tirando todo o dinheiro que tinha, Jet colocou as notas na minha mão e fechou o punho em torno delas. — Olhe para mim, — ele ordenou. Lentamente, como se fosse um sonho, eu levantei minha cabeça para encontrar seu olhar. Ele respirou fundo, como se precisasse de coragem para dizer o que estava prestes a sair de sua boca. — Eu amo você, Felicity. Felicity. Não Flick, mas Felicity. Quantas vezes ele me chamou pelo meu nome verdadeiro? Eu tinha certeza de que poderia contar as ocasiões em uma mão. Soou estranho vindo dele, quase proibido. Na verdade, eu adorei. Seus olhos escureceram, como se ele tivesse acabado de perceber o quanto eu precisava que ele me chamasse de Felicity. Estupidamente, eu estava percebendo isso agora também. A garganta de Jet trabalhou quando ele engoliu em seco e seus olhos se encheram de lágrimas mais uma vez. Me matou vê-las, saber que o meu

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grande e mau motoqueiro alfa estava sofrendo tanto. — Sempre amei você, Felicity. Me desculpe por nunca ter dito isso no passado, quando tive a oportunidade de ouvir você repeti-las de volta. Me desculpe, eu matei seu amor por mim. Só sei que eu sempre vou te amar. Ninguém mais, baby. Ninguém além de você. Eu sei que você provavelmente não acredita nisso, mas é verdade. — Jet... — Eu comecei, mas minha voz vacilou e eu fiquei ali, debatendo para dizer a ele O que? O que diabos eu diria a ele? Ele passou os braços fortes em volta de mim, me puxando com força contra ele. Eu senti o tremor em seus braços segundos antes de seus lábios pressionarem contra minha testa, ouvi sua respiração dura, e em seguida o senti se afastando. — Se você precisar de mim, eu estarei a apenas um telefonema de distância. Você me ouviu? Para qualquer coisa. Eu conseguia apenas acenar, porque uma das coisas que eu sabia com certeza era que Jet sempre viria se eu precisasse dele. Ele me mostrou isso, repetidamente. Jet virou e caminhou de volta para o Challenger. Com um último olhar para mim, ele entrou e foi embora. Foi só quando eu vi as lanternas traseiras do seu carro desaparecendo através dos meus olhos cheios de lágrimas que eu percebi o que eu queria dizer a ele. Respirando fundo, me virei em direção a entrada do aeroporto.

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Capítulo Dezessete

Gracie — Tio Jack quer que você passe na garagem no caminho para casa, querida. Me perguntei se o som da voz de Hawk já não fez meu coração derreter. Sorrindo para mim mesma, eu reorganizei minha pasta, caneca de viagem de café que eu tinha acabado de encher quando sai do escritório e meu celular, antes de abrir a porta do velho Chevelle. — Ele disse por quê? Eu não me opunha a parar e ver o que o velho queria. Eu realmente comecei a conhecer o velho motoqueiro cauteloso nas últimas semanas. Ele e Trigger ficaram comigo e Hawk no hospital dia e noite até que os médicos finalmente disseram que eu estava fora de perigo da inflamação que tentou parar todo o meu corpo. Eu tinha que admitir que tê-lo lá para mim, para Hawk, que estava prestes a enlouquecer - suavizou o meu coração para o meu avô materno, coisa que eu não tinha pensado ser possível. Não me interpretem mal, eu ainda não tinha completamente o perdoado por abandonar minha mãe, mas eu tinha muito mais respeito por Jack do que por Charles Morgan – que podia queimar nas partes mais profundas do inferno. Então, enquanto eu provavelmente não chamaria Jack de avô do ano, eu pararia para ver o que ele queria. — Ele não disse, mas soou como se fosse importante. — Hawk soltou um longo suspiro, me fazendo perguntar se ele sabia mais do que ele estava dizendo, mas eu não especulei. — Ok. Paro lá e depois vou para casa. — Eu joguei minhas coisas no carro e, em seguida, subi ao volante. Eu estava exausta, mas não ia dizer isso a Hawk. Acabei de convencê-lo a me deixar voltar para a faculdade e trabalho. Não queria dar motivo para que ele pensasse que eu não estava pronta para

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fazer todas as coisas que eu precisava fazer. Sério, tanto quanto eu amava esse homem, eu tinha certeza que eu acabaria atirando nele com sua própria arma se ele não parasse de me mimar tanto. — Ok. Tenha cuidado — ele ordenou. — E, Gracie? — Sim? — Eu te amo. Fechei os olhos e sorri. Aquelas eram três palavras que eu sabia que nunca ficaria cansada de ouvir. — Eu também te amo. Foi uma viagem rápida até a garagem e loja de motos de Jack Riley. O lugar parecia deserto, exceto pelas duas motos no estacionamento. Eu reconheci as duas imediatamente. Uma era a de Jack, mas a outra pertencia a Trigger, que era um dos mecânicos do meu avô. Levando meu café comigo, eu fui até o escritório. Quando abri a porta, foi para encontrar os dois homens de pé, esperando por mim. Os dois? O que quer que eles estivessem dizendo foi cortado assim que entrei na sala. Jack se aproximou e passou os braços em volta de mim quando cheguei mais perto. No passado, eu não teria abraçado-o de volta, mas agora eu fiz, mesmo sem realmente pensar sobre isso. — Olhe para você. Bonita como sempre. Hawk está cuidando bem de você, querida? — Seus olhos castanhos flutuaram sobre mim da cabeça aos pés, como se estivesse procurando algum sinal de que eu não estivesse melhor. Com um sorriso, eu assenti. — Você não tem nada com que se preocupar, Jack. — Eu estaria mentindo se eu dissesse que não me sentia bem em vê-lo se preocupando comigo. Depois do que aconteceu com o meu avô paterno, o jeito como ele não tinha qualquer consideração para saber se eu vivia ou morria desde que ele pegasse seu maldito dinheiro, era bom ter um membro da família realmente preocupado com meu bem-estar. Eu levantei minha caneca para os meus lábios e tomei um pequeno gole do café forte. — Hawk disse que você queria falar comigo — eu lembrei, esperando que isso só demorasse alguns minutos para que eu pudesse chegar em casa para Hawk. A mandíbula de Jack apertou e ele se virou para Trigger. — Não eu, querida.

