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Bebedourense lança romance que debate influências das novas tecnologias na sociedade Livro “Realidade Artificial – Mundo Novo”, de Guilherme Zambuzi, usa ficção científica para discutir relações entre ética e política
Eu nunca tinha pensado em escrever, achava que não tinha capacidade. Foi uma surpresa muito grande porque eu criava essas histórias na minha cabeça para ser um passatempo
Giovanni Giocondo
Veja como a moral é importante para um povo. Convença que ele é inferior, e ele será facilmente dominado enquanto fica tentando achar um culpado para a própria situação. O pior é que essa técnica de dominação é conhecida há milênios. Falta de cultura e educação é pior do que se pode imaginar. Esta é uma das falas centrais de Samara, protagonista do livro “Realidade Artificial – Mundo Novo”, obra de ficção científica lançada em maio pelo bebedourense Guilherme Zambuzi. A personagem é uma máquina criada pelo universitário Gustavo, um rapaz tímido e muito inteligente, que desenvolve uma plataforma de inteligência artificial com fins pacíficos. No trecho acima, Samara – após construir um equipamento nuclear capaz de produzir energia barata, segura e acessível para toda a população – critica o viés tendencioso que a imprensa tradicional impõe sobre determinado assunto quando o tema é de interesse econômico das grandes corporações e políticos. Ter a ficção como pano de fundo para um debate sobre “aspectos problemáticos que envolvem o status quo da sociedade brasileira e da vida cotidiana” era uma das pretensões de Zambuzi, engenheiro de produção mecânica formado pela Universidade Paulista (UNIP), quando escreveu este seu primeiro livro aos 33 anos. “Eu nunca tinha pensado em escrever, achava que não tinha capacidade. Foi uma surpresa muito grande porque eu criava essas histórias na minha cabeça para ser um passatempo”, revelou o autor, que contou com a ajuda de uma amiga para colocar a ideia no papel. “Foi algo bastante gostoso de escrever, libertador eu diria”.
O autismo e a libertação Aos 28 anos, Zambuzi foi diagnosticado com grau leve de autismo. Atualmente, o rapaz mora sozinho em Ribeirão Preto, mas sempre que possível retorna a Bebedouro para visitar os pais, que vivem em uma residência no Centro. Para Maria José, mãe do escritor, o personagem Gustavo possui muito do Guilherme Zambuzi que ela conhece. “Os dois têm um pouco de dificuldade para se relacionar com as pessoas, mas um cérebro brilhante, voltado para o bem”, explica. Leitor assíduo do autor russo Fiódor Dostoiévski e de clássicos da literatura brasileira, Zambuzi acredita que seu livro também discute o conceito de ética do uso da inteligência
artificial em uma sociedade ainda despreparada. “Precisamos desconstruir os preconceitos que acompanham o debate”, constata. Ciente das dificuldades para lançar sua primeira obra – foi um ano e meio de negociação com editoras até conseguir o sinal verde da Fonte Inspirata –, o jovem traça seus próximos passos para futuros trabalhos. O primeiro deles é a publicação da sequência do primeiro livro, Realidade Artificial – Invasão, que já tem o texto pronto, mas aguarda recursos. Outro passo é a filmagem de Mundo Novo, que já tem o pré-roteiro na mesa do autor. “É um sonho vê-lo nas telas. Sonhar não custa nada. Quem sabe?”, almeja o escritor.
REALIDADE ARTIFICIAL – MUNDO NOVO Editora Fonte Inspirata Número de páginas 216 Preço estimado R$ 37,90