Outubro de 2021 Mariana - MG
APARASIRENE NÃO ESQUECER
A SIRENE
PARA NÃO ESQUECER | Ano 6 - Edição nº 66 - Outubro de 2021 | Distribuição gratuita
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Repasses CNJ AVANÇA NAS REUNIÕES DO "NOVO ACORDO"
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tem buscado mediar reuniões para propor um “novo acordo” com relação ao crime da Samarco/Vale/BHP. Ao que tudo indica, o acordo realizado entre a Vale e o governo do Estado no caso do rompimento da barragem do Córrego do Feijão tem servido de referência. Apesar disso, é importante lembrar que as pessoas atingidas, as assessorias técnicas e os movimentos organizados apontam para uma série de problemas com relação à proposta firmada no caso de Brumadinho, como o uso do recurso em projetos que nada têm a ver com os territórios e as famílias atingidas.
AUTORRECONHECIMENTO DOS GARIMPEIROS TRADICIONAIS DO ALTO RIO DOCE 3 E 4 DE SETEMBRO Nos dias 3 e 4 de setembro aconteceram duas reuniões para tratar do autorreconhecimento do grupo de garimpeiros tradicionais do alto Rio Doce. Os encontros contaram com a participação de Emmanuel Duarte Almada (biólogo e professor da UEMG e coordenador do Kaipora - Laboratório de Estudos Bioculturais), Maurício dos Santos (antropólogo, mestre em Estudos LatinoAmericanos, também integrante do Kaipora), dos coordenadores do grupo dos garimpeiros tradicionais, Sérgio Papagaio e Ermínio Amaro, e de integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB). As reuniões, que aconteceram em Acaiaca e em Monsenhor Horta, respectivamente, somam esforços no sentido da aquisição do selo de comunidade tradicional junto à Comissão de Povos e Comunidades Tradicionais do Estado de Minas Gerais, requerida pelo grupo dos garimpeiros tradicionais após a aprovação de uma NT (Nota Técnica) no CIF em favor do grupo, em abril deste ano.
TRABALHADORES DA VALE NO CANADÁ SOFREM ACIDENTE 20 DE SETEMBRO 39 funcionários que atuavam na mina subterrânea Totten, no Canadá, ficaram presos no subsolo após um acidente com uma pá escavadeira, no dia 26 de setembro. Os resgates duraram quatro dias e todos os trabalhadores já se encontram bem. A mineradora tenta convencer os investidores que o acidente foi um “caso isolado” - mas, com o histórico de crimes cometidos pela empresa, é possível imaginar que isso esteja sendo difícil.
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EXPEDIENTE Realização: Atingidos(as) pela Barragem de Fundão, Arquidiocese de Mariana | Conselho Editorial: Expedito Lucas da Silva (Kaé), Genival Pascoal, Letícia Oliveira, Pe. Geraldo Martins, Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio), Simone Maria da Silva | Editores-chefe: Genival Pascoal e Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio) | Jornalista Responsável: Juliana Afonso | Diagramação: Eduardo Salles Filho | Reportagem e Fotografia: Joice Valverde, Júlia Militão, Juliana Afonso, Juliana Carvalho, Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio), Simone Maria da Silva | Apoio: Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) | Revisão: Elodia Lebourg | Programa de extensão "Sujeitos de suas histórias", da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Equipe: Lavínia Torres, Victória Oliveira, Jeniffer Fernandes. Responsáveis: professora Karina Gomes Barbosa e professor André Luís Carvalho. Agradecimentos: diretora Sônia Sartori, coordenadora pedagógica Cíntia Miranda e professora Luciana Drummond, da Escola Municipal de Paracatu de Baixo | Foto de capa: Programa de extensão "Sujeitos de suas histórias", da UFOP.
