Terri Anne Browning-Angel´s Halo MC-03-Guardian (Hawk-Gracie)

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As coisas em Cresswell Springs têm sido bem normais ultimamente. Ou assim parece... As aparências podem enganar. “A noite em que conheci Gracie Morgan foi a noite em que minha vida mudou para sempre. Salvei-a naquela noite, mas parece que é ela quem tem me salvado desde então."

Hawk "Hawk não apenas me salvou naquela noite. Ele me levou para casa e ele e sua família me tornaram uma deles. Eu me senti segura e rapidamente comecei a me apaixonar pelo homem que foi meu Anjo da Guarda"

Gracie

Os acontecimentos daquela noite não se apagaram da memória de ninguém. Os Angel’s Halo MC entregaram sua própria vingança contra os caras que machucaram Gracie, e os que sabiam e não fizeram nada. Mas eles não perceberam que estavam lidando com um sociopata como Kevin Samson. Agora ninguém está a salvo...

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Capítulo 1 Gracie

Os números na tela do computador na minha frente não estavam fazendo a dor de cabeça que eu tinha melhorar. Não. Nem um pouco. Suspirando, fechei meu laptop e empurrei-o sobre a mesa da cozinha, esperando que com um pouco de distância, os números que eram tristemente baixos e representavam o montante atual da minha conta bancária magicamente aumentassem. Ou, pelo menos, fazer a minha cabeça se sentir um pouco melhor. Nada disso aconteceu. Imaginei. — Merda, — eu resmunguei enquanto levantava e ia em direção ao pote de café que eu fiz antes de me sentar para olhar minhas finanças. Enquanto eu tomava um pequeno gole do café preto forte, tentei evitar que o meu queixo tremesse. Eu estava vivendo com os Hannigans há mais de dois meses, e todos pareciam gostar de mim. Eu adorava, me sentia segura com eles. Eles eram a coisa mais próxima de uma família que eu tinha desde a morte de minha mãe. Mas eu não podia mais ficar aqui. Estava me matando lentamente dormir na mesma cama que um homem por quem eu estava seriamente gostando – porra, por quem eu estava me apaixonando. No começo eu tentei ignorar o que eu sentia, o quanto eu tinha começado a me preocupar com o homem que me salvou de um destino que a maioria consideraria pior que a morte. Eu até coloquei-o em um pedestal como algum tipo de herói. Mas eu odiava mentir, especialmente para mim mesma. Eu definitivamente estava me apaixonando por Hawk Hannigan. Então, quando ele chegou em casa e caiu na cama ao meu lado cheirando a perfume barato misturado com seu aroma natural depois de um dia de trabalho

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com suor, fumaça e bebidas, meu coração se abria um pouco mais. Ontem à noite foi uma daquelas noites em que ele cheirava a isso. O cheiro foi quase insuportável quando ele caiu na cama atrás de mim e me puxou contra ele, cansado demais para tomar um banho antes de adormecer. Eu fiquei lá, me xingando de uma centena de tipos diferentes de nomes enquanto lutava contra as lágrimas. Eu sabia o que significava quando ele chegava em casa cheirando assim. As groupies dos motoqueiros, as “ovelhas”, como Willa e Raven costumavam chama-las, estiveram no bar na noite passada. Isso significava que Hawk provavelmente ficou com uma delas antes de chegar em casa e subir na cama comigo. É claro que ele ficaria com uma delas. Era seu direito, afinal. Eu não tinha nada a dizer sobre ele ter relações sexuais com ninguém. Tudo o que eu era para ele era a garota que ele havia salvo de um estupro coletivo em uma festa da fraternidade. A garota que ele continuava a proteger. Me segurar todas as noites, e tomar conta de pequenos detalhes para mim ao longo dos últimos meses, não me fazia especial para ele. Claro como no inferno que não significava que eu o possuía ou algo assim. Eu não tinha o direito de estar com ciúmes. Enquanto eu fiquei lá, ouvindo a sua respiração, sentindo como se estivesse sendo sufocada com o cheiro insuportável de água de colônia barata, eu virei em seus braços. Eu quis levantar, talvez descer e dormir no sofá. Quando eu vi a marca de batom em sua mandíbula, e então inspecionei melhor seu pescoço, me senti como se meu coração tivesse sido arrancado do meu peito. Imaginar algo era uma coisa. Eu podia lidar com isso. Mas ver a prova de que ele deixou alguém colocar seus lábios nele, onde eu sofria para colocar os meus ... Eu pulei da cama, agarrei meu robe e corri como se os cães do inferno estivessem nos meus calcanhares, como se eu tivesse que estar tão longe de Hawk Hannigan quanto possível. Eu não podia mais fazer isso. Não podia ficar aqui. Não era possível dividir a cama com um homem por quem eu sofria para ter seu toque e amor. Não sem perder minha sanidade mental. Meu coração. Minha autoestima.

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Eu precisava mudar, e rápido. O único problema era que eu não tinha para onde ir. Os dormitórios da universidade já foram preenchidos para as aulas de verão e inverno, e eu não poderia pagar de qualquer forma. Tudo o que eu tinha era dinheiro suficiente para pagar a faculdade de Direito por um semestre e algumas necessidades pequenas. Não sobrou nada para moradia. Quanto à ajuda financeira para estudantes? Eu não me classificava exatamente para isso, porque tecnicamente eu ainda era considerada rica. Não importava que eu tinha deixado todo esse dinheiro para trás. Ele ainda estava legalmente ligado a mim. Dupla maldição. Se eu ia embora, e dane-se, eu iria logo, eu precisava conseguir um emprego. Talvez até dois até que a escola começasse no final de agosto. — Devem ser uns pensamentos pesados que você está tendo. Meu olhar se levantou de onde eu estava franzindo a testa para a minha xícara de café e eu forcei um sorriso quando encontrei os olhos verde-oliva de Raven Hannigan. Ela estava a apenas alguns metros de distância, me observando de perto. Seu cabelo longo e loiro estava puxado para trás em um rabo de cavalo e ela estava vestida com jeans rasgado, uma camiseta branca com o logotipo do Hannigan’s no peito esquerdo, e botas. A menina era linda e era tão assustadora quanto o próprio diabo. Mas, depois de vê-la com Lexa, filha de seu namorado, eu vi o quão suave e amorosa ela pode ser. — Só pensando — eu disse para a menina que se tornou um boa amiga ao longo dos últimos meses. — Preciso conseguir um emprego. Você acha que eu poderia ser garçonete no Hannigan’s? Os olhos de Raven se arregalaram. — Você quer que o meu irmão mate alguém? Eu bufei para sua pergunta. — Por trabalhar no bar? — Por te tocar. Hawk subiria as paredes se alguém te tocasse. Não tem como ele deixar que qualquer um de nós a contrate para trabalhar lá, Gracie. Mas se você realmente deseja ter um emprego, por que você não pede para o Tio Jack? Tenho certeza de que ele...

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Levantei minhas mãos, cortando-a. Não tinha chance alguma de eu pedir qualquer coisa para Jack. Eu não queria ter nada a ver com o tio honorário de Raven e o homem que era o meu avô materno. Ao meu ver ele não era melhor que a família do meu pai. Ele virou as costas para minha mãe quando ela mais precisava dele e ela morreu por causa disso. Eu não podia perdoar isso. — Não — eu murmurei baixinho, mas pareceu ter o mesmo efeito em Raven como se eu tivesse gritado para ela. Ela fechou a boca e foi até a geladeira para tomar um suco de laranja. — Ok, então. Se você está determinada em conseguir um emprego, eu tenho alguns lugares que podemos ir para ver se eles estão contratando. Só me deixe beber isso e nós podemos ir. — Tão cedo? — eu perguntei, olhando para fora da janela para ver que o sol ainda não tinha subido. Era quase seis da manhã. Eu estava levantada desde antes das três. Certamente ninguém que estaria disposto a me contratar estaria levantado tão cedo. — O Aggie’s já está aberto há algumas horas. — Raven me assegurou. — Ela sempre precisa de mais garçonetes. É um trabalho duro e seus pés provavelmente estarão latejantes até o final do dia, mas ela paga bem suas meninas e as gorjetas são um inferno de muito melhor do que se você trabalhar no bar. Além disso, quando a escola retornar, ela estará disposta a adaptar seu horário. Olhei para o meu pijama. Eu tinha certeza que minha vestimenta atual não iria me conseguir um emprego em qualquer lugar. Fazendo uma careta, eu coloquei minha xícara de café na mesa. — Preciso me trocar. — Jeans e uma camiseta está bom. E tênis. Algo confortável. — Raven falou atrás de mim enquanto eu corria até as escadas para o quarto de Hawk. Ele ainda estava dormindo, roncando levemente. Meu coração se contraiu ao vê-lo, e não surpreendentemente, meu corpo começou a cantarolar com uma necessidade que eu ainda não tinha certeza se eu entendia. Eu não deveria querêlo tanto assim, não deveria querer qualquer homem. Não depois de quase ser estuprada por dois malucos totalmente doentes. No entanto, eu queria. Eu o queria mais do que qualquer coisa que eu já quis antes em toda a minha vida.

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É de se imaginar que o único homem que eu sempre quis, com quem sempre me preocupei, não iria me querer. Silenciosamente eu me movi ao redor da sala, pegando um par de jeans e a primeira camiseta que era minha do armário antes de ir para o guarda-roupa e abrir as duas primeiras gavetas que Hawk me deu. Eu retirei um sutiã e calcinha limpas, junto com um par de meias, antes de ir para o banheiro para me vestir. Logo que terminei de me trocar, puxei meu cabelo para trás em um rabo de cavalo apertado e escovei os dentes. Hawk ainda estava dormindo no mesmo lugar quando eu silenciosamente fechei a porta atrás de mim. Raven estava de pé ao lado da porta quando eu desci as escadas, as chaves de seu Challenger já em sua mão. Aqueles olhos verde-oliva me olharam de forma crítica, mas então ela sorriu e acenou com a cabeça. — Vai servir — ela garantiu com uma piscadela e abriu a porta. Mesmo nunca tendo estado lá antes, eu já tinha comido do Aggie’s em várias ocasiões ao longo dos últimos dois meses mais ou menos. Hawk me trouxe o almoço de lá mais de uma vez. Era possivelmente a melhor comida que eu já provei na minha vida. Considerando que a minha vida tinha envolvido principalmente restaurantes cinco estrelas e chefs gourmet, isso significava muito. Quando Raven parou no estacionamento, que estava quase transbordando com uma mistura de motos e carros, fiquei sem palavras só de olhar para fora do local. Definitivamente não era o que eu estava esperando. Parecia uma parada de caminhões, o que deixava tudo mais plausível com o comboio de dezoito rodas estacionado do outro lado da estrada em um estacionamento ainda maior. O exterior do edifício parecia um grande barraco com um sinal em cima quase tão grande quanto um cartaz que proclamava o lugar como simplesmente “Aggie’s”. Honestamente, parecia que você precisaria de uma injeção de penicilina e um antiácido apenas para entrar no lugar. Raven sorriu para mim quando virei meus olhos assustados para ela. — É melhor por dentro do que do lado de fora. Aggie é uma doida. Ela gosta de assustar as pessoas com as armadilhas do lado de fora que sugerem que se você ousar

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comer aqui, corre o risco de ir embora com intoxicação alimentar ou até mesmo com uma bala alojada em algum lugar em seu corpo. — Ela riu, e meu rosto ficou vermelho. Sim, isso era exatamente o que estava acontecendo na minha cabeça em horror quando vi o lugar pela primeira vez. — Relaxe. Nenhuma das duas coisas vai acontecer. Não só Aggie é a melhor cozinheira de toda Norte do Cali, mas também tem um dos Angels em sua cozinha em todas as horas do dia. Ninguém mexe com Aggie. É sabido por todos que este lugar está sob proteção. — O-kay — murmurei e saí do carro quando ela riu de novo. Assim que a porta se abriu, eu fiquei sobrecarregada com os aromas de alimentos de café da manhã. Bacon, salsicha, bife... cheirava tão bem que o meu estômago roncou quase dolorosamente. Raven abriu o caminho para o restaurante. Assim que a porta se abriu e eu entrei dentro do barraco, me senti mal por minhas suposições anteriores. O lugar estava lotado de pessoas, algo que eu estava esperando já que o estacionamento estava tão cheio. O que eu não esperava era a limpeza geral do local. Era tão limpo que eu tinha certeza de que até mesmo o piso era mais limpo que pratos e utensílios de muitos restaurantes. Com todo mundo conversando e rindo, a música country tocando suavemente através das caixas de som em cima e os sons provenientes da cozinha, eu realmente não podia me ouvir pensar. Havia uma placa na entrada que dizia para os clientes se sentarem e Raven foi direto para a parte de trás, onde uma cabine estava vazia. Menus estavam dobrados e saindo de um pequeno cesto onde o sal, pimenta, ketchup, molho de pimenta, e pacotes de adoçante estavam armazenados. Eu peguei um, deslizando sobre as opções de café da manhã. Antes mesmo que eu tivesse tempo de lê-los, uma sombra apareceu sobre a mesa. — O que posso fazer por você? Ergui a cabeça para encontrar uma menina de calça jeans e uma camisa escrita “Aggie’s” ao lado da mesa. Seu cabelo estava puxado para trás em um rabo de cavalo bagunçado, e ela estava mascando chiclete de uma maneira que me fez querer estalar sua bolha com a esperança de que sujasse todo o seu rosto e cabelo.

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— Não. — Raven balançou a cabeça para a garota. — Você não. Vá dizer a Aggie que Raven quer pedir. A estouradora de bolhas ergueu uma sobrancelha escura para ela. — Você é especial ou algo assim? — Perguntou ela com um sorriso de escárnio em sua voz e eu imediatamente me perguntei se essa era uma menina que valorizava a vida ou se ela simplesmente não sabia quem Raven era. — Baby, eu sou seu pior pesadelo se você não for buscar Aggie. Eu não como nada que eu não cozinho exceto se for dela. E eu com certeza não quero que você respire sobre a comida. Então, vá buscá-la. Agora. Com um acesso de raiva e um resmungo baixo, a garçonete foi procurar Aggie. Eu vi como o rosto de Raven se torceu de raiva com o insulto, mas ela não moveu sequer um dedo ali sentada. Eu ouvi falar que ela não era alguém com quem se mexer, que ela daria um soco na cara antes de alguém lhe dizer o quanto ela odiava. Mas seus dias de luta acabaram agora que ela estava grávida. — Lembre-me de bater nela daqui a sete meses. — Raven resmungou. — Anotado — eu disse e ri quando voltei minha atenção para o menu. — Raven! — Ouvi alguém chamar seu nome e, lentamente, levantei a cabeça para encontrar uma mulher gorda em um avental manchado caminhando em direção a nossa mesa. — Ei, Aggie. — Raven se levantou e beijou a bochecha da mulher antes de puxá-la para dentro da cabine ao lado dela. Os olhos azuis claros de Aggie foram direto para mim e eu ofereci-lhe um sorriso. — Olá — ela cumprimentou enquanto seus olhos pareciam avaliar cada parte de mim que ela podia ver antes de se estreitar. — Então, você é a neta de Jack. Já ouvi falar de você. Deu-lhe um bom tapa na semana passada, não é? Senti calor encher minhas bochechas, mas não desviei o olhar. Eu não me arrependia de estapear meu avô. Ele tinha sorte de que foi tudo que eu fiz. — Sim, senhora. — Educada. Eu gosto disso. — Aggie riu e se virou para Raven. — O que vocês duas estão fazendo neste buraco do inferno tão cedo?

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— Eu queria bife e ovos mexidos com alguns de seus biscoitos. — Raven informou. — E Gracie quer um emprego. Aggie levantou uma sobrancelha. — Sério? — Mordi o lábio, pronta para ela dizer a Raven não só um não, mas um “inferno que não”, sobre mim querendo um emprego e pensar que ela contrataria. — Desde quando você come ovos mexidos? Eu fiz uma careta, me perguntando se ela tinha ouvido Raven contar a ela sobre mim querer um emprego ou se ela apenas pensava que ela estava brincando. — Logo que esse moleque me vez deseja-los — disse ela, apontando para sua barriga. — Eu culpo Bash. A mulher mais velha fez uma careta. — Isso é péssimo. Tem certeza disso? Quer dizer, só o pensamento de ovos faria você me amordaçar quando era criança. — Eu venho comendo-os durante semanas agora, Aggie. Não tenho vomitado nada ainda, mas se eu tiver que comer os que essa vadia que me chamou de puta fez, eu poderia vomitar nela na hora. Aggie riu. — Você quer dizer Chrissy? Merda, eu não suporto aquela putinha. Mas ela é uma boa garçonete e trabalha em turnos extras sem muito barulho. — Ela olhou para mim e piscou. — Repare que eu não disse muito, querida. Eu não pude deixar de rir, gostando dessa mulher mais e mais a cada segundo. — Então eu não posso esfaqueá-la em um lugar vital. Entendi. — Raven resmungou, fazendo bico com os lábios mostrando que ela estava indignada, mas aceitaria o que viesse. — O que você quer comer, Gracie? Eu só fiquei sentada lá assistindo. Já sabia que eu iria amar Aggie. Ela era tão verdadeira, tão simples. — Apenas alguns ovos mexidos com bacon e torradas está bom para mim. Aggie assentiu. — Entendi. — Ela se levantou. — O turno do almoço começa às onze. Você pode começar então.

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Pisquei, enquanto se afastava. Era isso? Raven diz a ela que eu quero um emprego e ela apenas dá para mim? Sem perguntas, sem entrevista, sem discussão alguma? Não que eu fosse discutir, porque eu realmente precisava do dinheiro, mas isso era uma loucura. Quem fazia isso? Raven me deu outro sorriso. — Relaxe. Por aqui nós normalmente vamos por instinto e é como se você nem tivesse pedido. Ela confia em meu julgamento e sabe que se eu te trouxe para ela, ela podia confiar em você. Além disso, eu tenho certeza que ela tem uma queda por Tio Jack. Você é neta dele. Dar-lhe um emprego só ganha pontos com ele. — Seu sorriso se transformou em uma careta. — Agora tudo o que tem a fazer é contar ao meu irmão ... Boa sorte com isso.

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Capítulo 2 Hawk

Acordei sozinho na cama. Isso não me surpreendeu. Eu acordava sozinho na cama na maioria dos dias já que eu não me arrastava até lá antes das duas e só acordava depois do meio dia. Não significava que eu não esperasse acordar com Gracie ainda abraçada contra mim. Ela acordava cedo, entretanto, e geralmente era uma das primeiras pessoas de pé no período da manhã. Normalmente ela fazia café da manhã para todos, limpava a casa, e então passava um tempo brincando com Toby e Lexa. Eu estava feliz que ela gostava de brincar com o cachorro de Felicity e minha sobrinha, mas ela não precisava limpar e cozinhar para todos. Ela me disse que ela considerava o mínimo que podia fazer, já que ela estava vivendo aqui sem pagar. Já que eu a considerava minha, ela não tinha que pagar por nada. Eu cuidava de tudo para ela. Era o meu trabalho cuidar dela e dar-lhe qualquer coisa que ela precisasse. Se ela queria algo, tudo o que tinha a fazer era dizer e eu faria acontecer. Eu tinha o dinheiro para cuidar dela confortavelmente para o resto de sua vida. Gemendo, eu rolei na cama e, em seguida, me levantei. Mesmo que eu tivesse conseguido dormir o suficiente na noite passada eu ainda me sentia exausto. Eu precisava de um pote de café preto grosso e um pouco de comida, mas primeiro eu precisava tirar o cheiro do bar de cima de mim. Ao entrar no banheiro, eu ergui a mão em direção ao chuveiro e abri a torneira até que que água ficou escaldante e fui cuidar de outras coisas. Quando terminei, eu lavei minhas mãos e estendi a mão para a minha escova de dentes enquanto o banheiro começava a se encher de vapor.

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Eu estava esfregando minha boca quando peguei a visão de algo rosa no meu rosto. Murmurando uma maldição, eu esfreguei minha mão em toda a mancha de batom no meu queixo. O bar estava cheio de mulheres na noite passada, todas tão bêbadas ao ponto de que Colt e eu precisamos leva-las para casa. Quando eu estava empurrando uma na parte de trás da van, ela colocou os braços em volta do meu pescoço e começou a beijar qualquer parte do meu rosto que pudesse alcançar. Vadia estúpida. Todas as ovelhas sabiam que eu estava fora dos limites. Eu não gostava disso e todas sabiam. Mas desde que Gracie havia entrado em minha vida, eu perdi o interesse até mesmo nas minhas amigas de foda habituais. Porra, será que Gracie viu isso? Será que ela acha que eu estava ficando com alguém? Gemendo, eu terminei de escovar os dentes e corri para terminar de tomar banho antes de pegar o primeiro par de jeans do meu armário e vestir uma camiseta na pressa de chegar no térreo e falar com Gracie. Na sala de estar eu encontrei Lexa assistindo TV enquanto usava Toby como um travesseiro de corpo. O Bulmastife era maior do que ela e a superava em pelo menos cinquenta quilos, mas ele adorava a menina. Seguiu-a como se fosse sua sombra, olhando para ela como se fosse seu próprio anjo para proteger. — Oi, tio Hawk. Eu dei-lhe um pequeno sorriso, tudo que eu podia reunir quando meu coração estava acelerado a cem quilômetros por minuto imaginando se Gracie estava chateada comigo ou não. Porra, eu dei mancada. Eu nunca me importei se eu deixava alguma mulher brava antes. Nem mesmo Raven ou Felicity. Agora eu estava suando porque os sentimentos da minha mulher poderiam estar feridos. — Oi, querida. Toby levantou a cabeça para olhar para mim e depois deitou-se quando Lexa beijou seu nariz. Balançando a cabeça, eu andei pela casa até a cozinha. Raven estava sentada na mesa com vários livros contábeis espalhados ao redor dela. Ela estava franzindo o cenho para o que estava logo em frente a ela enquanto batia na mesa com o lápis.

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— Algo errado? — Eu perguntei, enquanto pegava o pote de café e me servia de uma caneca enorme. — Só estou tentando ler a letra do Tio Chaz. — Ela apertou os lábios e levantou a cabeça. — Você poderia pensar que eu já seria capaz de traduzir seus rabiscos, mas eu sempre termino com uma dor de cabeça violenta e uma vontade de socar aquele velho na garganta. Eu bufei quando cai em uma cadeira em frente a ela. Se ela estava com vontade de socar alguém na garganta, eu não queria estar muito perto dela. Eu amava a minha irmã, mas eu fui um dos filhos da puta a ensiná-la a lutar. Eu sabia os danos que ela podia causar e eu não queria sangrar tão cedo. — Gracie saiu com Willa? — Ela não estava na casa. Não me pergunte como eu sabia, porque eu não conseguia explicar, mas eu simplesmente não podia senti-la. Foi a vez de Raven bufar. — Você realmente acha que agora que o Spider colocou um anel no dedo de Willa, ele vai deixá-la sair do apartamento por tempo suficiente para ir a qualquer lugar com qualquer um? Eu vou ter sorte se ele tiver células cerebrais suficientes restantes depois de foder a semana toda e se lembrar da festa que vou dar amanhã à noite. Meu corpo se enrijeceu. Eu não me importava com a estupida festa de aniversário que Raven estava fazendo para Willa ou que Spider tinha colocado um anel no dedo de outra mulher. Tudo o que eu queria saber era onde a minha mulher estava. — Se ela não está com Willa, então onde diabos ela está? — Eu exigi. — Ela está no trabalho. — Raven me informou, encontrando o meu olhar de frente. Eu levantei tão rápido que minha cadeira quase tombou. Eu já estava pegando minhas chaves. — Para que ela precisa trabalhar? — Eu praticamente gritei. — Ela precisa se concentrar na escola, e não trabalhar até a morte. — A escola não vai começar até daqui algumas semanas. — Raven me lembrou calmamente. — E eu tenho certeza de que ela não é o tipo de garota que

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apenas senta e deixa que as pessoas façam as coisas por ela. Ela quer a independência que ter seu próprio dinheiro traz. — Onde você conseguiu um emprego para ela? — Eu sabia que tinha que ser ela. Se tivesse sido um dos meus irmãos, biológicos ou do clube, eles sabiam que arriscariam a minha raiva. Minha irmã era a única com bolas suficientes para fazer algo que ela sabia que me irritaria muito. Raven deu de ombros e voltou sua atenção para os livros na frente dela. — Aggie a contratou. Ela está trabalhando no turno do almoço. — Porra! — Eu não queria gritar, mas saiu muito mais alto do que o esperado. O Aggie’s não era seguro o suficiente para Gracie. O tráfego naquele lugar era monstruoso. Ela teria que lidar com todos os tipos de idiotas, pervertidos e outros velhacos desagradáveis que eu mataria com minhas próprias mãos, se atrevessem a tocá-la. E se aquele filho da puta Kevin Samson aparecesse e tentasse machucála? Raiva me preencheu só de pensar. — Você provavelmente deve relaxar antes de assustar Lexa — disse ela, seu tom ainda calmo, mas sem deixar dúvida. — Gracie será a menor de suas preocupações se você assustá-la. Vou te esfaquear na garganta e ver você sangrar. Eu não sabia se sua ameaça era real ou não, mas não fiquei por tempo suficiente para descobrir. A minha moto estava estacionada na frente do Chevelle que eu estava deixando Gracie dirigir, me bloqueando. Não perdi tempo tentando tirá-lo, apenas subi nela e queimei borracha quando sai. O estacionamento estava lotado quando cheguei ao Aggie’s. Tive que estacionar em frente à rua com alguns outros veículos e uma dúzia de carretas. Assim que estacionei no parque, eu sai e corri para a frente ao restaurante. Foi só então que eu percebi que eu tinha deixado meu colete do clube em casa. Porra, Gracie tinha me deixado revirado de todos os jeitos hoje. Ela tinha que ter visto o batom e foi por isso que ela quis este trabalho. Eu podia sentir isso em meus ossos. Ela iria tentar e me deixaria.

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Só esse pensamento me fez querer rasgar algo. Havia pessoas de pé na entrada, à espera que mesas ficassem livres. Normalmente, esse era um lugar do tipo “sente onde quiser”, mas havia dias que não havia onde sentar, então eles tinham que esperar. Eu passei por três homens aguardando em frente ao balcão. — Ei cara, estávamos aqui primeiro — um deles me chamou. Eu mostreilhe o dedo e um olhar duro sobre o meu ombro antes de voltar a procurar por Gracie. O idiota tinha que ser de fora da cidade, senão não teria ousado me perguntar. — Olá, estranho — disse uma voz suave e doce logo atrás de mim. Virei-me para enfrentar a loira com uma bandeja de bebidas na mão. Quinn era a menor garota que eu conhecia, mas também era dura como prego. Ela não caçava no clube como as irmãs faziam. Suas três irmãs, uma mais jovem e duas anos mais velha do que ela, eram ovelhas do clube. Quinn era uma boa menina e tinha a maior queda por Raider. Essa paixão destruiria a pobre garota quando ela finalmente percebesse que meu irmão era basicamente um mulherengo desprezível que só queria ter o seu pinto molhado, não sossegar. Quinn era definitivamente o tipo de garota com quem um cara sossegaria. Alguém precisava casar com ela logo antes que ela ficasse esperta e saísse de Creswell Springs. — Ei, — eu disse e balancei a cabeça, em seguida, olhei ao redor, à procura de qualquer sinal do que era meu. — Jack está na parte de trás se você está procurando por ele. — Quinn me informou enquanto ela se movia em torno de mim. — Ele está sentado na seção da menina nova. Garota sortuda. Jack dá as melhores gorjetas. A menção da nova garota me fez virar e empurrar a multidão que tinha acabado de se levantar de uma cabine. Eu não me incomodei em pedir desculpas enquanto corria em direção à parte de trás do restaurante. Algumas vozes familiares me chamaram, mas eu ignorei-as todas enquanto procurava por Gracie.

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Eu sabia que eu provavelmente parecia um homem louco de olhos arregalados, mas eu não dava a mínima. Eu já podia senti-la se distanciar de mim, porra. E eu ainda não tinha dito a ela que ela era minha ainda. Porra, eu tentei ser um cavalheiro – pela primeira vez para mim. Tentei dar-lhe tempo para superar o que tinha quase acontecido naquela maldita festa de fraternidade. Eu não queria assustá-la e virar um homem das cavernas dizendo-lhe que ela era minha e eu planejava que ela fosse grande parte da minha vida. Que eu iria tornála a minha senhora. Agora eu senti o pânico de saber que talvez eu tivesse chegado muito tarde. Eu iria colocar uma etiqueta dizendo “Propriedade de Hawk do Angel’s Halo MC” nela e nunca mais deixá-la sair da minha vista novamente. Avistei Tio Jack antes de vê-la. O velho motoqueiro estava sentado em uma cabine no canto de trás, um copo de chá doce em cima da mesa na frente enquanto seus olhos castanhos estavam grudados em algo à minha esquerda. Eu segui esse olhar e meu coração se contorceu em meu peito quando encontrei Gracie em pé em uma cabine cheia de alguns caras da equipe de construção do Tio Chaz. Ela estava sorrindo para eles com aquele sorriso angelical que eu queria reservado para mim e só para mim. Seu cabelo vermelho grosso estava puxado para trás em um rabo de cavalo, expondo seu pescoço longo e gracioso. Ela usava uma calça jeans que deveria ser considerada ilegal pelo modo como se abraçava naquela bunda perfeita dela. A camiseta do Aggie’s que ela usava era muito apertada, moldando seus seios e terminando uma polegada acima do topo de sua calça jeans. Os idiotas da construção estavam comendo a visão dela, sorrindo para ela como se ela fosse carne fresca e eles estivessem morrendo de fome. Eu mataria todos e cuspiria em seus corpos mutilados enquanto limpava o sangue do meu rosto, eu prometi a mim mesmo enquanto andava em direção a ela. Uma pequena mulher gorda com um rosto ligeiramente enrugado e olhos azuis claros pisou em meu caminho. — Dois Hannigans em um só dia. Me sinto

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honrada. — Aggie disse com um sorriso quando cruzou os braços sobre seus seios muito, muito generosos. Eu não sorri para ela como normalmente teria feito. Ela tinha contratado Gracie sem sequer falar comigo sobre isso. Aggie tinha colocado a minha mulher em perigo, só de dar-lhe um emprego. — Eu quero que você diga a Gracie que você não precisa que ela trabalhe aqui. Diga a ela que você tem muitas garçonetes e você tem que deixa-la ir. Aggie levantou uma sobrancelha para mim, seu sorriso não escureceu nem um pouco. — Por que eu iria querer fazer algo assim? — Ela olhou por cima do ombro para Gracie, que ainda estava conversando com a equipe de construção, anotando os pedidos e fazendo-os rir. — Ela é uma menina doce, para não mencionar uma aprendiz rápida e talvez uma das meninas que mais trabalham duro que eu já vi. A menina está aqui a apenas algumas horas, mas trabalhou mais do que qualquer uma das outras meninas, até mesmo Quinn. — Ela não precisa do emprego. Eu vou cuidar dela. A mulher que foi a melhor amiga de minha mãe estreitou os olhos em mim. — Você vai torná-la sua senhora, Hawk Hannigan? Ou você está apenas jogando por aqui? Porque se você está apenas brincando, eu vou ter que contar ao avô dela. — Ela inclinou a cabeça grisalha para a cabine onde Tio Jack estava. — Não posso deixar você quebrar o coração dessa menina doce, posso? Meus

próprios

olhos

se

estreitaram

sobre

ela.

Gracie

é minha, Ag. Minha. Agora vá dizer a ela que ela está demitida. — Não vá mandando me fazer nada, garoto. Eu não hesitarei em acertar você com uma colher de madeira. — Ela olhou para mim e eu sabia que ela não estava brincando. Se eu tivesse com 12 anos de idade novamente eu poderia ter me encolhido para longe dela. Mas eu não tinha mais doze anos e eu não me escondia de nada, especialmente quando se tratava de proteger o que era meu. Ela continuou: — Se você não a quer trabalhando aqui, você diga a ela. Mas eu não vou demitir a menina. Eu gosto dela e a maioria dos clientes também. Mesmo algumas das minhas outras meninas têm oferecido seus sorrisos e palavras gentis. Isso é dizer muito para algumas dessas cadelas. — Aggie recuou. — Boa

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sorte com isso, no entanto. Ela pode ser doce, mas eu posso ver o temperamento de Jack fervendo por baixo. Murmurando uma maldição sob a minha respiração, eu andei pelo Aggie’s e alcancei-a logo quando Gracie se virava da cabine cheia de trabalhadores da construção civil. Quando ela me viu, seus olhos se suavizaram, mas o sorriso que ela me deu não alcançou seus olhos. Não era o sorriso de sempre que eu estava acostumado a receber dela. Não era aquele sorriso misteriosamente angelical que me faria querer ter certeza de tudo o que ela sempre precisasse ou quisesse estivesse colocado em seus pés como a rainha que ela merecia ser. O sorriso que eu estava vendo naquele minuto me contou tudo sem que eu precisasse perguntar. Ela viu o batom no meu rosto naquela manhã. Viu e agora estava se afastando, escapando de mim. Pânico não era algo que eu estava acostumado a sentir, mas estava fazendo o meu peito apertar e meu coração disparar mais rápido do que nunca senti na minha vida. Eu tinha essa súbita necessidade de pegar Gracie, atirá-la sobre meu ombro e leva-la de volta para a casa. Mantê-la trancada no quarto até que eu pudesse convencê-la do que ela era para mim. Que eu queria só a ela. — Oi — ela murmurou com uma voz suave. — Oi — eu limpei minha garganta quando saiu soando grosso. — Podemos conversar? — Eu não queria envergonhá-la aqui na frente de todos. — Estou ocupada, Hawk. — Ela me deu outro sorriso, desta vez com mais força. — Não pode esperar até eu chegar em casa? Parte da pressão no meu peito saiu quando ela mencionou casa. — Então, você vai voltar para a casa esta noite? Dentes brancos espaçados igualmente se afundaram em seu lábio inferior por um momento antes de assentir. — Sim. Eu não tenho outro lugar para ir agora. Então, se você não se importa, eu gostaria de ficar com você um pouco mais. Eu passei a mão no meu rosto. — Porra, querida. Claro que está tudo bem. Eu não quero que você saia. Eu quero que você fique comigo. — Para sempre, eu deveria ter dito, mas é claro que eu me acovardei de repente.

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O sorriso voltou e eu estava feliz de vê-lo um pouco mais brilhante desta vez, mesmo que ainda não atingisse aqueles olhos que eu tanto amava. — Ok, então. Eu te vejo hoje à noite. Eu balancei a cabeça e estendi a mão para ela. — Não. Eu não vou sair daqui sem você. Pegue suas coisas. Vou leva-la para casa. — O Quê? Por quê? — Ela perguntou, o sorriso muito longe agora. — Eu acabei de começar e eu meio que gosto. Eu preciso desse emprego, Hawk. Minha conta bancária está ficando no vermelho e neste momento eu só tenho o suficiente para um semestre de faculdade de direito. Eu tenho que fazer alguma coisa. Eu comecei a abrir minha boca, para dizer a ela que ela não precisa se preocupar com isso. Eu pagaria por sua escola. Gostaria de dar-lhe qualquer coisa e tudo que ela precisava. Era o meu direito; meu dever — a porra do meu privilégio — cuidar do que era meu. Ela balançou a cabeça com firmeza. — Não — ela cuspiu. — Não. Eu não vou pegar seu dinheiro. Não aceito esmolas, mesmo se foi isso que você pensou por eu ter ficado na sua casa sem pagar. Eu vou pagar você ou Raven, ou quem quer que aceite o dinheiro, pelo aluguel e alimentação. — Inferno que vai, — rosnei e esfreguei as mãos sobre o meu rosto de novo antes de passar os dedos pelo meu cabelo. Merda. Ela estava indo embora; tudo porque eu não tomei banho ontem à noite e não lavei aquele maldito batom. Foi bastante inocente, mas Gracie não sabia disso. Porra! Eu gritei mentalmente a palavra mais e mais na minha cabeça antes de deixar cair as minhas mãos. — Querida, por favor. Você não tem que trabalhar. Eu não quero que você trabalhe. Eu quero cuidar de você. — Seus olhos se voltaram tempestuosos e eu cerrei os dentes, rapidamente tentando pensar em algo, qualquer coisa, para fazê-la sair e voltar para casa comigo. — Não é seguro aqui, Gracie. Kevin Samson poderia vir aqui e fazer alguma coisa e eu não vou estar aqui para te proteger. — Meu intestino torceu com esse pensamento, mesmo quando a raiva me rasgou como uma lâmina enferrujada. Eu vi um flash rápido de medo em seus olhos castanhos antes que ela apertasse a mandíbula e desse um passo para trás. — Eu não estou preocupada

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com ele. Ele sequer tentou se aproximar de mim desde a noite em que ele ... — Ela parou e respirou fundo, fazendo com que seu nariz pequeno bonito se incendiasse, antes de falar novamente. — Samson não vai me incomodar, então pare de se preocupar. Agora, a menos que você queira algo para comer, saia. Eu tenho trabalho a fazer. Podemos falar em casa. Ela deu um passo em volta de mim e correu em direção à cozinha. Eu apertei minhas mãos em meus lados. — Porra, — rosnei e me virei. Eu daria o dia de hoje para ela, a deixaria voltar para casa com os pés e as costas doendo, e então ela estaria mais agradável. Eu poderia dar sentido a sua cabeça teimosa e quando enfim a convencesse a desistir, diria a ela como eu me sentia. Uma risada me parou antes que eu tivesse tomado mais do que alguns passos em direção a porta. Virando-me, eu olhei para o Tio Jack. Nas duas semanas desde que eu descobri que o homem que eu amava e respeitava era o avô da menina que eu considerava minha, eu o evitei. Eu estava chateado por ele ter abandonado Shannon e Gracie com o pai de Gracie, sem nunca entrar em contato com qualquer uma delas, e, basicamente, deixado o pai dela matar sua mãe. A parte racional de mim, uma parte de mim que eu realmente só descobri desde que conheci Gracie, sabia que não era exatamente justo. Se Shannon era pelo menos metade tão teimosa quanto Tio Jack, ela provavelmente manteve a boca fechada e não contou ao pai que o marido batia nela. Eu sabia que o homem que foi o melhor amigo do meu pai teria procurado o homem com o resto do clube assim que soubesse. Ele não a teria deixado lá, provavelmente teria matado aquele filho da puta que estava batendo em sua filha se ela tivesse dito alguma coisa. A parte emocional de mim, a que eu estava me acostumando desde que Gracie havia entrado em minha vida, não se importava com isso. Eu estava do lado dela e se ela queria odiar o avô, então eu iria odiá-lo junto com ela. — O quê? — eu resmunguei, parando ao lado de sua cabine. — A menina que você descreveu da primeira vez que me contou sobre ela supostamente era mansa. Essa menina — minha neta — não é nada perto disso. — Jack pegou seu chá e tomou um longo gole. Olhos idênticos brilharam de sua

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neta para mim com diversão. — Ela é mal-humorada em cima de toda a doçura. Eu posso não ter um dedo na criação dela, mas com certeza age um inferno de muito parecida comigo. — Se você quer dizer que ela é teimosa e obstinada, então sim. Ela é exatamente como você. Tio Jack jogou a cabeça para trás e caiu na gargalhada. — Com certeza, menino. Agora sente-se. Você pode cuidar da minha neta e comer ao mesmo tempo.

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Capítulo 3 Gracie

Na hora em que eu voltei com as bebidas dos caras de construção, eu estava esperando que Hawk tivesse ido embora. Em vez disso, ele estava sentado na mesma cabine que eu estava tentando evitar. Eu fiz Jack esperar sentado por mais de dez minutos antes de me forçar a anotar seu pedido na esperança de que ele se cansasse e fosse sentar na seção de outra pessoa. Ele não tinha. Não. Ele apenas ficou lá, sorrindo para mim divertidamente enquanto eu passava pela sua cabine uma e outra vez, anotando o pedido do almoço de todos menos o dele. Finalmente eu apenas senti pena dele e lhe pedi algo para beber. Agora que Hawk estava sentado com ele, eu não tinha escolha a não ser me aproximar do velho motoqueiro de novo. Maldita eu por querer alimentar o meu amigo. Eu coloquei as bebidas em cima da mesa na grande cabine com os cinco trabalhadores da construção civil e comecei a entregá-las com um sorriso. Eles haviam sido nada além de bons até agora e só tentavam paquerar um pouco. — Pequeno John já está fazendo a comida, pessoal. Precisam de algo mais agora? O que estava à minha esquerda estendeu a mão e tocou o dedo indicador contra o meu braço algumas vezes antes de acariciá-lo para cima e para baixo. Eu não empurrei de volta imediatamente, simplesmente porque ele não me intimidava. — Que tal o seu número, doce Gracie? — Ele perguntou, com um sorriso quase gentil. — Nós poderíamos assistir a um filme ou algo assim. Não era a primeira vez naquele dia que alguém tinha pedido o meu número. Dois outros caras já me chamaram não só para isso, mas também para sair. O último não tinha sido tão doce como esse cara parecia ser. Soltou um “Ei, baby. Quer vir e chupar meu pau esta noite?”. Esse tipo de pedido foi rapidamente

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seguido por mim jogando sua Pepsi em seu colo e indo embora, para a diversão de seus amigos e algumas das outras garçonetes. Esse cara, com seus olhos castanhos amáveis e sorriso tímido quase me fez querer escorregar-lhe o meu número e talvez ir de verdade a um encontro com ele. A única coisa que me fez parar era que eu não queria dar-lhe a ideia errada. Eu não queria nada mais do que amizade com esse cara. Infelizmente o meu coração já estava amarrado em nós por um motoqueiro bad boy de olhos verdes como jade. — Se você quer manter esse dedo, eu sugiro que você o tire da minha menina — uma voz cheia de ameaça disse logo atrás de mim. Eu quase pulei quando senti uma mão tocar minhas costas, mas apenas um segundo após o primeiro contato eu soube exatamente quem era. O dono dela acabou de ameaçar o pobre rapaz que tentou me convidar para sair. Virei a cabeça para olhar nos olhos ardentes de Hawk. Suas palavras realmente não faziam sentido para mim, então eu olhava para ele com o que tinha de ser uma expressão confusa no rosto. A expressão de Hawk estava longe de confusa, no entanto. Era escura, tão ameaçadora quanto sua voz quando ele virou os olhos verdes para o trabalhador de construção civil, que ainda tinha o dedo no meu braço. — Você acha que eu estou brincando? — Ele perguntou, sua voz cheia de gelo. — Eu vou quebrar todos os ossos na sua mão antes de cortar a porra do seu dedo fora se você não tirá-lo daí. Eu não pude evitar suspirar para sua ameaça. — Hawk, — Eu afastei meu braço para que o cara não tivesse que se preocupar em soltar a mão. Ele parecia tão assustado que ele estava quase congelado no lugar. — O que está fazendo? — Perguntei, tentando manter minha voz baixa e tranquila, de modo a não causar uma cena ainda maior do que o que ele já tinha feito. Eu não olhei ao redor para ver quem estava nos observando, porque eu podia sentir os olhos de todos colados na minha cabeça. O restaurante estava estranhamente silencioso, como se todos estivessem segurando a respiração enquanto esperava para ver se o grande e mau motoqueiro realmente faria o que ele tinha apenas ameaçado.

