A SIRENE
PARA NÃO ESQUECER | Ano 4 - Edição nº 41 - Setembro de 2019 | Distribuição gratuita
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A SIRENE PARA NÃO ESQUECER
Setembro de 2019 Mariana - MG
Aconteceu na reunião AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE REASSENTAMENTO 6 de agosto, Mariana
Na última audiência, os(as) atingidos(as) levaram suas propostas em relação ao reassentamento de Bento Rodrigues. O representante da SEMAD, Rodrigo Ribas, informou às mineradoras que não é necessário um novo licenciamento ambiental para a mudança da localização da ETE no futuro Bento. Também ficou decidido que a Cáritas está responsável pela entrega, até o dia 5 de setembro, da lista de atingidos(as) que desejam ter seus projetos readequados e/ou realocados. O Ministério Público sugeriu que, na próxima audiência, a ser realizada no dia 17 de setembro, às 9h, seja discutido o prazo para a criação de novos núcleos familiares.
APRESENTAÇÃO MATRIZ DE DANOS 8 e 27 de agosto, Mariana
A matriz de danos, realizada pela Assessoria Técnica Cáritas Brasileira, em parceria com demais órgãos e instituições, foi apresentada à comunidade atingida de Mariana. Nas datas, foram abordadas as questões de reparação dos danos imateriais, como mortes, desaparecimentos, prejuízos à biodiversidade, à saúde, à cultura e ao meio ambiente. Posteriormente, serão apresentados os valores referentes às perda materiais, como propriedades, animais, comércio e artesanato. Essa matriz de danos oferece aos(às) atingidos(as) a possibilidade de buscar uma reparação justa por todos os danos causados pelas mineradoras, desde o dia 5 de novembro de 2015.
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DESFILE CÍVICO DE PARACATU E BENTO 31 de agosto, Mariana
A abertura da Semana da Pátria, organizada pela Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal de Mariana, contou com a participação dos(as) estudantes das escolas de Bento Rodrigues e de Paracatu de Baixo. Com o tema “Mariana: tempo de recomeçar”, designado pela Secretaria de Educação, parte as crianças de Paracatu desfilou portando cartazes para pedir justiça para os(as) atingidos(as) da barragem da Samarco, Vale e BHP Billiton. Alguns desses estudantes estavam caracterizados de juízes(as), promotores(as) e de advogados(as). Já as crianças de Bento, trouxeram a flor de lótus como símbolo de esperança em novos tempos. Os estudantes distribuíram, ao público, flores de lótus confeccionadas em papel E.V.A.
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EXPEDIENTE Realização: Atingidos(as) pela Barragem de Fundão, Arquidiocese de Mariana | Conselho Editorial: Expedito Lucas da Silva (Kaé), Genival Pascoal, Letícia Oliveira, Pe. Geraldo Martins, Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio), Simone Maria da Silva | Editores-chefe: Genival Pascoal e Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio) | Jornalista Responsável: Wigde Arcangelo | Diagramação: Júlia Militão | Reportagem e Fotografia: Genival Pascoal, Joice Valverde, Júlia Militão, Juliana Carvalho, Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio), Simone Maria da Silva | Apoio: Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) | Revisão: Elodia Lebourg | Agradecimentos: Greison Anderson de Souza Costa, Larissa Pinto e Tainara Torres | Impressão: Sempre Editora | Foto de capa: Genival Pascoal | Tiragem: 3.000 exemplares | Fonte de recurso: Termo de Ajustamento de Conduta entre Arquidiocesse de Mariana e Ministério Público de Minas Gerais (1ª Promotoria de Justiça de Mariana).
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APARASIRENE NÃO ESQUECER Foto: JOICE VALVERDE
Papo de Cumadres: Opinião:
O desastre da reparação
Consebida e Clemilda, depois de muito observar constataram que a Renova não consegue um dano reparar, sem outro dano causar. Por Sérgio Papagaio
- Cumadre Clemilda, eu me coloquei a repará, ês num consegue cunsertá uma coisa sem uma outra coisa trapaiá. - Eu já tem muito tempu que tô obiservanu ês ta mais trapaianu du que cunsertanu põe sintidu nu que eu tô falanu ês passa com us caminhão com materiá pra fazê reparação e nas istrada, carsa distruição, es as rua todo dia tão cunsertanu e acaba que num fica bão e nu outro dia torna a metê a mão. - Cumadre é tantu carru dês nas rua que nois que é morado tem dificurdade até pra istacioná. - Como disse cumpede Ermínio se cada caminhonete que vem todo dia pra Barra Longa vortasse pra mariana com a carroceria cheia de lama nossas bera de rio já tava bacana e desse jeitu num tinha em Barra Longa nem mais um tiquin de rejeitu. - Eu tô muitu assustada com tanta trapaiada se tivesse boa vontade nossa cidade já tava toda cunsertada, mas ês num qué istu não, fingi fazê reparação mais acaba é duecenu a população cada dia tem cunsertu outra vês, de uma obra marvada que outru dia mesmu já tinha sidu cunsertada. - As vês eu começu a pensá será que ês num tá é quere nus cansá. Com tantu trabaiu pirdidu pamode nóis disanimá. - Então cumadre ocê pra ês pode falá que nós tá acustumada é com as coisa pesada, portantu nós vai resisti e nada duque ês fizé vai nus fazê disisti.