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Papo de Cumadres: Opinião:
A fome do corpo e a fome da alma Consebida e Clemilda se queixam de duas fomes, uma fome física, pois elas não podem comer a produção de seus quintais por medo da contaminação por metais pesados, e uma fome de justiça perante o crime da Samarco ainda sem solução. Por Sérgio Papagaio
— Clemilda minha fia, quandu vai pará nossa agunia? — Eu achu que nas graça de Deus tudu vai se resorvê um dia. — Oia só que tristeza minha, eu prantei tanta coisa nu meu quintá e agora num possu apruveitá pruquê us istudus faz menção a uma tar contaminação, é tantu metá pesadu que já tá me adoecendu só de pensá. Oia só procê, vê é tanta tristeza que a gente aduece até mesmu sem as prantas cumê. — Cumade minina de Deus, põe sintidu nu que vou te dizer, de uma certa manera a gente passa fome de num podê cume aquilu que prantamu e vimu nascê, é tristeza de duê, mais a maiô fomi qui sintu é essa que num é nu buchu e sim nu coração e chegu a pensá que a vida perde u sintidu da continuação. — Cumadre pelu amor de Deus, num fala istu não pois esta fome du coração ela é marvada e leva a dor pra dentru da alma. — É cumadi, ta difici di continuá e tem hora que a vontade que dá é de atravesá fora da pinguela da vida e nu riu da moute meugulhá. — Cumadre, num pudemus disanimá e u nossu corpu entregá, ocê mi intendeu? Pois u suicídiu é a moute du corpo quandu a alma já morreu, precisamu ficá folte e lutá pela vida, mesmu quandu a moute nus parecê a única saída.
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Rotina, atividades e lazer:
o dia a dia dos(as) estudantes de Paracatu de Baixo no ensino emergencial remoto durante a pandemia de COVID-19 Desde o início da pandemia de COVID-19, em 2020, estudantes de Paracatu de Baixo, assim como alunos e alunas de todo o Brasil, precisaram deixar o espaço físico da escola e passaram a frequentar as aulas de forma online. Esses(as) alunos(as) já haviam passado por um processo de perda do ambiente escolar, seis anos antes, ao terem seu subdistrito atingido pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, Vale e BHP. Suas casas, seu novo distrito e a escola nova ainda não foram entregues pela Renova, por isso, eles(as) e suas famílias continuam aguardando o reassentamento enquanto moram provisoriamente na sede de Mariana. Na pandemia, a educação passou por muitas mudanças. As escolas públicas mineiras adotaram uma apostila chamada PET (Plano de Estudo Tutorado), que contém atividades das disciplinas da grade curricular de cada ano letivo. A resolução dos exercícios passou a ser feita com os(as) professores(as) de forma online. Em 2021, ainda em suas casas, mas se aproximando de um possível retorno ao ensino semipresencial, as crianças e os adolescentes relataram ao programa de extensão "Sujeitos de Suas Histórias", da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), e ao Jornal A SIRENE os percalços enfrentados, o que fazem para se divertir e a experiência do ensino remoto até aqui. Por Maria Emília de Sousa Silva, Luiz Felipe da Cruz e João Victor Angelino Com o apoio de Lavínia Torres, Victória Silva e Oliveira, Luciana Drummond de Carvalho, Karina Gomes Barbosa e André Luís Carvalho
Para você, quais as principais diferenças entre o ensino presencial e o ensino remoto? O número de aulas na semana, a interação social, o aprendizado. Teve algumas matérias, como Matemática, que a gente ia aprender o conteúdo só no 9º ano e apareceu no 8o. Se os professores passassem os exercícios, não seria assim. Maria Emília de Sousa Silva, 13 anos, 8° ano Primeiro que, no recreio, a gente brincava com os colegas e, em casa, não, é só ajudando a mãe. Dentro de casa, é só fazer a atividade que a professora manda e acabar na hora que quiser, e na escola tinha tempo. Também na escola tinha a hora de lanchar e, em casa, a gente come na hora que quiser, mexe no celular na hora que quiser. Na escola, a gente ficava de castigo e não participava do recreio se fizesse bagunça. E, no Dia das Crianças, tinha lembrancinhas para as crianças. Em casa, só as famílias que dão. Luiz Felipe da Cruz, 12 anos, 7° ano Onde e como você costuma assistir às suas aulas? Você estuda em um ambiente silencioso? Eu assisto no meu quarto, tem uma mesinha em que eu ponho o PET, e assisto no tablet ou no celular. Os equipamentos são meus, mas, quando estou aqui em Mariana, aí eu divido com meu primo nas aulas. Quando estou em Mariana, o meu quarto é silencioso, mas, quando eu estou na roça, de manhã, tem a máquina de fazer ração na época da seca, e aí faz barulho. No [ensino] remoto, eu passo a semana na roça e, só de vez em quando, volto em Mariana. Minha mãe até instalou internet lá na roça pra assistir às aulas. Quando não tinha coronavírus, eu não gostava de ficar na roça, mas agora eu gosto. Luiz Felipe da Cruz, 12 anos, 7° ano
Foto: Maria Emília de S. Silva
Foto: Pedro Henrique Pascoal
Eu estudo na sala, aqui do lado do meu quarto, e vejo aula pelo computador. Como tem eu e minha irmã, às vezes, antes das aulas começarem, ela assiste [no mesmo computador] e também tem umas chamadas de vídeo que ela participa com os professores. Eu consigo me concentrar muito bem, mas é mais ou menos silencioso. De tarde, começa a ter mais barulho por causa de ônibus e caminhões na rua, mas dá pra concentrar. Maria Emília de Sousa Silva, 13 anos, 8° ano A que horas você faz os seus deveres e a que horas pode se divertir? Eu não tenho hora, depende do dia. Eu faço os deveres que a professora manda, aí vou mexer no celular e, quando ela pede pra entregar, eu
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Foto: Maria Emília de Sousa Silva
Foto: Pedro Henrique Pascoal
Foto: Rayssa Campos da Silva
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Foto: Luiz Felipe da Cruz
mando pelo WhatsApp. No presencial, tinha um horário mais certo para as matérias, porque a gente trocava de sala. E, se não entregasse, tinha que levar pra casa pra acabar!