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A mão que Hawk tinha colocado na minha cintura moveu até que ele estava me segurando. Ele me puxou com força contra ele, aqueles olhos verdes escurecendo para um rico verde de caçador. — Eu não gosto de ver as mãos de outro cara na minha mulher. Não deixe eles te tocarem de novo ou eu vou matar cada um deles. Entendeu, Gracie? Uma mistura de emoções confusas parecia varrer através de mim de uma só vez, me deixando quase tonta. Eu nunca vi esse lado de Hawk antes, este motoqueiro letal de quem eu só tinha ouvido rumores. Em casa, ele era tão doce e gentil comigo. Este lado dele me assustou um pouco. No entanto, mesmo quando eu estava tremendo de um novo medo dele, eu estava tremendo com algo totalmente oposto do medo. A possessividade em seu olhar, o tom de sua voz, o toque de seus dedos em um pouco mais de pele nua entre os meus jeans e a camiseta de trabalho estava fazendo o meu corpo esquentar com uma necessidade por ele que eu não entendia completamente. Eu senti minha calcinha molhar; meus mamilos endureceram e apertaram dolorosamente contra o material do meu sutiã de algodão. Droga, por que eu tenho que querê-lo tanto? Nunca me senti assim por qualquer outro homem na minha vida. Nem na escola e definitivamente não na faculdade onde eu tinha me concentrado em minhas notas mais do que no que estava acontecendo ao meu redor. E o que ele disse? Que eu era a sua? Ele estava dizendo a verdade? Meu coração bateu forte de repente, exigindo saber. Ou ele estava apenas tentando me proteger daqueles que ele achava que eram uma ameaça para mim? Eu ansiava que ele fosse o primeiro, mas temia que fosse o último. Lambi meus lábios secos e observei fascinada como seu olhar caiu sobre a minha boca, vendo a minha língua roçar sobre meus lábios nervosamente. — Você não pode sair por aí ameaçando pessoas assim — eu respirei. O lado direito de sua boca se levantou em um meio sorriso arrogante. — Continue olhando. — Ele abaixou a cabeça e apertou os lábios quentes contra a ponta do meu nariz. Aquele beijo simples e gentil deixou todo o meu corpo em chamas e eu quase derreti contra ele ali mesmo. Meus olhos se fecharam enquanto

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eu tentava esconder a dor repentina de lágrimas estúpidas. Eu queria tanto que fosse verdade; queria ser sua, tanto como eu queria que ele fosse meu e só meu. Abri os olhos quando ele se afastou, agradecida que minhas lágrimas secaram rapidamente. Depois de apenas uma pequena pausa, ele levantou a voz, falando para todos no prédio, mesmo que seus olhos ainda estivessem em mim. — Qualquer um que tocá-la estará morto. Algumas pessoas limparam a garganta e tossiram, mas a sala logo voltou ao seu baixo nível de conversa mais uma vez. E eu fiquei ali, tentando descobrir este homem, que ainda estava com a mão na minha cintura, os dedos esfregando pequenos círculos na minha pele nua, como se para me acalmar. É claro que acalmou. Seu toque tinha um jeito de me acalmar ao mesmo tempo que me fazia doer por algo que eu não tinha o direito de pedir. Eu tentei encontrar a minha voz. — Eu não sou sua — murmurei. Meu coração se partiu um pouco mais, porque eu sabia que era verdade, mesmo eu querendo-o de forma diferente. — Você é, Gracie. Só não sabe disso ainda. — Ele ergueu a mão livre e empurrou alguns fios de cabelo que tinham caído do meu rabo de cavalo atrás da minha orelha. Quando meu cabelo estava no local onde seus dedos pousaram, ele começou a acariciar meu pescoço carinhosamente. Não pude conter o pequeno tremor que seu toque produziu. — Mas você vai, querida. Eu posso prometer-lhe isso. Ele deu um passo para trás e eu senti como se finalmente pudesse respirar fundo novamente. — Vejo você em casa, querida. Atordoada, eu observei-o ir embora. Ele acenou com a cabeça para Jack e foi embora. Eu fiquei lá, meus joelhos moles como se tivessem sido transformados em geleia. Quando a porta se fechou atrás dele, eu me forcei a voltar ao trabalho. Os trabalhadores da construção civil ainda sentados na cabine atrás de mim limparam a garganta e eu senti minhas bochechas encherem com o calor. Oh, merda. Eu tinha vergonha de me virar e dizer que eu sentia muito. Meu amigo tinha acabado de ameaçar paralisar um cara legal e eu não sabia como lidar com isso. Então, apertando meu queixo, eu me aproximei da mesa de Jack, determinada

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a fingir que aquela pequena cena nunca aconteceu. — Já decidiu o que você quer comer? Os olhos de Jack brilharam para mim, ainda cheios de diversão. — Você poderia fazer pior do que Hawk Hannigan. Ele é um bom menino. Acho que gosto de você com ele. — Eu não estou com ele — eu respondi. Eu definitivamente não iria falar com este homem sobre o meu relacionamento, ou melhor, a falta dele, com Hawk Hannigan. E eu com certeza não me importava se ele aprovava ou não. — Somos apenas amigos. Você quer algo para comer ou não? — É só dizer a Aggie que eu quero o de sempre. Ela sabe o que eu gosto. Revirei os olhos para ele. — É claro que ela sabe. Eu vou falar para ela. Uma mão grande e enrugada pousou no meu cotovelo, me parando antes que eu pudesse virar. Eu olhei para a mão de Jack. — Eu gostaria de falar com você, Gracie. Eu não gosto muito de você trabalhando aqui. Venha trabalhar para mim. Meus olhos se arregalaram. — E por que eu iria querer fazer isso? — Eu não queria nada com ele. Nada. Ele não esteve lá para a minha mãe quando ela mais precisava, então eu não preciso ou quero ele na minha vida agora. — Porque eu posso te pagar o triplo do que você vai fazer aqui e você não terá que se matar à espera de outras pessoas como agora. Você pode trabalhar no escritório em minha garagem. Preciso de alguém para atender o telefone, fazer o meu estoque e pedidos de peças. Eu pisquei surpresa, algo que parecia que eu estava fazendo muito naquele dia. Triplo do que eu faria aqui? Para atender o telefone e fazer um pouco de trabalho de escritório para ele? Eu tinha que admitir que a oferta era tentadora, e se eu pudesse trabalhar para ele durante o dia e no Aggie’s à noite, eu teria o suficiente para sair da casa de Hawk dentro de um mês. Doía que eu estaria trabalhando para um homem que eu detestava, mas mendigos não podiam escolher e toda essa baboseira. Em vez de dar-lhe uma resposta definitiva, no entanto, eu queria verificar com Aggie para me certificar de

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que estaria bom se eu trabalhasse no turno da noite para ela a partir de então. — Vou pensar nisso — eu disse a ele e puxei meu braço. Ele sorriu e isso pareceu tirar anos de seu rosto endurecido. Eu odiava admitir, mas ele ainda era um homem atraente, e era doloroso olhar para ele. Jack parecia muito com a minha mãe em alguns aspectos e meu coração doía por ela quase a cada minuto do dia. — Bom. Se você decidir que quer o trabalho, apenas apareça na garagem de manhã. Eu balancei a cabeça e depois de uma breve hesitação, uma onde eu quase agradeci a ele, o deixei sentado lá e fui dizer a Aggie o que ele queria comer.

***

Até o final do meu turno às seis da noite meus pés estavam pulsando e minhas costas doendo de uma forma que nunca doeram em todos os meus 21 anos. Mas eu tinha um pouco mais de uma centena de dólares de gorjetas enfiadas no bolso e uma garantia de Aggie que estava mais do que bem para mim trabalhar em turnos à noite a partir do dia seguinte. Eu sabia que tive um bom dia de gorjetas e eu não estava esperando ganhar isso todos os dias. Dois empregos com certeza viriam a calhar no momento. Foi só quando eu estava caminhando para fora da porta que eu percebi que eu não tinha um jeito de voltar. Raven tinha me levado naquela manhã, então eu não tinha o Chevelle que Hawk me deixava dirigir. Já que eu estive ocupada desde quando ela me deixou para preencher toda a papelada para uma nova contratação e fazer todos os vídeos de segurança para que Aggie pudesse começar meu turno, eu não fui para casa com Raven para pegar o carro. Ela não tinha dito que voltaria e eu não queria ligar para ela e perguntar quando ela já tinha sido tão útil. Suspirando, peguei meu celular e mordi meu lábio. Não havia muitas pessoas a quem eu poderia chamar. Willa viria se eu pedisse, mas eu só a vi

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brevemente desde que ela e Spider retornaram de Seattle há poucos dias. Eu queria ligar para Hawk, para pedir-lhe para pedir para alguém trazer o Chevelle para que eu pudesse me levar para casa, mas percebi que ele já estaria no bar trabalhando a essa hora. Ele sempre trabalhava às quintas-feiras. Meu polegar pairou sobre seu nome em meus contatos. Eu não sabia se eu queria falar com ele ainda ou não. Ele apenas tentaria me convencer a deixar o meu emprego. Eu não queria discutir com ele, mas eu faria isso se ele não concordar em deixar o assunto para lá. Eu precisava desse trabalho, e do segundo, que eu estaria começando amanhã. Eu tinha que sair daquela casa, de sua cama, ou eu ia enlouquecer. Era uma tortura dormir ao seu lado a cada maldita noite e não pedir para ele me tocar, me beijar. Qualquer coisa que tire essa dor que parecia ter se tornado uma parte inflamada da minha alma. Meu coração não seria nada além de uma uva passa murcha no meu peito se eu não colocasse distância entre nós em breve. O som de um motor rosnando fez minha cabeça virar. Quando eu vi o Chevelle estacionado perto da frente do restaurante e Hawk sentado atrás do volante, o meu coração gaguejou no meu peito antes de começar a bater de novo com o dobro de velocidade. Talvez eu não quisesse discutir com ele, mas fiquei feliz em vê-lo. Maldito seja ele por me fazer amá-lo um pouco mais quando ele saiu do carro clássico e deu a volta na frente. Eu me adiantei um pouco mais e ele deu um sorriso que nunca falhava em me fazer amolecer como se eu fosse um picolé derretendo. Hawk abriu a porta do passageiro, piscando para mim sem dizer uma palavra quando eu entrei no carro. Maldita seja eu por querer algo, mesmo sabendo que ele nunca me veria como algo além da garota que ele salvou de ser estuprada. Ele me tratou como se eu fosse frágil, como eu se eu fosse quebrar ao menor sopro de vento. Mas ele não tinha ideia de que eu era muito mais forte do que ninguém nunca me deu crédito. A única coisa que poderia realmente me quebrar agora estava sentado ao meu lado no banco do motorista. E se eu não tivesse cuidado, ele não só me quebraria, mas me despedaçaria em um bilhão de peças que nunca mais se juntariam novamente.

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— Como foi o seu dia, querida? — Ele perguntou enquanto sai com o carro para estrada e dirige na direção da casa. — Seus pés doem? — Não muito — eu menti. Se eu lhe dissesse a verdade, que meus pés não apenas doíam, mas também que eu tinha certeza que eu tinha algumas bolhas – seria como dar munição para suas tentativas de me convencer a desistir. Suas sobrancelhas levantaram e ele me deu um olhar longo e avaliador, antes de virar seu olhar de volta para a estrada. — E as suas costas? Levar todos aqueles pratos pesados durante todo o dia deve tê-la deixado dolorida. Dei de ombros, virando meu próprio olhar para fora da janela e olhando para o sol escurecendo ao longe. — Está tudo bem. Nada que não vá passar em poucos dias. Só tenho que me acostumar com isso. Mas eu me diverti, e ganhei umas gorjetas muito boas. Eu até posso pagar Raven pela comida. Hawk cerrou os dentes, as mãos apertando o volante enquanto dirigia. Ele não disse mais uma palavra até que ele entrou na garagem em casa. Comecei a alcançar a maçaneta da porta, pronta para chegar até o nosso quarto e tomar um longo banho quente e tomar algum Tylenol. Antes que eu pudesse abrir a porta, ele segurou minhas mãos e examinou-as. — O que você está fazendo? — Eu disse e fiz uma careta quando ele esfregou seu polegar sobre um ponto dolorido. Eu percebi que não só tinha bolhas nos meus pés, mas em minhas mãos também. Quando eu fiquei assim? — Suas mãos já estão começando a engrossar. — Sua voz era áspera, seus olhos escuros. — Elas eram tão macias. Eu quero que elas fiquem desse jeito, Gracie. Eu adoro a forma como elas esfregam sobre o meu peito quando você se abraça em mim à noite. Elas sentem como seda enquanto derivam sobre o meu estômago e depois deitam sobre meu coração a noite toda. Puxei-as de volta dele rapidamente, sentindo como se ele tivesse acabado de me dar um soco no coração. — Então, se elas estiverem cheias de calo e calejadas por trabalhar, você não iria querer me tocar? — Perguntei com uma voz que soou frágil para os meus ouvidos. Eu engoli o caroço cheio de mágoa de lágrimas presas em minha garganta e alcancei a maçaneta novamente. — Desculpe, você não terá que se preocupar com isso acontecendo. Vou me certificar

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de que eu não o afague mais em meu sono. Não gostaria que minhas mãos calejadas enojem você ou qualquer outra coisa. E já que eu tenho um segundo emprego agora, não vou ter que dividir sua cama por mais de algumas semanas, no máximo. — Gracie, não é ... — Tudo o que ele estava dizendo foi cortado quando eu saí do carro e bati a porta atrás de mim. — Gracie — ele me chamou quando saiu do carro e correu atrás de mim. — Gracie, eu não quis dizer isso. Espere. O que quer dizer que você tem um segundo emprego? Que raio de outro trabalho você poderia ter ao trabalhar o dia todo naquele maldito lugar? Estávamos na casa agora, na cozinha. Fui direto para a geladeira e peguei uma garrafa de água, grata que ninguém parecia estar por perto. A entrada estava vazia de quaisquer motos, exceto pela de Hawk, mas o carro de Raven estava lá fora, então eu sabia que ela e Lexa estavam ou na sala de estar ou no andar superior. — Jack me ofereceu um emprego depois que você saiu mais cedo. Ele disse que eu apenas atenderia o telefone, faria trabalho de escritório. — Eu abri a minha água e tomei um longo gole, tentando engolir a dor que ainda estava fazendo o meu peito apertar. — Provavelmente é apenas algo que ele tenha inventado, mas ele me ofereceu o triplo do que eu faria no Aggie’s. Por mais que eu não queira estar perto dele, eu preciso do dinheiro mais. Então eu começo amanhã. — Isso é bom. Estou feliz. Você não terá que trabalhar no Aggie’s então. — Ele parecia aliviado. — Não — eu disse a ele quando me virei para encará-lo, recusando-me a encontrar seu olhar diretamente. Dane-se, eu nem sabia que eu tocava nele no meu sono. Agora que minhas mãos estavam cobertas de bolhas e seriam ásperas e pouco atraentes, ele não as queria em cima dele. Bom. Vou garantir que eu fique no meu lado da cama durante toda a noite e não o toque nunca mais. — Não? — Seus olhos se estreitaram e eu tive que admitir que eu estava começando a odiar aquele olhar. Ele estava me intimidando assim, mas eu me recusei a ser intimidada.

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— Não — eu repeti. — Eu ainda vou trabalhar no Aggie’s. Pedi pelo turno da noite e ela disse que estava bem. Que eu tinha aprendido tudo mais rápido do que quase qualquer outra pessoa, e o turno do jantar seria um ajuste melhor para mim. — Então você vai trabalhar o dia todo na garagem depois a noite toda no Aggie’s? — Perguntou ele. — Você vai estar exausta. Vai se matar com esse tipo de programação. E a escola? Você vai trabalhar tanto e ainda ir às aulas? — Claro que não. Vou trabalhar até que eu tenha o suficiente para ter o meu próprio lugar. Então, quando as aulas começarem, saio de um para que eu possa ir para as aulas. — Eu provavelmente sairia da garagem. Não me importo o quão bom o salário; logo que eu tiver o suficiente, eu ficaria o mais longe possível de Jack Riley. Hawk murmurou um monte de palavrões em voz baixa, provavelmente pensando que eu não podia ouvi-lo. Revirei os olhos e vi quando ele esfregou as mãos grandes no rosto e passou os dedos pelo cabelo. Ele precisava de um corte de cabelo, eu decidi. Se ele encontraria falhas em mim, então eu faria uma lista das dele também. Talvez então eu não o quisesse tanto assim. Dando-lhe uma olhada rápida, eu fiz uma anotação mental sobre o que eu não gostava nele Número Um: Cabelo. Muito desgrenhado. Número dois: Bem, seria necessário mais do que um olhar rápido para encontrar as coisas que eu não gosto nele. Eu acrescentaria mais coisas mais tarde, eu prometi a mim mesma. — Por que você está tão determinada a ir embora? — Perguntou Hawk em uma voz grave, a testa franzida enquanto ele me estudava, aqueles olhos verdes tentando furar minha alma. — Você não gosta daqui, Gracie? Alguém já te fez sentir indesejável? Quem? Apenas me diga e eu vou cuidar disso. Você pertence aqui, querida. Baixei os olhos, sem querer deixá-lo ver o quanto eu estava afetada por aquilo que ele acabou de dizer. Eu queria tanto que fosse verdade, que eu pertencesse ali. Mas não era. — Ninguém me fez sentir que eu não sou bemvinda. Vocês todos são tão legais, tão ótimos. Eu sinceramente não entendo como vocês aceitaram uma completa estranha em sua casa, como fizeram comigo. Eu

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sou grata por isso. Muito grata. — Mordi o lábio e me forcei a levantar os olhos para encontrar os dele. — Mas eu não posso continuar vivendo aqui. Eu não posso continuar a dormir na sua cama noite após noite. Vi quando ele engoliu em seco e deu um grande passo para mais perto de mim. Ele estava apenas a um pé de distância agora, e seus olhos escureceram ainda mais antes de se tornarem sem expressão, como se ele estivesse escondendo o que estava sentindo de mim. — Por quê? — Ele respirou. Eu apertei minha mandíbula, sem querer demonstrar meus sentimentos por ele, mas incapaz de mentir. — Porque está me matando lentamente ... — Eu parei e balancei a cabeça. — Não, isso é uma mentira. Está me matando rapidamente. — Respirando fundo, eu corri, sabendo que se eu não dissesse isso agora, eu provavelmente nunca o faria. — Eu durmo em sua cama, e algumas noites você chega em casa do trabalho e me envolve em seus braços. Me faz sentir tão segura e tão querida, Hawk. Isso me deixa tão malditamente confusa porque há outras noites em que você chega em casa e eu consigo cheirá-las em você. Eu posso cheirar o perfume delas misturado com o seu suor e de todos os outros cheiros que você leva para casa do bar. — Minhas mãos se apertaram em volta da garrafa de água, tentando evitar que elas tremessem quando encontrei seu olhar com ousadia. — E essas são as noites em que eu não posso respirar pela dor e pelo ciúme que come minhas entranhas como um câncer. Lágrimas encheram os meus olhos e eu pisquei-as de volta, tornando difícil vê-lo por um momento. — Se eu não sair em breve não haverá mais nada de mim. Meu coração vai ser apenas uma pedra quebrada no meu peito. Eu me preocupo com você, Hawk. Mas eu sei que somos apenas amigos. Eu estou bem com isso porque eu sei que você não pode evitar não sentir o que eu sinto. — Gracie... — Ele começou a dar um passo em minha direção, seu rosto torcendo com alguma emoção que não consegui identificar através dos meus olhos inundados de lágrimas. Levantei minhas mãos, parando suas palavras e, felizmente, sua abordagem. — Não — sequei uma lágrima estúpida que derramou dos meus olhos e correu pelo meu rosto. — Não. Não quero ouvir. Tudo o que peço é que você me deixe continuar a trabalhar sem reclamar comigo sobre isso.

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Capítulo 4 Hawk

— Eu m-me importo com você, Hawk. A voz cheia de lágrimas de Gracie voltou para me assombrar quando joguei um pano sujo na pia do bar. “Me importo com você, Hawk” era como um mantra em minha cabeça, saltando pelas paredes do meu cérebro e vibrando por todo meu corpo como um choque elétrico. De novo e de novo. Não tive paz a noite toda. — Eu me importo com você — sua voz sussurrou através de mim neste momento e congelei. Apertei as bordas do balcão e abaixei minha cabeça enquanto fechei os olhos e esperei meu coração parar de correr e meu corpo parar de latejar. Fazia horas desde que deixei Gracie em casa, horas desde que ela me disse que se importava comigo, mas que sabia que eu não sentia o mesmo. Que sabia que eu só queria ser seu amigo ... Um bufo me deixou sem que eu percebesse. “Amigos” o cacete. Eu queria mais do que só amizade com aquela ruivinha. Eu queria muito mais do que isso e tudo que eu podia fazer era ir para casa todas as noites e apenas segurá-la. Foi um ato de Deus que eu pude me conter, me segurando para não tocá-la do jeito que eu queria. Negando aos meus lábios saborear cada centímetro de seu corpo incrível. Eu queria Gracie Morgan mais do que eu já quis qualquer coisa na vida. Poderia dizer a ela que eu a queria mais do que ar para respirar, mas ar eu tinha em abundância. Não era algo com que eu me preocupava, porque era algo que eu sabia que teria sempre. Não, queria mais do que o ar. Queria Gracie mais do que queria subir na minha moto para começar cada dia sentindo o vento no meu rosto enquanto eu fazia a única coisa que me deixava realmente feliz, sentir o vento no meu rosto e o poder da moto entre as pernas.

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Eu.A.Queria.Tanto. No entanto, era mais do que desejo. Era uma necessidade de proteger e estimá-la. Gracie era especial. Não por causa de sua doçura, ou sua beleza, ou mesmo pela sua inteligência. Era porque ela tocava algo dentro de mim apenas por existir. Nunca me senti assim na vida. Ela trouxe à tona uma parte de mim que esteve adormecida por 29 anos. Honestamente, eu deveria apenas admitir para mim mesmo que amava aquela garota. Deveria confessar o mesmo por ela. Mas me abrir em voz alta, me expor de tal maneira ... era um território novo para mim. Nunca estive tão vulnerável assim e não abraçaria a experiência tão cedo. Eu tinha que fazer alguma coisa, no entanto. Tinha que mostrar que ela significava mais para mim do que ela pensava. Ela estava decidida em sair da minha casa – da minha cama – e então colocaria uma distância ainda maior entre nós, até que se esquecesse completamente de mim. Os sentimentos que ela tinha por mim agora, sua inquietação sobre mim? Isso tudo desapareceria com o tempo, até que eu não fosse nada além de uma lembrança para ela. Um grunhido deixou minha garganta, fazendo Colt se voltar de onde ele estava colocando copos limpos nas prateleiras ao meu lado. — Acalme-se, irmão. Só estou terminando essa merda antes de ir para casa. Passei a mão no meu rosto. — Sim, me desculpe. Meu irmão colocou o último copo no lugar. — Então, como foi o primeiro dia de trabalho da Gracie? Apertei minha mandíbula e não respondi. Minha falta de resposta o fez rir. — Não é à toa que você está roncando como um animal enjaulado. Acho que ela está pronta para deixar o ninho. Seu pobre filho da puta. — Cale a boca, — resmunguei enquanto abria a torneira e começava a me lavar para me livrar do cheiro da cerveja velha que eu derramei há poucos minutos atrás.

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Colt riu de novo, o que chamou a atenção de Raider. Ele colocou a caixa de cerveja no chão e se agachou para abastecer o frigobar para o turno de amanhã. — O que você dois idiotas estão fazendo agora? — Hawk está sofrendo da síndrome do ninho vazio — Colt informou. — Gracie vai seguir em frente. — Menina esperta — disse Raider com um sorriso enquanto esvaziava a caixa. — Ela merece mais do que o nosso irmão de coração negro. Eu sabia que ele estava apenas tentando conseguir uma reação de mim. Nada me fez responder alguma isca de meus irmãos idiotas no passado. Mas quando se tratava de Gracie, eu era quase impotente para não reagir. Porra eu odiava isso, mas não havia nada que pudesse fazer para mudar a situação. Essa maldita fêmea me amarrou em todos os sentidos. Fechei a torneira e me virei tão rápido que Raider não teve tempo de se mover antes que chutei seus pés debaixo dele e ele caiu de joelhos. Duro. — Porra — ele grunhiu e se levantou. — Quebre meus joelhos, por que não? — Da próxima vez eu irei — prometi. Puxando as minhas chaves do meu bolso, me dirigi para a porta. — Estou fora daqui. Vejo vocês idiotas em casa. O ar quente de verão me bateu logo que eu pisei do lado de fora. O estacionamento estava vazio, exceto pelas motos dos meus irmãos e pelo homem inclinado contra sua própria moto ao lado da minha. Mordi de volta uma maldição, sabendo que não conseguiria ir direto para casa como queria. Bash se endireitou quando me aproximei. Ele provavelmente era o maior filho da puta que eu já vi em toda a minha vida. Quando ele foi o executor do Angel’s Halo, fez homens adultos se mijarem com um simples olhar. E manteve todos na linha na época. Agora que era o presidente do clube, ele trazia caras novas e perspectivas diferentes. — E agora? — Eu quis saber quando cheguei até ele. Bash me deu um sorriso triste. — Consegui informação sobre Samson, — o homem que eu considerava meu cunhado informou. Só a menção daquele filho da

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puta fez meu sangue ferver nas veias. — Eu quis confirmar antes de falar com você, irmão. — E? — Aquela luta em Paradise City no último fim de semana? — Balancei a cabeça, lembrando de ter ouvido uma conversa sobre uma briga no clube de strip que Bash e Spider tiveram que lidar no fim de semana. A briga não havia sido tanta coisa. Merda desse tipo acontecia sempre que um grupo de bêbados se juntava. Adicione garotas nuas à mistura, e você tinha um banho de sangue quando as lutas irrompiam. Não, a verdadeira surpresa era quando alguém tentava estuprar uma das meninas, enquanto todo mundo estava distraído. Havia coisas pelas quais o meu clube era conhecido. Nós fizemos algumas coisas não tão agradáveis. Você pode citar qualquer coisa, nós podemos ou não ter feito algo assim. Era seguro dizer que nós não éramos pessoas muito agradáveis. No entanto, quando se tratava de abuso de mulheres e crianças, nós mataríamos antes de deixar esse tipo de merda acontecer. Bash e Spider eram notórios por como lidavam com maus-tratos de seus funcionários no Paradise City. Que alguém tivesse a coragem de sequer tentar machucar uma de suas meninas assim me dizia que o idiota não era dessa área ou queria morrer. — Com toda a emoção pela briga, o filho da puta fugiu antes de Spider chegar para lidar com ele — Bash me disse, com o rosto definido em linhas duras. — Por isso demorou um pouco antes de percebemos quem era. Tivemos que passar por todos os vídeos das câmeras de vigilâncias. — Fale logo, Bash. — Era Samson. Foi ele quem atacou Kelli. Tudo dentro de mim ficou instantaneamente frio. Afastei-me do meu amigo e presidente do clube. Meus punhos cerraram ao meu lado enquanto eu lutava para afastar as imagens de Gracie deitada na maldita mesa de bilhar com Samson e algum outro filho da puta sujo de pé sobre ela, se preparando para machucar e humilhá-la de uma forma que nenhuma mulher deveria ter que experimentar. Depois de me deixar ter um momento, Bash continuou. — Depois de um pouco de investigação, Spider descobriu que Samson sabia que Paradise City

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estava sob a proteção do clube. Depois de conversar com alguns dos filhos da puta naquela noite, soubemos que ele foi lá, supostamente à procura de uma briga. Foi quem instigou e, em seguida, se esgueirou para machucar Kelli. Passei a mão pelo meu cabelo, e então percebi que estava fazendo muito isso durante o dia todo e rapidamente soltei minha mão antes de começar a arrancá-lo. Me virando, cruzei os braços sobre o peito, tentando lembrar como Kelli parecia. Eu só fui ao clube de strip algumas vezes em meus anos mais jovens. Por que eu iria querer ir lá e pagar para alguma vadia tirar suas roupas quando havia ovelhas no clube me implorando por isso quando eu quisesse? — Ela é nova — Bash disse quando eu apenas lhe dei um olhar vazio. — Não é o tipo normal que contratamos, mas Topaz sentiu pena dela ou alguma merda assim. Kelli ainda é uma criança, não tem nem dezenove ainda. Vai ao colégio da comunidade e, aparentemente, cuida de sua família. Eu não a conheço. Só a vi duas vezes desde que voltei. Raven diz que falou com a garota algumas vezes quando esteve lá fazendo a contabilidade. Kelli não é seu nome verdadeiro, é claro, e não me preocupei em perguntar qual é de verdade. — Ele enfiou as mãos nos bolsos da frente e balançou a cabeça escura. — O ponto é que Kelli tem algumas características físicas que são semelhantes às de Gracie. O cabelo escuro vermelho, tom de pele, altura e tipo físico. Bile bateu no meu intestino. — Então ele sabia que se a machucasse, nos ficaríamos sabendo. Eu ficaria. — Sim — Bash confirmou com um aceno de cabeça triste de sua cabeça. — Ele estava fazendo uma declaração. Minhas mãos se fecharam em punhos, mas não fiz mais do que um piscar em reação. Não conseguiria me manter quieto quando aquele filho da puta poderia estar assistindo e procurando qualquer sinal de que ele estava chegando perto. — E sobre as ameaças que Spider esteve investigando? No bar e na sede do clube? — Havia alguns outros lugares na lista que Samson e seus amigos estavam conversando desde a batida em que incendiamos a casa de sua fraternidade. Os locais mais prováveis de que eles revidariam eram o clube ou o bar.

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Ninguém ficaria feliz se eles visarem o clube, mas seria puro caos se visassem o bar. Era onde realizamos o culto nas noites de sexta, mas também onde tantos ficavam por algumas horas em toda maldita noite. O bar era parte do meu legado e eu estriparia qualquer um que tentasse tirar isso de mim. — Não há mais notícias nessa área. Spider pegou alguns sussurros aqui e ali sobre o clube e até mesmo sobre a garagem do Tio Jack. Nada mais sobre o bar, mas não descartamos essa possibilidade. Não quero Raven ou Willa aqui sozinhas, nunca. — Concordo, — assegurei. De jeito nenhum vou colocar a minha irmã ou Willa em perigo, mesmo que fosse apenas besteiras sendo atiradas em nós por um pobre menino rico com problemas com a mamãe. No momento em que Bash e eu terminamos de conversar, Colt e Raider estavam fechando tudo. Bash e eu íamos para casa, mas meus irmãos tinham outros planos para o resto da noite. Como enfiar o pau em uma das ovelhas do nosso clube. Quando entrei na casa, Bash já estava indo até as escadas, mas eu não estava pronto para enfrentar Gracie ainda. Eu precisava me controlar ou iria direto para o meu quarto acordá-la do jeito que eu estava sonhando fazer há meses. Lambendo aquela buceta doce e inocente dela até que estivesse gritando por mais. Bebi uma cerveja e assisti TV por uma hora, tentando tirar meus pensamentos tormentosos dos eventos do dia, para que eu possa dormir um pouco esta noite. Toby dormiu em meus pés, roncando mais alto do qualquer um de meus irmãos após uma noite de bebedeira. Olhei para baixo para o cão, pensando em sua dona e querendo colocar minhas mãos em volta de seu pescoço. Maldita Flick. Se você me perguntasse, ela estava sendo seriamente egoísta. Fugir sem dizer nada sobre onde estava indo. Fazendo-nos preocupar por semanas a fio e queimando favor atrás de favor na tentativa de encontrá-la. E então ligar por um maldito telefone descartável para pedir um favor que poderia deixar Jet na prisão pelo resto de sua maldita vida. Cresci pensando em Flick como outra irmã - Ok, talvez não apenas uma irmã. Um olhar naquela mulher e ninguém a consideraria uma irmã, a menos que

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fosse verdade. Mas eu nunca fiquei tentado a leva-la para a cama. Foi enraizado em mim que ela era tão preciosa quanto Raven e devia ser protegida. Quando ela me ligou pedindo para mandar uma mensagem para Jet, eu só fiz isso porque pensei que lhe devia alguma coisa. Sorte para ela, Jet não tinha sido pego fazendo seu pequeno favor e estaria em casa em mais algumas semanas. Se as coisas fossem diferentes, se meu irmão tivesse que passar o resto de sua vida na prisão por causa de um maldito favor, eu teria caçado Flick e ... Merda, eu não tinha certeza do que teria feito quando a encontrasse. Nunca maltratei uma mulher na minha vida. Claro, já fiz muitas coisas ruins que me fariam pousar na parte mais profunda do inferno por toda a eternidade, mas machucar uma mulher não foi uma delas. Felizmente, eu não tinha que me preocupar com isso, já que estava tudo acabado agora. Minha cabeça estava começando a doer e meus olhos estavam pesando, então eu finalmente fui para o meu quarto. Quando abri a porta, encontrei a luz do banheiro acesa com a porta aberta. Ela lançava um brilho suave sobre a minha cama, sobre a mulher emaranhada em meus lençóis. Como sempre acontecia, meu pau reagiu instantaneamente à visão de Gracie dormindo na minha cama e levei um momento para saboreá-la. Seu

cabelo

vermelho

longo

e

grosso

estava

espalhado

sobre

o

travesseiro. Ela estava deitada de lado, com uma mão debaixo do peito, a outra descansando sobre seu estômago. As cobertas estavam dobradas debaixo do braço, mas ainda vi que ela estava usando aquele maldito pijama adorável com borboletinhas. Suas pernas estavam dobradas em direção ao estômago, fazendo com que sua bunda se destacasse. Se eu estivesse ao seu lado, ela teria se encaixado perfeitamente contra minha virilha, quase como uma peça de quebracabeça encaixando-se no lugar. Se eu não fizesse algo logo, não conseguiria voltar para casa para isso todas as noites. Não conseguiria subir na cama com aquela deusa doce e inocente todas as noites, abraçá-la e dormir em paz. Se ela for embora, eu estarei perdido, e eu não tinha certeza se poderia voltar a ser como era antes.

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Capítulo 5 Gracie

Eu senti o colchão imergir quando Hawk subiu na cama ao meu lado. Ergui meus olhos por tempo suficiente para verificar a hora no relógio ao lado da cama. Quatro e trinta. Mordi meu lábio e fechei meus olhos. Ele estava atrasado de novo. Inalando, fiquei surpresa por descobrir que ele não cheirava a perfume. Normalmente quando ele estava atrasado, chegava em casa cheirando a perfume barato, com uma doçura doentia. Como na noite anterior. Isso não ter acontecido hoje me confundiu. Quando senti Hawk se aproximar atrás de mim, fechei minhas mãos e tentei voltar a dormir. Um minuto se passou. Eu sabia porque estava tentando contar ovelhas, e chegou a sessenta quando ele me tocou novamente. Seu tórax se apertou contra minhas costas e suas mãos enlaçaram ao redor minha cintura, me apertando contra ele. A barba de um dia dele encostou no meu pescoço, me fazendo sentir calafrios. — Eu sei que você não está dormindo, baby. Quando ele me chamou de baby, não consegui evitar em me derreter por ele. Ele raramente me chamava assim. Era sempre “querida” ou “anjo”. Eu era uma idiota, estúpida e fraca quando ele usava aquela palavrinha. Eu deixo meus olhos tremularem para se abrirem e focarem na parede do quarto. — Tudo certo no bar? — Sim, tudo bem. Bash só tinha algumas coisas do clube para resolver comigo. — Seu nariz aninhou em minha orelha e eu tentei muito não gemer de prazer. — Você cheira bem, baby.

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Meus dentes afundaram em meu lábio inferior para evitar o gemido quando seus dentes beliscaram meu lóbulo da orelha. Era algo que eu tenho sonhado sentir há semanas, mas não pude evitar me perguntar se ele tinha bebido. Hawk nunca se aproximou de mim assim antes. Até em seu sono, quando ele me tocava era só para me trazer para mais perto e beijar minha testa. — O q... o que você está fazendo, Hawk? — Eu respirei quando ele me abraçou ainda mais. Seus quadris balançaram contra minha parte inferior e percebi que ele não estava vestindo seu pijama de sempre. Ele estava só de cueca, que não fazia nada para esconder o quanto ele estava excitado. — Tentando mostrar que você não é a única que se importa, baby. — Sua respiração era quente em meu pescoço e fez meu corpo inteiro se arrepiar. — Eu me importo com você, Gracie. Eu sinto muito que não tenha mostrado antes, mas estava tentando ir devagar. Não sabia se o que aquele monstro fez ainda estava assombrando você ou não. Eu não quis assustar você com que eu tenho sentido e manchar o que poderíamos ter com aquelas memórias doentias. Acho que o meu coração literalmente parou. Eu estava sonhando? Não tinha como ele estar dizendo tudo isso de verdade... Certo? Precisando saber, eu girei em seus braços. Ele relaxou seu aperto o suficiente para que eu me movesse até estarmos cara a cara. A luz do banheiro estava adiante, então eu podia ver seu rosto claramente. Eu vi mais homens bêbados na vida do que precisava. Meu pai esteve bêbado praticamente em todas as noites da minha infância e antes da morte da minha mãe, era uma coisa certa quase todos os dias. Então quando eu olhei nos olhos verdes de Hawk, eu soube pelo que procurar. Eles pareceriam cansados, mas não existia nenhuma translucidez, nenhum branco sanguinolento. Seu rosto não estava vazio com embriaguez e com exceção da sugestão de hortelã da sua pasta de dentes, não cheirei qualquer álcool prolongado em sua respiração. Ele estava completamente sóbrio.

