Breviglieri

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8 Perfil

Professor aposentado adentra ao universo das letras e explora sua verdadeira vocação Escritor José Antonio Breviglieri publica poemas existenciais, contos e romances ligados às descobertas da sexualidade Por Giovanni Giocondo

Evolução da poesia

Na adolescência, Breviglieri conheceu poetas brasileiros, como Castro Alves e Gonçalves Dias, a quem admira e nos quais se inspira, e aos poucos foi rabiscando as primeiras poesias. “Sempre tentava escrever com estrofes concentradas no ‘eu’. Mas quando me atirei para fora de mim, percebi que havia um mundo em volta e a minha poesia mudou. Esse despertar foi a ebulição de uma vida”, reflete. O contato com o existencialismo presente na obra do filósofo francês Jean-Paul Sartre influenciou o trabalho do escritor, então um rapaz que se preparava para cursar a faculdade de

Minha poesia é feita de questionamentos. Eu não procuro e nem encontro soluções para nada

Giovanni Giocondo

Q

uando José Antonio Breviglieri iniciou seu caminho pelas letras aos 7 anos, ele não imaginava que um dia se tornaria o reconhecido escritor que, aos 68, já até perdeu as contas de quantas obras tem publicadas e premiadas – e ainda a publicar. Na casa onde vive ao lado da irmã no Jardim Nossa Senhora Aparecida, Breviglieri recebeu a reportagem do Brasil Atual, contou um pouco dos seus causos e das histórias que disseminou e que continua a divulgar. Os olhos nostálgicos não podiam deixar de viajar aos tempos da escola, quando começou a ter aulas de redação e a “devorar” os livros. “Quando éramos crianças, aprendíamos, primeiro, a reproduzir histórias contadas pelo professor nas nossas palavras. Depois, descrevíamos o que víamos em paisagens de pinturas. Foi aí que eu despertei para sair daquela opressão da sala de aula. Queria estar na paisagem”, explica.

letras. “Minha poesia é feita de questionamentos. Eu não procuro e nem encontro soluções para nada”, diz o autor, que tem em Elegia à Palavra sua principal obra no campo poético. Lançado em 1996, o livro, segundo ele, foi feito para “escandalizar” os leitores com odes às zonas erógenas do corpo. “A boca, os seios, o falo e a vagina são alvo dos meus versos, mas se você esperar por pornografia, vai se decepcionar”, brinca, reforçando que “o poema não pertence mais ao poeta quando outra pessoa o lê”.

Romance rende sucesso

“Meu sonho sempre foi escrever um romance. Depois que me aposentei consegui levar essa ideia adiante”, con-

ta Breviglieri, que alimentava esse pensamento enquanto lecionava língua portuguesa na rede estadual de ensino, na capital paulista, durante 20 anos. Baseado em fatos reais, Underground – Sob Este Chão que Pisamos é a história de um médico, casado e pai de dois filhos, que reinventa sua sexualidade ao se encantar por um detento na prisão onde faz atendimento aos internos. A partir dessa experiência, o protagonista passa a conviver num submundo das pessoas de gêneros e condições sociais marginalizadas pela sociedade. Publicado em 2012 e com a 1ª edição esgotada, a obra foi colhida na fonte. “Ouvi a história de um amigo, que inspira o personagem principal, e resolvi que faria o romance”, confessa.

Conto inusitado recebe prêmio Em 2000, Breviglieri conseguiu o 1º lugar na categoria Literatura do Mapa Cultural Paulista com o conto Um Retrato, uma história dramática que se passa em uma fazenda onde uma vaca feita para procriar e um touro reprodutor se personificam e “descobrem o amor”. Entretanto, por conta dos destinos já traçados pela indústria alimentícia para ambas as espécies, os dois animais acabam se separando e encontrando fins trágicos de sua “paixão proibida”. “Por fim, restaram apenas ossos. E uma ave negra pousou sobre sua caveira branca, talvez para descansar de seu eterno voo”, diz um trecho do conto.


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