Jornal A Sirene - Ed. 8 (novembro)

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A SIRENE PARA NÃO ESQUECER | Edição 8 - Novembro de 2016


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Editorial

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de novembro de 2016. Talvez o dia mais triste desde um ano, quando a vida de milhares de pessoas foi bruscamente alterada pelo maior desastre tecnológico, social, ambiental que já presenciamos. Ter a certeza de que podia ter sido evitado como indica a denúncia do Ministério Público Federal - amplia as angústias, ainda longe de serem resolvidas. Perder família, casa, saúde, trabalho, terra, praça, igreja, rio, praia; perder história. Viver o luto e ao mesmo tempo ter que se fortalecer para não perder ainda mais. Essa tem sido nossa rotina de atingidos pela barragem de Fundão. Nesse caminho, exercer o direito de contar a própria história se faz cada vez mais importante. O que escolhemos dizer nesta edição – histórias de luto e de luta – nos ajuda a reconstruir memórias e esclarecer fatos que ainda precisam de atenção. Lembrar da última noite, do que se

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Resultados de Audiências conseguiu salvar, trazer histórias de quem não teve que fugir da onda de rejeitos, mas também convive com a lembranças difíceis. Recolocar essas memórias hoje, quando é urgente repensar nossa condição de povo “visceralmente” dependente do minério, “que mesmo com tanta história ainda não aprendeu que o minério não é renovável”, como discute o padre Lúcio Marques. Mesmo sem dormir por causa de um canteiro de obras na cidade ou tendo que conviver com outras ameaças - com pouca clareza do que é transitório - seguir em frente é preciso e necessário. Outras linguagens - fotografia, crônica, charge e quadrinhos - nos propõem colorir o futuro com uma visão ao mesmo tempo sensível e afiada da realidade. E assim escolhemos seguir. A Sirene é a forma de nos manter firmes e alertas. Conselho Editorial

Nas audiências dos dias 14 de setembro e 10 e 19 de Outubro foram resolvidos os seguintes pleitos: -Pleitos 1: realocação dos imóveis alugados. Foram resolvidos 5 casos -Pleito 2: Ressarcimento de alugueis. Foram resolvidos 6 casos e 1 pendência para decisão judicial -Pleito 3: indenização de veiculos destruídos. Foram resolvidos 5 casos -Pleito 4: antecipação indenizatória R$ 10.000. Foram resolvidos 3 casos -Pleito 5: antecipação dos R$ 20.000. Foram resolvidos 26 casos -Pleito 6: Auxílio Financeiro. Foram resolvidos 16 casos e 1 pendência para decisão judicial -Duplo domicílio ficaram 6 casos para decisão judicial *No dia 14 de setembro foi feito o depósito inicial de R$600.000 para a contratação de Assessoria Técnica em favor da Caritas Diocesana *Os demais termos podem ser conhecidos nos autos dos processos civis: 0400.16.003121-8; 0400.16-003473-4

Charge

AVISO O Ministério Público comunica que quem tiver animais em abrigos da Samarco e quiser vendê-los deve preencher o cadastro no escritório da Comissão dos Atingidos.

Erramos Na edição número 07, o jornal A Sirene errou. Na matéria “Festa do Menino Jesus de Paracatu”, localizada na página 13, afirmamos na legenda da foto que o padroeiro de Paracatu é o Menino Jesus. O correto é Santo Antônio, que não foi celebrado nesse dia. Pedimos desculpas à comunidade e reiteramos que vocês, leitores, nos ajudem a corrigir nossos erros escrevendo para a seção “Espaço dos leitores” através do email: jornalasirene@gmail.com

EXPEDIENTE

Realização: Atingidos pelo rompimento da Barragem de Fundão; Arquidiocese de Mariana; Projeto de extensão A Sirene e o Direito à Comunicação dos Atingidos pela Lama (Curso de Jornalismo/ICSA/UFOP); Um Minuto de Sirene Conselho Editorial: Milton Sena (Edi-

tor Chefe), Ana Elisa Novais, Antonio Santos, Cristiano José Sales, Fernanda Tropia, Genival Pascoal, Lucimar Muniz, Manoel Marcos Muniz, Mônica dos Santos, Pe. Geraldo Martins, Rodolfo Meirel, Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio), Silvany Diniz, Simone Maria da Silva e Thiago Alves | Diagramação: Silmara Filgueiras (Editora) | Fotografia: Rodolfo Meirel (Editor) | Apoio: Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e MICA/Brazil Foudation (Carlos Paranhos, Caroline Hardt, Daniela Felix, Flávio Ribeiro, Genival Pascoal, Larissa Helena, Miriã Bonifácio e Wandeir Campos) | Revisão: Ana Elisa Novais, Elke Pena, Ricardo Alves e Rivania Trotta | Agradecimentos: Camaleão (autor da charge), Márcio Pimenta e Ricardo Lass (idealizadores dos quadrinhos “Zoom - uma nova história), Elaine Dal Gobbo (jornalista colaboradora do Espírito Santo) | Impressão: Sempre Editora | Tiragem: 3.000 exemplares | Contato: jornalasirene@gmail.com


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Um ano sem “lá fora” Por Angélica Peixoto (professora da Escola Municipal de Paracatu de Baixo) Apoio de Fernanda Tropia

Foto: Angélica Peixoto

Jardim vertical construído na Escola Municipal de Paracatu de Baixo, em Mariana.

Um ano. Um ano sem Paracatu. Um ano sem “lá fora”. É isso mesmo! Sem “lá fora”. Ouvi essa expressão e fui tomada imediatamente pela certeza de que ela sintetiza muito a saudade que temos: as experiências de trocas com a natureza, como sentir o vento no rosto, escutar o som dos pássaros, sentar no chão. Em minha memória, sinto o cheiro do mato pisado e repisado na vivência de todos os dias. Sem esforço, ouço a risada das nossas crianças subindo nas árvores. “Desce daí, menino, você vai cair!” Na entrada da minha casa, tinha uma amoreira que fazia a alegria das crianças e dos passarinhos. Havia uma disputa das frutas: todos queriam comer as amoras docinhas. Era fácil, estavam ao alcance das mãos. Seus galhos compridos e baixos pediam que subíssêmos nele; e assim fazíamos. Vejo claramente os pezinhos dos meninos manchados pelo suco das frutas caídas pelo chão. Saudade da amoreira! Ainda está lá, coberta de

lama, somente as folhas da copa, que, meio amareladas, mostram um resto de vida. Até quando, não sei, à sua volta só tem destruição. Lembro-me da brincadeira de belisca e da correria das crianças pelo quintal para catar olho de boi, semente grande de cipó, ideal para o jogo. Precisavam de doze, para as duplas, trios e quantos mais chegassem. O curioso é que não se via as crianças, pois estavam no meio das árvores. Apenas as ouvíamos conversando, rindo e disputando uma a uma as sementes. De vez em quando, uma delas me chamava pelo nome. Eu as reconhecia pela voz. Como eram alegres! Lá fora era o lugar em que as crianças brincavam, se divertiam explorando gramados, convivendo com plantas e flores. Ah! As flores! Nossos jardins não tinham projetos paisagísticos, mas floresciam o ano todo, rico em cores e perfumes. Cada casa, por menor que fosse seu espaço, tinha flores, uma horta, uma árvore, um pezinho de fruta ou apenas