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Opinião:
Por que a Fundação Renova não funciona? Quando Samarco, Vale e BHP Billiton do Brasil fizeram, em março de 2016, um acordo com a União e com os Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, o apresentaram como solução para os danos. Era, na verdade, uma tentativa de darem por resolvidos os problemas que despejaram na Bacia do Rio Doce – e nas vidas das pessoas – até enlamear o mar. De quebra, inventaram um mecanismo que, até certo ponto, buscou afastar sua imagem para longe da Barragem de Fundão e daquele 5 de novembro que, daqui a pouco, completará quatro anos: a Fundação Renova. Essa relativa proteção da reputação das empresas por si só é ruim, mas isso seria secundário se a reparação fosse real. É nesse quadro que a fundação destina recursos milionários para a propaganda de uma reparação de ficção. A existência da Renova foi, desde o começo, questionada pelo Ministério Público Federal, na ação civil pública apresentada à Justiça Federal, em maio de 2016. Mesmo assim, na situação atual, seria ótimo se, corrigidos seus vários problemas, a Renova funcionasse, pois seu bom funcionamento significaria reparação. Para isso, seria preciso atender a algumas condições, reinventando a Fundação Renova, mediante: 1º.) a possibilidade de efetiva participação das pessoas que foram atingidas pelos crimes cometidos; 2º.) o afastamento das empresas poluidoras dos espaços de decisão da Renova; 3º.) a condução eficiente do enorme trabalho necessário a uma reparação integral. Atender a essas três condições poderia levar à legitimação da Renova, só possível se viesse a reparar danos de maneira participativa. Participação é uma das matérias-primas da democracia. Reparar significa permitir que projetos de vida sejam refeitos, em um meio ambiente sustentável, saudável. Isso é o que é primordial. Sem atender a essas condições, a Fundação Renova jamais terá aceitação social. Essa legitimidade mostra-se, a cada dia, mais distante, diante da renovação de danos de um desastre que não cessou. Os fios dessa trama continuam sendo tecidos. Cite-se o exemplo trágico do descaso com a intoxicação de pessoas em decorrência da elevação dos níveis de metais pesados no meio ambiente. Outro aspecto muito grave é a engenharia financeira por detrás da Renova. É que Samarco, Vale e BHP estabeleceram um sistema que leva a que, quanto mais vagaroso for o ritmo inicial de aporte de dinheiro que façam para a Renova, menos precisarão gastar, ao final, com a reparação total. Isso porque o acordo que elas fizeram com a União e com os Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo prevê que os montantes das transferências de dinheiro sejam recalculados, periodicamente, a partir do que tenha sido gasto no período anterior, e não em função do que efetivamente precisa ser gasto. Assim, gastar menos no período anterior traz, para as empresas, como consequência, menores gastos para o seguinte. Respondo o título deste artigo com outra pergunta, que deixo, aqui, para a reflexão dos atingidos: é possível, sem uma alteração radical, que esse sistema funcione?
Por Edmundo Antonio Dias Netto Junior, procurador regional dos direitos do cidadão substituto do Ministério Público Federal em Minas Gerais e integrante da força-tarefa Rio Doce
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foto: joice valverde
Minas será plana POR: SÉRGIO PAPAGAIO
Não terá mais o encanto das montanhas, Suas águas turvas, suas estradas sem curvas, Seus mistérios desvendados, seus sonhos transbordados, seu povo transtornados, afugentados, aterrorizados, Nivelada a linha do horizonte, pois o diabo comerá seus montes. Minas virará um grande lingote de ferro maciço, Uma barra de ouro misto, Ao som do povo entoando um grito de socorro, Sob o domínio da Vale, com seu tridente, Minas, agora doente, mandará para o mar o resto que sobrar do verbo minerar.
