Discurso(s) em manifesto(s): Discurso(s) Artístico(s) e Interventivo(s) na Sociedade

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Discurso(s) em manifesto(s): Discurso(s) artĂ­stico(s) e interventivo(s) na sociedade

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Jorge Augusto dos Santos


Discurso(s) em manifesto(s): Discurso(s) artístico(s) e interventivo(s) na sociedade

Discurso(s) em manifesto(s): Discurso(s) artístico(s) e interventivo(s) na sociedade Jorge Augusto dos Santos

e-Working Paper n.º3/2012

ISCTE-IUL – Instituto Universitário de Lisboa | Escola de Sociologia e Políticas Públicas E-mail: jorge.augusto.s@netcabo.pt

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Jorge Augusto dos Santos


Discurso(s) em manifesto(s): Discurso(s) artístico(s) e interventivo(s) na sociedade

ÍNDICE

RESUMO E PALAVRAS-CHAVE/ABSTRACT AND KEY-WORDS

IV

0. INTRODUÇÃO

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1. O MANIFESTO ANTI-DANTAS E POR EXTENSO

2

1.1

Enquadramento no (do) Futurismo

1.2

Contextualização do Manifesto

1.3

Análise discursiva

1.4

(Breve) Análise semiótica

2. DO INÍCIO DO SÉCULO XX ÀS MANIFESTAÇÕES CONTEMPORÂNEAS 2.1

Entre a literatura, a arte e a publicidade

3. (IN)CONCLUSÃO

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RESUMO

O tema deste trabalho incide sobre o Manifesto Anti-Dantas e Por Extenso, de AlmadaNegreiros, do início do século XX. Organizado em duas partes principais e outra mais (in)conclusiva, na primeira analiza-se o texto com a devida contextualização e enquadramento no movimento futurista que anunciou em Portugal, seguidos de uma análise discursiva ao estilo e à estratégia utilizadas por este autor, fazendo-se, ainda, uma análise semiótica. Na segunda parte, mais breve, atualiza-se o manifesto à luz de outras manifestações contemporâneas na literatura, na arte, na publicidade e nos novos media, de forma a mostrar a atualidade desse marco literário e artístico português. PALAVRAS-CHAVE: manifesto anti-Dantas, Almada-Negreiros, literatura, arte, futurismo, análise discursiva, estratégia, estilo, semiótica, manifestações contemporâneas, publicidade, novos media.

ABSTRACT The theme of this work focuses on the early twentieth century Manifesto Anti-Dantas e Por

Extenso, by Almada-Negreiros. It is organized into two main parts plus one (in)conclusive one. The first contextualizes the text ,which announced Futurist movement in Portugal, followed by an analysis of the discursive style and strategy used by the author. It is followed by a brief semiotic analysis before moving on to the second part, which updates the manifest in the light of other contemporary manifestations in literature, art, advertising and new media, in order to demonstrate the contemporary of this Portuguese literary and artistic document. KEY-WORDS: anti-Dantas manifest, Almada-Negreiros, literature, art, futurism, discursive analysis, strategy, style, semiotics, contemporary manifestations, advertising, new media.

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0.

INTRODUÇÃO No início do século XX, tal como no grandioso Renascimento que revolucionou o mundo (na passagem para a Idade Moderna), dão-se outras revoluções1 que obrigam uma nova ‘renascença’. Incluindo nas artes, que nunca ficam (nem podem ficar) indiferentes aos acontecimentos mundiais. Procurava-se através da cultura promover a unidade do país. A alma lusitana estava dividida e coberta de um entorpecimento secular que era necessário ressuscitar. Tinha de se mergulhar no fundo das emoções, refletir sobre elas para encontrar a sua razão de ser. Com a reconhecida e polémica geração do Orpheu afirma-se o Modernismo em Portugal, segundo qual “o homem precisa de se realizar pela vontade, pelo intelecto e pelo inconsciente”2. Os novos tempos exigem transformações dramáticas, não apenas no estado de governação, mas, sobretudo, nas mentalidades, que têm na literatura (Pessoa ou Almada-Negreiros, por exemplo) os seus pensadores e repercursores. O Modernismo plurisubjetivo opõe-se ao Romantismo subjetivo. É uma objetivação da subjetividade, a (con)fusão do subjetivo e do objetivo, a desconexão de ideias (paúlismo), depois a sobreposição de realidades e planos diferentes (o interseccionismo). Estes são outros tempos modernos que o impressionismo e as sensações do simbolismo já anteviam. O Manifesto Anti-Dantas e Por Extenso, de Almada-Negreiros, foi um acontecimento no início do século XX. A ocorrência, sem pretensões de ser, consciente ou propositadamente, criativa e/ou literária, tomou a relevância que só a época em que ocorreu lhe podia ter dado. Mas tornou-se um marco literário e artístico, resultante de uma manifestação pessoal tornada pública e sobre o qual neste trabalho, numa primeira parte, com a devida contextualização e enquadramento no movimento futurista que anunciou em Portugal, se fará uma análise discursiva ao estilo e à estratégia utilizadas pelo autor, e, ainda, uma análise semiótica. Na segunda parte, mais breve, atualiza-se o manifesto à luz de outras manifestações contemporâneas na literatura, na arte, na publicidade e nos novos media, de forma a mostrar a atualidade desse polémico e mediático documento. Num momento final, não conclusivo, abreviam-se as principais linhas recolhidas ao longo do trabalho que se apresenta, sem, no entanto, o deixar finalizado mas aberto a reflexão(ões).

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A Primeira Guerra Mundial ou a Revolução Industrial, por exemplo. CARRIÇO,1981:394.

Docente: José Rebelo | Práticas Discursivas Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação


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1. O MANIFESTO ANTI-DANTAS E POR EXTENSO 1.1

Enquadramento tipográfico no (do) Futurismo Sem itálicos, sem negritos, mas completamente ‘maiúsculo’ no Futurismo Português que representa, o Manifesto de Almada-Negreiros está escrito numa ‘caligrafia mecânica’ ou mecanizada que, embora tipografada, não deixa de ser o cunho pessoal do autor na época que contextualiza o documento e a sua mensagem intemporal. Este foi um marco português da passagem para um tempo moderno, numa Era da Contemporaneidade, marcada por revoluções (industrial, cultural, política e tecnológica), assim como por fenómenos económicos e políticos. Mas também pelo salto da tipografia clássica para a moderna, que teve no primeiro Manifesto Futurista (1909) o seu início 1, num período de vanguarda artística. A poesia e o design refletem, nos últimos anos do século XIX e primeiras duas décadas do século XX, essa (r)evolução. Cada vez mais pictóricas, as artes aliam-se às mensagens publicitárias, cada vez com maior força, aplicando-se com métodos inovadores em cartazes, brochuras, letterings e ilustrações distintos, que misturam e relacionam formas, texturas, cores, imagens e palavras. A influência e o convívio saudável e prolífero da tipografia com a poesia e a pintura, por exemplo, não se fizeram tardar em obras muito originais, que transparecem emoções novas, como os (re)conhecidos poemas pictóricos de Guillaume Apollinaire [fig.1]. A rutura com as tradições clássicas, conservadoras e realistas da época anterior deu-se, finalmente, com o Futurismo, que marcou a “vitalidade subjectiva, gráfica e espiritual” 2 desses novos e modernos tempos. A arte renovava-se, fazendo surgir um novo tipo de comunicação: o design. Tendência artística dos novos processos de interpretação da realidade, o design futurista de comunicação, de imaginação sem limites, que em tudo, em todas as formas, em todas as imagens, em todas as letras e tipos de letras, encontrava inspiração. A conjugação de tudo isto era eficaz no choque, no contraste e nas sensações que desejava provocar e nas ideias que pretendia transmitir. Foi Filippo Tommaso Marinetti quem em 1909 assume, heroicamente, estar a fazer uma “revolução tipográfica”3, fazendo nascer, nesse mesmo ano, o já referido manifesto de um 1

