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Medo à sombra da barragem

No dia 5 de maio, populações atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, de Vale, Samarco e BHP, e pelo descomissionamento da barragem Doutor, da Vale, marcaram presença em audiência pública em Antônio Pereira, em Ouro Preto, para discutir os impactos socioambientais na bacia do Rio Doce e os danos na vida das comunidades. A fala que se repetia era o medo do colapso de mais uma estrutura minerária que aterroriza comunidades e arrasa os territórios.

Durante a reunião, moradores e moradoras apresentaram a demanda por uma repactuação que inclua as populações atingidas na mesa de negociação, diferentemente do processo que vem sendo conduzido desde 2020 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Também denunciaram que o Termo de Tran- sação e Ajustamento de Conduta (TTAC) assinado em 2016, feito sem a participação de pessoas atingidas, tem sido reiteradamente descumprido pelas mineradoras e pela Renova, sem punição.

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A audiência foi realizada pela Comissão Extraordinária de Acompanhamento do Acordo de Mariana, da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG), e teve a presença dos deputados estaduais Beatriz Cerqueira (PT), Bella Gonçalves (PSOL), Leleco Pimentel (PT), Macaé Evaristo (PT) e Ulysses Gomes (PT), além dos deputados federais Padre João (PT) e Rogério Correia (PT). Também compareceram representantes da Advocacia-Geral da União, da Secretaria-Geral da Presidência da República e do Ministério do Desenvolvimento Social.

“Eu gosto de andar o dia inteiro e ficar só na rua aqui em Antônio Pereira, antes eu ficava jogando bola. Fiquei sabendo de Fundão, eu era pequena ainda, ouvia os outros falar e também vi no jornal. Não tinha ideia que era pertinho do Pereira, nem tinha importância essa coisa de lama. Depois falou que ia romper Doutor e eu vi todo mundo desesperado com medo de acontecer igual aconteceu em Brumadinho e Mariana. Tem idoso tomando remédio controlado por medo de acontecer aqui igual aconteceu com o pessoal lá. Tem que sentar pra conversar [sobre a repactuação], sem ficar com desespero, até chegar num acordo pra reparação.”

Amanda Diogo, moradora de Antônio Pereira

“Tem muitas crianças que têm medo. Quando fala na barragem, elas começam a ficar nervosas, perguntando se vai acontecer alguma coisa. Igual minha neta, minha neta fica assim também. É aquela coisa, a gente não podia ir lá pra ver, mas a gente tem medo. Eu falei pra minha neta: “olha, se chegar a acontecer, não corre pra lá, corre no sentido à Mariana, no sentido à Lapa”. E ela dizia: “tá bom, vovó”. A gente tem medo. Rompeu em Mariana, depois rompeu a de Brumadinho e a gente aqui, com medo. Muita gente foi embora, inclusive meu filho.”

Duciene Severo de Araújo, moradora de Antônio Pereira

“O maior medo nosso é porque, aqui em Antônio Pereira, tem muita gente que tá com depressão. O posto tá cheio de gente com depressão, já teve suicídio, muita gente com a cabeça ruim por medo dessas coisas. A nossa vida mudou depois da barragem de Fundão. Se você procurar, é problema de saúde demais. Teve colega nosso lá soterrado, que custou achar o corpo para trazer pro velório, aquele choreiro, tudo mudado. Eu adoeci do rim. Tudo ajudou, pode ser das águas. Agora eu tô fazendo hemodiálise segunda, quarta e sexta. Quatro horas deitado dentro de uma clínica de barriga pra cima e plugado.”

José Carlos Faria, garimpeiro e morador de Antônio Pereira

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