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Minhas sobrancelhas levantaram quando olhei para Trigger. Eu não sabia muito sobre o homem, embora eu tenha vindo a confiar nele e me preocupar com ele, mas eu sabia o suficiente para perceber que, se Trigger queria falar comigo, deve ser importante. Olhando para ele agora, eu percebi que seu rosto estava tenso e ele estava pálido. Ele estava bravo? Uh-oh. Eu estava em apuros? — Ok, então. — Eu dei o meu melhor sorriso, na esperança de aliviar um pouco da tensão do homem. Eu gostava dele e não queria que ele fosse tão sério perto de mim. Trigger enfiou as mãos nos bolsos da frente da calça e deu um meio passo em minha direção. — O que tenho a dizer não é fácil para mim... Gracie. — Ele disse o meu nome de uma forma tão estranha que a minha necessidade de aliviá-lo evaporou um pouco. Eu instintivamente soube então que tudo o que sairia da boca deste homem ia mudar minha vida. De repente eu queria Hawk. Precisava dele lá para segurar minha mão. Ele não estava lá, embora, e eu me encontrei flutuando, me debatendo para procurar terra firme. — Aqui, querida. Sente-se antes de cair. — Jack me guiou até uma das cadeiras em frente à mesa. Eu afundei com gratidão. Trigger se agachou na minha frente em vez de tomar a outra cadeira, me fazendo fazer careta. Uma de suas grandes mãos apertaram as minhas, engolindo-as. Seu toque era quente, e calmante, mas eu ainda sentia como se o meu mundo fosse mudar de eixo de repente e eu não tinha ideia do porquê. — Eu quero que você saiba que, se eu soubesse sobre você, eu teria voltado para casa e evitado que sua mãe fosse com Morgan. Eu fiz uma careta. — O quê? — Longe de tudo o que eu temia que ele me dissesse, isso não era uma delas. Do que diabos ele estava falando? Ele soltou um suspiro frustrado. — Lembra-se que eu disse que conhecia sua mãe? Nós... eu teria me casado com ela se ela tivesse ficado. Eu a amava, Gracie. Muito. — S- sério? — Ele a amava? Por alguma razão eu achei que isso aliviou um pouco da dor que eu ainda tinha pela perda de minha mãe e eu me encontrei sorrindo para o grande homem. Eu sempre pensei que ela passou a

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vida vivendo com o meu pai por minha causa, sem nunca saber como era o verdadeiro amor. Esse pensamento só piorou quando me apaixonei por Hawk. Eu desejava que ela pudesse ter experimentado algo parecido com o que eu tinha com ele. Trigger assentiu. — Eu estava no exército na época. Eu a amava antes de ir embora, e eu a amava quando vim para casa de licença. Eu ainda a amo... — Ele fez uma careta. — Eu não sei se posso perdoá-la por mantê-la em segredo de mim, no entanto. Ok, isso estava ficando mais e mais estranho. O que diabos estava acontecendo? — Sinto muito, Trigger, mas estou meio perdida aqui. — Me desculpe. Eu deveria começar do início. — Sua mão apertou tanto a minha, como se ele estivesse me oferecendo sua força, mas pelo olhar em seu rosto, eu tinha certeza de que era ele quem precisava. — Eu vim para casa de licença por algumas semanas e sua mãe e eu... Ela se apaixonou por mim também, Gracie. Tivemos um caso. — Oh... — Boa escolha, mãe. Trigger ainda era um homem muito bonito. Tão bonita quanto minha mãe tinha sido, eu sabia que esses dois teriam feito um lindo casal. O fato de eu saber que Trigger era um bom homem e teria protegido minha mãe até seu último suspiro só me deixou triste, porque eu quase podia imaginar como sua vida seria se ela tivesse se casado com ele. Talvez ela ainda estivesse viva. Esse pensamento me fez estremecer e os olhos de Trigger escureceram, como se ele pensasse que eu estava me afastando dele, mas antes que eu pudesse dizer que não era isso, ele falou de novo. — Quando voltei à ativa ela me prometeu que iria esperar, mas quando voltei ela tinha ido embora. Jack me disse que ela tinha casado com algum mauricinho na faculdade e tinha se mudado para o leste com ele. — Trigger apertou a mandíbula. — Fiquei magoado, mas realmente não achei nada de errado nisso. Achei que ela tinha se apaixonado por alguém e começado uma vida com ele. Eu a amava o suficiente para querer que ela fosse feliz, e enquanto ela estava, eu não iria atrás dela. Poucos anos depois, Jack mencionou uma neta e isso cortou como uma lâmina quente, mas ainda assim