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Fotos: Greison anderson de souza costa
Fazenda da Barra: marcas do crime
É comum que construções centenárias recebam os cuidados devidos para que sejam conservadas. Os(As) proprietários(as) da Fazenda da Barra, local onde viveu o fundador de Barra Longa, tentam preservar o espaço, mas o crime do rompimento da Barragem de Fundão pela Samarco, Vale e BHP Billiton atingiu as estruturas do casarão histórico. Por Greison Anderson de Souza Costa, José Osvaldo Mól Carneiro e Rubia Lemos Ferreira Carneiro Com apoio de Wigde Arcangelo
A centenária fazenda da Barra é uma obra histórica atingida pelo rompimento da Barragem de Fundão. Situada no encontro dos rios Carmo e Gualaxo, a fazenda viu suas terras serem devastadas pelo tsunami de lama de rejeito, que levou seus cultivos e pastagens, e deixou rastros de destruição. Greison Anderson de Souza Costa, morador de Barra Longa
Depois, veio o drama com a sede da fazenda, devido ao forte trânsito de caminhões pesados e com alta velocidade no entorno da sede, que vem trazendo danos à estrutura centenária, como rachaduras e trincas, e que ocasiona abalos na fazenda. Isso tira o sossego da família, que tinha o local como descanso aos finais de semana. Rubia Lemos Ferreira Carneiro, moradora de Barra Longa
Desde 2016, o proprietário informa à Fundação Renova sobre os prejuízos que o tráfego gerou e a resposta que se ouve, por parte da empresa, é que nada pode ser feito, negando a reparação. Isso mostra o descaso com um patrimônio cultural e histórico do município, pois a Fazenda da Barra é a primeira fazenda da cidade de Barra Longa, onde foi a morada do fundador do município, Matias Barbosa, que, em 1701, da varanda da fazenda, vendo o encontro dos rios, originou o nome de Barra Longa e, consequentemente, da Fazenda da Barra. Greison Anderson de Souza Costa, morador de Barra Longa
Quero apenas que a justiça seja feita e que meus direitos sejam ressarcidos, nada mais além disso. José Osvaldo Mól Carneiro, morador de Barra Longa
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O trauma da reconstrção Foto: WIGDE ARCANGELO
Após constantes problemas com as obras, atingidos(as) conseguem, a partir de reivindicações, a formação de uma equipe técnica para acompanhar o processo de construção e de reforma das casas em Barra Longa. O grupo é composto por profissionais de diversas áreas e está ligado à equipe de moradias da AEDAS, que assegura a participação dos(as) atingidos(as) nas etapas de entrega das casas. Por Anderson de Carvalho Cerqueira, Cristiane Martins, Danielle Passos Jorge, Maria de Fátima dos Santos Castro e Maria Martins de Carvalho (Zezé) Com apoio de joice valverde, simone silva e wigde arcangelo
A lama de rejeito veio, entrou na minha casa debaixo, abalou a casa de cima. Aí a gente pediu para reformar, aí eles falaram que iam reformar só lá embaixo. Eles estão arrumando lá embaixo, mas estão arrumando do jeito deles. Eles falam que quando nos tiraram de nossas casa, temos que voltar com ela melhor do que estava, mas qual melhor? Tá pior. Quando é militante, eles cutucam a gente para desistirmos e irmos para o lado deles, porque, se formos para o lado deles, talvez eles façam para a gente. É tristeza, dá vontade de chorar ver a nossa casa desse jeito, e rico não precisa nem reclamar. A gente é pobre, não tem auxílio, não tem nada. A diferença que tenho, para as outras pessoas que conseguem a casa, é que sou militante. A casa de rico, eles fazem o melhor possível; militante, preto e pobre não consegue nada. Cristiane Martins, moradora de Barra Longa Eu pedi para eles fazerem uma cozinha com fogão a lenha, porque tinha antes, na casa que foi desmanchada. Agora, a cozinha e a lavanderia estão muito pequenas. A Renova falou que eles iam fazer a casa do jeito que era antes, mas diminuíram