BACELAR, 1998:41. Idem:44. 3 Apud BACELAR, 1998:54. 2

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Futurismo reacionário e que, juntamente com o movimento Dada [fig.s 2 e 3], são considerados as “vanguardas mais radicais [que] recusavam violentamente tudo o que lhes parecesse racionalismo burguês e senso-comum, clareza e decência, imprimindo alternativa e deliberadamente a irracionalidade e o absurdo, o nonsense e o caos.”1 A moderna vida veloz e revoltada (por ressentimentos sociais) é glorificada, enquanto as guerras apelam “à destruição de bibliotecas e museus, repositórios de um passado falido. [...] As artes gráficas e a tipografia passaram a ser consideradas um importante veículo de ideias e de factos”2, influenciando, juntamente com as correntes artísticas imediatamente anteriores, o desenvolvimento do Futurismo. Não admira, portanto, que seja em moldes muito parecidos com estas premissas, que surja o manifesto do indignado Almada-Negreiros, cujo discurso é objeto de análise neste trabalho. 1.2

Contextualização do Manifesto O multifacetado artista3 José Sobral de Almada-Negreiros (1893-1970), foi um homem de vanguarda. Pelos caminhos da renovação literária portuguesa deixou inspiração e polémica, nem sempre artística ou cultural, mas também social. É disso exemplo o famoso e escandaloso Manifesto Anti-Dantas e Por Extenso [ANEXO I], de oito páginas, escritas em 1915. Com ele dirige-se de forma insultuosa ao notável escritor4 Júlio Dantas (1876-1962), seu contemporâneo, mas também à vigente cultura retrógrada, académica, convencional e conformista –

que Dantas representa –, atacando-a

implacavelmente. Neste texto, o impaciente Almada decide denunciar o tipo de teatro que Dantas escreve, fazendo-o depois da estreia da peça Soror Mariana5, que “procura ridicularizar na complexidade dos seus meandros romanescamente convencionais” 6.

1

BACELAR, 1998:67. Idem:54 ss. 3 “[...] pintor, desenhador, vitralista, poeta, romancista, ensaísta, crítico de arte, conferencista, dramaturgo [...]”. Almada-Negreiros. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-11-21]. Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$almada-negreiros >. 4 “[...] poeta, dramaturgo, cronista, jornalista, conferencista, médico, deputado, militar, ministro, glória das instituições, da política, da literatura, do teatro, da sociedade da época, académico de dezenas de academias, referência para o Prémio Nobel e para a Presidência da República [...] (DACOSTA) 5 Baseada na vida de Soror Mariana de Alcoforado (1640-1723), a freira que no século XVII também esteve envolta em polémica por causa da verdadeira autoria das Lettres Portugaises (publicadas em 1669). (MENDES) 6 BARATA:347. 2

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Como referiu Fernando Dacosta, o Manifesto foi “uma pedrada no charco da vida literária e social da época”1, num gesto crítico e provocador, marcadamente Futurista, apesar deste movimento ter ‘entrado’ oficialmente em Portugal apenas no ano seguinte à publicação do documento (na conferência de 1917), o que confirma, uma vez mais, o vanguardismo do jovem e inconsequente Almada. No entanto, apesar de Almada assinar o manifesto como “POETA D’ORPHEU FUTURISTA E TUDO”, ter-se-á distanciado do Futurismo, por causa da facilidade com que ele se terá acomodado aos ideais contra os quais lutara 2. 1.3

Análise discursiva3 - algumas figuras de estilo e estratégias discursivas Esta parte do trabalho incide sobre a análise ao texto escolhido, tentando encontrar as estratégias discursivas e argumentativas utilizadas pelo autor. São elas que conduzem o leitor para o interior do discurso que tem em seu poder a sátira, uma vez que o que move o autor (ou destinador) é ridicularizar Dantas, ou seja, “vencê-lo pelo ridículo e nunca pela argumentação”4. Mas é polémico na medida em que o ponto de vista de Almada é oposto ao daquele a quem, sem dúvidas, se dirige no texto, não deixando espaço para um diálogo ou uma defesa e despojando, assim, de estatuto o adversário. O poder do discurso está, portanto, do seu lado. O discurso de Almada no Manifesto é direto. Isso verifica-se logo no título, MANIFESTO ANTI-DANTAS E POR EXTENSO, que opera uma anáfora, ou seja, atualiza de imediato a sua relação do leitor, indo com a expressão “ANTI-DANTAS” ao encontro do seu “quadro de referência, condição indispensável à compreensão do dito no titulo.”5 Não resta dúvida que o texto será uma manifestação contra Júlio Dantas, um autor (re)conhecido na sociedade de então, logo, relegando para o plano do conhecimento anterior. A frontalidade continua, desde a primeira frase, com uma das várias onomatopeias que acompanham o texto até ao seu final: “PUM” (linha (l.) 1). Outra é “PIM”, que aparece seis vezes (l. 6, 22, 34, 44, 176 e 183), sendo mesmo a última palavra, acompanhada sempre da frase (e do ícone da mão a apontar): “MORRA O DANTAS, MORRA!

PIM!”

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DACOSTA. “[...] Almada é um futurista superficial (arriscaríamos a dizer de pose) [...]” (BARATA:348). 3 Optou-se por numerar as linhas do texto analisado, que se reproduz em ANEXO I, de 10 em 10, por forma a facilitar o seu acompanhamento. 4 REBELO,2000:133. 5 Idem:43. 2

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Mas o ser direto não é tão linear como se possa à partida pensar. Existem outros sentidos, “parasitas”1 da linguagem, ou seja, conotações mais ou menos escondidas. A onomatopeia “PIM-PAM-PUM!” (l.41), transformada em adjetivo, dá a ideia de um jogo infantil, fazendo lembrar o grito que se dá ao fingir um tiro com uma pistola ou uma mão com o dedo indicador a apontar. O imperativo afirmativo do verbo morrer, “MORRA”, em maiúscula, acompanhando o ícone e a onomatopeia exclamativa “PIM!”, dirige-se a um apelido sobejamente conhecido do meio cultural, “DANTAS”, fortalecendo a frase e a mensagem que Almada quis transmitir, num ‘tiro’ literário que pretendeu ser certeiro, sem deixar dúvidas. Até à linha 22, Almada é curto e ‘grosso’, humilhando aquele escritor (e a geração como ele), repetitivamente, em anáforas como “UMA GERAÇÃO [...]” (l.7 e 8) ou “O DANTAS” (l.911, 14, 16-21), que parecem não terminar e que, por isso mesmo, tornam ainda mais incisiva a crítica, criando, até, uma eufonia ao longo de toda esta parte. Os disfemismos transparecem a sua fúria: “UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS A CAVALO É COMO UM BURRO IMPOTENTE!” (l.7), “UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS À PROA É UMA CANÔA FURADA!” (l.8). Almada, referindo-se àquele, usa (e abusa) da assertividade, que se encontra, sobretudo, na terceira pessoa do singular do verbo ser conjugado no presente do indicativo: “É”. Nada para ele podia ser. Ele afirma-o, sem deixar dúvidas, e com isso se compromete, embora pontualmente não pareça quando utiliza, por exemplo, o futuro do indicativo do verbo saber (l.11-13), em epanalepse irónica. Almada traça um retrato biográfico acutilante (e provavelmente falso) ao descrever a aparência física de Dantas - “VESTE-SE MAL”, “NÚ É HORROROSO” e “CHEIRA MAL DA BOCA” (l.17, 43 e 44) -, mas também se refere a momentos do seu percurso académico, profissional e literário: “O DANTAS SABERÁ GRAMMÁTICA, [...] SINTAXE, [...] MEDICINA”, escreveu “CEIAS P’RA CARDEAIS” e “SORÔR MARIANNA” (l.11 e 23). Através da crítica ferrenha, Almada põe em causa a genialidade (l.36-37 e 41), a moral e os escrúpulos (l.31) deste escritor, acusando-o de simplesmente seguir as modas, as políticas e as opiniões (l.32), de ser enganador e falso (“CIGANO”, l.9; “PANTOMINEIRO”, l.28), de não saber escrever (l.36) e de ser um vendido (l.40). Chama-o “MEIO CIGANO” (l.10) – ou seja, ainda menos que cigano –, e diminui tanto a pessoa, que o próprio nome e apelido de Júlio

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BARTHES:95.