a gente vai indo assim, né? De vez em quando, eu desenho e, outras vezes, vou jogar com os meninos que jogam bola na minha rua.
Luiz Felipe da Cruz, 12 anos, 7° ano
Eu, às vezes, faço desenhos para entreter, aí eu vejo negócio no YouTube, fico ouvindo música, desenhando, assisto filme com meus amigos por videoconferência. Aí o que tem a internet melhor, a gente passa a senha da Netflix pra ele, apresenta filme Zoom, assiste filme junto. É uma interação, porque, como a gente não pode se encontrar, por videoconferência é muito melhor do que conversar por WhatsApp. Porque, assim, você pode conversar com a pessoa em tempo real. Mas eu também assisto muita série e faço balé também pra ocupar a mente.
Eu não gosto de ficar com muita atividade acumulada, então ou eu adianto o dever, ou eu faço assim que a aula acaba, ou à noite. Eu prefiro fazer depois da aula, porque, como é muita matéria, pode virar uma bola de neve. No presencial, eu estudava de tarde e tinha balé à noite, então eu fazia dever só no outro dia de manhã, ou depois que meu balé acabava, lá pras nove e meia. Maria Emília de Sousa Silva, 13 anos, 8° ano O que você acha das aulas online? Não tem como não gostar, porque, se não gostar, não dá pra fazer bem-feito. Assim, no começo estava sendo muito difícil, mas aí a gente vai acostumando porque, se a gente não fizer, vai ficar muito atrasado. Eu não tinha esse costume de ficar assim o dia inteiro na frente do computador, fazendo atividade, então tive muita dor de cabeça, aí foi melhorando. E agora o meu cérebro acostumou e está normal, está tranquilo. No começo estava muito pesado. Maria Emília de Sousa Silva, 13 anos, 8° ano É bom, né?! A gente aprende a corrigir os deveres, tem certeza se o dever tá certo, mas eu preferia aula presencial. No começo foi bem ruim, quando eu soube que ia ter que ficar em casa e não ir pra escola, eu senti raiva, porque tinha que ficar fazendo PET, ter aula online e ficar preso dentro de casa. Luiz Felipe da Cruz, 12 anos, 7° ano Por mim, de vez em quando, é meio chato, de vez em quando, é meio bom, é tudo mais ou menos!
