JornalCana 255 (Abril/2015)

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Ribeirão Preto/SP

Abril/2015

Série 2

Nº 255

R$ 20,00

SIM, É POSSÍVEL! Grupo Usaçúcar revoluciona gestão industrial com software de otimização em tempo real

Cresce demanda por açúcar cristal sem descolorantes

Dólar alto abre temporada de pechinchas na compra de usinas




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ÍNDICE DE ANUNCIANTES

Março 2015

Í N D I C E ACOPLAMENTOS VEDACERT

16 39474732

46

ANTIBIÓTICOS - CONTROLADORES DE INFECÇÕES BACTERIANAS BETABIO/WALLERSTEIN 11 38482900

21

ALFATEK

17 35311075

3

11 47727610

13

11 26826633

15

AUTHOMATHIKA

16 35134000

12

METROVAL

19 21279400

18

BALANCEAMENTOS INDUSTRIAIS 16 39452825

FINBIO

16 35124310

29

VALORMAX

16 35124310

29

19 21279400

18

CORRENTES INDUSTRIAIS

58

16 39461800

11

DESINFECÇÃO INDUSTRIAL

PENEIRAS ROTATIVAS 17

19 21279400

COLORBRAS 18

7

ISOLAMENTOS TÉRMICOS REFRATÁRIOS RIBEIRÃO 16 36265540

57

35

ENGEVAP

16 35138800

17 35311075

3

CARROCERIAS E REBOQUES

16 35134000

57

59

41 36417200

34

16 35135230 16 35137200

48 9

12

SUPRIMENTOS DE SOLDA ABISOLO

11 32514563

54

COMASO ELETRODOS 16 35135230 VOESTALPINE BOHLER 11 56948377

AGRISHOW

11 35987800

49

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

BESTBIO

16 35124300

20

SOLINFTEC

GERHAI

19 34562298

50

SERGOMEL

16 35132600

42

FEALQ

19 34176600

41

FENASUCRO

11 30605000

55

MASTERCANA

16 35124300

23, 37

SINATUB

16 39111384

6

19 34431400

32

58

21 8

REFRATÁRIOS

COMASO ELETRODOS MAGÍSTER

52

16 39452825

BETABIO/WALLERSTEIN 11 38482900 QUÍMICA REAL 31 30572000

SOLDAS INDUSTRIAIS

18 36231146

VIBROMAQ

17

PRODUTOS QUÍMICOS

EMG DO BRASIL

EQUIPAMENTOS E MATERIAIS

RODOTREM

CENTRÍFUGAS

58

SECADORES INDUSTRIAIS 32

FEIRAS E EVENTOS ALFATEK

16 39461800

SÃO FRANCISCO SAÚDE 16 08007779070

24

32

CARRETAS

58

SAÚDE - CONVÊNIOS E SEGUROS 19 34669300

ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO CIVIL

AUTHOMATHIKA 16 35138800

16 39426852

REFRATÁRIOS RIBEIRÃO 16 36265540

ELÉTRICOS CALDEIRAS

16 39452825

PLANTADORAS DE CANA DMB

IRRIGAÇÃO

ELETROCALHAS

ENGEVAP

VIBROMAQ

PINTURAS EM GERAL

CONTROLE

IRRIGA EQUIPAMENTOS 62 30883881

19 34234000

A N U N C I A N T E S

INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO E METROVAL

CONTROLE DE FLUIDOS

DISPAN

AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL

VIBROMAQ

DMB

MC DESINFECÇÃO IND 16 35124310

AUTOMAÇÃO DE ABASTECIMENTO DWYLER

IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS

INVESTIMENTOS

PROLINK

ARTIGOS DE BORRACHA VEYANCE TECH

CONSULTORIA FINANCEIRA E

METROVAL

ÁREAS DE VIVÊNCIA

D E

48 19

18 36212182

25

16 39461800 44 33513500

17 2

TRANSBORDOS DMB TESTON

TRANSPORTADORES EMG DO BRASIL

41 36417200

34

COLETORES DE DADOS MARKANTI

16 39413367

4, 60

TROCADORES DE CALOR

FERRAMENTAS LEMAGI

COMPONENTES ELÉTRICOS APS

11 28701000

34

19 34431400

32

GRUPO FERRANTE

