Janeiro de 2022 Mariana - MG
APARASIRENE NÃO ESQUECER
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A SIRENE
PARA NÃO ESQUECER | Ano 7 - Edição nº 69 - Janeiro de 2022 | Distribuição gratuita
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A SIRENE PARA NÃO ESQUECER
Janeiro de 2022 Mariana - MG
TRÊS ANOS DO CRIME DE BRUMADINHO 25 de Janeiro O rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, completa três anos no dia 25 de janeiro. O crime fez 272 vítimas fatais, destruiu comunidades inteiras e devastou o rio Paraopeba, que segue contaminado e impróprio para uso. Recentemente, as pessoas atingidas enfrentaram mais uma decisão desfavorável: a competência para julgar a ação penal pelo crime de homicídio qualificado foi transferida da justiça estadual para a federal. Atingidas e atingidos ao longo de toda bacia do rio Paraopeba seguem em luta por justiça, apesar das dificuldades. Nossa solidariedade a todos(as) que perderam parentes e amigos(as) e às pessoas atingidas. Estamos juntos(as) na busca por reparação integral!
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Papo de Cumadres: Opinião:
Aporofobia de Natal
Consebida e Clemilda estão assustadas, às vésperas do sétimo natal fora de casa, esperavam uma palavra de conforto e o que ouviram foi um castigo novo. Aporofobia. Por Sérgio Papagaio
— Cumadre Clemilda cê vil u chicote novo quês inventô pra batê ni nois? — Intão num vi, cê tá falanu é da tar palavra que u padre Júlio Lancelotti tantu falô naquela missa que nois assistiu, aporofobia. — É issu mesmu minha fia, nois tá pertu de completá 7 natá fora de casa e u que eu queria era ouvi que tudu issu era fantasia, que era coisa dos meus sonhu, e pra completá minha agunia u que eu ouvi foi aporofobia. — Será cumadi minha fia que esta tar aporofobia é mais uma mardade que as mineradora arrumô, pra batê ne nois pois nu meio de mil atingidu e atingida, agente num tira um tantu de ricu pra inchê um cuia — Cê compriendi cumadre os olhu deles num incheuga pobre. — Como assim cumadi? — Uai cê num vil cumê que ês fizeru umas poucas casa das muita que foi distruida pelu rompimentu? — Sim, nissu eu prestei muita atenção, fizeru casa de ricu pra pobre morá, mas num intenderu e num vão intendê que a riqueza maiô num é com us olhos que se vê, nois queria nossa casinha longe de quarquer riqueza, pois u que ês chama de pobeza pra nus humilhá é nosso maior presente de natá, pois ser pobre sem a conciência pesá, com certeza é nossa maior riqueza.
Foto: Sérgio Papagaio
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O melhor lugar do mundo Para muitas pessoas, a chegada do Natal representa um momento especial. Dia de reunir a família, partilhar presentes, se esbaldar nas comidas e celebrar o amor e a solidariedade. Sendo assim, o espírito natalino representa aquilo que cada família ou comunidade mais valoriza. Em Bento Rodrigues, era a união dos(as) moradores(as) que dava o tom das festas de fim de ano, inclusive o Natal. Momento de compartilhar e desfrutar das relações familiares e de vizinhança, a data era comemorada com alegria pela comunidade. Depois do rompimento, seguiram-se anos conturbados, muitas vezes marcados pelo luto por pessoas queridas que partiram. Entretanto, uma parte dos(as) moradores(as) de Bento continua a celebrar em seu território, mesmo que, às vezes, não consigam festejar como gostariam. A família Quintão faz parte desse grupo e relembra como eram os Natais antes de 2015. Por Maria das Graças Quintão Santos e Simária Quintão Com o apoio de Juliana Carvalho
As festividades antes eram cada um na sua casa, com seus amigos e família. Tinha também festas nos bares, era maravilhoso. Simples e gostoso, cada um se divertia como queria, tínhamos paz. Íamos em quase todas as casas comer dos variados doces que faziam, íamos experimentar. Quase morria de tanto comer. Hoje está todo mundo longe, não nos vemos mais, não “filamos” mais os doces de Natal. Não temos mais as nossas tradições. Tenho várias lembranças, todas maravilhosas. Tinha missa, depois comilança e muita felicidade. Vou em Bento Rodrigues todos os finais de semana e feriados, passo o Natal e o Ano Novo, mas não é mais o mesmo. Hoje faltam pessoas, falta minha casa, falta minha vida de volta. Mas, mesmo assim, lá em Bento Rodrigues, ainda que destruído, continua sendo o melhor lugar do mundo.