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eu não achei nada errado, não esperava que Shannon tivesse mantido a minha filha em segredo de mim. Meu coração doeu por Trigger quando ele continuou. Como poderia minha mãe ter sido tão estúpida? Ela teve alguém que a amava e obviamente adorava esperando bem aqui em Creswell Springs. Por que ela iria aturar merda com o meu pai por tantos anos quando ela poderia ter sido feliz com...? Talvez eu ainda estivesse me recuperando, afinal de contas, porque demorou quase trinta segundos para que o meu cérebro recuperasse o atraso. — Espere... o que? Sua filha? — Eu pulei, incapaz de ficar sentada mais um segundo. Que diabos está acontecendo? — Jack? — Eu cerrei fora, virando meu olhar sobre ele. O velho levantou as mãos, como se estivesse se rendendo. — Eu não sabia nada sobre isso, querida. Nenhum deles deixou escapar nenhuma pista sobre esse relacionamento e eu não tinha ideia de que ele poderia ser seu pai... até recentemente. Eu estava tão chocada com tudo que eu sequer liguei para sua pequena hesitação. Olhei boquiaberta de um homem para o outro, incerta sobre se acreditava na loucura que havia se tornado meu cérebro. — Você é meu pai? — Eu não queria gritar, mas minha voz não estava cooperando com o meu cérebro e ela saiu mais alta e mais dura do que eu queria. Trigger se encolheu como se eu tivesse batido nele. — Eu não estava completamente certo, querida. Não até que eu descobri o seu tipo de sangue... no hospital lá em Connecticut. Tudo dentro de mim congelou. Eu tinha um tipo de sangue muito raro, mas eu nunca tinha questionado nada. — Depois de olhar os registros médicos de Craig Morgan, Doc Robertson disse que ele era o bom e velho O positivo. Com seu tipo de sangue, não há como você ser filha dele. Eu tropecei para trás, o choque de sua confissão agindo como uma força elétrica e me tirando o equilíbrio. Por toda a minha vida, eu odiei compartilhar o DNA com Craig Morgan, com qualquer Morgan, na verdade. Eu vi em primeira mão o quão ruim eles foram, e rezei todas as noites antes de adormecer para que eu tivesse mais da minha mãe do que de Morgan. Que eu

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não nunca me transformasse em uma daquelas pessoas vis que batiam em suas esposas ou alguém que aceitava isso pelo que o nome Morgan podia oferecer. Após a morte de minha mãe, o simples pensamento de compartilhar a mesma genética com o homem que foi responsável pela morte dela me enojava. Agora, descobrir que eu não compartilhava, que nenhuma parte da maldade de Morgan era uma parte de mim, eu estava além de aliviada. Lágrimas queimaram meus olhos e comecei a me mexer até que minhas mãos tocaram a parede antes de deslizar lentamente para o chão. Segurei meus joelhos até meu peito, pressionei minha testa para as minhas pernas e fechei os olhos. Eu queria tanto Hawk, precisava dele lá para ser meu chão, para me dizer que eu não estava sonhando. Que eu realmente não compartilhava um único gene com os Morgans. Como se eu o tivesse conjurado do ar, eu ouvi a porta do escritório da garagem se abrir e de repente ele estava ajoelhado ao meu lado. Sua mão forte e quente tocou minha bochecha umedecida e eu levantei minha cabeça quando um soluço me deixou. O soluço foi misturado com uma risada que estava tão cheia de alívio que eu soube que eu devia ter soado louca. — Baby? — Sua voz estava cheia de preocupação e eu rapidamente sequei as lágrimas que derramaram pelo meu rosto. — Por toda a minha vida... — Eu não podia conter outra risada maníaca quando ela me deixou. — Toda a minha vida eu o odiei, e a mim mesma por associação. Eu me desprezava por compartilhar o mesmo conjunto de genes que ele. Quando... quando a minha mãe morreu, eu me culpava porque eu achava que o sangue dele corria em minhas veias. Seus olhos verdes escureceram. — Gracie — Você percebe o quanto estou aliviada, Hawk? Percebe? — Outro soluço borbulhava, felizmente empurrando para baixo o riso que estava começando a me assustar. — É como ter o peso do mundo em suas costas e de repente alguém tirá-lo de você. Ele não era meu pai. Ele não era. Eu... eu não tenho mais que... me odiar. Não tenho que... me culpar.

