Karate bebedouro 42

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8 Artes marciais

“Cada golpe como se fosse o último” Carateca local mira mundial da Polônia, em outubro, e reflete sobre os caminhos do esporte, que pode se tornar olímpico em 2020

A

Iniciação

O carateca, nascido em Sapucaia do Sul (RS), chegou a Bebedouro aos 7 anos, quando passou a praticar o esporte pela influência de amigos. “Só com 11 anos comecei a competir regionalmente. Aos 14, participei de campeonatos maiores e depois de títulos importantes passei a integrar a seleção paulista, dos 15 aos 21 anos”, recorda. Representante de Bebedouro em competições desde 2008, ele deixou a categoria até 75 kg há dois anos para ultrapassar uma barreira imprevisível: a da categoria “absoluto” do shiai kumite, onde não há limite de peso. “Cada adversário tem um perfil e você precisa traçar uma estratégia nova a cada luta”, explica Jaime, que também treina 46 alunos adolescentes, adultos, idosos e pessoas com depressão e síndrome do pânico.

O caratê não é só soco e chute, é uma filosofia de vida, além de ser uma tática de defesa pessoal. Se você pegar uma ‘mão inteira’ como sendo o caratê, a competição é o ‘dedo mínimo’

Felipe Tamashiro

os 25 anos, sendo 18 deles dedicados à prática do caratê no estilo shotokan, o atleta Jaime Pereira Júnior fará, no dia 29 deste mês, a sua primeira viagem internacional para encarar aquele que promete ser o maior desafio da sua carreira: a disputa do Mundial WSKA em Bielsko-Biala, na Polônia, que ocorre entre os dias 3 e 5 de outubro. Nos últimos Jogos Regionais, realizados em julho, em Barretos, o carateca conquistou quatro medalhas: ouro nas categorias shiai kumite por equipes e open individual; e prata no kata individual e por equipes. “Eu tive quatro oportunidades de participar do mundial em outras ocasiões, mas não pude ir por falta de patrocínio”, revelou Jaime, que, em dezembro, passou por uma seletiva para ir à competição. Outros 16 caratecas brasileiros também estão classificados.

A essência da arte marcial e do esporte Nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, disputados em agosto, o Brasil foi o 1º colocado no ranking do caratê com três medalhas de ouro e duas de bronze. A popularização do esporte pelo mundo tem criado a expectativa de que o caratê se torne olímpico. Para Jaime Júnior, isto pode ser “uma faca de dois gumes”. “É positiva a visibilidade que as Olimpíadas dão ao atleta, mas o excesso de competitividade faz com que o esporte perca a sua essência. O caratê não é só soco e chute, é uma filosofia de vida, além de ser uma tática de defesa pessoal. Se você pegar uma ‘mão inteira’ como sendo o caratê,

a competição é o ‘dedo mínimo’. É bom ganhar medalha, mas um dia ela vai enferrujar e vai para o lixo. O que fica é o que a gente aprendeu”, reflete. Jaime critica o fato de alguns professores montarem as aulas pensando apenas na parte esportiva. “Temos um pensamento chamado ikken-hishatsu, que significa ‘cada golpe como se fosse o último’. Com controle, nós aplicamos esse pensamento na luta, mas principalmente no dia a dia do trabalho, dos estudos, da vida, quando você deve ter uma atitude decisiva de fato”, esclarece. O comitê organizador das Olimpía-

das de Tóquio selecionou o caratê e outras sete modalidades entre as 28 que pleiteiam vagas nos Jogos de 2020. A decisão das que estarão no Japão será divulgada em agosto de 2016, antes do início das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Até lá, Jaime não planeja uma ida ao país que aperfeiçoou, difundiu e popularizou a arte marcial (surgida na China e na Índia), mas reforça o discurso que a tradição oriental lhe transmite. “O caratê é uma ferramenta que te prepara até certo ponto, onde você pode levar o maior tombo da sua vida, mas que vai te ajudar a levantar e olhar sempre para o horizonte.”


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