Profissão: artista plástica - como 'cozinhar' um artista de sucesso

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Profissão: Artista Plástica - Como ‘cozinhar’ um artista de sucesso - Joana Vasconcelos Profissionais, produção cultural e dinâmicas criativas

Jorge Augusto dos Santos

e-Working Paper n.º3/2013

ISCTE-IUL – Instituto Universitário de Lisboa | Escola de Sociologia e Políticas Públicas E-mail: jorge.augusto.s@netcabo.pt


ÍNDICE ÍNDICE

Aperitivo Apetizer Apetizer Aperitivo RESUMO (ABSTRACT) E PALAVRAS-CHAVE (KEYWORDS) p.1 RESUMO (ABSTRACT) E PALAVRAS-CHAVE (KEYWORDS)

Entradas RISSOL DE INTRODUÇÃO p.1 Entradas RISSOL DE INTRODUÇÃO p.1 Sopas & Saladas CREME DE ENQUADRAMENTO p.1 Sopas & Saladas CARANGUEJO DE MULHERES NAS ARTES p.1 CREME DE ENQUADRAMENTO p.1

Fast-Food, Carne & Peixe HAMBÚRGER, BATATAS FRITAS, COCA-COLA E FÁBRICAS p.1 Fast-Food, Carne & Peixe CARANGUEJO DE MULHERES NAS ARTES p.4

CAÇA (DE) TALENTO(S) E CARAPAU NA E CORRIDA p.1p.6 HAMBÚRGER, BATATAS FRITAS, COCA-COLA FÁBRICAS

Champanhe DEGUSTAÇÃO DE UM SUCESSO p.1 Champanhe DEGUSTAÇÃO DE UM SUCESSO p.9 Bebidas VINHO DE MEDIADORES E GATEKEEPERS p.1 Bebidas VINHO DE MEDIADORES E GATEKEEPERS p.10 Sobremesa CUP-CAKE DE CRIATIVIDADE POLVILHADA COM INOVAÇÃO p.1 Sobremesa CUP-CAKE DE CRIATIVIDADE POLVILHADA COM INOVAÇÃO p.12 Digestivos CONHAQUE DE (IN)CONCLUSÃO p.1 Digestivos CONHAQUE DE (IN)CONCLUSÃO p.13 O Chef Recomenda CAÇA (DE) TALENTO(S) E CARAPAU NA CORRIDA p.8

BIBLIOGRAFIA  ANEXOS  CRÉDITOS p.1

O Chef Recomenda BIBLIOGRAFIA/WEBGRAFIA  ANEXOS  CRÉDITOS


Aperitivo Apetizer RESUMO

Neste ensaio faz-se um enquadramento sobre o lugar e estatuto dos artistas no panorama e setor cultural em Portugal e na Europa, sobre mercado, hierarquia e governance, apresentando-se alguns números e indexantes, incluindo o papel e valor das mulheres nas artes. Reflete-se sobre produção cultural, com algumas notas sobre reprodutibilidade, fábricas e ateliers de construção de arte. É apresentado o exemplo da artista plástica Joana Vasconcelos,

nomeadamente

o

percurso

formativo

e

profissional,

até

à

sua

internacionalização, sucesso e reconhecimento. Discursa-se, também, sobre o papel das mediações que envolvem as profissões e organizações culturais e, ainda, sobre definições de criatividade e inovação, com respetivo lugar nas dinâmicas criativas dos profissionais em causa e, por sua vez, destas no lugar da produção cultural portuguesa. PALAVRAS-CHAVE

artista plástico, profissão, produção cultural, Joana Vasconcelos, criatividade, inovação, internacionalização, reconhecimento, reprodutibilidade, singularidade, mediação

ABSTRACT

This essay presents a framework on the place and status of artists in the panorama and cultural sector in Portugal and in Europe on the market, hierarchy and governance, presenting some numbers and indexes, including the role and value of women in the arts. It reflects on cultural production, with some notes on reproducibility, factories and workshops of art building. Artist Joana Vasconcelos is given as an example, from her training and professional path, to her international success and recognition. Also included is the role of mediation involving the professions and cultural organizations, and also some definitions of creativity and innovation with its appropriate place in the dynamics of creative professionals, as well as their place in the Portuguese cultural production. KEYWORDS

artist, profession, cultural production, Joana Vasconcelos, creativity, innovation, internationalization, recognition, reproducibility, uniqueness, mediation


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“A arte não é a expressão plástica de qualquer ideal particular. É a expressão de qualquer ideal que o artista possa realizar em forma plástica.” - Herbert Read

Entradas  RISSOL DE INTRODUÇÃO  A teoria estética do historiador e filósofo Benedetto Croce (1866-1952), que comer não é arte, veio substituir a ideia de que comer, como outras sensações físicas, pode ser uma arte. Não se pretende ao longo deste trabalho discursar sobre estética, beleza, belo ou outras teorias de arte. Neste ensaio, que encontra na arte da culinária a metáfora para o seu desenvolvimento, pretende-se fazer uma reflexão sobre a profissão ‘artista’ e sobre a produção cultural e dinâmicas criativas e inovadoras, tomando como exemplo as artes plásticas e, especificamente, a artista plástica Joana Vasconcelos. Assim, seguindo o cardápio apresentado, depois do aperitivo que se espera ter aberto o apetite para prosseguir a leitura, e desta entrada, ‘frita’ em pouco azeite para não enjoar, serve-se a refeição propriamente dita. Faz-se um enquadramento cremoso sobre o lugar e estatuto dos artistas no panorama e setor cultural em Portugal e na Europa, sobre mercado, hierarquia e governance, apresentando-se alguns números e indexantes. Neste primeiro ponto faz-se ainda um leve enquadramento sobre o papel das mulheres nas artes, temperado com umas gotas de História da Arte, por forma a dar uma ideia do seu valor. Para os paladares menos refinados ou com pouco tempo, disponibiliza-se um menú fast-food que inclui informação sobre produção cultural, incluindo algumas notas sobre reprodutibilidade, fábricas e ateliers de construção de arte. O prato principal é composto por duas opções. A primeira, é uma suculenta carne de caça aromatizada com perfumes campestres colhidos de um percurso formativo e profissional bem gerido, da profissional em causa. A segunda, é um prato típico de peixe, que vai buscar à tradição portuguesa as ideias e a inspiração para as criações artísticas contemporâneas. Para acompanhar o repasto, sugere-se uma degustação sobre as mediações que envolvem as profissões e organizações culturais. Antes de terminar a refeição, propõe-se oferecer ao paladar o sabor de um bom champanhe, comemorando-se o sucesso e reconhecimento do percurso exímio de uma artista, sem esquecer a literacia de um público, sem a qual a ideia e a verdadeira conceptualização deste tipo de arte podem passar despercebidos, não se usufruindo plenamente dos objetos artísticos. Segue-se um momento adoçado com alguns segredos, sugerindo-se como sobremesa um cup-cake contemporâneo, sem demasiada retórica, polvilhado com alguma criatividade e inovação. Termina-se o singelo banquete com um digestivo que, em jeito de (in)conclusão, deseja apenas deixar o apetite mais aguçado para uma nova refeição e incursão no universo cultural e das dinâmicas dos profissionais das artes. No entanto, se o leitor preferir, pode sempre servir-se de uma qualquer lata das sopas da marca que se tornou famosa por outro ilustre pintor pop!

