13 minute read

Sujeito bicho

Cuidados com o animal de estimação se renovam devido à ascenção do mercado pet no Brasil

Alice Putti, Luísa Secco e Rafaelly Kudla

Advertisement

Adinâmica familiar e o próprio conceito de família estão em constante mudança. Hoje em dia, pode-se dizer que os animais são integrantes da família tanto quanto qualquer ser humano. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, o Brasil tinha cerca de 132,4 milhões de animais domésticos, sendo os cães maioria nas casas brasileiras (44,3%). A Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) demonstra que o mercado pet brasileiro é o 2º maior do mundo.

De acordo com a psicóloga Caroline Escobar Cisnero, é muito importante abordar as relações emocionais entre humanos e animais, visto que muitas pessoas preferem ter um animal de estimação do que um filho, por exemplo. Como consequência da mudança dessa relação, passaram-se a utilizar com mais frequência serviços especializados para os animais.

HOTELARIA ANIMAL

Luana Jeranoski é médica veterinária e funcionária da Casa do Pluto, uma creche para cães que oferece serviços de day care, no qual o cachorro passa o dia e realiza atividades com outros cachorros, além de hotelaria. O estabelecimen utiliza um modelo de creche livre, no qual os cachorros ficam soltos no pátio durante o dia, fazendo atividades separados por porte, e dormem em baias individuais, cada um com sua alimentação, água, cama e tapete higiênico. A convivência canina é de harmonia, então cães não sociáveis não serão aceitos.

Luana conta que a creche desenvolve diversas atividades que são importantes para o estímulo de caça e faro dos cães, como caça ao tesouro, com frutas escondidas, cabos de guerra, caça com balões de água, entre outros.

Trabalhar com cachorros significa oportunidade para muitas histórias divertidas. Uma vez, Luana passeava pelo Barigui quando o Joca, um cliente cão da Casa do Pluto, a reconheceu, mesmo ela estando de costas. “Ele deu um pulo em mim e me abraçou pelas costas. Tomei um susto achando que era um assalto, mas quando

Na Casa do Pluto, os cachorros participam de diversas atividades para desenvolver seus instintos.

Cachorros no pátio da creche / Arquivo Casa do Pluto

vi que era ele meu coração se encheu de amor!”, diz. Mas nem sempre é só felicidade, como foi o caso de Julieta, cachorrinha abandonada na creche. Felizmente, ela foi acolhida pelos funcionários e mora lá até hoje. Às vezes, é difícil integrar o animal, como no caso de cachorros mais idosos ou muito apegados ao dono, mas a persistência é importante para concluir se o cão ficará bem na creche ou não. “Os cães são como humanos: cada um tem sua personalidade, alguns chegam super bem e nem olham para trás, outros sofrem um pouco mais para começar a ter prazer em frequentar a creche. Vale a persistência!”, afirma Luana. Porém, se a dificuldade é muito grande, o dono é orientado a buscar outro serviço, como as babás.

BABÁ DE BICHO?

As pet sitters, ou babás de animais na tradução literal, ainda carregam o nome em inglês devido a origem desse cargo, que veio dos Estados Unidos.

Pensando em oferecer cuidados especiais para animais de estimação, a veterinária Andressa Gontijo, proprietária do My Pet’s Nanny, trouxe o serviço de pet sitter em 2010, quando este trabalho ainda não existia no país.

O serviço consiste em cuidar do pet em sua própria residência quando o dono for viajar ou trabalhar. Esses cuidados costumam durar uma hora por visita e poderão ser feitas várias visitas por dia. Durante os atendimentos, o foco é exclusivo no pet, que receberá, alimentação, passeios, carinho, limpeza e atenção.

A cat sitter Vanessa Caron explica que o diferencial do pet sitter é a relação entre o animal e o cuidador. Vanessa é especializada em comportamento animal e restringe o seu serviço a cuidar apenas de gatos.