um limoeiro. O “lá fora” faz muita falta! Para amenizar a ausência da natureza, aprendemos a fazer horta vertical em recipiente descartável. Não me saí muito bem. Plantei uma mudinha de alface. Coitada. Morreu. Ter “lá fora” é um privilégio! Andar descalço na grama, cavucar a terra com as mãos, encontrar uma goiaba madura fora de época escondida no meio das folhas, seguir uma galinha e encontrar sua ninhada com vários pintinhos. De realidade passou a sonho num piscar de olhos. A invasão da lama da barragem de Fundão significou em nossas vidas, além de tudo, acabar com o nosso “lá fora”. Um ano. 365 dias. Compramos vasos de flores, fizemos hortas suspensas, as crianças brincam em ruas de lazer, tomamos sol na varanda, na ilusão de que aquilo são nossos quintais. Que Deus nos ajude! Estamos em compasso de espera. Saudade do nosso “lá fora”. É lá fora que a vida pulsa!

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O que ficou com você? Por Atingidos de Bento Rodrigues, Paracatu e Ponte do Gama Com o Apoio de Silvany diniz e Larissa Helena

Foi depois do dia 05 de novembro de 2015 que tudo mudou. Foi depois desse dia que entendemos o que era dor, perda. A mudança foi drástica em Bento Rodrigues, Ponte do Gama, Paracatu e muitos outros distritos atingidos. Sem sequer sermos avisados, não tivemos a oportunidade de pegar uma mínima lembrança de toda a nossa história de vida. O tempo que tivemos foi para salvar nossas vidas e a de amigos e familiares. Porém, pelo acaso, instinto ou sorte, alguns moradores conseguiram salvar uma memória daquilo que levaram a vida inteira para conquistar.

D. Irene Rainha da música e do som, recuperou o seu pandeiro.


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Branquinho, dono do carro que ficou em cima de uma casa e ganhou repercussão mundial, resgatou o terço que estava dentro do automóvel. Esse terço um presente de sua mãe.

Renata ficou com uma blusa, que estava com sua madrinha, e Antônio, seu marido, conseguiu permanecer com a moto.

Edna recuperou o copo que sua filha Odileia guarda apenas a roupa que Pietra costumava beber leite. estava usando no dia e nada mais. Angélica ficou com uma placa feita De sua casa, Mônica só tem as chaves. pelos filhos, além das chaves da casa.

Sandra voltou ao Bento e recuperou suas panelas.

Keila conseguiu reencontrar suas cachorrinhas, Nina e Belinha.

Elisete recuperou seu álbum de formatura.

Seu Zezinho conseguiu encontrar todas as camisas do time São Bento. Fotos: Lucas de Godoy, Luiza Geoffroy e ane Souz Arte: Carlos Paranhos

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Novembro de 2016 Fotos: Ana Elisa Novais e Larissa Helena

Intimidade provisória Por Antonio Geraldo Santos Com apoio de Ana Elisa Novais, Larissa HeLena

"Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade." Manoel de Barros Superar padrões impostos pela perda das memórias...


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Arte: Mariana Viana

... colorindo a identidade familiar nos mínimos detalhes.

Os armários padronizados foram entregues pela Samarco às famílias que tiveram suas casas destruídas pelo rompimento da Barragem de Fundão.


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Minha terra é insubstituível Trechos da palestra "As inter-relações na construção da cidadania e do acolhimento", apresentada por Padre Lúcio Marques, no seminário realizado pelo Fórum Acolher, no último dia 5 de outubro. Participaram famílias atingidas, Secretaria de Educação, Saúde, Assistência Social, Pastorais, sindicato dos servidores públicos, MAB e Ministério Público. Foi discutido o acolhimento das comunidades atingidas na cidade de Mariana. Por Padre Lúcio Álvaro Marques Com o apoio de Elke Pena

A cidade vive e depende visceralmente do minério e mesmo com tanta história ainda não aprendeu que ele não é renovável. Isso significa que após explorar os três trilhões de reais de minério ainda disponíveis no solo marianense, as mineradoras terão esgotado a capacidade local e, então, de que viverá a história da Vila do Carmo que nasceu no ouro do ribeirão? Essa cidade é conhecida pela Praça Minas Gerais, mas essa cidade feita de ouro, minério e história ainda tem ruas de terra batida e esgoto sem tratamento. Acredito também que ainda existam pobres nas periferias da cidade em cujos altares o ouro reluz. Essa cidade que vive, atualmente, do minério, com um *PIB per capita de R$

114.347,90, já superou as diferenças entre ricos e pobres? Existe educação de qualidade para todos? Saneamento básico em todos os bairros? Esgoto e água tratada em todas as residências? Tanto no campo quanto na cidade, "o que sobra é gente", como já disse o escritor Eduardo Galeano. São pessoas com nome e muitas vezes "sem história". A cidade tem história (a centenária Mariana), a indústria tem lucro (5,27 bilhões produzidos em 2013) e as pessoas terão onde viver (ou as águas da barragem inundarão seu passado)? Na cidade permaneceu o ouro nos altares e o suor dos escravos que construíram tantas barrocas belezas. Na empresa permanecem os donos do subsolo e os senhores de gravata e de riqueza. Cumpre ainda recordar o que escreveu Galeano, “a história é um profeta

com o olhar voltado para trás: pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que será”. Se a história é um profeta, o que aprendemos com o que aconteceu aos cinco de novembro passado? Ensinou-nos a escrever uma nova história? Para considerar alguns aspectos da relação de alteridade* enquanto condição de cidadania e acolhimento, recordo o curta metragem – Pé sem chão – do cineasta Sérgio Ricardo. O filme mostra a situação dos moradores dos morros cariocas que são desapropriados para a construção de hotéis pelas grandes incorporadoras do setor imobiliário e o que sobra no sistema capitalista e na produção industrial, já o disse Galeano, o que sobra é gente – sem chão, sem história, sem vida e sem rosto, enfim, sem dignidade. A terra não é apenas um espaço substituível por outro qualquer. QuanFotos: Daniela Felix

Padre Lúcio discursando em uma das mesas do Fórum Acolher.


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do voltamos à casa de nossa infância, reconhecemos cada árvore, cada pedra no caminho, cada morro e cada planície, porque estão inscritos nas profundezas das nossas almas. A terra não é mercadoria, é dom, é dádiva, é herança. Porém, no capitalismo, a terra é produto. A terra que foi uma herança e tinha uma história, agora será inundada pelas águas do silêncio. A lembrança das ruas e das casas, dos vizinhos, da família e dos amigos desaparecerá sob as águas. Quais são os rostos que sobreviverão à segunda tragédia?