Sopas & Saladas  CREME DE ENQUADRAMENTO  Os artistas são profissionais dependentes cuja vulnerabilidade pode

condicionar a sua criatividade. No entanto, o valor acrescentado do seu trabalho para a cultura

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dificilmente pode ser calculado. Tenta-se, com alguma frequência, quantificar estes dados em relatórios pormenorizados cujos resultados e recomendações, infelizmente, não são seguidos ou utilizados para justificar um crescente investimento neste setor (ou, a sê-lo, não têm o sucesso ou a eficácia desejados). A prová-lo, o decréscimo investimento com a cultura em Portugal, tendo sido substituído o respetivo Ministério por uma Secretaria-geral que não consegue fazer face às necessidades urgentes das várias entidades que dependem dos seus apoios. Nesta parte inicial apresentam-se alguns dados e uma análise básica mas pertinente, de forma a enquadrar a atividade das artes visuais, relativamente às restantes que constituem o setor cultural e criativo em Portugal. Analisam-se, sucintamente, a sua dimensão e contributo para a criação de emprego e de riqueza, entre outras ofertas, práticas e investimentos, antes de se passar em revista algumas constatações, relativamente ao papel e lugar assumido pelas mulheres na área das artes plásticas. Dimensão e contributo do setor cultural e criativo para o emprego nacional O relatório de 2010, com um estudo sobre o setor cultural e criativo em Portugal, coordenado por Augusto Mateus, indica que em 2006 este setor representava cerca de 2,6% do emprego nacional total 1, ou seja, 127 mil empregos. Destes, o maior bolo, de 79,2% (100.667) pertencem às indústrias culturais (cinema, vídeo, edição, música, rádio, televisão, e atividades transversais de suporte ao setor, como bens de equipamento, distribuição e comércio e turismo cultural); 10,2% (13.023) pertencem às indústrias criativas (arquitetura, design, publicidade, serviços de software e componentes criativas em outras atividades); e os restantes 10,5% (13.389) às atividades culturais nucleares, onde se incluem as artes performativas, o património histórico e cultural, e as artes visuais e criação literária, que em 2006 contavam 6.160 empregos, representando um crescimento acumulado de 47,1%, desde o início do século até 2006. Em 2011, e tendo por base a informação do Inquérito ao Emprego do INE 2, o número de pessoas empregadas no sector cultural e criativo era de 76,8 mil, representando um decréscimo de quase 40%, relativamente àqueles números. Dimensão e contributo do setor cultural e criativo para a criação de riqueza Relativamente à criação de riqueza, o relatório da sociedade Augusto Mateus & Associados dava conta que as artes visuais e criação literária representavam em 2006 2,7% (cerca de 101 milhões de euros) de todo o setor cultural e criativo (de um total de mais de 3.690 milhões de euros, sendo maior fatia a das indústrias culturais, onde a edição representa 34,2%, seguida da rádio e televisão com 13,2%). Apesar de pouco expressivo no volume total, tiveram um crescimento acumulado de 68,2%, no primeiros seis anos do milénio, com uma taxa média de crescimento anual a rondar os 9%. Oferta, práticas, promoção, estatuto e investimento culturais Ainda que se verificassem aumentos no número de visitantes de museus e de galerias de arte, e apesar do número de museus e de recintos culturais ter aumentado de 2000 a 2006 (de 201 para 291 e de 224 para 397, respetivamente), e de se ter verificado um aumento no número de exposições em galerias de arte e espaços de exposição temporária (de 4.255 para 6.463) e no número de autores expostos em galerias de arte e espaços de exposição temporária (de 18.286 para 32.151, ou seja, mais de 56%), 1

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MATEUS:56 e ss. Estatísticas da cultura – 2011, Estatísticas oficiais, Edição 2012. [Em linha]. INE. [Consult.06-06-2013].

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relativamente à maioria dos estados membros da UE27 as famílias portuguesas apresentavam despesas com cultura muito inferiores. Comparando Portugal com esses países, a despesa pública com cultura fica a meio da tabela, embora o total consolidado da despesa da Administração Central com esta tenha tido um decréscimo de 2003 a 2007 (de 237,8 milhões para 228,5 milhões de euros, respetivamente). Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), na análise estatística oficial a 2011, de acordo com informação do Orçamento Geral do Estado, “a despesa consolidada do Ministério da Cultura ascendeu a 215,5 milhões de euros, significando um decréscimo de 8,8% em relação a 2010.”1 Curiosamente, se se olhar a despesa municipal em cultura e desporto, verifica-se um crescente aumento de 1990 a 2005 (de 100 milhões neste ano para mais de 900 milhões de euros em 2005). No entanto, os dados do referido relatório do INE, recolhidos através do Inquérito ao Financiamento Público das Atividades Culturais, em 2011 um financiamento de 406,8 milhões de euros foi afeto pelas Câmaras Municipais às atividades culturais. Relativamente à definição do estatuto profissional, só a partir de 1995 (com o XIII Governo) este passa a ser mais recorrente e a gozar de promoção da sua profissionalização nos princípios orientadores das práticas culturais e estratégias de desenvolvimento, havendo mesmo um relatório (elaborado no âmbito da Comissão para Questões de Cultura e Educação do Parlamento Europeu, de 2007) que defende a premissa de que “a arte deve ser considerada como um trabalho e uma profissão” 2. Desde então os programas dos Governos Constitucionais (pelo menos até ao XVII, em 2009, que propôs uma lei sobre o estatuto socioprofissional do artista) passaram a atribuir um lugar mais alargado à cultura e ao trabalho cultural, com algumas medidas estratégicas que passaram pela consolidação e aprofundamento (da profissionalização e dos novos públicos) e inovação, renovação do enquadramento jurídico, promoção da identidade nacional, estatuto do artista, formação e certificação profissional, regime e contratos de trabalho e de proteção social, e internacionalização da cultura portuguesa3. Durante esse período foram mesmo criados grupos de trabalho com o objetivo de identificar as principais questões do setor, ao nível jurídico-laboral e da formação profissional, e consequente criação de um regime laboral específico para estes profissionais, entre outras iniciativas de grupos parlamentares e de associações profissionais (promoção de debates públicos e plataformas artísticas, elaboração de regulamentos, acordos e protocolos, etc). Artes plásticas e mercado “Em 2011 as galerias de arte e outros espaços de exposições temporárias (887 espaços) promoveram 7.304 exposições e apresentaram 297.836 obras de 53.951 autores. O número de visitantes foi de 8,8 milhões, significando em média, 1.210 visitantes por exposição.” 4 O estudo sobre as políticas culturais, Trabalho e Qualificação nas Actividades Culturais, de Rui Telmo Gomes e Teresa Duarte Martinho (2009), que atualiza a informação do projeto A Cultura em Portugal: Diagnóstico e Prospecção (do Observatório das Actividades Culturais, 1998), de 1985 a 1995, assinala algumas evoluções nas artes visuais, apesar da fragilidade e limitações que se denotavam, 1

Estatísticas da cultura – 2011, Estatísticas oficiais. [Em linha]. INE. [Consult.06-06-2013]. P.3 e ss. Apud GOMES e MARTINHO:17 e ss. 3 GOMES e MARTINHO:128-129. 4 Estatísticas da cultura – 2011, Estatísticas oficiais. [Em linha]. INE. [Consult.06-06-2013]. P.5 2