17 32791200

25

CONSULTORIA ABS CONSULTORIA

16 35124310

31

PETROFISA

CONSULTORIA E ENGENHARIA

10

16 32369200

ENGEVAP

16 35138800

APERAM

11 38181821

26

FOXWALL

11 46128202

36

46

VEDAÇÕES E ADESIVOS NUTRIENTES AGRÍCOLAS

GRÁFICA

AGROINDUSTRIAL EVOLUTION PROCESS

16 36261531

58

VÁLVULAS INDUSTRIAIS

MONTAGENS INDUSTRIAIS

FIBRAS DE VIDRO

16 39462130

TUBOS E CONEXÕES

EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS

FERRAMENTAS PNEUMÁTICAS LEMAGI

AGAPITO

MANUTENÇÃO DE MÁQUINAS E

46

SÃO FRANCISCO

16 21014151

43

UBYFOL

34 33199500

5

FLUKE VEDAÇÕES VEDACERT

19 32733999 16 39474732

56 46


CARTA AO LEITOR

Março 2015

índice

5

carta ao leitor

Agenda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6

Josias Messias

josiasmessias@procana.com

Mercado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8 a 11

Dólar alto incha dívidas e pressiona setor a vender usinas

Usina do Bem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 Giro do Setor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14 Administração & Legislação . . . . . . . . . . . . . . . .15 a 18

Produtividade, mas sem perder qualidade de vida jamais!

COMER, SABOREAR, TRABALHAR!

Os empregos também correm risco de serem moídos?

Tecnologia Agrícola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20 a 30

Melhoramento da cana está em contínua especialização

Qualidade de vida de rurícolas aquece mercado de saúde ocupacional

Capa - ROBÔS PREPARAM-SE PARA INVADIR OS CANAVIAIS

Cuidados no plantio podem resultar em melhor produtividade

Tecnologia Industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 a 42

Cresce demanda por açúcar cristal sem descolorantes

Eficiência na condução de projetos é decisiva para a sobrevivência

Terra Rica é a primeira usina a operar principais set points em laço fechado

Eletrificação amplia disponibilidade de energia para exportação

Política Setorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44

BNDES aprova financiamentos voltados ao setor

Produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 a 48

No Nordeste há quem aposte em eucalipto para complementar renda

5 perguntas para Luís Alleoni, professor da ESALQ/USP

ENTREVISTA: Gerson Santos-Leon, vice-presidente executivo da Abengoa

Saúde & Segurança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .50 e 51

Segurança do trabalho exige vigilância e atenção redobrada

Usinas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52

Pitangueiras celebra 40 Anos e lança Projeto UP!

Pesquisa & Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53

Cana transgênica tem lançamento previsto para 2017

Logística & Transportes . . . . . . . . . . . . . . . . . . .54 e 56

Sistema de delivery agiliza serviços de almoxarifados

Negócios & Oportunidades . . . . . . . . . . . . . . . . .57 e 58

OUVIDOS SÁBIOS “O caminho do insensato é reto aos seus próprios olhos, mas o que dá ouvidos ao conselho é sábio”. (Provérbios de Salomão, capítulo 12, verso 15)