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Eu estava sonhando então? Mordi meu lábio mais forte e quando senti uma gota de sangue e a picada da dor, soube com certeza que eu estava acordada. Hawk rosnou, seus olhos treinados nos meus lábios. — Não faça isto, baby, — ele comandou em uma voz áspera. — Você está bem? — Ele ergueu uma mão, seu dedo polegar esfregando meu lábio inferior, agora dolorido. Quando ele limpou meu sangue, seus olhos escureceram. — Eu mataria alguém se machucasse você, Gracie. Você se machucar não me deixa em uma situação boa. Por que fez isto? Eu lambi longe a sujeira restante de sangue. — Eu não estava certa se ainda estava dormindo ou não, — eu disse honestamente. Mentir para Hawk, até para proteger meu orgulho, não era algo que eu conseguia fazer. Ele merecia minha honestidade e lealdade completa. Seus olhos alargaram e seu nariz se expandiu. — Baby, existem outros jeitos de confirmar que você está acordada ou não. Machucar a si mesma não é um deles. Quer que eu te mostre? — Antes que eu pudesse abrir minha boca, suas grandes mãos deslizaram sobre minhas costas e abraçaram minha parte inferior. Eu ofeguei quando ele me apertou mais, minhas pernas se abrindo sozinhas. — Gracie? Sua voz era cansada, mas eu podia sentir que ele estava se contendo, esperando que eu desse permissão para me mostrar como ele podia provar que eu estava acordada. Eu soube o que aconteceria, soube que ele iria me beijar assim que eu desse luz verde. O beijo de Hawk era algo que eu quis desde o momento em que o encontrei - talvez umas cinco, seis horas depois. Se fosse qualquer outro, eu não estaria tão certa se conseguiria me recuperar tão rápido do que aconteceu comigo, mas com esse homem, eu sabia que estava segura. Eu sabia que ele nunca me machucaria fisicamente. Eu soube naquela primeira manhã que eu acordei com ele ao meu lado nesta mesma cama. Não houve vacilação em meu aceno com a cabeça ou quando abri minha boca para dizer sim a ele. O aceno com a

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cabeça era confirmação suficiente, e seus lábios estavam escovando acima dos meus antes do menor dos sons poder escapar. Sua respiração pareceu quente em meu pescoço, mas era fervente enquanto pairava acima de meus lábios um milissegundo antes de sua boca faminta se conectar à minha. Sua língua passeou contra a minha e eu pude sentir o primeiro gosto verdadeiro dele. Era a menta de sua pasta de dentes, mas ainda havia algo mais potente por baixo. Era doce, incrivelmente intoxicante, e foi diretamente para minha cabeça. Com o próximo toque de sua língua na minha, minhas mãos se ergueram sem que eu percebesse. Meus dedos pentearam por seu cabelo e se prenderam em seu pescoço, esperando como se daquilo dependesse sua vida, quando percebi de repente que eu podia facilmente me afogar no que Hawk Hannigan me fazia sentir. Seus dentes beliscaram acima de meu lábio superior antes de tocar meu ferimento auto infligido com sua língua. Meu corpo rapidamente começava a ficar em chamas e eu já não tinha dúvidas se estava ou não acordada. Suas mãos apertaram minha parte de baixo, me segurando contra ele enquanto seus quadris se apertavam contra meu estômago mais baixo. Minha calcinha inundou com meu desejo por ele. Eu não pude conter um gemido quando sua dureza cutucou acima do meu lugar inchado e sensível, me fazendo ver estrelas mesmo com os olhos fechados. Quando Hawk ergueu sua cabeça, ele estava respirando duro, seus dedos como vícios em minha parte inferior enquanto apertava sua fronte contra a minha. — Maldição, baby. Se eu soubesse que um beijo faria isso comigo, teria feito muito mais cedo. Minha própria respiração estava ficando difícil. — Sim, eu também. Seus lábios, úmidos do nosso beijo, se ergueram em um pequeno sorriso. — Nós definitivamente estaremos fazendo mais disso de agora em diante, — ele prometeu e beijou a ponta do meu nariz. — Mas se você

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está levando a sério isso de ir trabalhar para Tio Jack de manhã, é melhor deitar para que possa descansar. Eu traguei minha decepção e movimentei a cabeça. — Certo, — sussurrei. — Me acorde antes de partir, — ele murmurou enquanto escovava seus lábios na minha testa antes de me abraçar. — E leve o Chevelle. Todo mundo sabe que é meu e eles não farão merda nenhuma com você se a virem dirigindo-o. — Certo, — eu respirei, me abraçando mais contra seu tórax. O som de seu coração era selvagem e me fez sorrir saber que ele estava tão afetado por aquele beijo incrível como eu estava. — Noite, baby. — Boa noite, Hawk, — eu murmurei. Eu já tinha dormido em questão de minutos.

***

Quando o alarme despertou, eu fiquei tentada a jogar o despertador pelo quarto. Eu ainda estava nos braços de Hawk, quase entrelaçada demais já que seu corpo estava apertado contra o meu. Eu relutantemente comecei a me soltar, e bati com força no botão para desligar o alarme. Atrás de mim, Hawk murmurou algo em seu sono e eu girei para olhar para ele. Eu ainda não podia acreditar que ele me beijou ontem à noite — bem, esta manhã. Que seja. O beijo balançou meu mundo. Me mexendo, porque só pensar naquele beijo fez minha calcinha ficar úmida, eu desci depressa da cama e corri apressada para tomar banho. Quando terminei, vesti meu robe por que esqueci de pegar roupas limpas, e encontrei Hawk ainda dormindo. As cobertas em cima dele

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cobriam apenas sua cintura. Uma mão estava jogada acima da cabeça, a outra descansando a centímetros da sua cueca. Seu torso estava nu, então eu podia comer a visão de seu tórax duro e abdômen esculpido. Só havia uma sugestão de cabelo loiro cobrindo seu tórax, e uma trilha pequena ia de seu umbigo e seguia por baixo. O que aconteceu naquele beijo que me fez querer subir de volta na cama com ele e gastar a manhã toda ali? Normalmente eu o ignorava e me arrumava sem ficar tentada a atacar sua boca – e outras partes daquele corpo pecaminoso e delicioso. Suspirando, eu me forcei a não olhar para ele. Agarrei as primeiras coisas que vi no armário que não fossem roupas de Hawk: Calça jeans e uma camiseta simples de botões, que eu podia facilmente trocar quando chegasse ao Aggie’s aquela noite. Me vesti no banheiro e me sentei na borda da cama para colocar os tênis de corrida. Tênis simples não ficaram confortáveis ontem, então hoje eu iria com os de corrida. Embora eu estivesse de cabelo solto, eu ainda estava levando um prendedor para usar no meu turno de garçonete. Eu estava pronta, mas ainda tinha que acordar Hawk como prometi que faria antes de sair. Mordendo meu lábio, que ainda estava dolorido, eu ergui a mão e deiteia contra sua mandíbula. Ele esfregou seu rosto contra ela antes de erguer a mão para cobrir a minha. Seus olhos abriram quando ele girou seu rosto e beijou minha palma. — Você já vai? — S-sim, — eu murmurei, me perguntando se teria que trocar de calcinha antes de sair ou não. Um beijo tão simples e inocente na minha mão e já provocou meu corpo de tantos jeitos. Merda, um beijo e eu me transformei em alguma ninfomaníaca furiosa pronta para o saltar ao toque mais leve de sua pele contra a minha. Seu lábios se ergueram em um sorriso contra minha mão aberta. — Eu levarei almoço para você. — Ele beijou minha mão novamente e eu

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não fui rápida o suficiente para fechar minha boca antes de um gemido se libertar. Sua língua circulou minha palma duas vezes antes dele finalmente me soltar. — Dirija com cuidado, baby. Eu não estava certa de como faria aquilo quando meus pensamentos ainda estavam presos no jeito como sua língua fez meu corpo começar a pegar fogo em questão de segundos. Mas eu sorri para ele, murmurando um “te vejo mais tarde” e saindo para trabalhar. De alguma maneira eu achei o caminho até a garagem de Jack. Raven me deu direções ontem, então eu sabia para onde estava indo. Eu esperava uma garagem pequena e muita graxa em todos lugares. O que eu achei era uma loja de motos de primeira onde eram vendidas várias partes, com uma garagem de cinco carros atrás onde já haviam homens trabalhando em vários automóveis diferentes. Eu vi o que parecia ser uma Harley Davidson clássica em uma baia, uma van de família na outra, e um carro clássico em outra. Estacionei o Chevelle e saí só para notar que chamei a atenção dos mecânicos de Jack. Cinco homens estavam me observando quando fechei a porta do carro de Hawk e lancei as chaves em minha bolsa. Eu os observei por um momento. Um era um homem mais velho, com cabelo mais cinza do que Jack, mas os outros variavam em idade, dos vinte ao quarenta. Não olhei por muito tempo para saber se eles eram atraentes, já que não me importavam se eram ou não. Uma porta que pareceu conectar a loja de motos para a garagem abriu e Jack saiu, um sorriso em seu rosto. — Bom dia, querida. Contente por ver que você decidiu aceitar minha oferta. Eu não retornei o sorriso. Eu não estava lá para me aproximar do homem que abandonou minha mãe quando ela mais precisou, ou até para fazer amizade com ele. — Sim, bem, o dinheiro que você prometeu era bom demais para recusar. Se eu esperava que seu sorriso enfraquecesse pelo meu tom frio, fiquei desapontada. Se qualquer coisa, seu sorriso aumentou mais e ele

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chegou a rir e virar a cabeça em direção a seus homens. — Deixe-me apresentar você para estes idiotas e então eu mostrarei onde você vai trabalhar. Ele caminhou até a primeira baia onde o homem mais velho estava trabalhando na Harley. — Gracie, esse é Snake1. Snake, essa é a minha neta, Gracie Morgan. Ela vai cuidar do escritório da garagem. Eu não pude evitar que meus olhos crescessem ao ouvir o nome do homem mais velho. — Snake? — Eu questionei. — Esse é seu nome verdadeiro? Jack jogou a cabeça para trás e gargalhou alto. Snake sorriu para mim enquanto enxugava suas mãos cobertas de graxa em um trapo velho. Quando sua mão estava limpa, ele ofereceu-a para mim e eu hesitei só um momento antes de aceitá-la. — É o único que eu sei agora, Gracie. Minha mãe me nomeou de Chester, mas Snake combina melhor. — Com certeza, — Jack assegurou, ainda rindo. — Se você precisar de qualquer coisa, Gracie, é só avisar Snake. Se os outros meninos te encherem você vem conversar comigo. Fale comigo antes de falar com Hawk, assim eu posso cuidar deles. Eu gosto desses idiotas e não preciso que aquele menino enterre algum deles a menos que eu saiba primeiro. Eu rolei meus olhos. — Eu não fofoco, Jack. — Ninguém disse que você faz isso, menina. Mas se alguém incomodar você, eu espero ser informado. Sim? Eu soltei um suspiro longo. — Sim. Ele movimentou a cabeça e então apresentou os outros quatro mecânicos. Clutch2, era o mais jovem. Era provavelmente um ano ou dois mais velho do que eu e tinha um sorriso que me dizia que ele era alguém fácil de se entender. Onyx3 era o cara de uns quarenta que trabalhava na

1

Em tradução: Serpente Em tradução: Embreagem 3 Em tradução: Ônix: Pedra Preciosa 2

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van de família. Percebi que assim como Snake e Clutch, Onyx também não era seu nome verdadeiro, mas sim o que o MC deu a ele. Mas eu podia definitivamente ver por que eles o chamavam assim. Seus olhos pretos cintilavam como gemas preciosas. Também percebi que Clutch e Onyx eram parentes, não só porque eram parecidos, mas simplesmente por seus olhos. Harley disse que seu nome era o que sua mãe escolheu para ele. Eu chutei que ele não fosse mais velho do que trinta, e ele me deu um sorriso que era tanto amigável quanto avaliativo. Não me fez sentir ameaçada, só extremamente desconfortável. Eu forcei um sorriso de volta e apressei a agitar a mão do último homem. Seu nome era Trigger4, e eu não estava certa se queria saber como ele conseguiu aquele nome. O cara era um pouco mais velho do que Onyx, mas apesar de seu nome, eu me senti um pouco mais segura quando sua grande mão apertou a minha. — Bom conhecer você, Gracie, — ele murmurou. — Eu conheci sua mãe. Ela… — ele cessou bruscamente e agitou sua cabeça. — Ela era uma menina realmente boa. Você parece com ela. Eu respirei fundo e dei a ele o melhor sorriso que eu podia produzir, considerando que fiquei muito perto de lágrimas pelo fato de alguém diferente de mim pensar que ela era uma pessoa tão boa. Em meus olhos, minha mãe era a melhor das mães. Apesar do que meu pai fez, ela foi cheia de vida. Eu acabei odiando o homem com quem eu compartilhava DNA e que acabou custando o resto da vida dela. — Obrigado, Trigger. — Eu vou pôr Gracie para trabalhar agora, meninos. — Eu sorri novamente para Trigger e tornei a seguir Jack até o escritório da garagem. — Bash normalmente trabalha aqui alguns dias da semana também. Segunda até quarta. De quinta a sábado ele cuida de negócios do clube. Quando ele era executor, ele às vezes tinha que cuidar de assuntos de clube internos por outros meios. Agora que ele é presidente, aquele

4

Em tradução: Gatilho.

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serviço fica com Spider – Jack disse enquanto mostrava o caminho até o escritório. — De qualquer maneira, não fique surpresa se vê-lo na segunda de manhã. — Certo, — eu disse e movimentei a cabeça antes de sentar atrás da escrivaninha

que ele indicou. Estava limpa o suficiente, com alguns

documentos que pareciam em ordem em cima. Havia um computador mais velho com a proteção de tela de uma moto na estrada. Pelos próximos quarenta minutos, Jack explicou o que ele esperava que eu fizesse e me ensinou a fazer pedidos, como identificar peças e como agendar compromissos. Eu também aprendi a verificar os preços e como repassar a conta a eles. Eram coisas básicas que eu entendi bastante depressa. Na hora do almoço, eu já estava confiante em minha habilidade de lidar com o escritório de Jack e ele estava confortável o suficiente para me deixar sozinha enquanto saia para pegar algumas peças que Trigger precisava para arrumar um caminhão no qual estava trabalhando. Meu estômago começou a murmurar, me avisando que eu não tinha parado por tempo suficiente nem para pegar uma torrada para o café da manhã. Hawk havia dito que traria o almoço, mas eu estava me perguntando se ele esqueceu disso. Decepção me encheu completamente, não porque eu estava esperando por qualquer comida que ele me trouxesse, mas sim porque estava ansiosa para vê-lo. Suspirando, eu levantei minha bolsa. Jack disse que eu só devia pendurar a placa de fechado quando fizesse a pausa. Eu virei-a, de modo que todos saberiam que eu voltaria dali a uma hora e meia e sai do prédio. Enquanto caminhava em direção ao Chevelle, ouvi um dos sujeitos chamarem meu nome e ergui minha cabeça com um riso forçado quando percebi que era Harley. Eu parei e esperei enquanto ele vinha em direção a mim. — Você está indo almoçar? Eu encolhi os ombros. — Sim. Querem que eu traga algo?

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— Nah, estamos bem. Pedimos algumas pizzas, então se você quiser ficar e comer conosco, seria legal. — Ele olhou em direção aos outros e eu segui o olhar. Onyx e Snake ainda estavam trabalhando, mas em veículos diferentes do que os de hoje de manhã. Trigger e Clutch, porém, estavam nos observando. Eu não teria me importado de comer com os outros, mas Harley realmente me deixava desconfortável, então eu sorri e comecei a agitar minha cabeça quando ouvi o estrondo de uma moto estacionando atrás de mim. Meu coração começou a correr logo que girei minha cabeça e vi Hawk sentado nela. Esquecendo completamente o homem de pé lá esperando por minha resposta, eu apenas contive minha vontade de correr pelo estacionamento em direção ao motoqueiro loiro parecendo um deus saindo de sua moto e puxando uma sacola de comida do Aggie’s. Encontrando-me, Hawk sorriu e abriu os braços. Sem hesitar, eu apertei sua cintura quando ele me abraçou forte. Seus lábios estavam mornos quando ele apertou um beijo na minha testa. — Você pensou que eu esqueci de você, baby? Eu encolhi os ombros. — Você estava metade dormindo quando eu sai de manhã. Não teria me magoado se tivesse. — Eu definitivamente não estava dormindo, querida. Só um gosto de sua pele já me faz acordar totalmente. Não consegui dormir, então levantei para tomar café com Raven e Lexa. — Outro beijo na minha testa e ele andou de volta, oferecendo a sacola de comida. — Faminta? — Faminta. — O cheiro da comida vindo da bolsa estava fazendo meu estômago doer de fome. — Você vai comer comigo? — Esse era o plano. — Ele pegou minha mão e uniu nossos dedos, me arrastando de volta em direção ao escritório de garagem. Harley ainda estava onde eu o deixei, um sorriso horrendo em seu rosto quando Hawk e eu passamos. — Ei, cara — Hawk o saudou com um sorriso também. — Você está cuidando da minha menina?

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— Não sabia que ela era sua menina, mas sim. Temos cuidado bem dela. — Harley murmurou algo debaixo de sua respiração, fazendo Hawk apertar mais a minha mão, mas eu não ouvi o que ele disse. Depois de um momento tenso onde Hawk encarou o cara, ele voltou até a baia na garagem onde esteve trabalhando o dia todo. — Até mais, cara. Hawk ficou na porta de escritório, ainda encarando o outro homem. Eu meneei meus dedos. Eles estavam começando a ficar dormentes pelo modo como Hawk apertava minha mão. O movimento pegou sua atenção e ele diminuiu o aperto. — Ele te incomoda? — Não, — eu assegurei enquanto abria a porta de escritório. — Eu estou com fome, Hawk. Depois de hesitar um pouco, ele movimentou a cabeça e me seguiu para o lado de dentro. Soltei minha mão e comecei a desembrulhar os sanduíches da sacola. Tinha um cheeseburger gorduroso de bacon e eu vi que era para ele. Balançando a cabeça, entreguei para ele e sentei na escrivaninha antes de retirar o sanduíche tostado que ele sabia que eu gostava. — Mm, cheira bem. — Melhor estar bom. Aggie estava ocupada e demorou séculos para Little John terminar meu pedido. Eu quase fui lá fazer eu mesmo. — Eu peguei um saco grande de batatas fritas e enchi minha boca com um punhado delas quando me sentei na cadeira e cai em seu colo. — Está bom para você? Haviam várias outras cadeiras no escritório nas quais eu podia ter sentado, ou até mesmo na escrivaninha, se eu quisesse. Para mim, o problema era que eu queria ficar no colo dele. Eu não sabia porque beijálo me deixou mais confortável com a exibição de seu toque, seu calor ao meu redor. Ontem eu teria ficado uma pilha de nervos por estar em seu colo, mas agora era o único lugar onde eu queria estar. Em resposta eu coloquei batatas fritas em sua boca e beijei sua bochecha antes de agarrar meu sanduíche. — Acho que isso é um sim, — ele murmurou com um sorriso.

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Rindo, eu troquei de mão para que ele pudesse alcançar seu hambúrguer e comecei a comer meu almoço. Hawk comeu o dele com uma mão só, já que parecia ter a necessidade de acariciar minhas costas o tempo todo. Quando ele se lambuzou de ketchup, eu enxuguei com meu guardanapo. — Não. — Ele agitou sua cabeça e deu a mim um olhar duro. Eu mordi meu lábio, soltando quando senti a dor do ferimento que causei na noite anterior. — Você estava guardando isso para depois, não estava? Seus lábios viraram, mas sua expressão continuou dura. — Sem guardanapo. Lamba isto para limpar. Meu corpo decidiu gostar daquela sugestão e minha calcinha quase ficou desconfortável pela umidade. Só de pensar em lamber seus lábios! Maldição. Quando eu hesitei, sua expressão ficou muito mais dura. — Estou esperando, baby. Engolindo duro, eu me debrucei e ligeiramente corri minha língua acima do lugar aonde seus lábios estavam sujos. O gosto prolongado de ketchup misturado com algo muito mais atraente explodiu na ponta da minha língua. Meus mamilos endureceram quase dolorosamente e sua respiração pareceu correr para fora dele em um gemido áspero. Me inclinando para trás, eu encontrei seu olhar quente com timidez. — Eu… — Ele limpou a garganta. — Acho que faltou um lugar. Aqui. — Ele tocou seus dedos no outro lado de seus lábios. — Sim, tenho certeza. — Não. Está limpo. — Eu beijei sua bochecha e me forcei a sair de seu colo. Tanto quanto eu queria ficar lá o dia todo, eu tinha que voltar a trabalhar. Jack estava me pagando para trabalhar, e não para ficar lambendo a boca deliciosa de Hawk Hannigan o dia todo. Se fosse, eu seriamente faria tantas horas extras quanto possível.

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— Suponho que você esteja voltando a trabalhar, — ele murmurou com um suspiro. — Eu posso ficar mais um pouco por aqui ou você vai me mandar ir embora? — Eu não sei quanto trabalho conseguirei fazer com você aqui comigo, Hawk, — eu confessei. Um sorriso estendeu-se em seu rosto, deixando-o ainda mais atraente. Merda, não era justo ele poder fazer algo tão natural e ao mesmo tempo tão sensual. — Preocupada de que você não vá conseguir tirar as mãos de mim, baby? Senti o calor do meu rubor enquanto enchia minhas bochechas. — Algo assim, — murmurei sob minha respiração. Uma risada deliciosa encheu o ar e eu não pude evitar em me arrepiar – o som pareceu acariciar minha espinha toda, cada vértebra. Mãos grandes e fortes pegaram minha cintura e me puxaram contra ele à medida que ele levantava. Lentamente, eu ergui minha cabeça, esperando que ele me beijasse antes de partir. Seus dedos apertaram minha cintura e ele escovou seus lábios acima da ponta de meu nariz. — Eu vou embora para tirar a tentação do seu alcance, baby. Posso sentir um último gosto desses belos lábios antes de ir? Eu não poderia ter falado nem se minha vida dependesse disso. Dei um pequeno aceno com a cabeça e ele gemeu enquanto abaixava a dele. Se eu achei que nosso primeiro beijo ontem à noite foi de enlouquecer, não foi nada comparado ao beijo que ele me deu naquela hora. Minha mente ficou completamente branca para tudo exceto sentir o gosto dos seus lábios nos meus. Meus dedos se enrolaram na camisa que ele vestia por baixo, me segurando quase desesperadamente. Se eu soltasse eu poderia cair... ou ataca-lo por mais. Sua língua escovou acima dos meus lábios e eu de boa vontade separei-os. Provocando-o, ele empurrou a ponta de sua língua em minha boca, me fazendo tremer. O próximo golpe foi mais fundo,

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enroscando minha própria língua quando ele tirou todo o bom senso de mim com aquele beijo. Se o beijo durou uma hora, um dia, um ano, não sei. Quando ele ergueu sua cabeça depois de só alguns segundos, eu choraminguei em protesto. Meus lábios estavam inchados e pulsavam com uma necessidade crua por mais um beijo dele. Hawk respirou fundo, seus dedos mais fundo na carne da minha cintura, me segurando mais perto contra seu corpo duro. — Seus beijos são perigosos, baby. Pior que whisky irlandês; vai diretamente para minha cabeça e me faz querer fazer coisas loucas. — Sua

respiração

acariciou

minha

bochecha

quando

seus

lábios

acariciaram minha mandíbula, descendo. Quando seus lábios quentes e úmidos fizeram contato com a pele sensível do meu pescoço, eu clamei em prazer. — E aqueles sons que você faz… Ah, merda, baby. Não consigo evitar em me perguntar como será quando eu estiver dentro de você. — Hawk, — eu choraminguei e enterrei meu rosto em seu tórax. Imagens dele entre minhas pernas, fazendo amor comigo, encheram minha cabeça. Eu queria isso, queria muito. Mas não sabia se ele estava pronto ainda. A porta do escritório abriu de repente e o aperto de Hawk em mim aumentou quase dolorosamente por um momento. Quando ouvi a risada de Jack, toda a tensão sexual evaporou rapidamente. — Estava tentando adivinhar quanto tempo demoraria para você vir vê-la. — Pensei em trazer almoço para ela. — Hawk beijou o topo de minha cabeça e com um suspiro relutante, se afastou. — Vou para o bar trabalhar. Garanta que Harley fique fora desse maldito escritório quando ela estiver aqui. Eu girei para enfrentar Jack quando Hawk falou e vi o modo como o homem mais velho endureceu. — O que ele fez?

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— Cheirando onde o fará ficar com o rosto estragado se não for cuidadoso, — Hawk praticamente rosnou. — Se você o quer trabalhando, garanta que ele fique longe. — Hawk, — eu disse, sem gostar das ameaças, sem importar o quão veladas forem. — Pare com isto. Harley não fez nada para você ficar assim. — O cara só me fez sentir desconfortável, e seguramente não era razão suficiente para machuca-lo. Seus olhos escureceram para um verde profundo novamente quando ele girou seu olhar em mim. — Falarei com Trigger. Ele manterá um olho aberto. — Hawk… — eu comecei a protestar, mas ele apertou outro beijo na minha testa e se afastou. — Veja você hoje à noite, baby. Até mais tarde, Tio Jack. Eu fiquei lá, brava que ele ignorou tudo que eu disse. Se ele começasse a agir assim, como seriam as coisas conosco? Lágrimas encheram meus olhos rapidamente e eu me virei para que Jack não notasse. E se ele machucasse alguém de verdade? Depois de crescer em uma casa com um homem violento, eu não sabia se podia ficar com alguém assim...

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Capítulo 6 Willa

A sensação de lábios mornos em meu pescoço me despertou de várias maneiras. Piscando para abrir meus olhos, vi o relógio ao lado da cama e dei um gemido. Eu não sabia se ficava brava por ele ter me acordado às duas da tarde ou começava a considerar a oferta muito tentadora que ele caladamente me oferecia com sua dureza urgente contra meu traseiro nu. — Feliz aniversário, baby. — Spider beijou meu pescoço novamente, seu cabelo cobrindo minha pele sensível do rosto. Eu gemi de novo, esquecendo completamente do meu aniversário. Eu fazia vinte e dois hoje. Eu nunca realmente me importei com aniversários, os meus em particular. Minha mãe sempre fazia um dia especial, mas eu sempre pensei nisso em algo mais para ela, a mulher que passou tantas horas agonizantes me trazendo para o mundo, do que para mim mesma. Sério, não devia ser algo para ela, já que foi ela quem passou por tudo aquilo durante nove meses só para sentir aquela maldita dor no final? O ano passado foi o primeiro ano sem ela e eu não celebrei. Certo, Bash me trouxe um cartão meloso e ele e Lexa tentaram me fazer um bolo. Foi legal, mas só me deixou mais triste por minha mãe ter partido. Ela devia estar lá para celebrar meus vinte e um anos. Eu não quis celebrar este ano também, mas Raven agora me considerava parte da família e estava me dando uma festa. Sorte para mim que Bash me avisou antes e eu pude fazer Spider convencê-la a fazer

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algo menor do que ela tinha planejado. Um jantar simples com alguns de nós e então ir para a casa dos Hannigans para bebidas. Era isto. Eu não quis mais do que isso. — Vamos, Willa. — Spider aninhou-se em minha orelha antes de afundar seus dentes no meu lóbulo. — Acorde. Eu quero dar a você seu presente. — Se for outra coisa além do seu pau, eu não quero. Com seu tórax nu apertado contra minhas costas, sua risada vibrava por mim. Uma mão grande viajou pela minha barriga, se abaixando

para

agarrar

minha

parte

sensível.

Eu

posso

definitivamente fazer acontecer. Mas eu ainda tenho outra coisa para você. — Ele separou os lábios do meu sexo com seus dedos e enfiou seu dedo médio dentro de mim. Eu gemi, incapaz de esconder o quanto eu o queria quando o prazer líquido inundou minha entrada e inundou sua mão. — James… — Quando ele afastou sua mão, eu choraminguei em protesto e girei sobre minhas costas. — Você é um homem cruel, James Masterson. — Você pode ter meu pau assim que eu der a você meu presente. — Ele puxou uma caixa pequena embrulhada de debaixo de seu travesseiro e colocou-a em minha barriga. Eu pisquei para a caixa, sabendo que não podia ser nada diferente de uma joia, a julgar pelo tamanho. Eu olhei para minha mão esquerda onde meu anel de compromisso brilhava na luz que passava pelas cortinas do apartamento. Eu não gostava muito de joias, mas aquele anel era um sonho para qualquer mulher. Que o homem que eu amava me deu isso com a promessa de me tornar sua esposa... Sim, isso era tudo o que eu queria embrulhado em um diamante cintilante.

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Eu puxei o laço e abri a tampa da caixa. Quando ergui minha cabeça para olhar dentro, não pude evitar de abrir a boca. Não era uma joia, era uma chave. — O que você fez? — Eu sussurrei. — Eu dei a você meu coração quatro anos atrás, Willa. — Spider soltou um beijo suave sobre meus lábios e eu tive que piscar de volta minhas lágrimas antes de caírem. — Agora estou dando tudo a você. Minha mãe conseguiu para nós aquela casa à venda no mesmo quarteirão que Raven e Bash moram. Ela é boa em pechinchar um bom preço, e ela nos conseguiu um bom negócio. Assim que você estiver pronta, poderemos nos mudar. — Mas…nós não temos que esperar que a venda se concretize? — Eu respirei, confusa e então totalmente feliz que eu não soube como conter a mim mesma. Eu estaria perto de Lexa. Eu poderia vê-la todo dia se quisesse. E eu definitivamente queria. Até recentemente eu a criava como se fosse minha. Agora que Raven entrou como sua mãe, eu me sentia muito feliz por Lexa, mas muito triste por mim mesma. — Dinheiro manda, baby. Eu tenho uma boa poupança por trabalhar na Ink Shop, na Paradise City, e minha parte dos trabalhos para o clube. — Ele encolheu os ombros. — É dinheiro legitimo, e não é como se ela tivesse dado a eles uma bolsa de dinheiro. Eu fiz um cheque e já está tudo em seu nome. Desisti de interromper as lagrimas quando elas começaram a inundar meus olhos. Afastando a caixa, me agarrei a ele e enterrei meu rosto em seu tórax duro quando um soluço me escapou. Eu nunca pensaria que seria tão feliz, mas com Spider tudo que sempre sonhei estava sendo possível. Era louco o quão feliz este motoqueiro grande e assustador podia me fazer às vezes. Com a exceção de algumas pessoas, quando outros olhavam para ele tudo o que viam era um homem ameaçador – com uma tatuagem de aranha em seu pescoço, que carregava uma arma e fazia

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tatuagens para viver. O que eu via toda manhã quando eu acordava em seus braços era o homem bonito, amável e com uma alma tão atenciosa quanto qualquer anjo. Pelo menos, a maior parte dele tinha aquela generosidade, porque ele só era assim com algumas pessoas. Eu era sortuda o suficiente para ser incluída naquela minoria. — Ah, sem essa. — Seus lábios se apertaram contra meus olhos, beijando minhas lágrimas. — Eu não gosto quando você chora, Willa. — São lágrimas felizes, baby — eu tentei assegurar. — Não importa. Lágrimas são lágrimas para mim, baby. Vê-las caindo desses lindos olhos cinzas, ouvir esses pequenos soluços… eu não consigo lidar bem com isto, amor. Faz com que eu queira quebrar coisas. Meus lábios tremeram, mas eu ergui minha cabeça e encontrei seu olhar quase negro. — Desculpe. Ele estourou um suspiro exasperado. — É difícil tentar fazer você feliz, mulher. Você está sempre chorando quer eu faça algo bom ou ruim. Eu bufei nisto, mas aparentemente essa era a reação que ele estava procurando porque sorriu logo em seguida. — Eu não sou chorona, seu idiota. Você acabou de me fazer incrivelmente feliz e eu não pude evitar. E eu definitivamente não choro quando você faz algo ruim, senhor. Eu acabo com você. Spider caiu de costas e desatou a rir, fazendo meu corpo inteiro reagir a ele. Maldição, apenas o som de sua risada me fazia pulsar com necessidade por ele. — Porra, Willa. Eu amo tanto você, — ele murmurou quando parou de rir. — Não me deixe nunca, baby. — Nunca vai acontecer, James — eu sussurrei. — Você está preso comigo por toda vida. Seus olhos clarearam. — Isso significa que você está pronto para marcar uma data para se casar comigo?

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— Eu me casaria com você amanhã se é isso que você quer saber. — Honestamente, nós nem conversamos sobre uma data ainda. Eu não preciso de muita coisa. Só deste homem e um pastor, ou até mesmo um juiz de paz para falar algumas palavras e nos declarar marido e esposa. E umas boas três semanas para nossa lua de mel, porque assim que eu fosse sua esposa, eu saltaria nele e não o deixaria ver a luz do dia até que eu suprisse ao menos uma fração da necessidade que eu tinha por ele. — Sério? — Sua careta me dizia que ele não acreditava. — Eu pensei que mulheres gostassem de flores e vestido. Esse tipo de coisa. Eu nunca rolei tanto meus olhos como quando esse homem voltou para minha vida. — Eu não sou como as outras, baby. Eu me casaria pelada se você pudesse lidar com isto. Um grunhido veio do fundo de sua garganta que devia ter me deixado assustada, mas só me deixou ainda mais excitada. — Quer que eu cometa assassinato em nosso dia do casamento? Porque é isso que aconteceria. Uma risadinha borbulhou para cima e eu fui impotente em evitala. — Não. Isto é certo. Eu só vestirei um jeans ou algo assim. — Você não vai vestir a porra de uma calça jeans em nosso casamento, — ele murmurou e calou definitivamente minhas risadinhas com um beijo feroz. Quando ele ergueu sua cabeça novamente, seu olhar parecia drogado com desejo. — Pedirei a Bash para levar você, Lexa, e Raven até Redding para experimentar alguns vestidos. — James... — Lágrimas frescas piscaram em meus olhos. — É sua culpa por me fazer tão feliz... eu não consigo conter minhas lágrimas. Vendo-as, ele gemeu como se eu o tivesse apunhalado no peito. — Sem mais lágrimas, baby. — Sua cabeça abaixou e ele lacrou seus lábios com os meus, facilmente me fazendo esquecer sobre qualquer outra necessidade além de escovar sua boca na minha. Grandes mãos estavam em todos lugares me fazendo louca por ele. Eu o empurrei sobre suas costas e escarranchei sua cintura. Com

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meus olhos bloqueados nos seus, eu peguei seu grande pau, e ergui o suficiente para colocá-lo na posição certa na minha entrada. Eu estava tão excitada naquele momento que as coisas aconteceram muito, muito depressa. Eu não me importei, entretanto. Eu precisava dele agora. Eu vi estrelas quando deslizei para baixo em sua dureza. Seu gemido aumentou meu prazer em alguns graus e eu me sentei lá, com ele todo bem no fundo de mim. Sempre levava um momento para me acostumar com ele me completando assim. — Amo você, Willa. Eu arqueei de volta, esperando que suas coxas me segurassem. — Te amo mais — eu respondi e sorri, sabendo que ele discutiria comigo naquele ponto. — Impossível — ele rosnou e eu comecei a mover meus quadris, montando-o enquanto meu orgasmo vinha mais fundo e mais rápido do que eu estava esperando. — Se — eu ofeguei com o primeiro golpe de contrações e minhas coxas começaram a tremer — você diz... — Eu digo, baby. Eu. Digo, Porra. — Grandes mãos agarraram meu traseiro e me sacudiram, fazendo com que eu ficasse de costas e ele em cima de mim. Ele empurrou mais fundo e mais duro, me fazendo gemer, minhas unhas rasgando suas costas enquanto ele continuava. Outro orgasmo começou a construir antes mesmo do primeiro terminar. Minhas pernas se embrulharam ao redor de sua cintura magra e eu arqueei meus quadris para acomodá-lo melhor. Spider entrou ainda mais dentro de mim, me dizendo que ele estava perto. — James — eu gritei, segundos antes de sua boca cobrir a minha. Meu corpo inteiro pareceu explodir e quebrar em um milhão de pedaços. Seu grande corpo tensionou e ele voltou a olhar para mim, berrando meu nome para o telhado enquanto me seguia no prazer inconsciente.

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***

Acordei horas depois. Senti um beijo de Spider antes que ele saísse para trabalhar mais cedo, mas mesmo assim não abri os olhos. Se eu tivesse, ele provavelmente ainda estaria na cama ao meu lado, e nenhum de nós teria dormido. Não tive pressa para tomar banho e me arrumar. Eu deveria encontrar Raven e Lexa no Aggie’s para jantar e os caras deveriam se juntar a nós no bar depois da igreja. Ri silenciosamente daquelas duas palavras na minha cabeça. “Igreja” e “Bar” definitivamente não eram duas palavras que combinavam juntas na mesma frase a menos que você conhecesse o Angel’s Halo MC. Perguntei a Spider uma vez sobre por que eles não tinham uma igreja no armazém que era sede do grupo, e onde vários membros do clube basicamente viviam. Ele fez uma careta, pensando sobre isso antes de encolher seus volumosos ombros. — Eu realmente não questionei. Max Hannigan era o presidente quando eu era menino e tinha que comandar o bar nas noites da sexta-feira. Acho que deu certo eles fazerem a igreja lá. Quando ele morreu, já era uma tradição muito arraigada para que fosse diferente. Além disso, o Hannigan’s é mais importante para o MC do que a sede. É como casa. Nossa família está sempre lá; nós podemos relaxar e sermos nós mesmos no bar. Vestida em um top simples e shorts jeans com meu par de chinelos favorito, eu agarrei minha bolsa e as chaves do carro. Meu telefone estava ainda conectado à tomada, então peguei-o rapidamente e segui em direção à porta. Enquanto saia do meu apartamento no segundo andar, olhei direto para o estacionamento e fiz careta. O segundo andar de nosso complexo poderia ser só de apartamentos, mas no andar térreo ficava um hotel que basicamente era um estabelecimento do tipo paguepor-hora. E era por isso que Lexa ainda não veio me visitar. Meu coração

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inflou quando percebi quão maravilhoso era o presente que Spider me deu com a chave para nossa casa nova. Foi com esse pensamento que eu destranquei o carro e entrei. Quase não olhei para os mostradores quando comecei a dirigir. Eu estava como tanque cheio, então estava tudo bem... Nada. Não cheguei a percorrer dois metros antes de perceber meu erro com um gemido. O pneu estava furado. Murmurando um xingamento, eu comecei a estacionar para inspecionar que pneu estava sendo um problema. Se eu tivesse sorte, ele não estava furado e seria só questão de enchê-lo no posto de gasolina logo na outra quadra. Ambos os pneus do lado do motorista estavam perfeitamente bem, mas quando caminhei até o outro lado para verificar os do passageiro, eu comecei a xingar e não parei até que estava com o telefone na mão, já fazendo a ligação. Raven atendeu no segundo toque. — Eh, já estamos indo. Vejo você daqui a pouco. — Você pode parar aqui para me levar? — Eu apressei a perguntar antes que ela desligasse. Raven não era muito de conversar por telefone, eu descobri recentemente. — Sim, ok. Tudo certo? Ouvi Lexa conversando no fundo e apertei meus lábios juntos. — Tive problemas com o pneu. — Isso é uma merda. Logo estarei aí. Ela desligou sem nem dizer adeus e eu abaixei o celular antes de continuar a encarar o pneu furado com uma chave de fenda saindo dele. Quem diabos fez isso? Não eram muitas pessoas que teria bolas para fazer uma merda dessa hoje em dia. Eles sabiam que eu era a “senhora” de Spider e que mexer comigo arriscaria sua fúria. As ovelhas se

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acalmaram consideravelmente desde que souberam que nos casaríamos e as que ainda guardavam rancor não tinham bolas para fazer isso. Mas alguém deliberadamente acabou com meu pneu. Um pouco nervosa, eu voltei para o meu carro e estacionei na vaga onde eu estava antes. Tranquei as portas e mandei uma mensagem para Spider dizendo que precisaria de um novo pneu amanhã. Segundos mais tarde eu recebi uma resposta me assegurando que Clutch, da garagem do Tio Jack, cuidaria disto hoje à noite. Agora tudo o que eu tinha que fazer era explicar para o grande e assustador executor que alguém estava brincando comigo. Merda.

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Capítulo 7 Hawk

Tentei esquecer a coisa com Harley quando cheguei no bar. Ele sabia que não era para foder comigo. Irmão do clube ou não, eu acabaria com ele sem hesitar caso ele tentasse algo com Gracie. Eu não deixei isso me comer enquanto limpava as coisas atrás do balcão. Normalmente era Raven que vinha e limpava tudo, mas agora que ela estava grávida, nós não a queríamos mexendo com nada mais forte que desinfetante. Ultimamente nós só a deixamos fazer o trabalho de contabilidade. Ela ficou irritada sobre isso porque queria fazer sua parte, mas depois de perder um sobrinho que nem teve a chance de respirar, eu não iria arriscar esse aqui. Murmurando um xingamento, lancei o trapo sujo no balde e encarei o teto. Sempre voltava à questão de Felicity. Até as pequenas coisas me faziam pensar nela e minha raiva começava a florescer de novo. Tive vontade de colocar minhas mãos em seu pescoço e apertar. Nós ainda tínhamos pessoas procurando por ela, mas ela podia muito bem ter sido abduzida por aliens pelo modo como não conseguíamos encontrala nem achar pistas dela. Lá pelas quatro horas, meus irmãos começaram a chegar. Colt estava assobiando enquanto completava sua rotina normal de repor as bebidas. Colt só assobiava quando teve uma noite boa, então eu sabia que ele deve ter vindo do clube. Raider, entretanto, chegou xingando e jogando merda. Colt parou de assobiar quando Raider lançou um copo de vidro em sua cabeça. Quando Colt desviou, ele quebrou contra a parede atrás

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dele e a hora de diversão para Colt acabou. Eu gemi quando vi o olhar nos olhos do meu irmãozinho. — Qual é a merda do seu problema? — Ele gritou para Raider. — Seu maldito assobio está machucando meus ouvidos, — Raider estalou de volta. Eu esvaziei meu balde na pia e passei um pouco de água quente nele para lavá-lo antes de girar para encará-los. Colt deu um passo ameaçador na direção de Raider. — Qual o problema, Raid? Não teve seu pau chupado essa manhã? — Vá se foder, seu filho da mãe. — Raider não estava se afastando e apontou para o rosto de Colt. — A próxima vez que eu ver você tocando na bunda da Quinn, vou tirar seu pau fora. Encostei-me contra a pia e cruzei meus braços acima de meu tórax, decidindo que isso acabou de se tornar algo que valia a pena assistir. Desde quando Raider se importava com qualquer coisa que Quinn fazia? Ele gastava mais tempo ignorando-a do que realmente falando com ela. Duvidei que ele soubesse algo dela além do fato de foder cada uma de suas irmãs regularmente. E quanto a Colt e Quinn, era algo completamente diferente. Colt não chamava muitos de seus irmãos de clube de amigos, mas Quinn era outra história. Talvez eles não fossem amigos no sentido mais tradicional da palavra, mas para Colt, Quinn era o mais próximo que poderia ser. — Eu bater na bunda de Quinn não é da sua conta, idiota. Eu vou bater, acariciar e até lamber quando eu quiser, porra. Você não tem que falar nada. Ela não é sua e nunca será. Quinn é muito boa para você. Então deixe-a quieta, irmão. Ou serei eu a começar a cortar paus. Vi o brilho dos olhos de Raider e soube o que estava por vir, e me movi rapidamente antes de ele começar a destruir o bar. Colt estava mais perto, então eu o agarrei para afastá-lo antes de ficar entre os dois. Só porque eu me coloquei no meio, não significa que os impediria de ir para

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as gargantas um do outro, mas ao menos eu poderia acabar com alguém nesse meio tempo. — Chega! — Gritei para os dois quando Colt deu um passo ameaçador para mais perto e Raider tentou me contornar para pegá-lo. — Vocês dois estão mesmo brigando por uma garota? Ela realmente vale uma briga entre dois irmãos? Colt voltou seu olhar mortal para mim. — Ela vale tudo. — Quinn é uma boa garota. Ela merece mais respeito do que você demonstra a ela, — Raider rosnou atrás de mim. — Olha quem fala, — Colt resmungou. — É você quem a desrespeita todo maldito dia. — Eu fico longe dela, então como eu a desrespeito? — Por que ela está apaixonada por você, porra! Ou assim ela pensa, ao menos. E você vai ao clube e fode com cada uma de suas irmãs pelo menos uma vez na semana. As irmãs jogam isso na cara dela cada maldita vez, idiota. — Colt pegou uma garrafa de Jack Daniels e abriu o lacre, engolindo umas boas duas doses antes de abaixar com força a garrafa no balcão. — Você quebra o coração dela toda a vez, e eu sou aquele que tem que costurá-lo de volta. Atrás de mim, Raider ficou estranhamente quieto e virou seu rosto para mim. Ele estava pálido e tinha um olhar assombrado em seu rosto. Quando ele continuou mudo, Colt murmurou um palavrão e saiu com tudo do salão. Por quase um minuto inteiro, Raider só ficou lá, como se congelado no lugar. Eu assenti e peguei um pano do balcão e estapeei seu rosto com ele. Ele não vacilou, mas ao menos pareceu respirar de novo. — Porra — ele murmurou. — Porra — Foi mais alto dessa vez e seu próximo suspiro fez parecer que ele estava berrando a palavra. — Porra! — Ele saiu sem dizer mais nada e eu soube que ele não voltaria hoje.