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nomeadamente a ainda reduzida dimensão do setor em Portugal e “insuficiente internacionalização da arte contemporânea”1. O mercado globalizado é formado por um “xadrez complexo de actores [...] tutelado pelas feiras, galerias de referência, coleccionadores” e investidores milionários, como refere a investigadora do CIES-ISCTE (Centro de Investigação e Estudos de Sociologia) Idalina Conde no ensaio Arte e Poder (2009). A socióloga adianta, ainda, que este mercado é “segmentado e hierarquizado por geografias de poder que restringem a liderança artística internacional a poucos países (Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e Itália, com pouco mais do núcleo ocidental e central), que assim contraria o próprio conceito de globalização, pelo menos na vertente comercial da arte”.2 Aí é também apontada uma “interdependência estratégica” que diz respeito às relações entre arte e poder, inscrevendo-se “num cenário multilateral de governance em várias escalas, da local à global, que articula o Estado e políticas culturais com vários agentes da sociedade civil, e um terceiro sector híbrido, combinadamente privado e público”, com “economias mistas” e “poderes intermédios”. O poder das entidades intermédias será abordado mais adiante, no ponto sobre mediação e gatekeeping. Para já interessa reter a ideia da combinação de agentes privados e públicos no que respeita a apoios, ou melhor, a parceiros que as entidades artísticas e culturais podem ou devem procurar, como fez, aliás, Joana Vasconcelos. Este será, provavelmente, o factor-chave na profissionalização do artista plástico e dos agentes do setor envolventes.  CARANGUEJO DE MULHERES NAS ARTES  Segundo o mais recente (e já referido) relatório do INE,

das quase 77 mil pessoas que o sector cultural e criativo empregava em 2011, cerca de 36,3% têm como nível de escolaridade completo, até ao 3.º Ciclo. Mais de metade (51%) têm entre 25 e 44 anos e são homens (52,5%). A inferior presença das mulheres era já notada por Idalina Conde no texto Artists as Vulnerable Workers 3 na análise estatística e qualitativa que esta faz ao número de artistas, comparando 1991 com 2001 (com dados do censos à população do INE, dessas datas). No início do novo milénio, de um total de 9.355 artistas, 1.897 (12%) eram escultores, pintores ou tinham profissões similares e destes apenas 34% eram mulheres, verificando-se um decréscimo de 4% numa década. Mas não nos fiquemos apenas pelas estatísticas oficiais e analisemos, em jeito de curiosidade, outros dados não menos interessantes. Por exemplo, aqueles sobre portuguesas que marcam e têm influência ou que fizeram história, particularmente na área das artes. Mulheres portuguesas que influenciam a sociedade A Revista do jornal Expresso apresentou uma edição especial a 11 de maio de 2013 com “Os 100 mais influentes”, elegendo 100 das personalidades portuguesas que mais marcaram os doze meses anteriores. Destas, 85 eram homens e apenas 13 eram mulheres (as restantes foram os movimentos "Que se lixe a troika" e "Revolução Branca"). Das 100, cerca de um quarto (27) pertencem (ou representam) o setor das artes ou das indútrias culturais e destas apenas cinco são mulheres: a diretora de casting Patrícia 1

GOMES e MARTINHO:26. CONDE,2009b:9 e ss. 3 CONDE,2009a:5. 2

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Vasconcelos, a escritora Hélia Correia, a diretora musical da Berkeley Symphony Joana Carneiro, a filósofa e professora Maria Filomena Molder e a artista plástica Joana Vasconcelos. As tabelas 1 e 2, e os gráficos 1 a 3 (em anexo), ajudam a compreender melhor esta dimensão. Sobre o método de eleição, afirma-se que o processo foi “extremamente debatido” e longo, tendo os jornalistas do jornal apontado os “nomes de personalidades influentes conforme as suas áreas de especialidade”, limitando-se a escolha “aos portugueses com influência em Portugal” (excluindo os portugueses com percurso no estrangeiro). Segundo menciona a revista, procuraram centrar-se naquilo que as figuras tinham feito nesse período, procurando “um conjunto de pessoas que espelhem tendências e l’air du temps.” Em abril de 2013 o Governo português, através da figura do secretário de Estado da Cultura e da presidente da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, Fátima Duarte, galardoou cinco mulheres, na área da cultura, com a distinção “Mulheres Criadoras de Cultura”: a bailarina Anna Mascolo, a atriz e encenadora Germana Tânger, a arquitecta Inês Lobo, a artista plástica Joana Vasconcelos e a maestrina Joana Carneiro, reconhecendo a relevância/ coerência da obra, inovação e carácter pioneiro da actividade artística e impacto social e cultural da obra produzida. 1 Mulheres portuguesas que morrem de pé A referida revista anunciou que vai lançar quatro volumes especiais com o título “100 anos, 100 portugueses”, sobre as figuras que moldaram o século XX. Dos 25 nomes incluídos no primeiro volume, lançado no dia 1 de junho de 2013 (prevê-se que os restantes sejam lançados mensalmente), dois são de mulheres: a ativista dos direitos das mulheres Adelaide Cabete (1867-1935) e a atriz Palmira Bastos (1875-1967), a única personalidade com uma profissão artística. Aguardam-se os restantes nomes dessa lista para verificar se a (baixa) taxa se mantém. Mas não parece que venha a notar-se alguma surpresa. Mulheres portuguesas na História da Arte Partimos em busca de outros nomes que figurem nos livros de História da Arte portuguesa, por forma a comprovar o que se tem vindo a constatar, sobre o lugar que ocupa o género nos anais. Em 1976 a Selecções do Reader’s Digest editou uma compilação em 667 páginas que é “uma antologia, um dicionário e um guia das riquezas artísticas de Portugal” 2, intitulada Tesouros Artísticos de Portugal. Chamou-nos à atenção uma pequena mas curiosa nota, numa das últimas páginas (a 594), com o título “As mulheres e a arte”, onde apenas três são os nomes destacados: a pintora Josefa de Óbidos (c.16301684), a cantora lírica Luísa Todi (1753-1833) e a poetisa Florbela Espanca (1894-1930). Em 2010 a Editora QuidNovi e o Instituto de História da Arte lançaram uma coleção de pequeno formato, dedicada a pintores portugueses, em que cada volume é dedicado a um pintor, do século XV ao século XXI. Dos 16 artistas, apenas três são mulheres: Josefa de Óbidos (Josefa de Ayala Cabrera), Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) e Paula Rego (n.1935). Ou seja, uma autora do século XVII e duas do século XX, sendo a última a única que representa, também, o século XXI. Outra coleção de 42 volumes, Caminhos da Arte Portuguesa no Século XX, editada entre 2005 e 2007 pela Caminho e

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Em http://www.publico.pt/cultura/noticia/governo-distingue-cinco-mulheres-da-cultura-1590482#/0. [Consult.1106-2013] 2 ALMEIDA:7.

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Edimpresa, dá a conhecer as obras de alguns dos mais destacados protagonistas da época. Nela constam igualmente apenas três mulheres: Helena Almeida (n.1934), Paula Rego e Vieira da Silva. Não se pretende, obviamente, fazer um levantamento da autoria de todas as obras que figuram nestas e noutras coleções e volumes de História da Arte portuguesa, o que se tornaria uma exaustiva mas entusiasmante tarefa, que fugiria aos objetivos deste trabalho. Seria muito interessante efetuar um estudo a esse levantamento, que permitiria verificar, por exemplo, quantidades de objetos artísticos mencionados, imagens, destaques, quantas dessas obras são de mulheres e quantas são, exatamente, as artistas que aí figuram, podendo comparar-se, por exemplo, períodos específicos como o barroco ou rococó, da coleção de 20 volumes Arte Portuguesa – da pré-história ao século XX, da Fubu Editores (2009), com os 14 volumes da História da Arte em Portugal, das Publicações Alfa (1986). Fica a ideia. Ainda assim, o número reduzido1 que se encontrou, na curta mas atenta observação, não foi surpreendente e permite, numa análise não exaustiva, fazer algumas conclusões, de que daremos conta de duas apenas. A primeira, sobre a importância quase unânime, nos exemplos apresentados, de alguns nomes das artes plásticas: Josefa de Óbidos, Vieira da Silva e Paula Rego. A segunda, que o número das mullheres representadas, é sempre muito inferior ao dos homens. Prefere-se sublinhar que, embora poucas, as mulheres que figuram na História da Arte em Portugal são-no merecidamente. Embora a História da Arte Contemporânea portuguesa esteja ainda a ser criada (enquanto estas linhas são escritas), não há dúvidas que irá incluir uma percentagem muito maior de mulheres, como aliás se fez notar no início desta parte, sobre o número de mulheres empregadas no setor cultural. Talvez o ‘copo’ não esteja, ainda, a meio mas, simplesmente, a encher. Joana Vasconcelos é, pelas razões já apontadas e por apontar, um nome a registar nessa História.

