Educação outubro 2015

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Bebedouro Educação

Plano de Alckmin prevê o fechamento de até 1.000 escolas no Estado de São Paulo Professores, pais e alunos protestam contra política de “reorganização do ensino”, que isola ciclos em 2016

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om a justificativa de “reorganizar e qualificar o ensino no Estado”, a Secretaria Estadual de Educação propôs mudanças na estrutura das escolas públicas. O secretário Herman Voorwald anunciou em 23 de setembro o projeto que separa fisicamente os dois ciclos do Ensino Fundamental e o do Ensino Médio, sob justificativa de desempenho 10% superior em escolas de ciclo único, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Unidades com alunos da mesma faixa etária concebem um ambiente mais propício para a aprendizagem, assinala Voorwald em texto no site da pasta. De acordo com a secretaria, a proposta foi baseada em um “mapeamento de vagas ociosas”. As comunidades afetadas fazem resistência ao projeto, porque ele deve vir acompanhado do fechamento de salas de aula e escolas – só em 2015, o governo do Estado já fechou 3.390 classes. Vinicius Santos, de 16 anos, aluno do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Antônio de Almeida Júnior, em Osasco, diz que os alunos foram avisados pela diretoria de que a escola fecharia devido ao “corte de gastos do governo estadual”. Segundo o estudante, outros cinco colégios da cidade correm o mesmo risco. “Vamos perder um vínculo, a escola é a nossa segunda família. Com certeza a sala será superlotada em outra escola. E quanto mais gente, mais difícil aprender”, explicou o jovem, que tem participado dos protestos contra os fechamentos. As manifestações tomaram conta de todo o Estado. Além da capital, ocor-

reram passeatas em Catanduva, Araçatuba, Leme, Ribeirão Preto e Bauru. Em São Paulo, alunos da Escola Estadual Padre Sabóia de Medeiros, no bairro Chácara Santo Antonio, ficaram revoltados após serem comunicados do possível fechamento da escola, que é referência em educação para alunos com deficiência auditiva e atende a pessoas de vários bairros carentes do extremo sul da capital. Conforme relata Alexsandro Fontes, de 18 anos, estudante do 2º ano do ensino médio, “a justificativa da diretoria foi a falta de alunos, mas todas as salas estão lotadas, algumas com mais de 40 pessoas”, denunciou. A assessoria de imprensa da Secretaria de Educação informou que

o projeto está sendo discutido com as diretorias regionais de ensino e que haverá um encontro para que a comunidade “tire dúvidas sobre o projeto” em 14 de novembro.

Municipalização e evasão A Secretaria Estadual de Educação incluiu no Plano Estadual de Educação (PEE) metas que, segundo a Apeoesp (Sindicato Estadual dos Professores), preveem municipalizar o segundo ciclo do ensino fundamental e até o ensino médio nos próximos anos. “O governo quer responsabilizar as prefeituras como fez com o primeiro ciclo, que piorou muito”, conta Edivaldo da Costa, coordenador da entidade em Limeira.

Outra medida sugere que os estudantes dos cursos noturnos se matriculem no diurno – o que deve aumentar a evasão, atualmente em 50% no ensino médio. Para Rogéria de Palma, professora de língua portuguesa na Escola Estadual Professora Ely de Almeida Ramos, em Limeira, a proposta desrespeita o aluno que trabalha. “O aluno já é desestimulado porque falta tempo. Agora ele vai abandonar e depois fazer a EJA (Educação para Jovens e Adultos). O governo não está preocupado com a educação pública, até porque são pessoas das classes sociais mais baixas que dependem da escola pública. Para que o governo vai investir nessa gente?”, questiona com ironia.


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