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Ele não disse uma palavra, mas me envolveu em seus braços, me segurando forte contra seu peito. O alívio era tão bom, tão incrivelmente bom e libertador. Hawk me segurou por um longo tempo, bem depois de minhas lágrimas secarem e o riso louco que tinha começado a me assustar desaparecer. Lentamente percebi que Jack e Trigger ainda estavam no escritório conosco e levantei minha cabeça. O meu olhar foi direto para Trigger. Portanto, este era o meu verdadeiro pai. O homem que ajudou a minha mãe a me dar a vida. Eu não conseguia entender por que minha mãe não contou a ele, mas conhecendo Shannon, eu sabia que ela deveria ter uma boa razão. Trigger era um bom homem; eu sabia no fundo da minha alma. Se eu fosse honesta, eu admitiria que eu sempre senti algo especial por Trigger, mas nunca entendi o porquê. Talvez, no fundo, uma parte de mim tenha percebido a verdade. Agora, enquanto eu olhava para ele, tentei encontrar semelhanças entre mim e o homem que era meu pai. À primeira vista eu não podia ver nada. Eu parecia muito com minha mãe e até mesmo Jack, mas depois de alguns minutos de olhar para ele, percebi que tínhamos o mesmo queixo, as mesmas orelhas. A maneira como seu nariz inflava com sua respiração áspera me lembrava de mim mesma quando eu estava com raiva de Hawk ou a faculdade e o trabalho eram demais para mim e eu precisava desabafar. Talvez eu devesse ter ficado com raiva que isso estava caindo em mim agora, mas eu não conseguia segurar isso contra ele. Ele não sabia que eu existia, minha mãe não contou a ele, de modo que era culpa dela e não dele. Talvez eu não devesse ter me sentido eufórica com a notícia, mas me senti, no entanto. Ok, então talvez eu não saltaria em seus braços e começar a chamá-lo de “papai” mas isso não significava que eu iria ignorá-lo. Trigger não era um monstro como Craig Morgan. Eu o conhecia e já o amava e ele era tudo que eu tinha no mundo, exceto por Jack. Depois de ter perdido minha mãe, eu sabia que ganhei uma segunda chance no amor parental com Trigger.

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O jeito como ele estava olhando para mim naquele momento, seus olhos atormentados, sua mandíbula tensa, eu podia ver que eu realmente tinha um pai para valorizar novamente. Eu lembrei de como foi no mês passado. A maneira como Trigger tomou conta de mim até Hawk aparecer na casa de Charles Morgan, seu toque suave, enquanto ele tentava me tranquilizar de que tudo ia ficar bem. Como ele ficou no hospital comigo e Hawk dia e noite até que os médicos disseram que os antibióticos estavam funcionando e eu ia ficar bem. Tudo fazia sentido agora. Tudo. Ele deve ter sabido então, ou pelo menos suspeitado. — Baby, você está bem? — Hawk murmurou contra o meu pescoço, onde ele esteve suavemente me beijando como se não pudesse se conter. Eu não respondi quando me levantei devagar. As mãos fortes de Hawk estava lá para segurar meus quadris para me ajudar, assim como eu sabia que estariam. Ele tinha a minha total confiança, sempre. Uma vez que eu sabia que eu não iria cair, eu me afastei do seu abraço e atravessei a sala em direção a Trigger. Quanto mais perto eu chegava, mais branco seu rosto ficava e eu pensei que vi lágrimas em seus olhos, mas ele rapidamente piscou-as de volta e eu não tinha certeza do que havia nelas. Com os dedos trêmulos, eu levantei minhas mãos e toquei-lhe o queixo, áspero com a barba de pelo menos dois dias. Sem perceber, minha cabeça inclinou para a direita enquanto o examinava procurando por semelhanças que eu nunca percebi que nós compartilhamos. Ninguém falou enquanto eu contemplava o homem que uma vez pareceu um motoqueiro grande e assustador para mim. Agora ele só parecia ser um grande - e sim, ainda assustador - papai urso, e isso derreteu meu coração. Ofereci-lhe um sorriso pequeno, mas acolhedor. — Eu não vou começar a chamar você de papai em qualquer momento em breve, mas... Eu estou realmente feliz que você seja meu pai. Trigger soltou um suspiro longo e duro e foi só então que eu percebi que ele estava segurando o fôlego. Sua mandíbula se abriu e ele se aproximou apenas para fazer uma pausa. — Posso te abraçar?

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Minha resposta foi jogar meus braços em volta de seu pescoço e segurar firme.

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Capítulo Dezoito

Felicity Com um sentimento de déjà-vu, o táxi parou em frente da casa em Malibu, mas eu sabia que desta vez era diferente em todos os sentidos. Paguei o motorista e, pegando minha mala e bolsa, eu saí do táxi. Sorrindo para a casa que eu chamei de lar e refúgio seguro por mais de um ano, eu fui até a porta da frente. Eu ainda tinha a minha chave, mas não parecia certo só entrar. Esta não era mais a minha casa. Toquei a campainha e esperei. Menos de dois minutos depois, a porta se abriu e Emmie estava na porta, seu cabelo puxado para trás em um rabo de cavalo bagunçado e o bebê Jagger pendurado seu quadril. Grandes olhos verdes se arregalaram de surpresa segundos antes de eu ser puxada para dentro da casa e ganhar um abraço apertado contra minha amiga e seu filho. — Puta merda — gritou ela enquanto ela me abraçava com força. — Eu não achei que você fosse voltar. Estou tão feliz em vê-la, Felicity. Tão feliz. Ela parecia também, mas eu sabia que não poderia deixá-la continuar pensando que eu voltei para ficar. Me afastei e dei-lhe um sorriso que eu esperava que a tranquilizasse. — Me desculpe, Em, mas não voltei para ficar. Eu queria dizer adeus cara a cara. Pensei que nós duas merecemos isso. O rosto dela caiu, mas ela retornou meu sorriso. Estourando uma respiração irregular, ela balançou a cabeça. — Eu deveria saber. Você ama o motoqueiro. Era só uma questão de tempo antes que eu perdesse você. Eu a abracei novamente, pressionando um beijo na cabeça de cheiro doce de Jagger. — Você não me perdeu, Emmie. Você sempre será minha amiga. Sempre. Emmie me levou até a cozinha e me serviu um copo da receita especial de café de Jesse Thornton. Exausta após o voo e a noite sem dormir que eu