Quanto vale um conselho? Um experiente produtor sucroenergético encontra-se diante de uma situação difícil: 80% da receita prevista para a safra será destinada para honrar o pagamento de dívidas com bancos, o que simplesmente inviabilizará as atividades da usina. Patrimônio tem, mas está todo alienado. Vender as usinas, que apresentam excelente performance operacional e comercial, seria a solução. Mas cadê comprador? Depois de décadas contribuindo com o desenvolvimento do país e participando do boom de implantação de usinas acreditando no “etanol é nosso” tão bem propagado pelo ex-Presidente Lula, e amargando prejuízo atrás de prejuízo com os seguidos desmandos do governo Dilma no setor, enfim o desalento total se abate sobre o empresário. Que absurdo, que injustiça! E ninguém faz nada?! Então uma solução mágica é apresentada: uma medida judicial que dá seis meses de fôlego para as finanças da empresa e força os bancos a “engolir” perdas e prazos no pagamento das dívidas, ainda que exista a possibilidade também da família perder tudo. Mas, perdido por perdido, a medida drástica é tomada! Ao tomar conhecimento do fato, um amigo próximo decide visitar o empresário e ver se pode, de alguma forma, ajudar a família. Na conversa, o amigo percebe a pressão a que estava submetido o produtor ao tomar aquela atitude drástica. Mas também identifica que, apesar de todas as dívidas com bancos, a usina não se enquadrava exatamente no perfil de insolvência que a medida judicial contemplava e, por esta razão, havia uma grande possibilidade do “tiro sair pela culatra”, causando a paralisação das atividades da empresa e impactos terríveis para todo o sistema de crédito do setor. Difícil era desarraigar o empresário experiente, e de um caráter irretocável, de uma decisão já tomada! Contudo, fruto de uma amizade sincera e de uma coragem espontânea, o amigo ousou enfrentar os argumentos emocionais e desafiar um conceito em desuso de honra improdutiva, a qual aceita perdas inconsequentes apenas por uma palavra empenhada a alguém que não necessariamente assume o mesmo nível de comprometimento. Também foi fundamental criar uma ponte para a esperança, mostrar que existiam alternativas viáveis e consolidadas no mercado, mas elas apenas não estavam dentro do campo de visão do empresário devido à pressão daquele momento difícil. Caso ele desse abertura, a medida já tomada poderia servir para abrir um caminho de negociação que poderia garantir a continuidade das atividades da empresa e beneficiar todos os envolvidos. E que ele contaria com pessoas competentes para o êxito desta tarefa. Esta história ilustra bem o impacto que bons conselhos podem gerar a uma família, a uma empresa, a milhares de colaboradores e a todo um mercado. Não é à toa que a Bíblia está cheia de passagens que estimulam cercar-se de bons conselheiros, pessoas que são isentas, portanto de confiança; e competentes, porque conseguem transformar conselhos em ações práticas. Isto me leva a uma reflexão interessante: imagine se a Presidente Dilma contasse em seu círculo próximo com alguns conselheiros isentos e competentes, em vez dos fisiologistas de plantão? Sem dúvida, o setor sucroenergético e o próprio Brasil estariam numa rota de desenvolvimento e prosperidade, bem diferente da profunda crise que assola a nós todos. Os fatos demonstram o quanto vale um conselho. Um conselho bem dado, no momento certo, pode evitar uma tragédia, seja para uma pessoa, uma empresa, um mercado ou para todo um país. Boa leitura!

NOSSOS PRODUTOS

O MAIS LIDO! ISSN 1807-0264 Fone 16 3512.4300 Fax 3512 4309 Av. Costábile Romano, 1.544 - Ribeirânia 14096-030 — Ribeirão Preto — SP procana@procana.com.br

NOSSA MISSÃO Prover o setor sucroenergético de informações relevantes sobre fatos e atividades relacionadas à cultura da cana-de-açúcar e seus derivados, e organizar eventos empresariais visando: Apoiar o desenvolvimento sustentável do setor (humano, socioeconômico, ambiental e tecnológico); Democratizar o conhecimento, promovendo o

intercâmbio e a união entre os integrantes; Manter uma relação custo/benefício que propicie

parcerias rentáveis aos clientes e demais envolvidos.

DIRETORIA Josias Messias josiasmessias@procana.com.br Controladoria Mateus Messias presidente@procana.com.br Regina Célia Ushicawa regina@procana.com.br

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JornalCana - O MAIS LIDO! Anuário da Cana Brazilian Sugar and Ethanol Guide A Bíblia do Setor! JornalCana Online www.jornalcana.com.br BIO & Sugar International Magazine Mapa Brasil de Unidades Produtoras de Açúcar e Álcool

Prêmio MasterCana Tradição de Credibilidade e Sucesso Prêmio BestBIO Brasil Um Prêmio à Sustentabilidade Fórum ProCana USINAS DE ALTA PERFORMANCE SINATUB Tecnologia Liderança em Aprimoramento Técnico e Atualização Tecnológica

REDAÇÃO Editor Luiz Montanini - editor@procana.com.br Coordenação e Fotos Alessandro Reis - editoria@procana.com.br Editor de Arte - Diagramação José Murad Badur Reportagem Wellington Bernardes - wbernardes@procana.com.br Arte Gustavo Santoro Revisão Regina Célia Ushicawa

ADMINISTRAÇÃO Gerente Administrativo Luis Paulo G. de Almeida luispaulo@procana.com.br Financeiro contasareceber@procana.com.br contasapagar@procana.com.br

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Artigos assinados (inclusive os das seções Negócios & Oportunidades e Vitrine) refletem o ponto de vista dos autores (ou das empresas citadas). JornalCana. Direitos autorais e comerciais reservados. É proibida a reprodução, total ou parcial, distribuição ou disponibilização pública, por qualquer meio ou processo, sem autorização expressa. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal) com pena de prisão e multa; conjuntamente com busca e apreensão e indenização diversas (artigos 122, 123, 124, 126, da Lei 5.988, de 14/12/1973).


