8 Esporte
Skatistas saltam obstáculos nas ruas e na vida Garotos buscam espaço adequado para a prática esportiva na cidade e querem dialogar com a população para serem respeitados
Muita gente acha que o skate é coisa de gente drogada, que não tem o que fazer. Mas a gente estuda, trabalha e gosta de andar. Só queremos respeito como qualquer um.
Giovanni Giocondo
S
ão 18h30 quando um barulho diferente para uma terça-feira toma o Centro da cidade. O rolar das rodinhas no cimento zune alto. Logo, cerca de 20 meninos (dentre eles, uma menina) sobre seus skates estão reunidos arriscando manobras em bancos e meios-fios. O desejo por um espaço adequado ao lazer é uma ansiedade constante dessa moçada. Na Praça José de Almeida Siqueira, andar de skate é proibido, o que obriga a turma a ir para a Rua do Comércio, onde eles dividem espaço com os carros e às vezes travam as rodinhas nos buracos (“chokitos”, dizem). Nos cantos da via, bancos de madeira e cavaletes de ferro são posicionados para os ollies (saltos com o skate colado aos pés), flips (manobra em que o skate gira em torno de si e volta ao controle do skatista) e slides e grinds (deslizes com a parte de madeira ou com o eixo metálico). Um dos líderes do grupo é Maaycon Santiago, de 19 anos, atendente em uma loja de materiais de construção. Em sua opinião, faltam incentivos para que crianças e adolescentes conheçam melhor o mundo do skate. “Você vê a quantidade de gente que pratica. Imagina se houvesse um lugar mais interessante para andarmos de skate”, comenta. O caçula da galera é Joaquim Felisbino, de 11 anos, que pratica o esporte desde os 6. “Uma vez fui com a minha mãe na padaria e vi a molecada andando. Fiquei com vontade, pedi e felizmente ganhei um skate.” O garoto é fã de Luan de Oliveira, brasileiro vice-campeão dos X-Games de Austin, nos EUA, em 2014. “Ele anda muito”, diz Joaquim, que recentemente quase perdeu o precioso skate sob as rodas de um carro.
Pista “oficial” é cheia de falhas
Ao lado do prédio da Prefeitura existe um halfpipe – estrutura de concreto em forma de “U” destinada à prática do skate, dos patins e da bicicleta BMX – que não caiu no gosto da meninada, porque foi construído de forma irregular. “Quando chove, enche de água. Faltam um ralo central e canaletas”, reclama Maaycon, que também critica o fato de o velório municipal ser instalado no terreno vizinho. “Quando alguém é velado, a gente não anda de skate lá por respeito. Fica complicado.” Uma das ideias do grupo era utilizar a área de um prédio abando-
nado na mesma rua para manter a atividade. Mas um novo projeto da Prefeitura impediu a iniciativa. Outra hipótese era a de se deslocarem para um terreno particular próximo da Igreja de Nossa Senhora de Mont Serrat, logo descartada por eles.
Competição e luta contra o preconceito
Até para chamar a atenção da cidade, os skatistas resolveram organizar um campeonato para o dia 4 de outubro, na Rua do Comércio, com novos obstáculos. A inscrição para o evento, que conta com o apoio da recém-criada Associação de Melhoramentos dos
Bairros de Itariri (Amabi), custa a taxa de R$ 20. Porém, mais do que um lugar para praticar o esporte, os jovens skatistas querem o fim do preconceito contra eles. O peso de ser um esporte radical e alternativo é grande. João Guilherme França, de 15 anos, vai ao ponto central do debate. “Muita gente acha que o skate é coisa de gente drogada, que não tem o que fazer. Mas a gente estuda, trabalha e gosta de andar. Só queremos respeito como qualquer um. Para diminuir essa resistência das pessoas, é importante mostrarmos o quanto o skate faz parte da nossa vida. Não conseguimos ficar sem ele”, ratifica.