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A venda ilegal de seu filho
by EdLab Press
ela diz: “oh, meu Deus! Eu sabia que teria ele de novo. Eu tinha certeza de que Deus me ajudaria a consegui-lo. Então me senti tão gigante por dentro; senti como se o poder de uma nação estivesse comigo!”
As impressões deixadas por Isabella nos seus ouvintes, quando procedidas por sentimentos elevados ou profundos, nunca podem ser transmitidas para o papel (usando as palavras de outros) até que, por algum ato daguerriano,10 pudéssemos transferir o olhar, os gestos, os tons de voz em conexão com as expressões descomedidas, mas adequadas, e a avassaladora emoção que, naquele momento, permeia tudo o que ela diz.
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Depois de deixar sua senhora, ela foi ter com a senhora Gedney, mãe daquele que havia vendido seu filho; que, depois de ouvir suas lamentações, seu pesar misturado com indignação com a venda de seu filho, e sua declaração de que o teria de volta, disse: — Minha cara! Que perturbação por causa do seu filho! Seu filho por um acaso é melhor que minha filha? Minha filha foi embora, e o seu foi morar com ela, para ter de tudo e ser tratado como um cavalheiro! — e então riu dos receios absurdos de Isabella. — Sim — disse Isabella —, sua filha foi para lá, mas é casada, e meu filho foi como escravo, e ele é
10 Referência ao método fotográfico pioneiro criado por Louis
Jacques Mandé Daguerre.
muito pequeno para se afastar tanto da mãe. Oh, eu preciso ter meu filho.
E aqui o riso contínuo da senhora G. pareceu a Isabella, neste momento de angústia e miséria, quase demoníaco.
E assim foi com a senhora Gedney que, naquela época, nem podia sonhar com o terrível destino que esperava sua filha amada, nas mãos daquele a quem ela escolheu como digno da riqueza de seu amor e confiança, e em cuja companhia seu jovem coração havia calculado uma felicidade mais pura e mais elevada que jamais havia sido conferida por uma coroa real. Mas, ai!, ela estava fadada à decepção, como relataremos pouco a pouco. Nesse ponto, Isabella sinceramente implorou a Deus que mostrasse aos que a cercavam que Ele viria em seu socorro; e ela acrescenta, narrando: “e Ele o fez; ou, se Ele não os mostrou; mostrou a mim.”
É SEMPRE ESCURO ANTES DO RAIAR DO SOL
Esse provérbio familiar pode ilustrar o caso de nossa sofredora; pois, na parte em que chegamos em nossa narrativa, para ela a escuridão parecia palpável e as águas da aflição cobriam sua alma; contudo, a luz estava prestes a surgir para ela.
Logo após as cenas relatadas em nosso último capítulo, que atormentaram sua alma em agonia, ela conheceu um homem (gostaríamos de lhe dizer quem, caro leitor, mas não seria nada pouco gentil com ele, mesmo atualmente), que evidentemente era solidário a ela, e a aconselhou a ir ter com os quakers,11 dizendo que eles já estavam se sentindo indignados com a venda fraudulenta de seu filho e
11 O grupo religioso dos quakers estava entre os primeiros brancos a denunciar a escravidão, liderando campanhas internacionais e ecumênicas abolicionistas.
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assegurando-lhe que a ajudariam prontamente e lhe indicariam o que fazer. Ele apontou para ela duas casas, onde moravam algumas dessas pessoas, que mais do que qualquer outra seita, talvez, viviam nos princípios do Evangelho de Cristo. Ela foi até onde eles moravam, foi ouvida, e mesmo desconhecida que era, com paciência logo ganhou a solidariedade e a cooperação ativa deles.
Deram-lhe alojamento para a noite; e é muito interessante ouvi-la contar sobre a “cama agradável, alta, limpa, branca e bonita” que destinaram para ela dormir, contrastando tão estranhamente com seus estrados anteriores, onde ela se sentou e admirou, completamente absorvida pela maravilha de que tal cama pudesse ser apropriada para alguém como ela. Por algum tempo, ela pensou que se deitaria sob a cama, como era sua forma habitual de dormir, sobre o chão. “Eu fiz isso mesmo”, diz ela, rindo francamente da mulher que algum dia foi. No entanto ela finalmente decidiu fazer uso da cama, com receio de que se não fizesse poderia ferir os sentimentos de sua boa anfitriã. De manhã, um quaker cuidou para que ela fosse levada e deixada perto de Kingston, com instruções para ir ao tribunal e apresentar queixa ao grande júri.
Após uma pequena investigação, ela descobriu qual era o prédio que procurava, entrou pela porta e, ao encontrar o primeiro homem de aparência imponente, que parecia ser do grande júri, iniciou a queixa. Mas ele, muito civilizadamente, a informou