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Dantas se tornam adjetivos, numa analogia do escritor com ele mesmo (l. 20 e 21): “O DANTAS É DANTAS!”; “O DANTAS É JÚLIO!”. À modalização assertiva, que implica “um processo de validação que remete para um plano exterior ao do próprio enunciador”1, acrescenta Almada uma elevada dose de ironia, através das recorrentes exclamações – são raras as frases que não terminam com esta pontuação, chegando mesmo a utilizar cinco de seguida! (l.167) – ou das ideias contrárias às palavras que usa: “DANTAS É UM HABILIDOSO!” (l.16), “O DANTAS PESCA TANTO DE POESIA QUE ATÉ FAZ SONETOS COM LIGAS DE DUQUEZAS!” (l.15). “E O DANTAS TEVE CLÁQUE! E O DANTAS TEVE PALMAS! E O DANTAS AGRADECEU!” (l.26) A partir da linha 23 Almada contextualiza os seus ataques, referindo-se à peça Soror Mariana2, que Dantas escrevera e que estreou no ano do Manifesto (1915), a 21 de outubro. Esta referência insere o discurso no tempo. No entanto, ele vai mais longe na estratégia manipulativa do seu discurso, por exemplo em pressuposições como a do apelido, que utiliza para informar que “O DANTAS FEZ UMA SORÔR MARIANNA” (l.23). “O DANTAS” é Júlio Dantas, o escritor (o pressuposto). Ele não o refere explicitamente, pois essa informação faz parte de um saber anterior (movimento anafórico “que fixa o quadro memorial de elementos necessários à compreensão da informação nova”3). Enquanto “FEZ UMA SORÔR MARIANNA” é o novo saber (ou posto). Ainda neste posto encontramos uma metonímia, uma vez que Dantas não fez a Senhora Soror Mariana, mas uma peça de teatro assim intitulada. Outro exemplo desta figura de estilo é “SABERÁ FAZER CEIAS P’RA CARDEAIS” (l.12), pois refere-se à peça que Dantas tinha escrito em 1902, A ceia dos cardeais4, e não à refeição. As anáforas – enquanto figuras de estilo – (l.50-54) sublinham o tom de escárneo, que é depois substituído por uma explicação, para informar quem é Soror Mariana (l.58-l.122). É precisamente ao utilizar a interrogação, dirigida ao leitor (“VOCÊS NÃO SABEM?”, l.56), que Almada introduz uma “relação modal” 5 que tenta aproximá-lo do enunciador. Mas é

1

REBELO,2000:66. No Teatro do Ginásio (Gymnasio). In CVC-Instituto Camões. [Em linha]. [Consult. 2013-01-09]. Disp. na www: < URL: http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espetaculos-lista/2467-a-ceia-dos-cardeais.html >. 3 REBELO,2000:42. 4 Teatro D. Amélia, 24-03-1902. In CVC-Instituto Camões. [Em linha]. [Consult. 2013-01-10]. Disponível na www: < URL: http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espetaculos-lista/2467-a-ceia-dos-cardeais.html >. 5 REBELO,2000:66. 2

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também o ponto em que ele deixa a modalização para assumir uma dictização do discurso, ao empregar o pronome pessoal da primeira pessoa (“EU VOU-LHES CONTAR”, l.56). Ao descrever a peça de teatro, deixa implícita a ideia (“significação não pressuposta nem dita”1) de que a terá visto e não gostado, o que despoletou o ataque que o Manifesto espelha. Encontram-se mesmo citações da peça, uma sem marcas (l.87) e outra apropriada e assimilada a este contexto, ficando sujeita a uma operação de “transporte” 2 e, por conseguinte, a novo(s) sentido(s). Sobretudo negativos, quando lhes são associadas expressões como “DESATA A BERRAR” (l.109), seguida de uma anadiplose que reforça a ideia: “A BERRAR COMO [...]” (l.110). Com eles mostra o seu ponto de vista, procurando convencer o leitor a tomar partido da sua opinião. A retórica, numa complexa utilização de estratégias argumentativas, está ‘lançada’. Almada contextualiza o espaço lisboeta, reforçado com o advérbio de lugar (“AQUI NA BRAZILEIRA DO CHIADO”, l.68). Mas a crítica não se detém sobre uma pessoa ou sobre um lugar apenas. Ela estende-se a toda a sociedade artística e política, e a todo o Portugal (“PAIZ MAIS ATRAZADO DA EUROPA E DE TODO O MUNDO”, l.177), depois de, na última parte do Manifesto (l.142-180), disparar em todas as direções, para alvos muito precisos, ao indicar nomes e apelidos. A quase todos se juntam substantivos menos simpáticos, que os descrevem: “PINOQUICES DE”, “INFELICIDADES DE”, “GAITADAS DO”, “IMBECILIDADES DO” ou “PEDANTICES DO”, por exemplo. Mas é Dantas que culpa por tudo o resto (“TUDO POR CAUSA DO DANTAS!”, l.171). Ao recorrer às figuras de estilo e às estratégias discursivas apresentadas, Almada provoca “efeitos de tensão ou [...], em função da respectiva conotação, orientam, numa ou noutra direcção, a reacção/resposta do destinatário.”3 Porque os leitores são vários, variam também as reações e as respostas à mensagem que ele quis transmitir. Ao tomar mais do que um sentido, a mensagem não cristalizou no tempo (nem no espaço) e encontrou formas de (sobre)viver até à contemporaneidade, como mais à frente se mostrará.