6

AGENDA

Março 2015

A C O N T E C E USINAS DE ALTA PERFORMANCE Acontece no dia 15 de outubro, em Ribeirão Preto (SP), o Fórum Usinas de Alta Performance. O evento tem o objetivo de apresentar casos de sucesso na implantação de ações que facilitem a rentabilidade e competitividade das usinas no curto prazo. A última edição do evento contou com a participação de 20 usinas e grupo.

PRÊMIO MASTERCANA 2015 A realização das três edições do Prêmio MasterCana de 2015 já estão definidas. No dia 24 de agosto, em Ribeirão Preto (SP), acontece o Prêmio MasterCana Centro-Sul, que tradicionalmente antecede a Fenasucro. No dia 24 de setembro, em São Paulo (SP), acontece o Prêmio MasterCana Brasil. As premiações serão encerradas no dia 19 de novembro, em Recife (PE), com o Prêmio MasterCana Nordeste. Em 2014 o Prêmio MasterCana reuniu em cada edição cerca de 200 personalidades, com 40 premiações. Realizados desde 1988, os eventos MasterCana reúnem representantes de mais de 2/3 da produção brasileira, em momentos de celebração e network diferenciados. Informações através do fone:(16) 3512 -4300 ou e-mail: eventos@procana.com.br

FERSUCRO

PRÊMIO BESTBIO

Durante os dias 8 a 10 de julho acontece a 12ª Fersucro em Maceió, AL. Serão três dias de evento, com a presença de expositores, técnicos, grupos e usinas para discutir o cenário sucroenergético da região Norte e Nordeste do país. Durante a feira acontece, em paralelo, o XXXII Simpósio da Agroindústria da Cana-de-açúcar de Alagoas, com a presença dos principais diretores de usinas da região para traçar o comportamento do setor. Informações no site: www.fersucro.com.br.

Em paralelo ao Forúm Usinas de Alta Performance, no dia 15 de outubro, acontece o Prêmio BestBIO. A premiação é uma iniciativa independente, que incentiva a sustentabilidade através da divulgação e reconhecimento dos melhores cases da bioeconomia brasileira, com ênfase no desenvolvimento e geração de energias limpas e renováveis.

AGRISHOW 2015 A 22ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação será realizada em Ribeirão Preto, SP, durante os dias 27 deste abril a 1º de maio. A feira está entre as três maiores de tecnologia agrícola do mundo. Em 2014 atraiu mais de 160 mil visitantes, que tiveram contato com aproximadamente 800

marcas participantes. Montada em uma área de 440 mil metros quadrados, com cerca de 100 hectares para exposições em campo, a feira se prepara para a edição de 2015. Mais informações no site: www.agrishow.com.br.

RETIFICAÇÕES A foto publicada na página 57 da edição 254 é de Francisco Luiz Gall, gerente de suprimentos da Usina Da Pedra. A frase correta no quarto parágrafo da matéria sobre a empresa APS publicada na página 58 da edição 253 é esta: (...) Com a diminuição do tempo de parada na produção e quanto maior for a disponibilidade do equipamento, maior será o lucro.



8

MERCADO

Março 2015

Dólar alto incha dívidas mas favorece a venda de usinas Pelo menos 20 delas estão disponíveis para venda; especula-se que outras unidades aceitariam propostas D ELCY MAC CRUZ, DE R IBEIRÃO PRETO, SP