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— Ah, merda. — Balancei a cabeça e encarei a saída de um irmão atrás do outro. Parece que a noite será longa.

***

O bar estava lotado com quase todo membro do clube. Eu soltei uma bandeja de cervejas na mesa dos Originais e sentei em minha cadeira habitual entre Tio Jack e Bash. Nós não tínhamos um VicePresidente desde que o último presidente de clube bateu nele até a morte. Nós precisamos resolver isso, que está no topo da lista de discussão da igreja hoje à noite. O clube esteve um caos depois que Jet foi para a prisão por assassinato, mas quando Bash voltou e assumiu seu cargo como presidente as coisas começaram a se resolver. Agora que tínhamos tudo sob controle, era hora de preencher a posição de Vice-Presidente. Quando todos já estavam com suas cervejas, a porta da frente abriu e Raider pisou adiante. Colt mostrou a ele o dedo médio quando ele sentou em seu lugar na cabine, mas ninguém mencionou seu atraso. Bufei e peguei minha garrafa de cerveja. Parece que eu estava errado sobre Raider não voltar. Mas ele sabia que essa era uma noite importante para o clube. — Nós temos algumas coisas para resolver hoje à noite, — A voz de Bash encheu o bar com facilidade. Todos os olhares no salão estavam voltados para o nosso presidente, respeito brilhando em todos eles. — Primeiro, e mais importante, temos que decidir quem será nosso novo Vice-Presidente. Não parece certo decidir isso sem Jet aqui conosco, mas ele continua dizendo que não é mais um membro. — Besteira — Tio Chaz murmurou baixinho.

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Bash sorriu — Também acho, mas podemos resolver isso quando ele voltar daqui algumas semanas. — Ele se voltou para todo mundo. — O momento agora está aberto para a sugestão do cargo de VicePresidente. Não levou muito tempo antes de alguém falar, mas não era sobre quem eu estava esperando. Tio Jack pegou minha atenção e claramente disse, — Hawk Hannigan. Meus olhos estreitaram no homem velho, mas antes de eu poder abrir a boca, Tio Chaz, Tio George, Ox e Razor falaram. — Eu também acho —disseram, praticamente em uníssono. Bash não pareceu surpreso e eu encarei todos. Eu não considerava a posição de Vice-Presidente. Não era algo que eu queria. Só porque eu era um Hannigan não queria dizer que eu queria aquela cadeira figurativa. Eles deviam escolher alguém melhor, mais merecedor. — Hawk Hannigan foi mencionado. O que vocês fodidos tem a dizer? Comecei a ouvir a batida de garrafas atrás de mim. Começou lento, mas logo se transformou em um rugido de garrafas de vidro. Olhei para meus irmãos de clube. Todo estavam sorrindo. Meu tórax apertou com uma emoção que eu não sentia há anos. Amor por meu clube e meus irmãos me lavou de um jeito que não acontecia desde que me tornei membro do Angel’s Halo MC. Bash se levantou e estendeu a mão para mim. Apertei-a e ele me puxou para um abraço de urso que fez minha espinha dorsal estalar. Bati em suas costas e a sala estourou em gritos ensurdecedores enquanto gritavam meu nome. Senti uma mão em minhas costas e Bash me soltou. Girando, fui puxado para um abraço do Tio Jack. Ele me bateu nas costas duas vezes e disse. — Você merece, garoto. Eu respirei fundo. — Eu não desapontarei você, Tio Jack. — Eu sei que não irá. Você é filho do seu pai, Hawk. Você nunca poderia me desapontar. Mas se você machucar minha neta, eu corto você

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como um porco. — Ele bateu em minhas costas mais forte dessa vez e eu grunhi em resposta. — Cuide dela, garoto. — Sempre.

Gracie

Desde que entrei no Aggie’s, estive correndo apressada. Ela não estava brincando quando me disse que o turno do jantar era mais corrido. Tão cansado como eu estava, no entanto, eu estava feliz por isso. Se eu estava concentrada em manter o copo de todos cheio e em trazer comida, eu não teria tempo de pensar em Hawk. Desde que ele deixou a garagem mais cedo, eu me perguntei o que fazer sobre sua atitude cavalheiresca em ferir alguém que não fez nada errado, exceto falar comigo. E enquanto eu não tinha medo dele me machucar como meu pai tinha feito com a minha mãe, isso ainda me deixou perguntando se era basicamente a mesma coisa. Me preocupar se ele iria ferir alguém por minha causa era tão ruim quanto me preocupar se ele iria me machucar... Certo? Eu não sabia. O que eu sabia era que, mesmo antes daquele beijo capaz de abalar a terra; Hawk era excessivamente protetor. Durante semanas ele foi para a aula de química comigo e ficou sentado ao meu lado para garantir que Kevin Samson não me incomodasse. Em casa, se um de seus irmãos, biológicos ou do clube, dissesse algo que me deixava desconfortável, ele os corrigia e os fazia pedir desculpas para mim. Achei tudo isso bom, até adorável. Merda. Ok, então me aproveitei disso tudo e me apaixonei por ele. Muito rápido e muito intenso. Então, por que eu estava irritada por ele ter ameaçado Harley?

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Enchi um jarro com água gelada, parando para pensar nisso por um momento. Era por causa do meu maldito pai. Eu um dia superaria o fato de que ele batia em minha mãe toda noite? Ou eu sempre consideraria um exagero qualquer coisa e jogaria isso contra aqueles que se preocupavam comigo? Minha cabeça começou a latejar e eu empurrei todos os pensamentos de Hawk e meus pais para a parte de trás da minha cabeça, enquanto fazia minhas rondas e garantia que todos estavam felizes e não precisavam de nada. Enchi o copo de água na minha última mesa, oferecendo um pequeno sorriso ao casal mais velho antes de voltar para a cozinha para ver se eu tinha alguma comida para entregar nas mesas. Quinn e Chrissy e outras duas meninas estavam ali à espera de seus próprios pedidos e eu me inclinei contra a parede para fora do caminho para respirar um pouco. Minhas costas, pernas e pés estavam me matando. Eu seriamente pensei que estaria em melhor forma. Claro, eu parei com o hábito de correr todas as manhãs desde que eu fui morar com os Hannigans, mas não era como se eu tivesse desistido completamente. Às vezes eu corria com Willa, ou se o Hawk estava no bar, eu fazia pequenas corridas apenas para limpar minha cabeça. Era quase patética a forma como todo o meu corpo era agora um grande pulsar por ter trabalhado o dia e noite anterior. Quinn passou por outras três meninas e se apoiou na parede ao meu lado. — Pés doendo? Dei de ombros e ofereci um sorriso triste. — Parece que estou em pé faz dias em vez de apenas algumas horas. Ela riu. — Sim, eu me lembro disso. Eu comecei a trabalhar aqui quando tinha dezesseis anos e fui para casa e chorei até dormir porque meus pés doíam tanto depois daquele primeiro dia. Mas você acostuma com isso em poucos dias, prometo.

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— Então não é só porque me tornei uma pateta preguiçosa? Quando Quinn riu novamente, percebi que eu gostava do som disso. Eu só falei com ela algumas vezes no dia anterior, mas ela sempre parecia agradável e se ofereceu para me ajudar quando eu precisava. Eu não sabia muito sobre ela, exceto que ela amiga de Colt, e isso só porque eu atendi o telefone algumas vezes quando ela ligou. — Não, menina. Todos nós já tivemos a caminhada da tortura. Tome algum ibuprofeno e um banho quente todas as noites com um pouco de sal Epsom. Você estará como nova rapidinho. — Ela se afastou da parede quando o cozinheiro colocou três pratos de comida no balcão. — Se precisar de alguma coisa, é só me avisar. — O olhar dela foi para as outras duas garçonetes que estavam sussurrando uma com a outra, e depois para Chrissy, que eu tive o desprazer de conhecer no dia anterior. Quando seus olhos encontraram os meus novamente eles estavam falando sério. — Falo sério. Qualquer coisa. Eu balancei a cabeça, tocada por ela querer me ajudar, e voltei para checar as mesas. Quando passei pela porta da frente, ela se abriu e entrou Raven e Willa com Lexa entre eles. Quando Lexa me viu, ela correu para a frente e colocou os braços ao redor da minha perna. Inclinei-me para abraçá-la. — Ei, menina bonita. — Gracie, é o aniversário da minha tia Willa, — ela informou com entusiasmo. — Meu pai e tio Spider vão vir comer com a gente. Eu sorri. — Parece divertido. — Eu me endireitei e sorri para as duas mulheres atrás dela. — Feliz aniversário, — Eu disse a Willa, abraçando-a. — Obrigada. — Ela levantou Lexa em seus braços. — Você tem uma mesa livre para nós? Prefiro você tocando na minha comida do que a maioria destas outras meninas. Olhei para minha seção para confirmar se alguém havia se sentado na última cabine que eu tinha disponível. — Sim, claro. Venha antes que alguém a ocupe.

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Eu as levei para a última cabine na parte de trás do restaurante e anotei seus pedidos de bebida. Eu teria que ser extremamente cuidadosa com os meus novos clientes. Lexa tinha uma alergia grave de nozes e, infelizmente, vários pratos no Aggie’s tinham. Já que Lexa não podia sequer tocar em nozes sem ser afetada, eu precisava ter certeza que lavei minhas mãos antes de entrar em contato com seus alimentos e bebidas. No momento em que voltei para a mesa, Spider já estava sentado com eles. Eu não pude evitar em sorrir para o motoqueiro careca sexy enquanto distribuía copos de água para as três meninas. — Ei, parece uma eternidade desde a última vez que te vi. Spider levantou a cabeça, expondo a tatuagem de aranha aterrorizante em seu pescoço. — Hey Gracie. Sim, eu sei. Willa me mantem acorrentado à cama, e só me deixa sair do apartamento quando decide que eu preciso ir trabalhar. Raven bufou e Willa lhe deu uma cotovelada nas costelas, mas não deve ter sido muito forte, porque ele sequer pestanejou. Rindo, eu balancei minha cabeça. — Não duvido. Então, o que você gostaria de beber? — Chá doce vai bem. Obrigado, querida. — Bash vai se juntar a vocês em breve? Posso pegar a bebida dele enquanto estiver lá, se quiser. — Eu olhei para Raven, que estava respondendo à uma mensagem no celular. — Ele está a caminho. Basta trazer-lhe um pouco de chá também. E nós gostaríamos de picles fritos, Gracie. — Raven passou a mão sobre o estômago e lambeu os lábios. — Com queijo azul. — Eca, picles. — Lexa fez uma cara de nojo. — Eu não quero picles. — Você gostava de picles ontem — Raven lembrou. — Você disse que eles eram sua nova coisa favorita.

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A criança de três anos deu-lhe uma carranca séria mortal. — Eu estava sendo gentil. Comecei a rir com Willa e Spider. Havia momentos em que Lexa agia tão crescida que era tão assustador quanto divertido. Felizmente, Raven se certificou de que ela agia mais como sua idade. Raven revirou os olhos para a menina que era basicamente sua enteada. — Ótimo, espertinha. Do que você gostaria como aperitivo? — O que é isso? — Ela perguntou com uma careta. — Alguma coisa pequena que você pode lanchar antes de esperarmos nosso jantar — Raven explicou pacientemente. — Oh. — Então, você quer alguma coisa? — Lexa balançou a cabeça e se inclinou para frente para que ela pudesse soprar bolhas em seu copo de água. Raven sorriu e olhou para mim. — Apenas os picles e molho, Gracie. — Não, espere. — Spider me parou quando eu comecei a ir e anotar seu pedido. — O queijo azul é pasteurizado? — Quando eu dei-lhe um olhar vazio, ele deu uma risadinha, como se soubesse. — Ela está grávida. Se não for pasteurizado, ela não pode comer. Meus olhos não eram os únicos que ampliaram com sua explicação. Raven e Willa olharam para ele como se ele tivesse perdido a cabeça. — Como você sabe disso? — Perguntou Willa. — Bash estava me dizendo. Ele tem lido alguns livros ou sites, algumas coisas. Uma das coisas era o que mulheres grávidas podem e não pode comer. Leites não pasteurizados, molhos, queijos; esse tipo de coisa. — Ele franziu a testa quando o queixo de Raven tremeu. — O quê? — Bash está lendo livros de gravidez? — Raven sussurrou. Spider encolheu os ombros enormes. — Sim. Ele vem fazendo todo tipo de pesquisa e essa merd-, coisas assim desde que ele descobriu que você estava grávida. — Eu mordi um sorriso para ele quando ele evitou

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falar uma palavra ruim. Um motoqueiro grande, careca e deliciosamente sexy se censurando era ao mesmo tempo divertido e adorável. Claro, Raven teria ficado louca se ele tivesse xingado na frente de Lexa. Ela era definitivamente uma mãe protetora quando se tratava daquela menina. — Ok, vou verificar para ter certeza de que é pasteurizado — prometi. O resto da noite passou rapidamente. Eu tomei conta das mesas, voltei e anotei pedidos quando Bash se juntou a eles, e garanti que Raven poderia comer o queijo azul com seus picles fritos. Mal tive tempo de respirar até o fechamento. Eu estava cansada, irritada, e com um pouco de fome no momento em que eu saí pela porta de trás com Quinn e o resto das meninas. Tudo que eu queria era ir para casa, lavar o suor e o cheiro de comida que parecia ter se infiltrado em meus poros durante as últimas seis horas. Bocejando, peguei as chaves do Chevelle e caminhei lentamente em direção ao carro com o peso em pés que pareciam ser do tamanho de melancias. — Vejo você amanhã, Gracie, — Quinn chamou enquanto entrava em seu pequeno Honda. — Sim, até mais. — Eu bocejei novamente e joguei minha bolsa no banco do passageiro antes de sentar no do motorista. Fechei e tranquei a porta antes de ligar o carro velho e então inclinei a cabeça para trás contra o assento. Com os olhos fechados, lutei para não cair no sono enquanto eu tentava empurrar o meu cansaço para longe para que eu pudesse ir para casa. Ouvi todos indo embora, mas não me mexi. Eu não tinha certeza de quanto tempo fiquei sentada lá, mas finalmente alcancei o câmbio de marchas e forcei meus olhos a se abrirem. Eu esperava que meu corpo se acostumasse a essa agenda louca em breve ou eu seria um maldito zumbi antes da hora ... Um toque na janela do lado do condutor me fez pular antes que eu manuseasse completamente a alavanca de câmbio. Virei a cabeça para

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encontrar Harley em pé ao lado do carro, sorrindo para mim. Talvez se não fosse quase meia-noite e eu não estivesse tão cansada, eu não teria realmente pensado muito sobre seu súbito aparecimento, mas eu não estava com humor para lidar com ele ou a atitude que Hawk provavelmente teria quando descobrisse que Harley tentou se aproximar de mim. Suspirando, abri a janela apenas o suficiente para que eu pudesse falar com ele. — Oi? — Saiu como uma pergunta, porque eu não sabia como perguntar a ele o que ele queria sem soar como uma vadia. — Hey, — seu sorriso se tornou presunçoso e por algum motivo eu me tornei ainda mais desconfortável sobre isso. — Eu estava esperando te ver antes que você fosse para casa. — Por quê? — Eu lhe dei um sorriso forçado quando eu cuidadosamente estendi a mão para o meu telefone saindo da minha bolsa ao meu lado. Eu odiava que ele estava me intimidando e não sabia por quê. Eu não me senti assim no início do dia e estava me assustando um pouco que eu me sentia assim agora. Ele se abaixou e eu pude olhar melhor seus olhos. Eles correram sobre meu rosto e, em seguida, mais para baixo. Meu polegar bateu em cima da tela no meu telefone e pela primeira vez eu estava feliz por conhecer meu telefone tão bem. Eu poderia facilmente digitar sem olhar para a tela se precisasse. — Hawk pode ser um idiota arrogante. A maneira como ele levou você no almoço hoje foi um movimento idiota. Eu pensei que tinha algo acontecendo conosco, sabe? Química. Eu tentei evitar que meus olhos se arregalassem. Eu falei com ele por um total de dez minutos durante todo o dia e em nenhum momento senti como se tivéssemos química. Eu não tinha pensado muito sobre ele, honestamente, a não ser por ficar com raiva de Hawk por fazer ameaças porque esse cara tinha apenas falado comigo. Agora, eu estava começando a me perguntar se Hawk teve motivos de sobra para fazer essas ameaças. — Um ... — Meu polegar bateu o

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último número que eu tinha chamado, e eu estava grata por não ter ligado para ninguém além de Hawk dois dias antes. — Por que você não vem ficar comigo esta noite? Eu vou lhe mostrar diversão de verdade, querida. Eu ouvi o som abafado de Hawk respondendo a minha chamada e tentei não engasgar com a ideia de passar o tipo de diversão com Harley que ele estava sugerindo. Ele não era feio, mas a forma como ele estava me fazendo sentir naquele momento foi o suficiente para me repelir a ponto de vomitar. — Eu estou realmente cansada, Harley. — Eu falei um pouco mais alto na esperança de que Hawk pudesse me ouvir claramente. — Acho que vou passar essa e ir para casa. Seu sorriso de satisfação ficou frio em um piscar de olhos e ele se endireitou em toda sua estatura. — Oh sim? A maneira como ele disse, o olhar em seu rosto, e a nova tensão que deixou o ar espesso me deixou nervosa. Eu estava ansiosa para sair de lá, ir para longe deste cara que parecia tão inofensivo horas atrás. Eu estava tão errada antes. Hawk nunca poderia me fazer sentir como meu pai fez minha mãe se sentir. Fraca. Indefesa. Aterrorizada. Esse cara? Era uma história completamente diferente. Eu conhecia aquele olhar e engoli em seco quando tentei continuar calma. Era esse olhar que meu pai tinha em seus olhos bem antes de fazer mal à minha mãe. — Gracie, eu estou indo — eu ouvi Hawk gritando do meu telefone e fui rápida ao desligar aqui antes que Harley ouvisse. — Sim, eu mal posso manter meus olhos abertos, — sorri brilhantemente, na esperança de esconder meu medo do homem de pé na minha frente. — Mas vejo você na garagem na segunda-feira. — Eu estendi a mão às cegas para o câmbio de marchas. — Tchau. Eu deveria ter simplesmente colocado meu pé no acelerador em seguida. Eu nunca deveria ter aberto a janela naquele maldito lugar para falar com ele. Havia um milhão de “eu deveria” passando pela minha

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cabeça no instante em que o punho de Harley atravessou a janela do motorista e agarrou meu cabelo em um aperto que me fez gritar de dor. Seu aperto sobre o meu cabelo aumentou e eu tentei me soltar, minhas unhas arranhando seu pulso. A próxima coisa que eu vi foi uma visão de perto do volante quando ele bateu minha cabeça nele...

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Capítulo 8 Hawk

Meu coração nunca bateu tão forte em minha vida. Minhas mãos apertaram o celular em minhas mãos enquanto eu olhava para baixo, para a peça silenciosa de tecnologia. Eu sabia que deveria estar me movendo, mas eu sentia como se tudo estivesse congelado. Este era um medo que eu nunca senti em todos os meus vinte e nove anos de vida. Raider puxou meu celular de minhas mãos e eu percebi que minhas mãos tremiam. A tela do meu telefone estava rachada, mas não me importei. — Vá — Raider ordenou, me empurrando para a porta. — Eu ligo para Bash e Spider. Tudo o que eu podia fazer era acenar uma vez antes que meu cérebro finalmente reiniciasse e eu corri para a porta. Atrás de mim, ouvi meu irmão gritando para que todos ouvissem. Desde a igreja mais cedo, a maioria dos caras tinham ficado, com exceção de Bash e Spider ... E Harley. Meu intestino torceu quando raiva ferveu nas veias. Eu pulei na minha moto e queimei borracha quando rasguei para fora do estacionamento. O Aggie’s ficava a oito quilômetros de distância e por isso não havia um segundo a perder. O tremor que eu ouvi na voz de Gracie me fez querer bater em alguma coisa. Eu ia acabar com Harley. Acabar. Com. Ele. Eu não me importo se meus irmãos do clube não aprovassem, eu poderia ser expulso por terminar isso sem a votação de todos. Se ele tocasse em um fio de cabelo

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da cabeça dela, eu o cortaria em tantos pedaços e o jogaria em tantos lugares, que ainda estarão procurando por ele para juntá-lo por décadas. A viagem até a lanchonete passou em um borrão. Eu não vi nada do cenário onde passei. Não poderia dizer quantos outros veículos encontrei ao longo do caminho. Minha mente estava no piloto automático com visões do que eu poderia encontrar quando chegasse ao restaurante, me deixando louco com uma dor e raiva que estavam começando a me consumir. Parei no estacionamento para encontrar o Chevelle ainda ligado, a porta do motorista aberta e o vidro da janela quebrado e espalhado pelo chão. Sangue escorria da porta e ela cobria o vidro no chão. Alguém ficou ferido e não havia nenhum sinal de Gracie ou Harley. Era sangue de Gracie? Ela estava machucada e assustada? Eu não estava acostumado com o medo que estava fazendo meu estômago torcer. Eu normalmente não deixava minhas emoções ficarem no caminho quando a merda precisava ser feita. Isto era diferente, no entanto. Gracie era o meu coração, o maldito ar em meus pulmões. Porra! Eu ia matar Harley sem pressa para maximizar a dor antes de terminar com ele. Ontem eu pensei que a maior ameaça para ela era Kevin Samson. Menos de um dia depois, ela tem um perigo totalmente novo para enfrentar. Inclinei-me para o carro e encontrei a bolsa no banco do passageiro e seu celular no chão. Desliguei o carro e bati a porta. Passando minhas mãos pelo meu cabelo, eu gritei para o céu escuro — Ele vai morrer, porra! O som das motos se aproximando me fizeram endurecer, querendo com tudo dentro de mim que fosse Harley voltando, mas eu sabia que não. Ele deve ter usado seu caminhão ou alguma outra gaiola, porque ele não seria capaz de levá-la em sua moto. Virei para encontrar Bash, Spider, e seis outros parando a vários metros de minha própria moto. — Qualquer ideia de onde ele a levou? —

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Bash perguntou aos homens ao lado dele, e eu tentei me concentrar no fato de que meus irmãos de clube vieram me ajudar, qualquer coisa para me acalmar o suficiente para pensar mais claramente. Raider, Matt, Tanner, Tio Jack, Razor e Trigger vieram do bar enquanto Spider e Bash vieram de minha casa. Tanner tirou o capacete. — Ele não se atreveria a ir para casa. Seria extremamente estúpido e Harley geralmente não é estúpido. — Vocês cortaram fora todos os seguidores de Westcliffe quando Jet entrou? — Bash olhou de Tio Jack para Spider. — Estávamos confiantes de que tínhamos pegado todos — a voz de Spider era baixa e áspera, um sinal muito perigoso. O executor estava no seu modo mais perigoso quando ele usava esse tom de voz, mas não tinha como ele assumir dessa vez. Seria eu a lidar com Harley, não ele. — Harley não seguiu Westcliffe, — A voz profunda de Trigger retumbou. — Mas sempre houve algo estranho nele. Fica muito obsessivo sobre as coisas. Eu deveria ter mantido melhor o olho sobre ele quando ele ficou tão irritado sobre Hawk aparecer para o almoço com Gracie hoje. Os olhos de Tio Jack estavam vidrados, mostrando como ele estava chateado, mas pela forma como sua mandíbula estava cerrada eu sabia no que ele estava pensando. Voltei minha atenção completa sobre ele, quando ele puxou a faca de caça e começou a acaricia-la com a ponta das unhas, um sinal claro de que ele estava considerando dar fim em alguém. — Há um lugar fora de Creswell Springs. Abandonado, isolado. Pertence à universidade, mas vale a pena olhar. Eu não hesitei em voltar para minha moto. Bash dividiu nosso grupo, enviando Razor, Trigger, e Tanner para procurar por quaisquer buracos onde Harley possivelmente se esconderia. Raider e Matt foram para a casa de Harley. — Procurem por tudo. Eu quero saber o que ele tem feito a portas fechadas recentemente. Quando terminarem, se eu não tiver ligado, ajudem Razor, Trigger e Tanner.

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Tio Jack levou o resto de nós pela cidade e para fora dos limites. Todos fizemos o dobro do limite de velocidade, mas parecia que estávamos nos movendo em câmera lenta. Meu coração parecia que ia explodir no meu peito, meus pulmões lutando para levar oxigênio. Rezei pela primeira vez desde que eu era uma criança, rezando para que a encontrássemos e que ela estivesse inteira na hora. Quando paramos na frente de um edifício velho e acabado eu sabia que não tínhamos encontrado o lugar certo. Não havia sinal de que alguma coisa ou alguém mexeu ali por anos. Teias de aranha pendiam das janelas quebradas; não havia marcas de pneus, sem vislumbre de luzes vindo de dentro do prédio abandonado. Precisou de tudo em mim para não começar a surtar. Minha mulher estava em perigo, e eu não tinha a mínima ideia de onde ela estava. Spider tirou o telefone do bolso e colocou no ouvido. — Sim? — Todos os olhos se voltaram para o nosso executor. Seus olhos negros se estreitaram nos faróis de nossas motos. — O que você achou? — Quando ele não disse nada por uma longa pausa, mas apenas continuou a ouvir quem havia ligado, eu tive que segurar o guidão da minha moto para não estender a mão e pegar o telefone dele. — Fique de olho nele. Se ele se mover, acabe com ele. Estaremos aí em dez minutos. — Ele colocou o telefone no bolso. — Trigger checou o armazém de peças de Jack. Seu caminhão está atrás do armazém, e Harley está no escritório. Gracie está com ele... Eu não esperei que ele dissesse outra palavra. Acelerando a minha moto, fiz arrastar poeira para percorrer os 16 quilômetros até o armazém de peças de reposição de Jack. Quando cheguei lá, trinta minutos desde que Gracie havia me ligado tinham se passado. Trinta minutos a sós com um homem que eu não tinha certeza que não iria machucá-la de uma forma que a marcaria para sempre.

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Eu conhecia Harley a minha vida toda. Seu pai fora amigo do meu, e tinha levado bala não muito tempo depois do meu. Harley foi chamado aos dezoito, após aguardar por três anos. Eu fiz a mesma coisa, comecei a observar com dezesseis e entrei não muito depois dele. Sabíamos que seria assim, sabia que era tradição, um tipo de empresa familiar. Ilegalidade tendia a ser uma organização familiar, e um MC era exatamente isso. Uma família grande e feliz. Um grupo de irmãos que cuidava uns dos outros. Trigger estava encostado em sua moto quando eu parei apenas alguns metros dele. Trigger ganhou seu apelido de clube honestamente. Ele era nosso melhor atirador, nunca perdeu nenhum tiro. Ele fora atirador de elite no exército; e ainda era quando precisávamos que ele fosse. Eu estava pulando fora da minha moto antes dos outros até mesmo nos alcançarem. Não parei para pegar todos os detalhes de Trigger, não esperei pelos outros para fazer um plano para entrar no armazém. Eu entraria no escuro. Harley poderia estar escondido com uma dúzia de armas, poderia estar esperando para acabar comigo. Eu não dou a mínima. Eu ia pegar minha mulher de volta. Agora.

Gracie

Minha cabeça estava me matando. Gemendo, eu levantei a mão para minha cabeça, fazendo uma careta quando entrei em contato com um galo no meio da testa. Um galo pegajoso. Meu estômago revirou com náuseas quando tentei abrir meus

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olhos e um flash de luz fluorescente parecia ter desenvolvido o poder de um feixe de laser, atirando dor direto para o meu cérebro. Merda. Eu vou vomitar. O pensamento mal tinha flertado pela minha mente atordoada antes de eu ligar meu lado e sentir ânsia de vômito. Eu não me importei onde meu vômito pousou, só que ele saiu de mim tão rapidamente quanto possível, na esperança de que isso faria a minha dor parar. Eu não tentei abrir

meus

olhos

novamente;

Apenas

vomitei

em

um

abismo

desconhecido. De algum lugar atrás de mim eu ouvi alguém xingar violentamente e me enrolei em uma bola apertada. Não sabia quem era, mas eu não confiava nisso. Outra onda de náusea tomou conta de mim e eu engoli de novo e de novo ao tentar me fazer tão pequena quanto possível. Lágrimas escorreram de meus olhos bem fechados quando eu me lembrei da minha mãe fazendo exatamente a mesma coisa várias vezes durante a minha infância. Assim como ela, então, eu sabia que eu estava com uma concussão. Uma dor que parecia estar cortando meu cérebro em pedaços enormes. Lentamente, quando meu estômago começou a acalmar um pouco, comecei a lembrar dos acontecimentos que levaram a este ponto. Flashes de memórias sobrecarregaram minha cabeça doendo e eu gemi de novo, tentando botá-los em ordem. Saindo do meu trabalho no Aggie’s. Me sentindo tão cansada que mal conseguia manter os olhos abertos. Harley. Me sentindo assustada. Ligando para Hawk ... Hawk. Eu sussurrei mentalmente seu nome quando mais lágrimas caíram. Eu queria tanto Hawk. Ele iria me ajudar, faria minha cabeça parar de doer. Mas nem eu sabia onde eu estava, não conseguia abrir os olhos por tempo suficiente para descobrir onde Harley me levou depois de ter batido minha cabeça no volante do Chevelle de Hawk. Será que Hawk sabia onde eu estava? Ele estava vindo por mim?

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O som de algo alto de repente ecoou pela sala. Eu cobri meus ouvidos, tentando me esconder da sonoridade dolorosa do que tinha soado como um tiro. O tiro sequer desapareceu quando ouvi outro barulho alto, este parecendo como uma porta se abrindo. Ouvi a voz que tinha xingado anteriormente gritar segundos antes da sala ficar estranhamente quieta por um momento. — Você acabou com ele? — Uma voz que eu pensei pertencer a Jack perguntou em um tom desprovido de qualquer emoção. — Ainda não. — Eu conhecia essa voz! Ela representava tudo o que era seguro e acolhedor. — Apenas dei uma surra. Não pude conter o gemido que me deixou enquanto eu tentava levantar a cabeça, buscando Hawk cegamente. — Baby, — sua voz áspera estava mais próxima e um segundo depois eu senti suas mãos ásperas no meu rosto. — Oh baby. Sua cabeça... Ah, merda. — Eu choraminguei novamente, envergonhada, porque ele deve ter pisado no meu vômito. — Ela precisa de um médico. Ninguém conseguiu falar com o Doc ainda? — Ainda não, mas estou tentando — outra voz familiar chamou. Pensei que podia ser Matt ou talvez Tanner. Eles soavam parecidos. — Baby, você pode abrir seus olhos? — Eu tentei agitar minha cabeça, mas isso fez estrelas piscarem atrás de meus olhos e náuseas subirem novamente. — Está tudo bem, querida. Eu encontrei você. — Apague as luzes, — alguém pediu. — Se ela está com uma concussão, as luzes vão fazer sua cabeça doer mais. Dentro de dois segundos as luzes foram apagadas e eu me senti apenas um pouco melhor. — Eu ainda não consigo falar com Doc. Devo ligar para Raven ou você quer levá-la para o hospital? A mão áspera de Hawk passou por cima do meu rosto com ternura, fazendo ainda mais lágrimas caírem. — Baby, eu vou ter que mover você. Raven não conseguirá cuidar de algo como isso. Ela pode

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costurar cortes e desenterrar balas, mas cabeças são mais complicadas. — Eu senti seus lábios calorosos escovarem minha testa. — Coloque seus braços em volta de mim, baby. Algo tão simples como levantar meus braços para envolvê-los em torno de seu pescoço me fez sentir como se minha cabeça fosse literalmente explodir. Eu gritava de dor e enterrei meu rosto em seu peito enquanto ele me levantava, me segurando perto de seu corpo duro. — Encontre as chaves de Harley, — ele rosnou para alguém. — Vamos ter que usar o caminhão. — O que você quer que façamos com ele? — Era a voz de Raider desta vez, e estava vindo do lado de Hawk. — Não deixe Spider ficar com ele. Ele é meu. — A ameaça na voz de Hawk teria me deixado apavorada se fosse dirigida a mim. Eu sabia que não era; então enterrei meu rosto em seu peito um pouco mais fundo e tentei bloquear a dor. — Volto assim que souber que Gracie está bem. — Leve o seu tempo, irmão, — a voz de Bash chegou aos meus ouvidos. — Spider vai deixar você ter sua vez. Raven vai encontrá-lo no hospital para se certificar de que ela seja atendida imediatamente. Digalhes que Doutor Robertson é o seu médico regular. — Vou com você — Jack informou Hawk, e ele não discutiu. Ele subiu no caminhão comigo ainda em seus braços. Quando a porta se fechou atrás dele, ele me trouxe para mais perto. Ouvi Jack entrar no lado do motorista e o caminhão rugiu para a vida. Mordi o lábio quase pela metade porque a viagem para o hospital acabou por ser quase a minha ruína. Eu não sei quanto tempo mais eu poderia lidar com essa dor de cabeça. Nada jamais doeu tanto na minha vida, fisicamente. Várias vezes eu senti os lábios de Hawk no meu rosto, ouvi sua respiração irregular. Seus batimentos cardíacos estavam loucos, mas mesmo isso doía ouvir. Quando o caminhão parou e alguém abriu a porta, um pequeno grito escapou de mim quando as luzes do que eu

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assumi ser a entrada do hospital brilharam sobre os meus olhos fechados. Senti frio, e mãos duras tentando me tirar dos braços de Hawk quando me agarrei a ele. — Não, — eu gemi. — Não. — Eu não queria que ele me deixasse. Não confiava em mais ninguém para me manter segura. Os braços de Hawk significavam segurança. Significavam casa. — Senhor, precisamos levá-la para trás. Coloque-a na maca, — uma voz masculina que não parecia de forma alguma familiar perguntou. — Está tudo bem, Gracie. — A voz de Raven estava bem ao meu lado agora e eu senti suas mãos nas minhas enquanto ela tentava me soltar do irmão. Memórias da primeira noite em que eu conheci Hawk e Raven passaram pela minha cabeça latejante. Ela tinha feito a mesma coisa naquela noite, tentando me convencer a deixá-lo ir para que ela pudesse verificar as minhas contusões e outras coisas quando eu quase fui estuprada. Infelizmente, esta noite foi muito mais assustadora. Naquela noite eu fui embora com alguns pesadelos, uma dor de garganta, e algumas contusões. Hoje à noite? Eu não sabia o que Harley tinha a intenção de fazer comigo, e isso era muito pior por algum motivo. Hawk me colocou na maca e cuidadosamente desembrulhou meus braços em torno dele, mas uma de suas grandes mãos ficaram cruzadas em uma das minhas. — Eu não vou a lugar nenhum, baby. Não se preocupe. Eu estou bem aqui. Segundos mais tarde, eu estava sendo empurrada para o hospital onde ouvi o pessoal médico correndo por aí. Em um ponto, a maca parou e uma voz calma de homem começou a fazer perguntas. Enquanto Raven respondeu o homem, um médico, eu tive que assumir, levantou uma das minhas pálpebras e brilhou uma lanterna nela. Eu gritei e me afastei da fonte de dor quando comecei a enjoar. Não havia mais nada no meu estômago, mas meu corpo não parecia se

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importar quando começou a ter espasmos. — Concussão severa. Vamos levá-la um CT. Ela precisa de um kit de estupro? Náusea rolou no meu estômago por uma razão completamente diferente. Eu estava tão distraída com minha cabeça que eu não tinha tomado ações de qualquer outro dano causado ao meu corpo. Tentei empurrar a dor nas costas o suficiente para descobrir se eu tinha sido violada enquanto eu estava inconsciente. Depois de um momento, dei um suspiro de alívio. — Não, ele não me estuprou. — Gracie, você vai ficar com a gente aqui no Trinity Community Hospital por alguns dias, — o médico me informou. — Meus enfermeiros vão te deixar no soro, te dar algo para dor e leva-la para tirar uma radiografia. Sei que o Dr. Robertson é o seu médico regular. Ele vira vêla amanhã de manhã. Até lá, se houver alguma coisa de que precise, sinta-se livre para nos avisar. Eu não tentei prestar atenção ao que estava acontecendo ao meu redor quando ele foi embora. Hawk continuou a segurar minha mão e ouvi a voz de Raven como ruído de fundo. Tentei bloquear a dor. Quando alguém enfiou uma agulha em meu braço, mal notei. Segundos depois, senti a queimação de qualquer medicação que a enfermeira havia injetado no soro e logo eu estava à deriva, flutuando para longe da dor.