“A terra não é mercadoria, é dom, é dádiva, é herança. Porém, no capitalismo, a terra é produto. A terra que foi uma herança e tinha uma história, agora será inundada pelas águas do silêncio.” Agora substituirão o mar de lama por um lago. Então, gostaria de recordar a sabedoria grega. Os gregos afirmavam que entre o mundo dos vivos e dos mortos havia águas profundas e todos os que fossem atravessá-las precisavam nadar até atingir a margem oposta, porém, enquanto nadavam, as pessoas bebiam dessas águas e, ao chegarem à outra margem, não se lembravam de nada. Esqueciam o passado e sua consciência desaparecia. Talvez seja conveniente à mineradora colaborar na nomeação desse lago. Ele encobrirá a terra de muitas famílias, muitas histórias e muitos amores, muitas preces e muitas dificuldades. Pode ser que interesse à mineradora o mesmo nome: Rio Lethe – aquele que separa os vivos dos mortos – ou seja, o rio do esquecimento e do desprezo.

O que significa? * PIB: soma geral das riquezas produzidas por um país, estado ou cidade. *Alteridade: a existência do indivíduo a partir da relação com o outro.

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Arte: Mariana Viana


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Afetados pela lama

Foto: Rodolfo Meirel

O rompimento da barragem de Fundão alterou drasticamente a vida de pessoas que foram diretamente atingidas, mas também causou efeito na vida de quem convivia com elas e com as terras destruídas. A história de Stéphane, personagem desta foto, serve para muitos. Não nasceu em Bento Rodrigues, mas mesmo assim cresceu passando as férias e construindo memórias no local. Foram muitos os atingidos e também foram muitos os afetados pela lama. Por Stéphane Pires Com o apoio de Antônio Santos

Em toda a minha vida passei as férias em Bento Rodrigues, na casa da minha avó Clarice Carvalho, de 78 anos, onde minha mãe foi nascida e criada. Não tive a oportunidade de conhecer o meu avô Benedito Tomas (em memória), mas as histórias da vida dele nessa cidade nunca foram deixadas de lado. Tudo o que havia lá trazia um pouco da memória dele; o sítio onde trabalhava, a igreja e tudo isso nos fazia sentir uma ligação. Sei que não será mais possível passar nossas férias lá, mas não queremos deixar nunca a memória do

nosso avô se apagar. Toda diversão era estar com a minha família, que sempre foi minha base. Sempre vou me lembrar dos belos momentos. Nossas brincadeiras eram guerra de balão d’água, noite do pijama, e muitas outras coisas. Sempre gostamos de festejar, isso nunca ficava de fora, adorávamos ficar reunidos, pois a nossa família sempre foi muito ligada. O distrito também era um ótimo lugar para a conexão com a natureza. Fazíamos piqueniques, caminhadas e amávamos ir às cachoeiras e rios. A lama, tão rigorosa,

também afetou a vida da minha outra avó, que mora em Ipaba/MG. O rio doce foi destruído e levou a diversão dos banhos nos finais de semana, a pesca e a ordem natural das coisas por lá também.

“Sei que não será mais possível passar nossas férias lá, mas não queremos deixar nunca a memória do nosso avô se apagar. Foi uma das piores notícias da minha vida. Nunca senti tanto medo. Entrei em estado de choque. Queríamos só saber como

estavam nossos familiares e, por quase uma hora, não tivemos informações de ninguém. O medo de perder as pessoas que você ama tanto é desesperador. Eu via as imagens na TV e não queria acreditar. Só víamos a destruição do pequeno vilarejo que significava muito para nós. O que vou mais sentir falta será da liberdade que sentíamos quando estávamos lá, poder colher frutos no quintal da vovó, comida no fogão a lenha, acordar com o canto dos pássaros, o cantar do galo, banhos nas cachoeiras, de tudo que era bom.


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Outras ameaças Por Lucimar Muniz Com o apoio de Carlos Paranhos

Os perigos que envolvem as barragens de rejeito ainda são presentes e estão mais próximos do que imaginamos. No entanto, mesmo depois do grande desastre com a barragem da Samarco, e de toda a sua repercussão, algumas empresas se recusam a implementar processos que dariam mais proteção para seus próprios funcionários e para a população que vive em torno da edificação. Essas empresas declaram que tais normas de segurança não estão presentes na atual legislação, e que, portanto, elas não são obrigadas a dar tanta atenção a esses quesitos. O único ponto próximo a isso, que já era exigido na lei, é o estudo da mancha: uma análise dos danos que a quebra de uma barragem pode causar, quanto tempo demora para evacuar, quais áreas poderá alcançar etc. Para exemplificar, em Mariana, até pouco tempo, estava em funcionamento a barragem Dique da Lagoa

Seca, próxima ao bairro São Cristóvão, pertencente à Vale. Depois de alguns monitoramentos feitos pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), constatou-se que a estrutura tem alto potencial de danos, podendo destruir o centro histórico de Mariana, o distrito de Passagem de Mariana e a região do Gogo em menos de dez minutos. A Vale informou que o dique está em desuso e que irá implementar uma série de medidas emergenciais, que incluem discussão junto aos moradores e instalação de alarmes. O que mais nos revolta é o desleixo de empresas tão grandes como a Vale, Samarco e BHP, quando o tema é segurança. Foi necessária a devastação de uma comunidade inteira para que o assunto viesse à tona. Quando a Defesa Civil perguntou à Vale quais ações iria tomar, a companhia simplesmente respondeu que faz o que a legislação manda, e que nós

que resolvemos esse problema. Temos que deixar todos cientes disso, pois amanhã podemos passar por essa situação novamente. Mudando a Legislação O Projeto Mar de Lama Nunca Mais, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, propõe, através de uma lei de iniciativa popular, assegurar que as normas de segurança presentes na legislação sobre barragens sejam modificadas para se tornarem mais rígidas. Entre as sugestões, pode-se destacar a apresentação de um Estudo de Impacto Ambiental, uma audiência pública envolvendo toda a população afetada (direta ou indiretamente), garantia de recuperação socioambiental, instalação de alarmes, entre outros. Porém, essa lei só entrará em vigor se um volume considerável de assinaturas for recolhido. Até o final do mês de outubro, mais de 56 mil foram recolhidas. Foto: João Pinheiro

Região do Dique S3 em Bento Rodrigues.