Fotos: Família Quintão
Simária Quintão, moradora de Bento Rodrigues
Desde 2016, a gente vem pro Bento e tenta resgatar um pouco do que era antes do crime, porém não tem jeito de ser igual, porque não são todos que podem vir, em virtude de não vivermos tão perto como antes. As festas de final de ano em Bento eram ótimas, só tinha um probleminha: a gente comia demais, pois, como o Bento era pequeno e todo mundo se conhecia, tinha que experimentar os quitutes de várias casas. Às vezes, reuniam várias famílias, colocavam as mesas na praça e cada um levava um prato. Era aquela farra. Agora, como estamos todos espalhados, muitas vezes, nem algumas pessoas da família conseguimos encontrar. Depois de 2016, passamos o Natal e o Ano Novo em Bento Rodrigues. É que, antes, a gente reunia e, hoje, não tem como devido à distância, pois estamos morando longe uns dos outros. Alguns de nós vão pro Bento e outros não, ficou muito ruim. Maria das Graças Quintão Santos, moradora de Bento Rodrigues
A história da Folia Fundada em 1961
Quando a Folia começou
Zezinho não desistiu
Conhecida por todos
Não tínhamos quase nada
Com medo de acabar
A Folia de Paracatu
Eu usava de instrumento
A Folia de muitos anos
Vem alegrando nosso povo
A lata de goiabada
Que ele passou a dedicar
Batemos de casa em casa
Na tragédia de Paracatu
Vou pedir a vocês
Retiramos a esmola
Tudo da Folia acabou
Que aqui vão ficar
Na canção a despedida
Mas a bandeira ficou intacta
Quando desse mundo eu partir
Quando a bandeira vai embora
Nem de lama se sujou
A Folia continuar
Como símbolo da Folia
Como toda Folia
Mantendo a tradição
Carregamos a bandeira
Também temos nosso guia
Que ela não pode acabar
O palhaço é Zé Nestor
Apesar de muita idade
Façam do jeito que sempre fiz
Que vem fazendo a brincadeira
Vem dedicando a Folia
Sem deixar nada mudar
Mantendo a cultura Que já vem de família
É a história da Folia Contada pelo Zezinho Que expressa nas palavras Todo amor e carinho Poema de Marlene Pereira
Esta página é uma homenagem ao querido José do Patrocínio, o seu Zezinho, mestre da Folia de Reis e morador ilustre de Paracatu de Baixo. Foto: Wigde Arcangelo
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Diálogo como ferramenta de luta
O que faz um grupo de pessoas investirem em empresas que não têm compromisso com a transparência de seus processos, com os direitos das pessoas e com o meio ambiente? Lucro, narrativas distorcidas, poder, entre outros motivos, mas certo é que os investidores de qualquer empreendimento são também responsáveis pelos impactos gerados a partir das atividades nas quais investem, como no caso dos resultados obtidos por empresas como a Samarco, a Vale e a BHP. Nesse sentido, é necessário cobrar respostas de todos os envolvidos e unir esforços para reivindicar a reparação digna diante das mazelas deixadas pela mineração. Em 2018, três anos após o rompimento da barragem de Fundão e com poucas respostas da Renova em relação aos reassentamentos, a Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF) de Mariana decidiu dialogar com os grupos de investidores das mineradoras. Desde então, as pessoas atingidas se organizam para participar de diversas reuniões e encontros, incluindo eventos internacionais, em que falam sobre as consequências da ação da Samarco, da Vale e da BHP nas suas vidas e nas vidas de suas comunidades. Após muito diálogo, alguns investidores deixaram de alocar recursos financeiros nessas empresas e buscaram convencer outros investidores a fazerem o mesmo. Entre as ações lideradas pelas pessoas atingidas com o apoio dos ex-investidores, está a escrita de uma carta cuja proposta é pressionar as autoridades, exigir uma mudança de postura das empresas e recolher outras assinaturas de investidores que querem ver medidas mais contundentes em prol da reparação integral. Por Letícia Aleixo, Luzia Queiroz e Mônica dos Santos Com o apoio de Juliana Afonso e Karine Oliveira
