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A importância do cuidado com a saúde mental

Ellen Mol e Rosilene Gonçalves são duas mulheres atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, Vale e BHP. Para elas, o cuidado com a saúde mental é muito significativo: tem a ver com estar bem.

As duas participam de atividades no Conviver, serviço público criado em 2016 para oferecer cuidados e suporte em saúde mental às famílias atingidas pela barragem de Fundão, em Mariana. Desde o crime ocorrido em 5 de novembro de 2015, as pessoas atingidas enfrentam constantes impactos, que se arrastam ao longo do tempo. As situações vividas podem trazer diversas reações e alterações nos modos de vida, e cada pessoa pode enfrentar esses desafios a seu modo.

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A atuação da equipe é construída com as pessoas atingidas. Um trabalho de natureza instável, pois se modifica a todo tempo, mediante os processos de reconhecimento e garantia de direitos, de indenizações e dos reassentamentos. Essa elaboração acontece diante de cada necessidade da população atingida, seja com grupos, oficinas, rodas de conversa, visitas domiciliares, atendimentos individuais, incentivo ao resgate das festividades culturais e de lazer, entre outros, seguindo os modos de vida de

“Saúde mental, pra mim, é sobre estar bem consigo mesmo, é sobre uma alimentação saudável, conseguir praticar exercícios físicos É isso. Eu me cuido fazendo coisas que eu gosto: lendo um livro, assistindo uma série, saindo, procurando terapia, caso eu sinta que não estou bem…

O cuidado me ajuda, porque eu consigo me expressar e consigo falar com outra pessoa o que tá me afligindo, o que tá acontecendo no meu dia a dia, e me ajuda a não carregar o fardo sozinha.

Como dica, a principal é procurar terapia, né? Terapia é bom e faz bem, porque conversar com outra pessoa é bom. Ajuda a aliviar o peso, o cansaço. E também procurar ter uma alimentação saudável, procurar fazer exercícios e fazer o que gosta também, né?”

Ellen Mol, moradora de Paracatu de Baixo

“Quando falava em psicólogo, vinha na minha cabeça que era um tratamento de pessoas com problemas mentais, né? Mas depois, na medida que eu fui estudando, foi ficando mais tranquilo pra mim. Aí eu passei a entender o que era realmente. Depois que eu comecei a vir, vi que não era bem aquilo que eu pensava, que ia ficar me fazendo relembrar coisas que não queria. Eu vi que é mais um bate-papo, uma conversa mesmo, pra gente se abrir. Então, eu era um pouquinho mais fechada e me abrir, pra mim, ficou mais tranquilo.

Aí eu vi que, vindo, a minha família já ficou mais tranquila. Eu vejo que não estou mais do mesmo jeito, eu estou mais tranquila, eu tô aceitando as coisas, porque eu era meio agitada, então me fez mais calma.

Eu vi, na religião, que precisava ouvir mais coisas para mudar. Depois que passei a vir no psicólogo, melhorou a minha pessoa, no particular, e ficou ainda ir à missa. Comecei a entender melhor ainda.

A árvore do Conviver, que fica na recepção do serviço, foi construída com a participação de pessoas atingidas que frequentam o espaço, como símbolo do apoio e cuidado em saúde mental realizado de forma coletiva. Cada mão marcada na parede é de uma pessoa que fez parte do espaço em algum momento, seja como usuário do serviço, profissional da equipe, ou instituição parceira

Ninguém vai prum lugar obrigada. Quando eu resolvi, vim por minha conta. Pensei: ‘eu preciso fazer isso para que aqueles à minha volta fiquem bem’. Só que a minha melhora mesmo se deu com as celebrações. Meu remédio é esse, é viver assim.

Meu conselho é procurar se cuidar, porque, assim como foi bom pra mim participar das celebrações pra poder estar junto com o povo, ir no psicólogo também me ajudou a encontrar mais ainda aquilo que eu tinha um pouco de dificuldade. Eu aconselho que vá e que trate da saúde. Procure fazer o que faz bem! Se tem alguma coisa que fez, que fazia tão bem, volte a fazer! E outra coisa é ler as coisas que fazem a gente ser gente, que faz conhecer aquilo que eu sou. Minha cabeça melhora, sinceramente melhora, levanta o astral mesmo!” Rosilene Gonçalves da Silva, moradora de Bento Rodrigues

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