a minha casa. Eu quero um muro, quero uma cozinha do jeito que era antes, já deixei escrito lá. A engenheira do escritório mandou eu aguardar, disse que está difícil de fazer. Mandou eu entrar na casa para, depois, eles tentarem mudar. Eu tô com medo de fazer mais reclamação e demorar mais para me mudar. A Renova diz que, se eu pedir muita coisa, eles vão demorar a me devolver a casa. Tá demorando bastante. Começaram a reforma em 2015. Em dezembro de 2016, ficou pronta e eles não conseguiram me dar até hoje. Hoje, tenho que subir morro, tenho pressão alta e me dá formigamentos nas pernas de tanto subir morro. Maria Martins de Carvalho (Zezé), moradora de Barra Longa Está chovendo e está molhando tudo, porque as telhas se movimentaram, encardiu tudo. Tirando as rachaduras que eles falaram que não foi o caminhão que causou, que deve ser criança que bateu
coisa na parede. Aqui, a gente só tem uma criancinha que não tem nem um ano. Eles põem a gente tensa, porque você não tem onde recorrer, não tem psicológico, não tem nem palavra. As palavras até somem, porque não tem como, você para e pensa: “gente, como é que eu vou fazer agora?”. Não tem jeito. Ontem, eu fiquei tão brava, mas fiquei brava à toa, porque ninguém podia me ajudar. Você ter que correr atrás de coisa que eles são obrigados a fazer para você é muito desaforo. Maria de Fátima dos Santos Castro, moradora de Barra Longa Minha casa, hoje em dia, tá aí, só levantada. Eles levantaram a minha casa e disseram que iriam entregar no fim do ano passado, mas não sei o que eles fazem, depois falaram que seria em março deste ano. Eles só mudam a data, mas não colocam ninguém para trabalhar. A equipe técnica vai ajudar muito, porque tem muita gente desempregada que precisa deste serviço. Anderson de Carvalho Cerqueira, morador de Barra Longa Arquitetos, engenheiros, historiadores, psicólogos e assistentes sociais trabalharão com os atingidos no entendimento de todo o processo da reforma, para explicar o projeto e ver se está de acordo com a expectativa levantada por eles. No território serão feitas vistorias para indicar se a casa tem condição de permanecer em pé, se é caso de demolição, se é possível reconstruir no mesmo terreno ou, caso o terreno não tenha mais condições de receber uma estrutura, fazer o reassentamento dessa família. Os atingidos têm também o direito de escolher como será a reforma da casa, se será feita por terceirizadas da Fundação Renova, por uma construtora local, por conta própria ou por forma coletiva de construção (mutirão, associações, pequenos coletivos, entre outros). Essa escolha já foi garantida por meio de parâmetros e de diretrizes aprovados no ano passado. Danielle Passos Jorge, arquiteta e urbanista da assessoria técnica AEDAS
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Em quatro anos, um tij
Às vésperas de completar quatro anos do rompimento da barragem da Samarco, Vale e BHP Billiton, a Fundação/Samarco comemora a colo do reassentamento de Bento Rodrigues, em Lavoura. Após anos de divergências e de projetos malfeitos pela Fundação, o marco evidencia qu de luta pelos próximos passos nas obras do novo Bento. Por Antônio Pereira Gonçalves (Dalua), Marly de Fátima, Marquinhos Muniz e Mauro Silva Com apoio de joice valverde, júlia militão, juliana carvalho e wigde arcangelo
Pra mim, o primeiro tijolo simbolizou a renovação da minha esperança. Eu já estava desacreditada que isso, um dia, ia acontecer, porque a gente sabe que a empresa gosta muito de enrolar. Então, o primeiro tijolo sendo colocado fez a gente acreditar, deu forças pra continuar lutando. Mas, quando eles me chamaram pra conhecer o lote onde vai ser minha casa, veio uma decepção, pois não era nada daquilo que eu tava imaginando. É um lugar muito feio. Estou lutando pra eles me colocarem em um lugar melhor, onde eu espero ficar.