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Lama até Linhares

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Foto: Acervo Pessoal / Eliana Balke

Um ano se passou desde o rompimento da Barragem de Fundão. De lá pra cá, as vidas de milhares de capixabas que habitam a foz do Rio Doce passaram por mudanças profundas e inesperadas. Fazendo uma retrospectiva dos últimos 365 dias, essas pessoas têm em comum histórias de perdas, sofrimento, mas também de resistência. Entre os atingidos do Rio Doce estão as pescadoras Eliana Balke (foto) e Joice Lopes e as militantes Rejane Soares Rosa e Maria do Carmo Oliveira Possi, que contam como o crime ambiental cometido pela Vale, Samarco e BHP Billiton fez com que elas passassem a conviver com a escassez do pescado, a vida de militância e tantos outros desafios. Por Eliana Balke, Joice Lopes, Maria do Carmo Oliveira Possi e Rejane Soares Rosa Com o apoio de Elaine Dal Gobbo

Numa manhã eu chegava a pescar cerca de 30 dúzias de siri açu, o que me rendia uma média de R$ 3200,00 por mês. Dava para eu ter uma vida normal, tranquila. Hoje, não tem mais siri. Além disso, o pouco que a gente consegue pescar as pessoas não querem comprar, pois têm medo de estar contaminado. Eu, que morava de aluguel antes do rompimento da Barragem de Fundão, fiquei com a renda comprometida e não consegui mais pagar. O proprietário do imóvel pediu que eu me retirasse. Hoje moro numa barraca no quintal da casa de uma amiga, em Barra Seca. Minha amiga, que também é pescadora, não mora mais no seu imóvel. Sem ter renda, ela deixou de pagar as contas de água e luz, por isso, os servi-

ços foram suspensos. Ela teve que sair da própria casa e morar com a filha. Apesar de sofrer as consequências do crime ambiental, não recebo nenhum tipo de assistência por parte da Samarco. A região de Pontal do Ipiranga, onde sempre morei, não é considerada atingida por parte da mineradora, assim como outras localidades de Linhares, a exemplo de Barra Seca, Urussuquara e Degredo, e do município de São Mateus; como Campo Grande de Barra Nova, Barra Nova Norte, Barra Nova Sul. Para mudar essa situação, nós moradores das regiões que não são consideradas atingidas pela empresa, criamos o Fórum do Norte da Foz. Nosso objetivo é nos organizarmos para que novamente possamos ter acesso aos

nossos direitos básicos, que estão sendo negados pela mineradora. Ao contrário de Eliana, a pescadora Joice Lopes Miranda, de Barra do Riacho, no município de Aracruz, recebe um benefício por parte da Samarco. Porém, como ela mesma diz, isso não garante o “resgate da dignidade”. O benefício é no valor de um salário mínimo, sendo que antes do crime ambiental a renda mensal obtida por ela com a atividade pesqueira girava entre R$ 3 mil e R$ 4 mil. Eu pescava e vendia o pescado todos os dias. Nunca ficava sem dinheiro. Agora tenho que esperar 30 dias para receber uma quantia que é bem menor. Um valor que mal dá para sustentar uma pessoa, quanto mais uma família. E ainda tem casos na minha comunidade, por exemplo, de filhos de pescadores que tiveram que largar a faculdade por não poderem mais pagar.


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Do desespero à revolta: a vida de militância da pescadora Rejane e da Agente de saúde Maria do Carmo O último ano significou uma mudança radical. Ninguém aqui esperava que aquilo (o rompimento da barragem) fosse acontecer. No início veio o desespero. Não tínhamos informações precisas sobre as consequências, sobre quanto tempo as coisas iam demorar para voltar ao normal. Depois que as informações chegaram e ficamos cientes do tamanho do estrago causado, ficamos revoltados. Além de cometer um crime que causou danos ambientais, sociais e culturais, a Samarco adota uma postura machista em relação às mulheres atingidas. O benefício voltado aos pescadores é pago principalmente aos homens. A empresa alega que ele é voltado para os chefes de família, mas muitas mulheres trabalhavam junto de seus maridos. Também há mulheres que são chefes de família, e não somente homens. Após o crime ambiental, abracei uma nova atividade: a militância. Isso foi possível por meio da atuação do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB). Os integrantes do movi-

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Foto: Acervo Pessoal / Joice Lopes

Joice Lopes discursa em audiência pública na Assembleia Legislativa do Espírito Santo.

mento fizeram um trabalho de conscientização e mobilização. A partir daí conseguimos fazer algumas manifestações. A cada ato conseguíamos aumentar o número de pessoas reconhecidas como atingidas pela empresa. Sou agente de saúde e já atuava como sindicalista antes do crime ambiental. Também tive minhas atividades de militância ampliadas após o rompimento da Barragem de Fundão. Passei a integrar o Fórum SOS Rio Doce, o MAB e o Fórum Capixaba do Rio Doce. Minha rotina passou a ser

mais intensa. Sempre recebo demandas de pessoas atingidas que querem saber como reivindicar seus direitos, além de checar informações divulgadas pela imprensa a respeito do caso. Evito o consumo da água do Rio Doce. Não acho confiável ingerir. Tem que comprar água mineral para matar a sede e cozinhar, o que aumenta os seus gastos. Para não ter que gastar tanto, as vezes busca água na nascente. Carminha e outras pessoas que já beberam dessa água, passaram mal. Foto: Acervo / Fórum Capixaba do Rio Doce

Capixabas na concentração da romaria de Resplendor.


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A última noite

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Por Antonio Geraldo Santos Com o apoio de Miriã Bonifácio

Bento Rodrigues Já era noite e o nosso paraíso tinha sido destruído rapidamente. A tarde radiante deu lugar para a agonia e o anoitecer trouxe uma tristeza que persiste até hoje. Na hora em que vi as pessoas correndo, desesperadas, para o alto, para o mato, subi em cima da laje para ver a proximidade da lama. A onda que dobra-

va as casas como se fossem papel, tinha atingido o seu limite e aqueles 30 metros de rejeitos já não chegariam até onde eu estava. Foi aí que conseguimos nos organizar para socorrer quem chegava machucado e sujo. Naqueles minutos pensávamos que muitos não sobreviveriam, mas cada encontro trazia um conforto momentâneo.

Cuidamos para que elas usassem os banheiros onde a lama não tinha chegado. O chuveiro da minha casa por exemplo, que era feito com serpentina, serviu para lavar algumas delas. Depois disso, começamos a partilha. Dos cinco pares de tênis que eu tinha, só me sobrou um. Não diferente de mim, todos se juntaram para aju-

dar quem já não tinha nada. Os remédios de pressão foram divididos entre os hipertensos. Os alimentos que sobraram do mercado, parcialmente coberto de lama, e das casas não atingidas, foram suficientes para passar a noite. Uma panela de macarrão, outra de arroz, garrafas de café, biscoitos. Cerca de 300 pessoas

Foto: Ana Elisa Novais

Registro feito no último dia 30 de julho, quando moradores de Bento Rodrigues se reuniram no local atingido para celebrar a festa de São Bento.


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ainda passaram a noite em Bento Rodrigues. Outros tinham saído de caminhão ou ido embora a pé mesmo, cortando o mato “no peito”. Pegamos uma folha de papel e desenhamos as ruas, as casas e tudo mais o que conseguimos lembrar para mapear o local. Também precisavam de uma lista com as pessoas que sentíamos falta. Na primeira anotação escrevemos 35 nomes. Nomes que conhecíamos o rosto, sabíamos quem era a família, a história. Aos poucos íamos atualizando a lista, riscando o papel. A noite inteira. No outro dia, já amanhecendo, 9 pessoas ainda não tinham sido encontradas e no fim das contas só restaram aqueles 4, que a gente sabe que não voltam mais. Na maior parte do tempo as pessoas perambulavam, conversavam umas com as outras, na tentativa de entender o que estava acontecendo. Alguns dormiram. Outros, como eu, conseguiram pouco - cerca de duas horas.