João Victor Angelino, 12 anos, 7° ano
Maria Emília de Sousa Silva, 13 anos, 8° ano Você sente falta do presencial? Do que você mais sente saudade? Da Educação Física. [Sinto falta de] jogar bola, jogar vôlei. Luiz Felipe da Cruz, 12 anos, 7° ano Educação Física era a pior aula que eu tinha, só ficava olhando os outros fazendo e eu sentado. Eu não podia [fazer] mesmo. Eu ficava jogando dama, por causa do campeonato que ia ter, de dama. O problema é que, no dia que eu ia pro campeonato de dama, aconteceu a pandemia, aí eu não fui e fiquei com mais raiva ainda. João Victor Angelino, 12 anos, 7° ano Eu não tenho uma matéria preferida na escola. Na aula online de Educação Física, a gente não tá fazendo todas as atividades igual fazia, né? Agora tá tendo mais atividades separadas pra fazer, atividades teóricas. Maria Emília de Sousa Silva, 13 anos, 8° ano
João Victor Angelino, 12 anos, 7° ano O que você faz em casa pra se divertir? Em Mariana, eu só fico no celular. De vez em quando, minha mãe deixa eu brincar na rua. Na roça, a gente nem se diverte, porque é uma casa longe da outra e só eu que moro lá de menino pequeno. Eu só fico ajudando meu tio mesmo, andando no meio das matas, andando de cavalo… E tomando banho de rio. Luiz Felipe da Cruz, 12 anos, 7° ano Eu uso mais o celular, então eu fico olhando o celular. De vez em quando, faço uma coisa ou outra, ajudo minha mãe aqui em casa. Aí
Foto: João Victor Angelino
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Foto: Joice Valverde
O que é fundamental para o “novo” Paracatu?
“Tijolo Fundamental”. Este foi o nome dado pela Renova ao grande evento montado para assentar o primeiro tijolo das 94 casas que ainda devem ser construídas no reassentamento de Paracatu de Baixo. Muita demora para algo tão fundamental. As famílias atingidas esperam há quase seis anos pelo direito de voltar para suas casas e as obras sequer têm um novo prazo para serem concluídas, uma vez que todo o reassentamento deveria ter sido entregue em 27 de fevereiro de 2021. A Renova acumula atrasos e desrespeito. A comunidade de Paracatu de Baixo viu o primeiro tijolo ser colocado mais de dois anos depois do evento montado para o início da construção das casas no reassentamento de Bento Rodrigues (que também segue inconcluso), em julho de 2019. Para a comunidade, este primeiro tijolo, mesmo que tardio, representa a esperança de ver o fruto de toda a luta finalmente tomar forma e também a memória das pessoas que partiram sem a oportunidade de viver este momento. No entanto, há ainda muitas outras reivindicações fundamentais para a reparação que continuam sendo ignoradas pela Renova. Por Anderson Jesus de Paula, Luzia Queiroz e Maria do Pilar Com o apoio de Joice Valverde e Wandeir Campos
Pra nós, o fundamental era esse tijolo já vir com um marco de quando o reassentamento vai realmente ser inaugurado. Não é que a gente tá aqui com alegria, não é por causa do primeiro tijolo que colocou que é isonomia. Se colocou na outra comunidade, tem que colocar na nossa também, era ter feito isso no mesmo dia. Mas ali foi uma conquista, porque, se a gente não tivesse feito a mobilização, talvez Paracatu tava do mesmo jeito até hoje. O fundamental, pra gente, é eles honrarem os compromissos e não ficar protelando, nem empurrando com a barriga. É falar as coisas concretas, reais, e não ficar um dia fala uma coisa, outro
dia fala outra coisa, “ah, mas isso não foi possível, ah, mas nós falamos com vocês”. Então o fundamental é honrar a palavra, que é o que a gente entende mais, porque, nessa região nossa, o empenho da palavra vale muito. Pra nós, o fundamental era já estar pronto, era a gente já estar na casa, seria já ter o dia da inauguração e o fundamental seria a gente não ter que ficar fazendo tanto movimento, tanta reivindicação pra isso. E chega de enrolar a gente, tem que chamar a gente quando a coisa for real e já caminhar pra um concreto mesmo. Luzia Queiroz, moradora de Paracatu de Baixo
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Fundamental é a empresa ter que colocar sentimento, porque eles não estão simplesmente construindo casas, eles estão dando a oportunidade que foi arrancada há quase seis anos de uma continuidade de uma história. Cada casa daquela é de uma família e cada família tem a sua história. Vai fazer seis anos que essas famílias pararam as suas histórias nas suas comunidades. Então tem que ter respeito, serenidade no que estão fazendo, porque as pessoas precisam disso, e muita transparência. Essa construção do reassentamento do novo Paracatu de Baixo precisa acalentar os corações das pessoas que estão angustiadas, porque essa espera é muito dolorida. A gente espera que a empresa não quebre ou não deixe mais marcas e feridas, tanto no pensamento como no coração dos atingidos, que estão à espera das suas novas residências, das suas novas histórias, da continuidade das suas histórias e da alegria que é ver as pessoas voltarem para as suas casas. Maria do Pilar, moradora de Paracatu de Baixo