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REBELO,2000:93. Idem:56. 3 Idem:137. 2

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(Breve) Análise semiótica Para produzir sentidos, um texto precisa de sujeitos leitores, espetadores ou destinatários, participantes ativos, conscientes ou não dessa condição, sujeitos da receção de uma mensagem, através das mais variadas linguagens. Apesar da aparente ligação entre a receção da linguagem poética e a linguagem publiciária, as duas esferas não se confundem, pois terão objetivos distintos. Para Roland Barthes1 a escrita, como liberdade, “é apenas um momento, mas esse momento é um dos mais explícitos da História [...]” e, como tal, os manifestos através das suas linguagens não são inocentes. Eles ficam marcados numa memória que se prolonga, eternamente, por novas e renovadas significações. Aí reside o seu poder mítico, como o do mito do Manifesto Anti-Dantas que a História da Literatura portuguesa criou. Ele é o “salto do intelecto”2 de um intelectual Almada que se comprometeu com o que escreveu e que dele se autonomizou. As palavras, enquanto signos, estabelecem uma relação entre quem as escreve e quem a lê. No caso do Manifesto, o autor da mensagem procurou estabelecer uma “relação de referência [para] instaurar a sua própria credibilidade” 3. Por isso o texto remete constantemente para Dantas, a origem desta estratégia de referencialização. Os signos são a linguagem não-verbal que nos ícones se representam com uma mão a apontar, sublinhando, ainda mais, o propósito de denúncia, que acompanha a sempre presente onomatopeia. É ‘gesto-palavra’ que passa da imagem ao texto, e vice versa. As letras são a linguagem verbal que na grafia do texto do Manifesto, toda em maiúscula, denuncia o caráter e o objetivo da mensagem que Almada pretendeu transmitir. Na sua globalidade, o estilo pelo qual cuidadosamente optou, torna-o inconfundível, uma vez que não haverá na história da literatura portuguesa (ou, quem sabe, mundial) um texto com estas caraterísticas. A existir, será provavelmente ‘copiado’ deste escritor-pintor e ‘tudo e tudo’. A letra é multidimensional, pode expressar vários sons, sem ter de “estar submetida a um conjunto rígido de regras. Pode tornar-se veículo de significados múltiplos, universalmente reconhecidos, ou código secreto, cuja chave é exclusiva do seu autor.”4 A ‘etiqueta’ da comunicação escrita não aconselha o uso de frases (ou palavras) totalmente em maiúsculas, uma vez que o destinatário da mensagem pode entendê-lo como um grito. 1

BARTHES:22. Idem:29. 3 REBELO,2000:97. 4 BACELAR, 1998:7. 2

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Nesse sentido, todo o Manifesto é uma mensagem gritada em todos os sentidos. Como uma declamação (teatral) escrita, pretendia fazer-se ouvir. O ruído implícito, no uso constante das onomatopeias, tão ‘queridas’ e muito típicas nas performances dos futuristas, enquadra o Manifesto nesse movimento, que ainda não existia em Portugal.

2. DO INÍCIO DO SÉCULO XX ÀS MANIFESTAÇÕES CONTEMPORÂNEAS Desde inícios do século XX as manifestações artísticas misturam arte, poesia e publicidade, que Almada também experimentou [fig.4]. Unem-se, mas não se confundem? Em 1928 Fernando Pessoa, por exemplo, criou o conhecido slogan para a famosa marca de refrigerantes, Coca-Cola, “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Em 1941 o brasileiro poeta Décio Pignatari fez um jogo sígnico e sonoro com o slogan da referida bebida “Drink Coca-Cola”, com a devida tradução (brasileira), em que as poucas consoantes repetem-se e podem ler-se em vários sentidos (horizontal, vertical, de cima para baixo ou de baixo para cima) [fig.5]. O leitor é levado a entrar no ritmo, a ‘saborear’ e a viciar-se nas diversas sensações. O vício é consequência dos agitados tempos modernos, que utilizam os media, também eles cada vez mais velozes, para veicular mensagens sociais. Almada entendeu o poder que o solilóquio da sua mensagem massificada podia ter mas, ainda assim, optou por produzir o seu próprio formato. Terá sido eficaz também por isso. “Poema satírico”1, exclamativo e exclamado - tendo sido muitas vezes declamado -, o Manifesto foi um texto mediatizado por um autor que foi jornalista e crítico cultural e literário2, tentando retratar uma realidade social sem “o conjunto perfeitamente articulado, homogéneo e coerente”3. O meio não foi uma revista ou um jornal, mas um folheto de poucas páginas que esgotou, diz-se4, porque o próprio Dantas terá comprado a maior parte dos exemplares, o que alimentou a curiosidade e polémica da sociedade. Os meios de comunicação social eram outros. As redes sociais eram provavelmente mais elitistas do que as do século XXI em que, virtualmente, qualquer pessoa com acesso à rede mundial de Internet (World Wide Web) pode manifestar a sua opinião (veja-se um ‘mau’ exemplo em ANEXO II). No entanto, até estas novas tecnologias carregam a sua carga de elitismo, uma vez que o acesso não é verdadeiramente global. Apesar de todo o ‘aparente’ 1

Manifesto Anti-Dantas. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-11-21]. Disponível na www: < URL: http://www.infopedia.pt/$manifesto-anti-dantas >. 2 Que foi também promotor e (único) redator da publicação de intervenção Sudoeste, três números em 1935. 3 REBELO,2000:10. 4 [Em linha] [Consult. 2013-01-08]. Disponível na www: < URL: http://www.prof2000.pt/users/tomas/manifesto_anti.htm >.

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poder individual em produzir uma opinião – e propagá-la aos sete ventos ou aos quatro cantos da aldeia global –, não se produzem efeitos artísticos como o que marcou aquele que antecedeu o Futurismo em Portugal. Apesar do mar de manifestações que no século atual acontecem quase diariamente, os manifestos vulgarizam-se e não ficam na História da Literatura ou da Arte. Não se quer com isto dizer que não se produzam documentos ou objetos artísticos e literários. Pelo contrário: mais do que nunca proliferam exemplos de qualidade no mundo cultural nacional ou mundial. Mas como aquele que rompeu com convenções seculares, não haverá neste século ou em séculos futuros.

3. (IN)CONCLUSÃO Não espanta que a abertura ao Modernismo em Portugal, relativamente ao resto da Europa, tenha sido tardia, talvez devido ao pensamento provinciano. O tempo (e o próprio rumo do país) era de (difícil) mudança, só conseguida, a custo, por algumas personalidades mais ‘livres’ de espírito que, como Almada-Negreiros, marcaram uma época influente nas artes. E fora delas também! Porque os grandes espíritos são assim: agitadores de consciências, inconformados impulsionadores de sonhos. Contra tudo, contra todos ou apenas ‘anti-’ alguns, a ‘bofetada’ que Almada-Negreiros quis aplicar era dirigida ao(s) gosto(s) instituído(s), às supostas camadas cultas da sociedade, ao seu público, aos seus artistas. Com o seu tom jocoso e irónico, conseguiu chamar a si as atenções através de um texto original e acutilante, com uma escrita simples mas eficaz, que através do seu estilo nada convencional ‘morde’ as mentes de então e faz rir as atuais. O Manifesto Anti-Dantas foi um acontecimento. Pela relevância artística e mediática, com um discurso polémico, que aqui se analisou, mas também pelo seu “potencial de actualidade” 1. Através da forma que tomou, este manifesto liga o seu autor à sociedade - a dele e a atual – e, num estilo que quase ultrapassa a própria Literatura, atravessa, intemporal, os tempos. Como se viu, o analisado manifesto escrito (que podia e pode ser falado) é, como qualquer documento escrito, ambíguo enquanto objeto de “linguagem e coerção”2.

[Carateres (sem espaços): 18.630; carateres (com espaços): 22.064; não incluindo notas de rodapé.] 1 2

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REBELO,2006:17. BARTHES:24.