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Capítulo 9 Spider

Willa continuava enchendo o meu celular, mas eu não podia parar e falar com ela. Ainda não. Quando essa merda terminar, eu ligaria para ela, para que soubesse que tudo estava bem e que eu a amava. Ainda não. Não quando eu estava no modo executor. Quando eu estava pronto para estripar o filho da puta que estava amarrado a uma velha mesa de dois metros de comprimento na parte de trás do armazém de peças de reposição do Tio Jack. Bash disse que eu não poderia tocar Harley até Hawk e Jack voltarem do hospital. Mesmo assim, eu não conseguia tirar o olho do filho da puta. Eu queria fazer o meu trabalho, queria fazer o homem que eu tratei como um irmão a apenas algumas horas atrás sangrar e implorar por misericórdia antes de colocar uma bala entre seus olhos. Nem sempre eu gosto do meu trabalho como executor do MC, mas quando se tratava de um dos meus irmãos do clube machucando uma mulher, eu me alegrava em dar as punições em primeira mão. Que era Gracie, a doce e inocente Gracie ... eu teria saboreado cada segundo do espancamento que eu daria nesse filho da puta. Mas vou esperar e deixar Hawk se vingar. Gracie era dele, por isso era natural o seu direito de entregar o castigo de Harley. E quando Hawk terminasse, e se ainda houvesse algo restando do filho da puta, Tio Jack assumiria como seu avô. Isso não significava que eu não entraria para fazer Harley suar pensando que eu seria o único a acabar com ele. Embora Hawk não fosse uma opção melhor, Harley estava pronto para se mijar pensando que eu

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ia acabar com ele a qualquer momento. Isso me fez sorrir quando me inclinei contra a mesa e corri os olhos sobre o motoqueiro da cabeça aos pés, imaginando onde eu iria começar. Estômago. Sim, eu daria um soco no estômago até ele vomitar. Depois começaria a bater em sua cabeça. Abalá-lo tanto quanto Gracie. Deixá-lo confuso e meio cego antes de seguir para outra parte de seu corpo. Eu não deixaria uma única polegada dele sem uma contusão. Ele estaria acabado e sangrento, ossos quebrados expostos em todos os ângulos. E quando ele desmaiar, seu pulmão se enchendo de sangue pelas costelas quebradas perfurando seus pulmões, então eu iria acabar com ele. Um tiro na cabeça, dois no peito. — Aqui, — resmungou Bash, me entregando seu celular. — É Willa. Ela está prestes a me enlouquecer. Eu não aceitei imediatamente. Ela não precisa conhecer esse lado meu. O lado que apreciava matar um homem. Que as mulheres me amavam mais do que eu sabia que merecia, e eu não queria dar uma outra razão para questionar esse amor. Murmurando uma maldição, eu peguei o telefone do meu amigo e presidente do clube e o ergui até o meu ouvido. — Este não é o momento, Wil— Tem algo que eu esqueci de dizer no jantar. — A voz dela saiu um pouco trêmula, um pouco nervosa. Meus olhos se estreitaram e eu me afastei da mesa. — O quê? Ela hesitou e eu podia imaginá-la mordendo o lábio. Porra, só essa pequena imagem já me endureceu dolorosamente. Eu passei a mão sobre a minha mandíbula, sentindo o início da barba. — Meu pneu não apenas furou antes. Havia uma chave de fenda saindo dela — — Algum maldito ferrou o seu pneu? — Eu tinha a intenção de manter minha voz baixa, mas saiu mais como um berro com a minha agitação. Bash, Trigger, Tanner, e Raider viraram para franzir a testa

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para mim. Meu tio ergueu uma sobrancelha, mas eu me virei, incapaz de explicar ainda. — Por que você não me contou quando aconteceu, Willa? — Porque eu sabia que você reagiria assim. Olha, eu sinto muito. Eu não queria arruinar Raven e os planos de Lexa para o meu aniversário. Eu iria contar quando chegássemos em casa, mas isso não parece que vai acontecer a qualquer hora hoje à noite. — Ela soltou um longo suspiro. — Eu não sabia com o que você está lidando, e eu queria contar caso seja a mesma pessoa. — Não é a mesma pessoa, — Eu retruquei. — Eu tenho certeza de quem fez isso com seu pneu, e vou lidar com ele mais tarde. — Porra, eu queria lidar com ele agora. Aquele idiota estava morto se achava que poderia jogar jogos com a minha mulher. Primeiro o conluio no Paradise City, e agora o carro de Willa? Sim, eu faria uma visita a Kevin Samson muito em breve. — Fique na casa de Raven esta noite. Não quero você voltando ao apartamento sozinha. Alguém estará lá em breve para ficar com você e Lexa — — Você... Você está com raiva de mim? — Willa sussurrou. — Eu quero estar, mas não. Eu não estou bravo com você, baby. — Eu abaixei minha voz para que não parecesse tão dura como nos últimos minutos. — Vá para a cama, Willa. Vejo você amanhã cedo. — Eu amo você, James. Esteja a salvo. — Amo você, baby. — Eu rapidamente terminei a chamada e devolvi o celular de volta a Bash, que deu um olhar interrogativo. Dando de ombros, empurrei minhas mãos nos bolsos da frente da minha calça jeans. — Podemos falar sobre isso mais tarde. Por agora, só sei que estou prestes a matar um filho da puta que gosta de causar problemas. — Ótimo — Matt riu do outro lado da sala. Ele enfiou um punhado de pipoca na boca e mastigou com a boca aberta. Pode-se dizer que o primo de Bash era um pouco louco quando se tratava de lidar com

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punições. Ele gostava de estar na frente e no centro, com lanches. Gostava dessa merda como se fosse a porra de um filme ou algo assim. — Vamos arrumar essa merda para um evento principal. — Cale a boca, idiota — resmungou Tanner de seu assento junto à janela. — Porra, você é louco. Não posso acreditar que compartilhamos a mesma mãe. Matt riu e enfiou mais pipoca na boca. — Não compartilhamos. Você é adotado. Tanner saltou de sua cadeira, o punho cerrado em seus lados. — Seu— Chega, — Trigger estalou e entrou entre os dois. — Calem a boca, vocês dois. Eu não estou no humor para a merda de vocês. Acalmem-se, antes que eu acabe com vocês dois e tire o resto de nós dessa miséria. Nenhum irmão disse outra palavra. Tanner retomou seu lugar e Matt foi encostar na parede do outro lado da sala. Trigger normalmente era um homem calmo. Seus dias de atirador haviam lhe dado a paciência de um santo. Que ele estava chateado o suficiente para ser incomodado pelas brigas normais de Matt e Tanner me disse que ele não estava bem naquele momento. Bash me lançou uma sobrancelha erguida e eu balancei minha cabeça. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo com o nosso atirador. Eu sequer acho que ele realmente conhecia Gracie. Eles não tinham acabado de se conhecer mais cedo naquele dia? — Eu tenho que mijar — Harley resmungou da mesa. Nós o amarramos à mesa com alguma fita adesiva achada no escritório. Ele estava quase mumificado com aquela merda. Eu deveria ter guardado um pedaço para a boca. — Então mije, — eu rosnei. — Você não vai levantar até que Hawk volte.

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— Eu não queria machucar Gracie. Eu só me empolguei. Ela gostava de mim até que Hawk apareceu. — Sua voz era atraente, implorando. — Não vou fazer isso de novo. — Você acha que Hawk simplesmente apareceu e Gracie o escolheu sobre você? — Bash exigiu. — Ela está dormindo na mesma cama que ele há meses. Não foi uma decisão de momento, idiota. Hawk vai casar com aquela fêmea algum dia. Eu observei Harley de perto. Seu rosto se contorceu de dor, de raiva, e medo por último. Por que eu não notei antes o quão louco esse filho da puta era? Ele só conheceu Gracie há algumas horas atrás, mas parecia ter chegado à conclusão de que ela era para ele. E ele não percebeu que tinha encontrado a mulher de Hawk? Ele não percebeu que Hawk não estava trepando com seu grupo seleto de ovelhas? — Raven não disse nada sobre como Gracie está? — Trigger perguntou em uma voz mais áspera do que o habitual. — Será que ela vai ficar bem? — Eu não ouvi nada desde que eles a levaram para uma tomografia computadorizada. Raven disse que era apenas uma precaução, eu acho que para ter certeza que nada estava sangrando ou inchado. Hawk estava enlouquecendo a equipe, então ela não poderia mandar muitas mensagens. Ela tinha que ajudá-lo a se acalmar antes que chamassem a polícia e ele fosse expulso. — Isso foi há três horas. Hawk deve estar ficando maluco. — Eu ficaria da mesma forma se fosse Willa, — admiti, passando a mão sobre a minha cabeça novamente, desejando que fossem dedos sedosos acariciando-o no lugar. — Sim, eu estaria enlouquecendo se fosse Raven. — Bash se encostou na parede e apertou seu pescoço sem descanso. — O que vamos fazer com o corpo depois? Enterrar, queimar, cortar? Harley fez um som abafado, mas não fez mais do que proferir uma palavra quando Matt e Tanner começaram a dar sugestões sobre o que

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devíamos fazer com os restos mortais dele. Do lado de fora, ouvi um caminhão e pelo menos quinze motos chegando. Abri a porta e inclinei a cabeça para fora para ver quem era. Hawk e Jack saíram do caminhão de Harley e cada um de nossos irmãos do clube estavam lá para cumprimentá-los. Fiquei contente com o número elevado de prontidão. Quando liguei para os outros, eu disse para que se mostrassem apenas para votar sobre a morte de Harley. Já que Harley era um irmão, e nossa irmandade era um vínculo sagrado, precisava de vários irmãos votando para que outro encontre o anjo da morte. Parecia que todos estavam de acordo esta noite. Eu não tive dúvidas, no entanto. Depois de toda a coisa trágica com Westcliffe e a bagunça que ele deixou em Felicity, todos estavam ainda mais cautelosos quando um irmão era desonesto assim. Alguns poderão argumentar que Harley não fez nada tão ruim assim. Ele não matou ninguém, não molestou ninguém. Ele era um irmão, era da família. Às vezes até mesmo a família precisava de cuidados. Na minha opinião, ele fez mais do que o suficiente para receber minha sentença de morte. Ele sequestrou uma menina inocente, a machucou, e poderia tê-la matado pela lesão que sofreu na cabeça. Quem sabe o que ele teria feito a ela se não tivéssemos aparecido. Ele pode não ter planejado nada. Quem era eu para dizer que ele não esteve a ponto de estuprá-la? Matá-la? Eu não sei, e honestamente, não quero saber. O que eu sabia era que eu não ia deixá-lo apenas sair disso incólume, para que pudesse fazer tudo isso de novo. Eu não queria o que ele pudesse fazer para Gracie ou alguma outra garota na minha consciência porque tínhamos deixado este filho da puta sair dessa. Trigger correu ao encontro dos outros. Fiquei na porta observando quando ele agarrou Tio Jack e puxou-o para longe dos outros. Ainda estava escuro lá fora; a única luz vinha de um único poste de rua mais perto do armazém, então eu não podia vê-los claramente. Da forma como

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Trigger estava jogando as mãos para cima agitadamente, eu pude dizer que era sério. Quando Tio Jack recuou e deu um soco na cara Trigger, eu percebi que algo grande tinha acabado de vir à tona. Que porra é essa? Tio Jack raramente deixava suas emoções ultrapassá-lo até o ponto em que ele começava a distribuir socos. Que ele estava descarregando em Trigger era ainda pior. Ele sempre teve um fraquinho por Trigger, tratavao como família. Eu não era o único interessado na conversa aquecida ainda em curso. Hawk era o principal dos homens que estavam assistindo o confronto com puro fascínio. Ele estava mais perto deles, provavelmente poderia ouvir mais do que estava sendo dito comparado ao nada que eu ouvia. Tudo o que ele ouviu não o fez mover-se para ajudar nem um nem outro. Eu duvidava de que eles queriam interferência, no entanto. Trigger não estava recuando do Tio Jack, mas ele não estava tentando se defender também. — O que está acontecendo lá fora? — Bash perguntou atrás de mim. — O que ... bem, isso pode ficar feio. — Murmurando uma maldição, ele desviou de mim e correu em frente ao estacionamento para saltar entre os dois motoqueiros. Sua voz estava crescendo enquanto ele ordenava que ambos se afastassem. — Isso não é algo que deve acontecer hoje. Temos que terminar isso antes que Tio Jack decida o que fazer com você e sua filha, Trigger. — Eu não sabia até que eu a vi, Jack. — A voz do atirador estava mais alta e eu podia ouvi-lo claramente agora. Tio Jack esfregou as duas mãos sobre o rosto duro. Sua voz ressoava para mim e eu tive que admitir que eu estava intrigado. — Você não pensou em verificar para ver se Shannon não tinha ido embora com seu filho no ventre? Que porra é essa, cara? Você é a razão pela qual ela foi embora em primeiro lugar?

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— Eu vim para casa de licença e as coisas aconteceram entre nós. Fui embora pensando que gostaria de pedir ela em casamento quando voltasse do alistamento. — Mesmo de onde eu estava eu podia ver o tormento no rosto de Trigger. — Quando voltei, um ano mais tarde do que o esperado, Shannon estava muito longe. Você disse que ela estava casada com algum idiota endinheirado e estava feliz. Quando você mencionou uma neta, eu não tinha ideia de que ela poderia ser minha. Eu achei que ela era mais jovem. E você nunca mencionou o nome dela. — Que porra o nome dela tem a ver com tudo isso? — Hawk falou pela primeira vez. Trigger deu alguns passos mais perto de Hawk. — Gracie era o nome da minha avó, e eu sempre disse a Shannon que se eu tivesse uma filha eu a nomearia em homenagem a ela. — Isso não significa que ela é sua filha. — Não. Mas daí vem a matemática. Quando é seu aniversário? Qual é o seu tipo de sangue? Eu tenho um tipo de sangue raro. Se ela tem também, então ela é minha. — Eu não sei o tipo de sangue dela, porra — Hawk se enfureceu. — O aniversário dela é em janeiro, dia doze. — Então as chances de ela ser minha acabaram de subir, — Trigger disse a ele. — Como pai de Gracie, eu passo por cima de você e Jack. Eu acabo com Harley. — Não, — Hawk balançou a cabeça. — Como o homem que vai casar com ela, eu passo por cima de todos, porra. Você pode cortá-lo e fazer o que quiser com o resto dele, mas eu acabo com ele. Eu sou o anjo da morte esta noite, não você. Não Tio Jack. Eu.

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Capítulo 10 Gracie

Enfermeiras me acordavam a cada duas horas e pela manhã eu estava me sentindo bem melhor. Mesmo querendo dar um soco na equipe de enfermagem por continuarem a me acordar. Uma adolescente com uma roupa rosa-listrada trouxe meu café da manhã, me acordando mais uma vez. Eu dei-lhe um pequeno sorriso quando ela saiu do quarto e me virei para olhar para Hawk. O sorriso desapareceu quando tudo que eu encontrei foi Raven dormindo profundamente em uma poltrona perto da janela. Um olhar para o relógio pendurado ao lado da pequena televisão na parede me disse que passava um pouco das oito horas. Eu não me lembro muito depois de a enfermeira ter me dado analgésicos na sala de emergência na noite anterior. Mesmo o exame era uma vaga lembrança. Fora a fila de enfermeiras que me acordavam durante toda a noite, eu não podia dizer muito sobre a equipe que cuidou de mim nesse tempo. Quando Hawk saiu? Onde ele foi? Meu coração começou a correr e eu me perguntei se ele tinha saído para cuidar de Harley. E se ele o tivesse... matado? Hawk realmente mataria alguém? Meu coração queria dizer não, mas meu cérebro disse algo completamente diferente. O homem que possuía meu coração ainda era um mistério completo para mim. Eu não sabia nada sobre seu passado, e mal o conhecia de todo. Eu encontrei os botões que controlavam a cama e apertei o que levantaria minha cabeça. Suspirando, peguei a bandeja sobre a mesa

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móvel que a menina de rosa me deixou. Minha garganta parecia estar tão seca quanto um deserto e havia um pequeno copo de suco de laranja na minha bandeja. Eu tinha acabado de pegar o copo e começado a levantar a tampa quando a porta se abriu e Hawk entrou com duas deliciosas xicaras de café. Seus olhos verdes de jade viajaram ao redor da sala antes de pousar em mim. A careta que ele fazia diminuiu e seus lábios se levantaram em um sorriso aliviado. — Bom dia, querida. — Ele colocou as duas xícaras na minha mesa e se inclinou para frente, pressionando um beijo na minha testa. Essa pequena carícia de seus lábios na minha pele foi o suficiente para me fazer tremer em reação a ele. Dor de cabeça ou não, eu não conseguia controlar a resposta do meu corpo a este homem. — Como você está se sentindo? — Melhor. Minha dor de cabeça não é tão intensa como foi ontem à noite. — Eu pego sua mão e dou-lhe um aperto forte. — Você esteve aqui a noite toda? — Principalmente. Eu tinha que cuidar de algumas coisas, mas depois vim direto para cá. — Outro beijo na minha cabeça e ele deu um passo atrás, oferecendo-me um dos copos. — Quando ouvi a equipe alternar turnos na estação das enfermeiras, fui em busca de um pouco de café decente. Meu estômago apertou. — Q- que tipo de coisas? Seus olhos enrugaram nos cantos e ele sorriu para mim. — Você está perguntando se eu fiz algo com Harley, baby? — Sim. Fez? — Ele riu, pegou seu copo de café e foi até a janela para sentar na cadeira extra ao lado de sua irmã. Tentei não ficar desapontada que ele não tenha escolhido o lado da minha cama para sentar para que ele pudesse estar mais perto de mim. Quando ele não respondeu me concentrei nisso, em vez de na leve picada de decepção. — Hawk?

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— Harley levou porrada e nós o deixamos com uma passagem só de ida para fora da cidade. — Ele tomou um gole de café antes de cutucar a perna de Raven com um pé. Ela resmungou algo em seu sono e virou a cabeça, mas não abriu os olhos. — Você não tem que se preocupar com ele de novo. Ele não vai voltar tão cedo. — Oh. — Eu soltei um longo suspiro, aliviada. — Você o machucou muito? Ele se inclinou para trás em sua cadeira, seus olhos enrugando novamente. — Nada que ele não merecesse, Gracie. Ah, é. Você pode me dizer qual seu tipo sanguíneo? Apenas no caso de alguma coisa acontecer, e eu precise de suas informações médicas. Eu não reclamei sobre a mudança de assunto. Eu não queria falar sobre Harley de jeito nenhum, mas precisava saber se fui responsável pela morte de um homem. — É AB negativo. É raro, por isso tenho que ter cuidado. — Eu empurrei o café para longe. Cheirava bem, mas eu não sabia se meu estômago podia lidar com isso no momento. O suco de laranja teria que servir por agora. — E o seu? — Eu sou o bom e velho O negativo. — Ele tomou um gole de seu copo e cutucou sua irmã novamente. Desta vez, ela abriu os olhos e olhou para ele. — Bom dia, dorminhoca. — Quando você voltou? — Ela resmungou, enxugando o sono de seus olhos. — Tarde. Você estava dormindo. Bash não queria mover você. Por que não vai para casa e descansa um pouco? Estamos bem aqui. Certo, Gracie? Eu balancei a cabeça. — Sim, e obrigada por ficar comigo, Raven. Eu realmente gostei disso. Bocejando, ela se levantou e cruzou a pequena sala para a minha cama. Inclinando-se sobre ela, abraçou meu pescoço com cuidado. — Você é da família, Gracie. Não foi problema. Você está se sentindo melhor?

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— Ainda estou com dor de cabeça, mas nada comparado a noite passada. — Merda, eu poderia ainda estar vendo estrelas e mesmo assim seria melhor que a dor de ontem. Raven endireitou suas costas, me deu um abraço e depois saiu. Assim que a porta se fechou atrás dela, Hawk saiu de sua cadeira e foi até o lado da minha cama em um flash. Minha frequência cardíaca começou a dobrar de velocidade e eu mordisquei meu lábio inferior enquanto olhava para o homem deliciosamente sexy inclinando-se sobre mim. Seu olhar estava com fome; seus olhos se moviam sobre cada polegada do meu rosto e, em seguida, mais para baixo. Eu estava usando um vestido do hospital que ficava folgado em mim e nada mais. Nem mesmo calcinha debaixo dela. Os lençóis e cobertores estavam puxados para cima sobre os meus seios, então eu sabia que ele não conseguia ver que meus mamilos endureceram no instante em que ele se aproximou o suficiente para que eu sentisse sua colônia picante do pós-barba. Hawk ergueu seu olhar de volta para o meu rosto e nossos olhos e encontraram. A fome diminuiu um pouco e ele apertou a testa com cuidado contra a minha. — Eu pensei que tinha perdido você na noite passada, Gracie. — Sua voz era áspera e rouca, como se estivesse tendo dificuldade em conter suas emoções. — Eu nunca mais quero passar por isso novamente. Eu levantei minha mão que estava livre do soro e acariciei meus dedos por seu cabelo loiro desgrenhado. Seu corpo inteiro estremeceu com o meu toque. Eu senti seus lábios roçarem sobre a ponta do meu nariz e fechei os olhos, saboreando a carícia suave. Ficamos assim por alguns longos minutos, sentindo a respiração um do outro, segurando um momento no tempo quando tudo parecia ter parado e havia apenas nós dois no mundo. Quando ele finalmente se afastou, havia algo diferente em seus olhos em cima de toda a fome. Determinação. — Você é minha, Gracie.

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Eu sei que você não entende como é no meu MC, mas posso ensinar tudo isso. Eu quero que você seja minha senhora. Se ele tivesse dito isso para mim há quatro meses eu teria rido até cair. A coisa inteira parecia quase arcaica de alguma forma. A etiqueta de “senhora” parecia um pouco caipira. Agora que eu sabia o que realmente significava para o clube da família de Hawk, eu fiquei além de comovida ao ouvir que ele queria que eu fosse a dele. Seu rosto parecia apertado, como se ele estivesse ansioso e eu sabia que ele estava preocupado que eu recusasse. Homem maluco. Como se eu pudesse. — Ok, — eu murmurei e sorri quando ele soltou um suspiro profundo, aliviado. — Mas só se você prometer que é meu, tanto quanto eu sou sua. — Porra, garota. Você me possui desde o primeiro minuto em que pus os olhos em você. — As mãos dele foram para cima da cama de cada lado da minha cabeça, baixando sua cabeça com seu olhar fixo em meus lábios. — Porra, eu quero tanto te beijar, baby. Mas eu sei que no segundo em que meus lábios tocarem os seus, é game over. Eu não dou a mínima que uma enfermeira possa entrar a qualquer segundo, tudo o que eu vou querer é rastejar nessa pequena cama com você e tocar cada maldita polegada de sua pele perfeita. Oh, merda. A imagem de suas palavras colocadas na minha cabeça estava fazendo o meu coração e corpo fazerem todos os tipos de coisas loucas. Meu coração realmente tremeu com a ideia de suas mãos sobre mim, enquanto minhas coxas ficaram úmidas e pegajosas com o quanto eu o queria. Profundamente dentro de meu corpo um impulso que eu só descobri recentemente pulsava para a vida. Eu desejava sua boca na minha, queria suas mãos na minha pele com um desespero que era mais que profundo. Minha boca abriu, pronta para dizer a ele que eu não me importava se uma das enfermeiras entrasse ou não. Tudo que eu queria era ele e o prazer que eu sabia que ele poderia me dar ...

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A porta se abriu sem aviso prévio e por ela entrou um homem com jaleco branco de médico e um iPad nas mãos. Hawk se endireitou lentamente, com os olhos observando o recém-chegado antes de relaxar e estender a mão. — Doc, é bom ver você. O médico levantou os olhos do iPad e sorriu para ele antes de aceitar sua mão e sacudi-la. — Hawk, como você está? — Eu ficarei melhor se você me disser que minha garota aqui está bem e pode ir para casa. — Ele piscou para mim e eu não pude evitar ruborizar, e o rosa encheu meu rosto. O médico riu e voltou sua atenção para mim. — Oi, Gracie, eu sou o Dr. Robertson. Tenho certeza de que Hawk e os outros Hannigans me indicaram. — Sim, eu ouvi algumas coisas. — Apenas de passagem, no entanto. Normalmente era por ouvir acidentalmente algo que Bash disse a Raven ou um dos irmãos do clube. Eu sabia que o Dr. Robertson, ou Doc como todos eles se referiam a ele, era o médico particular do clube. Ele cuidava das coisas que precisavam ser mantidas fora dos livros, ou assim eu acabei assumindo. Seus olhos brilharam um pouco quando ele riu. Ele não era tão velho como Jack. Eu diria que ele estava na faixa dos quarenta. Seus olhos eram uma mistura de azul e verde e seu rosto estava coberto por uma barba grisalha. Ele parecia duro, severo. Como se ele não aceitasse porcaria de ninguém. Eu percebi que já que ele é o médico do MC, essa seria uma característica que ele precisaria em abundância. — Imagino. Como você está se sentindo esta manhã? Seu prontuário diz que você tem uma concussão grave, de modo que sua cabeça deve estar latejando. Eu não aceno com a cabeça porque sabia que fazer isso faria minha dor de cabeça voltar de novo. — Não é tão mau como foi ontem à noite, mas, sim, está latejando. — Você vai sentir dor de cabeça por um tempo. Pelo menos mais alguns dias, mas deve começar a desaparecer daqui a uns três dias e

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sumir completamente logo depois. — Ele puxou uma caneta com laser do bolso do jaleco e brilhou-a primeiro no meu olho direito e depois no esquerdo. Eu estava tão feliz por não ter tentado comer do café da manhã na minha bandeja. Se eu tivesse, teria esvaziado tudo sobre ele, com certeza. Náusea rolou no meu estômago e eu suguei uma respiração profunda depois de respirar fundo na esperança de acalmar meu estômago. Algo forte e pungente acenou debaixo do meu nariz e a náusea desapareceu rapidamente. Eu empurrei para trás e Doc me mostrou um algodão embebido em álcool que ele tinha usado. — Vou deixar você ir para casa, mas você precisa ir direto para a cama quando chegar lá. Não saia da cama a menos que seja para o banheiro, e eu quero que você tenha alguém para ajudá-la em caso de tontura. Apertei os olhos sobre ele. — Quando posso voltar ao trabalho? — Eu acabei de começar em ambos empregos. Não podia me dar ao luxo de faltar depois de apenas alguns dias. Seus olhos estavam sérios quando ele encontrou meu olhar. — Acho que você precisa de pelo menos uma semana para voltar, e mesmo assim com calma. Os abalos são complicados, Gracie. Você pode pensar que está se sentindo melhor, mas se não descansar pode haver consequências terríveis. — Ele se virou para Hawk. — Certifique-se de que ela vá direto para a cama e não se movimente muito. Vou prescrever alguns analgésicos para ajudá-la a passar por esta semana. Amanhã eu passo para fazer um check-in e ver como ela está progredindo. Mas estou te avisando, se eu achar que ela não está bem, ela terá que voltar. Hawk acenou com a cabeça solenemente. — Eu vou garantir que ela melhore, Doc. — Bom. Vou avisar a enfermeira que você pode ir e pegar a papelada para preencher. — Ele apertou a mão de Hawk novamente e, em seguida, sorriu para mim. — Vejo você amanhã, Gracie.

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Dei-lhe um pequeno sorriso e o observei sair do meu quarto. Quando a porta se fechou atrás dele, eu soltei um suspiro frustrado. — Aggie vai me substituir, eu sei disso. — Aggie não vai fazer isso. Ela gosta muito de você. Se você realmente quiser manter esse maldito trabalho, eu vou falar com ela e contar o que está acontecendo. Não é grande coisa, baby. — Ele cruzou os braços sobre o peito. O alívio era tanto que eu teria sentido tontura se não estivesse deitada. — E você? — Ele balançou a cabeça e eu poderia tê-lo beijado se eu conseguisse alcança-lo naquele momento. — Obrigado, Hawk. Você não sabe o quanto eu aprecio isso. Ele não retornou meu sorriso. — Eu ainda não estou feliz sobre você trabalhar lá, Gracie. Prefiro que você não trabalhe e se concentre só na escola. E se eu soubesse que você não tentaria me chutar da cama, eu diria o que eu realmente quero. Que você me deixe pagar pela faculdade de direito e cuide de tudo o que você precisa ou quer. — Quando eu olhei para ele, seus lábios se contraíram com diversão cautelosa. — Como eu disse, se eu soubesse que você não iria me chutar, eu totalmente ofereceria isso. Então, eu não vou. Por agora. — Eu não quero que você cuide de mim. Eu preciso ser capaz de fazer isso sozinha. — Eu sei que ele não entendia isso, mas era importante para mim. A situação com a minha mãe... eu me senti como se a única razão por ela nunca ter deixado o meu pai fosse porque ela queria o dinheiro que vinha com o nome Morgan. Não para ela, eu duvidava que fosse o motivo. Não, eu tinha certeza que ela queria para mim. Eu desejo ter dito a ela que o dinheiro nunca foi importante para mim, nem antes nem agora. Tudo que eu sempre quis, tudo o que já me fez feliz enquanto crescia, começava com estar com ela. Agora ela se foi, e eu precisava provar – mesmo que só para sua memória – que eu podia cuidar de mim mesma sem um homem fazendo isso por mim. Eu esperava poder um dia fazê-lo entender isso.

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— Gracie. — Ele suspirou e balançou a cabeça. — Baby, ser minha significa que eu tenho permissão para cuidar de você. Não significa que você é fraca. Não é isso de jeito nenhum, querida. Você está cuidando de mim também. É como uma parceria. Partilhamos tudo: as alegrias, as dores, os encargos e os êxtases. Assim, me deixar ajudá-la com a escola não é nada para se envergonhar. Chupei meu lábio inferior em minha boca. Suas palavras fizeram meu coração torcer com tanto amor por ele, mas eu ainda não podia aceitar seu dinheiro. — Eu quero todas essas coisas, Hawk. Eu apenas não posso deixá-lo pagar pela faculdade de direito. Sinto muito.

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Capítulo 11 Hawk

Tentar manter Gracie na cama e feliz não foi uma tarefa fácil. Ela se entediava facilmente deitada na cama com apenas a TV para lhe fazer companhia. Na sexta-feira ela estava no limite e Doc ainda estava fazendo-a ficar na cama. Passei todo o meu tempo livre apenas deitado ao lado dela. Nós conversamos, conhecemos melhor um ao outro, enquanto eu a mimava com massagens nas costas e doces. Se tivesse sido qualquer outra pessoa eu estaria escalando as paredes com o meu próprio tédio, mas esta era a minha Gracie. Eu gostei de nosso tempo juntos. Porque eu tinha prometido a ela que eu faria, eu liguei para Aggie e contei o que estava acontecendo. Ela sabia de tudo antes mesmo de eu abrir a boca. Tio Jack tinha contado a maior parte, obviamente deixando de fora a parte onde Harley encontrou o anjo da morte e estava agora em uma banheira de gosma líquida que havia sido eliminada sabe se lá onde graças a alguns caras que sabiam tudo sobre ácidos. Eu não me arrependo de mentir para Gracie sobre o que aconteceu com Harley. Foi um negócio do clube, uma decisão de acabar com ele. Todos votaram, e quando se tratava de acabar com um irmão era tudo ou nada. Depois de Westcliffe ter virado o clube de cabeça para baixo quando se rebelou e machucou tanto Flick, fazendo-a perder o bebê do meu irmão mais velho, o clube não dava mais segundas chances. Só trazia mais arrependimentos mais tarde, como ter Jet trancado na prisão por bater no desgraçado até a morte.

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Aggie apoiou Gracie, perguntando se havia alguma coisa que ela podia fazer. Tudo que eu queria era que ela prometesse manter o trabalho da minha menina para quando ela voltasse. Aggie sendo Aggie, me assegurou de que assim seria. Eu não gosto disso, mas por enquanto eu não diria mais nada sobre Gracie trabalhando em dois empregos. Eu estava esperando que tio Jack cuidasse disso para mim. Ele vem para o bar todas as noites para perguntar sobre ela, e esta noite eu queria conversar com ele e Bash. Quando o vi caminhar através da porta com o nosso presidente do clube, acenei para os dois do final do bar. Ambos pegaram um banquinho e eu coloco uma cerveja em frente de cada um. — Eu tenho algo que quero conversar com vocês. Bash estreitou os olhos antes de tomar um longo gole da garrafa marrom. Quando ele a colocou para baixo, ele levantou uma sobrancelha, esperando que eu falasse. — Eu quero que o clube pague a mensalidade da escola de direito da Gracie. — Nenhum deles piscou, então eu continuei. — Eu sei que ela é toda sobre pagar sozinha, e ela vai. Quando ela já tiver seu diploma. — Eu estou ouvindo, menino. — Jack tomou um gole, seus olhos examinando meu rosto. — Ela pode nos pagar sendo nossa advogada. Todos sabemos que Jenkins está envelhecendo. Ele está até falando em se aposentar em alguns anos. — Jenkins era o advogado do clube. Se um de nós tinha problemas era ele quem nos representava. Se necessário aconselhamento jurídico, ou alguém para elaborar alguma merda legal, ele ficava a apenas um telefonema de distância. Ele era um maldito bom advogado, nos mantinha fora da cadeia tanto quanto possível e nós o pagávamos bem. — Então, o que você acha? — Eu perguntei a eles. Tudo que eu precisava era seu ok para que eu pudesse começar a tentar convencer Gracie de que esta era uma ótima ideia. Ela poderia continuar a trabalhar no Tio Jack fora de seu horário de aula para que ela pudesse ter sua

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independência, já que é tão importante para ela, mas ela não estaria trabalhando até a morte em dois malditos empregos. Após uma longa pausa, Bash acenou com a cabeça. — Sim, eu gosto dessa ideia. Podemos confiar em Gracie. Ela é inteligente, e enquanto estiver trabalhando, Jenkins pode mostrar o serviço, ensinar os seus segredos comerciais. — Ele sorriu, parecendo se aquecer com a ideia mais e mais a cada segundo. — Vou até fazê-lo oferecer um emprego. Ela pode ajudar a gerenciar o escritório ou algo assim. Vai ajudar com a escola... Jack sorriu. — Sim, garoto. Ideia inteligente. Agora, como é que você vai fazê-la aceitar a oferta? Eu fiz uma careta, essa era a parte mais difícil. Gracie pensaria que eu estava por trás de tudo isso, e não seria mentira. Eu ia colocar muito dinheiro nisso. Não era como se eu não tivesse de sobra. Eu não tinha aluguel, sem grandes contas a pagar, e nossas corridas pagavam extremamente bem, para não mencionar o dinheiro que eu recebia da minha parte no bar. Eu poderia pagar por sua taxa de matrícula e qualquer outra coisa que ela pudesse querer. Bash esvaziou sua cerveja e jogou a garrafa na grande lata de lixo atrás de mim. — Eu sei exatamente como fazê-la concordar: Jenkins. Ele pode dizer a ela que ele quer patrociná-la ou alguma merda assim. Que ele precisa de um substituto confiável para quando se aposentar e a universidade recomendou várias possibilidades. O nome dela estava no topo da lista. Ela teria suas mensalidades pagas, um trabalho onde ela possa aprender o que precisamos que ela saiba mais tarde, e ter dinheiro entrando para qualquer outra coisa que ela precise. Problema resolvido. — Porra, você é um bastardo brilhante. — Eu dei um soco no braço dele, uma nova leveza enchendo meu peito. Se isso funcionasse, eu não teria que me preocupar com a Gracie trabalhando até a morte. — Então, porque esse espertinho ainda não pediu Raven em casamento?

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Algo brilhou nos olhos do presidente do clube, me avisando que a minha pergunta atingiu um nervo. — Tenho minhas razões. Não apresse, irmão. Vou casar com ela, nem que eu precise arrebentar minhas bolas para isso. Eu não era o único a perguntar sobre o casamento com minha irmã. Spider perguntou mais de uma vez, e eu sei que Colt e Raider reclamaram com ele sobre isso. Eu não estava preocupado. Sabia que ele amava Raven, e ele provavelmente tinha suas razões para esperar. Eu suspeitava que tinha algo a ver com Jet, mas eu não ia abrir a boca sobre isso mais do que eu já tinha. — Igreja vai começar logo. Vou ligar para Jenkins assim que acabar, — Bash me assegurou. — Vou avisar Raven para fazer uma conta apenas para Gracie. Certifique-se de que ela não saiba de onde o dinheiro está vindo. A Igreja passou depressa. Tudo estava tranquilo no momento. Com exceção de algumas corridas de proteção que seriam feitas durante a próxima semana não havia muita coisa acontecendo. Mesmo Samson estava quieto, o que me deixou ansioso esperando pelo seu próximo movimento. A maior coisa que tivemos que falar era sobre a soltura de Jet em três semanas. Meu irmão estava saindo em liberdade condicional e precisávamos recebê-lo de volta como o herói que ele era. Faríamos algo aqui no bar, e então poderíamos ir para o clube mais tarde, de modo que meu irmão pudesse cuidar de sua abstinência de sexo. Raider tinha falado com todas as ovelhas e elas garantiriam que meu irmão tivesse um “Seja bem-vindo de volta” do qual ele definitivamente se lembraria. Depois da reunião metade dos caras saíram, enquanto os outros ficaram para se embebedar. Eu fechei a noite quando Willa entrou para trabalhar às oito. Ela e meus irmãos mais novos cuidariam do lugar. Eu queria chegar em casa e rastejar na cama com Gracie.

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Sua cabeça não estava doendo mais e Doc disse que ela poderia deixar o nosso quarto amanhã. Eu tinha certeza que ele só a fez ficar na cama por tanto tempo porque sabia que ela era tão teimosa que voltaria a trabalhar logo que ele lhe desse o ok para levantar. Motivo por eu estar grato pelo velho filho da puta. Em casa eu peguei uma cerveja na geladeira e fui até a sala. Raven estava estirada no sofá com Lexa sentada no chão na frente dela. Eles estavam assistindo algum tipo de filme animado na Netflix que tinha toda a atenção de Lexa. Quando passei, Raven assentiu com a cabeça em saudação, mas não fez qualquer outra coisa. Provavelmente com medo de distrair Lexa. Eu sorri e parei nas escadas por um longo momento para observálas. Minha irmã nunca foi do tipo maternal até aquela menina cair em nossas vidas. Ela aceitou a maternidade como um pato aceitava a água. Era natural. Lexa a adorava e eu sabia que com o bebê que ela carregava seria assim também. Balançando a cabeça, subi as escadas e fui para o meu quarto. Ainda era cedo, mal após as nove. Quando eu abri a porta, Gracie estava estirada sobre a cama, o controle remoto apontado para a tela plana na parede oposta em sua mão enquanto passeava pelos canais. Encostei-me no batente da porta, enquanto ela olhava para a televisão, a boca pressionada em uma linha dura. Eu poderia dizer que ela estava entediada. Só observá-la assim mexeu com minha cabeça e meu peito, para não mencionar o meu pau. Olhar para ela me encheu com uma mistura de paz, amor, e necessidade tão forte que era uma maravilha eu não ter uma marca permanente do meu zíper no eixo do meu pau. Eu queria deitar ao lado dela e apenas segurá-la. Isso era exatamente o que tinha feito durante toda a semana, mesmo que eu quisesse fazer muito mais. Desde aquele maldito primeiro beijo foi quase impossível manter as minhas mãos e os lábios para mim mesmo, mas eu tinha. Na maior parte. Um beijo aqui e ali, um beijo na

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boca ou uma pincelada de lábios em alguma parte aleatória do meu corpo me manteve à beira da insanidade por dias. Eu descobri que eu amo seus lábios em mim. Apenas desejava que aqueles beijos suaves de borboleta viajassem para outras partes do meu corpo. Tal como o meu peito, ou melhor ainda, meu pau dolorido. — Quer assistir a um filme comigo? — Perguntou ela, sem tirar os olhos da tela. Tentei não fazer careta. — É outro romance? — Eu assisti mais disso na última semana do que na minha vida inteira. Ok, porra. Então, eu nunca tinha visto um desses antes desta semana, mas malditos dez filmes devem me absolver de todos os meus pecados passados e me fazem elegíveis para a santidade. Ela riu. — É uma comédia. — Isso não respondeu à minha pergunta, baby. Uma comédia ainda pode qualificar como uma comédia romântica. — Algo que eu descobri muito rapidamente quando assisti A proposta domingo à noite. Claro, aquela cadela velha Betty White me fez rir, mas aquela merda era pura comedia romântica. Olhos cor de bourbon rolaram e ela sentou-se no meio da cama. — Certo, tudo bem. Vou te dar duas opções. Amor a Segunda Vista está valendo. É engraçado e tem Sandra Bullock nele. É uma das minhas favoritas. — Então tem A proposta e Um sonho possível. Ambos com Sandra Bullock também. Era uma aposta segura dizer que minha mulher gostava muito dessa atriz em particular. Eu não tinha problema nenhum com ela, apenas que a maioria de seus filmes eram malditas comédias românticas. — Passo. Qual é a segunda opção? — Me movi pelo quarto, fechando e trancando a porta atrás de mim.

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Um rubor encheu as bochechas de Gracie e ela virou a atenção para a televisão. — Nove Semanas e Meia de amor também está valendo. Eu sou uma grande fã de Mickey Rourke. Chupei uma respiração profunda quando meu pau endureceu de repente. Porra. Ah, porra, porra. Minha garota queria que eu me sentasse para assistir o mesmo que pornô leve com ela? Porra. Ela estava tentando me levar ao limite? Porque era o que com certeza aconteceria se eu tivesse que assistir esse filme em particular. Um homem não poderia ter tanta força de vontade, caramba. Eu estava segurando a minha pelas unhas, e meu aperto estava rapidamente escorregando. — Essas são minhas únicas escolhas? — Eu fui capaz de perguntar em uma voz rouca de desejo reprimido. — Sim. Esses são os dois únicos que estou um pouco interessada em assistir. — Ela mordeu o lábio e finalmente encontrou meu olhar. — Então, o que você gostaria de ver comigo? Eu queria passar por duas horas de Sandra Bullock fazendo Deus sabia o que ou duas horas de Mickey Rourke fazendo sexo com Kim Basinger? Um poderia apodrecer meu cérebro enquanto o outro ia me deixar com bolas azuis. Puta que pariu. — Nove Semanas e Meia de amor seja então. — Eu aceitaria a dor em minhas bolas sobre o tédio entorpecente que um romance causaria qualquer dia desses. Oh, merda. Espere. Nove semanas e meia de amor também não é uma comédia romântica? Mesmo com sexo, era a mesma coisa. A espertinha me enganou. Rindo, eu tirei meu uniforme de trabalho antes de subir na cama ao lado dela. Enfiando-a perto para o meu lado, eu alcancei a capa do filme. Senti seu sorriso contra o meu peito enquanto ela apertou um pequeno beijo no meu coração. Meu pau duro contraiu no meu jeans e eu mordi de volta uma maldição quando ela se aconchegou ainda mais contra mim.

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Ou eu iria realmente lamentar isso, ou apreciar de verdade. Porra, eu esperava que fosse o último. Quinze minutos mais tarde, nós ainda não tínhamos chegado a quaisquer cenas de sexo e eu já estava arrependido. Gracie estava traçando a ponta dos dedos suaves sobre meu peito, bem em cima do meu coração. Eu duvidava que ela sequer percebeu que fazia isso. Eu tentei ignorar, mas parecia tão bom que depois de alguns minutos, eu percebi que ela mantinha o mesmo padrão traçando uma e outra vez. Um coraçãozinho. Cristo, ela sabia como me fazer desmoronar sem sequer tentar. Agarrando seus dedos, eu os levantei aos meus lábios e beijei cada um. Seus olhos ficaram na televisão, mas ela não conseguiu conter um pequeno suspiro. Ela se contorceu contra mim, levantando uma perna para embrulhar sobre as minhas e mexeu até que ela parecia mais confortável. Seu joelho por pouco passou sob o meu pau latejante. Quando ela mexeu outra vez, eu quase enlouqueci ali mesmo ao sentir o calor irradiando através de suas calças de pijama finas e sua buceta pressionada contra a minha coxa. Ah, merda. Eu estava em sérios apuros aqui. Eu estive bem pela semana toda, mantendo minhas mãos para mim. Me custou muito sono e vários banhos de água fria. Eu quase gozei na calça outro dia no serviço depois de deixá-la na minha cama a poucos minutos depois de beijá-la. Meu corpo estava preparado e pronto para fazer esta menina minha. Se ela não estivesse doente, se a cabeça ainda não estivesse incomodando e Doc não tivesse me dito que ela precisava ficar imóvel e descansar tanto quanto possível, eu já teria reivindicado o que era meu. Soprando um longo suspiro, eu pressionei um beijo no topo de sua cabeça e tento pensar em outra coisa senão o pulsar latejante vindo do meu apêndice favorito.