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passei esperando no aeroporto na noite anterior, eu bebi avidamente enquanto conversávamos, ela me colocando a par do que vinha acontecendo com Gabriella Moreitti, e mais importante, Mia. Felizmente, a pequeno e doce Mia estava começando a colocar o pesadelo para trás e eu não poderia estar mais feliz por ela. Eu esperava que ela não tivesse que experimentar algo como isso outra vez. Hoje, ela estava passando o dia com Shane e Harper, e mesmo que Emmie tenha oferecido para ligar para pedir para que eles trouxessem Mia para casa, eu não pensei que eu era forte o suficiente para não chorar na frente da menina que eu tinha aprendido a amar como minha. Eu sabia que Em tinha que estar ocupada, mas ela passou o resto da tarde comigo. Nik chegou em casa vindo do estúdio onde estava ajudando produzir algumas músicas com as duas bandas que excursionaram com a Demon’s Wings e a OtherWorld durante o verão. Eu jantei com eles e então era hora de ir. Meu táxi estava esperando quando eu pisei no degrau da frente com Nik e Emmie. Nik beijou meu rosto e deu um passo atrás. Com um beijo suave para sua esposa, ele desculpou-se, sabendo que Emmie e eu precisávamos dizer adeus sozinho. — Esteja segura, Felicity. Se você alguma vez precisar de nós, estaremos aqui. Ofereci-lhe um sorriso. — Obrigado, Nik. Significa o mundo para mim. — Nós amamos você como uma das nossas, menina. Você é uma das nossas. Não se esqueça disso. Meu coração apertou, eu concordei e ele voltou para a casa, fechando a porta atrás de si. Assim que a porta se fechou, Emmie foi me envolvendo em outro abraço apertado. — Odeio mudanças. Odeio. Mas você foi uma das melhores mudanças em nossa vida. Eu honestamente não sei como sobrevivi tanto tempo sem você, e agora que você está saindo... — Ela parou, balançando a cabeça como se quisesse sacudir para longe tudo o que ela estava pensando. — Nunca nos esqueceremos de você, querida. Nunca te esquecerei. Eu concordo com o que Nik disse cem por cento. Se você alguma vez precisar de nós, pegue o telefone. Qualquer coisa. Nós te amamos.

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Lágrimas queimaram meus olhos e e eu tive que piscá-las rapidamente. — Eu amo vocês também. Obrigada por ser minha amiga quando eu precisava de uma... Obrigada por me deixar amar seus filhos como se fossem meus, Emmie. — Amar meus bebês nunca é algo que você deve me agradecer, querida. Ter alguém cuidando deles como se fossem seus, amando-os como só uma mãe pode, é uma honra por compartilhar com você. — Ela levantou a mão e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha enquanto se aproximava e abaixou a voz. — Eu sempre serei grata pela paz que você me deu, Felicity. O que você deu a mim e a Lucy nunca poderá ser pago, não importa o quanto eu tente. Se você precisar de alguma coisa, qualquer coisa, você só tem que dizer. Eu peguei a mão dela e dei-lhe um pequeno aperto. — Vou me lembrar disso — Eu brincava com ela com uma piscadela. Nós duas sabíamos que eu nunca iria usá-la assim... a menos que fosse absolutamente necessário. — Bom — disse ela com um sorriso. Eu dei aos dedos um aperto mais apertado. — O mesmo vale para você, Emmie. Eu sei que você tem Seller para a segurança, mas se você precisar de alguma coisa... Bem, você sabe que eu vou conseguir qualquer coisa que você precise sem fazer nenhuma pergunta. Seu sorriso desapareceu em um instante. — Eu gostaria que você não precisasse. Seu queixo começou a tremer e eu rapidamente passei meus braços em torno de seu pequeno corpo. — Me desculpe, Em. Sinto muito. — Eu sei. Só estou sendo boba. Eu disse que eu odeio mudanças. — Ela deu uma risadinha triste e puxou de volta. — Vá. Fique com seu motoqueiro assustador. Eu só quero que você seja feliz. Eu quase sorri para as semelhanças entre as duas pessoas que eu amava tanto. Aqui estava Emmie me dizendo a mesma coisa que Jet tinha acabado de dizer na noite anterior. Eu sabia que poderia ser feliz aqui com Emmie e sua família, mas não tão feliz como seria em Creswell Springs. Com Jet.