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BIBLIOGRAFIA: ALMADA-NEGREIROS, José de (diretor) e Dário Martins, 1903-1998 (administrador) - Sudoeste : cadernos de Almada Negreiros, revista: nº 1 (jun. 1935); nº 2 (out. 1935); nº 3 (nov. 1935). BARTHES, ROLAND (1981) – O grau zero da escrita, seguido de Elementos de semiologia, Lisboa, Edições 70. BARATA, José Oliveira (1991) –“A Europa teatral do futurismo ao teatro épico. Os reflexos em Portugal: homens e manifestos”, em História do Teatro Português, Universidade Aberta, Lisboa, pp.343-349. CARRIÇO, Lilaz (1981) – Literatura Prática (sécs. XIX e XX), Porto, Porto Editora. CORREIA, João Carlos (org.) (2002) – Comunicação e Poder. Estudos em Comunicação, Universidade da Beira Interior. FERREIRA, Ivone e Gisela Gonçalves (2010) - Retórica e Mediatização: As Indústrias da Persuasão. Livros LabCom, Série: Estudos em Comunicação. FIDALGO, António (1998) – Semiótica: A lógica da comunicação, Covilhã, UBI – Universidade da Beira Interior. FIDALGO, António e SERRA, Paulo (org.) (2005) – Teorias e Estratégias Discursivas – vol.II, Covilhã, UBI – Universidade da Beira Interior. GOLDBERG, Roselee (2007) - A Arte da Performance - do futurismo ao presente, Lisboa, Orfeu Negro. REBELO, José (2000) - O Discurso do Jornal, Lisboa, Notícias Editorial. REBELO, José (2006) - "Prolegómenos à narrativa mediática do acontecimento", in Trajectos, Nºs 8/9, Lisboa, ISCTE/Fim de Século, pp.17-27. SERRA, J. Paulo (2007) – Manual de teoria da comunicação, Estudos em Comunicação, Covilhã, UBI – Universidade da Beira Interior. SOUSA, Américo (2001) – A persuasão - Estudos em Comunicação, Covilhã, UBI – Universidade da Beira Interior. VASCONCELOS, Ana Isabel P. Teixeira de (2003) – O Teatro em Lisboa no Tempo da Primeira República, Lisboa, Museu do Teatro.

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Discurso(s) em manifesto(s): Discurso(s) artístico(s) e interventivo(s) na sociedade

WEBGRAFIA|BIBLIOGRAFIA DIGITAL: AAVV (2010) – Publicidade Poética: o uso da poesia como ferramenta de persuasão. [Em linha]. Brasil, Universidade de Morgi das Cruzes. [Consult. 2012-11-20]. Disponível na www: < URL: http://www.slideshare.net/WesleyProcpioPinheiro/publicidade-potica >. ALMADA-NEGREIROS, José de (1915) – Manifesto anti-Dantas. [Em linha] [Consult. 2012-1120]. Disponível na www: < URL: http://www.prof2000.pt/users/tomas/manifesto_anti.htm >. BACELAR, Jorge (1998) – A letra: comunicação e expressão. [Em linha] Estudos em Comunicação, Covilhã, UBI – Universidade da Beira Interior. [Consult. 2012-11-20]. Disponível na www: < URL: http://www.livroslabcom.ubi.pt/pdfs/20110826-bacelar_jorge_letra.pdf >. BACELAR, Jorge (2001) – Poesia Visual. [Em linha]. Estudos em Comunicação, Covilhã, UBI – Universidade da Beira Interior. [Consult. 2012-11-20]. Disponível na www: < URL: http://www.bocc.ubi.pt/pag/bacelar-jorge-poesia-visual.pdf >. BRAIT, Beth - Pessoa/Pignatari – “Obra Aberta” – “ Poesia & Publicidade”. [Em linha]. Revista Língua. [Consult. 2012-11-20]. Disponível na www: < URL: http://revistalingua.uol.com.br/ObraAberta/ObraAberta60.pdf >. CAMILO, Eduardo José (2010) – Homo Consumptor-Dimensões Teóricas da Comunicação Publicitária. [Em linha]. Livros LabCom, Série: Estudos em Comunicação. [Consult. 201211-20]. Disponível na www: < URL: http://www.livroslabcom.ubi.pt/pdfs/20120105camilo_consumptor_2010.pdf >. DACOSTA, Fernando – "Almada e Dantas a Nu". [Em linha]. Público Magazine, 4/4/93 (adapt.). [Consult. 2012-11-20]. Disponível na www: < URL: http://www.prof2000.pt/users/tomas/almada_e_dantas_a_nu.htm >. DOLABELA, Marcelo – “Poesia Semiótica”. [Em linha]. Revista Aletria, 1998-1999 - Pp.45-60. [Consult. 2012-11-20]. Disponível na www: < URL: http://www.letras.ufmg.br/poslit/08_ publicacoes_pgs/Aletria%2006/Poesia%20Semi%C3%B3tica.pdf >. MENDES, Ana Paula Coutinho – “Katherine Vaz e a re-inscrição de Mariana Alcoforado na história literária”. [Em linha] Universidade do Porto. [Consult. 2012-11-20]. Disponível na www: < URL: http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/8948/2/4244.pdf >. MORAIS, Carlos Francisco – “Discursos literário e pictórico em diálogo: a arte do retrato queirosiana”. [Em linha]. Universidad Complutense de Madrid. [Consult. 2012-11-20]. Disponível na www: < URL: http://www.ucm.es/info/especulo/numero46/requeiro.html >. NECKEL, Nádia Régia Maffi - Análise de discurso e o discurso artistico. Programa de Mestrado Ciências da Linguagem – UNISUL-Universidade do Sul de Santa Catarina. [Em linha] [Consult. 2012-11-20]. Disponível na www: < URL: http://www.ufrgs.br/analisedodiscurso/anaisdosead/ 2SEAD/SIMPOSIOS/NadiaReginaMaffiNeckel.pdf >. __CVC-Centro Virtual Camões – A ceia dos cardeais. [Em linha]. [Consult. 2013-01-09]. Disponível na www: <URL: http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espetaculoslista/2467-a-ceia-dos-cardeais.html >. __INFOPÉDIA – Manifesto Anti-Dantas. [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. ] [Consult. 2012-11-20]. Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$manifesto-anti-dantas >.

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Discurso(s) em manifesto(s): Discurso(s) artĂ­stico(s) e interventivo(s) na sociedade

ANEXOS

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ANEXO 1 MANIFESTO ANTI-DANTAS E POR EXTENSO por José de Almada-Negreiros POETA D'ORPHEU FUTURISTA e TUDO


BASTA PUM BASTA! UMA GERAÇÃO, QUE CONSENTE DEIXAR-SE REPRESENTAR POR UM DANTAS É UMA GERAÇÃO QUE NUNCA O FOI! É UM COIO D'INDIGENTES, D'INDIGNOS E DE CEGOS! É UMA RÊSMA DE CHARLATÃES E DE VENDIDOS, E SÓ PODE PARIR ABAIXO DE ZERO! ABAIXO A GERAÇÃO!

MORRA O DANTAS, MORRA!

PIM!

UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS A CAVALO É UM BURRO IMPOTENTE! UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS À PROA É UMA CANÔA FURADA! O DANTAS É UM CIGANO! 10

O DANTAS É MEIO CIGANO! O DANTAS SABERÁ GRAMMÁTICA, SABERÁ SYNTAXE, SABERÁ MEDICINA, SABERÁ FAZER CEIAS P'RA CARDEAIS SABERÁ TUDO MENOS ESCREVER QUE É A ÚNICA COISA QUE ELLLE FAZ! O DANTAS PESCA TANTO DE POESIA QUE ATÉ FAZ SONETOS COM LIGAS DE DUQUEZAS! O DANTAS É UM HABILIDOSO! O DANTAS VESTE-SE MAL! O DANTAS USA CEROULAS DE MALHA! O DANTAS ESPECÚLA E INÓCULA OS CONCUBINOS!

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O DANTAS É DANTAS! O DANTAS É JÚLIO!

MORRA O DANTAS, MORRA!

PIM!