Fast-Food,Carne & Peixe Os menos atentos poderão pensar que o sucesso de Joana Vasconcelos terá tido uma ascensão meteórica nos últimos meses, o que é natural pois essa assunção é resultado da exposição que os media têm dado à artista e às exposições que têm gozado de inédito sucesso. No atual mundo “moderno”, “esquizofrénico”, de alienação, “macdonaldização”, “americanização”, como refere Arjun Appadurai2, é natural que se viva mais rápida e vertiginosamente. O percurso da artista foi crescente mas constante e seguro desde meados da década de ’90, conforme se poderá verificar na análise biográfica sumária que se segue, da formação inicial e profissionalização à internacionalização e exposições mais recentes.  HAMBÚRGER, BATATAS FRITAS, COCA-COLA E FÁBRICAS Formação e profissionalização

“Embora o estatuto de artista não se adquira através da frequência de um curso institucional formalizado, a passagem por escolas de arte, com as diversas experiências que o contacto com este pólo do mundo da arte implica, continua a operar como importante factor de certificação simbólica e de incentivo para o desenvolvimento de carreiras artísticas.”3

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Casual e curiosamente foram sempre três, nos exemplos apresentados. APPADURAI,2004b:45 e ss. 3 Moulin apud GOMES e MARTINHO:39. 2

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“Joana, devias ir para a António Arroio.” 1 Estas palavras do professor de desenho de Joana Vasconcelos, Isolino Vaz, na Escola Marquês de Pombal, influenciaram provavelmente toda a vida e carreira da artista, uma vez que foi com essa escola secundária artística que se identificou e onde ponderou seguir uma carreira artística. O salto, de Linda-a-Velha, onde morava, para Lisboa, permitiulhe abrir horizontes. Ainda frequentou o IADE, mas não se deu com a imposição de regras (apesar de ter durante muitos anos praticado karaté, que lhe ensinou a disciplina) e decidiu ir para o Ar.Co, onde aprendeu desenho e joalharia, dando uma espreitadela às aulas de escultura, que o seu namorado de então – hoje seu marido – frequentava. Encontrou a sua arte, um discurso muito mais conceptual e diferente, nada bidimensional, que marca ainda as obras que cria. Começou por fazer umas peças num atelier num quinto andar sem elevador, no bairro da Boavista, em Lisboa. Comprava os materiais na mercearia e aprendeu a fazer fibra de vidro nuns ateliers de canoas, no Estádio Nacional. Atualmente no atelier de Joana Vasconcelos trabalham cerca de 30 profissionais, aproximando a sua organização da factory de Andy Warhol. A tabela 3 e o gráfico 4 mostram a quantidade de obras produzidas em 19 anos de atividade, sendo notório o aumento. No entanto, deve-se advertir que apesar de Joana Vasconcelos ser mais conhecida pelas obras de grande dimensão, as mais pequenas são as que se realizam em maior número e que a qualidade da obra não se deve medir pela quantidade produtiva. São quase duas centenas as peças que já realizou desde 1994, incluindo cerca de três dezenas de encomendas e projetos de arte pública, em Portugal e no estrangeiro, desde jardins, largos (Kit garden, Intendente, Lisboa, 2012, figura 2) e varandas (30 Anos do 25 de Abril, Clube Português de Artes e Ideias, Lisboa, 2004, figura 3), a monumentos nacionais (Torre de Belém, A Jóia do Tejo ou ponte D. Luis, Porto, Varina, ambos de 2008, figuras 4 e 5). Indo além dos convencionais espaços expositivos ou museológicos, invade outros, como o centro comercial Almada Forum (Cactus, 2002, figura 6), mostrando o ecletismo e a contaminação2 para locais normalmente não destinados à arte, como faz, aliás, a última exposição de obras do ícone da arte pop no Centro Comercial Colombo3. Joana teve a perspicácia de encontrar outras formas de rentabilidade (e visibilidade) da sua arte na venda de merchandising em espaços (físicos ou virtuais) como a Fnac, a Artwear ou a loja do jornal Público 4, ou, ainda, em parcerias com marcas como a Vista Alegre ou a Toyota 5. Construiu, portanto, outras “miseen-scène e horizontes de expectativa” 6, ao mesmo tempo que questiona o papel e o poder dos espaços ditos tradicionais. Essas soluções, numa era da comunicação e interatividade, pós ou hiper-moderna, podem não resolver os “(des)encontros mais profundos entre arte e público”, mas facilitam o acesso 1

Entrevista a JV, em http://videos.sapo.pt/4q4tdeHOrvhZvKIwb3pR. [Consult.09-06-2013] O termo faz referência rambém a uma obra da artista, Contaminação, de 2008 (figura 7). 3 Exposição "Andy Warhol Icons - Psaier and the Factory Artworks" no âmbito do projeto "A Arte Chegou ao Colombo", reunindo um total de 32 obras dos dois artistas; de 11 de abril a 11 de julho de 2013. 4 Respetivamente em http://www.fnac.pt/merchandising/Joana-Vasconcelos, http://www.artwear.com.pt e http://loja.publico.pt/categories.php?category=Merchandising-Joana-Vasconcelos. [Consult.11-06-2013] 5 No primeiro caso, criando uma baixela inspirada numa das obras criadas para a exposição de Versalhes, à venda nas lojas da Vista Alegre Atlantis em todo o mundo; no segundo caso desenhando 5 variações para o Toyota 5iQ Urban Art (respetivamente, http://www.dinheirovivo.pt/Faz/Artigo/CIECO063273.html e http://www.toyota.pt/about/iq-urbanart/5-iq-urban-art.tmex). [Consult.11-06-2013] 6 CONDE,2009a:16. 2

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deste às obras. Pode questionar-se a eficácia da formação e criação de públicos, neste caso de arte contemporânea. No entanto, não devem restar dúvidas sobre o benefício que o artista (esta, em particular), com as obras que cria, traz para a sociedade. Literacia em gestação? Provavelmente. Levantam-se também outras questões ligadas à reprodutibilidade e raridade das obras. Sobre este assunto, também a controversia atinge Joana Vasconcelos, como é natural no meio artístico, não só no questionamento sobre se as suas obras são arte (que não cabe aqui desenvolver) ou sobre a perda da aura ou “dos valores do seu culto a favor dos de exibição, reprodução, circulação, trivialização” que “relativizam os artefactos e magnificam, ou hiperbolizam, os [valores] do culto, ou culto do seu autor” 1. Ou seja, formação de “artistas como estrelas”, neste caso, de uma star do hiper-pop. Se Joana Vasconcelos tivesse de escolher uma obra sua seria A Noiva (2001), porque é “a história que mais histórias de backstage tem. E a mais polémica também, se lembrarmos a do Palácio de Versalhes, que negou incluí-la na famosa e mediática exposição (2012). Este episódio confirma a constatação de que a arte está interligada com a sociedade e que as suas mudanças, económicas ou políticas (como foi o caso), influenciam-na. Formulava Herbert Read 2 que “quanto mais estudamos a estrutura das obras de arte que vivem em virtude do seu apelo directo e intuitivo mais difícil se nos torna reduzi-las a fórmulas simples e explicáveis.” A base elementar da atividade artística é o belo, mas não se podem ignorar as três fases, segundo este reconhecido crítico de arte: a da simples perceção da matéria, o seu arranjo em formas e padrões agradáveis e a expressão, quando se correspondem as perceções a um estado de emoções ou sentimentos preexistentes. “A arte de um período só pode ser usada como norma ou modelo se aprendermos a fazer a distinção entre os elementos formais, que são universais, e os elementos expressivos, que são temporais. Menos lícito ainda será dizer que, em forma, Giotto é inferior a Miguel Ângelo. Talvez seja menos complicado, mas a forma não pode ser avaliada em função do seu grau de complexidade.” 3 Sobre o percurso do sistema (de galerias, escolas, bolsas, etc) Joana diz 4 que foi falhando por não se integrar nas estruturas estabelecidas e rapidamente se apercebeu que teria de procurar outras soluções. Começou, então, de forma natural, a trabalhar desde muito cedo na sua carreira a nível internacional. CAÇA (DE) TALENTO(S) E CARAPAU NA CORRIDA  Internacionalização

