Exercício nº4 - Análise Crítica de um Artigo Científico - Metodologia das Ciências Sociais

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Exercício nº 4: Análise Crítica de um Artigo Científico Joana Venceslau de Sousa, nº 219816 Unidade Curricular: Metodologia das Ciências Sociais Docentes: Prof. Marina Pignatelli e Prof. Maria da Luz Ramos Ano Letivo: 2016/2017

O presente exercício surge no âmbito da unidade curricular de Metodologia das Ciências Sociais e foca-se na análise de um artigo científico denominado “How Do Global Audiences Take Shape? The Role of Institutions and Culture in Patterns of Web Use”, da autoria de Harsh Taneja (professor auxiliar de Comunicação Estratégica na School of Jounalism - University of Missouri, EUA) e de James G. Webster (professor de Estudos da Comunicação na School of Communication - Northwestern University). Este artigo foi publicado no Journal of Communication em 2016, sendo parte integrante da publicação nº 66 desse mesmo jornal e está disponível em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jcom.2016.66.issue-1/issuetoc.

Forma O artigo conta com um total de 22 páginas e foi submetido a um conjunto de regras são definidas pelo Journal of Communication: os artigos devem estar em concordância com a sexta edição da Publication Manual of the American Psychological Association, bem como apresentar um máximo de 35 páginas totais. A primeira página deve contar com um resumo (até 120 palavras) e palavras-chave. Na segunda página, devem figurar o título (centrado) e o texto principal. Os artigos devem estar escritos em Times New Roman (tamanho 12), com margens de uma polegada e com espaçamento duplo entre linhas. A paginação deve estar localizada no canto superior direito de cada página. Os documentos a ser submetidos devem ser enviados em formato word (.doc). Os nomes dos autores e informações institucionais dos manuscritos não poderão figurar.

Conteúdo Em resposta à problemática “De que forma se geram/comportam as audiências globais?”, os investigadores estabeleceram três questões de informação: De que forma as instituições e a cultura moldam o público global?; Quão relevantes são os fatores culturais, como a língua e a geografia, na determinação dos padrões globais de consumo de media em uma tempos em que tecnologias e instituições poderosas promovem cada vez mais a circulação global da informação?; As infraestruturas tecnológicas superarão as diferenças culturais ou trabalharão em conjunto para moldar os padrões do consumo cultural global?


Como metodologia, os investigadores recorreram a um painel global de medição de públicoalvo na Internet: o comScore. Este constitui um serviço baseado em painéis (panels) que fornece dados de medição de audiência da Internet uma vez por mês. Dispondo de cerca de 2 milhões de painéis em 170 países em medição contínua, o comScore utiliza um medidor que captura informações comportamentais através do computador de um panelist. Os investigadores recorreram a uma amostra constituída pelos 1000 principais domínios da web, obtendo assim uma amostra significativa de 99% das visitas de usuários da web e assegurando uma representação adequada de sites em diferentes idiomas e áreas geográficas. De forma a analisar os dados recolhidos, utilizaram descriptive network analysis e regression analysis, procurando entender o comportamento da audiência no que concerne à rede online (network), bem como o comportamento da mesma no que toca a hiperligações (frequência ou ausência dela). Os autores concluíram, assim, que a audiência apresenta fluidez na rede online, embora não apresente frequência de utilização de hiperligações. Além disso, dizem os investigadores, o estudo aumenta a nossa compreensão da proximidade cultural, analisando a relação área geográfica vs. língua na utilização global da web. Os autores afirmam que a análise que apresentam fornece provas claras de que o público global se agrupa com base na língua e na área geográfica. Para argumentar esta tese, os autores comprovam a similaridade de línguas e um foco geográfico comum de dois sites diferentes, que demonstra a sobreposição de audiência entre sites. Por outro lado, o número de hiperligações entre sites retrata muito pouca sobreposição de público-alvo, sugerindo que os usuários da web não seguem necessariamente hiperligações. Ora, isto significa que estruturas culturais - como a língua e a área geográfica - são mais determinantes num público global do que estruturas institucionais (como a presença de hiperligações ou rewalls). O estudo em questão considera a língua um fator importante quando associado a comunidades bem-definidas ou clusters de sites consumidos pelo mesmo conjunto de usuários. Embora a pesquisa tenha mostrado que as "línguas minoritárias" em países maiores geram audiências "pequenas, mas leais" (Ksiazek & Webster, 2008), os autores consideram a língua uma força na criação de públicos "grandes e leais". Isto significa que usuários que consomem sites num determinado idioma, consumirão outros sites no mesmo idioma e terão menos probabilidade de consumir sites fora desse idioma. Afirmam que, no entanto, a geografia é claramente confundida com o papel que a linguagem desempenha na explicação da formação do público. As pessoas em regiões geograficamente contíguas falam a mesma língua e isso torna difícil isolar qual desses dois fatores é mais decisivo