O DANTAS FEZ UMA SORÔR MARIANNA QUE TANTO O PODIA SER COMO A SORÔR IGNEZ OU A IGNEZ DE CASTRO, OU A LEONOR TELLES, OU O MESTRE D'AVIZ, OU A DONA CONSTANÇA, OU A NAU CATHRINETA, OU A MARIA RAPAZ! E O DANTAS TEVE CLÁQUE! E O DANTAS TEVE PALMAS! E O DANTAS AGRADECEU! O DANTAS É UM CIGANÃO! NÃO É PRECISO IR P'RÓ ROCIO P'RA SE SER UM PANTOMINEIRO, BASTA SER-SE PANTOMINEIRO! 30

NÃO É PRECISO DISFARÇAR-SE P'RA SE SER SALTEADOR, BASTA ESCREVER COMO DANTAS! BASTA NÃO TER ESCRÚPULOS NEM MORAES, NEM ARTÍSTICOS, NEM HUMANOS! BASTA ANDAR CO'AS MODAS, CO'AS POLÍTICAS E CO'AS OPINIÕES! BASTA USAR O TAL SORRISINHO, BASTA SER MUITO DELICADO E USAR CÔCO E OLHOS MEIGOS! BASTA SER JUDAS! BASTA SER DANTAS!


MORRA O DANTAS, MORRA!

PIM!

O DANTAS NASCEU PARA PROVAR QUE, NEM TODOS OS QUE ESCREVEM SABEM ESCREVER! O DANTAS É UM AUTOMATO QUE DEITA PR'A FÓRA O QUE A GENTE JÁ SABE QUE VAE SAHIR... MAS É PRECISO DEITAR DINHEIRO! 40

O DANTAS É UM SONETO D'ELLE-PRÓPRIO! O DANTAS EM GÉNIO NUNCA CHEGA A PÓLVORA SECCA E EM TALENTO É PIM-PAMPUM! O DANTAS NÚ É HORROROSO! O DANTAS CHEIRA MAL DA BOCA!

MORRA O DANTAS, MORRA!

PIM!

O DANTAS É O ESCARNEO DA CONSCIÊNCIA! SE O DANTAS É PORTUGUEZ EU QUERO SER HESPANHOL! O DANTAS É A VERGONHA DA INTELLECTUALIDADE PORTUGUEZA! O DANTAS É A META DA DECADÊNCIA MENTAL! 50

E AINDA HÁ QUEM NÃO CÓRE QUANDO DIZ ADMIRAR O DANTAS! E AINDA HÁ QUEM LHE ESTENDA A MÃO! E QUEM LHE LAVE A ROUPA! E QUEM TENHA DÓ DO DANTAS! E AINDA HÁ QUEM DUVIDE DE QUE O DANTAS NÃO VALE NADA, E QUE NÃO SABE NADA, E QUE NEM É INTELLIGENTE NEM DECENTE, NEM ZERO! VOCÊS NÃO SABEM QUEM É A SOROR MARIANNA DO DANTAS? EU VOU-LHES CONTAR:

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A PRINCÍPIO, POR CARTAZES, ENTREVISTAS E OUTRAS PREPARAÇÕES COM AS QUAES NADA TEMOS QUE VÊR, PENSEI TRATAR-SE DE SORÔR MARIANNA ALCOFORADO A PSEUDO AUCTORA D'AQUELLAS CARTAS FRANCEZAS QUE DOIS ILLUSTRES SENHORES D'ESTA TERRA NÃO DESCANÇARAM ENQUANTO NÃO ESTRAGARAM P'RA PORTUGUEZ, QUANDO SUBIU O PANNO TAMBÉM NÃO FUI CAPAZ DE DISTINGUIR PORQUE ERA NOITE MUITO ESCURA E SÓ DEPOIS DE MEIO ACTO É QUE DESCOBRI QUE ERA DE MADRUGADA PORQUE O BISPO DE BEJA DISSE QUE TINHA ESTADO À ESPERA DO NASCER DO SOL! A MARIANNA VEM DESCENDO UMA ESCADA ESTREITÍSSIMA MAS NÃO VEM SÓ. TRAZ TAMBÉM O CHAMILLY QUE EU NÃO CHEGUEI A VER, OUVINDO APENAS UMA VOZ MUITO CONHECIDA AQUI NA BRAZILEIRA DO CHIADO. POUCO DEPOIS O BISPO DE BEJA É QUE ME DISSE QUE ELLE TRAZIA CALÇÕES VERMELHOS. A MARIANNA E O CHAMILLY ESTÃO SÒZINHOS EM SCENA, E ÀS ESCURAS DANDO A ENTENDER PERFEITAMENTE QUE FIZERAM INDECÊNCIAS NO QUARTO. DEPOIS O CHAMILLY,


COMPLETAMENTE SATISFEITO DESPEDE-SE E SALTA P'LA JANELLA COM GRANDE MAGUA DA FREIRA LACRIMOSA. E ANDA HOJE OS TURISTES TEEM OCCASIÃO DE OBSERVAR AS GRADES ARROMBADAS DA JANELLA DO QUINTO ANDAR DO CONVENTO DA CONCEIÇÃO DE BEJA NA RUA DO TOURO, POR ONDE SE DIZ QUE FUGIU O CÉLEBRE CAPITÃO DE CAVALOS EM PARIS E DENTISTA EM LISBOA. A MARIANNA QUE É HISTÉRICA COMEÇA DE CHORAR DESATINADAMENTE NOS BRAÇOS DA SUA CONFDENTE E EXCELLENTE PAU DE CABELEIRA SORÔR IGNEZ. 80

VEEM DESCENDO P'LA DITA ESTREITÍSSIMA ESCALA (sic), VARIAS MARIANNAS TODAS EGUAES E DE CANDEIAS ACESAS, MENOS UMA QUE USA ÓCULOS E BENGALLA E AINDA (sic) TODA CURVADA P'RÁ FRENTE O QUE QUER DIZER QUE É ABBADESSA. E SERIA ATÉ UMA EXCELENTE PERSONIFICAÇÃO DAS BRUXAS DE GOYA SE QUANDO FALLASSE NÃO TIVESSE AQUELLA VOZ TÃO FRESCA E MAVIOSA DA TIA FELICIDADE DA VIZINHA DO LADO, E REPARANDO NOS DOIS VULTOS INTERROGA ESPAÇADAMENTE COM CADÊNCIA, AUSTERIDADE E IMMENSA FALTA DE CORDA... QUEM ESTÁ AHI?... E DE CANDEIAS APAGADAS?

