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Pesquisa aponta que brasileiro mantém baixa capacidade de interpretação de textos e ilustrações Dificuldade está relacionada com a “falta de cultura de leitura e de interesse por temas sociais”, diz professor

Por Giovanni Giocondo

mínio dos três quesitos e se encontravam “plenamente alfabetizados”, ou seja, com habilidades que não impõem restrições para compreender e interpretar textos usuais, já que leem conteúdos mais longos, analisam e relacionam suas partes, comparam e avaliam informações, distinguem fato de opinião, e realizam inferências e sínteses. A falta de domínio das letras é identificada mais claramente por especialistas em provas de vestibulares, concursos públicos e nas redes sociais, em que artigos, citações, ilustrações utilizam propositalmente figuras de linguagem, como ironias e metáforas, que dificilmente são compreendidas por uma parcela da sociedade.

Os documentos oficiais relacionados ao ensino registram a necessidade de leitura e compreensão de textos de todas as ordens

USP Imagens

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m uma década (2001-2011), o Brasil evoluiu quando o assunto é alfabetização funcional de seus cidadãos. O percentual de pessoas com capacidade básica de leitura, escrita e de compreensão matemática saltou de 61% para 73% da população que está na faixa etária dos 15 aos 64 anos. O levantamento integra o Índice de Analfabetismo Funcional (Inaf), feito em parceria pelo Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa, em 2012, que, porém, mostrou um dado preocupante. Nesse período não houve melhoria significativa no número de brasileiros que detém essas habilidades de forma plena. Segundo a pesquisa, somente 26% dos brasileiros tinham completo do-

Aprendizado ineficaz Charge do Brasil Atual gera polêmica nas redes sociais Paradoxo Contemporâneo

Paulo Ramos, professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acredita que parte dessa deficiência está associada ao aprendizado da cultura geral e da língua portuguesa, que não atende aos requisitos mais básicos. “Os documentos oficiais relacionados ao ensino registram a necessidade de leitura e compreensão de textos de todas as ordens, inclusive dos que mesclam palavra e imagem. Mas os poucos indicadores sinalizam que tanto alunos quanto professores demonstram dificuldade no uso e na compreensão de produções assim”, explicou.

Um caso de interpretação equivocada envolveu o jornal Brasil Atual neste ano. Na edição de outubro, que circulou no Estado de São Paulo e na Internet, foi publicada uma charge de autoria do cartunista Adriano Kitani, que, ironicamente, discutia o preconceito de alguns brasileiros com a chegada de novos fluxos de imigrantes ao país. Um número significativo de internautas, porém, leu o desenho de maneira divergente da proposta original do autor. Alguns ainda tentaram se utilizar da produção para invocar a intolerância contra os estrangeiros, evidenciando o entendimento errôneo da linguagem empregada. “Já vi situações assim acontecerem com outras charges minhas e mesmo com desenhos de outros cartunistas. Eu vejo um grande número de pessoas

que não compreende mensagens irônicas nos comentários e compartilhamentos do Facebook”, disse Kitani. Brasil Atual publicou uma nota de esclarecimento do conteúdo para atenuar os ânimos do debate, que ultrapassava o campo fraterno, e, sobretudo, para reafirmar a linha editorial do veículo, que repudia todo e qualquer tipo de discriminação. Para o professor Paulo Ramos, coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Quadrinhos (Grupesq) na Unifesp, episódios como os da charge expõem “falta de cultura de leitura e de interesse por temas sociais”. “Acredito que quanto menos informação se tem, menor o volume de referências e de inferências que se faz no processo de compreensão, daí a dificuldade de interpretação das informações contidas nas ilustrações”, reitera.


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