A preocupação sobre a já referida reduzida internacionalização da arte contemporânea, implica o “problema da falta de circulação e projeção da produção artística portuguesa noutros países” 5 e resulta de fatores como o insuficiente investimento governamental na “ligação entre criadores e pessoas que estão no meio com know how, proporcionando-lhes os mecanismos para a internacionalização [...], a desproporção entre investimento em produção e o necessário investimento em redes de distribuição e de circulação internacional [...] e o reduzido número de mediadores com peso suficiente no panorama internacional, pouca influência das galerias como grupo de pressão, inexistência de uma imagem de marca externa do país”. 1

CONDE,2013:15. READ:15 e ss. 3 Idem:17. 4 Entrevista a JV, em http://videos.sapo.pt/4q4tdeHOrvhZvKIwb3pR. [Consult.09-06-2013] 5 GOMES e MARTINHO:26. 2

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Joana Vasconcelos conseguiu ultrapassar essas dificuldades, que assombram o setor e os artistas, e foi precisamente através do investimento e promoção no mercado internacional que conseguiu provar a sua qualidade e só depois o sucesso se refletiu em Portugal. Lembramos que a artista apenas ‘mereceu’ uma grande exposição em Portugal (no Palácio Nacional da Ajuda, 2013) depois da exposição de sucesso no grandioso palácio e parque, símbolo da monarquia absoluta do Rei-Sol (Luis XIV) no século XVII (Versalhes, 2012). No entanto o seu percurso conta com 46 exposições individuais desde 2000, das quais mais de metade (27) se realizaram no estrangeiro, 9 delas em Espanha (tabela 4 e gráfico 5). Joana afirma: “90% do meu trabalho eu diria até 95% - é feito fora daqui”, estando enraizado em galerias europeias e exposições internacionais, tendo muitos e grandes colecionadores estrangeiros e estando presente em grandes coleções e museus no mundo. Antes de Versalhes, e agora, da Ajuda, a visibilidade nacional não seria muito grande. Provavelmente conhecer-se-ão algumas peças e a artista, mas a sua arte não deve ser muito conhecida, o que levanta a questão sobre a literacia artística dos públicos (que necessitaria de outro(s) ensaio(s) para desenvolver detalhadamente).

Champanhe  DEGUSTAÇÃO DE UM SUCESSO  Reconhecimento Reconhecer um artista - a sua arte e a sua singularidade – é também reconhecer o o seu lugar na sociedade. A relação entre ele e a comunidade é de inter-dependência. O concenso de qualificação e valorização assenta na “produção de discursos de legitimação”. Segundo Alexandre Melo1, os critérios que distinguem uma obra ou um artista são variados: num plano horizontal, estéticos, técnicos, formais ou ideológicos; ou num plano vertical, “de acordo com critérios hierárquicos de poder ou cotação económica, mediática ou simbólica”. Embora não haja limites para estas definições, que por sua vez podem não ser consensuais, os objetos artísticos têm que ser “socialmente reconhecidos como tal pelo conjunto da sociedade ou pelos específicos círculos de especialistas em que a sociedade informalmente delega a competência para a concessão e reconhecimento do estatuto artístico.” Joana Vasconcelos começou a mostrar a sua obra em 1994, em exposições coletivas, performances, happenings. Os prémios começou a recebê-los desde 2000. Nesse ano, ganhou o 1º Prémio de Escultura no 45ème Salon de Montrouge (França) e o Prémio EDP Novos Artistas (Fundação EDP). Em 2004, o Prémio Tabaqueira de Arte Pública, (Tabaqueira) e o Prémio Fundação Marquês de Pombal Artes Plásticas / Arte Contemporânea Jovens Artistas (Fundação Marquês de Pombal). Em 2006, vence The Winner Takes it All (Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Coleção Berardo). Já se referiu a inclusão da artista na lista dos 100 portugueses mais influentes da Revista (Expresso) em 2013/2013, pelo terceiro ano consecutivo, e a distinção "Mulheres Criadoras da Cultura", pelo Governo português, em abril de 2013. Joana Vasconcelos é atualmente uma marca e a sua assinatura faz a diferença sobre o valor de uma obra. Como notava Pierre Bourdieu, a magia da assinatura “pode, ao aplicar-se a um objecto qualquer, [...] duplicar extraordinariamente”2 o valor de uma obra (relembrando Duchamp). Talvez tenha adquirido já o “triplo” poder artístico de “representar, transcender e agir sobre os imaginários da sociedade” 3, 1

MELO,2002a:81 e ss. BOURDIEAU:229. 3 CONDE,2009a:2. 2

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civilizando e inspirando através da arte (sofisticada e/ou de insubordinação?) que cria. Como Warhol, Joana teve a “perícia alquímica de transformar o vulgar em extraordinário [...] elevando a objecto uma condição de sujeito”1: ele, pegando na Coca-Cola e na cultura de massas, ela nos objetos da cultura (e nostalgia) tradicional portuguesa (e não só), reinterpretando-as, recriando-as e retradicionalizando-as noutro imaginário, de mistificação, também popular e de massas. Na segunda parte do ensaio “Reconhecimento em arte: passagens de um percurso”, Idalina Conde faz, entre outras, uma reflexão sobre a singularidade ou individualidade, relevância e valor da arte, que se tornou uma mercadoria. A socióloga cita as palavras de António Cerveira Pinto, dizendo que “à desmaterialização da obra de arte (sucede) a desmaterialização simbólica dos autores: o que resta é uma assintatura”2. Mas concordamos com a autora ao contrapor que a assinatura “não é pouco: é mesmo muito”. O nome num cartaz, da diva do teatro Palmira Bastos, por exemplo, era o suficiente para encher plateias, o que mostra o poder da singularidade de um nome, neste caso da nonagenária que na longa carreira (mais de 75 anos) fez sucesso em Portugal e no Brasil. E estamos certos que o nome de Joana Vasconcelos terá sido suficiente para levar ao Palácio Nacional da Ajuda um número de visitantes nunca antes registado. Não cabe neste curto ensaio desenvolver sobre a autoria como locus da ideia artística nem sobre a oposição valor estético/valor histórico na avaliação dos objetos artísticos, pois apesar de Joana Vasconcelos gozar atualmente de algum reconhecimento do público e de alguma crítica especializada, também por ter conseguido ultrapassar o “vórtice do efémero” 3, não é reconhecida, ainda, principalmente pelos pares. Provavelmente só o será postumamente, como muitos artistas. No entanto, já ocupa, merecidamente, um lugar na História da Arte.

Bebidas  VINHO DE MEDIADORES E GATEKEEPERS Para melhor se compreender quais são os atores, organizações e dinâmicas nos espaços culturais, utilizase o modelo esquemático (figura 1) da referida socióloga no sub-captítulo Mapping Mediations, do ensaio reflexivo “Individuals, biography and cultural spaces: new figurations”. Como pertinentemente notou a autora, sobre as condições das mulheres na música e nas (novas) media arts em Portugal e sobre as mulheres e o gatekeeping nas artes, a “globalização não está a acontecer apenas em sentido geográfico [...] mas também em termos da nova «cartografia cultural e tecnológica» que carateriza os ciberespaços dos novos media e os horizontes trans-locais da música eletrónica.” 4 Isto aplica-se a outras artes, como a da artista que se escolheu para se analisar e exemplificar neste trabalho. Fará sentido contextualizar a posição que toma a arte e cultura visuais contemporâneas, nesta era de interdependências e de influências mútuas entre arte e media, e todos os subgéneros que os compõem, viajando entre realidades físicas, digitais e virtuais. As experiências sensoriais são cada vez mais interativas, imersivas e sinestésicas. 1

Idem:34. Pinto apud CONDE:2013:31. 3 CONDE,2013:33. “quando os artistas se reduzem à dimensão da notícia, o destino que os espera é necessariamente breve”, o que não se passa no caso da jovem artista.” (Pinto apud CONDE,2013:33). 4 CONDE,2003:257. N. tradução. 2