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Com um último abraço apertado, eu dou um passo para trás e caminho em direção ao táxi. O motorista abriu a porta de trás para mim. Quando o motorista começou a se afastar do meio-fio, olhei para trás. Meu peito se apertou quando vi Emmie pé no degrau da frente com os braços de Nik ao redor dela enquanto ela chorava. Eu estava exausta quando cheguei ao aeroporto, então eu estava dez vezes mais mal-humorada como eu normalmente teria ficado quando eu descobri que meu voo de retorno tinha sido cancelado e o mais rápido que eu poderia voltar para Creswell Springs era na tarde do dia seguinte, a menos que eu alugasse um carro. Decidindo que provavelmente era melhor dormir um pouco antes de começar a assassinar o pessoal do aeroporto, eu andei as poucas quadras até o hotel mais próximo e cai assim que eu estava no meu quarto. Eu dormi profundamente e acordei mais de dez horas depois, pensando em Jet. Não encontrando seu corpo do meu lado como eu me acostumei a ter, a precisar, eu me sentei na cama queen-size e olhei para o relógio. Eu ainda tinha algumas horas antes de ter que ir para o aeroporto. A distância entre mim e Jet parecia ter aumentado naquele momento. Eu lamentei não contar a ele que o amava quando tive a chance, mas eu estava determinada a consertar isso logo que eu chegasse em casa. O voo foi mais longo do que aquele para Los Angeles, pelo menos foi o que pareceu para mim. Até a hora em que eu desembarquei, eu fiquei ansiosa para encontrar Jet, mas eu tinha esquecido um pequeno detalhe. Como diabos eu chegaria lá? Mordendo meu lábio inferior, liguei para o número de Raven. O telefone tocou e tocou e tocou, fazendo eu me perguntar se ela estava ocupada... ou chateada comigo. Talvez ela ache que eu voltei para os Armstrongs e não tinha planos de voltar. Meu coração se apertou com o pensamento de que eu poderia tê-la magoado. Agitando o pensamento para longe com a promessa de corrigir o que eu tinha quebrado com Raven, eu selecionei o único outro número que eu poderia pensar. Já que eu queria fazer uma surpresa para Jet, eu não poderia chamálo ainda. Isso deixou apenas uma pessoa.

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Hawk atendeu no segundo toque. — Se você está ligando para me pedir para fazer meu irmão matar alguém por você, você está sem sorte desta vez. Eu apertei os lábios, me perguntando se ele estava chateado comigo também. — Você pode vir me pegar? — Eu finalmente perguntei depois de um momento de silêncio de ambas as partes. — Olha, Flick, eu estou cheio de toda essa merda entre você e Jet e o favor que você pediu, mas não tem como eu deixar Gracie por tempo suficiente para dirigir até o sul da Califórnia para pegar você. — Não estou no sul da Califórnia — eu assegurei. — Estou em casa. Bem, quase em casa. Não tenho como voltar do aeroporto. — Oh... — Eu podia imaginar sua testa se enrugando, e sorri. — Bem, isso é diferente. Estou indo agora. Levou mais de quarenta minutos para ele chegar. Estacionando fora do aeroporto, eu estava contente de ver que ele tinha trazido o Chevelle que Gracie usava ao invés de sua moto. Eu tinha esquecido de dizer a ele que eu precisava de um jeito de carregar a bagagem, já que eu trouxe as coisas que ainda estavam na casa de Emmie. Os olhos verdes se arregalaram quando ele viu as três malas que eu tinha ao meu lado. — Está em casa para ficar, Flick? — Sim — eu confirmei. — Acha que você poderia me deixar no bar e levá-las de volta para a sua casa? — Depois do jeito que eu tinha deixado as coisas com Jet duas noites antes, eu não tinha certeza do quão feliz ele ficaria em me ver, mas eu tinha que tentar ao menos. Na verdade, ele sorriu para mim. — Sem problema, querida. Depois que ele jogou minhas coisas no porta-malas, ele entrou e logo estávamos na estrada que conduzia para Creswell Springs. Nervosa, eu olhei para o homem que eu sempre considerei um irmão. — Jet está com raiva de mim? Hawk fez uma careta. — Com quem ele não está bravo agora, Flick? Ele está muito abalado sobre você ir embora de novo e está descarregando em todos. Ele é como um urso com dor de cabeça, até fez Raven chorar esta manhã.

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— Sinto muito — eu murmurei e olhei para as minhas mãos enquanto as torcia no meu colo. — Raven... está brava também? — Eu não diria brava. Mais decepcionada e magoada — ele disse com um encolher de seus ombros enormes. — Mas com você em casa para ficar, ela vai superar isso muito rápido. Aliviada de que ele pensava assim, me virei para olhar para fora da janela do passageiro enquanto ele rapidamente nos levava para Creswell Springs. Em pouco tempo ele estava estacionando na frente do bar e eu quase tropecei na minha pressa de sair. — Obrigado, Hawk — Eu disse antes de praticamente correr para dentro. Uma vez que eu entrei, no entanto, foi para encontrar o lugar no caos completo e total. Todo mundo estava tentando chegar o mais próximo possível do balcão. As pessoas estavam gritando e alguns dos membros do MC estavam realmente fazendo apostas sobre quem ganharia a luta que estava acontecendo. Confusa, porque eu podia ouvir Jet e Colt gritando e pelo som, estavam gritando um com o outro, eu me empurrei pela multidão até que eu finalmente cheguei ao bar. A visão que eu encontrei chocou o inferno fora de mim. Jet estava com Colt preso ao chão, socando-o em todos os lugares, exceto seu rosto, mas Colt estava revidando, apesar de estar preso debaixo de seu irmão mais pesado e mais velho. Spider e Bash estavam tentando puxar Jet de lá e Raider e Tanner estavam ajudando, mas Jet parecia estar em modo completo de fúria. Mesmo seus esforços combinados não conseguiam tirar Jet. — Que diabos vocês estão fazendo?