Ainda durante a noite, pessoas que já estavam acomodadas começaram a sair e correr de novo, depois que um rádio anunciou de forma equivocada o rompimento de outra barragem, a de Germano. E de novo o sossego que tínhamos deu lugar ao caos. Pessoas sem direção, sem compreender o que estava acontecendo. E já éramos notícia mundial. Vimos um menino gritando por socorro. Vimos gente atravessando duzentos metros de lama para fazer resgates. Vimos Dona Darci no meio da lama esperando que os bombeiros pudessem salvá-la. Assim como fizeram com Dona Marcelina. Vimos uma máquina limpar o caminho de lama, funcionando com o óleo que tiramos do ônibus que estava ilhado. Vimos fogueiras sendo feitas para clarear a noite escura, idosos sendo carregados.

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Vimos e vivemos aquela noite longa e sofrida, que chegava como um cenário desolador trazendo um cheiro podre que mal dava para respirar. A última noite terminou com um amanhecer triste. Tudo arrasado. E já não se ouvia mais os pássaros cantando, as crianças se aprontando para ir à escola, o cheiro do café, a naturalidade de sempre. Só se ouviam as lamentações das pessoas inertes a toda aquela situação. Fomos obrigados a sair deixando para trás tudo o que construímos durante a vida. Saímos separados em vans e ônibus, alguns seguiram a pé, pisando na lama da destruição, outros em seus carros e motos. Todos sem saber o que seria do futuro. Hoje nos damos conta de que naquela noite, na última noite, todo mundo foi um pouquinho herói.

Paracatu Por Angélica Peixoto Com Apoio de Fernanda Tropia

Barragem de Fundão estourou. Destruiu Bento Rodrigues. Muitos morreram. Previsão de chegar em Paracatu. Peguei documentos e saí de casa. Lama não ia chegar. Muito longe. Fui para a rua. Ninguém acreditou. Helicóptero sobrevoou a comunidade e pousou no campo. Todos correram para a praça. Defesa civil deu cinco minutos para procurar um local mais alto. Pessoas choravam. Aflição. Desespero. O que fiz? Corri para a rua Furquim. Conversas exaltadas. Choque. Medo. Dúvida. Fui mais para o alto. Pessoas se ajudavam. Solidariedade. Consolo. Amizade. Alguém desmaiou. Uma pessoa com falta de ar. Buscaram na casa dela cilindro de oxigênio. Sede, muita sede. Conjecturas. Voltar em casa não foi permitido. A lama ainda não havia chegado. Mais conversas. Dúvidas. Medo. Muito medo. A imprensa apareceu. Como chegou? E a lama estava vindo mesmo? Triste realidade vinha destruindo tudo pelo caminho. A tarde virou noite. Uma televisão foi salva. Vi passando no ombro de alguém. Moradores ainda estavam

em casa. Mais aflição. Medo. Angústia. Ansiedade. Guarda Municipal chegou. Todos foram retirados e subiram o morro. Espera. Preocupação. Ônibus da escola não tinha chegado. Mães desesperaram. Medo de não dar tempo. Confiaram em Deus. Seus filhos chegaram. Um pouco de alívio. O tempo passou. A lama chegou à ponte. Veio arrebentando tudo. Fome. Sede. Medo. Angústia. Sofrimento. Desesperança. Dura realidade. Noite escura. A luz foi embora. Barulho de madeira quebrando. A destruição chegou à comunidade. Cheiro horrível invadiu as narinas. Sensação de sufocamento. Tudo foi destruído. Casas. Igreja. Escola. Choradeira. Angústia. Impotência. Todos sem casa. Sons de destruição. A força da lama arrastou tudo que estava pela frente. Passou a cachoeira. Destino: Pedras. Todos vivos. Mas acabou. Histórias de vida perdidas. Luta de uma vida inteira. Bens materiais. Só restou procurar refúgio. Abrigo. Um ano se passou. Fomos e somos atingidos pela lama de Fundão. Até o momento sem casa.


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ATINGIDO Foto: Thiago Oliveira

Novo Bento No dia 28 de outubro de 2016, um grupo de sonhadores fez um protesto pacífico, mas também subversivo, mostrando que é possível começar o reassentamento. Essa iniciativa espontânea, representou o desejo de ter nossa autonomia, nosso modo de vida e nossa liberdade o mais breve possível. Nesse um ano, nossas casas não foram prioridade. Enquanto diques foram construídos mesmo sem todos os laudos necessários, a primeira proposta de reassentamento ainda está sendo discutida entre a assistência técnica, comissão dos atingidos e a empresa contratada pela Samarco. Com essa ação voltamos para a casa com a alma renovada e sentimos a importância do nosso protagonismo, para em breve estarmos juntos no lugar que escolhemos para recomeçar.

E a nossa escola, como vai? Há um ano, em Paracatu de Baixo, nossas crianças tinham na escola um espaço estruturado para aprender, brincar e se desenvolver, como é de direito. A escola de agora é bem menor e sem espaço para brincar, o que a todo momento nos faz lembrar do motivo de estarmos lá. Foto: Stênio Lima


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O recomeço em Ponte do Gama Fotos: Lucas de Godoy e Luiza Geoffroy

A difícil convivência com a destruição do rio e da cachoeira de Ponte Gama, fonte de refresco de gerações e gerações do povoado.

União da comunidade do Gama na festa de Nossa Senhora Aparecida, realizada na área coletiva reconstruída recentemente. Juntos, ainda convivemos com a realidade, mas, a paisagem natural nunca será a mesma.

Quem não pisou na lama não venha decidir por nós!

Foto: Mônica Santos

Oito meses de luta pela volta do processo para Mariana Foto: Silvany Diniz

No dia 26 de agosto de 2016 o processo retorna para nossa Comarca.

Atingidos na Assembléia Legislativa, em janeiro, pedindo a volta do processo para o fórum de Mariana.


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Nada será como antes O rompimento da barragem deixou 14 viúvas e muitos órfãos.

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Foto: Acervo pessoal / Sandra Carvalho

As famílias das vítimas fatais fizeram uma manifestação no dia 20 de novembro de 2015 exigindo mais empenho nas buscas dos corpos ainda desaparecidos. Atualmente, Aline Ribeiro, que perdeu o marido Samuel, continua lutando e afirma que “é triste olhar para trás e ver que nada foi feito”.

O dique S4 e o apagamento da nossa história Foto: Genival Pascoal

Além da Samarco, nem o próprio governo - que cedeu e concedeu autorização para a construção do dique sobre o Bento - está certo de que essa é a melhor solução para conter os rejeitos. Nessa luta de poderes, pouca importância teve o que pensamos ou queremos para nossas terras.

Barra Longa: 1 ano vivendo com obras

Foto: Ana Elisa Novais

Desde o dia 5 de novembro, os moradores de Barra Longa vivem em um verdadeiro campo de obras. Crianças, adolescentes e adultos dormem e acordam com poeira, e os barulhos das máquinas que não param de operar.


Agosto de 2016

A SIRENE Foto: Rodolfo Meirel

O resgate de pertences Cada peรงa, cada pedaรงo, nos lembra quem somos. Mesmo com nossas vidas mutiladas ainda estamos aqui. O rejeito nรฃo soterrou nossas memรณrias.