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A mediação torna-se, por isso, uma “ferramenta intercomunicativa ou dialógica com a qual lidam diversos profissionais ligados a programação, a formação de públicos, atividades socio-culturais, etc.”, ou seja, uma mediação que é também pedagógica 1. Por outro lado, as organizações são vistas como “meta-mediações” e “âncora de interface” dos espaços culturais, contrastando com aquelas o institucional formato e modelo piramidal, uma vez que “as plataformas têm emergido como organizações flexíveis com microestruturas fixas e portefolios de projeto elásticos.”2 Na relação entre o artista e a sociedade Alexandre Melo3 aponta o modelo solipsista e o comunicante (em que “a obra de arte surge como comunicação entre autor e público”) como modelos que “revelam uma fraca capacidade descritiva e explicativa já que, na realidade, não há artistas sozinhos nem há relações directas bipolares entre um criador e um receptor”, tendo-se introduzido a categoria do intermediário, que tem o papel de os ligar. Este varia “de acordo com as diferentes disciplinas artísticas: vendedores, consultores, agentes, produtores, críticos, managers, relações públicas.” Mas este sociólogo e crítico de arte enuncia uma hipótese mais profunda ao propôr que “a mediação precede a criação”, ou seja, muitas vezes a mediação precede a produção de uma obra de arte, pois é uma forma que a indústria cultural e artística – e os próprios criadores – encontrou para, através dessa promoção antecipada, conseguir financiamento e investidores que viabilizem a criação. Encontramos no projeto do cacilheiro Trafaria Praia, de Joana Vasconcelos, um exemplo disso, uma vez que antes de se ser criado, já se fazia promoção e publicidade, através da cobertura que os media lhe deram, a partir do momento em que se soube que aquela embarcação iria representar Portugal na Bienal de Veneza de 2013. A divulgação terá sido crucial para angariar as verbas necessárias à concretização, já que o projeto, embora apoiado e organizado por entidades estatais, teve apoio, parcerias e patrocínios de entidades privadas diversas, que o viabilizaram4, o que mostra a sua importância na produção de arte moderna e contemporânea, assim como a “voragem do mediático” 5. Já para a exposição que realizou em Versalhes, e que custou dois milhões e meio de euros, não teve qualquer apoio estatal – nem português nem francês – pelo que teve de recorrer a sponsors estrangeiros e portugueses, incluindo colecionadores e galerias, que ajudaram a concretizar o projeto6. Não podemos esquecer que o mercado é um “jogo de poderes [...] tutelado pelas feiras, galerias de referência, coleccionadores (e investidores)”, mas também é “segmentado e hierarquizado por geografias de poder que restringem a liderança artística internacional a poucos países” contrariando o conceito de globalização, “pelo menos na vertente comercial da arte”, como chama a atenção Idalina Conde7. A socióloga adverte que as relações entre a arte e o poder se inscrevem, hoje, numa interdependência estratégica,

1

“pedagogical mediation”, CONDE,2011:32. CONDE,2011:37. 3 MELO,2002:84 e ss. 4 Lista em http://www.vasconcelostrafariapraia.com/pt/apoios/ [Consult. 09-06-2013] 5 CONDE,2009a:33. 6 Entrevista a JV, em http://videos.sapo.pt/4q4tdeHOrvhZvKIwb3pR. [Consult.09-06-2013] 7 CONDE,2009a:9 e ss. 2

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Profissão: Artista Plástica - Como ‘cozinhar’ um artista de sucesso | Joana Vasconcelos Profissionais, produção cultural e dinâmicas criativas “num cenário multilateral de governance em várias escalas, da local à global, que articula o Estado e políticas culturais com vários agentes na sociedade civil, e um terceiro sector híbrido, combinadamente privado e público [...] que pluralizam os poderes intermédios e as esferas/lógicas de legitimidade política, económica, cultural”.

Distingue ainda três tipos de mediação: mediática, outras mediações transversais e “mediação da discursividade, tendo em vista a produção profusa e intertextual de discursos onde ocorre a reflexividade sobre o mundo contemporâneo.” Seguindo o modelo Cliche e Wiesand 1, podem distinguir-se alguns gatekeepers, intermediários e o papel dos círculos de reconhecimento, nas diferentes fases da carreira artística de Joana Vasconcelos, conforme análise sumária à diversa documentação recolhida, dos “perímetros de ressonância”2 (pares, críticos, principais coleccionadores, público em geral, curadores, comissários, programadores, gestores, animadores, formadores, monitores, etc) (anexo II).

Sobremesa CUP-CAKE DE CRIATIVIDADE POLVILHADA COM INOVAÇÃO  A perfeição da imperfeição: a Regra de Ouro das proporções, em arte, tentou ser provada, nomeadamente pelo psicólogo alemão Adolf Zeising (1810-1876). Mas tal como num poema, em que a perfeição se torna monótona, também nas artes plásticas podem afastar-se da métrica regular, sem sujeição a leis mas aos instinto e sensibilidade do artista. Não existe arte importante sem o ato de vontade criadora do artista, que será mais verdadeiro quanto a sua indiferença perante os materiais e condições que lhe são impostos. 3 A criatividade pode ser vista através de diversas lentes. Shakuntala Banaji e Andrew Burn, por exemplo, exploram a da retórica, no artigo “Creativity through a rhetorical lens: implications for schooling, literacy and media education”. Aí, abordam a retórica da criatividade como génio criativo ou imperativo económico, de bem social, de cognição, de utilização tecnológica ou de aprendizagem, em discursos que se sobrepõem e existem em diferentes contextos e áreas, não sendo, portanto, estanques nem isolados. Correndo o risco de definição insuficiente, imprecisa, ou contraditória, a criatividade é imaginativa, tem um propósito e produz resultados originais e de valor. Richard Florida e Irene Tinagli afirmam que a “criatividade tornou-se uma força motriz do crescimento económico”4, fator crucial de competitividade e ao mesmo tempo um elemento básico da existência humana. No relatório que publicaram em 2004, Europe in the Creative Age, analisam a classe criativa na Europa, distinguindo três indexantes (3T’s) que formam o indexante do “Euro-Talento”: indexante da Euro-Tecnologia, da Euro-Tolerância e do Euro-Talento. Na economia criativa e na estrutura de ocupações criativas, Portugal apresenta menos de 15% da força de trabalho nas classes criativas 5, sendo o único país que teve um crescimento negativo6. Em sete de 14 nações europeias esse número ultrapassa os 25%, conseguindo competir com os Estados Unidos. Portugal está nos últimos lugares da tabela em quase todos os índices. No entanto, na matriz da Euro1

Apud CONDE,2011:40. CONDE,2009a:12. 3 READ:176. 4 FLORIDA:5. N. tradução. 5 Idem:5. 6 Idem:13 e 15. 2

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Criatividade, encontra-se na posição de Up and Comers, ou seja, de elevada taxa de crescimento, o que deixa alguma esperança nesta área. Além de criatividade, as artes precisam de inovação, outro fator-chave para a indústria e gestão das artes. Segundo o Chambers Twentieth Century Dictionary, de 1935, inovar é introduzir algo novo para gerar mudança1. Quase oito décadas depois esta definição provavelmente ainda se aplica, obviamente tendo em conta as mudanças que entretanto aconteceram, nomeadamente na comunicação, a diversos níveis. O desenvolvimento tecnológico, como a internet e outros programas computacionais e multimédia, permitem uma multiplicidade de combinações ao dispôr dos artistas ou dos gestores. De acordo com o pintor Jean Dubuffet 2, “a essência da arte [...] é a novidade... o único sistema favorável à arte é a permanente revolução” 3. Nas artes a inovação “acontece quando um artista expressa ideias dentro de uma disciplina tradicional no meio escolhido, em formas relevantes às circunstâncias alteráveis do presente” (mudança social e mudança tecnológica). “Uma vez efetuada, no entanto, a própria inovação torna-se parte da tradição histórica da forma de arte, que por sua vez, embora alterada e adaptada, será novamente desafiada a mudar.” 4 Por outras palavras, a criatividade e inovação de hoje – através da mudança e da própria criatividade – deixarão de ser criativas e novas para dar lugar a outras novas inovações. Este é o maravilhoso mundo do ciclo da espiral da evolução.

