"As pessoas estão cansadas dos políticos, mas não de quem as entretém"

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Até há pouco tempo, a aposta nos formatos de comentário polí­ tico era mais comum nos canais de informação do Cabo. Recen­ temente, RTP e SIC apostaram em caras conhecidas do público para comentar a atualidade política. Luís Marques Mendes che­ gou primeiro à estação de Carnaxide, a 16 de março. No mesmo mês, a RTP anuncia a contratação de José Sócrates. A polé­mica instalou-se e surgiu até uma petição pública contra a presença do ex-primeiro ministro na estação pública. Apesar das movimen­ tações do público, a RTP estreou, a 7 de abril, o formato “A Opi­ nião de José Sócrates”, emitido ao domingo, após o “Telejornal”. Nuno Morais Sarmento chegou à estação pública no mes­ mo mês, com a estreia de “A Semana de Nuno Morais Sarmento”, formato semanal emitido à sexta-feira. A TVI mantém a aposta em Marcelo Rebelo de Sousa. Ao domingo, o professor comenta a atu­ alidade, como já é hábito desde 2010. Marcelo Rebelo de Sousa é considerado o pioneiro de um dos três formatos de comentário político televisivo em Portugal – o da opinião de autor. Entre 2000 e 2004 marcou presença na TVI, canal que abandonou no


“As pessoas estão cansadas dos políticos, mas não de quem as entretém”

seguimento de uma polémica que envolveu o Governo de Santana Lopes. Entre 2005 e 2010 esteve na estação pública e conta, desde então, com um espaço semanal na TVI. Existem ainda os formatos de frente-a-frente, entre dois comentado­ res de áreas políticas diferentes, e o debate alargado, como é o caso do programa “Quadratura do Círculo”, emitido na SIC Notícias, por onde já passaram Nogueira de Brito, José Magalhães ou Jorge Coelho e onde estão hoje António Lobo Xavier, José Pacheco Pereira e António Costa. E de que depende o sucesso destes formatos? Rui Calafate, diretorgeral da Special One Comunicação e antigo assessor no Governo e na Câmara Municipal de Lisboa, acredita que “um político que aceita ser comentador resi­ dente na televisão com um espaço de assina­ tura sua” deve lembrar-se, acima de tudo, de que “televisão é entretenimento”. Torna-se imperativo que o comentador dispa “a pele de simples político e passe a ser um entertai­ ner” e nesse sentido – assegura Rui Calafate – “Marcelo bate todos por KO”. Rui Calafate diretor-geral da Special One Comunicação


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O perfil de cada comentador é definido pelas estações de televisão, mas a cingir a escolha estará sempre “a ampla notoriedade dos políticos”. De acordo com Rui Calafate, Portugal é “o único país do mundo onde os políticos são comentadores em prime-time e em canais generalistas”: “Basta espreitar a CNN para vermos que políticos fazem política e são chamados como convidados para falar da ação política. O campo de análise é de jornalistas, especialistas em comunicação, “political strategists”. As televisões ainda não entenderam que esse é o filão a seguir no futuro.” “Um político que seja, no seu papel de comentador, apenas político, terá muito mais dificuldades a conquistar audiência”, adverte Rui Calafate. “A empatia e a capacidade de entender o jornalista não como um adversário, mas como um espectador”, são apontadas pelo es­ pecialista em comunicação como “características essen­ ciais”. E se o comentador abordar mais do que temas po­ líticos, o interesse é maior: “As pessoas estão cansadas, na generalidade, dos políticos, mas não estão cansadas de quem as entretém.”


UNESCO – Ser livre para informar


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O espaço semanal de Marcelo Rebelo de Sousa, incluído no “Jornal das 8”, lidera en­ tre os restantes com uma média de cerca de 1,5 milhões de espectadores por emissão. Seguem-se Luís Marques Mendes, cujo co­ mentário se insere no “Jornal da Noite” da SIC, com pouco mais de um milhão, e José Sócrates e Nuno Morais Sarmento, ambos abaixo de um milhão de espectadores. A es­ treia do ex-primeiro-ministro foi a emissão que conquistou mais audiência, com perto de 978 mil telespectadores. Morais Sarmento regista, em média, 577 mil espectadores.


“As pessoas estão cansadas dos políticos, mas não de quem as entretém”

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500.000 Marcelo Rebelo de Sousa

Luís Marques Mendes

José Sócrates

Nuno Morais Sarmento

Nota: Audiência relativa aos dias de emissão Fonte: Grupo Marktest (dados referentes ao período compreendido entre 16 de março e 5 de maio)


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“As pessoas estão cansadas dos políticos, mas não de quem as entretém”

Marcelo Rebelo de Sousa Ao domingo no “Jornal das 8” 1,5 milhões de telespectadores

“Vende a imagem do ‘professor’ que tudo sabe, que tudo comenta, mas já cometeu er­ ros crassos. É o que dá mais espectáculo e os seus tiques fazem parte da encenação. O seu maior ponto fraco é tentar enganar os espec­ tadores quando fala de outros protagonistas que, como ele, aspiram também a Belém.”


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Luís Marques Mendes Ao sábado no “Jornal da Noite” Um milhão de telespectadores

“Tenta copiar Marcelo e, como todos sabe­ mos, a cópia é sempre pior do que o original. O seu fator de diferenciação é vestir, por ve­ zes, a pele de jornalista e tenta dar ‘cachas’ que se estão a tornar cansativas e a desen­ cadear comentários negativos, como neste episódio do Conselho de Estado.”


“As pessoas estão cansadas dos políticos, mas não de quem as entretém”

José Sócrates Ao domingo, “A Opinião de José Sócrates” 679 mil telespectadores

“Aquele que ainda é apenas político. E ponto. Vai bem preparado, tem bom soundbyte, mas é um político e ainda não percebeu que é o en­ tretenimento que conta. Enquanto não despir a pele de ex-primeiro-ministro, a tendência é cair nas audiências.”


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Nuno Morais Sarmento À sexta-feira, “A Semana de Nuno Morais Sarmento” 577 mil telespectadores

“Dicção difícil e imagem dura, mas extrema­ mente inteligente. Ainda está a ambientar-se ao meio, mas é um dos que tem maior poten­ cial de crescimento. Seco, mas acutilante.”


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