Ser atingido Somos sujeitos de direitos e queremos ser reconhecidos como tais. Desde o 05 de novembro lutamos para que todos tenhamos a oportunidade de recuperar nossas vidas dignamente.

Foto: Thiago Oliveira

Atingindos no terreno da Lavoura, escolhido para ser o novo Bento Rodrigues.

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Barulhos à noite A empresa Samarco vem realizando uma série de obras em Barra Longa, desde novembro do ano passado. O marco de um ano do rompimento acelerou essas obras, que agora se estendem pela madrugada, tirando a paz dos moradores. Simone Silva, que reside no município, relatou para o jornal A Sirene toda essa delicada situação. Por Simone Silva Com apoio de Carlos Paranhos

O ruído já era irritante desde o rompimento da barragem. Todos os dias, ao acordar, escutava aquele pii-pii-piii das máquinas e dos caminhões que arrancavam o calçamento antigo soterrado pela lama para fazer um novo. Antes, o barulho só aparecia durante o dia e já era um tormento, mas nós conseguíamos ficar em paz à noite e descansar um pouco. No entanto, de setembro para cá, a Samarco dobrou o ritmo das obras, prolongando o piii por madrugada adentro. Tudo isso é uma forma da empresa mostrar que está fazendo algo, quando, na verdade, faz muito pouco. Como já estamos perto de um ano da tragédia, e a mídia está toda aqui novamente, querem aparecer. O pior é pensar que alguns moradores atingidos ainda estão sem casa, ou seja, eles preferem

fazer um calçamento mal feito do que dar às pessoas o direito mínimo de ter um lugar digno para morar. Os problemas são inúmeros: algumas crianças apresentam problemas de depressão, o rendimento escolar também caiu. Trabalhadores, ao chegarem em suas residências depois de um dia inteiro de serviço, não conseguem descansar. Inaceitável. O psicológico de todos está completamente abalado. Meu nível de estresse está tão alto que um dia quebrei meu notebook de tanta raiva. A obra mais próxima da minha casa fica na rua de baixo. Imagina quem reside na rua da obra! Estamos morando há um ano dentro de um canteiro de obras, literalmente. Não houve nenhum tipo de comunicação por parte da empresa para

iniciar o processo. Não perguntaram quais eram nossas necessidades, se o som iria incomodar. Simplesmente começaram a operar as máquinas sem nenhuma previsão de término. Eu e uma amiga já fizemos vários manifestos, porém sempre nos dizem que essa reclamação deve partir da população inteira, e não só de uma parcela dela. A mobilização geral é difícil, mas iremos continuar tentando. Nosso município antes era um lugar calmo. Quando dava seis, sete horas, o barulho era mínimo, não incomodava ninguém. As ruas ficavam vazias, e a maioria do povo já estava em casa. A lama não trouxe só tristeza, trouxe também o fim da nossa rotina e tranquilidade. Viver em Barra Longa agora é um verdadeiro caos. Foto: Simone Silva


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#UmaFotoPorDia O ensaio "Precisamos falar sobre Barra Longa", de autoria do morador Arthur Etrusco, surgiu como uma forma de ironizar a demora nas obras de calçamento da sua rua. O manifesto, que começou como uma brincadeira, demonstra a importância de que a história dos acontecimentos da cidade, um ano após a tragédia, seja contada a partir da visão dos próprios moradores. Por Arthur Etrusco Com apoio de Caroline Hardt

#Dia13 E temos que admitir: a empresa tem um jeitinho todo ~especial~ de lidar com problemas, não é mesmo?

#Dia12 ..Barulho? Que barulho?...

#Dia03 ...E se você começar a ficar estressado, então é melhor ir pescar... #dia3


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Por que tombou? Por Genival Pascoal e Mônica Santos Com apoio de Kleverson Lima, Ana Cristina Maia e Lucimar Muniz

“Narradores de Javé” é o nome de um filme brasileiro que apresenta as aventuras dos moradores de uma pequena cidade que seria inundada pelo lago de uma hidrelétrica. Como não tinham documentos que comprovassem a propriedade das terras, eles não seriam indenizados pelos danos causados pela obra. Havia, no entanto, uma saída: os moradores ouviram falar que a comprovação da importância histórica da pequena Javé poderia levar ao seu tombamento e barrar a sua destruição. Por isso deram a Antônio Biá, o escrivão da localidade, a função de fazer a tal história da cidade. E lá foi o escrivão em busca de depoimentos que, enfim, dessem a Javé a possibilidade de continuar existindo. Ele ouviu muita gente, inclusive os antigos, mas não conseguiu realizar a tarefa, pois cada um reivindicava o direito de falar a verdade sobre a História de Javé. Como os entrevistados não chegavam a um acordo, Biá ficou cada vez mais confuso, desistindo, por fim, de escrever o livro. Javé, como era esperado, foi inundada e acabou sumindo do mapa. Javé deixou de existir? Materialmente sim, mas “espiritualmente” não, porque os moradores, mesmo sendo transferidos para outras localidades, levaram a cidade em suas lembranças: o cheiro da comida nas casas, as brincadeiras das crianças nas ruas, as festas religiosas que aconteciam na igreja e a beleza do velho rio onde todos aprenderam a nadar. Tudo isso foi embora com eles em suas lembranças. O caso de Javé lembra a situação de Bento Rodrigues e de Paracatu de Baixo? Em parte, sim. Os moradores de Javé, assim como nós, tiveram suas casas destruídas e precisaram se mudar à força para outro lugar, levando prati-

camente suas memórias. Mas diferente de Javé, que foi submersa pelo lago da represa, o que restou de Bento e de Paracatu continua visível, ainda os visitamos, ainda podemos tocá-los. Visitamos Bento e Paracatu porque ainda existe um elo que nos une, um elo que está assentado em nossas lembranças. Esta disputa o rejeito perdeu: ele conseguiu soterrar nossas casas, mas não nossas memórias. Foi pensando na importância deste elo que Bento Rodrigues e Paracatu foram tombados como núcleos históricos de Mariana em abril deste ano. Tombar é uma medida que visa preservar algo que tem importância para uma sociedade, e no nosso caso o tombamento tem duas finalidades. Ele ajudará a conservar o que restou da vida que tínhamos nestes lugares pois, mesmo morando no “Novo Bento” ou na “Nova Paracatu”, utilizaremos os espaços de Bento e de Paracatu como fazíamos no passado. Ainda poderemos frequentar as igrejas, nadar nas cachoeiras e enterrar os nossos entes queridos, enfim nós é que decidiremos quais finalidades terão as áreas tombadas. O tombamento ajudará também a transformar Bento e Paracatu em espaços de visitação turística e de reflexão sobre as nossas histórias (o que fomos e o que queremos ser) e sobre a tragédia que sobre nós se abateu naquele triste dia 05 de novembro de 2015. Javé está embaixo da água, restando apenas as lembranças dos seus moradores. Bento e Paracatu, mesmo bastante destruídas, ainda continuam ali esperando que cuidemos deles como um filho cuida do seu pai e de sua mãe. O tombamento foi apenas o primeiro ato desse cuidado, agora precisamos definir quais serão os próximos passos.