Aqui a gente pede auxílio a todo mundo, mas nem todo mundo consegue ajudar da forma que tem que ser. Então decidimos levar para quem tem o poder de decidir, até mesmo para mostrar no que eles estão investindo. Porque é muito fácil você estar do outro lado do mundo investindo numa coisa que você não sabe a fundo como é. É igual a gente falou para eles nas reuniões que a gente teve: “esse dinheiro é sujo de sangue, é sujo de lama. Toda vez que um crime dessa magnitude acontece, vocês também são culpados, vocês também têm que responder por isso, não só as empresas, mas quem investe também”. Eles ficavam só com um lado da versão, e o lado da versão que eles ficavam é o lado que as empresas mostram, o que o marketing de todas as empresas mostra, principalmente da Fundação Renova, que não é o que parece. A partir do momento que a gente levou o “outro lado da moeda”, coube a eles querer investigar, querer realmente procurar a verdade. Então, assim, foi uma forma de mos-
trar a verdade, mas também de pedir ajuda pra tentar solucionar o quanto antes todas as pendências pra gente voltar a dar seguimento na nossa vida. Mônica dos Santos, moradora de Bento Rodrigues Os atingidos pediram que os investidores escrevessem uma carta mais contundente, também direcionada às empresas e às autoridades, cobrando medidas concretas de reparação. A carta foi construída a partir do diálogo com as pessoas atingidas, mas ainda não foi enviada porque os investidores que tiveram essa iniciativa ainda estão buscando mais assinaturas. Os atingidos e as atingidas que se engajaram nesses diálogos sempre pediram que os investidores viessem ao Brasil, principalmente porque são estrangeiros e não conhecem a realidade local, os modos de vida das comunidades etc. E por mais que ouçam os relatos, é diferente estar
Foto: Caromi Oseas
no território, não é mesmo? Alguns investidores estrangeiros se comprometeram a vir e uma gestora brasileira até visitou, de fato, Mariana, mas, com a pandemia, as fronteiras fecharam. De qualquer modo, os atingidos e as atingidas, desde 2018, vêm pensando em ações que exerçam a reflexão dos investidores sobre o peso político dos investimentos que eles decidem apoiar. Letícia Aleixo, assessora do Projeto de Incidência na Pauta da Mineração da Cáritas MG A gente está conversando com os acionistas e eles é que têm mais contato com o pessoal da BHP, da Vale, da Samarco. Não é a gente que está contando uma história mentirosa pra eles se comoverem, é a realidade. O que a gente quer com a carta é que eles [os investidores] complementem, no caso nosso aqui, a Matriz de Danos e esse reassentamento que “já deu”, como dizem por aí. Ela [a Renova] tem que pôr o dia da entrega definitiva das chaves, porque a indenização está ruim. Com o que eles pagaram pela casa destruída, você não consegue comprar nem um terreno, mal mal fazer a casa. No caso da zona rural então, as benfeitorias, as plantações, a convivência com o rio, o trabalho… Eles têm que olhar essas coisas com mais carinho. Convidamos os investidores pra eles virem, né? Eles falaram que vão arrumar um jeito assim que parar a COVID, que querem ir com a Comissão nos territórios e nos reassentamentos. Luzia Queiroz, moradora de Paracatu de Baixo
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Carta a todas as famílias atingidas pela barragem de Fundão, em Mariana
Vocês não estão sós Gostaríamos de dizer, a cada pessoa atingida pelo crime da Samarco, Vale e BHP, que sentimos muito por tudo que vocês passaram naquele 5 de novembro de 2015 e por tudo que vem passando nestes seis anos. Nossos sentimentos vêm repletos de indignação, esse crime jamais deveria ter acontecido. Dito isso, reafirmamos: contem conosco! Imaginamos o quão difícil é continuar a caminhar e acreditar, mas saibam que nós seguimos caminhando juntos e acreditando em vocês. Temos confiança de que conseguirão reerguer o que a lama derrubou e curar as rachaduras que o tempo fez abrir. Nesses seis anos, vimos o poder do capital se sobrepor às vidas, mas, acima de tudo, testemunhamos a fé, a força e a resistência de um povo de luta, que clama por justiça. Sempre deixamos clara a nossa posição nessa lida, a nossa atuação é, incansavelmente, ao lado de vocês, para que sigam protagonistas de suas vidas e das batalhas impostas pelo crime-desastre. Desejamos profundamente que cada um e cada uma de vocês seja escrevedor(a) da sua própria vida. Foi tirada de vocês parte importante de uma história linda, que há tanto tempo vinham escrevendo. Entendemos que, a todo momento, tentam tirar a caneta que escreve essa história das mãos de vocês. Não permitam! Estamos aqui para contribuir para que essa escrita de si seja