A cat sitter conta como funciona o seu trabalho: “O que fica definido entre eu e o tutor são os cuidados básicos. Eu fico no mínimo 1 hora na casa do tutor, se o ele quer que eu fique mais tempo, existe essa opção também. O que eu faço dentro do que é combinado é: a reposição de ração, a troca de água, a limpeza da caixinha de areia, eu brinco com os gatos, porque pelo fato de ele ficar sozinho já é estressante, ele acumula muita energia e essa energia estressa. Dentro dessa 1 hora, praticamente o tempo todo é de brincadeira e carinho, as tarefas básicas são rápidas, então o restante do tempo é dedicado pra isso. Eu mando também fotos e vídeos diários para o tutor e se ele desejar posso fazer chamadas de vídeo.”

Para Vanessa algumas coisas despertam ainda mais o prazer de exercer essa profissão. “É muito gratificante ver que o gato confiou em você. Claro que pode ser que em alguns casos o gato nem apareça. Por exemplo, uma delas, a Pepa, eu não cheguei nem a ver a cor dela, ela vivia escondida e fugindo de mim, e a gente deve respeitar isso, nunca forçar.”

“É muito interessante ver como cada gato é diferente um do outro, cada um tem a sua personalidade, uns são mais carinhosos, outros mais tímidos, uns brincam mais, outros menos, mas cada um tem a sua peculiaridade” ressalta a cat sitter.

“É muito interessante ver como cada gato é diferente um do outro, cada um tem a sua personalidade.” Vanessa Caron, cat sitter

Serviços durante a pandemia

Durante essa quarentena, a Casa do Pluto está atendendo com horário reduzido, com grande redução do número de clientes por causa do isolamento domiciliar.

Serviço: facebook.com/casadoplutopetshop

TECNOLOGIA BOA PRA CACHORRO!

O DogHero é uma empresa de serviços para animais e foi criado a partir dessa percepção de necessidade na área de hotéis para animais, que muitas vezes oferecem um serviço caro e impessoal, em que o cãozinho fica preso em gaiolas ou canis, sem carinho ou conforto. Ao conversar com amigos, muitos deixavam de viajar por causa disso. Com o passar dos anos, foi ficando mais claro, conversando com pais de cachorro e heróis, que cachorro é amor, e pede carinho e atenção. O aplicativo existe para justamente isso: ajudar os pais de cachorro a cuidarem deles, conta Eduardo Baer, CEO e cofundador da DogHero.

Atualmente, a DogHero conta com 1,2 milhão de pets cadastrados, 20 mil heróis entre anfitriões, passeadores e pet sitter, e atuação em 750 cidades entre Brasil, Argentina e México.

O aplicativo oferece quatro serviços: hospedagem, creche, pet sitter ou passeio. No caso dos serviços de hospedagem, creche e passeio, o cliente escolha a partir de uma lista: ele digita seu endereço para conhecer os heróis que moram próximo e oferecem aquele serviço.

Cada perfil conta com informações sobre o herói, fotos dos pets que cuidou e avaliações de outros clientes. O cliente conversa com os cuidadores que gostou mais, marca um pré-encontro para conhecer a pessoa que vai ficar o animal previamente e faz o pagamento pela DogHero.

Enquanto em hospedagem, creche e pet sitter, cabe ao cliente escolher o cuidador, em passeios o fluxo é diferente. Levando em conta o endereço do cliente, as informações sobre o cachorro (como porte, raça, idade e dados do comportamento dele), o app escolhe o passeador ideal para atender aquela família. É possível pedir para passeios para já (o passeador chega em até uma hora na residência do cliente), agendar um passeio único para o horário ou data que preferir, ou fechar um plano semanal. Os tutores passam por um processo de seleção extremamente cuidadoso (apenas 20% dos candidatos são aprovados levando em consideração questões de perfil e de segurança). Os heróis também contam com módulos de e-learning sobre comportamento canino e realizam provas para aprimorar os conhecimentos sobre os cuidados com os cães. Além disso, a DogHero também faz um monitoramento da avaliação de todas as experiências registradas pelos clientes para manutenção da base.