A galopante valorização do dólar ante o real tem encarecido os custos de passivos das usinas e destilarias do setor, já que muitas têm dívidas na moeda americana. Em 15 de dezembro, o dólar valia R$ 2,73, contra R$ 3,23 no dia 20 de março, último. Foi uma alta de 18,3% em apenas três meses. De forma geral, os 18,3% também foram embutidos na dívida dolarizada da empresa. Diante da situação é possível que mais unidades sejam colocadas à venda no Brasil. Pelo menos 20 delas estão atualmente disponíveis para venda, embora haja especulação de que outras unidades aceitariam propostas de possíveis compradores. “O câmbio valorizado aumenta o passivo das usinas em dólar, crescendo suas dívidas, e isso aumenta a disposição dos atuais acionistas em vendê-las”, diz o economista Fabiano Guimarães, delegado do Conselho Regional de Economistas (Corecon) da regional de Ribeirão Preto, SP. Como as dívidas dolarizadas das usinas

Samuel Levy: empresas com dívidas em dólar ficam mais vulneráveis

e de empresas do setor sucroenergético avançam com a desvalorização do real, surge em questão a possibilidade de compra por grupos estrangeiros de acordo com Samuel Levy, diretor geral da Suporte & Resistência, consultoria especializada no setor. “De fato as empresas com dívidas em dólares ficam mais vulneráveis, com preços atrativos pela moeda americana. Certamente é uma temporada de pechinchas”, resume.

Levy, no entanto, diz não saber se os grupos estrangeiros estejam interessados em adquirir o controle de unidades de açúcar e de etanol no Brasil. “A situação — econômica e política — do Brasil está muito complicada para atrair investimento estrangeiro não só para o setor sucroenergético, mas aos demais setores”, diz. “Os estrangeiros já se queimaram ao

investir no setor”, emenda. “George Soros e Bill Clinton, entre outros, vieram para o Brasil aplicar no setor aguçados por um entusiasmo promovido pelo então presidente Luiz lnácio Lula da Silva. Mas depois o governo deu uma banana para o setor, ao congelar o preço da gasolina”, comenta. De acordo com o consultor, atualmente o Brasil não tem credibilidade para atrair investimentos externos.


MERCADO

Março 2015

Dólar alto elevará preços globais do açúcar no longo prazo A alta do dólar contribuirá para enxugar a produção de açúcar de alguns países e aumentar os preços internacionais, mas usinas brasileiras terão dificuldades de aproveitar esta conjuntura, em um primeiro momento, para aumentar participação de mercado, devido a seus problemas de endividamento, avalia o diretor-presidente da Cosan, Marcos Lutz. “No longo prazo, o dólar como está hoje fará o Brasil retomar ‘market share’, ou seja, voltar a investir. Mas não com facilidade, por falta de musculatura financeira do setor brasileiro”, afirma Lutz. O primeiro contrato do açúcar bruto em Nova York é negociado atualmente na mínima de quase seis anos, em grande parte devido a vendas de produtores brasileiros que buscam lucrar com a atual desvalorização do real. Isso após o setor amargar baixos retornos com o adoçante por um longo período. “No longo prazo, o dólar baixo começa a tirar produção marginal do mundo. Outros países que não tiveram desvalorização de suas moedas ante o dólar começam a ficar com o sistema produtivo muito caro, ou o preço muito baixo”, afirma o executivo. Segundo Lutz, essa mudança de cenário em função do câmbio deverá ocorrer, seguramente, em cinco anos, ou até em dois ou três anos, em uma projeção mais arriscada. (DMC)

Lutz: usinas brasileiras terão dificuldades de aproveitar esta conjuntura

9

Usina conviverá com dólar a R$ 3,50, diz especialista Às vésperas de iniciar a safra 2015/16 na região Centro-Sul do país, o setor deve se preparar para conviver com o dólar na casa dos R$ 3,50 este ano. Em até dois anos, a moeda americana valerá R$ 3,75. A avaliação é de Samuel Levy, diretor geral da consultoria Suporte & Resistência, especializada no setor de açúcar e de etanol. “As altas recentes resultam diretamente da crise política e econômica do Brasil. Não há dúvidas disso. Outro componente importante, que muitos ignoram, é que há seis meses o dólar sobe acentuadamente no mercado internacional”, afirma Levy. De acordo com ele a alta do dólar no mercado internacional continuará impulsionando o dólar para cima no Brasil, independente de qualquer amenização ou até resolução sobre a crise política e econômica brasileira. Desde 2008, com a crise, o dólar ficou muito desvalorizado. “No momento, a conjuntura internacional é tal que os EUA são o único país com crescimento sustentável e atrai capitais do mundo todo. A China desacelera e a Europa só agora emprega afrouxos monetários que os EUA já fizeram”, explica. (DMC)