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Gracie levantou a cabeça. Empurrando algumas mechas de cabelo do rosto dela, ela me deu um olhar preocupado. — O que está errado? Eu dei-lhe um sorriso sexy. — Errado não tem nada, baby. Apenas dolorido por você. — Suas bochechas se encheram de rosa, mas ela não baixou os olhos. Minha mulher estava ficando mais ousada, algo que eu estava seriamente amando. Eu não queria ela se afastando dessa parte do nosso relacionamento. A ponta de sua língua escapou e umedeceu seu lábio inferior. — Eu sofro por você também. Se eu achava que era difícil antes, eu estava errado. Tão malditamente errado. Minhas calças jeans de repente pareciam muito pequenas com o meu pau pressionado no zíper através da minha cueca. Minhas bolas apertaram e eu senti a ponta do meu pau doendo umedecendo com pré-gozo. O pensamento dela doendo por mim mexia com meu cérebro. Eu odiava a ideia de ela precisar de mim e ficar insatisfeita. Penteando meus dedos através de seu cabelo, eu levantei minha cabeça para escovar meus lábios com ternura sobre os dela. — Eu posso te ajudar com isso, — eu respirei contra sua boca. — Tudo o que você tem a fazer é pedir e eu vou cuidar de qualquer coisa que você quer ou precisa. Seus olhos de Bourbon envelhecido brilharam e sua respiração seguinte veio com um soluço. Deixando minhas mãos roçarem pelas suas costas

através

do

material

suave

de

seu

pijama,

exortei-a

cuidadosamente para mais perto. — Se você não está pronta para o sexo, eu estou bem com isso. Podemos ir tão rápido ou tão lento quanto você quiser. — Eu esfreguei meu nariz em seu pescoço e acariciei seu ouvido antes de sugar seu lóbulo. Seus dedos tremiam contra o meu estômago e eu juro que meu pau engrossou ainda mais em antecipação por seu toque. — Mas não

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temos que ter relações sexuais para que eu faça você se sentir bem, baby. Eu posso te beijar ... — Eu dou um beijo em seu pescoço e a sinto tremer. — Tocar você ... — Meus dedos caíram sobre seu seio, esfregando o polegar sobre um mamilo já duro. — Chupar você ... — Eu lambi seus lábios antes de empurrar minha língua profundamente em sua boca doce e quente. Quando me afasto, nós dois estamos respirando pesadamente e seus olhos se fecharam. — Eu quero tanto lamber você, Gracie. — Eu quis sussurrar essas palavras, mas saíram como um grunhido e mais do que um pouquinho desesperado. Olhos castanhos cheios de paixão se abriram e eu podia ver minha própria necessidade espelhada em suas profundezas quentes. Sua boca se abriu, sua respiração saindo em pequenos suspiros carentes. Eu não pude resistir beijar aquela boca novamente e nem tentei enquanto chupava seu lábio inferior em minha boca. Porra, era tão bom. Só me fez querer descobrir qual era seu gosto mais embaixo. Meu poder sobre ela aumentou. Um gemido suave a deixou e ela se arqueou na minha mão. — H-Hawk, — ela respirou o meu nome quando se afastou. — Por favor… Eu pressionei meus lábios em sua mandíbula. — O que, baby? Eu preciso das palavras. Diga-me o que você quer. — Tanto quanto eu a queria, queria que isso acontecesse, eu precisava que ela me dissesse exatamente o que queria para que eu soubesse que ela não se arrependeria mais tarde. Gracie respirou fundo e lambeu os lábios inchados novamente. — Eu quero ... — Ela piscou e balançou a cabeça quando uma cena do filme se tornou intensa. Porra, eu desejei estar fazendo aquilo com Gracie. — Eu quero que você me beije, me toque, me lamba. Eu quero tudo isso e muito mais. — Sua mão trêmula cobriu a minha em seu seio, apertando meu toque. — P-por favor? — Ela sussurrou quase como se estivesse com medo que eu dissesse não.

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Como eu poderia? Passando para as minhas costas, eu a puxei para cima de mim. Seus lábios já estavam buscando os meus. O calor queimando através de seu pijama era quase escaldante quando pressionado contra a minha virilha por baixo da calça. Eu mal podia esperar até descobrir de onde vinha o calor e prova-la lá. Eu queria levar as coisas devagar, no entanto. Ela merecia lento e suave. Eu nunca fui assim com uma mulher. Desde que eu comecei a me interessar por meninas, eu tinha uma buceta na mão a qualquer momento que eu quisesse. Não importava se eu era lento, suave, ou atencioso com elas. As ovelhas do clube ficavam felizes por apenas puxar o meu pau para fora. Com Gracie era um território novo para mim, então eu acho que isso era uma primeira vez para nós dois. Os quadris de Gracie se deslocaram, e sua buceta estava esfregando direto sobre o meu pau dolorido. Por alguns segundos eu vi estrelas piscando atrás de minhas pálpebras fechadas. Porra. Isso era tão bom pra caralho. Mas se eu quisesse durar mais que dois minutos, não podia deixá-la se mover assim. Algumas fricções mais inocentes como essa e eu acabaria pulverizando minha cueca como um rapaz inexperiente de quinze anos de idade. Agarrando seus quadris com as duas mãos eu lancei-a de costas e apertei suas coxas ao abri-las. Oh merda, essa era uma ideia tão ruim. Agora, ela se espalhou ainda mais para mim, e me senti tão bem por apenas estar ali com ela assim. Meu pau se contorceu contra sua vagina quente e nós dois gememos com enorme prazer. — Tenho que despir você, baby. Eu já estou perdendo minha cabeça. — Eu beijei o meu caminho pelo seu pescoço e peito, tanto quanto sua camiseta permitia. Meus dedos procuraram a bainha da camiseta do pijama de algodão e eu me afastei para trás por tempo suficiente para tira-lo de cima dela.

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Olhar para ela de peito nu tirou todo o oxigênio dos meus pulmões por um minuto. Porra, ela era perfeita. Pele cremosa. Seios que eram um pouco maiores que minha mão. Mamilos com uma cor suave de algodão doce rosa. Porra, eu amo algodão doce rosa. Em seu estômago, apenas algumas polegadas acima do umbigo, estava uma única sarda que se destacava em toda a sua pele sem mácula. Chupei

uma

respiração

instável

e

deixei

meus

dedos

memorizarem cada polegada quadrada que meus olhos estavam festejando. Eu assisti com fascínio quando arrepios apareceram onde eu toquei. Minha mulher me olhava através de seus cílios abaixados, seus dentes brancos afundando profundamente em seu lábio inferior bembeijado e um blush suave aquecendo suas bochechas. Mesmo quando eu tiver oitenta anos, eu vou me lembrar deste momento, eu pensei. Nada jamais tiraria essa memória de mim. Nada. Engolindo em seco, eu abaixei a cabeça e beijei todos os lugares que eu tinha acabado de tocar. Gracie tremeu e arqueou contra a minha boca. Quando ela tentou envolver os braços em volta de mim, me segurando contra ela, eu desbloqueei suavemente os braços e os segurei em seus lados para que eu pudesse continuar a minha festa. Parecia que eu tinha apenas começado quando eu cheguei ao topo de suas calças de pijama. Eu mergulhei minha língua em seu umbigo enquanto meus dedos levantaram a cintura e puxavam as calças dela, calcinha e tudo. Assim que eu descobri sua buceta, rosnei de prazer quando o aroma de seu desejo encheu meu nariz. Suas coxas brilhavam com sua necessidade líquida por mim, seus lábios encharcados com seu creme com cheiro doce. Jogando o pijama por cima do meu ombro, eu me sentei em minhas panturrilhas, tirando fotografias mentais de sua bela buceta. Um dia, eu prometi a mim mesmo. Um dia, vou aproveitar para gravar esta criatura bonita para que eu pudesse mostrar a ela o que eu vi agora. Para que ela pudesse ver o sortudo que eu era.

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— H-Hawk, — ela sussurrou meu nome entrecortado quando eu abaixei a cabeça e passei a língua na parte inferior de sua fenda até o topo. Seu gosto explodiu na minha língua e eu descobri o que era se tornar um viciado instantaneamente. Puta que pariu, ela tinha gosto de céu. Eu precisava de mais. Eu precisava de tudo, até a última gota. — Oh Deus! — Ela gritou e empurrou seus dedos no meu cabelo, me segurando contra ela. Não havia necessidade. Eu não iria a lugar nenhum, até que eu a fizesse gozar em minha língua e eu pudesse lamber cada gota de creme que ela me dava.

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Capítulo 12 Gracie

Eu estava morrendo. Não havia outra maneira de descrever o que estava acontecendo com meu corpo. Hawk estava me matando com prazer. Sua língua estava fazendo coisas impertinentes e sujas em um lugar que ninguém além de mim já tocou. Mãos fortes pressionavam minhas coxas mais e mais enquanto sua língua circulava meu clitóris com golpes fortes. Com cada pincelada da ponta de sua talentosa língua sobre o feixe de nervos, mais e mais líquido inundava minha abertura. Meu coração estava batendo longe, fazendo meu peito tremer com força. Eu não conseguia respirar, não conseguia pensar além do quanto eu amava tê-lo lambendo lá. Era uma doce tortura, eu sabia que não sobreviveria para o resultado final. Senti a ponta de um de seus dedos esfregando o exterior da minha entrada e gemi seu nome. Apenas a provocação da possibilidade de ele me enchendo lá com o dedo longo e largo me deixou tonta com uma necessidade que eu não conseguia explicar racionalmente. Eu queria ser preenchida por ele como uma pessoa se afogando ansiava por ar. Cílios loiros levantaram, revelando o desejo que iluminava aqueles olhos verdes de jade. As bordas de sua boca levantaram em um sorriso com fome enquanto me observava desmoronando por ele. Eu estava tão perto, mas eu não tinha ideia do que eu estava vindo. Fim. Minha morte. Sim, muito provavelmente a minha morte. E como a pessoa louca em que ele estava me transformando, eu estava pronta para isso.

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Toda a sua mão segurou meu sexo enquanto sua boca continuou a atacar a droga do meu clitóris. Seus dedos indicador e anular espalharam meus lábios quando ele empurrou seu dedo médio dentro de mim. Um golpe de seu dedo dentro de mim era como dar início a uma detonação, fazendo com que todo o meu mundo explodisse em volta. Paredes internas que nunca foram tocadas, nunca foram esticadas, estavam sensíveis por serem invadidas e convulsionaram com puro prazer de seus dedos talentosos. Meu corpo apertou enquanto flashes de luzes e estrelas percorriam minha visão. — O-oh Deus, — eu gemi. — H-Hawk. Ele levantou a cabeça um pouco e me observou quando eu tive meu primeiro orgasmo. Ter aqueles olhos famintos em mim enquanto eu experimentava algo tão incrivelmente erótico tornou tudo ainda mais intenso. Oh Deus, é tão bom. Eu não tinha certeza de quanto tempo passou até que meus músculos relaxaram eu abri meus olhos. Merda, eu sequer me lembro de fechá-los. Encontrando o olhar de Hawk, meu sexo parecia pegar fogo mais uma vez enquanto eu o observava lamber o meu desejo de seus lábios e gemer como se fosse o seu sabor favorito de sorvete. — Porra, você é tão bonita, Gracie. — ele rosnou e mudou o meu corpo para pressionar seus lábios nos meus. Eu senti o gosto da minha libertação em sua língua quando ele empurrou na minha boca e fiquei surpresa de gostar. O meu gosto era assim? Tão doce quanto o mel? O beijo terminou cedo demais. Hawk ficou de pé rapidamente e começou a retirar suas roupas. Sua camisa sequer tinha caído do outro lado da sala onde ele descuidadamente a jogou, e ele já estava tirando a calça e cueca. Meus olhos foram atraídos instantaneamente para o seu abdômen inferior. Oh, bondade. O homem era um maldito deus; não havia outra maneira de explicar. Por que mais ele seria tão maravilhosamente bem-dotado? Sua

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ponta era grossa e de uma cor rosa, o eixo longo com veias azuis e roxas que pareciam pulsar com cada respiração dele. Um pouco mais embaixo, seus testículos eram redondos e apertados. Eu queria estender a mão e tocá-lo, para ver se o líquido brilhante pingando da ponta era tão grosso e quente como o meu próprio desejo parecia. Eu queria lambê-lo como ele me lambeu, a minha boca aguando enquanto eu me perguntava se o gosto dele era tão doce como o meu foi. Como se ele pudesse ver a necessidade em meus olhos, ele pegou minhas mãos e beijou cada palma. — Eu quero que você me toque tanto quanto você quiser. Mas um golpe de seus dedos sedosos para baixo do meu pau e eu subo como fogo de artificio, baby. Mais tarde você pode tocar, provar, e sugar tudo o que quiser. Agora eu preciso estar dentro de você ou vou enlouquecer. Todo o ar deixou meus pulmões em uma corrida quando senti minha

entrada

inundar

com

a

necessidade

por

esse

homem

perversamente delicioso. Eu pensei que quando chegasse a hora de perder minha virgindade, eu ficaria com medo. Depois do que quase aconteceu naquela festa de fraternidade todas aquelas semanas atrás, eu tinha certeza de que algo assim me faria gritar de terror. No entanto, lá estava

eu,

completamente

nua

com

minhas

coxas

abertas

desenfreadamente, enquanto o homem mais bem masculino que eu já vi olhava para mim como se estivesse prestes a me comer viva. Eu não estava com medo e nem nervosa.

Eu queria Hawk

Hannigan mais do que eu sempre quis algo na minha vida e eu sabia que ele nunca me machucaria. Eu estava segura aqui nos braços deste homem. Ele já tinha provado para mim que ele sempre me protegeria, cuidaria de mim. Seu corpo forte e duro cobriu o meu com ternura na cama que compartilhamos a meses. O calor irradiando de seu corpo me queimou, mas eu adorei. Seus dedos tremiam um pouco enquanto ele abria minhas coxas

ainda

mais,

como

se

estivesse

realmente

nervoso.

Esse

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pensamento trouxe um pequeno sorriso aos seus lábios e ele abaixou a cabeça para me beijar suavemente. — Serei um pouco egoísta aqui, Gracie. — Seus lábios se arrastaram pela minha clavícula enquanto seus dedos encontraram meu clitóris mais uma vez e rapidamente me deixaram boba. — Eu quero sentir você, sentir você toda quando eu a fizer gozar neste primeiro momento. Juro para você que estou limpo ou eu jamais pensaria nisso. — Lábios quentes deslizaram sobre um mamilo quase dolorosamente apertado, acalmando a ponta dolorida. Eu não perguntei. Tudo que eu queria era ele dentro de mim, me enchendo como se eu estivesse destinada a ser preenchida. Uma mão acariciou o meu corpo, as pontas dos dedos deixando um rastro de arrepio do meu ombro para baixo até meu quadril. Eu não conseguia tirar os olhos do seu pau quando ele agarrou seu eixo em uma mão e esfregou a ponta em forma de cogumelo sobre minhas dobras úmidas. — S-sim, — eu gemi. — Por favor. Isso é tão bom. — Vai ser tão bom quanto eu puder, — ele rosnou, posicionandose na minha entrada e empurrando para a frente um pouco. Observei com fascínio quando a ponta desapareceu e minha abertura inundou ainda mais, facilitando sua entrada. Polegada por polegada, ele foi para a frente, me esticando deliciosamente. Eu esperava que doesse, mas tudo que eu sentia era uma leve queimação quando ele me encheu, e eu o queria muito para me preocupar com esse leve desconforto. Observei aturdida quando ele se tornou um só comigo. Me vi subir de tanto prazer, e eu estava começando a me contorcer, querendo-o em todo o caminho, querendo que ele tocasse cada polegada do meu ser interior, tanto quanto ele estava tocando minha pele. Suor estourou em seu peito duro e escorreu pelo seu estômago definido. Cada expiração soou como se ele estivesse rosnando e isso me excitou ainda mais. Eu amava o jeito que ele estava me esticando, a forma

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como o meu sexo continuou chupando-o mais fundo, como se tivesse uma mente própria e soubesse que este homem pertencia exatamente onde ele estava ... Hawk parou tão de repente que eu deixei escapar um pequeno gemido em protesto. Por que ele estava parando quando eu estava me sentindo tão bem? Levantando meus olhos eu encontrei uma mandíbula apertada, seus olhos selvagens com paixão. — Qual o problema? — perguntei. Fiz algo errado? Eu era ruim nisso? Ele não gostou? — Só... deixando você... se acostumar... — ele murmurou. — Não quero machucar... você. Eu poderia ter só achado que eu estava apaixonada por Hawk até então, mas naquele momento eu sabia com certeza que eu estava. Meu coração verdadeiramente, completamente, para sempre, pertencia a este homem e eu queria ser correspondida. Se ele estava se segurando assim, quando eu podia ver que estava lhe custando muito para fazê-lo, então ele deve me amar também. Certo? — V-você não está me machucando, — eu assegurei e beijei seu peito umedecido com suor. — Por favor, Hawk. Eu preciso de você. Todo você. Encha-me com a sua espessura. Seus olhos se fecharam e ele mordeu uma maldição que descreveu exatamente o que estávamos fazendo... Não, eu pensei quando ele se movimentou apenas um pouco mais profundo e encontrou a barreira que eu poderia dar a uma só pessoa. Não, definitivamente isso não é foder. Isso é fazer amor. Hawk está fazendo amor comigo. Quando a ponta roçou a minha virgindade, eu deixei escapar um pequeno

grito,

pela

primeira

vez

me

sentindo

verdadeiramente

desconfortável. Não era doloroso, mas definitivamente não era o prazer de entorpecimento mental que eu tinha experimentado até então. Ele parou de novo e eu podia sentir o quanto ele estava tenso por mim. O homem estava prestes a explodir.

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Mordi o lábio enquanto balançava seus quadris um pouco de lado. Ele tirou a minha mente do breve desconforto e meu corpo começou a pegar fogo novamente. Isso era tão bom, tão incrivelmente bom. Eu amei quando ele colocou sua boca lá em mim, mas tê-lo dentro de mim era dez vezes melhor. Hawk caiu para a frente, segurando-se com seus braços poderosos para que ele pudesse me beijar. — Sinto muito, baby. Vou ser rápido para que não machuque tanto. — Seus lábios cobriram os meus e ele empurrou seus quadris para a frente, com força. Todo o prazer que eu estava sentindo se foi num piscar de olhos. Meu corpo ficou tenso com algo diferente de desejo e eu gritei em sua boca. Algumas lágrimas caíram dos meus olhos, mas a dor e queimação intensa desapareceu tão rapidamente como tinha chegado, e eu percebi que Hawk estava completamente dentro de mim. Acima de mim, Hawk respirava, seu grande corpo tremendo duro quando ele continuou a esperar que eu me ajustasse a tê-lo tão profundamente dentro de mim. Lábios quentes e úmidos roçaram minha bochecha, e um beijo sugou uma lágrima perdida. — Sinto muito, — ele rosnou. — Eu esperava que não a machucasse tanto assim. Eu acariciava meus dedos para baixo de seus lados, na esperança de acalmá-lo enquanto ele estava tentando me acalmar. — Eu não me arrependo. Estou bem, Hawk. — Você tem certeza? — Ele lambeu logo acima do meu ouvido, me fazendo tremer. Seu rosto estava começando a ficar áspero com o crescimento de um dia de barba e fazia cocegas de um jeito muito bom. — Eu posso esperar. Lambendo meus lábios, eu balancei minha cabeça. — Não, não espere. Não dói agora. Só está um pouco irritado. — Eu estaria dolorida como o inferno amanhã, mas naquele momento parecia valer a pena. Meu corpo estava em chamas por ele. Ele sabia o prazer que esperava do outro lado e eu queria ir para lá de novo e de novo.

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Se eu não estivesse meio louca com paixão, eu poderia ter rido de mim mesma. Só bastou um orgasmo e eu estava me transformando em uma tarada louca por sexo. Eu não me importava, no entanto. Enquanto fosse Hawk me dando os orgasmos, eu queria tantos quanto ele estivesse disposto a me dar. — Graças a Deus, porra. — ele gemeu e moveu seus quadris, puxando para fora de mim um pouco e voltando com cuidado. — Estou a ponto de enlouquecer, baby. Você é tão ... boa pra caralho. Nada jamais foi ... tão bom. Um tiro de ciúme tentou invadir meu prazer alto, mas eu rapidamente esmaguei de volta. Eu não quero pensar sobre Hawk com outras mulheres, não quero imaginá-lo dentro de outra pessoa dando prazer a outras mulheres como ele estava me dando. Ele estava comigo agora, me pediu para ser sua senhora. Isso significava algo em seu mundo, algo grande. Eu era dele e ele me prometeu que era meu. Isso pode não ser uma confissão de amor, mas vindo de um homem tão emocionalmente duro como Hawk eu sabia que poderia ser tão perto quanto eu jamais conseguiria dele. Por enquanto, era bom o suficiente. Hawk puxou seus quadris para trás outra vez, quase me deixando completamente. Eu choraminguei em protesto, não querendo perder a plenitude que tê-lo dentro de mim trouxe. Empurrando para frente lentamente, ele me fez gritar quando me estendeu mais uma vez, sua espessura esfregando sobre o tecido hipersensível de uma forma que fez minhas unhas afundarem em seus lados enquanto eu tentava segurar a consciência. Ele respirou fundo antes de rir de forma desigual. — Assim? — Tudo o que eu podia fazer era acenar com a cabeça. Eu não poderia ter produzido palavras coerentes nem se minha vida dependesse disso. —

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Mais? — Mais uma vez eu balancei a cabeça, minhas unhas afundando ainda mais profundo enquanto empurrava dentro e fora de mim. Oh maldito. Isto é tão bom! — É isso aí, baby. Cave essas unhas em mim. Faça-me sangrar enquanto eu a levo para o céu. — Seus impulsos se tornaram mais rápidos e duros e eu amei cada momento. Se eu fechasse meus olhos, eu poderia realmente imaginar o seu pau entrando e saindo de mim. Cada vez que ele se afastava de mim, meu corpo tentava sugá-lo de volta. Quando ele empurrou com tanta força em mim outra vez, ele recebeu-o de volta com uma pequena contração. — Você está me matando — ele rosnou, aumentando a sua velocidade um pouco mais. — Porra, garota, eu não posso ter o suficiente. — Ah-h ... — Eu gemia em resposta. Ele riu, fazendo com que seu peito vibrasse e esfregasse em meus mamilos endurecidos. — Ah-h-h-h! — Eu gemi novamente. — Sim, Gracie. Porra, baby. É isso aí. Você está tão perto. — Ele enterrou seu rosto no meu pescoço, lambendo, chupando e me deixando muito mais estúpida. — Venha para mim, baby. Só ouvir a sua voz, tão áspera no meu ouvido, me empurrou ainda mais para um orgasmo que prometia ser um milhão de vezes maior do que o meu primeiro. Seus impulsos se tornaram mais fortes e os sons de nossos corpos batendo juntos, os sons molhados de ele entrando em mim com tanta força uma e outra vez encheu a sala, junto com os meus gritos suaves de êxtase. Minhas pernas enrolaram em sua cintura, querendo-o ainda mais fundo, sem querer me separar dele outra vez. Eu estava tão perto, tão perto ... — Porra, Gracie. — Ele mudou de posição e uma mão grande se moveu entre nós. Quando o polegar acariciou sobre o meu clitóris, o mundo explodiu em torno de mim. Minhas costas arquearam quando joguei minha cabeça para trás e gritei seu nome.

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Eu não senti Hawk parar, não percebi quando ele ficou completamente parado para assistir enquanto eu gozava por ele. Meu corpo estremeceu ao redor de seu comprimento grosso dentro de mim e eu senti que meu corpo inteiro quebraria em um milhão de pedaços, pois começou a tremer com a força da minha libertação. — Hawk! — Eu gritei o nome dele e fiquei impotente e mole na cama. — Porra, tão bonita, — ele murmurou, como se para si mesmo. — Aguente, baby. Estou prestes a me juntar a você. Parecia que abrir meus olhos levou toda minha força. Ele beijou meus lábios e começou a se mover, seu corpo rígido quando ele empurrou para dentro de mim mais do que nunca. Suas mãos apertaram minha bunda, me levantando para fora do colchão algumas polegadas e ele bateu em mim em um ângulo mais profundo. Meu corpo, que tinha virado uma poça de músculos moles acordou, me surpreendendo quando eu senti outro orgasmo. Hawk jogou a cabeça para trás quando minhas paredes internas começaram a contrair em torno dele novamente. Seus olhos começaram a rolar para trás, seus músculos apertando, e ele ficou absolutamente imóvel por um segundo ... — Gracie! — Ele gritou meu nome para o telhado. Seu rosto parecia contorcer de prazer quando senti o primeiro tiro de sua libertação quente jorrando dentro de mim. Ele caiu em cima de mim, seu corpo tremendo com a força de seu orgasmo. Eu podia sentir seu coração batendo no peito e percebi que combinava com as batidas do meu próprio. Lábios quentes roçaram meu pescoço outra vez enquanto sua respiração lentamente voltava ao normal. Fiquei ali, apreciando a sensação de seu corpo embebido de suor cobrindo o meu próprio, traçando minhas unhas para cima e para baixo em suas costas.

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Eu não era mais virgem. Eu não era mais a pequena, doce e inocente Gracie Morgan. Agora eu era mulher de Hawk Hannigan.

***

O som da água corrente vindo do banheiro me acordou algumas horas mais tarde. Hawk não estava ao meu lado na cama, mas a porta do banheiro estava entreaberta e eu podia ver sua sombra em movimento lá dentro. Um olhar para o relógio ao lado da cama me disse que eram logo depois das duas da manhã. Eu bocejei e me estiquei... Antes não tivesse feito isso. Minha parte inferior do corpo era uma grande dor. Quando me mexi, meus músculos internos apertaram protestando e eu mordi de volta um pequeno gemido enquanto tentava encontrar uma posição mais confortável. A porta do banheiro abriu e Hawk saiu com uma toalha enrolada na cintura estreita. Vendo que eu estava acordada, ele sorriu. — Ei você aí, linda. — Ele sentou na beirada da cama ao meu lado e se abaixou para roçar os lábios nos meus. O beijo foi mais suave e mais doce do que qualquer outro que ele tinha me dado antes, mas me afetou de uma forma mais poderosa do que se ele tivesse devastado minha boca. Quando ele levantou a cabeça, eu estava ofegante, querendo-o tanto como apenas algumas horas antes. Entre as minhas pernas, meu sexo protestou e eu não pude evitar soltar um pequeno gemido de dor que escapou. Olhos verdes escureceram com preocupação. — Está doendo muito? — Eu estou bem, — eu disse a ele, mas ele levantou uma sobrancelha cética em mim e eu suspirei. — O que você esperava? Você

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é um homem muito grande, Hawk Hannigan. — Ele riu enquanto eu esperava que ele roçasse seus lábios sobre os meus mais uma vez, mas quando eu tentei aprofundar o beijo, ele se levantou. — Onde você está indo? — Eu gemia, querendo que ele me abraçasse. — Apenas relaxe, baby. Vou cuidar de você. Do banheiro, ouvi a água correr novamente e poucos minutos depois, senti o cheiro do banho de espuma que eu usava de vez em quando. Ouvi quando ele se moveu ao redor, já sabendo o que ele estava fazendo, e me apaixonando ainda mais pelo motoqueiro que cuidava assim de mim. Nunca pensei que um membro do Angel’s Halo MC me faria um banho de espuma, muito menos o novo Vice-Presidente deles. Era uma parte de Hawk que eu percebi que era a única que veria. Depois de alguns minutos, ele voltou para o nosso quarto e levantou o meu corpo nu da nossa cama. Eu amei estar em seus braços, mas meu corpo protestou com o movimento. Recusei-me a gemer enquanto ele me mudou em seus braços e me levou para o banheiro. O quarto estava cheio de vapor e o cheiro doce das bolhas era mais notável na água quente. Cuidadosamente, como se ele tivesse medo de me quebrar, Hawk me colocou na banheira. O calor da água era delicioso em meus músculos doloridos, mas fez com que meu tecido interno abusado recentemente doesse por um minuto. Mordi o lábio para manter o meu gemido, não querendo que ele soubesse que seu doce gesto tinha acabado de me causar uma dor agonizante. A pontada desvaneceu rapidamente, graças a Deus, e eu relaxei minhas costas na banheira. Hawk desapareceu e voltou alguns longos minutos mais tarde com uma garrafa de água e vários Advil. Ele estava usando calças de pijama, então eu sabia que ele deve ter ido lá embaixo. Senti rubor enchendo meu rosto quando percebi que sua irmã estava acordada e provavelmente nos ouviu fazer amor.

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Vendo o meu rosto, Hawk riu. — Relaxe. Raven não nos ouviu. Estas paredes são grossas. Foi assim que ela e Bash conseguiram se esgueirar quando eram mais jovens, sem nos darmos conta. Eu relaxei novamente. — Acho que estávamos muito alto antes, — eu murmurei antes de tomar outro gole de água. Hawk se agachou ao lado da banheira de joelhos, com os olhos passeando por cima dos meus seios, já que era a única parte do meu corpo exposta por causa das bolhas grossas. Meus mamilos se apertaram com seu olhar. — Eu adorei ter você gritando no meu ouvido. Nunca segure, baby. Mordi o lábio quando ele pegou uma toalha e começou a me lavar. Eu nunca tive alguém me dando banho antes e me senti vulnerável quando ele começou a lavar os meus braços e, em seguida, meu estômago. — Eu posso fazer isso, — eu sussurrei enquanto suas mãos mergulharam na água novamente, deslizando o pano com sabão sobre as minhas coxas. — Sim, eu sei. Mas eu gosto de fazer isso. Quero cuidar de você. — Ele abaixou a cabeça e deu um beijo em meu ombro exposto. — Satisfaça-me, baby. Pelos próximos dez minutos, ele lavou cada parte de mim que podia alcançar, demorando-se nas áreas macias. Ele era tão gentil, tão amoroso, que eu tive que piscar de volta uma súbita onda de lágrimas. Ele não podia cuidar de mim assim, não podia me abraçar e fazer amor comigo, a menos que ele sentisse algo tão forte quanto eu sentia ... Certo? A água começou a esfriar e as bolhas já estavam quase desaparecendo. Hawk me levantou da banheira e me secou com uma toalha. Às vezes as mãos permaneceram em determinadas áreas, mas ele nunca me tocou de forma sexual. Eu não sabia se devia estar grata que ele estava dando ao meu corpo tempo para curar depois de nosso amor

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mais cedo, ou ficar decepcionada. Eu o queria de novo, queria o êxtase que ele poderia me dar e queria fazê-lo sentir o mesmo. Quando enfim terminou de me secar, ele puxou uma de suas camisetas brancas sobre a minha cabeça e me ergueu em seus braços novamente. Quando me deitou na cama outra vez, eu segurei seu pescoço, fazendo-o cair ao meu lado. Rindo, ele pegou as cobertas e puxou para cima de nós, antes de estar com as minhas costas contra o seu torso. Seu rosto desalinhado esfregou sobre o meu pescoço quando ele deu um beijo na minha mandíbula. — Você é minha agora, Gracie. — Sim, — eu concordei sem hesitar. — E você é meu... Certo? — Você não tem ideia do quanto eu sou seu, baby. — Suas mãos se apertaram ao redor da minha cintura e ele soltou um longo suspiro quando começou a cair no sono. — Você me possui, Gracie.

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Capítulo 13 Gracie

Doc Robertson me fez prometer pegar leve na primeira semana que eu voltasse a trabalhar. Eu não deveria trabalhar mais do que algumas horas antes de descansar e ele praticamente me proibiu de trabalhar no Aggie’s por pelo menos mais uma semana. Eu precisava do dinheiro, embora, então voltei para o trabalho no Jack na segunda-feira. Quando cheguei na garagem recebi sorrisos de todos, exceto de Trigger, mas eu realmente não esperava um dele de qualquer forma. Ele era um tipo de cara de expressão séria e eu estava bem com isso. Assim como eu estava bem com ninguém mencionando Harley durante o dia todo. Eu não queria pensar sobre o homem e obriguei-o a sair da minha cabeça toda vez que ele tentava aparecer nela. O que mais me surpreendeu foi que Hawk não achou ruim quando eu disse que iria trabalhar hoje. Ele tentou me convencer a não ir e depois me beijou e disse para ter cuidado e não trabalhar muito. Eu deveria estar feliz que ele estava me deixando sair sem muita discussão, mas isso só me fez desconfiar. Não tem como ele ir de quase agressivo sobre mim trabalhando, para aceitar assim tão facilmente. Ainda assim, eu estava grata por sair da casa sem muito drama. Fiz ligações na maior parte do dia, agendando compromissos de rotina para vários clientes, e pegando os pagamentos dos clientes que foram atendidos naquele dia. Na hora do almoço, Raven me trouxe uma salada do Aggie’s e me disse que Hawk tinha que cuidar de algo no bar ou teria trazido ele mesmo. Ela ficou o tempo suficiente para comer

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comigo, mas depois teve que voltar para a casa, já que Colt estava cuidando de Lexa. Eu vi da minha mesa quando Raven estacionou e Bash veio para beijá-la. Ele trabalhava na garagem alguns dias por semana, mas eu assumi que já que Harley foi embora, ele estaria trabalhando um pouco mais frequentemente. Saber que Bash estava lá me deixou um pouco mais à vontade, porque eu sabia que com ele por perto, eu estava segura. Era a mesma sensação de segurança que eu tinha quando eu estava com Hawk, mas com ele era mais como um irmão mais velho mantendo sua irmãzinha segura. Voltando para os formulários de pedidos na minha mesa, peguei o telefone para fazer as chamadas que Jack me disse para retornar quando a porta traseira que levava até a loja de bicicletas se abriu. Ergui a cabeça, assustada quando alguém que eu não reconheci entrou no escritório. — Posso ajudar? — perguntei, um pouco apreensiva. Ele exalava o fascínio de perigo em seu terno caro e cabelo cortado curto. Seu cabelo era quase completamente cinza, mas seu rosto tinha poucas linhas, então eu não sabia quantos anos ele poderia ter. Quando ele sorriu, eu peguei o flash de dentes brancos que parecia cosmeticamente melhorados. Ou ele tinha folheados muito caros ou passou muito tempo branqueamento seus dentes. Quando ele sorriu para mim, senti como se ele estivesse me avaliando, me examinando por algum motivo. — Gracie Morgan? Eu levantei uma sobrancelha para ele. — Sim, e você é? Ele me ofereceu sua mão quando se aproximou e eu aceitei depois de uma ligeira hesitação. — Jacob Jenkins, advogado. Meus olhos se arregalaram. Esse cara assustador era um advogado? Sim, eu podia ver que eu definitivamente não gostaria de ir contra ele no tribunal. — O que posso fazer por você, Sr. Jenkins?

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Seu sorriso suavizou um pouco, mas eu ainda poderia dizer que ele estava tentando me avaliar. — Na verdade, eu vim fazer alguma coisa por você. — Ele acenou com a cabeça para uma das cadeiras na frente de minha mesa. — Posso me sentar? — Claro. Por favor. — Eu sentei na minha cadeira, observando-o um pouco mais perto agora. O que esse cara está fazendo aqui? — Eu não tenho certeza se você está ciente, mas eu sou o advogado do Angel’s Halo MC. — Ele esperou que eu respondesse quando balancei a cabeça, e continuou. — Bem, eu estou envelhecendo e eu estou pronto para começar a pensar em me aposentar. Me mudar para um lugar com uma bela praia e um monte de mulheres bonitas. — Ele piscou quando disse essa última parte, mas continuou. — Eu estive na universidade esta manhã perguntando se eles tinham quaisquer estudantes promissores que eu poderia assumir como uma espécie de prodígio. Eu queria alguém inteligente, que pensa de forma independente e não se recusa a sujar as mãos. Como você vai descobrir no negócio de lei, suas mãos podem ficar muito sujas. Minhas sobrancelhas levantaram. — Então, o que você está fazendo aqui? Eu ainda nem comecei direito o meu primeiro ano de faculdade de direito. Jenkins deu de ombros. — Não importa. Você é uma das melhores alunas que entraram no programa este ano. Sua média é excepcional e as suas últimas pontuações foram além de impressionantes. Mas além de tudo isso eu tenho ouvido algumas coisas interessantes sobre você. Jack é só elogios, embora eu saiba que ele seja um pouco tendencioso nessa parte. Revirei os olhos. — Jack pode beijar minha bunda. Jenkins jogou a cabeça para trás e deu uma gargalhada. — Bem, você vê? Eu vejo liso e claro que você é exatamente o que eu estou procurando.

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Cruzando os braços sobre o peito, eu olhei para o advogado. — E isso seria? — Alguém que possa tomar meu lugar. Não posso deixar o MC nas mãos de qualquer um quando eu me aposentar, mocinha. E vejo em você um espírito impetuoso do qual este clube vai precisar quando eu for embora. Eles podem entrar em alguns problemas de vez em quando e eu preciso de alguém que não tenha medo de percorrer as águas para tirálos de lá, ou tenha medo de irritá-los quando eles precisem ouvir a verdade. Esses motoqueiros não dão ouvidos a qualquer um. — Ele tirou algo do bolso do paletó e colocou sobre a mesa. — Se você estiver interessada, eu gostaria de discutir minha proposta. — Eu não entendo, — eu disse a ele honestamente. O que esse velho está fazendo aqui? Me oferecendo um emprego? — Bem, se você estiver disposta a assinar um contrato comigo, concordando em assumir depois que você se formar - e eu estou confiante de que você pode assumir para mim de uma forma confiável – eu gostaria de dar-lhe um emprego. Seria uma espécie de estagiário, mas eu iria, naturalmente, pagar um salário. — Ele puxou outro papel do bolso, este parecendo mais um documento legal. — E como um bônus eu também gostaria de oferecer-lhe uma bolsa de estudos integral. Ela irá cobrir todas as despesas de subsistência, livros e aulas. Mas carrega consigo a condição de que você terá que vir trabalhar para mim, depois de se formar. Dizer que o meu queixo caiu seria um eufemismo. Que diabos estava acontecendo aqui? Coisas como essa não aconteciam, pelo menos não para mim. Claro, eu tinha boas notas e tudo mais, mas para este homem chegar e oferecer uma solução para todos os meus problemas ... — Hawk. Claro. Hawk maldito Hannigan. Fazia sentido agora. Eu com certeza ia mata-lo quando chegasse em casa naquela noite. Os olhos de Jenkins se arregalaram um pouco. — O quê?

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— Hawk — Eu bati a mão e fiquei de pé. — Você disse que é o advogado do MC, o que significa que você basicamente trabalha para Hawk Hannigan. Certo? O velho advogado deu de ombros. — Sim, eu acho que isso é verdade. Agitada, comecei a andar. — E ele veio até você dizendo que eu precisava de dinheiro para a Faculdade e que ele queria que você cuidasse disso. — Não admira que ele não tenha reclamado quando saí de casa naquela manhã. Ele sabia que Jenkins estava vindo me ver e fazer todos os meus problemas desaparecem. Aquele maldito homem, interferindo. Jenkins sorriu. — Não, na verdade eu não vejo ou falo com Hawk em várias semanas. Eu lhe asseguro, minha querida, isso não tem nada a ver com o Sr. Hannigan e tudo a ver comigo querendo um substituto confiável. Você é jovem e nem chegou a terminar o primeiro ano de faculdade de direito ainda. Eu posso trabalhar melhor com isso, moldála à forma como eu quero que o meu substituto pense e aja. — Ele se inclinou para frente. — Posso te ensinar coisas sobre a lei que nenhum professor vai ousar tentar ensinar. Eu relaxei um pouco e cai de volta na minha cadeira. — Então, Hawk não tem nada a ver com esta oferta? — Ele não tentou consertar tudo o que eu queria fazer sozinha pelas minhas costas? Jenkins balançou a cabeça cinza. — Não, Gracie. Mordi o lábio, começando a realmente pensar sobre a oferta. Quando eu decidi ir para a faculdade de direito não foi porque o meu pai, avô e bisavô eram todos advogados e isso era esperado de mim. Eles eram tubarões corporativos e eu não queria isso para mim. Eu perderia minha alma nesse tipo de trabalho. Mas depois de ver o que minha mãe passou, eu prometi a mim mesma que gastaria minha vida ajudando a outros como ela.

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O que Jenkins estava oferecendo parecia ser mais para o benefício do MC e honestamente eu não tenho um problema com isso. Eu me preocupava com alguns dos membros do MC, amava-os como se fossem minha própria família. Mas e sobre os meus planos? Eu seria capaz de ajudar as mulheres agredidas que realmente precisavam de um bom apoio judiciário? — Eu vou ter que representar apenas o MC? Ou posso fazer o que eu planejei fazer o tempo todo? — Perguntei, precisando ter certeza antes de aceitar. Jenkins franziu a testa. — E o que seria isso, minha querida? — Quando eu expliquei a ele o que eu imaginei para mim, seus olhos se arregalaram e depois de um momento, seus lábios se levantaram em um sorriso genuíno pela primeira vez. — Acho que podemos trabalhar em algo assim, Gracie. O MC não ocupa todo o meu tempo, embora às vezes pareça assim. Você certamente será capaz de assumir algum trabalho pro bono como esse a qualquer momento. Eu esfreguei minhas mãos sobre minha testa. Isso tudo era um pouco demais de uma só vez. Eu não conseguia pensar direito, e não queria pular de cabeça sem pensar na coisa toda primeiro. Como se ele percebesse que eu estava lutando para tomar uma decisão, Jenkins se levantou e me ofereceu sua mão antes de entregar o documento legal em suas mãos. — Tire uns dias, querida. Leia sobre isso e se você quiser, podemos fazer alguns ajustes para o acordo. Mas eu só posso dar-lhe até o final da semana antes que eu tenha que começar a procurar em outro lugar. Quando ele foi embora eu fiquei sentada lá, minha cabeça doendo por uma razão completamente diferente do que o abalo que eu tive na semana anterior. Meu coração estava batendo e eu senti como se fosse adoecer. Ao ler os termos contrato uma e outra vez, eu percebi que se eu aceitasse essa oferta, não teria que me preocupar com nada. A Faculdade estaria paga, e pelo salário que estava ali, com aquele “estágio” eu não teria que trabalhar na garagem ou no Aggie’s para cobrir as despesas.

