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Bebedouro Bandalheira
Deputado tucano é acusado de integrar esquema de corrupção em merenda escolar junto com Coaf Segundo depoimentos de membros da cooperativa sediada em Bebedouro, Fernando Capez, presidente da Assembleia Legislativa e procurador de Justiça, recebeu dinheiro para intermediar contratos com a Secretaria Estadual de Educação Por Giovanni Giocondo
Fotos: Enio Lourenço e Marcos Oliveira/Agência Senado.
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Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e a Polícia Civil, após seis meses de trabalho, deflagraram publicamente a Operação Alba Branca, que investiga o superfaturamento de contratos na merenda escolar. Uma força-tarefa foi designada para apurar o envolvimento do deputado estadual Fernando Capez (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). O tucano é suspeito de participar de um esquema que inclui fraudes, superfaturamentos e pagamentos de propina a servidores municipais para privilegiar a venda de merenda escolar da Cooperativa de Agricultura Familiar (Coaf), sediada em Bebedouro. De acordo com as investigações, a Coaf teria distribuído em suborno até 25% do valor dos contratos com os municípios para garantir a negociação de seus produtos agrícolas. Em vez de beneficiar a agricultura familiar, a Coaf comprava de agroindústrias e vendia alimentos e suco de laranja às Prefeituras por até o dobro do preço. Os produtos eram negociados com 22 municípios e com a Secretaria Estadual de Educação. As licitações apresentavam concorrentes ligadas à Coaf, que propunham valores combinados previamente, configurando cartel. Em depoimento, o ex-presidente da cooperativa, Carlos Alberto da Silva, o Cal, disse que um contrato fechado em 2015 com o governo do Estado, na casa dos R$ 7,79 milhões, possibilitou a distribuição de “quase R$ 2 milhões em propinas”.
“Nosso amigo” De acordo com outros membros da Coaf, Capez seria o “destinatário” de parte da comissão entregue a um dos lobistas do esquema, Marcel Ferreira Julio, filho do ex-deputado Leonel Julio, também suspeito. O dinheiro era pago a dois dos assessores do tucano: Jeter Rodrigues Pereira, demitido por Capez em dezembro de 2015; e Luiz Carlos Gutierrez, que segue como membro da equipe do deputado do PSDB. Carlos Lopes, gerente de logística da cooperativa, disse em seu depoimento que Capez era tratado pelos membros da quadrilha como “nosso
amigo”, porque era a pessoa “que resolveria todos os entraves surgidos”. Segundo Adriano Mauro, funcionário da Coaf preso na Operação Alba Branca, foi Capez o responsável por fechar o convênio da cooperativa com a Secretaria Estadual de Educação no ano passado. Além de dinheiro, o tucano teria se beneficiado do uso de um veículo da Coaf durante a campanha eleitoral em 2014. “O carro foi emprestado pelo presidente da cooperativa, Cassio Chebabi, e esteve à disposição do comitê de Capez durante 90 dias, e voltou de São Paulo com várias multas de trânsito”, diz o relato de Carlos Lopes.
Capez, que é procurador de Justiça de carreira, negou participação no esquema. “Já liguei para o procurador-geral Marcio Elias Rosa e quero ir a fundo e ajudar na investigação”, declarou. O tucano acusa o ex-funcionário da Assembleia Legislativa Jeter Rodrigues Pereira e o ex-deputado Leonel Julio de usarem seu nome para atingi-lo. “Dois vagabundos não vão me jogar na lama”, praguejou. Por outro lado, Capez defendeu Luiz Carlos Gutierrez, que, segundo ele, “até que provem o contrário, não tem qualquer envolvimento”, disse.