Jet Eu estava começando a odiar as noites de sábado no bar. Durante as duas últimas noites eu comecei a odiar tudo, o mundo em geral, mas principalmente eu mesmo. Eu tinha acabado de deixá-la ir. Porra,

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como eu poderia ter apenas deixado-a ir embora de novo? Claro que eu disse que eu queria que ela fosse feliz, mas eu esperava que ela quisesse ser feliz comigo. Deixá-la voltar para os roqueiros foi a coisa mais difícil que eu já fiz, e talvez a mais altruísta também. Isso não queria dizer que não doía, não significava que eu não estava chateado, não significava que eu não estava ficando louco sem ela. Porque eu estava. Fiquei magoado. Eu estava chateado. Eu estava enlouquecendo. — Yo, Jet. Você pode pegar um engradado de Bud do estoque do frigorífico para mim? — Colt chamou de trás do bar enquanto empurrava bebidas para as ovelhas e senhoras sentadas nos bancos em frente a ele. Levantei da mesa onde eu me sentei a mais de meia hora atrás. Precisou de todo o meu autocontrole para não pegar a cadeira em que eu estava sentado e jogá-la do outro lado da sala. De punho apertado, eu invadi a parte de trás, odiando que meu irmãozinho tinha me incomodado quando tudo que eu queria era me perder em minha miséria. Pegando dois engradados de Bud, eu levei-os para a frente e os teria jogado no chão, se Raider não tivesse aparecido do nada e os pegado de mim. Ele não disse uma palavra quando abriu os engradados e começou a estocar a geladeira. Eu não estava surpreso como o meu irmão estava agindo. Todos eles pareciam estar caminhando cautelosamente em torno de mim nos últimos dois dias. Não que eu pudesse culpá-los. Porra, eu sabia que eu estava perdendo minha merda. Eu até perdi o controle naquela manhã e fiz Raven chorar. Chorar, caramba. Raven. Meu bebê. A menina que eu praticamente criei como minha, em vez de apenas minha irmãzinha. Eu comecei a me virar, querendo nada mais do que apenas voltar para a mesa onde eu estava sentado na maior parte da noite, e chafurdar na minha auto aversão. Colt passou de colocar bebida na frente de duas ovelhas e entrou no meu caminho.

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Mãos cerrados ao lado do corpo, ele olhou para mim. — Pare de ser um maldito covarde e vá atrás dela. Eu não ia dar um soco no rosto do meu irmão. Eu. Não. Ia. Dar. Um. Soco. No. Rosto. Do. Meu. Irmão. — Você a ama, sempre amou. Nós todos sabemos isso. Então lute por ela, mostre que você é o homem que ela merece. Não esse covarde andando por aí com um espinho na pata. — Colt ergueu as mãos e me empurrou. Forte. Foi tão inesperado que me pegou desprevenido e seu impulso fez eu me afastar alguns centímetros. Não vou socá-lo. Não vou socá-lo. Não vou socá-lo. Bem, não vou socá-lo no rosto, caramba. Com um grunhido, eu abordei Colt para o chão e comecei a bater em tudo, menos em seu rosto. — Cale a boca. Você não sabe nada. De nada. Eu quero que ela seja feliz e não posso dar isso a ela. Eu estava tão perdido enquanto eu berrava no rosto de meu irmão e lhe dava soco atrás de soco que nem senti os braços tentando me puxar para longe dele. Colt reagiu, desferindo um golpe para o lado da minha cabeça, mas eu estava muito longe para sentir dor. — Porra — Eu ouvi uma voz grunhir em cima de mim e um pouco da raiva começou a desvanecer o suficiente para que eu percebesse o que estava acontecendo em torno de mim enquanto eu continuava a esmurrar o meu irmão nos lados. Raider, Bash, Spider e Tanner estavam todos de pé em cima de mim, tentando me puxar para longe de Colt. — Cai fora, Jet ou eu tiro você daí a força — Spider ameaçou. — Faça isso — eu o desafiei. — Faça isso. — Talvez então eu possa ficar longe da dor que estava rasgando a porra da minha alma em pedaços. — Que diabos vocês estão fazendo? Minha cabeça se levantou, certo de que o golpe que Colt acabou de acertar na minha cabeça estava me fazendo alucinar. Lá, entre duas ovelhas, estava a única pessoa que me faria rastejar de joelhos. Não podia ser real. Eu a enviei de volta para o sul da Califórnia, para onde ela seria feliz. Não havia como ela estar aqui agora. Certo?

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Distraído, eu não estava esperando o soco no meu rosto que Colt entregou. Meus dentes apertaram uns contra os outros e senti a ponta afiada de um dente cortar o interior da minha bochecha. Sangue encheu minha boca e meu queixo começou a latejar, mas Flick não desapareceu da minha linha de visão. Espere um minuto, porra. Ela não era um sonho? Essa percepção foi o suficiente para me fazer perdoar o soco que meu irmão caçula acabou de dar no meu rosto. Eu cuspo o sangue na minha boca em seu peito e dou de ombros para as mãos de outras pessoas quando levanto. Sem tirar os olhos da fêmea apenas um metro longe, fui em sua direção e parei no balcão. Seus olhos azuis arregalaram e as ovelhas em torno dela riram para mim como se eu estivesse jogando um jogo. Isto era a porra de um jogo Me curvando, eu a peguei sob meus ombros, seu peso leve em minhas mãos pareciam o céu, quando a levantei para ficar do meu lado do balcão. Vestida com um par de jeans apertados e um top que marcava seus seios gostosos por baixo, meus olhos famintos comeram a visão dela enquanto minha alma tentava compreender o fato de que ela realmente estava lá. Ela voltou. — O que você está fazendo aqui? — Eu respirei enquanto abaixei a cabeça e dava o mais suave dos beijos que eu podia em seus lábios. Tanta fome como eu estava por ela, eu sabia que se eu tivesse mais do que um pequeno beijo, eu transaria com ela ali mesmo na frente de todos. — Eu meio que vivo aqui — ela murmurou, parecendo quase encantada quando minha respiração veio de forma curta e rápida. — O-o que? Seus lábios se inclinaram para cima nos cantos, em uma espécie de sorriso tímido que não era nada além de sexy para mim. — Eu fui para pegar minhas coisas e meu último salário. Foi difícil dizer adeus a Emmie e as crianças, mas era mais difícil ficar longe de você.