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Eu seria uma idiota total se não aceitasse, mas eu simplesmente não conseguia entender que aquilo era real. A porta do escritório se abriu e Bash entrou. Enxugando graxa de suas mãos, ele caiu na cadeira onde Jenkins esteve mais cedo. — Parece que você está pensando muito aí. Joguei o acordo para ele e ele pegou facilmente. — Diga que você não tem nada a ver com isso, — eu implorei, ainda não convencida de que era genuíno. Bash olhou por cima da página e encolheu os ombros enormes. — Sim, na verdade eu tenho um pouco a ver com isso. — O quê? — Eu não queria gritar, mas minha voz não estava cooperando com o meu cérebro no momento. — Eu sabia. Merda. — Eu passeio meus dedos em meus cabelos e olho para o teto. Definitivamente bom demais para ser verdade. Caramba. Bash balançou a cabeça escura. — Não, não foi assim. Jenkins veio até mim e perguntou sobre a substituição. Ele tem que ter o apoio do clube para quem tomar o lugar dele. Ele mencionou você e eu disse a ele que não seria um problema se você assumisse. Isso é tudo. — Ele colocou o contrato de volta na mesa, os olhos azul-gelo divertidos enquanto me observava. — Então, por favor, pequena Gracie. Não vá planejando minha morte. Eu não pude deixar de rir. Como se eu pudesse matar este homem. Por um lado, eu o amava como um irmão. Por outro, ele era maior que eu por uns bons cinquenta quilos. Seria preciso muito planejamento para matar Bash Reid. — Então, isso é real? — Jenkins não faz ofertas falsas, querida. — Ele se recostou na cadeira e cruzou um tornozelo sobre o outro. Ele parecia relaxado e eu tinha certeza que ele não estava mentindo para mim. — Pelo que li, parece um bom negócio. Você vai aceitar?

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— Não sei ainda. Parece bom demais para ser verdade. — Porque resolve todos os seus problemas? — Eu balancei a cabeça e ele bufou. — Milagres acontecem às vezes. Mais frequentemente do que você pensa, na verdade. — Então você está dizendo que eu deveria aceitar? — Ok, então era uma armadilha, alguém tentando tomar essa decisão por mim. Eu era mais esperta do que isso, mais independente. Eu não preciso de ninguém para tomar minhas decisões por mim, mas naquele momento eu queria que alguém fizesse exatamente isso. Bash se levantou e me deu um pequeno sorriso. — Se fosse comigo eu aceitaria, mas não sou eu. Você tem que decidir se é isso que você quer. É algo com que você possa viver? Se aceitar. Mas não vá pelo que eu digo, Gracie. Pense nisso por um dia ou dois. Fale com Hawk. Isso o afeta também, quer você admita ou não. Vocês dois estão juntos agora, então vocês dois terão que viver com o que quer que você decida. Com essas palavras de sabedoria ele me deixou sozinha no escritório, mais uma vez, e eu me sentei lá ainda em conflito.

Hawk

Eu odiava encanadores. Eu particularmente odiava quando eles me cobravam uma quantia exorbitante de dinheiro. Eu olhei dele para a nota fiscal que ele acabou de me entregar, e então para a bagunça que ainda enchia o banheiro dos homens no Hannigan’s. Ontem o bar estava fechado, já que era domingo. Quando os rapazes e eu trancamos tudo sábado à noite, estava tudo bem. Então hoje eu vim pegar os livros para Raven, e o banheiro estava completamente inundado. Alguém tinha quebrado e destruído um cano, e não tinha deixado o lugar bonito.

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Eu tinha minhas suspeitas de quem fez isso, mas é claro que eu não poderia provar. Não significava que eu ia deixar para lá, só que eu levar o meu tempo para pegar aquele filho da puta do Kevin Samson. Ele estava se escondendo agora, com medo de que Spider fosse matá-lo depois que ele deixou uma chave de fenda no pneu de Willa. Aparentemente, ele ficou um pouco mais ousado desde aquilo, mas estava, sem dúvida, de volta a se esconder de medo. — Você tem que estar brincando comigo — eu rosnei para o encanador. Ele não era o cara normal com quem tratamos, mas foi o único disponível às pressas para conter o dano que o cano quebrado estava causando. — Tive que cancelar outros três serviços para vir aqui. Esse número incluiu a taxa de emergência. — O homem baixo com a barriguinha coçou o queixo, sem parecer nem um pouco intimidado por mim. Já que ele era da cidade vizinha, tenho certeza que ele não percebeu quem eu era ou o que esse bar representava. Caso contrário, ele não teria sido tão corajoso assim. — Só aceito dinheiro. Sem cheque de pessoas que eu não conheço. Murmurando uma maldição, eu puxei meu telefone do meu bolso e bati conectar no número de Raven. — Sim? — Preciso de algum dinheiro. Você pode passar aqui agora para que eu possa tirar esse idiota do bar antes que eu decida afogá-lo no mijo e merda onde ele está parado agora? — Minha ameaça fez o encanador rolar os olhos e minha irmã dar risada. — Sim. Vou até aí, mas terei que levar Lexa. — Obrigado. — Eu olhei para o horário no meu celular e franzi a testa. — Você levou o almoço para Gracie? — Eu queria levar eu mesmo, mas tive que lidar com a coisa do encanamento. Raven soltou um suspiro. — Claro que sim, Hawk. Ela comeu e está bem. Oh, e eu vi Jenkins estacionando quando sai.

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Minha careta se transformou em um sorriso. — Bom. Dirija com cuidado. — Quanto tempo vai demorar? — Perguntou o encanador. — Tenho que estar em outro lugar em quarenta minutos. — Acalme-se, imbecil. Ela está a caminho. — Eu passei pela porta do banheiro. Entrando no bar, tirei as botas de borracha que mantinha no escritório para emergências como essa. Eu queria uma bebida e teria matado por alguns comprimidos contra de dor de cabeça. Quinze minutos mais tarde, Raven e Lexa vieram pela porta da frente e eu nunca fiquei tão feliz em ver minha irmãzinha. Eu estava a segundos de ter que esconder um corpo morto. A porra do encanador estava no topo da minha lista de pessoas que precisavam ser anuladas em um futuro próximo. — Tio Hawk, você está fazendo careta, — Lexa me informou quando subiu no banquinho ao meu lado. — Tio Hawk está com dor de cabeça, Lexa. — Agarrei sua cintura e a sentei no balcão superior em frente de mim. Eu apontei para o centro da minha testa. — Aqui mesmo. Seus olhos azuis arregalaram e ela se inclinou para pressionar um beijo na minha cabeça, como eu sabia que ela faria. Lexa acreditava que beijos faziam a dor ir embora. — Melhorou? — É um começo. Raven já estava contando o dinheiro para o encanador, que estava olhando para ela de uma forma que me fez querer alimentar o filho da puta com seu próprio pau. Raven olhou para o homem e colocou o dinheiro em suas mãos. — Ali fica a porta, idiota. Ele lambeu os lábios e esfregou a mão sobre a boca. — Se você precisar de um encanador, eu posso lhe dar um desconto, mocinha. Economizar algum dinheiro. — Os olhos de Beady estavam no peito de

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Raven e eu estava a dois segundos de agarrar sua cabeça careca e batêla contra a parte superior do balcão. — Oh sim? E o que você quer em troca desse “desconto”? — Raven rosnou. — Eu tenho certeza que podemos chegar a algum tipo de acordo. — Uma mão gorducha se estendeu, um dedo curto e grosso deslizando para baixo no braço de minha irmã. Eu coloquei Lexa de pé e parei no lado do filho da puta em dois passos, pronto para quebrar todos os ossos de sua mão. Eu não me importava se Lexa via ou não. Ninguém tocava minha irmã. Aquilo foi incutido na minha cabeça desde o dia em que ela nasceu. Proteja Raven não importa o que. Não deixe ninguém tocá-la. Raven agarrou a mão do encanador e dobrou o dedo dele para trás até que ele estava gritando como uma menina. Eu ouvi um estalo inconfundível um segundo antes de colocar minhas mãos em volta do pescoço do filho da puta. — Ow! — O homem gritou e Raven e eu olhamos para baixo para encontrar Lexa chutando-o no tornozelo. — Você não toca na mamãe — ela gritou para ele. Havia um fogo em seus olhos que eu reconheci de seu pai, e isso me fez morder de volta uma risada. Raven arrebatou Lexa e beijou-a na bochecha. — Está tudo bem, Lexa. Tio Hawk vai cuidar dele agora. — Ela apoiou a criança em seu quadril e voltou seu olhar de volta para mim. — Vou ligar para Bash. Ah, merda. Eu ainda não tinha pensado sobre o presidente do clube. O sorriso que dividiu meu rosto com a ideia desse idiota enfrentando Bash era ruim e eu não tentei esconder. O encanador teria que cancelar sua próxima consulta. — Estou em apuros? — Lexa perguntou quando Raven caminhou em direção à porta.

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— Não, querida. — Raven garantiu enquanto abria a porta da frente. — Você fez bem. Obrigado por me ajudar. É bom proteger as pessoas que você ama. — Papai não vai ficar com raiva de mim? — Nem um pouco, — ela prometeu e a porta se fechou atrás delas. — Me solte. — O encanador exigiu, parecendo sair de seu torpor e enfim sentir que eu tinha um aperto de morte na parte de trás do seu pescoço. A dor em sua mão de seu dedo quebrado deve tê-lo atordoado e agora ele estava começando a perceber que podia estar em apuros. — Eu tenho trabalho a fazer. — Ele lutou contra o meu aperto. — Vamos lá, cara. — Duvido que você vá trabalhar muito esta semana, filho da puta — eu disse a ele e fiz a única coisa que eu queria fazer desde que este idiota apareceu no meu bar. Bater seu rosto no balcão do bar só me deu mais bagunça para limpar, já que um nariz quebrado espalhava sangue por toda aquela superfície limpa. Eu não me importei, no entanto. Fez o que eu queria, calar sua boca, nocauteá-lo e fazê-lo cair de joelhos na minha frente antes de cair com o rosto em meus pés. Eu estalei os nós dos meus dedos e entrei na sala de novo para pegar água sanitária para limpar o sangue, antecipando a chegada do meu futuro cunhado.

***

Mantivemos o bar fechado na segunda-feira. A bagunça no banheiro foi demais para apenas eu e meus irmãos lidarmos, e precisamos trazer uma equipe para limpar o banheiro ou o departamento de saúde provavelmente nos fecharia.

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Bash e eu chegamos em casa ao mesmo tempo. Ele tinha um pouco de sangue em sua camisa da surra que deu no encanador, mas pelo menos o idiota foi embora andando. Se fosse do meu jeito, aquele filho da puta sairia aleijado, mas isso provavelmente era apenas a frustração de ter que lidar com ele antes da coisa toda com Raven acontecer. Ainda assim, o cara não ia trabalhar com encanamento nenhum por algumas semanas. A coisa toda deixou Bash em um péssimo humor e ele se trancou no quarto dele e de Raven pelo resto da noite. Eu não pude culpá-lo. Eu não ficaria feliz de ser chamado no trabalho para descobrir que um cara tentou avançar na minha mulher também. Gracie não chegou em casa até a hora do jantar, e eu queria entrar e perguntar-lhe sobre seu dia, mas ela parecia tão distraída que eu esperei até que estivéssemos na cama mais tarde naquela noite antes de mencionar seu dia de trabalho. — Hmm? — Gracie abaixou sua escova de cabelo e ergueu os olhos. — O que você disse? — Como foi o trabalho? Você exagerou? — Ela parecia cansada e tão distraída que eu estava pronto para pedir-lhe para não ir na manhã seguinte. Talvez sua cabeça estivesse doendo. Ela ainda estava se recuperando da porra de uma concussão, então ela precisava relaxar, não ir para a garagem e lidar com essa merda. Seus lábios se levantaram no primeiro sorriso que eu vi nela o dia todo. — Não, eu não exagerei. Eu prometo. — Ela suspirou e tirou algo da gaveta ao lado da cama. Entregando-me, ela mordeu o lábio. — O que é isso? — Eu perguntei e passei os olhos sobre o que parecia ser um contrato. Era o acordo de Jenkins, mas ela não tinha assinado ainda. Por que diabos não? — Alguém me ofereceu algo hoje. Um trabalho e uma bolsa de estudos e todo tipo de bobagem que eu ainda estou lutando para

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acreditar que são reais. — Ela suspirou e pegou o papel de volta. — Mas eu queria falar com você sobre isso primeiro. Eu não sabia com o que ficar mais surpreso. O fato de que a minha menina, que estava sempre falando sobre ser independente, querer falar sobre algo que a afetava de uma forma tão grande; ou o quão forte meu coração se apertou por ela querer me incluir. Quando eu falei com Bash e Tio Jack sobre tudo isso com Jenkins, eu nunca imaginei que Gracie pediria meu conselho. Eu apenas pensei que ela aceitaria sem muita luta. — Ok, então vamos falar sobre isso. — Agarrei sua cintura e puxei-a para o meu colo. Ela se mexeu, de modo que estávamos de frente um para o outro e suas pernas estavam em volta dos meus quadris. Sim, assim era melhor, mas agora meu pau estava duro como pedra e eu tive que lutar pela minha necessidade por ela, a fim de me concentrar em coisas mais importantes. Ela se mexeu e eu tive que morder de volta um gemido. Tudo o que ela estava usando era uma das minhas camisetas e uma calcinha de algodão. Calcinha que já estava úmida com uma necessidade que era tão quente quanto a minha. Desde que fizemos amor pela primeira vez na sexta à noite, eu estava pegando leve com ela. Ela estava tão dolorida no sábado de manhã que ela caminhou um pouco sem jeito. Enquanto o alfa em mim grunhiu de prazer em saber que fui eu a colocá-la nessa condição, eu odiava vê-la sentindo qualquer tipo de dor. Eu tomei meu tempo com ela desde então, me certificando de que as coisas não ficavam muito fora de mão para ela, mas eu estava morrendo de vontade de me soltar e fazer amor com ela do jeito que eu desejava. — Jacob Jenkins quer que eu assuma para ele quando ele se aposentar. Ele representa o MC, o que você deve saber. — Ela mordeu o lábio novamente, então balançou a cabeça, me distraindo com imagens de jogá-la de volta para o colchão e empurrar profundamente em sua boceta gloriosamente quente e apertada. — Você estaria bem com isso? Eu ser a advogada do clube?

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— Não tenho nenhum problema com isso, baby. Você é a pessoa mais inteligente que conheço, então acho que você vai fazer um grande trabalho quando se trata de nos tirar de problemas. — Eu fiz uma careta. — Nós podemos entrar em alguma merda, no entanto. Você está pronta para ver o lado feio do que eu faço? Eu realmente não tinha pensado sobre como ela reagiria ao ver esse lado da minha vida. Eu tentei mantê-lo longe dela tanto quanto possível quando nos conhecemos, mas se ela aceitar a oferta de Jenkins, não poderei mais fazer isso. — Hawk, eu já vi feio. Meus pais mataram um ao outro. O que quer que você e seu MC façam, eu posso lidar. — Ela escovou os lábios sobre os meus. — Nada que você faça nunca vai parar o que eu sinto por você. Eu prometo isso. Eu pressionei minha testa contra a dela e fechei os olhos, absorvendo o momento. — Bom, porque eu nunca quero perder você. Eu não poderia lidar com isso, Gracie. Nós nos sentamos assim por um longo tempo. Era tranquilo, segurá-la sabendo que ela me amava. Ela pode não ter dito as palavras ainda, mas eu sabia. Eu soube desde o momento em que ela me deixou entrar em seu pequeno corpo apertado. Gracie nunca teria se entregado a mim se não me amasse. — Eu acho que você deve aceitar a oferta, baby. Seus olhos se abriram e ela olhou para mim por um longo momento antes de sorrir. — OK. Vou contar a Jenkins amanhã. Porra, foi muito mais fácil do que eu imaginava. Soltei um suspiro aliviado e puxei-a contra mim. — Agora que isso está fora do caminho, vamos passar para coisas mais importantes. Seu sorriso se tornou sedutor e meu pau estremeceu contra ela em reação. Quando senti o quão mais úmida a calcinha fina se tornou, não consegui segurar o rosnado desta vez. — Sim, isso é definitivamente mais importante.

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Capítulo 14 Bash

Hoje era para ser um bom dia. Raven

estava

praticamente

pulando

de

animação

pela

proximidade da soltura de Jet e isso estava deixando todo mundo em um ótimo humor. Jet estava voltando para casa hoje à noite e ela estava tão feliz que eu queria aproveitar este momento. Tão feliz como ela estava, eu sentia como se houvesse canetas e agulhas em minhas veias. Eu não podia explicar, mas senti como se estivesse correndo contra o tempo. Talvez fosse porque eu iria enfrentar Jet Hannigan cara a cara pela primeira vez desde que eu o deixei me surrar até quase morrer. Ou talvez fosse porque eu iria perguntar ao homem que praticamente a criou, se eu podia me casar com ela... Sim, eu pensei com uma careta. Provavelmente era isso. Eu estava com medo de Jet dizer não. Não importa, eu ainda ia me casar com ela de qualquer forma, mas eu sabia que Jet estar de acordo deixaria Raven feliz. Sua felicidade era a única coisa que eu queria na vida. Se ela estava feliz, então eu estava feliz. Era simples assim. Era ridiculamente cedo quando desci para tomar café da manhã. Eu iria com o resto do clube pegar Jet e então fazer a viagem de quatro horas de volta. Raven estava arrumando o bar para a festa de boas-vindas para seu irmão, e eu fiquei responsável pela pós-festa na sede do clube com as ovelhas. Tão cedo como era, eu não estava esperando ver Lexa, mas ela estava sentada em sua cadeira de sempre na mesa da cozinha enquanto

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Raven corria pela cozinha para colocar comida na mesa. Colt, Raider, Matt, Tanner, Spider e Willa já estavam na mesa conversando e comendo qualquer coisa que ela colocou na frente deles. — Posso ter mais um pouco de suco? — Perguntou Lexa a Raven enquanto ela colocava suas panquecas na frente dela. Raven limpou as mãos em um pano de prato e pegou a jarra de suco de laranja. Dando um beijo no topo da cabeça da minha filha, ela derramou o suco, depois ajudou Lexa a cortar suas panquecas. Vê-las juntas assim sempre fazia algo derreter dentro de mim que normalmente sentia como uma pedra no meu peito. Isto aqui, ver minha mulher grávida cuidando da minha filha como se fosse dela sabendo que ela amava Lexa tanto quanto me amava, esta era a minha ideia de paraíso. Aquela sensação de alfinetadas e agulhas queimou através de minhas veias outra vez, me fazendo questionar pela centésima vez nos últimos dias a minha escolha de ir com o resto do clube hoje. Eu não conseguia afastar este sentimento ruim. — Bom dia, papai. Balancei a estranha sensação para longe e sorri para a minha menina quando atravessei a cozinha para tomar o meu lugar ao lado dela na mesa. — Bom dia, Lexa. Raven tirou um prato do fogão e colocou-o na minha frente, cantarolando. Raven raramente cantarolava e isso só me fez perceber o quanto hoje era importante para ela. Jet era como um pai para ela. Vê-lo de volta em casa era definitivamente um dia para comemorar. Fazendo uma pausa longa o suficiente para roçar um beijo nos meus lábios, ela se voltou para o fogão, continuando a cantarolar sua canção feliz. Comi meu café da manhã, observando-a com um novo aperto no meu peito. Porra, eu não queria ir hoje, mas sabia que ela queria que eu fosse. Ter todos lá para receber Jet enquanto ele saía de San Quentin era o que importava hoje.

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Quando terminei meu café da manhã, Hawk e Gracie já estavam lá embaixo. Hawk estava vestido para a viagem de quatro horas e Gracie estava pronta para ir trabalhar. Ela estava trabalhando para Jenkins a pouco mais de duas semanas agora e Jenkins já tinha me dito que achava que Gracie seria uma advogada excepcional. Fiquei feliz que tudo estava funcionando. Significava que as coisas estavam menos tensas para Hawk e menos tensas para Raven por tabela. Tudo o que tornava a vida dela mais fácil, eu faria acontecer. — Ok, Lexa. — Raven pegou minha filha e sentou-a no chão. — Eu vou limpar aqui e então assistiremos a alguns desenhos animados. Mais tarde, tia Willa vai sair com você enquanto eu vou decorar para a festa do tio Jet. — Vou pegar o bolo no caminho, — Gracie disse a ela enquanto tomava um gole de café. — Seis e meia, certo? — Sim. Obrigado, Gracie. — Ela deu-lhe um abraço, então voltou a arrumar a cozinha quando Lexa fugiu para assistir TV na sala de estar. Porra, ela estava abraçando pessoas. Minha mulher estava abraçando. Ela estava tão feliz que estava abaixando suas paredes e ficando toda melindrosa com as pessoas. Sim, eu definitivamente não poderia irritá-la ficando em casa agora. Puta que pariu. Da frente da casa eu ouvi o resto do MC chegando, e eu, relutantemente levantei. Era hora de ir. Agarrando Raven, eu puxei-a contra mim e beijei sua boca, memorizando seu gosto e a sensação de seu corpo contra o meu. Algo estava gritando para eu ficar em casa, mas ela não me deixaria e eu não queria discutir em um dia que ela estava esperando por tanto tempo. — Tenha cuidado, — murmurei contra seus lábios. — Por favor, só tome cuidado. Ela sorriu para mim e segurou meu rosto com as duas mãos. — Não, você deve ter cuidado. Traga meu irmão para casa, onde ele pertence, e mantenha todos seguros. Eu te amo.

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Segurei-a por mais um minuto, escovando outro beijo em seus lábios antes de seguir meus irmãos do clube pela porta dos fundos. Enquanto eu subia na minha moto, olhei para trás e a vi de pé na porta. Ela estava sorrindo e acenando para todos que a saudavam. Quando foi que eu vi Raven Hannigan tão feliz? Nunca. Pegando meu olhar, ela me mandou um beijo e voltou para a casa, fechando a porta. Eu me virei para olhar para o meu clube. — Vamos, seus filhos da puta. A viagem até San Quentin deveria durar um pouco mais de quatro horas, mas chegamos lá em três e meia. Estávamos adiantados, então estacionamos fora dos portões e esperamos. Eu me debrucei contra minha moto, meus olhos treinados em frente enquanto eu procurava por qualquer sinal do homem que esteve determinado a acabar comigo da última vez em que eu estive cara a cara com ele. Ao meu lado, Hawk virou a moto e se inclinou para frente. — Você vai amarelar? Poupei-lhe do olhar assassino que eu queria lhe dar. Eu estava preocupado em fazer algo estupido se olhasse para o meu vice-presidente. Tipo agarrá-lo pelo pescoço e sufocar a vida nele. Não seria inteligente assassinar um homem na frente de uma prisão cheia dos mais durões como San Quentin. Muitas câmeras e testemunhas. — Porra — eu rosnei e endureci quando vi as portas se abrirem e Jet Hannigan caminhar em nossa direção. Hawk riu. Quando viu seu irmão, ele desceu de sua moto. Em volta de nós, todos os outros seguiram o exemplo. A porta abriu e por ela passou o nosso velho presidente do meu clube. Eu o observei sentindo como se uma enorme bigorna estivesse no meu estômago quando um irmão do clube atrás do outro abraçou e deu um tapinha nas costas de Jet.

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Eu não ia amarelar. Eu só tinha que sugar a porra das minhas bolas para perguntar ao cara se eu poderia casar com sua irmã. O mesmo cara que me bateu ao ponto de inconsciência, prendeu meu braço, e então me disse que eu poderia ter sua irmã para valer antes de eu colocar o rabo entre as pernas e abandoná-la. Bem fácil. Porra. Respirando fundo, desci da moto e dei um passo à frente quando Tio Jack soltou o irmão Hannigan mais velho. Aqueles malditos olhos verdes tão idênticos aos de sua irmã estavam me avaliando, me medindo. Eu fiquei parado lá, deixando-o saber que quando havia dois alfas como ele e eu, às vezes você tem que deixar o outro farejá-lo para ganhar respeito. Parecia que fiquei ali por horas, mas depois de apenas alguns segundos Jet bufou e ofereceu a mão. O peso que vinha pressionando o meu peito diminuiu e apertei a mão do meu irmão do clube. Empurrandoo para um abraço, eu bati nas costas dele tão duro quanto ele fez. Quando nós dois nos afastamos, eu sorri para ele. O filho da puta tinha ganhado ainda mais músculo lá dentro, e ele estava tão forte, se não mais forte do que eu. — Você vai me deixar casar com ela? O sorriso no rosto esmaeceu ligeiramente. — Você quer dizer que não pediu para ela ainda? Que porra você estava esperando, idiota? Eu dei de ombros. — Você. Jet me empurrou de volta alguns passos, mas ele estava sorrindo novamente. — Idiota. É melhor você pedir logo ou eu vou dizer para ela se livrar de você. — Se vocês dois vão ficar emotivos, vamos logo para casa, filhos da puta — Colt resmungou e jogou um conjunto de chaves para seu irmão enquanto Little John descarregava a moto da carreta que ele trouxe. Os olhos de Jet se iluminaram e algo nele mudou quando ele subiu em sua moto pela primeira vez em quase um ano. Seus ombros se

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endireitaram, seu corpo ficou tenso, e quando ele ligou o motor dela eu pensei ter visto um brilho nos olhos do homem mais velho. Nós ficamos para trás olhando para ele, sem julgar por ele ter ficado emotivo por subir na moto tanto tempo depois. Teria sido o mesmo para qualquer um de nós. A moto do homem era uma parte dele, parte de sua alma desde a primeira vez em que ele senta sobre ela. Estar longe por tanto tempo e depois voltar era como ser acolhido na casa de um velho amigo. — Levem-me para casa, meninos.

Raven

— Mas eu não q-quero que você vá. Mordi de volta uma maldição quando olhei para Lexa. Seus grandes olhos azuis estavam brilhando com lágrimas e seu pequeno rosto estava amassado em uma expressão que eu raramente via na menina que eu considerava minha. Ela estava a segundos de distância de um colapso total e eu não sabia como parar. Estávamos na cozinha e eu estava de pé na porta, pronta para sair para que eu pudesse decorar o bar para a festa da volta de Jet. Eu disse a ela mais do que algumas vezes que eu tinha que deixá-la por mais um pouco esta tarde e ela não tinha ficado nem um pouco chateada com isso. Mas agora que eu estava indo, ela se agarrou na minha perna. Olhei do topo de sua cabeça escura, onde ela agora tinha o rosto enterrado na minha coxa, para Willa, que estava a apenas um metro de distância, parecendo impotente enquanto olhava para sua sobrinha. — Eu tenho que ir — murmurei para ela, como se estivesse tentando explicar para a mulher que foi a única figura materna na vida de Lexa até recentemente.

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— Eu sei — Willa murmurou e me deu um pequeno sorriso. — Está tudo bem. — Ela se abaixou e puxou cuidadosamente Lexa de seus braços. — Hey, besourinho. Achei que você ia me ensinar como fazer aquelas pulseiras de amizade que Gracie ensinou para você. — Eu quero Raven — Lexa soluçou, agarrando-se ainda mais na minha perna. — Eu não quero que ela vá. — Baby, não vou demorar — prometi a ela quando me agachei ao seu nível de olho. — Por favor, não chore — eu implorei. Eu não conseguia lidar com suas lágrimas. Elas torciam algo no meu peito e me faziam querer chorar também. Lexa jogou os braços ao redor do meu pescoço e enterrou o rosto molhado no meu peito. — Quero ficar com você. Por favor, mamãe. Todo o meu ser derreteu e eu a segurei mais perto. Não era a primeira vez que Lexa se referia a mim como sua mãe antes. Ela disse: “minha mãe” várias vezes, mas foi a primeira vez que ela realmente me chamava assim. Olhei para Willa, um pouco preocupada com o que eu poderia ver lá. Pelos três primeiros anos da vida de Lexa, ela foi a coisa mais próxima que Lexa teve de uma mãe. Agora, depois de apenas alguns meses Lexa estava me chamando assim. Será que ela me odiava por isso? Quando encontrei os olhos da outra mulher, ela estava sorrindo e eu relaxei, grata por ela não aproveitar este momento para ficar chateada. Beijando a bochecha de Lexa, eu acariciei seu rosto. — Eu te amo tanto, Lexa — murmurei. — Você sabe disso, não é? — Ela assentiu com a cabeça enquanto as lágrimas derramavam por suas bochechas. — Quanto é que eu te amo? — Até a lua e voltando — ela sussurrou, repetindo as palavras que eu dizia a ela todas as noites quando a colocava para dormir. — Prometo que vou sair só um pouco. — Seu queixo começou a tremer de novo e eu corri, na esperança de ela não chorar novamente. — E às seis, sua tia Willa vai trazê-la para mim. Então, você e eu, nós vamos receber o tio Jet com o maior abraço que o mundo já viu. — Eu beijei seu

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rosto, puxando-a com força contra mim. — E então nós teremos muita dor de barriga com muita pizza e sorvete. Ela ainda estava fungando quando me levantei, mas felizmente as lágrimas tinham parado. — Talvez você possa fazer para Tio Jet uma pulseira da amizade como uma surpresa. Ele vai gostar disso. As cores favoritas dele são azul e vermelho. Olhos azuis brilharam levemente. — Oh... tudo bem. Beijei-a novamente e corri para a porta, com medo de que começasse a chorar de novo se eu demorasse. Quando cheguei ao bar, Willa já tinha me mandado duas mensagens me avisando que Lexa estava bem e que elas estavam fazendo pulseiras. Eu soltei um suspiro de alívio e comecei a trabalhar. Decoração não era um trabalho tão duro se você tivesse ajuda. Claro, eu não sabia disso. Todos os caras foram buscar Jet, e Gracie estava trabalhando. Eu não queria Lexa correndo pelo bar enquanto Willa me ajudava e não tinha como no inferno eu pedir ajuda para uma das ovelhas. Eu sabia que elas tinham seus próprios planos para mais tarde naquela noite, e não queria que elas manchassem o que era um dia especial para mim. Levei várias horas para decorar o lugar do jeito que eu queria, e quando terminei ainda faltava uma hora antes de Jet e os caras chegarem. Cansada, eu limpei o banheiro e voltei para o bar. Talvez eu devesse ir para casa abraçar Lexa um pouco... O pensamento mal passou pela minha cabeça quando eu parei no meio do bar. Havia um homem que eu não conhecia em pé atrás do balcão, segurando uma garrafa de Jameson em uma mão e o que parecia ser um isqueiro de acampamento na outra. Para que diabos ele precisa de algo assim? — Quem diabos é você? — Perguntei. O homem me deu um sorriso arrogante, me mostrando seus dentes brancos. Ele não era ruim de olhar, era realmente bom de uma forma atlética que gritava “Eu sou um menino rico”. Era óbvio para mim

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simplesmente pela maneira como o indivíduo se movia que ele estava acostumado a ter tudo na mão. A forma como seus olhos correram sobre mim me fez querer arranhar seu rosto com minhas unhas, mas eu só fiquei lá. Havia algo nele, algo quase sinistro que me assustou de uma forma que eu nunca experimentei antes. Pela primeira vez na minha vida eu estava com medo de um homem, e isso me irritava, mas eu não era estúpida o suficiente para começar a enlouquecer com esse cara. Esse tinha que ser Kevin Samson. Não havia outra explicação. — Olá para você também, linda Raven. — Sua voz era baixa, uma espécie de ronco, cheia de algo vil. Eu queria correr – foi o meu primeiro pensamento. Correr tão rápido quanto eu podia. Meu segundo pensamento foi em chutar a bunda do cara quando ele abriu a garrafa de Jameson e derramou o conteúdo no balcão do bar. De jeito nenhum. De maneira nenhuma. Eu não ia deixar esse cara destruir o bar da minha família. — Que porra você está fazendo? — Eu gritei quando ele acendeu o isqueiro e colocou foco no uísque. — Estou aqui para me vingar. Seu MC levou a minha casa de fraternidade, o primeiro lugar real que eu já chamei de lar. É justo que eu pegue algo tão especial quanto. — Seu sorriso estava cheio de diversões e uma maldade que me fez querer tomar banho em água benta. Merda, esse cara era um lunático. Louco em grau totalmente novo. Ainda sorrindo para mim, ele alcançou para outra garrafa de uísque. Em vez de abri-la, ele a deixou cair no chão. Quando ele começou a bater mais e mais garrafas das prateleiras, eu comecei a andar para trás em direção à porta. Eu tinha que sair, chamar a polícia e os bombeiros. Se não o fizesse, então ele ia queimar o lugar todo. Meu coração torceu com o pensamento dele destruindo o Hannigan’s. Este lugar pertenceu à minha família, ao meu MC. Era o legado do meu pai. Perdê-lo seria como perder meu pai de novo. Eu recuei

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mais e mais rápido, enquanto Samson apenas sorria enquanto brincava com o isqueiro nas mãos. O cheiro de queimado no bar da minha família era tão violento que eu não ouvi qualquer coisa até que mãos frias tocaram meus ombros. Deixei escapar um pequeno grito de surpresa quando me virei para enfrentar o recém-chegado. Quando vi Bubbles, não sabia se ficava aliviada ou preocupada. Ela não estava sorrindo e eu tinha certeza que ela estava mais alta que uma pipa a julgar pelo olhar maníaco em seus olhos. Eu pensei que ela estava tentando se limpar, mas já que um dos trabalhos do MC era proteger um cartel de drogas, era sempre fácil voltar para essa merda. O Angel’s Halo tinha uma regra restrita contra o uso, mas não valia necessariamente para as ovelhas do clube. — Bubbles? — Que diabos ela está fazendo aqui? — Estava esperando que você ainda estivesse aqui. — Sua voz estava cheia de veneno, seu sorriso um tipo torcido de maldade que eu só vi em viciados em fúria. — Faz tudo isso valer a pena, na verdade. Claridade bateu rápido e com a força de uma bala entre os olhos. Ela estava com Samson. Porra, eu acabaria com sua bunda magra logo que eu tivesse esse bebê. Ela estava tão morta. Se você tivesse me perguntado qual das ovelhas eram as mais leais ao clube eu teria dito que Bubbles estava entre as cinco primeiras, mas eu estava vendo uma diferença nela nas últimas semanas. Especialmente desde que Spider e Willa anunciaram o casamento. Bubbles pode foder qualquer um com um colete da Angel’s Halo, mas eu sempre suspeitei que ela era um pouco apaixonada por Spider. Ela se vendeu para o maldito Kevin Samson porque o executor ia se casar com a garota que é dona de seu coração? Eu sabia que ela não tinha nenhum amor por mim. Eu acabei com ela no passado por ultrapassar alguns limites e fofocar por aí. A última vez foi logo depois que Bash me deixou e ela tinha começado a falar para

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todos que foi uma das primeiras a foder meu homem antes mesmo de ele entrar para o clube. Unhas compridas saíram e enrolaram no meu cabelo. Eu não lutei imediatamente. Depois de lutar com ela eu descobri que ela gostava de jogar sujo e eu não daria razão para ela começar a chutar minha barriga. Bubbles sabia que eu estava grávida, mas não acho que ela se importava naquele momento. — Isto vai ser divertido — Bubbles murmurou e levantou os lábios quando olhou por cima do meu ombro para o homem louco tentando queimar o balcão. — Posso? — Ela é toda sua, querida. Meu instinto assumiu ao ouvir a voz de Samson. Quer essa puta me chutasse ou pior, eu tinha que ficar longe dela e do psicopata se divertindo queimando o bar. O calor das chamas foi ficando maior, e o cheiro de lenha, plástico e licor estava começando a enjoar o meu estômago, e a fumaça crescente fez meus olhos começarem a aguar e queimar minha garganta. O desejo de tossir estava começando a se tornar mais que uma necessidade para expelir a fumaça invadindo meus pulmões. As mãos de Bubbles apertaram meu cabelo, mas eu me recusei a dar-lhe a satisfação de gritar. Estendi a mão para seu cabelo e segurei tão apertado quanto ela. Quando ela tentou me empurrar mais perto, seu joelho se levantando para conectar com meu abdômen, eu torci para a esquerda e levei um punhado de seu cabelo loiro comigo. Mas ela não soltou seu aperto sobre mim como eu esperava. Ela balançou minha cabeça, com força. Eu senti cabelo sendo arrancando e mordi o interior da minha bochecha para não gritar de dor. Seu sorriso se tornou tão vil quanto o de Samson e eu me encolhi mentalmente. Porra, isso não ia acabar bem.

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Capítulo 15 Gracie

Se você tivesse me dito que eu poderia realmente gostar de trabalhar com Jenkins, eu poderia não ter acreditado em você. No primeiro dia quando entrei em seu escritório e expliquei para sua secretária porque eu estava lá, eu ainda estava cética sobre a coisa toda. Cinco minutos mais tarde, eu estava rindo com a mulher de meia-idade que gerenciava a vida empresarial do advogado. Samantha era uma mulher pequena, agradável e tinha a mais bonita pele cor de caramelo que eu já vi na minha vida. Eu rapidamente percebi que ela também era a namorada de Jenkins. Aparentemente, eles estavam juntos há mais de quinze anos, praticamente desde que Samantha começou a trabalhar para ele. Fiquei surpresa com isso, porque Samantha não parecia uma mulher que se contentaria com um relacionamento de longo prazo com alguém e não ser sua esposa a essa altura. Mas também percebi rapidamente que era por escolha de Samantha que não tinham casado ou mesmo noivado. Jenkins, obviamente, amava e adorava Samantha, mas ela era muito possivelmente a única pessoa no mundo que ele amava. Após dois dias de trabalho para ele, percebi que o homem era um advogado excepcional, obviamente gostava de seu trabalho, mas não parecia se preocupar com qualquer outra coisa além de levar Samantha para casa o mais rápido possível no final de cada dia. Além de Samantha, a Jenkins & Jenkins Attorneys At Law - não havia um segundo Jenkins, mas ele disse que soou melhor ter um segundo nome quando nomeou o edifício, e simplesmente colocou seu

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sobrenome duas vezes na porta da frente – havia também outros cinco membros da equipe. Dois dos quais eram assistentes jurídicos com quem eu tinha que trabalhar, além de três assistentes pessoais que cuidavam de certos aspectos do dia a dia de Jenkins. Uma das funções de estagiaria era simplesmente agendar compromissos, o que eu descobri que por vezes tinham que ser agendadas com semanas de antecedência devido ao número de casos de Jenkins. Percebi

que

o

homem

realmente

estava

precisando

desesperadamente de outro advogado para ajudar a tirar um pouco do estresse de seus ombros e mergulhei para ajudar tanto quanto possível, considerando que eu não era assistente jurídica nem advogada. Desde o primeiro dia, no entanto, comecei a aprender mais e mais coisas que eu sabia que nunca aprenderia nas aulas. Tudo desde casos de danos pessoais a multas por velocidade e batalhas de custódia chegavam no escritório todo dia, e eu vi que realmente estava ansiosa para, eventualmente, assumir a função depois que o homem que estava rapidamente se tornando meu mentor sair. Meu trabalho não era particularmente divertido, mas eu sinceramente gostava mais a cada minuto. Mesmo quando ficava particularmente frustrante, eu ainda gostava. — Gracie, você me disse para lembrá-la quando fosse 16h45 — disse Samantha quando ela entrou no escritório menor que Jenkins me deu, logo ao lado do dele. Meus olhos levantaram das declarações da polícia que eu estava revendo de uma recente reivindicação de ferimento pessoal de um roubo rápido e olhei para o pequeno ícone do relógio no meu computador. Eram quatro e quarenta e seis e eu precisava ir se quisesse pegar o enorme bolo que Raven encomendou para a festa de hoje à noite para a volta de seu irmão. Eu precisava ir pegá-lo e depois ajudá-la a arrumar a monstruosidade antes dos meninos do MC chegarem por volta das seis. Desligando meu computador, eu empurrei todos os meus arquivos de volta para a pasta de couro e as tranquei em minha mesa.