possível. Saibam que, apesar de todo o preconceito e toda maldade do mundo, vocês jamais precisam baixar a cabeça. Vocês são fortes e essa força vem da história e da união de vocês, da capacidade que têm de transformar a dor em luta. Vocês são heróis e heroínas dessa história. O território que vocês ocupam há séculos é e sempre será de vocês, não deixem que digam o contrário. Como vocês mesmos nos dizem, se estão há seis anos reivindicando, é porque há seis anos tentam roubar tudo de vocês. É importante que saibam que os rumos do assessoramento que oferecemos é traçado com vocês, ofertamos conhecimentos técnicos que são ferramentas poderosas nas suas mãos, mas são os saberes e as vivências de vocês que tornam esse trabalho efetivo,
Foto: Leonardo Gomes da Silva-Cáritas MG é o uso que vocês fazem dele que dá sentido ao nosso trabalho. Nós fazemos tudo que está ao nosso alcance, entregamos sempre o melhor que podemos. Somos sensíveis à dor de vocês, quando vocês choram, nossos olhos se enchem d’água, o nó na garganta aperta; quando testemunhamos o sofrimento de vocês, compartilhamos um pouco dele também. Mais do que empenho, dedicamos amor, fé e esperança no nosso trabalho em prol da reparação dos danos que vocês vêm sofrendo. Em alguns momentos, a nossa frustração com a perversidade da condução do processo de reparação transparece e qual não é nossa surpresa quando nos vemos consolados por quem deveria estar desconsolado. Então escutamos: "não fique assim... Se vocês não estivessem aqui, seria bem pior!". Gostaríamos de agradecer o cuidado e a força que vocês nos transmitem cotidianamente. A gratidão e a esperança de vocês nos comovem e nos motivam! Agradecemos, especialmente, a cada atingida e atingido que também integra a nossa equipe da Cáritas em Mariana: o empenho e a competência de vocês nos inspiram a fazer sempre mais e melhor! Por fim, pedimos a Deus que Ele vença a luta de todos os atingidos e de todas as atingidas e faça florescer a alegria novamente, em abundância na vida de vocês. Sintam-se abraçados(as) e saibam: vocês não estão sós! Respeitosamente, Equipe da Cáritas MG em Mariana
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A SIRENE PARA NÃO ESQUECER
EDITORIAL 2022 chega com ares de esperança. Com a população vacinada e a diminuição do contágio pela COVID-19, a população segue atenta às medidas sanitárias recomendadas pela OMS, mas volta a se encontrar. E se encontrar é potência. Estar junto é fundamental para renovar os afetos, compreender os novos desafios e articular a luta. Os encontros, claro, não são os mesmos. Após o rompimento da barragem de Fundão, os eventos de fim de ano mudaram bastante. O Natal é um deles. Em matéria do Jornal A SIRENE deste mês, moradoras de Bento Rodrigues contam com saudade das celebrações natalinas na comunidade, quando todos visitavam as casas de parentes e amigos(as) para experimentar os quitutes que eram feitos pelas famílias. Hoje, nem todos conseguem se ver por causa da distância. Ainda assim, algumas pessoas atingidas pegam a estrada para celebrar a data no território. Outro evento que mudou bastante desde o crime foi a Folia de Reis. Na festa em Paracatu de Baixo, os participantes carregavam a bandeira de porta em porta, abençoando a comunidade. Apesar de o rompimento ter feito com que muitas pessoas se mudassem do local, o grupo se esforçou para manter a tradição, guiado pelo mestre José do Patrocínio, o seu Zezinho. Esse ano, porém, a Folia vai ser diferente: no final do ano passado, seu Zezinho faleceu, deixando todos e todas com saudade. Para celebrar sua determinação no comando da Folia e a certeza de que as tradições de um povo estão sempre em transformação, trazemos aqui uma homenagem. Seu Zezinho ilustra a capa desta edição e a poesia de sua filha, a moradora Marlene Pereira, está em uma das páginas do jornal. Munidas de memórias, experiência e perseverança, as pessoas atingidas começam o ano articulando suas lutas. Uma dessas importantes ações tem acontecido desde 2018: o processo de diálogo com investidores(as). Também trazemos uma matéria sobre o tema nesta edição do Jornal A SIRENE. O diálogo, como está escrito, é mais uma ferramenta na luta pela reparação integral, que segue, neste ano, com toda força!
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