Na hospedagem da DogHero, o cachorro vive a rotina dele normalmente, como em casa. O horário do passeio é o mesmo. Se o animal costuma dormir no sofá ou na cama em casa, ele dorme na casa do anfitrião nesses locais, também. A comida, os potinhos e os brinquedos dos cães são levados pelos donos para os anfitriões. Desta forma, o objetivo é que o bichinho sofra menos com a ausência dos pais. Além disso, o anfitrião está sempre em contato, enviando fotos e vídeos.

Darth Vader / Mariana Portugal

QUEM USA, RECOMENDA!

No bairro São Luiz, em Belo Horizonte,em Minas Gerais, mora a servidora pública Patrícia Fernandes, com seu marido e dois gatos, Darth Vader e Mancha Rabino, ambos vira-latas. Eles nunca se interessaram por deixar os animais em hotéis, pois seus gatos ficam muito estressados quando saem de casa. Por isso, Patrícia optou pela cat sitter, que faz visitas diárias de uma hora durante o período em que o casal está viajando.

Mariana Portugal é dona da empresa Anjos Felinos, que também oferece hotelaria para gatos. Mas, no caso de Darth e Mancha, o trabalho é de babá. Durante a visita, ela brinca com os gatos, troca água e comida, faz a higiene e tira muitas fotos e vídeos para matar a saudade dos donos. Patrícia

comenta que, quando ela volta de viagem, os gatos estão “estragados” de tanto que são mimados com brinquedos e comidinhas especiais, como atum. “A gente fica no mínimo quinze dias tentando reeducar os bichos”, ri.

Patrícia diz que a vontade de levar os gatos junto nas viagens é grande, mas é menos sofrido deixá-los com a babá. “Já perguntamos pro veterinário, que tem 20 gatos por sinal, e ele não recomenda, diz que ficam muito estressados. Não é interessante para os gatos, por mais que a gente queira.” Na verdade, todos os serviços em relação ao Darth e ao Mancha são feitos em casa. Inclusive o veterinário, que visita os gatos duas vezes por ano para serem vacinados.

Na casa de Patrícia, instalar câmeras foi outra maneira de matar a saudade dos bichinhos. Elas são utilizadas para ver o que os gatos fazem durante o dia. Porém, já foram a causa de um arrependimento. “A nossa câmera dá pra falar, então fizemos uma experiência e chamamos o Darth pela câmera. Ele enlouqueceu porque achou que a gente tava em casa. A gente se arrependeu muito e nunca mais fez isso. Ele ficou perdido procurando a gente com aquela carinha e quase morremos do coração”, conta a dona.

Os gatos de Patrícia sentem bastante saudade dos donos e sabem muito bem como demonstrar. Uma vez, quando ela voltou de viagem, o Darth, que na época ainda era bem filhote, soltou um miado contínuo até não ter mais fôlego. “Coração da gente quase caiu de tanta tristeza de ver o bichinho, mas ele ficou tão alegre, foi ótimo esse dia.” Outra história aconteceu depois que levaram o carro de Patrícia em um assalto. Ela ficou até mais tarde na delegacia e estava sem chave para entrar em casa, pois seu marido estava viajando. Sua mãe levou o chaveiro, que fez muito barulho para abrir a porta, e também entrou na casa para fazer o serviço. Patrícia narra que, quando voltou da delegacia, “o gato parecia que queria me contar que teve alguém na casa. Porque ele tava super arrepiado, eriçado, miando e andando na casa

“A gente fica no mínimo quinze dias tentando reeducar os bichos.”

Patricia Fernandes, tutora dos gatos Darth e Mancha

Darth e Mancha / Mariana Portugal

toda.”PET TAMBÉM

PRECISA DE CUIDADO PSICOLÓGICO?

Caroline Cisnero e Ca-

Cachorros brincando na creche / Arquivo Casa do Pluto

milla Eckert são psicólogas especializadas em comportamento animal. Caroline ressalta a expansão dos sentimentos entre humanos e seus animais de estimação e a importância de levar isso em consideração na hora de escolher qual o melhor cuidado para seu pet. “A relação que temos com o nosso animal é muito similar em muitos aspectos a forma como a gente se relaciona com humanos. Então a saudade também vai se manifestar da mesma forma.”