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Atirei um sorriso para Samantha e levantei, pegando minha bolsa, chaves e celular no processo. — Obrigada, Sam. Acho melhor me apressar. Raven vai estar em pânico se eu chegar apenas alguns minutos mais tarde do que prometi. Ela está tão animada sobre Jet voltar para casa que ela estava dançando e cantando para si mesma já a alguns dias. A pele ao redor dos ricos olhos escuros de Samantha enrugaram quando ela sorriu. — Uau, ela realmente deve estar animada. Aquela garota faria qualquer coisa por seus irmãos, mas Jet – ele é sua rocha. Quando Max morreu, Jet já era como um segundo pai para ela. — O sorriso esmaeceu. — Deve ter sido muito difícil para ela ter ficado longe dele por tanto tempo. — Sim, — eu concordei. Mesmo que eu soubesse pouco sobre Raven, eu percebi desde o início que Jet era o mais significativo para ela entre seus quatro irmãos. — Estou feliz por ela e o resto dos Hannigans. Eu também estava nervosa como inferno sobre o encontro do homem que era o que eu imaginava ser o patriarca do clã Hannigan. Eu sabia por que ele foi para a prisão, e honestamente eu estava um pouco orgulhosa do homem que eu ainda não encontrei, por cuidar de sua família assim. Claro, ele matou um homem e foi condenado por homicídio, mas ele estava protegendo sua... bem, eu não estava tão certa do que Felicity Bolton era para ele, mas ele ainda a protegia. Eu andei com Samantha para a frente do escritório e me despedi quando sai e subi no Chevelle que eu ainda continuava a dirigir. Hawk substituiu a janela do lado do motorista e limpou o interior já que escorreu sangue por todo o volante e no banco quando Harley me atacou. Eu não sei quanto tempo mais eu conduziria esse carro, entretanto. Era um pouco demasiado poderoso para mim, e agora que eu estava fazendo algum dinheiro sério trabalhando para Jenkins, eu poderia usar um bocado desse dinheiro com um carro menor. Eu não tinha mencionado isso para Hawk ainda, mas falaria em breve.

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Só não quero começar uma discussão com ele quando as coisas estavam indo tão bem ao longo das últimas semanas. Minhas bochechas aqueceram em reação aos flashes de nossas noites nos braços um do outro que apareceram em minha mente como uma apresentação de slides. Eu tive que admitir que a nossa paixão parecia crescer mais a cada dia. Nosso amor foi se tornando mais e mais ousado a cada noite que passava, dormindo nos braços um do outro. Eu amei cada momento e estava começando a perder a batalha interior que eu continuamente tendo comigo mesma sobre dizer que o amava quando ele estava dentro de mim, me levando em direção a um orgasmo que me deixava alheia ao mundo em geral. A única coisa que estava me impedindo era que ele sequer deu a entender que me amava tanto quanto eu o amava. Claro, eu suspeitava que seus sentimentos eram fortes, mas eu estava com medo de descobrir que apenas o sexo era incrível e que ele não me amava tanto assim. Empurrei os pensamentos do meu motoqueiro da minha cabeça enquanto eu dirigia por toda a cidade para pegar o enorme bolo que Raven passou mais de uma hora discutindo com o padeiro para encomendar, especificando a forma como ela queria. Eu só sabia que deveria ter uma moto nele e algo escrito do tipo “Bem-vindo de volta para casa, Irmão”. Fora isso, eu era ignorante sobre o que o bolo parecia. Eu definitivamente não estava esperando precisar de duas pessoas para colocá-lo no carro e prendê-lo no porta-malas, o único lugar grande o suficiente para segurar sem medo de escorregar. Eu dirigi a dez quilômetros abaixo do limite de velocidade até o bar e ainda me preocupei com buracos fazendo o bolo pular até que cheguei no bar e estacionei suavemente ao lado do Challenger de Raven. Eu pulei para fora do carro, pronta para correr para chama-la para me ajudar a levar o bolo, porque não tinha como levar aquilo sozinha. O cheiro repentino e amargo de fumaça me forçou a parar e olhar ao redor. O cheiro era tão forte que eu, instintivamente, sabia que algo estava errado, muito errado.

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Olhando em volta, tentei identificar de onde o cheiro estava vindo. Senti o distinto cheiro de madeira queimando e pintura derretendo, e era tão forte que eu sabia que estava vindo de algum lugar próximo. O único problema era que não havia outra coisa senão o bar perto o suficiente para produzir um cheiro tão poderoso. Meus olhos se levantaram para o céu e meu coração parou quando vi a fumaça no ar, vindo do outro lado do bar. Eu não vi as chamas e percebi que o fogo tinha que estar vindo de dentro do bar. Merda. Não, eu pensei quando puxei meu celular do bolso e dei um soco no 911. Não havia nenhum outro veículo no estacionamento, mas eu tinha visto um carro parado no lado da estrada a menos de meio quilometro abaixo da estrada. E se alguém estava lá dentro? Oh, Deus! Voltei a olhar para o carro de Raven e rezei para que ela o tivesse deixado lá e ido para casa com Willa e Lexa. Por favor, Deus. Por favor, não deixe que ela esteja lá dentro. — Nove-um-um — a voz de um calmo despachante masculino encheu minha orelha. — Qual a emergência? — Estou no Hannigan’s Bar. — Espere. Era esse o nome do lugar? O medo me fez apagar por um momento. Agitando minha cabeça, eu percebi que certamente não importava se o nome estava certo. Não havia outro bar no condado com um nome similar. — Acho que ele está pegando fogo. E não tenho certeza se há alguém dentro ou não. — Tudo bem, senhora. Despachamos bombeiros para a sua localização. Eles devem chegar nos próximos três minutos. Mantenha-se na linha comigo e não entre no prédio. — Seu tom ainda era calmo e ajudou a acalmar minha ansiedade em fúria, mas quanto mais tempo eu fiquei ali o medo que de que Raven pudesse estar lá dentro começou a ficar mais forte com o aumento do cheiro de fumaça no ar. Eu tinha toda a intenção de ficar no telefone com o homem, mas pela crescente fumaça no ar e o calor que eu estava começando a sentir

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vindo do edifício eu sabia que provavelmente estava um inferno lá. Não era seguro lá dentro. Eu precisava ficar do lado de fora... O grito arrepiante que preencheu o ar fez meu sangue gelar e todos os pensamentos de ouvir o homem do outro lado do meu telefone evaporaram. Alguém se machucou e eu não podia correr o risco de que fosse Raven, ou qualquer outra pessoa lá dentro que podia estar ferido ou pior. Larguei o celular e corri para a porta da frente. A sensação da maçaneta estava quente, mas não insuportavelmente quente, me dizendo que o fogo não atingiu esse lado do bar ainda. Eu empurrei para dentro, meus olhos procurando a sala cheia de fumaça e eu parei no meu caminho enquanto olhava a cena diante de mim. Atrás do bar estava Kevin Samson, o homem de alguns dos meus pesadelos. Esse homem, esse lunático sociopata louco tinha tentado me violar com a ajuda de minha antiga companheira de quarto e seu namorado. Aquele lado estava envolto em chamas e ele apenas continuava jogando mais e mais garrafas de licor no fogo, sem se importar ou não se ficaria preso lá enquanto fazia aquilo. Havia três paredes de chamas em torno dele e atrás do balcão superior. Eu não tinha tempo para me preocupar com o idiota cometendo incêndio criminoso. Outro grito ricocheteou nas paredes e meu olhar foi para as duas loiras lutando apenas seis metros de mim. Raven estava no chão com uma garota de quem eu me lembrava vagamente em cima dela socando-a no rosto com o que parecia juntas de bronze em suas mãos. Mesmo em meio à fumaça crescendo, eu percebi que Raven estava sangrando e, embora ela estivesse tentando lutar contra, ela parecia mais preocupada em evitar que a menina lhe batesse no estômago. Oh infernos não! Esta menina não só machucaria minha amiga, mas também estava tentando machucar o bebe dela. Me mexi sem pensar. Nunca estive em uma luta em minha vida e pela briga acontecendo sabia que eu não tinha a menor chance contra

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esta cadela batendo na minha amiga grávida. Agarrei a primeira coisa que vi, uma cadeira que estava em volta de uma das mesas. Era pesada, feita de uma madeira de boa qualidade. Ninguém reparou em mim quando corri em direção às meninas. Levantando a cadeira, eu a bati na cabeça da outra loira. Com um grito de dor, a outra menina caiu sobre Raven - que parou de se mover. Oh droga! Será que eu a machuquei também? Oh, Deus. Oh, merda. Por favor, por favor, por favor. Me mexi rapidamente. Empurrando a cadela para fora de minha amiga, eu me agachei para examinar Raven. Seu rosto estava ensanguentado, sua respiração superficial. A fumaça estava ficando mais pesada no ar e as chamas estavam fazendo suor rolar pelo meu rosto, encharcando minhas roupas. Não era seguro para Raven estar respirando esse veneno. — Raven? — Eu cuidadosamente balancei seus ombros. — Raven — Eu gritei o nome dela. — Por favor, acorde. Abra seus malditos olhos! Ela gemeu, mas não abriu os olhos. Atrás de mim eu podia ouvir Samson xingando, provavelmente percebendo que prendeu a si mesmo em seu próprio inferno. Eu não me importava o suficiente para querer ajudá-lo. Tudo que eu queria era tirar Raven de lá o mais rápido possível. Eu sabia que eu não poderia levá-la, mas talvez pudesse arrastála sem machucá-la mais do que já estava. Eu levantei sua parte superior do corpo e deslizei os braços sob as axilas. Porra, peso morto tornava uma menina tão em forma quanto Raven muito mais pesada do que eu achava que ela realmente era. Precisou de toda a minha força para arrastá-la poucos passos. Do lado de fora, eu pensei ouvir o som de sirenes. Graças a Deus, a ajuda estava a caminho. Saber disso me deu um pouco de força adicional, e eu arrastei Raven até a porta. Tive que reposicionar meu aperto sobre os ombros magros para abri-la. Quando o ar fresco soprou contra as minhas costas, o som torturado de dor agonizante encheu o ar

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tão fortemente quanto a fumaça que estava começando a queimar no meu peito. Como se eu estivesse assistindo uma cena assustadora em um filme ruim, eu não conseguia tirar os olhos do homem que agora estava em chamas. Vômito subiu em minha garganta quando o cheiro de carne queimada prevaleceu sobre o outro cheiro pútrido no ar. Samson estava preso; não tinha como sair. Mesmo se ele pulasse, teria que ser sobre uns bons três metros de chamas tão altas como a altura do peito. Não tinha como saltar em segurança mesmo que ele quisesse agora. Suas roupas foram engolidas, e enquanto eu observava, seu cabelo pegou fogo. Raven mexeu em meus braços, gemendo como se estivesse sentindo o cheiro ruim, e eu tive que tirar meus olhos do pesadelo do outro lado da sala. Aumentando meu aperto debaixo de seus braços, eu arrastei-a para fora, logo quando três caminhões de bombeiros derraparam até parar no estacionamento junto com duas ambulâncias. A partir daí tudo aconteceu tão rápido que eu ainda estava chocada por ter visto o que aconteceu com Samson. Aconteceu em questão de minutos, mas pareceu horas. Enquanto bombeiros corriam para o bar, eu assistia a tudo como se fosse uma experiência fora do meu corpo. Como se eu estivesse vendo lá de cima. Os paramédicos correram para pegar Raven de mim e eu mal tive tempo de registrar o que eles estavam fazendo antes de carregarem-na para a parte de trás de uma ambulância e saírem correndo com as suas luzes e sirenes ligadas. Notei policiais chegando logo quando outro bombeiro estava tirando a outra loira no bar. Dois outros paramédicos foram até ela, e eu só fiquei lá observando a porta da frente do bar. Quando eles começaram a quebrar as janelas, eu não ouvi. Quando três bombeiros tiraram um Samson carbonizado, eu não consegui mais aguentar. Meus joelhos enfraqueceram e eu caí para a frente com vômito forçado ganhando força. Eu escutei as palavras “Ele mal está aguentando” e, em seguida, não havia nada além do esquecimento feliz quando o mundo ficou preto.

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Capítulo 16 Hawk

Estávamos a apenas três quilômetros do bar quando eu comecei a sentir cheiro da fumaça. A ambulância nos ultrapassou com suas luzes e sirenes em fúria a mais de um quilometro atrás na estrada e meu estômago começou a torcer com o tipo de nós que me diziam que eu não ia gostar do que eu ia encontrar quando chegássemos ao bar. Bash era o único na minha frente e nós vimos os carros de bombeiros ao mesmo tempo. Vi a mudança nele imediatamente. Sua cabeça virou e ele olhou para trás para o caminho de onde viemos, como se ele estivesse procurando por uma ambulância, mas ela já estava muito longe. A fumaça no ar era espessa. Havia homens com grandes mangueiras de água pulverizando o bar, enquanto outros estavam correndo ao redor. Parecia ser o caos total, mas eu ainda consegui manter minhas emoções. Parecia que alguém tinha queimado o bar, ou pelo menos tentado. Diferente do que pareciam ser janelas quebradas eu não vi nenhum dano exterior, pelo menos não deste lado do bar. Não, não foi até que eu vi os dois carros no estacionamento cercados por todos os veículos de emergência que o meu corpo se transformou em gelo frio e suor irrompeu no meu lábio superior. O Challenger de Raven e o Chevelle que eu praticamente dei a Gracie. Elas estiveram aqui, mas estavam a salvo? Quem diabos estava na ambulância?

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Bash sequer se incomodou de colocar para baixo o estribo antes de pular da moto, deixando-a cair atrás dele enquanto ele agarrava a primeira pessoa que podia. — Onde diabos está Raven? O homem, vestido com um uniforme de paramédico, empalideceu quando seus olhos encontraram os relâmpagos piscando vindo dos olhos do meu presidente. Ele engoliu em seco, mas não hesitou em falar. — Garota loira? — Sim, — ele rosnou. — Onde ela está? — N-nós pegamos duas loiras inconscientes. Uma foi levada às pressas para o hospital com ferimentos múltiplos e uma possível hemorragia interna. A outra está começando a acordar e está sendo tratada naquele caminhão lá. — Ele levantou um dedo trêmulo e apontou para o caminhão de incêndio na parte de trás do estacionamento. Todos os olhos dos irmãos do clube foram direto para lá, mas mesmo daqui que eu podia ver que a loira não era Raven. Estreitando meus olhos, vi Bubbles, que estava sentada enquanto um paramédico a examinava. Ela estava sangrando e parecia atordoada pra caralho, mas estava viva. Oh merda! Onde diabos estava a minha irmã? E onde estava Gracie? — Raven. Bash soltou o homem e passou as mãos pelos cabelos. Quando ele se virou para mim, seus olhos estavam mais selvagens do que eu já tinha visto nele. Meu próprio medo pela minha irmã subiu. Hemorragia interna? Isso significava que ela ia perder o bebê? — O que diabos está acontecendo? — Jet rugiu quando veio atrás de mim. Olhei para o meu irmão mais velho e tive que reprimir a súbita vontade de dar um passo atrás. — Onde está minha irmã? Onde está Raven? — Hospital — eu raspei para fora através de um nó na garganta. — Vá, — eu disse a ele. — Encontre-a.

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Bash tremia quando ele correu de volta para sua moto. Ele ergueu a moto derrubada como se fosse um pequeno brinquedo em vez de uma máquina de aço pesado. Tive um medo repentino dele destruindo tudo quando ele e Jet queimaram borracha saindo do estacionamento. Eu queria ir com eles, e estava contente quando vi Colt e Raider seguindo rapidamente atrás deles, mas eu tinha outras coisas com que tratar. Como encontrar a minha mulher e me certificar de que ela está a salvo. — Achamos outra! — Alguém gritou. Meus olhos correram para o homem que havia falado. Eu duvidava que eu já corri tão rápido na minha vida quando me esquivei de uma pessoa após outra para chegar ao paramédico que estava agachado sobre uma figura imóvel deitada no chão. Meu coração parou quando cheguei. Era Gracie, e ela estava deitada imóvel no chão. O médico acenou algo debaixo do nariz dela e ela gemeu antes de gritar. — Raven! Eu caí de joelhos ao lado dela, empurrando o paramédico do meu caminho para que eu pudesse chegar até ela. — Gracie — eu sussurrei, enterrando meu rosto em seu cabelo cheirando a fumaça. — Porra, baby. Oh, Deus. Oh merda. — Pela primeira vez desde que eu era um garotinho, senti as lágrimas ardendo meus olhos. Ela estava segura. Oh Deus, obrigado, ela estava segura. Mãos entrelaçaram com a camisa debaixo do meu colete e seguraram firmes quando ela ergueu os olhos cheios de lágrimas para os meus. — Raven. Ela ficou machucada. Eu não sei onde a levaram, mas ela estava sangrando. — Bash e meus irmãos estão indo para o hospital agora. — Eu beijei seus lábios, rápido e duro, sentindo a necessidade de prová-la. Ela empurrou de volta. — Eu fiquei enjoada e vomitei. — Não dou a mínima. — Beijei-a novamente em seguida, me afastando um pouco. — O que aconteceu, baby?

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Mais lágrimas começaram a transbordar. — Eu cheguei aqui e senti cheiro de fumaça, então liguei para o 911. Eles me disseram para ficar fora, mas ouvi Raven gritando. Tive que entrar e me certificar de que ela estava bem. — Ela engoliu em seco, seu olhos molhados se fechando, mas isso não impediu que as lágrimas caíssem. — Aquela outra garota estava em cima dela, batendo nela com aquele metal que fica nas juntas, como se chama mesmo? Que seja, não me importo. Ela estava batendo muito e Raven estava tentando lutar de volta, mas ela estava principalmente tentando proteger seu estômago. Raiva começou a tomar o lugar do medo que eu estava sentindo até que eu tinha encontrado Gracie. Bubbles machucando minha irmã grávida? Era verdade, porra? Eu lidaria com isso mais tarde, mas primeiro eu precisava saber do resto. — Bubbles ateou o fogo? Gracie sacudiu os cabelos emaranhados. — Não, foi Samson. Ele estava atrás do bar quebrando garrafa após garrafa e atiçando o fogo. Mas ele não estava prestando atenção ao que estava fazendo e ficou preso — ela engoliu em seco, com o rosto verde girando como se estivesse enjoada de novo. — Eu bati para tirar a loira de cima de Raven com uma cadeira, mas ela não acordou, então eu comecei a arrastá-la para fora de lá. Mas Samson... — Ela engoliu em seco novamente e se afastou um pouco como se estivesse se preparando para vomitar novamente. — Samson pegou fogo e começou a gritar. O cheiro... — Mais uma vez ela engoliu. — Trouxeram-no um pouco depois e disseram que ele ainda estava vivo, mas eu não sei como. Sua pele estava toda preta e parecia que estava apenas se segurando em seus ossos. Porra, Gracie viu algo assim? Não sei como eu teria lidado em ver um homem queimado vivo, mas eu sabia que não seria bom para Gracie. Ela era uma mulher forte, mas eu não conhecia muitos homens ou mulheres que poderiam lidar com algo assim. — Acho que ele está na outra ambulância, mas ele ainda está aqui. — Seus olhos cor de uísque envelhecido foram para a ambulância ainda no estacionamento. — Ele ainda está vivo?

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— Eu não sei — eu disse a ela honestamente. Eu não me importava se ele estava vivo ou morto de qualquer forma. Se ele estivesse morto, então boa viagem; e se ele estava vivo, não estaria por muito tempo. Eu pessoalmente me certificaria disso, e se suas queimaduras não acabassem com ele, minha bala entre seus olhos sim. — Willa e Lexa ainda estão em casa — Spider murmurou atrás de mim. — Acabei de ligar para avisá-la do que está acontecendo. Vou para lá verificar se elas estão bem antes de ir para o hospital ver a Raven. Eu levantei cuidadosamente e ajudei Gracie a se levantar. Ela inclinou-se levemente contra mim. — Ok, cara. Cuide-se. Os olhos negros de Spider foram para a minha mulher. — Você está bem, Gracie? Ela lhe deu um sorriso fraco. — Sim, acho que vou ficar bem. — Ok, bom. Fico feliz. — Ele deu um sorriso forçado e começou a se virar. Estendi a mão e peguei seu cotovelo. Os olhos de Spider se arregalaram quando dei um passo mais perto e baixei a minha voz. — Foi Bubbles que bateu em Raven. Peça a alguém para vigiá-la. Se eles a levarem ao hospital, sigam-na. Eu não a quero fora de nossas vistas. Quando isso acabar, nós podemos lidar com ela, mas não quero que ela tente fugir. — Porra, cara. Você tem certeza? Bubbles? — Seus olhos foram para o caminhão de bombeiros onde eu tinha visto as ovelhas a pouco tempo atrás. — Eu cuidarei disso. Não se preocupe com isso. Apenas lide com sua mulher e depois vá até o hospital. Eu esperei até que Spider tivesse se afastado antes de voltar para Gracie. Puxando-a com força contra o meu peito, eu enterrei meu rosto em seu cabelo novamente. — Baby, estou tão feliz que você está bem... Está tudo bem, não é? — Eu me afastei o suficiente para examinar seus olhos. — Você precisa ir para o hospital? Você precisa de um médico? — Oh merda. Eu ainda não tinha pensado que pode ter algo errado com ela.

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O sorriso dela tremia. — Estou bem. Eu meio que desmaiei quando vi trazerem Samson. — Caramba, baby. Eu te amo pra caralho. Seu corpo inteiro ficou tenso e eu percebi o que eu tinha acabado de dizer. Puta que pariu. Eu deveria ter esperado. Ela não precisa se lembrar da primeira vez que eu disse a ela que a amava assim. Seria manchar o que eu sentia por ela, fazer parecer menos importante. Eu era um idiota... — Eu também te amo — ela sussurrou e outra lágrima caiu por sua bochecha. — Eu te amo faz um longo tempo, Hawk. Alguma da minha tensão diminuiu quando vi o amor brilhando de volta para mim em seus olhos. Não fazia nada do que estava acontecendo em torno de nós melhorar, mas deixou um pouco mais suportável ouvi-la dizer as palavras. Me acalmou o suficiente ser capaz de lidar com o que pode estar acontecendo com a minha irmã.

*** Os policiais tornaram impossível sair cedo dali. Eles queriam uma declaração de Gracie ali mesmo e, embora eu lhes disse que precisava de tempo para lidar com o choque que ainda a fazia tremer, eles pediram que ela recontasse a história mais uma vez. Sentei-me ao seu lado, segurando sua mão com força enquanto ela soluçava e quase vomitou novamente com a lembrança do corpo carbonizado de Samson. Para mim, a boa notícia foi que o filho da puta morreu não muito tempo depois de o terem colocado na ambulância e tentarem estabilizálo o suficiente para que pudessem levá-lo ao hospital. A má notícia foi que Bubbles estava tentando jogar a história de que Gracie agrediu Raven, que era a minha menina em cima da minha irmã surrando-a. Eles levaram trinta minutos para perceber que Gracie não tinha quaisquer ferimentos que sugeriam que ela estava batendo em alguém e que Bubbles tinha marcas defensivas no rosto e no resto do corpo onde Raven

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tinha revidado. Mas não foi até que o bombeiro encontrou as juntas de bronze que corroboraram a história de Gracie, então aceitaram sua palavra e nos deixaram ir. O chefe do corpo de bombeiros disse que o fogo foi apagado, que havia dano suficiente na parte de trás do bar e que foi perda total da estrutura. Nós tínhamos seguro, então não me preocupei em reconstruir. Era o significado por trás deste edifício que quebrou meu coração um pouco. Este foi o bar do meu pai. Ele colocou seu suor e lágrimas no lugar. Foi porto seguro do meu MC, um lugar que cada um de nós chamamos de casa de alguma forma ou de outra desde antes de nós, na verdade, sermos legalmente autorizados a beber. Me disseram que eu podia entrar e ver o lugar, mas eu queria que meus irmãos e Raven o vissem comigo primeiro. Ninguém tinha tentado ligar ou até mesmo mandar mensagens com notícias sobre como Raven estava. Lentamente, meus irmãos do clube saíram um por um para estar com Bash e meus irmãos. Eu sofria para ir com eles, mas não havia como deixar Gracie sozinho. Quando os policiais nos liberaram para ir, eu coloquei Gracie no lado do passageiro do Chevelle e fomos para o hospital. O estacionamento estava lotado, com todas as motos do MC. Quando entramos na sala de espera, não havia um lugar para sentar. Todas as senhoras estavam lá, seus homens e até mesmo as ovelhas estavam presentes. Minha irmã pode ser difícil, mas isso não significa que esses homens e mulheres não a amam e respeitam. Avistei Jet, Colt, e Raider com Tio Jack e Spider perto da primeira porta e corri em direção a eles. — Como ela está? — Eu exigi. — Ninguém está nos dizendo merda nenhuma. Bash está lá atrás, mas só porque ele ameaçou surrar qualquer um que entre no caminho. — Jet esfregou as mãos sobre o rosto. Meu irmão estava tão cheio de sorrisos quando o vi a tantas horas atrás. Agora ele se parecia com o que eu sentia. Que estávamos caminhando por um terrível pesadelo. — Os

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enfermeiros não nos dizem merda nenhuma, embora tenha entrado um atrás do outro no quarto dela. A única razão pela qual eu estou aqui é porque aquele filho da puta do segurança ameaçou chamar a polícia e eu não quero perturbar Raven por acabar em uma cela de prisão apenas algumas horas depois de sair de uma. Estendi a mão e apertei o ombro do meu irmão. — Ela vai ficar bem. Temos que continuar pensando nisso. Jet apertou a mandíbula e assentiu com a cabeça, mas não disse mais nada. Parecia que fiquei na sala de espera por horas. Uma ovelha trouxe café de algum lugar e empurrou copo atrás de copo em nossas mãos. Alguém começou a distribuir sanduíches, mas eu não conseguia comer e nem meus irmãos. Uma pessoa após a outra me ofereceu lugar, mas eu estava muito inquieta para me sentar. Tentei fazer Gracie sentar, mas ela disse que precisava estar ao meu lado, então ficamos ali em silêncio, apoiando um ao outro. Era quase meia-noite antes de Bash entrar na sala de espera. Seu rosto estava pálido, os olhos disparando raios de uma forma que me assustou, mas seus lábios se elevaram em um sorriso triste quando ele agarrou Jet e o abraçou. — Ela vai ficar bem. Ela tem um osso malar direito quebrado e seu pulso esquerdo teve de ser colocado no lugar. Não houve

hemorragia

interna

como

pensavam,

mas

eles

estavam

preocupados que ela abortasse. Depois que fizeram um ultrassom e se certificaram que a criança estava bem, eles decidiram que ela ia ficar bem. Meu corpo de repente ficou leve com alívio. Raven ia ficar bem. O meu pequeno sobrinho ou sobrinha ia ficar bem, também. Senti meus olhos picarem pela segunda vez naquele dia e enterrei meu rosto no cabelo de Gracie para esconder minhas lágrimas de alívio.

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Raven Meu rosto estava inchado e dolorido, meu pulso uma grande dor. As enfermeiras me ofereceram remédios para dor, mas fiquei assustada de poder afetar meu bebê, apesar da garantia de que não iria. Com a dor eu poderia lidar, com machucar o bebe aninhado tão confortavelmente debaixo do meu coração eu não podia. Bash tinha acabado de sair para assegurar meus irmãos que eu ficaria bem. Por alguns minutos hoje eu não tinha tanta certeza se eu conseguiria ou não, mas eu estava seriamente grata que não era o caso. Fazendo uma careta, tentei empurrar as memórias do dia da minha mente, mas eu não conseguia tirar a imagem de Bubbles tentando tirar o meu filho de mim da minha cabeça. Eu não tinha ideia de onde essa cadela estava agora, mas assim que eu saísse da cama eu colocaria uma bala em sua cabeça eu mesma. Por agora, no entanto, eu tinha que cuidar de mim e do bebê na minha barriga. Pensar que a tecnologia de ultrassom tinha descoberto simples e claramente que era um menino me fez sorrir apesar de toda a dor que eu sentia. Eu realmente tinha um pequeno Bash crescendo dentro de mim. Um filho era o que eu estava querendo, não só porque eu queria um pouco do homem que eu amava andando por aí, mas porque eu temia que ter uma menina faria Lexa pensar que eu a amava menos. Eu não sabia o que eu teria feito se fosse o caso, mas fiquei feliz por não ser. Eu amava Lexa como se fosse minha e nunca quis que ela se sentisse de forma diferente porque ela não tinha nascido de mim. A súbita abertura da porta do quarto do hospital me fez pular de medo, ainda um pouco instável com os eventos do dia. Bash estava na sala em um piscar de olhos, as mãos movendo-se sobre as partes do meu

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corpo que não doíam. Uma façanha difícil já que a maior parte do meu corpo era um grande pulsar. Grandes mãos que seguravam a força de um deus grego me acariciaram com tanta delicadeza que eu não podia evitar as lágrimas que encheram meus olhos. Oh merda. Eu estive tão perto de nunca mais ver esse homem bonito novamente. — Eu amo você, — eu sussurrei pelo que foi provavelmente a centésima vez desde que ele se juntou a mim no hospital tantas horas atrás. — Eu também te amo, Raven. — Ele roçou os lábios com ternura sobre meus olhos úmidos, tendo o cuidado de evitar minha bochecha fraturada. Um Raio X - que eu tinha sido contra por poder machucar meu filho, mas que os médicos fora inflexíveis sobre fazer – mostrou que era apenas uma fratura e não precisaria de cirurgia. Eu tive sorte com o pulso quebrado, e por terem conseguido colocá-lo no lugar sem problemas. Deixei minha mão ilesa empurrar seu cabelo escuro para trás de seu rosto. — Você ligou para Willa? Lexa está bem? Alguns dos raios de tempestade que estiveram piscando atrás dos olhos do meu motoqueiro a noite toda desapareceram e ele sorriu levemente. — Liguei para ela, embora ela já soubesse o que estava acontecendo graças ao Spider. Lexa está bem, apenas um pouco chateada que ela não pode vir vê-la esta noite. Engoli em seco. — Ela me chamou de “mamãe” hoje, — eu sussurrei. — Eu deveria ter ficado em casa com ela quando ela me implorou. Se eu tivesse, isso não teria acontecido. Nosso filho não teria sido posto em perigo. — Pare com isso — ele gentilmente repreendeu. — Você não poderia saber que isso aconteceria. Você não tinha nenhuma razão para pensar que Bubbles iria te machucar. — Ele se sentou na beira da minha cama de hospital e cuidadosamente colocou uma de suas mãos gigantescas na minha barriga baixa. — Você e nosso filho estão bem. Isso é tudo o que me importa agora.

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Eu cobri a mão dele e nós nos sentamos lá em silêncio por um longo tempo. Quando ele estava ao meu lado, me tocando e fazendo eu me sentir amada e segura, a minha dor quase foi suportável. Um bocejo escapou de mim e meus olhos começaram a se fechar. Sono traria o doce esquecimento desse dia foda. — Está tudo bem ela te chamar de “mãe”? Meus olhos calmamente se abriram com a pergunta. Quando encontrei seu olhar, eu vi que ele parecia preocupado. — Claro que está tudo bem. Eu amo aquela garotinha tanto quanto amo você e o bebê que criamos juntos. Por que você acha que eu não estaria bem com isso? Você... não quer que ela me chame assim? — Ele sempre me deu a impressão de que ele estava feliz que Lexa e eu somos próximas, mas e se eu estiver errada? E se ele não queria que sua filha pensasse em mim como sua mãe? — Não, não. Porra, não, Raven. — A mão no meu estômago virou e ele apertou meus dedos. — Baby, eu estou tão feliz que as duas mulheres mais importantes da minha vida são tão próximas. Eu só quero ter certeza que você está bem com isso. — Ele fez uma careta e balançou a cabeça antes de me dar um sorriso que era quase tímido. — Como você se sente sobre ela te chamar de “mamãe” o tempo todo? E se você a adotasse? — Eu ... — Lágrimas encheram meus olhos e eu tive que piscar de volta. — Eu adoraria, Bash. Eu pensei que estar a bordo com a sua sugestão o faria sorrir, ou me beijar. Alguma coisa. Em vez disso, ele apenas pareceu incrivelmente nervoso, o que me deixou ansiosa. Ele mudou de posição na cama, em seguida, soltou um longo suspiro. Mordi o lábio. — Fale logo, Bash, — Eu praticamente gritei quando ele apenas continuou a se contorcer e comecei a suar. Ele me deu um sorriso encabulado. — Bem. Não era pra ser assim. Eu queria fazer na festa na frente de todos, mas pelo menos eu estou

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começando a pedir esta noite. — Ele empurrou uma grande mão no bolso das calças de brim da frente. Quando ele puxou-a de volta, estava segurando algo. Bash lambeu os lábios e engoliu em seco, em seguida, abriu a mão. Se uma menina disser que não gosta de diamantes, ela é uma cadela mentirosa. Toda mulher na face do planeta vai parar para olhar para essas pequenas gemas brilhantes. Eles são como uma sirene chamando marinheiros para o mar. Eu não era diferente. E o diamante no anel que Bash revelou era um dos mais belos que eu já tinha posto os olhos. Ver o incrível anel de diamante fez meu cérebro ficar em branco por um momento, mas quando ele começou a funcionar de novo eu percebi o que o anel significava e minha garganta apertou e lágrimas derramaram dos meus olhos desavisados. — Oh meu Deus, — eu sussurrei. Bash riu nervosamente. — Isso não é realmente uma resposta, baby. Pisquei na esperança de limpar a minha visão para que eu pudesse vê-lo claramente. — Você não me perguntou nada, — eu o lembrei. Ele balançou a cabeça escura, um sorriso maroto em sua boca. — Raven Anne Hannigan, parece que eu te amei a minha vida toda. Eu não posso viver sem você - eu já tentei isso e é uma porcaria. Eu não quero nunca me separar de você. Quer se casar comigo e me deixar te amar, te proteger, e adorar você para o resto da minha vida? Bem, quando ele diz assim... — Sim.

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Epílogo Jet

A casa estava em silêncio. Após os acontecimentos do dia, eu estava grato por ter algum tempo de inatividade. Minha família sabia como dar um inferno de uma festa e o casamento da minha irmã caçula não foi exceção. Raven fez Bash esperar até depois do bebê nascer antes de se casar com ele. Eu sabia por que ela o fez esperar e não tinha nada a ver com ela não querer estar grávida. Ela estava esperando que Flick voltasse antes de ela se casar. Raven queria sua melhor amiga lá com ela quando ela desse um passo tão gigantesco em sua vida. Mas isso não aconteceu, e Bash começou a ficar impaciente, algo que eu não poderia culpá-lo. Agora, pouco mais de seis meses desde o nascimento de seu bebê, Raven tinha oficialmente se tornado a Sra Sebastian Reid. Eu estava feliz por ela, mas caramba, ela me fez passar um inferno de um dia emocionante. Foi difícil pra caralho levar minha irmãzinha até o altar, especialmente quando eu sabia que ela não estava realmente feliz com seu casamento. Eu me inclinei para trás em minha cadeira e liguei a TV, na esperança de encontrar algo que me acalmasse depois da loucura de ver a garota que eu passei a vida vendo como minha própria filha se casando com o único homem que jamais a mereceria. Pelo menos Willa e Spider foram inteligentes e fugiram para Las Vegas para casar, em vez de me fazer sofrer através de um casamento grande, ao contrário de minha irmã que tinha que ter seu vestido branco. Ela não teve damas de honra, no

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entanto. Isso foi outra coisa com que Hawk ficou chateado com Flick, já que ele pensou que ela tinha arruinado um dia feliz de nossa irmã. As coisas têm sido uma loucura desde que eu cheguei da prisão. Nós reconstruímos o bar, e eu achei que parecia melhor do que nunca, mas foi difícil para todos nós sabermos que o lugar que foi o legado de nosso pai foi tirado de nós, quando aquele filho da puta Kevin Samson incendiou o lugar. Com a morte dele, nós não ficamos em paz. O pai de Samson era um grande senador da Califórnia e ele tentou jogar a culpa da morte de seu filho em nós, praticamente nos acusando de tê-lo matado. Precisou que os policiais fizessem uma investigação federal sobre tudo para convencer o homem de que o filho dele era um psicopata e foi responsável por sua própria morte. Desde então, as coisas se acalmaram um pouco, ou tanto quanto podiam quando sua vida girava em volta de um clube de motoqueiros. Eu estava apenas feliz por estar em casa com a minha família e que minha irmã estava feliz. Era óbvio para mim como ela estava feliz. Raven parecia brilhar com essa felicidade. Eu nunca a vi assim e isso me deu um pouco de paz. Ela era uma mãe maravilhosa para Lexa e quando seu filho Max nasceu, essa merda materna duplicou. Agora ela era casada com o homem que amava e se estabeleceu. Mesmo tão feliz por minha irmã, eu não consegui encontrar verdadeiramente a paz. Eu não desisti de procurar Flick. Assim que Raven voltou do hospital, eu comecei a procurar por ela. Resgatei alguns favores que eu estava guardando para tempos desesperados, depois de tentar com pessoas que não me ajudaram, porque eu sempre senti que eles não queriam que eu a encontrasse. Era como se ela tivesse se tornado a porra de um fantasma e desaparecido no ar. Eu não consegui encontrar a única coisa pela qual eu passei meses sonhando em voltar enquanto eu estava atrás das grades e isso estava lentamente me matando.

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Onde ela estava? Onde diabos estava minha Flick? Um gemido ao lado da minha cadeira me fez olhar para baixo e acariciar atrás das orelhas de Toby. Aquele cachorro era a única conexão que eu ainda tinha com a mulher que era dona do meu coração. Eu o dei a ela antes de voltarmos, quando eu ainda estava tentando esconder o que eu sentia por ela. Porra, eu fui tão idiota naquela época. Fui muito covarde para dizer a menina o quanto eu realmente gostava dela, e então a perdi. Pela graça de Deus eu ganhei uma segunda chance quando ela me disse que estava grávida, mas mais uma vez eu fui uma galinha de merda e esperei muito tempo para arrumar as coisas entre nós. Eu deveria ter pedido para ela se casar comigo no momento que ela me disse que ia ter meu bebê. Em vez disso, eu esperei demais, e um homem que eu pensei ser o meu melhor amigo levou tudo isso para longe de mim. Westcliffe levou mais do que apenas o meu filho na noite que em que bateu em Flick quase até a morte. Ele arrancou minha última chance de estar com a única mulher por quem eu já senti algo forte. A mulher que eu amei desde que ela era muito jovem para me amar, e eu me odiei por isso. Quando eu bati em Westcliffe até a morte, eu fiz isso pela perda do meu filho, pela dor que ele causou na minha mulher, e por mim também. Com cada soco que causou um ferimento interno após o outro, com cada pontapé de minha bota na sua cabeça que resultou em uma fratura no crânio que tinha eventualmente, o levado à morte cerebral, eu fiz isso porque eu sabia que a minha vida tinha acabado e não dava a mínima para o que acontecesse comigo quando eu terminasse. Enquanto estava na prisão, eu tive tempo para pensar. Eu tinha feito planos e sonhava em chegar em casa para que eu pudesse arrumar as coisas para nós. E então ela apareceu do nada e me disse adeus. Ela me deixou e eu fui impotente para detê-la. Mas agora eu era um homem livre e logo

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minha liberdade condicional terminaria e eu poderia viajar para procurala ao invés de depender de idiotas para fazer o trabalho para mim. Eu só tinha que esperar meu tempo e rezar para que eu pudesse encontrá-la. A comédia onde eu parei estava começando a me aborrecer, então eu mudei para o canal de notícias nacional. Um comercial estava passando e eu estava prestes a encerrar a noite quando uma imagem apareceu na tela. No começo eu não a vi. Tudo o que eu vi foi um ônibus de turismo e policiais e alguns grandes homens de terno sob medida, porque não tinha como fazerem ternos tão grande. Eu vi uma pequena ruiva com um telefone no ouvido, e um cara que eu reconheci imediatamente como uma das maiores estrelas do rock no mundo, porque eu escutava a música deles todos os dias. As músicas dos Demon’s Wings estavam sempre aos berros no bar. Era uma das poucas bandas que todos no MC gostavam. Quando vi o roqueiro, eu tive que dar uma olhada porque ele estava carregando um de seus filhos. Uma menina que se parecia muito com a ruiva com o telefone na mão... Lá. Eu bati uma pausa no controle remoto, grato pela maldita tecnologia de congelamento de televisão ao vivo pela primeira vez na minha vida. Pulei da minha cadeira tão rápido que fez Toby pular e latir por pensar que algo estava errado. Eu não me incomodei em calá-lo quando meus olhos travaram na mulher segurando um menino atrás da cadeira de balanço. Porra. Inferno. Seu cabelo estava diferente e parecia que ela tinha perdido um pouco de peso, mas eu sabia que era ela. O anjo com a mandíbula teimosa, a forma de seus lábios enquanto ela sorria para o menino em seus braços. Era Flick.

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Eu a encontrei. Eu bati a reprodução e a voz do apresentador finalmente registrou e eu endureci. — O ônibus do baixista da Demon’s Wings, Shane Stevenson foi arrombado na última parada da banda em sua turnê de verão. Uma fonte nos informou que ninguém ficou ferido, exceto pelo cão do roqueiro, que teve que ser levado às pressas para o veterinário de emergência local. Nenhuma palavra sobre a condição do cão, mas sabemos que ele estava gravemente ferido. A empresária da banda, Ember Jameson Armstrong, não pode nos dar indicação de como estão ainda, mas uma fonte interna nos disse que o gerente normalmente sem emoção estava à beira das lágrimas mais cedo esta noite — Eu a encontrei.

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Playlist “All I Need to Know” Thousand Foot Krutch “Something More” Secondhand Serenade “Never Be the Same” Red “Wrecking Ball (Rock Version)” Our Last Night “Chemical Love” Escape the Fate “Never Have to Say Goodbye” Papa Roach “War over Me” Papa Roach “The Kids Aren’t Alright” Fall Out Boys “Make Me Believe Again” Nickleback “Get Through This” Art of Dying “Right Here In My Arms” HIM “Moth” Hellyeah “Move On” Asking Alexandria “Fall Into Me” Brantley Gilbert “I Am Machine” Three Days Grace “I Am a Stone” Demon Hunter

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