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MERCADO

Março 2015

Usina Ruette faz acordo com bancos e evita a recuperação judicial Companhia terá salvaguarda financeira por 90 dias, prorrogáveis por outros 90 JOSIAS M ESSIAS

E

D ELCY MAC CRUZ

O tradicional grupo Antonio Ruette Agroindustrial oficializou na noite de 24 de março último, acordo com 90% dos bancos credores. Com isto, formalizou a retirada do pedido de recuperação judicial junto ao juiz Ayman Ramadan, da Vara de Monte Azul Paulista (SP). As informações foram confirmadas com exclusividade pela vice-presidente do Grupo, Regina Porto Ruette Aspásio. “Acabamos de fechar um acordo standstill (período de salvaguarda) e por 90 dias, prorrogáveis por mais 90 dias, nada poderá ser feito contra a companhia”, celebrou. Sobre as demissões de funcionários realizadas pelo grupo, Regina informou que foram parte de um choque de gestão com o objetivo de reduzir custos e deixar a companhia ainda mais enxuta. O grupo havia entrado com pedido de recuperação judicial no dia 24 de fevereiro. A razão apresentada pela empresa foi a incapacidade de gerar caixa suficiente para honrar mais de R$ 340 milhões de dívidas com bancos vincendas na safra 2015/15, de um total de cerca de R$ 800 milhões. Segundo apurado pelo JornalCana, a empresa não

possuía dívidas junto a fornecedores e plantadores de cana. O objetivo desta medida, considerada extrema pelo mercado e pela própria família Ruette, era garantir recursos para as atividades da empresa no prazo legal de seis meses e criar condições para o alongamento das dívidas junto aos bancos, que encontrava-se um pouco acima de 2 anos, prazo considerado curtíssimo, inviável para uma atividade altamente demandante de capital como a sucroenergética. O novo fôlego da Ruette trouxe algum alento ao mercado, uma vez que a maioria dos empresários do setor avaliava que a Ruette apenas estava abrindo a fila das recuperações judiciais em 2015, em efeito cascata capaz de dificultar ainda mais o acesso já restrito das usinas a capital. Fortaleceu também a reivindicação de um novo Programa Especial de Saneamento de Ativos (PESA) pois a maior parte das usinas apresentam alto nível de endividamento. “Permanecendo a difícil situação atual, a maior parte das dívidas das usinas, salvo honrosas exceções, será muito difícil de ser paga”, afirma Sérgio Werther Duque Estrada, diretor da Valormax, consultoria especializada em finanças do setor sucroenergético. “Temos muitas usinas em recuperação judicial. Toda a cadeia tem sentido a crise. Por esta razão estou em diálogo com a indústria de base em Sertãozinho”, disse ao JornalCana Arnaldo Jardim, Secretário da Agricultura e Abastecimento de São Paulo.

USINAS EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL (Em ordem alfabética) USINA ESTADO 1 ALBERTINA SP 2 ALCANA MG 3 ALCOAZUL SP 4 ALCOPAN MT 5 ALDA GO 6 ALTA PAULISTA SP 7 ALVORADA DO BEBEDOURO MG 8 ALVORADA DO OESTE SP 9 ARALCO (MATRIZ) SP 10 BALDIN BIOENERGIA SP 11 BARCELOS RJ 12 BERTOLO SP 13 BOM JESUS PE 14 CAFEALCOOL SP 15 CAMPESTRE SP 16 CANADÁ GO 17 CARAPEBUS RJ 18 CAROLO SP 19 CBAA – BRASILÂNDIA MS 20 CBAA -ICEM (SANAGRO) SP 21 CBAA - JAPOATÁ (SERAGRO) SE 22 CBAA - SIDROLÂNDIA MS 23 CENTROALCOOL GO 24 CIA. ENERG. VALE DO SÃO SIMÃO MG 25 CRIDASA ES 26 CRUANGI PE 27 CUCAU PE 28 CUPIM RJ 29 DAIL (CLARION) PR 30 DASA PR 31 DECASA SP 32 DENUSA GO 33 DISA ES 34 FIGUEIRA SP