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- FOI O VENTO, DIZEM AS POBRES INNOCENTES VARADAS DE TERROR... E A ABADESSA QUE SÓ É VELHA NOS ÓCULOS, NA BENGALA E EM ANDAR CURVADA P'RÁ FRENTE MANDA TOCAR A SINETA QUE É UM DÓ D'ALMA O OUVI-LA ASSIM TÃO DEBILITADA, VÃO TODAS P'RÓ CÔRO, MAS EIS QUE, DE REPENTE BATEM NO PORTÃO E SEM SE ANNUNCIAR NEM LIMPAR-SE DA POEIRA, SOBE A ESCADA E ENTRA P'LO SALÃO UM BISPO DE BEJA QUE QUANDO ERA NOVO FEZ BRÉGEIRICES CO'A MENINA DO CHOCOLATE. AGORA COMPLETAMENTE EMENDADO REVELA À ABBADESSA QUE SABE POR CARTAS QUE HÁ HOMENS QUE VÃO ÀS MULHERES DO CONVENTO E QUE AINDA HÁ POUCO VIRA UM DE CAVALLOS A SALTAR P'LA JANELLA. A ABADESSA DIZ QUE EFFECTIVAMENTE JÁ HÁ TEMPOS QUE VINHA DANDO P'LA FALTA DE GALLINHAS E TÃO INNOCENTINHA, COITADA, QUE N'AQUELLES OITENTA ANNOS AINDA NÃO TEVE TEMPO P'RA DESCOBRIR A RAZÃO DA HUMANIDADE ESTAR DIVIDIDA EM HOMENS E MULHERES. DEPOIS DE SÉRIOS EMBARAÇOS DO BISPO É QUE ELLA DEU COM O ATREVIMENTO E MANDOU CHAMAR AS DUAS FREIRAS DE HÁ POUCO CO'AS CANDEIAS APAGADAS. N'ESTA ALTURA ESTA PEÇA POLICIAL TOMA UM PEDAÇO D'INTERESSE PORQUE O BISPO ORA PARECE UM POLÍCIA DE INVESTIGAÇÃO DISFARÇADO EM BISPO, ORA UM BISPO COM A FALTA DE DELICADEZA DE UM POLÍCIA D'INVESTIGAÇÃO, E TÃO PERSPICAZ QUE DESCOBRE EM MENOS DE MEIO MINUTO O QUE O PÚBLICO JÁ ESTÁ FARTO DE SABER - QUE A MARIANNA DORMIU CO'O NOEL. O PEOR É QUE A MARIANNA FOI À SERRA CO'AS INDISCREÇÕES DO BISPO E DESATA A BERRAR, A BERRAR COMO QUEM SE ESTAVA MARIMBANDO P'RA TUDO AQUILLO. ESTEVE MESMO MUITO PERTO DE SE ESTRElAR COM UM PAR DE MURROS NA CORÔA DO BISPO NO QUE (SE) MOSTROU DE UM ATREVIMENTO, DE UMA INSOLÊNCIA E DE UMA DECISÃO REFILONA QUE EXCEDEU TODAS AS EXPECTATIVAS. OUVE-SE UMA CORNETA A TOCAR UMA MARCHA DE CLARINS E MARIANNA SENTINDO NAS PATAS DOS CAVALLOS TODA A ALMA DO SEU PREFERIDO FOI QUAL


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PARDALITO ENGAIOLADO A CORRER ATÉ ÀS GRADES DA JANELLA A GRITAR DESALMADAMENTE P'LO SEU NOEL. GRITA, ASSOBIA E REDOPIA E PIA E RASGA-SE E MAGÓA-SE E CAE DE COSTAS COM UM ACCIDENTE, DO QUE JÁ PREVIAMENTE TINHA AVISADO O PÚBLICO E O PANNO TAMBÉM CAE E O ESPECTADOR TAMBÉM CAE DA PACIÊNCIA ABAIXO E DESATA N'UMA DESTAS PATEADAS TÃO ENORMES E TÃO MONUMENTAES QUE TODOS OS JORNAES DE LISBOA NO DIA SEGUINTE FORAM UNÂNIMES N'AQUELLE ÊXITO TEATRAL DO DANTAS. A ÚNICA CONSOLAÇÃO QUE OS ESPECTADORES DECENTES TIVERAM FOI A CERTEZA DE QUE AQUILLO NÃO ERA A SORÔR ALCOFORADO MAS SIM UMA MERDARIANNA ALDANTASCUFURADO QUE TINHA CHELIQUES E EXAGEROS SEXUAES.

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CONTINUE O SENHOR DANTAS A ESCREVER ASSIM QUE HÁ-DE GANHAR MUITO CO'O ALCUFURADO E HÁ-DE VER, QUE AINDA APANHA UMA ESTÁTUA DE PRATA POR UM OURIVES DO PORTO, E UMA EXPOSIÇÃO DAS MAQUETES P'RÓ SEU MONUMENTO ERECTO POR SUBSCRIÇAO NACIONAL DO SÉCULO A FAVOR DOS FERIDOS DA GUERRA, E A PRAÇA DE CAMÕES MUDADA EM PRAÇA DO DR. JULIO DANTAS, E COM FESTAS DA CIDADE P'LOS ANNIVERSÁRIOS, E SABONETES EM CONTA «JULIO DANTAS» E PASTAS DANTAS P'RÓS DENTES, E GRAXA DANTAS P'RÁS BOTAS, E NIVEINA DANTAS, E COMPRIMIDOS DANTAS E AUTOCLISMOSDANTAS E DANTAS, DANTAS, DANTAS, DANTAS... E LIMONADAS DANTAS - MAGNESIA. E FIQUE SABENDO O DANTAS QUE SE UM DIA HOUVER JUSTIÇA EM PORTUGAL TODO O MUNDO SABERÁ QUE O AUTOR DOS LUZÍADAS É O DANTAS QUE N'UM RASGO MEMORÁVEL DE MODÉSTIA SÓ CONSENTIU A GLÓRIA DO SEU PSEUDÓNIMO CAMÕES. E FIQUE SABENDO O DANTAS QUE SE TODOS FÔSSEM COMO EU, HAVERIA TAES MUNIÇÕES DE MANGUITOS QUE LEVARIAM DOIS SÉCULOS A GASTAR.

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MAS JUYGAES QUE N'ISTO SE RESUME A LITTERATURA PORTUGUEZA? NÃÓ! MIL VEZES NÃO! TEMOS, ALÉM D'ISTO O CHIANCA QUE JÁ FEZ RIMAS P'RA ALUBARROTA QUE DEIXOU DE SER A DERROTA DOS CASTELHANOS P'RA SER A DERROTA DO CHIANCA.

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E AS PINOQUICES DE VASCO MENDONÇA ALVES PASSADAS NO TEMPO DA AVÔSINHA! E AS INFELICIDADES DE RAMADA CURTO! E O TALENTO INSÓLITO DE URBANO RODRIGUES! E AS GAITADAS DO BRUN! E AS TRADUCÇÕES SÓ P'RA HOMEM (D) O ILLUSTRÍSSIMO EXCELENTÍSSIMO SENHOR MELLO BARRETO! E O FREI MATTA NUNES MÔXO! E A IGNEZ SYPHILITICA DO FAUSTINO! E AS IMBECILIDADES DO SOUSA COSTA! E MAIS PEDANTICES DO DANTAS! E ALBERTO SOUSA, O DANTAS DO DESENHO! E OS JORNALISTAS DO SECULO E DA CAPITAL E DO NOTICIAS E DO PAIZ E DO DIA E DA NAÇÃO E DA REPUBUCA E DA LUCTA E DE TODOS, TODOS OS JORNAES! E OS ACTORES DE TODOS OS THEATROS! E TODOS OS PINTORES DAS BELLAS ARTES E TODOS OS ARTISTAS DE PORTUGAL QUE EU NÃO GOSTO. E OS DA AGUIA DO PORTO E OS PALERMAS DE COIMBRA! E A ESTUPIDEZ DO OLDEMIRO CESAR E O DOUTOR JOSÉ DE FIGUEIREDO AMANTE DO MUSEU E AH OH OS SOUSA PINTO HU HI E OS BURROS DE CACILHAS E OS MENÚS DO ALFREDO GUISADO! E (O) RACHITICO ALBINO FORJAZ SAMPAIO, CRITICO DA LUCTA A QUEM O FIALHO COM IMMENSA PIADA INTRUJOU DE QUE TINHA TALENTO! E TODOS OS QUE SÃO POLITICOS E ARTISTAS! E AS EXPOSIÇÕES ANNUAES DAS BELLAS ARTE(S)! E TODAS AS MAQUETAS DO MARQUEZ


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DE POMBAL! E AS DE CAMÕES EM PARIS! E OS VAZ, OS ESTRELLA, OS LACERDA, OS LUCENA, OS ROSA, OS COSTA, OS ALMEIDA, OS CAMACHO, OS CUNHA, OS CARNEIRO, OS BARROS, OS SILVA, OS GOMES, OS VELHOS, OS IDIOTAS, OS ARRANJISTAS, OS IMPOTENTES, OS SCELERADOS, OS VENDIDOS, OS IMBECIS, OS PÁRIAS, OS ASCETAS, OS LOPES, OS PEIXOTOS, OS MOTTA, OS GODINHO, OS TEIXEIRA, OS DIABO QUE OS LEVE, OS CONSTANTINO, OS GRAVE, OS MANTUA, OS BAHIA, OS MENDONÇA, OS BRAZÃO, OS MATTOS, OS ALVES, OS ALBUQUERQUE, OS SOUSAS E TODOS OS DANTAS QUE HOUVER POR AHI!!!!!! E AS CONVICÇÕES URGENTES DO HOMEM CHRISTO PAE E AS CONVICÇÕES CATITAS DO HOMEM CHRISTO FILHO!