As pessoas começaram a ficar doentes, então, p A gente vem acompanhando e, pelo dia que assento chamou a Rede Globo, a comunidade, chamou se mesmo tá muito devagar. Eu vejo que eles agem aquilo que eles tiraram de nós não é somente a ca por exemplo, porque o que perdemos não tem pr
Marqu
Marly de Fátima, moradora de Bento Rodrigues
Eu participei do evento, foi muito bonito o pessoal emocionado, todo mundo já esperando. Eu mesmo fiquei muito tempo com esperança, a gente fica naquela felicidade de ver aquilo acontecer. Porém, já tem quase 30 dias que foi colocado o tijolo e eu fui lá na semana passada, tava na metade daquela casa ainda. Eu falei com o pessoal da empresa: "eu não entendo. Porque fez todo aquele evento, tudo aquilo bonito, e não andou?". Aí eles falaram: "ah, porque nós fizemos aquilo e não tinha a equipe contratada". Se não tivessem a equipe contratada, acho que não deveria ter também o evento. A gente cria uma expectativa: começou, agora vai andar. Mas não, só começou. Por isso que existe tanto atraso. Antônio Pereira Gonçalves (Dalua), morador de Bento Rodrigues
A sensação que eu tenho é, ao mesmo tem começo da obra está sendo numa data que já era realmente se empenhado em fazer aquilo que era foi construída, que era reparar de forma justa e rá que tem se postergado muito. Decisões que eram foram tomadas de forma unilateral e em desenco
Até a entrega no prazo, a gente tem que entregar no prazo, mas você não pode nunca com qualidade? Tá sendo um serviço que voc
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APARASIRENE NÃO ESQUECER Fotos: genival pascoal
jolo
ocação do primeiro tijolo da primeira casa ue o momento não é de comemoração, e sim
para tirar a ansiedade, começaram a fazer as casas. tou o primeiro tijolo, pouca coisa andou. A Renova ei lá mais quem, pra fazer a divulgação, mas a obra m assim, enrolando pra ganhar tempo. Devolver asa, foram tantas outras coisas. Indenização justa, reço, dinheiro nenhum paga.
uinhos Muniz, morador de Bento Rodrigues
mpo, de esperança e de impotência, porque o para ser o final da obra. Se as empresas tivessem a proposto, aquilo pelo qual a Fundação Renova ápida, as coisas teriam acontecido. Mas a gente vê m pra ser tomadas em conjunto com os atingidos ontro com os anseios dos atingidos. Mauro Silva, morador de Bento Rodrigues
e prestar bem atenção. Porque uma coisa é a esquecer da qualidade do serviço. Tá sendo cê vai se sentir bem dentro daquela obra que tá ali? Eu não me importo se a empresa tá colocando 1, 2, 3, 10, 20 pedreiros pra fazer uma casa. O importante é que ela seja de qualidade, que a pessoa vai se sentir bem vivendo, de acordo com o proprietário da casa. Antônio Pereira Gonçalves (Dalua), morador de Bento Rodrigues Eu fico muito ansiosa para voltar pra minha casa, mas eu quero voltar e ficar bem, não quero voltar pra um lugar e continuar me sentindo mal, já chega estar numa casa que não é da gente. Como tá atrasado quatro anos, não me importo se atrasar mais dois ou três anos. Apesar disso, minha ansiedade é muita de voltar tendo minha casa, vou saber esperar com paciência. Marly de Fátima, moradora de Bento Rodrigues Nas audiências, a gente vê que as opiniões dos atingidos não são levadas em consideração. Estamos na audiência meramente como instituição figurativa, sem poder de voz. Eu percebo que nós estamos sendo usados para validar algo que já está previamente definido. O que as empresas vêm sempre pregando - isonomia, imparcialidade -, isso não tem acontecido. A gente lamenta, porque é um processo reparatório, não é nada que seja feito a título de bonificação, como se fosse algo que se faz para alegrar as pessoas, por assim dizer. O reassentamento é um ato de reparação por algo que foi retirado de forma criminosa, e essa reparação não tem sido feita de forma justa. A gente lamenta por esse espaço não ser democrático. Mas vamos continuar na luta, a gente não vai desistir. Mauro Silva, morador de Bento Rodrigues
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Não seremos ouvidos sobre o futuro do nosso patrimônio? Após o rompimento da Barragem de Fundão, a comunidade de Bento Rodrigues começou a discussão sobre, no futuro, tornar o território um museu. A partir de abril de 2016, o Ministério Público, em conjunto com o Conselho de Patrimônio de Mariana (Compat), propôs o tombamento de Bento Rodrigues. No segundo semestre de 2016, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foi incluída no processo, com a criação de uma disciplina, na Escola de Arquitetura, para o auxílio desse processo. Em maio de 2019, a UFMG entregou um dossiê sobre o tombamento ao Ministério Público. Houve críticas por parte dos(as) atingidos(as) em função da elaboração do documento não envolver a comunidade atingida de forma efetiva. Por Janaína Flores, Lucimar Muniz e Maria Cecília Alves Com apoio de Juliana Carvalho e Wigde Arcangelo Foto: LARISSA PINTO
