Eurobest homenageia "ousadia criativa" e despede-se de Lisboa

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Eurobest homenageia «ousadia criativa»

e despede-se de Lisboa

Lisboa recebeu, pela terceira vez consecutiva – e última, pelo menos num futuro próximo –, o Festival Eurobest. O Cinema São Jorge foi, entre os dias 4 e 6 de dezembro, palco de 30 seminários, de 12 workshops e da cerimónia de entrega dos prémios pelos melhores trabalhos euro­ peus. “Ousadia criativa” foi o tema central da 26.ª edição do festival representado, em Portugal, pela Multimédia Outdoors Portugal (MOP).


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Criado em 1988, realizava-se sempre em Londres. Mais tarde passou a ser um festival online e só em 2008 se consagrou como um festival itinerante. Passou por Estocolmo, Amesterdão e Hamburgo, obedecendo ao objetivo de se instalar, todos os anos, numa capital europeia diferente. Lisboa foi a exceção. “Porque pela primeira vez nos sentimos em casa”, justificou Philip Thomas, da organização do evento, quando inquirido sobre a repetição da presença do festival em Lisboa. Ana Paula Costa, consultora da MOP, contou à mgate a história deste amor que durou três anos e do qual nasceram as “melhores edições de sempre”, em termos de índices de satisfação da comunidade internacional, do número de delegados e do número de trabalhos inscritos. Só este ano, foram a concurso 4.715 trabalhos, de 32 países, com a Alemanha a liderar, com 875 ins­ crições. França, Reino Unido e Suécia inscreveram, respetivamente, 692, 632 e 500 trabalhos. Bélgica, Suíça e Países Baixos encerram o ranking dos países com maior número de trabalhos, com cerca de 200.


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Para a MOP, organizar o Eurobest é “representar Por­ tugal”, sem ter em conta, contudo, a receita: “Tudo isto é investimento. Não diria que é filantropia… É apoiar a indústria da qual vive”, garante Ana Paula Costa. Três edições volvidas, o balanço é positivo. A consultora acredita que ajudaram a sedimentar a autoestima do mercado: “O mercado uniu-se à volta do Eurobest. Foi uma forma de fazermos, até pelas dificuldades dos tempos que correm, com um mercado deprimido, a festa de final de ano. E, apesar das dificuldades, todos participam.”


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Em termos criativos, Ana Paula Costa acredita que o Eurobest é um prolongamento do que se viu em Cannes. Para a consultora, as marcas já têm a consciência de que o consumidor é diferente, comunica rapidamente e é mais informado – é muito mais poderoso. “A oferta das marcas tem de ter um sentido. Não adiantam as histórias da carochinha, toda a gente está muito bem informada e procura um benefício real. O consumidor, como nunca, sabe o que quer e sobretudo o que não quer. Se as marcas se centrarem aqui, saberão qual o caminho”, alerta a responsável. A “ousadia criativa”, expressão que deu o mote ao evento, é igualmente importante para Ana Paula Costa: “O conceito engloba todos aqueles que rompem os standards, que correm todos os riscos. Pode correr muito bem, mas também muito mal e os clientes têm medo de arriscar. Pedem algo irreverente e disruptivo, mas quando são confrontados com as propostas, recuam.” Em contexto de crise, este receio pode agravar-se e evitar a ousadia para dar lugar às apostas seguras. Contudo, “não é desculpa” para que o trabalho desenvolvido não seja de excelência: “Muitas vezes é durante a crise que se criam as melhores soluções. Aguça-se o engenho.”


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Este ano, os portugueses arrecadaram quatro prémios no Eurobest. Duas pratas e dois bronzes – dois deles na categoria Filmes, uma das principais.

A MSTF Partners venceu o prémio Prata na categoria Filmes, com o vídeo da campanha “First Time”, produzida pela Garage Films, para a Associação Mulheres Contra a Violência.

A campanha “Uma Pequena Demonstração”, para a Microsoft Portugal, valeu à agência O Escritório o Bronze na categoria Promo & Ativação.


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A Fuel venceu o Bronze na mesma categoria, com o filme “Pride Heart”, produzido pela Sync Lisboa, para o festival de cinema Queer Lisboa.

A Fuel venceu também na categoria de Rádio, com uma distinção Prata, pela campanha “Pink Hollywood”, também para o Queer Lisboa.


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Apostar em tempo de crise João Geada, Chief Creative Officer da recém-criada agência zémaria, também acredita que é possível fazer melhor publicidade com menos dinheiro: “O dinheiro nunca foi o grande drive das boas ideias. O respeito pelo nosso trabalho e a ousadia é que fazem e sempre fizeram a diferença.” Porém, o publicitário lamenta o facto de, em termos de “ousadia criativa”, os publicitários portugueses se posicionarem “nos sofás dos terapeutas, terrivelmente frustrados pela inversão do nosso mercado”. Tal como não impede que se faça boa publicidade, a crise também não impediu o nascimento da nova agência de ativação de marca, fruto da união das agências Nutkase e Lalaland, em outubro deste ano, e da “vontade comum de fazer trabalho ao nível dos que vemos a deixar marca e marcas no mundo”. “O mercado está profundamente


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afetado pela crise, meio perdido e sem rumo nas opções corretas a tomar para garantir o crescimento e a sobrevivência das marcas. A nossa agência vai dar às marcas uma alternativa inteligente para se adaptarem e prosperarem neste contexto de transformação que o mundo está a sofrer”, aponta o CCO. Num mercado estagnado, a introdução poderia revelar-se difícil. Para João Geada – embora reconheça que “de facto, as coisas estão, neste momento, muito complicadas” – o mercado nacional terá “de voltar a nadar para a superfície”. E a zémaria é composta por uma equipa de “nadadores experimentados”. “Acho que as grandes dinâ­micas são afetadas pela soma das pequenas. Espero que a zémaria dê o seu pequeno contributo para acabar com a crise”, reforça o publicitário e CCO.


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A agência BAR, nascida em 2009, já em contexto de crise económica, e os muitos prémios que conquistou desde então – entre outros, foi eleita a melhor agência de 2013 nos Prémios Meios & Publicidade e, em 2012, nos Prémios Marketeer –, é prova de que é possível fazer boa publicidade com menos dinheiro. Diogo Anahory, crea­ tive director e partner, acredita que “não há uma correlação direta entre haver dinheiro e haver boas ideias”. Para o publicitário, a crise “até pode ser um estímulo para quem procura melhores ideias, porque sem dinheiro não há truques para disfarçar a falta de uma grande ideia”. Quanto à “ousadia criativa” dos publicitários portugueses, estes dois profissionais discordam. Para Diogo Anahory, “a busca por grandes ideias é algo que está presente nas mentes de qualquer publicitário português”. Contudo, reconhece a necessidade de maior exigência, resiliência e competitividade: “A verdade é que somos um país e, como tal, temos um problema de escala. Temos de lutar mais que outros países para ‘aparecer’ nos momentos em que se premeia a criatividade.”


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