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na criação de uma comunidade de conteúdo local ou culturalmente próximo. O modelo de regressão utilizado neste estudo, em particular o termo de interação entre linguagem e geografia, ajuda a isolar o papel de cada um. É ainda inferido que as tecnologias usadas para criar, armazenar e distribuir conteúdo mediático contribuíram para a globalização da informação, isto é, um conteúdo produzido em determinado país é de muito fácil acesso em qualquer parte do mundo, desde que se tenha acesso à Internet. É nessa medida que este estudo contribui, segundo Taneja e Webster (2015:175), para a comunidade: This study contributes to that debate by explaining how Web audiences around the world make choices between domestic and foreign content. In doing so, it is one of the first studies to test the relative power of both cultural and institutional structures. It also demonstrates how structuration can be used to study global audience formation, an important contribution to the literature on media choice.

Os investigadores concluem inferindo que as pessoas procuram variedade no seu consumo mediático e que as estruturas sociais moderam o papel das predisposições individuais, contribuindo para a literatura relacionada com as motivações que conduzem às escolhas do público em meios digitais. Argumentam que as estruturas institucionais e culturais trabalharão, futuramente, em conjunto para moldar o consumo cultural. Por fim, os autores apresentam uma perspetiva idealista, onde referem que futuros estudos serão capazes de explorar dados individuais, o que seria interessante, na medida em que disponibilizam uma visão mais clara dos agentes e como eles operam dentro das estruturas institucionais e sociais que os rodeiam. Os autores terminam afirmando que só será possível entender o consumo cultural global quando for incluída toda a gama de fatores individuais e estruturais que moldam as ações humanas. Em termos críticos, é possível destacar que, neste artigo, não são especificados os objetivos específicos do estudo que se revelam fundamentais para a contextualização do leitor e que, de acordo com Estrela, Soares e Leitão (2006), devem figurar em qualquer estudo. É também importante reconhecer que a linguagem apresentada é de carácter bastante complexo, o que conduz a uma difícil leitura. As tabelas e gráficos explicativos apresentam-se de difícil compreensão e não existem muitas referências de carácter elucidativo. Ao basearem-se em dados recolhidos através de pesquisa quantitativa, os autores incorrem numa análise descritiva, pelo que se torna pouco verosímil concluir os motivos que conduzem a determinados comportamentos humanos, nomeadamente aqueles que os investigadores pretendem aferir.

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Referências Bibliográficas

Estrela, E., Soares, M. A. E e Leitão, M. J. (2006), Saber escrever uma tese e outros textos, Lisboa: Publicações Dom Quixote.

Taneja, H. e Webster, J. G. (2016), How Do Global Audiences Take Shape? The Role of Institutions and Culture in Patterns of Web Use. J Commun, 66: 161–182. doi:10.1111/jcom.12200 Webster, J. G., & Ksiazek, T. B. (2012). The dynamics of audience fragmentation: Public attention in an age of digital media. Journal of Communication, 62(1), 39–56. doi:10.1111/j.1460-2466.2011.01616.x.

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