A Renova deveria ter vergonha de fazer aquele evento daquele jeito com a demora e com a ineficiência do trabalho deles. Eu não vejo desculpa, eu não vejo uma nota falando que eles reconhecem os erros deles. Eles culpam tudo pelo atraso ou pelo não cumprimento das coisas. Ora é burocracia, ora é a prefeitura, ora é a natureza, ora é a pandemia, teve chuva, teve seca. Esse evento é até um desrespeito com as pessoas mais idosas da comunidade, com as famílias dos que já partiram e não viram isso. Teve aquele evento todo para autoridades, mas o fato é: e o prazo de conclusão? Não falam quando vão entregar tudo. Só sabemos que são 11 casas. Iniciaram a primeira, mas e aí? São 11 casas só e a comunidade não se resume a 11 casas. É um total desrespeito e aquele evento, pra mim, é a nítida celebração da incompetência e da demora. Quando o Ministério Público Federal, entidades e vários segmentos, pedem a extinção da Renova, aquele evento do primeiro tijolo, o “tijolo fundamental”, já justifica qualquer pedido de extinção dela, por causa dessa demora, ineficiência e dos milhões e milhões de dinheiros que já foram gastos até hoje e que ninguém nem sabe como, quantos, o porquê e onde que foi, de fato, aplicado. Anderson Jesus de Paula, morador de Paracatu de Baixo
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Apareceu minha Mãe Por Sérgio Papagaio
Perdido na lama, eis que uma voz me chama, não consigo ver quem vem me atender, estou só, começo a sentir por mim mesmo uma imensa dó, sonhos virando pesadelos, alegria convertida em tristezas, o amor, não obstante, virou dor. E toda a meta de viver, hoje, corre no rio caudaloso de morrer, sem ninguém a me socorrer ouço de novo alguém me dizer algo que não consigo entender, nada importa, já decidi, desta vida me despedi, comprei uma passagem e, no trem do fim, partirei para o começo do jamais, onde a morte vive e, num instante fugaz, traz, pra dentro de quem desiste, a presença de Satanás,
forças malignas querem me levar, eu já aceito o desfecho e começo a gostar, outra vez, uma voz agora mais forte, torna a me gritar, e na minha frente uma imagem começa a se materializar. Apareceu minha Mãe, envolta num manto azul de mãos dadas com Exu, ela pede a ele para uma mensagem me passar e, enquanto o mensageiro vem me falar, minha mãe Aparecida no seu colo começa a me embalar e me dá alento e seu amor é tanto, que seca o meu pranto. E concede permissão para Odé Kayodê que agora tem a missão e toda a propriedade de sair junto comigo caçando a felicidade.
Foto: Sérgio Papagaio
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Com a proximidade dos seis anos do crime, Cáritas MG aponta para situações críticas na reparação das pessoas atingidas de Mariana Por Ellen Barros e Wan Campos, comunicadores da Cáritas em Mariana
Documento evidencia 55 pontos críticos, violações de direitos e danos continuados que afetam, diariamente, a vida e o futuro das pessoas atingidas ‘Atingido(a)’. Essa palavra carrega o peso de histórias de lutas, dores e conquistas. Diz respeito a uma condição imposta pelos poderosos ao povo. Junto ao termo ‘atingido(a)’ vem a luta por reconhecimento de direitos que devem ser legitimamente garantidos nos processos de reparação das perdas e dos danos causados pelas barragens em geral. Em Mariana, são quase seis anos de luta pela reparação integral dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão da Samarco, Vale e BHP. Entre as conquistas alcançadas pelas pessoas atingidas do município, está o princípio da autodeclaração para a participação no processo de cadastramento, que, diferentemente do restante da bacia do rio Doce, em Mariana, tem sido conduzido pela Cáritas MG, e não pela Fundação Renova. A partir desse princípio, entende-se que apenas quem foi vítima do crime pode dizer sobre as perdas e os danos que vem sofrendo desde novembro de 2015. A palavra das pessoas atingidas deve ser respeitada, para que, assim, se faça a reparação. No entanto, nesses longos 2.159 dias de luta, diversas famílias cadastradas pela Cáritas foram excluídas dos atendimentos da Renova. A Fundação, que deveria promover a reparação, alega “inelegibilidade” de pessoas atingidas tanto às medidas emergenciais – mitigação dos danos, como auxílio financeiro, para