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Meu coração se apertou. — É? — Ela assentiu com a cabeça. — Porra, Felicity. Jure que você está em casa para ficar. Jure. — Seus olhos queimaram brilhantes quando usei seu nome verdadeiro. — Juro — ela murmurou e andou nas pontas dos pés para escovar seus lábios contra os meus. — Graças por isso, porra — eu respirei enquanto eu tomava o controle do beijo e o aprofundava. Em torno de nós eu podia ouvir todo o bar rindo. Foram vários “Já era hora” e até mesmo um ou dois “Flick, sua puta de sorte”. Alguns dos meus irmãos do MC assoviaram quando eu agarrei a bunda de Flick e segurei firme, apertando meu pau dolorido contra sua suavidade. Só então me recompus, sem querer que ninguém visse o quão quente que eu poderia pegar minha mulher, e olhei para o belo sexo feminino, sem fôlego em meus braços. — Aqui, irmão. Raven disse que você talvez possa precisar disso. Ela está trabalhando nisso o dia todo. O som da voz de Hawk me puxou de volta para o aqui e agora, e eu olhei para baixo para encontrá-lo segurando um colete. Não era o mesmo que eu tinha, mas os que as senhoras usavam. Raven tinha um que Bash lhe dera, assim como Gracie. Cada senhora tinha um para marcá-la não só como comprometida, mas para que todos soubessem a exatamente quem ela pertencia. Descendo, eu peguei o colete. Sem hesitar, virei Flick de costas para mim e deu um suspiro de alívio quando ela foi de boa vontade. Quando coloquei o colete nela, vi que minha irmã esteve ocupada e mais otimista do que eu, ao que parece. Na parte de trás dizia “Propriedade do Angel’s Halo Jet”, costurado de branco no couro. Eu levei um segundo para saborear a vista antes da minha fome por ela chutar mais uma vez e eu a puxei de volta ao redor para beijar a respiração dela. Em torno de nós, todos estavam quietos agora, mesmo as ovelhas. Um riso feliz construiu em meu peito. Eu já estive tão feliz? Tão contente assim? Eu beijei Flick uma última vez antes de finalmente me afastar para olhar para a multidão. — Para quem eu tenho que pedir a mão dessa fêmea em casamento?

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— A mim — ouvi atrás de mim e olhei para Hawk. — A mim — Colt destacou. — E a mim — Raider foi rápido a responder. — A mim — veio de Bash, ao mesmo tempo que Spider falou. — Eu também. Senti Flick ficar completamente imóvel em meus braços em torno de nós quando cada membro do Angel’s Halo dava a mesma resposta em coro. Ver as lagrimas eu seus olhos me deixou um pouco louco por um segundo. Porra. O que eu fiz? A machuquei de novo? Por que eu não conseguia acertar com ela? Mas então ela sorriu, e escondeu o rosto no meu peito, me fazendo perceber que suas lágrimas eram felizes. — Que tal apenas perguntar a mim? — Ela murmurou em uma risada leve. — Boa ideia — rosnei e eu caí de joelhos ali mesmo na frente de todos. Seus olhos azuis ficaram tão largos quanto pires quando ela olhou boquiaberta para mim. Eu pisquei para ela e peguei sua mão esquerda. Eu não tinha um anel para ela, mas eu cuidaria disso muito em breve. — Você vai dirigir comigo, baby? — Eu tive que limpar minha garganta antes de continuar. Droga, por que eu sentia as lágrimas queimando minha garganta? Decidi que não me importava que meus irmãos do MC vissem minhas lágrimas, e sorri para a menina que me possuía. — Felicity Bolton, você vai me deixar passar o resto da minha vida amando você? Uma lágrima enorme caiu de seus olhos, mas ela estava balançando a cabeça e deixei escapar um suspiro que eu não tinha percebido que eu estava segurando. — Sim — ela sussurrou. Meu coração começou a bater certo pela primeira vez em muito, muito tempo com aquela pequena palavra. Em torno de nós o bar irrompeu em uma festa para comemorar, mas tudo que eu vi foi Flick. Nós percorremos o caminho mais longo, mas estávamos exatamente onde deveríamos estar esse tempo todo.

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Playlist “The Last Goodbye” David Cook “Start A Fire” Ryan Star “Battle Born” Five Finger Death Punch “Unkiss Me” Maroon 5 “In The End” Black Veil Brides “Noises” Ben Hazlewood “Don’t Cry” Like a Storm “Air I Breathe” Mat Kearney “Ashes of Eden” Breaking Benjamin “Cut the Cord” Shinedown

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