A ansiedade de separação é outro aspecto importante de verificar na da escolha do serviço ideal para o bichinho. O animal, longe do tutor, fica desesperado, demonstrando sinais de ansiedade, como urinar. “Já há estudos que viram que os animais se machucam, roem as patas, perdem pelo, de estresse, de ansiedade dessa separação”, comenta Camilla.

Além de hotéis e pet sitters, há aqueles que optem por levar seu bichinho junto durante as viagens. Caroline frisa os cuidados necessários para que a viagem seja boa tanto para o pet quanto para o dono. “Dependendo da quantidade de viagens e do temperamento do animal pode ser tanto uma coisa boa quanto um estressor. Porque dentro de um aeroporto, o tanto de gente, ou na rodoviária, muito barulho, muito estímulo, isso pode ser estressante. Pro animal vai depender muito. Se ele for muito tranquilo, super sociável, é uma coisa super boa, super tranquila de se manejar. Mas se for um animalzinho que fica mais isolado, um pouco mais agressivo, temperamental, pode acabar virando uma dor de cabeça para o tutor também. Pode ficar cansativo para ambas as partes em certo ponto.”

Conversamos também com o veterinário Juliano Roveda, para entender o comportamento dos pets quando deixados em hotéis. “O animal pode ficar deprimido, se estressar com mais facilidade no hotel, porque mesmo nos hotéis maiores, que geralmente existe a área de convívio com outros

animais, ou algumas vezes quando são levados para passear, é somente uma ou duas vezes devido à demanda. Mas não é o contato com o dono que você tem diariamente, muitos animais dormem com o proprietário, ou no quarto do proprietário, então é um vínculo bem maior que eles têm.”

Juliano explica os cuidados necessários quando os donos optam por transportar seus pets nas viagens: “No caso

de viagens, depende muito para onde você vai, onde você vai ficar. É muito melhor você levar o animalzinho do que deixar num ambiente estranho de um hotel, principalmente se você vai fazer uma viagem longa. Tudo depende. Depende do comportamento do animal, de como ele lida com lugares novos, com pessoas diferentes. Cabe ao dono, talvez, fazer um teste. Uma vez leva junto para ver como reage, outra deixa no hotel, outra com a babá, e vai adaptando até ficar bom para o dono e para o bichinho.”

O veterinário destaca também o diferencial de cada pet. “ O gato é mais sensível, eu recomendaria deixar em casa, e pedir pra alguém ir tratar ele. O cachorro é diferente, se você for viajar e não tiver com quem deixar, o estresse é menor em hotéis, desde que o animal não seja muito apegado contigo. E se for deixar gatos, é necessário ver se o hotel tem gatis, que são ambientes exclusivos para gatos, pois se mistura gatos e cachorros, os gatos vão se estressar.”

Resumindo, cada bichinho é único e especial. Respeite o espaço e o comportamento do seu pet. E, se precisar de ajuda para cuidar dele, não se desespere. Com certeza algum serviço vai agradar você e seu melhor amigo.

“Depende do comportamento do animal, de como ele lida com os lugares novos, com pessoas diferentes.”

Juliano Roveda, médico veterinário

Lei de transporte

Quer levar seu animal nas viagens? Fique ligado nas regras para o transporte de animais domésticos.

portalcomunicare.com.br

Serviço Weppet Sociedade: Sociedade de psicólogas que estudam e trabalham a relação humano-animal.

O que fazemos: Palestras, rodas de conversa, grupos terapêuticos e psicoeducativos para tutores e profissionais da área pet, workshops, consultoria em instituições veterinárias, atendimento clínico e individual. Pesquisa sobre relações de apego entre tutores e animais de companhia.

Camilla Eckert (CRP: 08/28392) Caroline Cisnero (CRP: 08/28500)

Instagram: @weppetsociedade

Lei de proteção aos animais

Deixar o animal por muito tempo sozinho, sem estímulos ou brinquedos é um fator estressante. Principalmente se é o animal em que o vínculo é igual ao de membro da família.

portalcomunicare.com.br

This article is from: