A Sirene Ed.37 (Abril/2019)

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A SIRENE

PARA NÃO ESQUECER | Ano 4 - Edição nº 37 - Abril de 2019 | Distribuição gratuita


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Repasses NOVO PRAZO PARA A CONCLUSÃO DO REASSENTAMENTO A justiça aceitou a solicitação feita pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e estabeleceu o prazo final para a realização do reassentamento dos(as) atingidos(as) da zona rural de Mariana. De acordo com a decisão, as empresas Samarco, Vale e BHP Billiton terão até 27/08/2020 para entregar as casas para as mais de 300 famílias atingidas em Bento Rodrigues, Paracatu de Cima, Paracatu de Baixo, Ponte do Gama, Pedras, Borba, Camargos e Campinas. O prazo anterior, firmado em 2016, e que terminava em março deste ano, não foi cumprido. A Fundação Renova/empresas, responsáveis pelo Programa de Recuperação, Reconstrução e Realocação, informaram que não conseguiram resolver todas as questões necessárias para a conclusão do reassentamento. Segundo o MPMG, a Fundação ainda não realizou o registro dos imóveis onde o reassentamento será realizado, o que impede o início das obras. A decisão ainda estabeleceu que, caso o prazo não seja respeitado, as empresas deverão pagar multa de 1 milhão de reais por dia de atraso.

ATENÇÃO! Não assine nada Em caso de dúvidas sobre o conteúdo, conte com a ajuda de um advogado ou qualquer outro especialista. Se te pedirem para assinar qualquer documento, procure o Ministério Público ou a Comissão dos Atingidos.

GT Zona Rural 13 de março Zona Rural de Mariana Atingidos(as), representantes da Assessoria Técnica Cáritas, Fundação Renova/ empresas e o Ministério Público de Minas Gerais se encontraram na casa do Zé Baio, em Paracatu de Cima, para debater a situação do reassentamento (familiar e coletivo) para as famílias que ainda aguardam a compra dos terrenos. A Fundação informou que ainda não realizou a compra de nenhum terreno para que as famílias sejam reassentadas, com a alegação de que o cadastro dos(as) atingidos(as) precisa estar completo para concluir as compras. A Assessoria Técnica e o Ministério Público afirmaram que não existe essa necessidade e que as compras dos terrenos devem seguir. Também foi cobrado um posicionamento da Renova em relação à falta de sinal telefônico na região, problema relatado desde 2017. A empresa não apresentou uma solução e se comprometeu em trazer uma resposta mais precisa no próximo GT da Zona Rural. O próximo encontro acontecerá no mesmo local, no dia 24 de abril, às 19h.

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Semana Santa em Bento Rodrigues Durante o mês de abril, os(as) atingidos(as) de Bento Rodrigues celebrarão a Semana Santa na comunidade. O evento é organizado pelo coletivo “Loucos pelo Bento” e busca manter a tradição viva, mesmo depois do crime das mineradoras.

Programação

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Via Sacra na Casa dos Saberes, às 19h.

Via Sacra em Bento Rodrigues, às 09h. Início na Rua Raimundo Muniz Ação litúrgica na Igreja das Mercês, às 15h.

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EXPEDIENTE Realização: Atingidos(as) pela Barragem de Fundão, Arquidiocese de Mariana | Conselho Editorial: Expedito Lucas da Silva (Kaé), Genival Pascoal, Letícia Oliveira, Juçara Brittes, Pe. Geraldo Martins, Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio), Simone Maria da Silva | Editores-chefe: Genival Pascoal e Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio) | Jornalista responsável: Larissa Pinto | Edição de Texto: Matheus Effgen | Editores Visuais: Daniela Ebner e Rafael Franscisco | Reportagem e Fotografia: Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio), Simone Maria da Silva e Tainara Torres | Apoio: Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) | Revisão: Elodia Lebourg | Agradecimentos: Equipe Conviver | Impressão: Sempre Editora | Foto de capa: Larissa Pinto | Tiragem: 3.000 exemplares | Fonte de recurso: Termo de ajustamento de conduta entre Arquidiocesse de Mariana e Ministério Público de Minas Gerais (1ª Promotoria de Justiça de Mariana).


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Direito de entender

A democracia por meio das comissões de atingos(as)

Por Guilherme de Sá Meneghin, Promotor de Justiça

¹ PLATÃO. A república: [ou sobre a justiça, diálogo político]. Tradução Anna Lia Amaral de Almeida Prado. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014, p. 326.

A democracia é um regime político que possui aspectos essenciais: igualdade e representatividade; liberdade e diversidade. Pela igualdade e pela representatividade, todos os cidadãos são iguais perante a lei e podem ocupar cargos políticos para representar o povo na tomada de decisões. Por meio da liberdade e da diversidade, cada pessoa é livre para exercer sua individualidade, configurando os diferentes modos de vida e de pensamento. Para o filósofo Platão, a diversidade era a característica mais atraente da democracia: “Pode bem ser que essa forma de governo seja a mais bela entre todas... Como um manto multicolor, com muitas flores bordadas, assim também essa forma de governo, bordada com todos os tipos de caráter, pareceria belíssima. Talvez, disse eu, como fazem as crianças e as mulheres ao ver seu colorido, muita gente a tivesse como belíssima”¹. Com relação à diversidade, os(as) atingidos(as) pelo crime da Barragem de Fundão, da mineradora Samarco (Vale e BHP Billiton), representam um conjunto grande e distinto de pessoas, tornando quase impossível que todos participem das decisões. Por outro lado, percebe-se que as empresas, após o desastre, agem para monopolizar as ações de reparação sem consultar os(as) maiores interessados(as): os(as) atingidos(as). Com o objetivo de preservar a democracia e a participação no processo de reparação dos direitos das vítimas, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) auxiliou na criação das comissões de atingidos(as), tendo realizado a primeira assembleia para escolha no dia 28/11/2015. A partir de então, os(as) atingidos(as) eleitos(as) passaram a compor as Comissões de Bento Rodrigues, de Paracatu de Cima e Paracatu de Baixo, de Campinas, de Ponte do Gama, de Pedras, de Camargos e de Borba. O principal papel das comissões é representar democraticamente as comunidades em reuniões, audiências e demais etapas do processo de reparação, contemplando a igualdade e a diversidade existente entre as comunidades e dentro delas. De certa forma, todas as outras funções da comissão decorrem desse papel primordial. Assim, os membros da comissão exercem a vontade popular de seus representados nas decisões, especialmente em audiências judiciais e na condução de assembleias. Para tanto, sempre que se faz necessário, o Ministério Público é acompanhado de, pelo menos, três representantes, contemplando Bento Rodrigues, Paracatu e comunidades rurais. Todas as medidas adotadas pelo Ministério Público são debatidas previamente e decididas juntamente com os membros da comissão, sempre respeitando a participação da comunidade em geral. São tarefas adicionais das comissões: (a) informar seus representados sobre os processos em andamento; (b) convocar assembleias e reuniões; (c) auxiliar os(as) atingidos(as) nas suas solicitações; (d) requerer providências junto às empresas causadoras do dano, à fundação e ao poder público; (e) dialogar com a assistência técnica; (f) prestar declarações públicas sobre os processos de reparação, inclusive concedendo entrevista à imprensa; (g) organizar manifestações. É importante destacar que os membros das comissões não recebem qualquer benefício pelo desempenho desse trabalho, acumulando uma obrigação adicional em suas vidas em favor de suas comunidades. Além disso, a existência das comissões não impede a participação dos(as) demais atingidos(as), pelo contrário, na verdade, impulsiona a participação de todos(as). Dessa forma, o Ministério Público reconhece a importância dos membros das comissões de atingidos(as) e ressalta que todas as difíceis conquistas somente foram possíveis pela persistência e pela representatividade dos(as) atingidos(as) por meio das comissões. Aliás, essa constatação é tão evidente que as demais cidades atingidas – de Barra Longa-MG a Regência-ES – formaram comissões de atingidos(as), seguindo o exemplo de Mariana. A união entre as comunidades e as comissões é essencial para que o processo de reparação dos direitos seja justo e democrático.

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As estratégias de desmobilização da Renova A Fundação Renova tem investido na desarticulação dos(as) atingidos(as) e na redução da força das comunidades. O que se percebe, após o crime, é que a empresa atua para enfraquecer a luta coletiva. A aplicação dos critérios para reparar os(as) atingidos(as) tem sido feita, em alguns casos, de forma arbitrária. Isso pode significar, por exemplo, que, para duas situações parecidas, ou iguais, são utilizados critérios de reparação diferentes. Essa falta de clareza nos parâmetros que visam, a princípio, reparar os(as) atingidos(as) e a demora no processo são alguns exemplos do que se entende por estratégias de desmobilização usadas pela Fundação Renova. Por Mauro Silva e Mirella Lino Com o apoio de Caromi Oseas e Luis Pedro Moreira (Assessoria Técnica dos Atingidos de Mariana - Cáritas), Larissa Pinto, Patrícia Castanheira (Centro Alternativo de Formação Popular Rosa Fortini - Assessoria Técnica dos Atingidos de Rio Doce), Rafael Francisco e Tainara Torres

O propósito da Fundação está totalmente distorcido, porque ela fala em metodologia, mas usa estratégia. O propósito deveria ser de indenização e reparação justas, a justiça pelos mortos, a preservação da história. A Renova foi construída para garantir direitos, mas, nesse caso, os direitos das empresas e não dos atingidos. Tanto é que a existência dela é pelos recursos das empresas e o propósito da mineradora é o lucro. Em uma situação dessa que aconteceu com a Samarco, e agora com a Vale, o foco passa a ser minimizar prejuízos. Mauro Silva, morador de Bento Rodrigues Não se fala em Ponte do Gama, Pedras, Campinas, Camargos, Borba, Paracatu de Cima como atingidos. Justamente pela pouca visibilidade, nós, da zona rural, optamos por unir as comunidades e lutar coletivamente pelos direitos de todos. Agora, conseguimos voltar com os GTs (Grupos de Trabalho) para a zona rural, e isso incomodou a Fundação Renova. A Fundação diz que vai voltar com reuniões para discutir isoladamente os problemas de cada comunidade. Nós entendemos essa postura como uma manobra para desarticular o GT e desmobilizar nossa luta. A Fundação tenta separar, dividir atingidos e causar atrito: dar cartão para um e não dar para o outro quando as duas pessoas estão em situações iguais. Essas atitudes têm o objetivo de desmobilizar nossas ações coletivas. Nós estamos, há três anos, no processo de negociação, de conquistas de direitos, mas sempre há um esforço da Renova para que o processo seja feito da forma mais cansativa possível. Mirella Lino, moradora de Ponte do Gama A Fundação trabalha para individualizar os atendimentos às famílias e apresentar propostas de reparação também individualizadas, inclusive com tratamentos muito diferentes para casos semelhantes. Desmotivam a organização das comunidades e desgastam os espaços coletivos para que as pessoas associem reunião à enrolação. Ou seja, ao invés de encaminhar e resolver as solicitações de reparação levadas pelas pessoas atingidas, a Renova adia soluções alegando, muitas vezes, “inviabilidade técnica”. Caromi Oseas, Assessoria Técnica da Cáritas


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Foto: Tainara Torres

A Renova tem a mania de distorcer as coisas até para os moradores da comunidade. Quando uma situação te confronta, quem é o culpado? A última a ser culpada é a Fundação Renova. Para alguns moradores, a culpa é do Ministério Público, da Cáritas, ou da Comissão. E quando você fala: “E a Renova?” “A Renova está tentando fazer e vocês não deixam”. À medida que se desvia o foco, através da desmobilização feita pela Fundação Renova, os atingidos são enfraquecidos, e as pessoas se dispersam e acabam se virando contra a comunidade. Mauro Silva, morador de Bento Rodrigues A Fundação Renova muda os horários de atendimento dos atingidos e dificulta o acompanhamento da Assessoria durante os encontros, o que pode prejudicar as negociações, além de desmotivar a participação das pessoas das comunidades. Patrícia Castanheira, Centro Alternativo de Formação Popular Rosa Fortini (Assessoria Técnica dos Atingidos de Rio Doce) A Fundação tenta transferir a culpa - que é das empresas e da própria Renova - para os(as) atingidos(as), para o Ministério Público e as Assessorias Técnicas e, até mesmo, para as empresas terceirizadas contratadas por ela. Além disso, para responder e construir soluções para as questões trazidas pelas comunidades, Assessorias e Ministério Público, a Fundação estabelece prazos longos, mas não os cumpre. São propostas ditas participativas, mas que não representam a vontade das comunidades atingidas. Essas estratégias provocam desconfiança e conflito entre os(as) moradores(as) e suas assessorias por meio de falas em espaços públicos ou em momentos isolados. Caromi Oseas, Assessoria Técnica da Cáritas

A Assessoria busca promover espaços coletivos, como grupos de base e reuniões da comissão, para que os problemas possam ser percebidos e tratados. É importante que os(as) atingidos(as) se resguardem quanto às informações e ações da Fundação Renova, buscando sempre a Assessoria, o Ministério Público e/ou a Defensoria Pública para assessorá-los na compreensão e reação adequadas. Luis Pedro Moreira, Assessoria Técnica da Cáritas Eu quero, sim, lutar pelo futuro, mas jamais vou abrir mão do passado porque o passado a gente já viveu, é garantido. A gente tem as histórias e lembranças. O futuro é incerto. A gente está lutando, buscando os direitos da coletividade, mas a gente sabe que, até agora, não tem nada de concreto. Já são 3 anos e 5 meses depois do crime e ainda estamos na situação emergencial, com cartão de auxílio, aluguel, um adiantamento de indenização. Mauro Silva, morador de Bento Rodrigues É importante seguirmos com a nossa união, por mais que seja difícil, não só a zona rural, mas todas as comunidades, porque temos pautas coletivas. Todos somos atingidos. O nosso esforço é não deixar a Renova desmobilizar a nossa luta. Só assim vamos conseguir o nosso direito, que foi roubado. A melhor e única saída que nós, atingidos, temos é a luta coletiva para conquista de direitos. Mirella Lino, moradora de Ponte do Gama


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Os costumes religiosos permanecem Com a perda de objetos simbólicos, após o rompimento da Barragem de Fundão, houve a diminuição das práticas religiosas e da comunhão entre os moradores das comunidades. O valor dos ritos espirituais, entretanto, não foi perdido e ainda permanece na memória dos(as) atingidos(as) e na história. São vínculos afetivos construídos ao longo de décadas, que envolvem dedicação, amor e fé. Algumas liturgias ainda fazem parte do imaginário e são praticadas nas comunidades atingidas por seus(suas) moradores(as), sobretudo em datas festivas e religiosas. Apesar das perdas, o presente ainda se liga ao passado de costumes, seja por meio da lembrança, ou por algum objeto que não foi levado pelos rejeitos de minério. Por Filomeno da Silva e Maria Geralda Com apoio de Rafael Francisco

Eu vivi, até pouco tempo atrás, muito próximo da igreja. Eu comecei muito novo a participar de assuntos religiosos. Eu tinha 13 anos quando fui convidado. Eu ia à igreja na parte da noite. Fazíamos visitas e orações ao Santíssimo todos os dias. Próximo da Semana Santa, tínhamos o cuidado de preparar as procissões: a de Ramos, das Dores, a do Depósito do Senhor Morto e a do Encontro. E também tinha as celebrações de missa. Eu levantava de manhã e ia à capela arrumar alguma coisa. Eu cheguei a construir locais para guardar coisas antigas da igreja que só eu sabia. Só nesta época do ano que as pessoas podiam ver as imagens de madeira. Elas ficavam escondidas nos lugares que eu havia feito para não serem roubadas. Mesmo após o crime, algumas pessoas vão para Bento na Sexta-Feira da Paixão, porque as missas ainda são celebradas em Bento. Mas muita coisa não fazemos mais, devido à perda dos objetos da igreja. As Vias Sacras não são mais como eram. Não vai nem um terço das pessoas que participavam antes. Filomeno da Silva, morador de Bento Rodrigues

Fotos: Rafael Francisco

Eu comecei a tocar clarinete na década de 50. Primeiro aprendi em Morro de Água Quente, indo com meu tio. Mais tarde em Antônia Pereira, em Mariana. A primeira procissão que toquei foi em Bento: a de Nossa Senhora das Dores. Depois do crime, o que me distraía era a música. Eu ia até Ouro Preto para poder tocar e ensaiar.


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Durante a Semana Santa, tinha a Via Sacra todos os dias. Em cada dia, era realizada em uma rua. Durante a quaresma, a igreja ficava aberta, a partir das 18 horas. E as pessoas gostavam de visitar o Santíssimo. Apesar de pequena, a comunidade tinha muitas atividades e os moradores participavam de quase todas. Quando tinha a Procissão de Ramos, todos gostavam de ir. Cada morador levava seu ramo e sua água benta. Durante a Quaresma, todos os dias tinha orações e todos participavam dessas atividades também. Aqui em Mariana, isso diminuiu, e os nossos [ritos religiosos] já ficaram para trás. A participação das comunidades tem sido pouca aqui. A comunidade se unia em festividades como essas. Os grupos se espalhavam por Paracatu e assim faziam orações. Em cada dia era em uma casa de família diferente. Maria Geralda, moradora de Paracatu de Baixo Muita coisa foi perdida com a lama. É bem provável que algumas peças sacras da Igreja de São Bento estejam debaixo da lama seca. Eu estava muito próximo da convivência da organização, então aquilo tinha, para mim e para a comunidade, um valor histórico, religioso. Não existe preço que pague o valor que tudo isso significa. As festividades da Semana Santa são feitas desde a década de 1950. E só paramos de fazer dentro de Bento por um tempo, após o rompimento da barragem. No passado tinha todas as festividades. Os troféus que eu tinha, fotografias, tudo foi embora. Ficam as lembranças. Filomeno da Silva, morador de Bento Rodrigues

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Ficam as memórias

Entre as muitas mudanças na vida e cotidiano dos(as) atingidos(as), algumas certamente são difíceis de entender e não podem ser reparadas, principalmente quando se fala sobre perdas e adoecimento nas famílias. Além de guardar com carinho a lembrança dessas pessoas também é necessário fazer das memórias uma motivação para continuar firme na luta pela reparação. Por Aloísio Martins, Antônio Eloi (Antônio Sininha) e Eva Cristina da Silva (Tina) Com o apoio da Equipe Conviver, Larissa Pinto, Simone Silva e Tainara Torres

Perdi meu irmão há três meses. Faz um mês que minha mãe faleceu e tudo graças ao rompimento. Eu acho que todo mundo tem o seu determinado tempo pra viver na Terra, mas o deles foi apressado. Se eles tivessem a vida que eles tinham lá em Gesteira, se não tivessem passado por isso… Minha mãe era muito forte, mas ela não suportou a tristeza, a morte do meu irmão. Eva Cristina da Silva (Tina), atingida de Barra Longa Minha mãe, Iracema, faleceu no dia 24 de dezembro de 2017. Depois, faleceu meu cunhado, Levi, e agora, dia 13 de março, meu tio Mauro. Deu uma depressão tão grande em Mauro... Ele era o caçula da família e nunca tinha saído daqui do Morro Vermelho. Foi morar lá na saída da cidade e não gostava. Aqui não, ele caminhava sempre, ficava no quintal, mas, depois disso, só foi caindo e depois faleceu. Eu tô batalhando pra não ter depressão, porque é muito problema que veio. Aloísio Martins, atingido de Barra Longa Todo mundo chamava minha mãe de Sininha, eu sou conhecido aqui como Antônio Sininha, o nome dela era Alcina. Ela vinha aqui direto antes da lama, depois não pôde vir mais. Antes, eu tinha uma casa boa, mais confortável, com tudo direitinho, banheiro bom, e uma senhora idosa precisa disso. Minha mãe morreu no dia 2 de outubro de 2018, ela tinha 88 anos, já estava bem idosa. Deixou saudade demais, foram muitos anos em que convivi com ela, não é fácil. Eu não sabia que fazia tanta falta assim, parece que tô em débito com ela, que devia ter abraçado muito mais, ter beijado muito mais, sabe como é? Antônio Eloi (Antônio Sininha), atingido de Paracatu de Baixo

Eu tinha a minha vida em Gesteira, larguei pra viver aqui, com minha mãe. Graças a Deus, não reclamo de ter cuidado dela e do meu irmão, mas, para a empresa, tanto faz. A gente passa por tudo isso e a Renova diz que você não tem direito a nada, que você não é atingido. Fomos atingidos em tudo. Tem que ter muita fé em Deus porque, se for olhar a cabeça, o sentimento da gente, a gente faz besteira. A pessoa vem e te humilha, te maltrata e você tem que provar que você não é nada daquilo. Hoje somos humilhados, mas amanhã seremos exaltados. Só queremos lutar pelo direito da gente, ter um pouco da nossa vida de volta. Eva Cristina da Silva (Tina), atingida de Barra Longa A gente tem que ocupar a mente com alguma coisa. Eu só tenho foto dela agora, velhinha, mas tinha uma foto dela e do meu pai quando eles casaram. Essa foto tá lá, enterrada debaixo da lama. Hoje não tenho mais nada. Eu nem vou em reunião mais. Estou muito desanimado de sair daqui... Às vezes, eu vou pra Mariana porque sou obrigado, mas já fico doido pra voltar pra cá. Antônio Eloi (Antônio Sininha), atingido de Paracatu de Baixo Nosso problema são eles, a Renova, a Samarco. Faz três anos que estão reformando nossa casa, não falam o que estão fazendo, e ainda proibiram minha entrada. Minha mãe não sabia que ia demorar, ela queria vir embora pra casa dela, mas não tinha condição porque a Renova está reformando. Ela foi morar com minha irmã, no Morro do Cemitério, mas não gostava de lá. Minha irmã vivia sempre correndo atrás dela porque, qualquer chance que dava, ela fugia, queria vir embora pra cá. Eu tenho orgulho de lutar por essa casa porque ela gostava daqui. Aloísio Martins, atingido de Barra Longa

Aloísio também perdeu a sobrinha de 14 anos, além da mãe, do cunhado e do tio, após o rompimento.


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Fotos: Taianara Torres

Por meio da fotografia Tina mantém viva a memória de sua mãe.

Foto: Larissa Pinto

Depois de tudo, precisamos nos cuidar A memória do rompimento segue viva como uma ferida aberta, assim como os danos na vida e na saúde da população atingida, que continua sendo afetada em toda região da bacia do Rio Doce. Os costumes foram alterados, o trabalho suspenso, a convivência em comunidade perdida. Surge o desconhecido, o medo, o preconceito e o processo se torna cada dia mais doloroso. Não é possível eliminar o sofrimento psíquico frente a tanta insegurança. Diante disso, em janeiro deste ano, os(as) atingidos(as) pelo crime da Samarco escreveram uma carta em solidariedade à comunidade de Brumadinho e região, atingida pelo crime da mineradora Vale, e nela escreveram: “No limite, a dor é individual, de cada um, indizível, incompartilhável. O sofrimento muda, mas não passa.” A diminuição do sofrimento pode ser alcançada por meio do suporte de profissionais da saúde mental, que auxiliam no cuidado e no acolhimento da população. Porém, também é importante que o processo de reparação não se prolongue ainda mais. Para isso, são necessárias ações concretas por parte das empresas. Os(as) atingidos(as) de Mariana podem procurar apoio psíquico social no projeto Conviver, no endereço: Rua Wenceslau Braz, nº. 451, Centro. A comunidade de Barra Longa pode buscar apoio na Policlínica da cidade, situada na Rua Pedro José Pimenta, nº. 69; ou no CRAS, na Rua Getúlio Etrusco, nº. 50. Em memória de todos(as) os(as) atingidos(as) que não puderam presenciar, em vida, a reparação pelos danos causados.

Uma das lembranças de Antônio era a de pescar com sua mãe quando criança.


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Quanto tempo dura a espera? “Ter esperança” e “estar à espera” são expressões que fazem parte da vida dos(as) atingidos(as) pelo crime da mineradora Samarco (Vale e BHP Billiton). São mais de três anos após o rompimento da Barragem de Fundão. A espera para retornar ao próprio lar tem sido dolorosa, sobretudo para aqueles(as) que estão em um tempo de vida no qual se deveria ter conforto e tranquilidade. Por Efigênia Bento e Orídes da Paixão de Souza (Dirce) Com apoio de Larissa Pinto e Rafael Francisco

Fotos: Larissa Pinto

Morei 35 anos no Bento. Eu achava que ia terminar o resto dos meus dias lá. Foi o único lugar que pude comprar um pedacinho de terra pra chamar de meu. Na minha casa tinha um terreiro, pra mim era bom demais. Tinha horta, árvores. Era uma vida muito tranquila, eu gostava muito.

Morei 35 anos no Bento, eu achava que ia terminar os meus dias lá. Foi o único lugar em que pude comprar um pedacinho de terra pra chamar de meu. Na minha casa tinha terreiro, horta, árvores. Era uma vida muito tranquila. Nós somos da roça, a gente não se acostuma fácil. Quero é que arrumem um lugar pra gente ficar tranquilo igual ao Bento. Eles dizem que, em até um ano, a gente volta. Se Deus ajudar, e eu viver até lá, tenho esperança de que vou voltar pra minha casinha. A gente não espera só pra gente, mas para os que vêm. Assim como eu fui feliz na minha vida, eu espero que meus filhos e meus netos também sejam. Orídes da Paixão de Souza (Dirce), moradora de Bento Rodrigues


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Vivi quase 50 anos em Paracatu. Eu nasci e fui criada na roça. Tenho uma saudade da minha casa, lá eu vivia muito bem. Aqui não tem lugar de plantar nada. É tudo cimento e a casa não é nossa. Lá eu tinha horta na porta de casa, era uma senhora horta. No meu quintal tinha um pé de rosa que era a coisa mais linda. Meu fogão era à lenha, pintado de cor de rosa. O dia inteiro tinha café quentinho. Antes de chegar aqui, eu nunca tinha cozinhado em fogão à gás. Quando deito na cama, eu perco o sono. Penso no tanto que quero voltar para minha casa. Vai fazer quatro anos que estamos nessa peleja. Quando eu voltar para casa, a primeira coisa que vou fazer é passar um café quentinho. Eu ainda tenho esperança. Efigênia Bento, moradora de Paracatu de Baixo


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Foto: Lucas de Godoy

Opinião:

Papo de Cumadres: as barragens que nos furtam direitos

Consebida e Clemilda estão cada dia mais apavoradas, com tantas barragens de tantas naturezas diferentes, mas que nos furta direitos com igual teor. Por Sérgio Papagaio

-Cumadre Clemilda, eu tô muitu assustada com tantas barrage que tão pra ser istorada. - Eu também tô percupanu, não só com as barrage que istoraru, mais também com as que tão istoranu e com tantas sirene tocanu, eu ficu pensando aqui por dentru, a sirene só toca ondi num teve rompimentu. - Eu pensei que a lama vinha só da mineração, num sabia que tava misturada com essa tar currupção. - Pois então, achei que a justiça ia sirvi pra tirá nois deste siriri, mas a justiça ês ta usanu é pra fazê crime dibaxu dus panu. - Este é u nossu maió danu. Todu dia tem um pobrema que vai nus matanu. - Sê sabe que eu tenhu menus medu da barrage de Germanu, duque de muitu destes ser humanu. - Intão, num era issu que eu tava ti falanu, se u home num tivesse u oiu maiô que u coração, num teria tanta currupção, e se a ganância num cegasse u fulanu, as vez enchergasse, este mundo duidu e pirdidu, é a herança maiô, quês vai dexá prus netu e fiu. - Quandu oiu pru cristu crussificadu e veju tantu sangue dispirdiçadu, eu tenhu me perguntadu: dianti deste grande pobrema, terá, meu Deus, validu a pena? *A pedido do autor, este texto não passou por revisão ou edição.


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Até os(as) santos(as) foram atingidos(as)

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Foto: Sérgio Papagaio

As imagens sacras das igrejas atingidas pelo rejeito da barragem da Samarco também foram atingidas e tiveram que sair de suas casas, como aconteceu com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, em Gesteira, Barra Longa. As moradoras da comunidade contam como resgataram a santa após o crime de 2015 e lembram de suas memórias com a imagem. Atualmente, a pedido dos fiéis, a imagem de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do Gesteira, está em Mariana passando por um processo de restauração. Por Cleusa da Silva Gomes, Maria das Graças Costa e Maria das Graças Lima Com apoio de Sérgio Papagaio

Quando a lama passou, Pedro Macuco, Paulo Olino e Vicente, esposo de Cleusa, acharam a Nossa Senhora da Conceição atrás da porta da igreja. Olha como Deus é bom: ela não saiu da igreja! Então, trouxeram ela para o mutirão, no novo Gesteira. As mulheres lavaram a santa e puseram para secar na varanda da casa de Cleusa. Com medo dela ser roubada, Cleusa guardou a santa em sua casa. Padre Wellerson Magno Avelino [pároco de Barra Longa na ocasião] veio em Gesteira com dois policiais e levou ela para Barra Longa. Fizemos um abaixo assinado para que eles restaurassem a santa. Assim como nós, que tínhamos casa ou terra de cultivo no Gesteira velho, a santa foi obrigada a sair de sua casa e, até hoje, não voltou, nem para a festa da padroeira, que é ela mesma. Fomos visitá-la em Mariana e vimos que ela estava passando por um tratamento. Maria das Graças Costa (Gracinha), moradora de Gesteira O meu marido, Pedro Macuco, e Paulo Olino trouxeram a santa pra minha casa toda suja de lama da Samarco e nós a lavamos. Ela ficou na minha casa guardada até que o padre Wellerson veio com uns policiais e a levou. Ela ficou mais ou menos um ano em Barra Longa e, depois que nós pedimos, eles levaram ela pra Mariana, para restaurar. Nós pedimos para eles trazerem ela para a festa dela, em dezembro, mas eles disseram que não podiam trazer, porque era muito perigoso, ela podia ser roubada. Levaram também as imagens São Sebastião, São Luiz e São José, que estavam na mesma igreja. Estamos há mais de três anos sem nossa padroeira. Cleusa da Silva Gomes, moradora de Gesteira

Eu era criança e os mais velhos contam: a Nossa Senhora da Conceição ficava na fazenda [que fica no caminho para Gesteira], que tinha o mesmo nome dela. Tinha uma capela na fazenda, mas o fazendeiro não acreditava em nada. Ele não queria nem a santa nem as pessoas mais humildes lá, que iam na fazenda para rezar. Então, ele mandou construir uma igreja em Gesteira para colocar a santa. Os capangas trouxeram a santa para a igreja do Gesteira, mas, no dia seguinte, a santa estava lá na capela da fazenda de novo. Então, ele disse aos capangas: “Foram vocês que voltaram com ela! Leva ela de novo para Gesteira!”, mas a santa tornou voltar para a fazenda. Então, ele acompanhou os capangas, fechou a igreja e ficou com a chave. No outro dia, ela estava lá na fazenda de novo. Dizem que eles viram até os rastros dela pela estrada. O fazendeiro mandou destruir a capela da fazenda e levou ela para Gesteira, onde ela ficou até que a lama tomou a casa dela. Maria das Graças Lima (Gracinha), moradora de Gesteira Eu alcancei um milagre, pois minha filha Beatriz, com 11 anos na época, havia contraído uma forte pneumonia. Ela chegou a ser desenganada pelos médicos, mas eu fiz uma promessa para Nossa Senhora da Conceição. Se minha filha escapasse dessa, eu ia trabalhar 15 dias e ia colocar o dinheiro no pé da santa. Quando vi minha filha curada, fui pagar a promessa. Chegando lá, dei o dinheiro para Beatriz pôr no pé da santa, quando olhei tinha uma folha de rosa na palma de minha mão. Maria das Graças Lima (Gracinha), moradora de Gesteira


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Abril de 2019 Mariana - MG

Saberes que continuam:

Vassoura de Alecrim Alguns costumes são tão comuns para nós, que não percebemos a riqueza que existe por trás das receitas de pastéis, dos doces típicos, das vassouras feitas de alecrim. Nesta matéria, retomamos a série “Saberes que continuam” e compartilhamos o que descobrimos com Dinha, moradora de Paracatu de Baixo, que nos ensinou algo que aprendeu observando sua mãe e que, para ela, é natural. Por Maria Salete da Silva (Dinha) Com o apoio de Larissa Pinto e Tainara Torres Fotos: Tainara Torres

Toda vez que eu venho pegar alecrim ou capim pra fazer a vassoura, eu lembro da minha mãe falando “Cê panhou vassoura hoje?” e eu respondia “Panhei, mãe”. Quando eu tinha oito anos, minha mãe ia trabalhar para ajudar meu pai, deixava todo mundo em casa e a gente tinha que se virar, panhar vassoura pra varrer terreiro, arrumar a casa. Depois que eu casei, eu vinha, panhava pra mim, pra ela e pra minha madrinha Efigênia, que falava comigo: “Minha afilhada não me deixa sem vassoura”.


Abril de 2019

Mariana - MG

APARASIRENE NÃO ESQUECER

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Essa de alecrim eu panho de três em três dias, as folhas caem rápido porque não aguentam o sol. Agora, tem uma outra de capim, essa é de oito em oito dias. Para tirar poeira, a de alecrim é a melhor. À tarde, depois que eu uso a vassoura, eu viro ela com o cabo pra baixo e deixo ela no sereno. Desse jeito, no outro dia, ela ainda amanhece assim, fresca. Essa daqui eu fiz com alecrim do mato, não é o de casa não.

“Olha que vassourinha, olha só pra você ver. Depois de ir no mato pegar o alecrim, você amarra ele, corta as pontas pra acertar, enfia o cabo e, por último, amarra mais uma vez e tá feita a vassoura. Não tem erro. A parte mais chata é buscar o alecrim no mato.”

Minhas filhas também fazem. A mais velha é quem fazia mais, porque ficava cuidando dos irmãos enquanto eu ia com pai dela trabalhar. Depois, foi ela quem começou a trabalhar fora também e parou um pouco.


EDITORIAL A imagem escolhida para a capa desta edição carrega alguns sentidos. Nas mãos de dona Orídes, atingida de Bento Rodrigues, vemos marcas do tempo. Mas “o que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei. Se quero explicá-lo a quem me pede, não sei” - indagou, em certo momento, Santo Agostinho. Para os(as) atingidos(as), porém, estão claros os significados do substantivo tempo. A palavra representa um tempo bom e vivido em comunidade. Um tempo em que os costumes da roça eram hábitos diários, experimentados e compartilhados. Um tempo em que a religiosidade era colocada em prática, em que as procissões eram símbolos de fé. Um tempo em que as ruas das comunidades rurais se enchiam de tranquilidade, e em que os dias eram pacatos. As mãos agora estão à espera. Representam, também, uma parada brusca, e as estratégias que as empresas responsáveis pelo crime de 2015 tem utilizado para silenciar e desanimar. No livro de Eclesiastes, há uma passagem em que se afirma que há tempo para tudo: tempo para nascer, tempo para morrer, tempo para plantar, e tempo para arrancar o que se plantou (Ecl 3:3). Mas que tempo é esse em que nós, atingidos(as),w estamos? É um tempo de permanecer em comunidade, embora, há três anos, nosso convívio tenha sido separado pelo crime. É tempo de resistir, apesar das estratégias usadas para desmobilizar a coletividade. É tempo, também, de resgatar, partilhar, documentar e de manter vivas as tradições, os hábitos, a liturgia. A religiosidade, por exemplo, é um aspecto importante para muitos(as) moradores(as) das regiões atingidas. Em linhas gerais, “a palavra” revela a disposição que uma pessoa tem para pensar sobre questões sagradas. Falar sobre religiosidade inclui, ainda, ações e práticas, hábitos e ritos. O Jornal A SIRENE, feito pelos(as) atingidos(as) e para os(as) atingidos(as), é um dos espaços no qual é possível não só preservar, mas registrar aquilo que não queremos esquecer. Talvez possamos dar mais significados a esta da capa. É tempo de tomar fôlego, levantar, mexer as mãos, o corpo, e continuar na luta por aquilo que é nosso. É tempo de resgate e de vislumbrar o nosso retorno às comunidades. Deus julgará o justo e o ímpio, “porque há um tempo para todo o propósito e para toda obra” (Ecl 3:17). Enquanto a justiça divina não nos alcança, façamos valer a justiça dos homens, sustentando-nos não só na fé e na memória daquele tempo que passou, mas também na união e no trabalho coletivo, do agora e do daqui em diante.


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