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“Agora, a comida não falta, mas os sabores de cada momento, na minha casa, não voltam mais. Ali, os sabores eram únicos.”

“A gente brincava de pique-esconde e de pique-pega com nossos amigos.”

“A vontade do Seu Zezinho é realizar a Festa do Menino Jesus onde ela sempre aconteceu, no terreiro de sua casa, em Paracatu.” “Eu ia nadar num rio rasinho que se chamava Água Santa.”

Foto: Stênio Lima Arte: Carlos Paranhos


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Arte: Mariana Viana

Assessoria técnica: informação e poder para os atingidos Por Thiago Alves Com apoio de Caroline Hardt

Desde o dia 5 de novembro, os atingidos pelo crime da Samarco tem convivido com a tragédia que nunca para. Um ano de violações de direitos que se multiplicam. E o que fazer em um contexto de catástrofe nunca visto na história? Como indenizar quintais? Como compensar uma pequena cidade transformada em um canteiro de obras? Tudo o que se produzir nas terras tomadas pelos rejeitos poderão ser consumidos com tranquilidade por pessoas e animais? Como fazer um reassentamento com real participação das famílias? Onde e como colocar os rejeitos depositados até a barragem de Candonga? Como garantir segurança e saúde para as populações que moram nesta região? Muitas perguntas... E a primeira resposta encontrada no caminho é: informação. Este é um direito fundamental, o começo de tudo. A ele se somam a autonomia, a organização e a luta popular. E foi exatamente para isto que os atingidos de Barra Longa, Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado reuniramse e aprovaram que eles também

querem uma Assessoria Técnica independente, da mesma maneira que será feito em Mariana.

No dia 10 de dezembro de 2015 o Ministério Público abriu um processo judicial, no qual a assessoria técnica estava prevista como um direito a ser garantido para as comunidades atingidas em Mariana. Em junho de 2016 a Comissão dos Atingidos deu início à construção do projeto de assessoria o qual foi aceito pela Samarco em setembro de 2016. Hoje esse processo é uma realidade a partir da contratação da equipe técnica em outubro de 2016. Este é um direito já garantido por uma liminar na Comarca de Ponte Nova que obriga a contratação de profissionais da confiança dos atingidos e demandados pelo processo organizativo coordenado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). A AEDAS – Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social terá como parceira a Ca-

ritas Brasileira na execução deste projeto. Toda a parte de debate público já foi feito. Os atingidos e o Ministério Público aguardam que a Justiça Federal encaminhe o que é necessário. Temos pressa. Informar as famílias e criar as condições para que a indenização e o processo de reparação no longo prazo sejam justos para todos, é urgente. Com a Assessoria, iremos fortalecer um processo já em andamento: levar informação, empoderar as famílias, construir protagonismo e organizar a luta popular, única saída para vermos a bacia do Rio Doce reconstruída.

Relembrando Assessoria Técnica é o serviço de profissionais de confiança, com conhecimentos especializados para dar apoio a uma ou mais pessoas na hora de tomar decisões. Por exemplo, imagine que você vai comprar um carro usado. Você vai à concessionária e pede a uma atendente que lhe indique um modelo de acordo com seus costumes e necessidades. Para se decidir, você leva o carro a um mecânico de sua confiança. Ao responder suas dúvidas, o mecânico, nesse caso, está fazendo o papel de uma assessoria técnica.


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Arte: Mariana Viana Foto: Larissa Helena

Os proprietários do mercado fotografado disseram que tem enorme dificuldade em consultar o extrato do cartão e as taxas estabelecidas para o seu uso são maiores do que a de outras marcas.

Direito de entender: Policard Por Lucimar Muniz Com apoio de Miriã Bonifácio

O cartão Policard foi destinado aos atingidos em dezembro de 2015 com o objetivo de ser uma assistência emergencial no pagamento de despesas que, agora, apareceriam na vida daqueles que perderam tudo. No entanto, os problemas com o cartão iniciaram já no mês de abril, com sete casos registrados. Em setembro, essas reclamações já superavam 429 registros. A maior dificuldade dos atingidos é na hora de consultar as transações do cartão, sendo possível apenas através de um aplicativo de celular ou por email. Outras, vem do desvio de valores nas contas e de cobranças indevidas.

Perguntamos ao Ministério Público sobre a situação do Policard, já que além de não funcionar de maneira satisfatória ele também está com o prazo de vencimento próximo. Por quanto tempo foi homologado o auxílio financeiro (Policard) para as famílias atingidas que perderam renda? O cartão de auxílio financeiro foi requerido pela 2ª Promotoria de Justiça de Mariana, do Ministério Público de Minas Gerais, no dia 08/11/2015, à todas as famílias que perderam renda. Posteriormente, no dia 10/12/2015, foi ajuizada Ação Civil Pública pela Promotoria/Ministério Público contra

Samarco, Vale e BHP, requerendo a manutenção do cartão de auxílio até a indenização final e o reassentamento. Com o prazo chegando ao fim, haverá uma nova negociação com a Samarco para prorrogação desse auxílio? Na audiência judicial, referente à citada Ação Civil Pública, o cartão de auxílio financeiro foi homologado pelo juiz, pelo prazo de 1 ano, a partir da audiência, que foi no dia 23 de dezembro de 2015. Antes do encerramento do prazo, o Ministério Público tentará a prorrogação do prazo do cartão, de maneira que seja mantido até a indenização e reassentamento das famílias atingidas.


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Nossa festa neste ano aconteceu às sete horas, como de costume, porém numa igreja que não é nossa. Foi um momento de muita oração e de despedida de nosso pároco, que nos deixou depois de quase oito anos junto à nossa comunidade. Fizemos uma carreata pelas ruas de Mariana e fomos até a gruta de Nossa Senhora, que fica no caminho do nosso querido Bento. Chegando lá, rezamos, cantamos e com lágrimas no rosto tivemos que deixar a imagem da Nossa Senhora.

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“Nossa Senhora Por Mônica Santos Com o apoio de Genival Pascoal

Bento Rodrigues

Foto: Miriã Bonifácio Foto: Lucas De Godoy e Luiza Geoffroy

Ponte do Gama

Por Elizabeth Sena E Maria José Dias de Sena Com o apoio de Milton Sena

De repente, me pego olhando perdidamente para tudo que vejo ao meu redor. Na minha mente, imagens se revezam entre lembranças de como ficou após a tragédia e imagens de como tudo está atualmente. Vejo as pessoas da Comunidade apressadas para enfeitar o local e sinto o coração ao mesmo tempo apertado e feliz. Agradeço a Deus e à Nossa Senhora Aparecida pela dádiva de poder estar ali naquele momento, e sinto a alegria da Comunidade. Sei que, assim como eu, muitos deles têm essa mesma sensação, é como se tivéssemos vencido o medo e encontrado, no poder de Deus, a força para irmos em frente. É só a primeira vitória, mas muitas outras virão, com fé em Deus e a força da Comunidade.


