Imigração

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Imigração

Estrangeiros nem sempre encontram recepção amistosa em nosso país Moldado por imigrantes, Brasil ainda se encontra despreparado para receber outros povos

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Por Giovanni Giocondo

onstruído com a ajuda de imigrantes de diversas nacionalidades, o Brasil vem recebendo a cada dia um novo fluxo de estrangeiros, que fogem das guerras e da miséria de todo o mundo, em busca de trabalho digno. Nas últimas semanas, o continente europeu ficou em evidência por muitos de seus países ainda resistirem a abrigar refugiados do norte da África e do Oriente Médio. Por aqui, de meados do século XIX até o início do século XX, os municípios do interior de São Paulo foram destacados pontos de acolhida aos imigrantes, sobretudo de procedência europeia, e seguem, ainda, sendo o destino de muitos cidadãos de todo o mundo.

Solidariedade e “confronto de gerações” Peruanos, bolivianos, haitianos, sírios e africanos de diversas nacionalidades representam algumas das novas imigrações que chegam ao Brasil. Segundo Tania Rocio Illes, artista plástica peruana e coordenadora executiva do Comitê de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHCI), esses imigrantes “têm muito potencial e capacidade para colaborar com o desenvolvimento do país”. A recepção aos novos imigrantes dada pelos brasileiros herdeiros dos refugiados de ontem, no entanto, nem sempre é amistosa. Agressões verbais, físicas e casos de racismo são comuns. “Acredito que tem a ver com o fato de que, naquela época, os europeus brancos eram bem-vindos, enquanto negros e indígenas são discriminados

por serem considerados ‘diferentes’ e ‘inferiores’”, constatou Tania. Esse fluxo imigratório tende a aumentar em meio à turbulenta conjuntura europeia. A resistência e a violência com que alguns governos tratam os refugiados emergem de maneira contraditória. A Hungria, que tem negado veementemente a entrada de estrangeiros em seu território, teve 100 mil refugiados migrando para o Brasil após a dissolução do Império Austro-Húngaro, no fim da 1ª Guerra Mundial, em 1918. Já o governo brasileiro tem se mostrado mais solidário à causa. Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 10 de setembro, a presidenta Dilma Rousseff (PT) disse que o país está “de braços abertos

para acolher os refugiados e oferecer-lhes esperança”. Nesse sentido, tramita na Câmara dos Deputados a nova Lei da Imigração, de autoria do senador Aloysio Nunes (PSDB). O PL 2615/2015 é considerado “progressista” por garantir mais direitos sociais e regularizar a situação dos estrangeiros, em contraponto ao Estatuto do Imigrante, de 1980. Para Tania Illes, que trabalha no Brasil há 12 anos, “a legislação é fruto de muitos anos de luta dos imigrantes”. “O Brasil ainda precisa avançar nas políticas públicas que auxiliem os estrangeiros com o idioma, a assistência social e desburocratizem a política migratória, que é o principal empecilho para que eles permaneçam aqui”, salientou.

Naquela época, os europeus brancos eram bem-vindos, enquanto negros e indígenas são discriminados por serem considerados ‘diferentes’ e ‘inferiores’”


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