Digestivos  CONHAQUE DE (IN)CONCLUSÃO  Neste ensaio apresentaram-se algumas reflexões sobre o papel do artista (plástico) na sociedade. Indicou-se o seu lugar relativamente ao restante setor cultural e criativo em Portugal, a sua dimensão e contributo para o emprego nacional e para a criação de riqueza, assim como outras práticas de promoção da profissão e de investimento na área cultural. Mostrou-se, também, que ainda há um longo caminho a percorrer para internacionalizar a arte contemporânea portuguesa, que por sua vez faz parte de um mercado globalizado mas complexo e interdependente. Por outro lado, apresentou-se, sumariamente, o influenciador papel das mulheres nas artes, embora ainda reduzido comparativamente ao dos homens. Deu-se como exemplo o percurso da artista plástica Joana Vasconcelos, desde a sua formação e profissionalização à internacionalização e reconhecimento, apresentando-se o papel que a mediação tem (e teve) no seu sucesso. Por último, refletiu-se, ainda, sobre as evolutivas definições de criatividade e inovação, fundamentais para a formação, criação e distinção, dos profissionais das artes, sem demasiada retórica mas com o devido enquadramento e margem de crescimento de Portugal, relativamente aos resto da Europa. O conhecimento deve ser ingerido com a mesma regularidade com que o ser humano come diária e continuamente. Num caso, alimentando o seu corpo para poder (sobre)viver; no outro, alimentando o seu espírito para que, além de viver, possa pensar e evoluir. O trabalho que se apresentou deve ser encarado, igualmente, como evolutivo e, portanto, não conclusivo. Os pratos que constituem o menú oferecido podem ser degustados conforme se queira ou se precise. 1

Apud CLOAKE:271. N. tradução. Jean Dubuffet (1901-1985) pintor francês, o primeiro teórico da arte bruta e autor de vigorosas críticas da cultura dominante. Em http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Dubuffet e em http://www.infopedia.pt/$jean-dubuffet [Consult. 11-06-2013] 3 Apud CLOAKE:272. N. tradução. 4 CLOAKE:273. N. tradução. 2

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O Chef Recomenda BIBLIOGRAFIA / WEBGRAFIA CITADA  ALMEIDA, José António Ferreira de (1976) – Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, Selecções do Reader’s Digest. BANAJI, Shakuntala e Andrew BURN (2007) - “Creativity through a rhetorical lens: implications for schooling, literacy and media education”. [Em linha]. LSE Research Online, artigo, Literacy, 41 (2). pp. 62-70 [Consult.07-06-2013]. Disponível na internet em: <URL: http://eprints.lse.ac.uk/27016/1/Creativity_through_ a_rhetorical_lens_(LSERO_version).pdf >. BOURDIEAU, Pierre (2003) - “Mas quem criou os ‘criadores’?”, em Questões de Sociologia, Lisboa, Fim de século, pp.217-231. CLANCY, Paula (1997) – “Skills and Competencies: The Cultural Manager”, in From Maestro to Manager – critical issues in arts and culture management, Dublin, Oak Tree Press. CLOAKE, Mary (1997) – “Management, Arts and Innovation”, in From Maestro to Manager – critical issues in arts and culture management, Dublin, Oak Tree Press. CONDE, Idalina (dir); Teresa D. MARTINHO e João PINHEIRO (2003) - "Making distinctions: conditions for women working in serious music and in (new) media arts in Portugal" in AAVV, Culture-Gates. Exposing Professional ‘Gate-keeping’ Processes in Music and New Media Arts. [Em linha]. Bona, ARCultMedia, pp. 255-323 [Consult.07-06-2013]. Disponível na internet em: <URL: http://www.oac.pt/pdfs/CultureGates_Portugal.pdf >. CONDE, Idalina (2009a) - “Arte e Poder”. [Em linha]. CIES e-Working Papers, No. 62 [Consult.06-062013]. Disponível na internet em: <URL: http://www.cies.iscte.pt/destaques/documents/CIESWP62_Conde.pdf >. CONDE, Idalina (2009b) - “Artists as vulnerable workers”. [Em linha]. CIES e-Working-Papers, No.71 [Consult.06-06-2013]. Disponível na internet em: <URL: http://www.cies.iscte.pt/destaques/documents/CIES-WP71_Conde_001.pdf >. CONDE, Idalina (2011) - "Individuals, biography and cultural spaces: new figurations". [Em linha]. CIES e-Working-Papers, No. 119 [Consult.07-06-2013]. Disponível na internet em: <URL: http://www.cies.iscte.pt/destaques/documents/CIES-WP119_Conde.pdf CONDE, Idalina (2013) - “Reconhecimento em arte: passagens de um percurso (2ª parte)”. [Em linha]. CIES e-Working Papers, nº 148. [Consult.11-06-2013]. Disponível na internet em: <URL: http://www.cies.iscte.pt/np4/?newsId=453&fileName=CIES_WP146_Conde.pdf >. FITZGIBBON, Marian e Anne KELLY (ed.) (1997) – From Maestro to Manager – critical issues in arts and culture management, Dublin, Oak Tree Press. FLORIDA, Richard e Irene TINAGLI (2004) - Europe in the Creative Age. [Em linha]. Londres, Demos. [Consult.11-06-2013]. Disponível na internet em: <URL: http://www.demos.co.uk/publications/creativeeurope >. GOMES, Rui Telmo e Teresa Duarte MARTINHO (2009) - Trabalho e Qualificação nas Actividades Culturais, Lisboa, Observatório das Actividades Culturais. LAGEIRA, Jacinto (2007) – “Être consomé”, em Dossier de Imprensa de Joana Vasconcelos, monografia, pp.11-35. [Em linha]. [Consult.09-06-2013]. Disponível na Internet: <URL: http://www.joanavasconcelos.com/presskit_lista.aspx >. MATEUS, Augusto (coord.) (2010) - O Sector Cultural e Criativo em Portugal, Relatório Final,

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GPEARI / Ministério da Cultura, Lisboa, Augusto Mateus & Associados. MELO, Alexandre (2002) - “Capítulo 2. Dimensões culturais da globalização”, Globalização cultural, Lisboa, Quimera, pp.41-86. READ, Herbert (1968 [1931]) – O Significado da Arte, s.l., Editora Ulisseia. SILVA, Paulo Cunha e (2009) – “Tricotando a pele ou a arte da deslocação”, em Dossier de Imprensa de Joana Vasconcelos, monografia, pp.270-273. [Em linha]. [Consult.09-06-2013]. Disponível na Internet: <URL: http://www.joanavasconcelos.com/presskit_lista.aspx >. __ Aceda ao desejo de ser verdadeiramente único [Em linha]. Toyota – 5iQ Urban Art. [Consult.11-062013] Disponível na internet em: <URL: http://www.toyota.pt/about/iq-urban-art/5-iq-urbanart.tmex >. __Baseado Numa História Verídica T3 Ep.59. [Em linha]. Canal Q - SAPO Vídeos, entrevista a Joana Vasconcelos, por Aurélio Gomes. 13-01-2013. 53 minutos. [Consult.06-06-2013]. Disponível na internet em: <URL: http://videos.sapo.pt/4q4tdeHOrvhZvKIwb3pR >. __ Estatísticas da cultura – 2011, Estatísticas oficiais, Edição 2012. [Em linha]. INE. [Consult.06-062013]. Disponível na internet em: <URL: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui= 149181316&PUBLICACOESmodo=2 >. __ Governo distingue cinco mulheres da Cultura. [Em linha]. Jornal Público – Cultura, 07-04-2013. [Consult.11-06-2013] Disponível na internet em: <URL: http://www.publico.pt/cultura/noticia/governo-distingue-cinco-mulheres-da-cultura-1590482#/0 >. __Jean Dubuffet. [Em linha]. Infopédia, Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 11-06-2013]. Disponível na internet em: <URL: http://www.infopedia.pt/$jean-dubuffet >. __ Joana Vasconcelos. [Em linha]. Informação vária (Dossier de Imprensa, biografia, monografias, etc). [Consult.09-06-2013]. Disponível na internet em: <URL: http://www.joanavasconcelos.com >. __ Revista Expresso. Os 100 mais influentes. 11-05-2013. __ Revista Expresso. 100 anos, 100 portugueses volume I. 01-01-2013. __ Vista Alegre imortaliza presença de Joana Vasconcelos em Versalhes [Em linha]. Dinheiro Vivo. [Consult.11-06-2013] Disponível na internet em: <URL: http://www.dinheirovivo.pt/Faz/Artigo/CIECO063273.html >.