quem teve perda de renda e auxílio moradia temporária para quem perdeu casa – quanto à indenização e ao reassentamento. Essa mesma Fundação, mantida pelas mineradoras, é arbitrária na definição de quem deve ou não ter acesso à reparação, não é transparente em seus critérios e omite informações relativas aos atendimentos das famílias atingidas, o que prejudica a fiscalização sobre o processo. Com essa postura, a Renova vem descumprindo uma série de acordos judiciais relativos aos auxílios emergenciais, às indenizações e à reparação do direito à moradia. Nesse último ponto, por exemplo, a Fundação já descumpriu diferentes prazos de entrega dos reassentamentos coletivos estipulados pela justiça:
A Comissão de Atingidos da Barragem de Fundão (CABF) de Mariana foi fundada em 2015 e, nestes quase seis anos, segue firme na luta pela reparação justa e integral ao lado das suas comunidades. Fotos enviadas pela CABF. Arte: Wan Campos/Cáritas. o último foi 27 de fevereiro de 2021 e, até hoje, nenhuma multa foi aplicada. As diretrizes que tratam da isonomia, da equiparação entre proprietários e posseiros e do acesso às condições de reparação do direito à moradia também têm sido ignoradas. SAÚDE Desde o rompimento da barragem de Fundão, a situação da saúde da população atingida em Mariana vem se deteriorando. A desassistência e os atrasos no processo de reparação, somados ao estresse pós-traumático, à perda das atividades produtivas, da relação com a terra e com os vínculos socioculturais, além da violência doméstica e da maior exposição à doenças, como a COVID-19, são agravantes no processo de adoecimento físico e mental que acomete essa população. As famílias que permanecem na área atingida, particularmente, seguem expostas à contaminação pelos rejeitos de minério, ao distanciamento e ao isolamento social e a outras mazelas adoecedoras. Estas e outras dezenas de situações críticas são apresentadas no documento “Violação de direitos na reparação às comunidades atingidas de Mariana/MG”. Elaborado pela equipe da Assessoria Técnica (Cáritas MG), o documento mostra uma síntese dos mais diversos problemas enfrentados pelas atingidas e pelos atingidos de Mariana, que lutam, cotidianamente, pela reparação integral.
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A SIRENE PARA NÃO ESQUECER EDITORIAL “No começo estava sendo muito difícil, mas aí a gente vai acostumando porque, se a gente não fizer, a gente vai ficar muito atrasado, então não tem outra forma.” Com consciência e força de vontade, Maria Emília de Sousa Silva (13 anos) e milhões de estudantes em todo o Brasil precisaram deixar o espaço físico da escola e passaram a frequentar as aulas de forma online. Maria Emília é moradora de Paracatu de Baixo e já havia passado por um processo de perda do ambiente escolar em 2015, devido ao rompimento da barragem de Fundão. Agora, por causa da pandemia de COVID-19, esse afastamento ficou ainda mais forte: já são quase dois anos de contato com professores(as) e colegas de classe somente pelas telas dos smartphones e dos computadores. Na matéria especial do Jornal A SIRENE, feita em parceria com o programa de extensão "Sujeitos de Suas Histórias", da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), alguns desses estudantes contam como têm passado por essa situação. Educação é um direito fundamental, assim como saúde, transporte, alimentação, moradia e outros. A Renova sabe disso, tanto que nomeou o evento de colocação do primeiro tijolo no novo reassentamento de Paracatu de Baixo de “Tijolo Fundamental”. O problema é que algo tão fundamental não pode demorar tanto: as casas dos(as) moradores(as) das comunidades atingidas já deveriam estar prontas há muito tempo. Ainda hoje, as pessoas atingidas vivem afastadas do seu território e do convívio com seus familiares e amigos(as) por causa da incompetência das mineradoras no processo de reparação. Apesar de gastarem milhões em propaganda, o básico não acontece. O Jornal A SIRENE esteve no evento do “Tijolo Fundamental” e acompanhou as pessoas atingidas para mostrar que a demora de seis anos para assentar o primeiro tijolo do reassentamento coletivo é inaceitável. A questão da moradia é apenas uma das dezenas de violações de direitos vividas cotidianamente pelas comunidades atingidas. A esse respeito, a coluna da Assessoria Técnica - Cáritas MG menciona um documento produzido por sua equipe em que enumeram 55 danos continuados que afetam, diariamente, a vida e o futuro das comunidades atingidas. Seguir lutando por reparação integral é um direito e uma necessidade.
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