8 Cidadania
“Mulheres Virtuosas” mudam panorama da Escola Estadual Raposo Tavares Comunidade feminina do bairro adere à educação formal das crianças com enfoque em atividades extracurriculares Giovanni Giocondo
Por Giovanni Giocondo
Abri minha mente porque sei que as crianças são um espelho do que a gente faz
C
omo as reclamações individuais dos pais já não alcançavam grandes resultados, um grupo de mães tomou uma atitude após constatarem que seus filhos apresentavam problemas disciplinares e de dedicação na Escola Estadual Raposo Tavares. Desde o Dia Internacional da Mulher de 2015, as Mulheres Virtuosas (nome dado ao grupo formado por dez mães de estudantes do ensino fundamental) passaram a atuar dentro do colégio, que tem 296 alunos, e os reflexos positivos vieram quase de imediato. Projetos foram criados para aumentar o interesse dos alunos nos livros e nas próprias aulas, mudando a realidade anterior. “Minha filha adora vir para a escola. Se tem um dia em que eu não posso trazê-la, ela até chora”,
conta a dona de casa Gláucia Pereira sobre o comportamento de Thaís, de 9 anos. A menina, por sua vez, acha que, agora, a escola respeita mais os alunos. “Antes, eu sentia moleza nas minhas amigas. Hoje, quando a gente conversa, todas têm vontade de estar aqui”, conta. Nos intervalos é possível observar algumas das mudanças. Meninos e meninas deixaram um pouco de lado as correrias e atualmente dedicam-se aos jogos de xadrez, de damas e outros de tabuleiro, distribuídos pelas próprias mães em três dias por semana. Literatura e cinema ganham espaço nos outros dois dias. “A criança também precisa de estímulo ao raciocínio, à cultura geral e à leitura. Esses projetos vão de encontro a essa ideia”, explica Ana Helena, coordenadora pedagógica do colégio.
Nova postura das mães e da escola é fruto de parceria As Mulheres Virtuosas entenderam que deveriam fazer parte do dia a dia da escola a partir de reuniões pedagógicas com os professores e a direção da escola, que debatiam questões como a violência doméstica. Foi daí que a ideia da realização de palestras com especialistas, de peças de teatro e de festas beneficentes foi surgindo. “Uma das prioridades da escola era reaproximar as famílias. Havia muitas críticas sem o devido conhecimento do que acontecia aqui. Por isso essa parceria foi necessária e conta com nosso apoio irrestrito”, conta Júlio Marcos Martins, dire-
tor do E.E. Raposo Tavares desde 2013. “Elas viram que havia formas mais razoáveis de dialogar sobre a vida aqui dentro, e felizmente aderiram a essa ideia”, complementa. A dona de casa Andressa dos Anjos Veiga conta que sua postura mudou completamente com as Mulheres Virtuosas. “Se meu filho tinha uma dificuldade, eu já chegava na escola brigando com o professor. Depois de entrar no grupo, a comunicação mudou, eu tenho mais segurança. Abri minha mente porque sei que as crianças são um espelho do que a gente faz. Gritar não vai resolver nada”, sentencia a mãe.