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 ANEXO I  TABELAS, GRÁFICOS e FIGURAS 

Tabelas 1 e 2 / Gráficos 1 a 3 Os 100 portugueses mais influentes em 2012-2013

Fonte: Revista do jornal Expresso (11-05-2013)

Fig. 1 Esquema de organizações e dinâmicas em espaços culturais (“Organizations and dynamics in cultural spaces”)

Fonte: CONDE,2003:36.


Tabela 3 e gráfico 4 Quantidade de obras produzidas em 19 anos de atividade (1994-2012)

Fonte: http://www.joanavasconcelos.com [Consult.11-06-2013]

Tabela 4 e gráfico 5 Exposições individuais (2000-2013)

Fonte: Biografia de Joana Vasconcelos (em http://www.joanavasconcelos.com) [Consult.09-06-2013]


Fig. 2 Kit garden (2012), Largo do Intendente, Lisboa

Fig. 3 30 Anos do 25 de Abril (2004), Clube Português de Artes e Ideias, Lisboa

Fonte da imagem: http://www.joanavasconcelos.com [Consult.11-06-2013]

Fonte da imagem: http://www.joanavasconcelos.com [Consult.11-06-2013]

Fig.4 A Jóia do Tejo (2008),Torre de Belém, Lisboa

Fig. 5 Varina (2008), ponte D. Luís, Porto-V.N.Gaia

Fonte da imagem: http://www.joanavasconcelos.com [Consult.11-06-2013]

Fonte da imagem: http://www.joanavasconcelos.com [Consult.11-06-2013]

Fig. 6 Cactus (2002), Almada Forum, Almada

Fig. 7 Contaminação (2008), François Pinault Foundation

Fonte da imagem: http://www.joanavasconcelos.com [Consult.11-06-2013]

Fonte da imagem: http://www.joanavasconcelos.com [Consult.11-06-2013]


 ANEXO II  Modelo de gatekeepers nas diferentes fases da carreira de um artista (JV)  Indicador de reconhecimento ou sucesso

CAMADA I Facilitadores que moldam ou promovem o início de carreira

CAMADA II Mediadores no mercado

CAMADA III Instituições e estruturas de suporte

Fase I Desenvolvimento e formação   

Auto-expressão Satisfação pessoal Apoio de fontes internas e externas

Família e amigos: o marido, arquiteto Duarte Ramirez, é parceiro na construção dos projetos. Educadores e formadores: professor Isolino Vaz, Escola Marquês de Pombal, que aconselhou JV a ir para a Escola António Arroio; Ar.Co Figuras modelo

 

Mentores profissionais Redes geracionais

Autoridades públicas responsáveis pelo currícula de educação e formação Paineis de juris que concedem bolsas

Fase II Descoberta e desenvolvimento 

Reconhecimento público de profissionais: Paulo Cunha e Silva, Jacinto Lageira, Jorge Lima Barreto1

   

Mentores profissionais Grupos ou redes de peers Criticas/ media: O público/audiência: mais de 76.000 visitantes na exposição do PNA (recorde naquele monumento)2

 

Organizadores de plataformas ou eventos de distribuição (curadores) a nível nacional Fontes de fundos públicos e privados Críticos/agências de media

  

Fase III Sucesso com aclamação nacional, europeia ou internacional  Dinheiro: a arte de JV  Painel de juris/prémios: movimentou 2 milhões de  2000 - 1º Prémio de Escultura euros em 20123; na / 45ème Salon de Montrouge, Christie's: Coração Montrouge; Prémio EDP Independente vendido por Novos Artistas, Fundação 192 mil euros (2009) e EDP, Lisboa Sapatos de Marilyn por 2004 - Prémio Tabaqueira de 573.964 euros (2010); Arte Pública, Tabaqueira; Emmeline (2011) e Ophelia Prémio Fundação Marquês de (2012) vão estar no leilão Pombal Artes Plásticas / Arte Post-War and Contemporary Contemporânea Jovens Art Day Auction (dia 26 de Artistas, Fund. Marquês de junho, em King Street, em Pombal Londres4  2006: The Winner Takes it All,  Fãs e audiências devotas: Fundação de Arte Moderna e 29.803 gostos (fãs) na página Contemporânea – Coleção oficial no facebook de JV5; Berardo 2.578 gostos (fãs) na página  Instituições culturais

1

 

Organizadores transnacionais de eventos / curadores de exposições: Miguel Amado, Deborah Robinson Críticos/media europeus ou internacionais: Agustín Pérez Rubio, Octavio Zaya, Elisabeth Lebovici; Media: Especialistas em relações públicas nas indústrias culturais globais

Assoc. profissionais Reguladores Comités de prémios: Alexandre Melo, João Fernandes, João Pinharanda, José Borges da Fonseca, Leonor Nazaré (júri do prémio artes visuais, EDP, 2000) Instituições culturais

Fóruns e redes a nível internacional e corpos intergovernamentais

SILVA; LAGEIRA. Em http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=653875&tm=4&layout=121&visual=49, 24-05-2013 3 Em Diário Económico, 12-04-2013. 4 Em http://www.dinheirovivo.pt/Buzz/Artigo/CIECO165417.html [Consult. 09-06-2013] 5 Em https://www.facebook.com/pages/Joana-Vasconcelos/114594835254650?fref=ts [Consult. 09-06-2013] 2


oficial no facebook de JV no PNA1; 1,6 milhões de visitantes no Palácio de Versalhes (2012); Reconhecimento de tendências: o filósofo Gilles Lipovetski apelida-a de hipermodernista;

 

Plataformas-chave Críticos/Media; Distinção: Prémio personalidade do ano 2012/Martha de la Cal (Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal) A audiência/público

Fonte do modelo: Cliche e Wiesand apud CONDE,2011:40.

 CRÉDITO DE IMAGENS 

►Design, edição de imagem, composição gráfica e de texto de Jorge Augusto dos Santos, com base em fotogafia da obra Petit Gâteau (2011), de Joana Vasconcelos. Foto: DMF, Lisbon/Unidade Infinita Projectos [Em linha]. Joana Vasconcelos. [Consult. 04-04-2013]. Disponível na Internet: < URL: http://www.joanavasconcelos.com >. CAPA

LAY-OUT, PAGINAÇÃO E FORMATAÇÃO:

Jorge Augusto dos Santos. < URL: http://www.jorgeaugusto.eu >.

NOTAS FINAIS Neste trabalho foi utilizada a nova grafia do português, exceto nas transcrições e citações, em que se manteve a grafia original. Nas referências bibliográficas utilizou-se as “Normas de Formatação e Apresentação Gráfica da Dissertação ou Trabalho de Projecto de Mestrado e da Tese de Doutoramento”, aprovadas pela Comissão Científica Permanente da Escola de Sociologia e Políticas Públicas (ESPP), em 17.11.2010.

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Em https://www.facebook.com/JoanaVasconcelosPNAjuda?fref=ts [Consult. 09-06-2013]


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