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Aparecida rogai por nós” Foto: Wandeir Campos

Paracatu

Antes da tragédia, os preparativos. Os festeiros se reuniam e cada grupo organizava sua parte, respeitando a vontade do festeiro José, “Ize”. Tudo muito simples e com muita fé. A celebração iniciava com a novena, depois era a busca da bandeira, o levantamento do mastro e o show no sábado. O domingo coincidia com o calendário esportivo da prefeitura. Tínhamos o campeonato de futebol distrital da segunda divisão e em seguida a carreata, a missa, a procissão e o almoço na casa do festeiro. Neste 12 de outubro, os preparativos foram feitos na casa de uma das festeiras, Iracema, em Mariana. A confecção dos estandartes foi realizado por senhoras, crianças e adolescentes. A bandeira do mastro foi feita por Lucilene. O almoço foi preparado em Paracatu, na casa do pai do festeiro, apelidado de “Banana”, e teve a ajuda de “Duda”, festeira.

Por Luzia Queiroz Com o apoio de Wandeir Campos

Saímos em carreata passando por Paracatu, Pedras, Águas Claras e retornando à Paracatu. Nossa entrada na comunidade foi silenciosa e lenta, sem fogos e buzinas, como uma forma de demonstrar o respeito a toda tristeza contida em nossos corações. Calou-se uma comunidade inteira, antes tão festeira. Alguns moradores levaram a santa de devoção em carros e nas mãos, em especial a dona Imaculada, que não deixou de ter a piedosa devotada próxima ao coração, envolvida pelo lenço, e um altar improvisado que foi rodeado pelo povo que estava ali. No domingo de manhã foi realizada a missa, organizada pelos membros da Igreja de São Caetano em

Monsenhor Horta, juntamente com Maria José, da comunidade de Paracatu de Baixo. A cerimônia iniciou com a entrada da criança Miriane, princesa da bandeira de N. S. Aparecida, dando prosseguimento à procissão. A comunidade de Monsenhor Horta recebeu o povo de Paracatu de Baixo com muito carinho. Os estandartes foram levados pelos atingidos e logo depois foi feita a benção e comentário do Pe. Reginaldo, que pediu que a união entre todos permaneça. Muitos choraram. Enfim, tristezas, lembranças que ficaram apenas em nossas memórias e que não voltam e não voltarão. Nossa Paracatu ainda respira. Saudades!


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O sonho dos atingidos

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Por Sérgio Papagaio

Foto: Rodolfo Meirel

Na noite passada eu tive um sonho: era uma pintura. Na tela, o artista dava vida à lama que saia de Regência e subia, voltando pra Mariana. Foi aí que percebi, mais pessoas também sonhavam, eram muitos os sonhadores, uns eu já conhecia outros só naquele dia. O que mais comovia, os sonhadores eram todos, atingidos da Bacia. A louca lama subia na tela do Rio Doce, sob a regência do pincel, do artista misterioso. As águas pintadas de branco as margens a cor verde recebia. A lama que subia não mais atingia. Ao lado, numa nuvem, o pintor me conduzia. Subimos juntos os dois pintando a aquarela da Bacia. Eu participava com enorme alegria. Peixe, bicho, mato há pouco eram pintados com suprema magia. Os krenaks se emocionaram ao ver ser pintado

watu e, no íntimo, ao artista confidenciam.” O ÍNDIO PERTENCE AO RIO O RIO PERTENCE AO INDIO”. E os ARUANÃS agora purificados das profundezas do Doce saem cantando a esperança e, numa relação ecumênica, ajudam a pintar a aldeia da aliança. O grande artista sobe pintando a natureza. Por um tempo fui deixado num canto e, com a intimidade de dois irmãos, o artista colhe meu pranto e com ele, num instante de pura beleza, pinta a velha BARRA LONGA no dia que completava 315 anos. E a Barra, em uma seção de agradecimento todo materno, dá um beijo a mim e outro na tela. O pintor purifica o Carmo e o Gualaxo, rios que foram obrigados a carregar a morte. Pinta GESTEIRA, CAMPINAS, BARRETO, PEDRAS,

*A pedido do autor, este texto não passou por revisão ou edição.

PARACATU, GAMA, CAMARGOS. E o velho BENTO retoma a aparência de um rebento. E com uma tinta especial cedida pela lua pinta as pessoas nas ruas. Agora, com divina precisão, o relógio para e começa a pintura da renovação. Tudo, até o velho é remoçado. O pintor apaga a morte. Abandona o pincel e com o coração pinta 19 corpos tornados a vida e um ser pequenino foi para dentro da barriga. Sobrepõe à morte, a vida e ao luto, a luta. Depois de concluída a obra e a natureza reconstituída, não vi mais o pintor, só um facho de luz e, no rodapé da tela não assinada, tinha o desenho de uma cruz. Na margem esquerda do Gualaxo os que outrora eram atingidos hoje gritam “águas para vida não para a morte!”.


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AGENDA DE NOVEMBRO 1 Reunião Grupo de Trabalho Temático de Bento Rodrigues Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

9 Reunião Grupo de Trabalho Temático de Paracatu Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

16 Reunião Grupo de Trabalho Temático de Paracatu Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

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1 Reunião Grupo de Trabalho Temático de Paracatu Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

10 Reunião pública geral dos atingidos de Mariana/ Samarco/ Ministério Público Horário: 18h Local: Centro de Convenções

17 Reunião Pública Geral da Comissão dos Atingidos de Mariana/Comunidades Atingidas de Bento/ Paracatu e demais localidades Horário: 18:00 h Centro de Convenções

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Reunião Grupo de Trabalho Temático de Paracatu Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

Reunião pública geral dos atingidos de Mariana/ Samarco/ Ministério Público Horário: 18h Local: Centro de Convenções

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Reunião Grupo de Trabalho Temático de Bento Rodrigues Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

Reunião Grupo de Trabalho Temático de Paracatu Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

7 Reunião Grupo de Trabalho Temático de Pedras Horário: 17h Local: Escritório dos Atingidos Reunião Interna da Comissão dos Atingidos Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

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9 Reunião Grupo de Trabalho Temático de Bento Rodrigues Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

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Reunião Interna da Comissão dos Atingidos Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

Reunião Grupo de Trabalho Temático de Bento Rodrigues Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

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Reunião Grupo de Trabalho Temático de Pedras Horário: 17h Local: Escritório dos Atingidos Reunião Interna da Comissão dos Atingidos Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

Reunião Grupo de Trabalho Temático de Bento Rodrigues Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

28 Reunião Interna da Comissão dos Atingidos Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos

28 Reunião geral com as comunidades atingidas para revalidar e escolher novos membros para a comissão dos atingidos Horário: 18h Local: Escritório dos Atingidos


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“É a luz do Santíssimo” Foi a única luz que permaneceu acesa dentro da capela de Ponte do Gama, mesmo sem poste, padrão de energia e tudo mais que a lama conseguiu levar. Assim que as primeiras pessoas entraram e retiraram o santíssimo, a luz se apagou sozinha, imediatamente. Foto: Milton Sena


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