USINA 35 FLORALCO 36 GENERALCO 37 GUARICANGA 38 IBIRALCOOL 39 JACIARA 40 JL - GUAXUMA 41 JL - URUBA 42 LAGINHA 43 LEAO 44 LIBRA 45 NOVA ERA 46 NOVA UNIAO 47 PANTANAL 48 PARAISO 49 PARAISO (CEPAR) 50 PAU D'ALHO 51 PIGNATA 52 PLANALTO 53 ROÇADINHO 54 SANTA FANY 55 SANTA HELENA 56 SANTA LUZIA 57 SAO FERNANDO 58 SAO JOSE 59 SAO PEDRO 60 SAPUCAIA 61 TRIALCOOL 62 UNA ACUCAR 63 UNA ACUCAR 64 UNA ALCOOL (SAO LUIZ) 65 USINAVI 66 VALE DO PARANAIBA

ESTADO SP SP SP BA MT AL AL AL AL MT SP SP MT RJ MG SP SP MG AL SP GO SP MS SP SP RJ MG PB PE PE MS MG

Fonte: MBFAgribusiness e ProCana Brasil


MERCADO

Março 2015

Usina tenta manter moral em alta e prepara a safra 2015/16 D ELCY MAC CRUZ, DE R IBEIRÃO PRETO, SP

O presidente do Grupo Ruette, Antonio Ricardo Porto Ruette, concedeu entrevista exclusiva ao JornalCana dando detalhes sobre os preparativos para a safra 2015/16 nas duas unidades do grupo. Confira: JornalCana: Como a Ruette prepara a safra 2015/16? Ricardo Ruette: Está tudo correndo normalmente. Temos caixa próprio para administrar os custos por pelo menos 40 dias da safra. Qual é a previsão de início da safra? Em 6 de abril nas duas unidades Paraíso, em Paraíso, e Monterey, em Ubarana, ambas no interior paulista, com previsão de moer 3,5 milhões de toneladas de cana, 50 mil toneladas acima da moagem do ciclo anterior. O volume extra é de cana bisada. Do total, 2,2 milhões de toneladas deverão ser moídas em Catanduva, com as 50 mil toneladas de cana bisada, e 1,3 milhão de toneladas em Ubarana. Como deverá ser o mix de produção? Na unidade de Paraíso, faremos mais etanol, com 60% do mix. A previsão é chegar a 40 milhões de litros de hidratado, 30 milhões de litros de anidro e 160 mil toneladas de açúcar. Já a unidade de Ubarana faz exclusivamente etanol anidro, e

deveremos chegar a 105 milhões de litros. A produtividade da safra 2015/16 deve superar a anterior? Sim, deveremos obter 80 toneladas de cana por hectare (tch), ante 79 tch no ciclo 2014/15. Como é o perfil dos canaviais que atendem as duas unidades? Dois terços são de cana própria, e o restante de fornecedores Qual o número de funcionários diretos? São 2,2 mil, sendo 1,2 mil em Paraíso e 1 mil funcionários em Ubarana. E a cogeração de excedentes? Temos na unidade de Paraíso, que produz por safra 60 mil megawatts-hora (MWh), consome 10 mil MWh e vende, pelo Proinfa, os 50 mil MWh restantes. Na unidade de Ubarana, produzimos 20 mil MWh para consumo próprio. Conforme divulgado, o grupo tem estoque de etanol e possui caixa para administrar a safra por até 40 dias. Como a empresa está em termos financeiros? Nosso endividamento financeiro está muito alto nesta safra. São R$ 340 milhões para uma companhia que fatura R$ 100 milhões acima desse montante.

Ricardo Ruette: caixa próprio para garantir início da safra

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USINA DO BEM

Março 2015

Programa leva sustentabilidade e cultura às cidades

São Fernando homenageia suas mulheres As 214 colaboradoras da Usina São Fernando foram homenageadas pelo Dia Internacional da Mulher. Para retribuir a dedicação destas mulheres, a usina, presenteou todas colaborados com uma nécessaire. Segundo Franciele Vargas, a lembrança teve o objetivo de valorizar a atuação das mulheres no papel de mãe, esposa e profissional.