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APARASIRENE NÃO ESQUECER Geralmente o processo de tombamento parte de um dossiê. Quem faz esse dossiê não é a Prefeitura, ou o Estado, ou o Iphan. Algum órgão faz um dossiê para trazer qual é a história daquele bem, quais são as características e significância desse bem para o município ou para o Estado, porquê ele precisa ser tombado. Caso ele venha a ser tombado, por exemplo, se é alguma coisa arquitetônica, urbanística, um bem material, tem um perímetro de tombamento, o entorno, quais são as diretrizes. Esse dossiê é apresentado junto aos órgãos competentes que vão, de fato, instituir o tombamento. O dossiê serve como um subsídio. O dossiê não significa tombamento. O dossiê é um documento que justifica e explica como é aquele tombamento, os órgãos tombam e são responsáveis por proteger o bem. Maria Cecília Alves, assessora da Cáritas Estamos falando de uma proposta que trabalha diretamente a história, a memória, a identidade das comunidades atingidas. Dos que davam vida àquele território, e também falamos do maior desastre crime socioambiental desse país e um dos maiores do mundo relacionados à mineração. Ou seja, hoje, este território tem uma grande relevância mundial. No entanto, qualquer discussão quanto ao futuro deste território não pode ignorar os seus protagonistas. Fato que, até o momento, vem sendo ignorado. As discussões sobre este futuro acontecem afastadas do território e são feitas por quem sequer pisou nele. Lucimar Muniz, familiar de moradores(as) de Bento Rodrigues Acima de tudo, temos que receber nossas casas. Temos que ter mais conhecimento de todo o processo, mais participação e voz. Correm para apresentar documentos que muitas vezes os atingidos e proprietários dos imóveis atingidos não tem conhecimento, acabam deixando a decisão com órgãos públicos e nós, que perdemos tudo, principalmente nosso chão sagrado de nossas casas… Até hoje, quatro anos, nada. Só papeis, reuniões e mídia em favor das empresas. É uma falta de respeito conosco, somos trabalhadores, seres humanos, e estamos sofrendo. Cada dia mais a dor não passa e sim, só aumenta. Até quando vão tampar os olhos para a verdade? Janaína Flores, moradora de Bento Rodrigues As pessoas não pediram para passar lama na casa delas. É um crime. Elas foram forçadas a sair de suas casas, a abandonarem seus territórios, a abandonarem seus modos de vida, seus modos de produção. Agora elas estão em moradia provisória e, em uma expectativa de se celebrar, de preservar a vida local, tomam-se decisões arbitrárias acerca de um território que ainda pertence às pessoas e que elas nem queriam sair de lá. Então como não ouvir e incluir essas pessoas na conclusão de qual a destinação desse território? Porque o território continua sendo das pessoas, as pessoas continuam tendo relações sentimentais, físicas, práticas e sociais com aquele território. Qualquer decisão arbitrária em relação a destinação dessa área atingida é mais uma violação, é mais uma violência em relação a essas pessoas que continuam sendo donas e que não pediram pra sair de lá. O dossiê é um documento que justifica e explica como é aquele tombamento e os órgãos são responsáveis por efetivar o tombamento. Maria Cecília Alves, assessoria da Cáritas Há quase quatro anos aguardamos por este tombamento. No entanto, esta proposta, assim como a que foi realizada pelo IEPHA (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico), não foi construída em conjunto com a comunidade. Esses fatos são muito preocupantes, pois, como em tantos processos já vividos até o momento, resultam em novas violações aos direitos das comunidades atingidas. Este tombamento é uma ferramenta de proteção das marcas deixadas neste território em 5 de novembro de 2015. Mas não se pode ignorar quem nasceu e cresceu naquele local. É preciso existir diálogo e respeito pela por meio de seu envolvimento neste processo. Não se envolve ninguém com proposta construída em gabinete. Há anos, discutimos a necessidade de ser realizado um trabalho de educação patrimonial com as comunidades, algo que também não foi feito até o momento. Anteriormente, as mineradoras decidiram o futuro das comunidades abaixo de seu complexo sem qualquer questionamento se eles desejavam aquele futuro. Hoje são os "aliados" que repetem este processo, não dá mais. Lucimar Muniz, familiar de moradores(as) de Bento Rodrigues
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Foto: wigde arcangelo
João Leôncio e um dos dois únicos cachorros que permaneceram com ele após o crime.
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A fé e a espera de João O crime da Samarco, Vale e BHP Billiton altera a vida dos(as) atingidos(as) de diversas formas. João Leôncio construiu a sua vida em Bento. Mudou-se aos 20 anos e lá se converteu ao Evangelho, construiu uma família, adotou diversos cães e cultivou um grande afeto pelos animais. Hoje, ele ainda vai ao cultos, mas não mais diariamente. Aqui, longe de Bento, carrega a sua maior saudade: seu cachorro Fred.