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E OS CONCERTOS DO BLANCH! E AS ESTATUAS AO LEME, AO EÇA E AO DESPERTAR E A TUDO! E TUDO O QUE SEJA ARTE EM PORTUGAL! E TUDO! TUDO POR CAUSA DO DANTAS!

MORRA O DANTAS, MORRA!

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PIM!

PORTUGAL QUE COM TODOS ESTES SENHORES, CONSEGUIU A CLASSIFICAÇÃO DO PAIZ MAIS ATRAZADO DA EUROPA E DE TODO OMUNDO! O PAIZ MAIS SELVAGEM DE TODAS AS ÁFRICAS! O EXILIO DOS DEGRADADOS E DOS INDIFERENTES! A AFRICA RECLUSA DOS EUROPEUS! O ENTULHO DAS DESVANTAGENS E DOS SOBEJOS! PORTUGAL INTEIRO HA-DE ABRIR OS OLHOS UM DIA - SE É QUE A SUA CEGUEIRA NÃO É INCURÁVEL E ENTÃO GRITARÁ COMMIGO, A MEU LADO, A NECESSIDADE QUE PORTUGAL TEM DE SER QUALQUER COISA DE ASSEIADO!

MORRA O DANTAS, MORRA!

PIM! José de Almada-Negreiros POETA D'ORPHEU FUTURISTA e TUDO


ANEXO II “Manifesto de Hoje” «BOM DIA ALEGRIA! Então aqui vai o meu Manifesto de Hoje! Só pelas minhas contas estas greves dos transportes e afins só neste ano já lesaram mais a nível financeiro e não só as famílias e trabalhadores (principalmente independentes e precários) do que certas medidas de austeridade aplicádas e falemos só a nível das familías e trabalhadores. A minha questão é a seguinte. QUEM É QUE VAI DEVOLVER O DINHEIRO GASTO E QUE NÃO É DEVOLVIDO DOS PASSES E AFINS ÀS PESSOAS QUEM É QUE DEVOLVE OS DIAS DE FÉRIAS QUE CERTAS PESSOAS DESPERDIÇAM PARA NÃO SOFRER CONSEQUÊNCIAS NO TRABALHO QUEM É QUE DEVOLVE OS DESCONTO DE UM DIA DE TRABALHO DOS SUBSIDIOS DE ALMOÇO ETC E TAL. ISTO É MESMO TIPO AS OPERADORAS E AS EMPRESAS TIPO EDP E AFINS, PAGAS SE NÃO CORTAMOS E SE O SERVIÇO FALHAR NÃO ÉS RESSARCIDO E COM ISTO TUDO AS GASOLINEIRAS AGRADECEM OS TÁXISTAS AGRADECEM É SÓ MALTA A AGRADECER. ESTOU COM A GRANDE MAIORIA QUE SE MANIFESTA NO DIA DE HOJE E QUE USA O SEU D IREITO À GREVE E ESTAREI PRESENTE ENQUANTO CIDADÃO PARA MANIFESTAR O MEU DESCONTENTAMENTO NÃO SÓ COM AS MEDIDAS DE AUSTERIDADE CEGAS QUE TODOS SOFREMOS MAS TAMBÉM PARA MANIFESTAR JUNTO DE CERTOS "MOVIMENTOS" QUE TAMBÉM SÃO CEGOS À REAL SITUAÇÃO QUE SE PASSA NESTE PAÍS. ESTOU CIENTE DAS REPRESÁLIAS COMUNS QUANDO NÃO ESTAMOS DO ACORDO COM ESSES "GREVISTAS" MAS DA MESMA FORMA QUE ELES EXERCEM O SEU DIREITO EU TAMBÉM FAREI USO DO MEU PARA ME MANIFESTAR CONTRA ELES COMO O SEMPRE FAÇO JUNTO DESSES DITOS "CIDADÃOS POR PORTUGAL" ... NO MEU CASO NO DIA DE HOJE JÁ ANDEI OS MEUS 3/5KM DIÁRIOS DE MODO A NÃO FALHAR COM COMPROMISSOS PROFISSIONAIS MAS ISSO SOU EU QUE TENHO PERNINHAS PARA ANDAR... :) OBRIGADO E BOM DIA ALEGRIA»

SANTOS, Rui Miguel – Manifesto de Hoje [Em linha]. Facebook [Consult. 2012-11-14]. Disponível na www: < URL: http://www.facebook.com >. Um manifesto numa rede social - Sobre as manifestações que nesse

dia aconteceram um pouco por toda a Europa, incluindo Portugal.


ANEXO III - Figuras:

[Fig.1] Poema pictórico/caligráfico (1917) de Guillaume Apollinaire. [Em linha]. Curso de História de Arte [Consult. 2013-01-10]. Disponível na www: < URL: http://www.cursodehistoriadaarte.com.br/lopreto/index.php/arte-guillaume-apollinaire-1880-1918 >.

[Fig.2] Cartaz Futurista, Parole in libertà, de Marinetti, 1919 (BACELAR, 1998:67)

[Fig.3] Cartaz Dada, Soirée du Coeur à Barbe (1923), de Ilya Zdanevich. [Em linha]. Flickr. [Consult. 201211-10]. Disponível na www: < URL: http://www.flickr.com/photos/laurapopdesign/3296340 913/


[Fig.4] Publicidade de Almada Negreiros, à Casa d’Esquina, de lanifícios [Em linha]. Ilustração Portugueza, No. 477, 12 de abril de 1915. [Consult. 2012-11-03]. Disponível na www: < URL: http://www.tumblr.com/tagged/contracapa?before=1338118675 >.

[Fig.5] Poema Beba Coca-Cola (1941), de Décio Pinateli. Um jogo sígnico e sonoro com o slogan da referida bebida “Drink Coca-Cola”. (BRAIT).

CRÉDITO DE IMAGENS

CAPA ► Design, composição gráfica e de texto de Jorge Augusto dos Santos. Imagem base: s/t [Em linha]. Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, blog do MPAC – Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas . [Consult. 2013-01-07]. Disponível na www: <URL: http://mpac.fba.up.pt/blog/?p=352 >. LAY-OUT, PAGINAÇÃO E FORMATAÇÃO: Jorge Augusto dos Santos < http://www.jorgeaugusto.eu >. NOTAS FINAIS Neste trabalho foi utilizada a nova grafia do português, exceto nas transcrições e citações, em que se manteve a grafia original. Nas referências bibliográficas utilizou-se as “Normas de Formatação e Apresentação Gráfica da Dissertação ou Trabalho de Projecto de Mestrado e da Tese de Doutoramento”, aprovadas pela Comissão Científica Permanente da Escola de Sociologia e Políticas Públicas (ESPP), em 17.11.2010.


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