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Projeto de vida e protagonismo

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PASSANDO-SE

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34 um movimento cultural que propunha a afirmação da arte criada por negros nos Estados Unidos.

Como recurso dramático e estilístico, a autora empregou, para determinados trechos do livro, a narrativa epistolar, isto é, a troca de cartas entre as personagens. Ao contrário dos romances epistolares, no entanto, a autora não se furtou a expressar os sentimentos da personagem ao ler as cartas.

PROJETO DE VIDA E PROTAGONISMO EM PASSANDO-SE De acordo com a Base Nacional Curricular Comum, é finalidade do Ensino Médio contemporâneo “valorizar os papéis sociais desempenhados pelos jovens, para além de sua condição de estudante, e qualificar os processos de construção de sua(s) identidade(s) e de seu projeto de vida”. Para a formação de seus educandos em sujeitos “críticos, autônomos e responsáveis”, é papel da escola oferecer-lhe “experiências que garantam as aprendizagens necessárias para a leitura da realidade, com seus desafios sociais e a tomada de decisões éticas”.

Para formar esses jovens como sujeitos críticos, criativos, autônomos e responsáveis, cabe às escolas de Ensino Médio proporcionar experiências e processos que lhes garantam as aprendizagens necessárias para a leitura da realidade, o enfrentamento dos novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos e ambientais) e a tomada de decisões éticas e fundamentadas. O mundo deve lhes ser apresentado como campo aberto para investigação e intervenção quanto a seus aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais e culturais, de modo que se sintam estimulados a equacionar e resolver questões legadas pelas gerações anteriores – e que se refletem nos contextos atuais –, abrindo-se criativamente para o novo.

Em Passando-se acompanhamos a vida de duas estudantes do ensino médio, duas amigas, ambas de ascendência mista (negra e branca), mas cujas vidas irão traçar trajetórias diametralmente opostas. Irene, a narradora, que desfruta de uma posição social estável, identifica-se com a comunidade negra, para qual contribui com eventos sociais. Já Claire, para sair da pobreza, reinventa-se em uma identidade “branca”, casa-se com um homem rico e racista (que não sabe das origens da esposa). A reaproximação das duas, depois de muito tempo separada, dispara graves conflitos éticos com os quais a protagonista tem que lidar, evidenciados neste trecho:

“Recuou da ideia de contar àquele homem, ao marido branco de Clare Kendry, nada que o levasse a suspeitar que sua esposa era uma negra.[…] Estava presa entre dois compromissos morais. Consigo mesma. E com sua raça. Raça! A coisa que a amarrava e a sufocava. Qualquer passo que desse, se viesse a dar algum passo, iria arrasar alguma coisa. A pessoa ou a raça. Nada, ela imaginou, era

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PASSANDO-SE mais tragicamente irônico. Sozinha, Irene Redfield desejou, pela primeira vez na vida, não ter nascido uma negra. Pela primeira vez ela sofreu e rebelou-se por não poder ignorar o fardo da raça. Já era suficiente, gritou em silêncio, sofrer como mulher, um indivíduo, por conta própria, sem ter de sofrer pela raça também. Era uma brutalidade, e imerecida.”

Ao conflito étnico soma-se o contexto de uma sociedade escancaradamente racista, instigando leitores aos desafios da contemporaneidade, estimulando-os a “equacionar e resolver questões legadas pelas gerações anteriores – e que se refletem nos contextos atuais”. A decisão ética do conflito, como aprenderá o aluno/leitor, passará pela definição e afirmação de uma identidade, dentro da diversidade brasileira, o primeiro passo para que ele/ela assuma o protagonismo, formule e conduza seu projeto de vida.

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Referências

A IDENTIDADE DO “NEM BRANCO, NEM NEGRO” NA ARTE BRASILEIRA

Marrom e amarelo, de Paulo Scott. São Paulo : Companhia das Letras, 2019. Um romance contemporâneo sobre dois irmãos, um claro o suficiente para ser tratado como “branco” pela sociedade, outro escuro o bastante para ser considerado negro.

O mulato, deAluísio Azevedo, 1881. Considerada uma das primeiras obras naturalistas de nossa literatura, este livro aborda o conflito de um personagem de ascendência negra e branca (filho bastardo de um senhor de engenho com uma escrava) que prospera no mundo dominado pelos brancos até ser limitado por sua “cor”.

A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, 1875. Escrito em plena campanha abolicionista, à qual o autor apoiava, tem por protagonista uma escravizada que é repetidamente descrita como branca, embora seja, assim como Claire e Irene, mestiça ou, na definição norte-americana, negra. A ênfase na branquitude da personagem Isaura pode ser explicada como uma tentativa de ganhar a compaixão das mulheres da elite do Brasil, o público leitor a que se destinava o romance.

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37 “Haiti”. Canção de Caetano Veloso e Gilberto Gil que suscitou discussões sobre a cisão racial no Brasil. Este trecho exemplifica como a “cor” de uma pessoa é definida pela sociedade brasileira muitas vezes em função de sua posição social.

Quando você for convidado pra subir no adro da fundação Casa de Jorge Amado pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos, dando porrada na nuca de malandros pretos, de ladrões mulatos e outros quase brancos tratados como pretos, só pra mostrar aos outros quase pretos (e são quase todos pretos) como é que pretos, pobres e mulatos, e quase brancos quase pretos de tão pobres, são tratados.

As “mulatas”. Durante o Estado Novo, houve uma tentativa de mitificar a mulata, um rescaldo da velha ideia eugenista de “branquear” a população pela miscinenação. Esse mito ecoou em muitas canções, como “É luxo só” (Ary Barroso). Algumas canções hoje em dia já não se pode ouvir com a mesma ingenuidade, como a “Mulata assanhada” de Ataulfo Alves (“ai meu Deus que bom seria, se voltasse a escravidão…”) ou “Seu cabelo não nega, mulata”, de Lamartine Babo e Irmãos Valença (“mas como a cor não pega, mulata…”)

O mestiço. Nas artes plásticas, os negros de pele clara são temas constante. Para além do ranço racista de A redenção de Cam (1895), valem menção as “mulatas” de Di Cavalcanti, os épicos Mestiço e o O lavrador de café de Portinari (1934) e a Lindoneia, de Rubens Gerchman (1966), homeageada na canção homônima de Caetano Veloso, que a descreve como “Lindonéia, cor parda, fruta na feira, Lindonéia solteira”.

© MAM RJ

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