Por João Leôncio Martins Com apoio de Júlia Militão e Wigde Arcangelo
Eu nasci na região de Piranga. Vim para o Bento em 1972. Tem bastante tempo, uns 47 anos, por aí. Não pretendia sair do Bento, não. Eu pensava que ia morrer lá. Mas, infelizmente, aconteceu que a barragem estourou, aí não teve outro jeito a não ser sair. Mas eu gostava de lá, gostava mais do que de onde eu nasci. Eu fui pra Bento, porque eu tinha um tio que trabalhava numa companhia que mexia com reflorestamento, ele arrumou um serviço pra mim. Trabalhei um tempo na empreiteira, depois fichei e, por lá mesmo eu fiquei. Trabalhei uns nove anos nessa empresa, saí dela, trabalhei mais ou menos um ano na Prefeitura. Quando terminou esse serviço, eu comecei a mexer com garimpo, acabou que acostumei e fiquei por lá mesmo. João Leôncio Martins, morador de Bento Rodrigues Relação com a igreja Eu me converti com uns 37 anos, em 1989. Eu já estava em Bento. Me converti na Assembleia de Deus, onde congreguei. Eu era o ajudante do pastor. Aí, nos dias em que ele saía, eu dirigia os trabalhos. O que mudou, aqui em Mariana, é que lá a gente ia ao culto quase todos os dias da semana. Tinha dia em que a gente fazia culto nas casas dos irmãos. Tinha culto de segunda a sexta, só dia de sábado que não tinha. E aqui não, aqui, normalmente, os cultos que eu vou é dia de domingo e terça. Mas lá não, lá eu ia a semana inteira. A igreja era, mais ou menos, a uns 100 metros de distância, pertinho de casa. Aqui dá um quilômetro e pouco. É um pouquinho mais longe. No Bento, a gente conhecia todo mundo. Aqui, até hoje, eu não conheço os irmãos todos da igreja. Vai fazer quatro anos que estou congregando aqui e não conheço quase ninguém por nome. Aqui é diferente, eu só fico na porta, na entrada da igreja. Lá não, lá eu já ficava no púlpito. Mas eu gosto, gosto de ficar na porta, porque a gente tem ligação com as pessoas. João Leôncio Martins, morador de Bento Rodrigues Saudade que fica O que mais me deixou sentimento de lá é cachorro. Eu tinha cinco cachorros. Eu andava pro garimpo todo dia e levava eles,
eram como gente pra mim. Com eles, eu conversava, eu brincava, eles iam e voltavam comigo todo dia. Um deles, o Fred, era preto, das patas brancas, barriga branca, barbudinho. Ô cachorro que gostava de mim. Antes, eu tinha um outro Fred que gostava de mim, aí eu pus o nome desse de Fred por causa daquele. Cê acredita que o cachorro ficou igual ao primeiro? O cachorro ficou gostando muito de mim. O primeiro que eu tinha, se ele estivesse perto de mim e chegasse uma pessoa correndo na minha direção, ele pulava nela. Eu pus o nome desse de Fred também e ele ficou gostando de mim da mesma forma que o outro. No dia em que a barragem estourou, eu tava uns 50 metros longe de casa, conversando com uns colegas na porta do açougue. Eu ouvi falar que a barragem estourou, aí eu fui em casa avisar a minha esposa e minha neta. Dali mesmo que eu falei, a gente já pegou tudo e rachou fora pro morro, mas minha esposa disse que os cachorros estavam amarrados lá em casa. Voltei lá, tinha dois cachorros amarrados e três soltos. Desamarrei os dois que estavam amarrados e saí. Chegaram uns bombeiros, polícia e eu fiquei lá perto dos helicópteros, e meu cachorro Fred não apareceu. Depois de uns quatro dias, eu voltei pra procurar o cachorro e não achei. O bombeiro disse que o cachorro tinha sido levado pro canil, mas ele não tava lá. Esse cachorro não saía de perto de mim. Pra eu sair de casa, era difícil ele não me acompanhar. E esse cachorro ficou lá. Eu já revirei tudo, até em canil em Ouro Preto, e esse cachorro não apareceu. Eu tô achando que eles deram ele pros outros, só pode ser, eu ouvi falar que teve gente até de São Paulo que levou criação de Bento, então acho que esse cachorro foi pra lá. Se eu soubesse de um investigador que conseguisse descobrir, eu tinha coragem de arrumar um pra olhar isso, pra ver aonde esse cachorro tá. Todo dia eu peço a Deus pra me mostrar esse cachorro. Meu aborrecimento é esse cachorro. E logo o coitado foi ficar lá. Não esqueço dele, às vezes, eu tô andando, me dá uma tristeza, eu lembro dele, porque ele não me largava. Mas eu ainda tenho esperança dele aparecer. Às vezes, quem tá com ele, na hora que arrumar esse Bento, pensa que ele era de lá e joga ele lá de novo. Eu ainda tenho essa esperança dele aparecer. João Leôncio Martins, morador de Bento Rodrigues
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Todo dia um remendo
Foto: joice valverde e sérgio papagaio
Na edição de janeiro de 2019, o Papo de Cumadre denunciava as eternas obras nas ruas de Barra Longa. E, próximo de completar quatro anos do rompimento da Barragem de Fundão, os moradores continuam sofrendo com os transtornos causados pelas empresas contratadas pela Samarco, Vale e BHP para realizar obras de reparação na cidade. POR JOSÉ EDUARDO COELHO FILHO (ZEZÉ DE TANINHA) E MARIA AUXILIADORA ROCHA MACHADO (DORA) COM APOIO DE JOICE VALVERDE E SÉRGIO PAPAGAIO
Eles tiram o bloquete e colocam outro, não sei se é na terra ou na areia, fica uma poça de barro, aí os carros passam e jogam tudo pra dentro de casa. A parede tá toda respingada de barro, tem que lavar todo dia, até a cortina tive que trocar. Vou ao escritório da Renova pra ver se eles arrumam, pelo menos, a frente da casa, pra não passar o Natal com isso sujo. Dora, moradora de Barra Longa A reforma do asfalto custou meu tempo. Voltou a abalar a casa, porque aquele rolo compressor de ferro dá uma trepidação danada. Eu tenho uma criança de um ano e sete meses em casa, você imagina o barulho e a poeira. Zezé de Taninha, morador de Barra Longa
Setembro de 2019 Mariana - MG
APARASIRENE NÃO ESQUECER
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Quando irão acabar as obras em Barra Longa? Não tem prazo de nada. Fecharam a pracinha num fim de semana pra fazer obra de pavimentação. Agora, imagina, um lugar que, praticamente, é o acesso da cidade, você ter que dar a volta na Beira Rio. Na rua 1° de Janeiro, toda semana, tem que trocar um bloquete que afundou. Faz quatro anos agora em novembro e tem ainda muita coisa pra fazer, as obras grandes nem começaram. Zezé de Taninha, morador de Barra Longa Vai fazer dois anos que moro aqui, diariamente tem problema pra arrumar, a última vez foi esse mês. Quando tá acontecendo obra, a gente fica interditada, não tem como sair pela garagem. Dora, moradora de Barra Longa
EDITORIAL Desde novembro de 2015, várias incertezas originadas pelo crime da Samarco, Vale e BHP Billiton cruzaram as vidas dos(as) atingidos(as). Elas ocorrem de diversas formas e em vários setores das comunidades atingidas. Em julho, o Jornal A SIRENE, veículo de comunicação de denúncia e memória dos(as) atingidos(as), feito por e para os(as) atingidos(as), deparou-se com uma dessas situações. Anunciamos uma pausa por tempo indeterminado. No entanto, A SIRENE retorna, neste mês de setembro, com o intuito de seguir sendo o espaço para as vozes das comunidades atingidas que lutam pela reparação dos danos causados pelo crime. Nesta edição de retorno trazemos, na capa, as obras de construção do novo Bento, em Lavoura. O reassentamento, uma das lutas dos(as) atingidos(as) desde novembro de 2015, começou a ter os primeiros tijolos colocados quase quatro anos depois. Mas isso não significa o fim da luta. Na matéria especial deste mês, trazemos relatos que reforçam a necessidade de continuarmos firmes na resistência por um reassentamento justo e pela reparação integral dos direitos. Construções e obras estão presentes por quase toda a edição do Jornal. Em Barra Longa, o crime que atingiu/atinge as comunidades obriga as pessoas a viverem em meio a canteiros de obras e transtornos causados por falhas no processo de reparação de moradias. Os aborrecimentos vão desde a demora na entrega das casas, algumas já prontas, até insatisfações com a qualidade e adequação das reformas. Essas obras inacabadas, mesmo quase após quatro anos do crime, mostram o descaso em obrigar os(as) atingidos(as) a viverem um processo lento de reparação. O Jornal A SIRENE continua sendo o espaço de ecoar essas denúncias.