Estiva participa de reforma do hospital Emílio Carlos Durante a primeira semana de março, dia 6, aconteceu a entrega da reforma e revitalização da Ala C2 do hospital Emílio Carlos, em Catanduva (SP). A reforma contou com o apoio da Usina Estiva, que esteve presente na inauguração das instalações recuperadas, organizada pela diretoria da Fundação Padre Albino (FPA), mantenedora do hospital, e pela Associação de Assistência ao Hospital Emílio Carlos (AEC). Além da reforma, a ala recebeu equipamentos, como ventiladores, aparelhos de TV, chuveiros, cadeiras, bebedouros e persianas. Para a realização das obras foram investidos R$ 450 mil, levantados através de duas ações, shows beneficentes. José Carlos Rodrigues Amarante, da Fundação Padre

O Programa Energia Social para Sustentabilidade Local, da Odebrecht Agroindustrial, entregou para a cidade Mineiros (GO), três projetos desenvolvidos pelas Comissões Temáticas de Educação e Atividades Produtivas. A empresa entregou o primeiro jardim sensorial do Estado de Goiás, construído naApae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) da cidade.Forneceu equipamentos para a Cooperativa Mista Agropecuária de Agricultores e Agricultoras Familiares de Mineiros (Coopermin). Além de assinarconvênio com a prefeitura de Mineiros para a reforma do Centro Cultural Santo Agostinho. De acordo com Sérgio Fiorin, superintendente do Polo Araguaia, os três projetos trazem melhorias importantes para a comunidade. “Os eventos são um marco para a população de Mineiros, já que a premissa do Programa Energia Social é o processo de gestão participativa, com os projetos escolhidos de acordo com as prioridades e necessidades da região”, afirma. Em Teodoro Sampaio (SP) o programa estimula ações para expressão de jovens da cidade. Intitulada como“Transformando Juventude com Arte”, a ação reúne várias de

Entrega do jardim sensorial

oficinas culturais para promover a troca de experiências de jovens através da arte. O programa teve duração de 6 meses, de junho a dezembro de 2014, e contou atendeu cerca de 80 jovens, com idades de 11 a 17 anos, que realizaram atividades como dança de rua, grafite, teatro, pinhole (fotografia) e criação de brinquedos e instrumentos musicais com materiais recicláveis. Juraci Bastos, responsável por pessoas e administração do Polo São Paulo da Odebrecht Agroindustrial, afirmou que fomentar o interesse de jovens pela cultura fortalece as relações da empresa com a comunidade. “A resposta e o envolvimento da comunidade para a promoção da cultura local em Teodoro Sampaio mostra que estamos no caminho certo”.

José Carlos Rodrigues Amarante, Sandro Cabrera e José Carlos Buch

Albino, Sandro Cabrera, da Usina Estiva e José Carlos Buch, da AEC, participaram da solenidade.

Oficina de grafite



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GIRO DO SETOR

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GIRO DO SETOR

Chuvas atrasam colheita da cana no Texas O clima tem atrapalhado a colheita de cana- de -açúcar no Texas, Estados Unidos. As ininterruptas chuvas na região de Rio Grande Valley têm impedido que o maquinário opere sobre o solo alagado. Com a falta de matéria-prima para indústria, cerca de 300 funcionários foram afastados de suas atividades na usina da região de Santa Rosa. Estes atrasos devem prolongar a safra americana, normalmente encerrada em abril. Assim, as atividades devem ser estendidas até julho.

EUA anunciam pacote de US$ 6 milhões a combustíveis alternativos O Departamento de Energia dos Estados Unidos anunciou a criação de um pacote no valor de US$ 6 milhões para impulsionar o crescimento de mercado dos combustíveis alternativos. O valor será destinado a onze projetos que têm como principal objetivo fortalecer a inserção destes produtos no mercado norteamericano. Em cada projeto um tópico diferente será desenvolvido, como incrementar a experiência dos compradores com tais combustíveis e fornecer treinamentos neste segmento para empresas ligadas a toda a cadeia produtiva.

Produção de açúcar em Uganda

Recebimento de açúcar no Quênia

Quênia aceita importar açúcar de Uganda Após negociações, o governo do Quênia aceitou importar 97 mil toneladas de açúcar de Uganda. O acordo facilitará o escoamento da produção da commodity em Uganda, que atualmente supera a demanda interna. Com capacidade para processar 19,8 mil toneladas de cana por dia, Uganda possui produção total de 465 mil toneladas

Produção de etanol de milho nos Estados Unidos

de açúcar, número superior à demanda doméstica, de 320 mil toneladas. A Uganda possui capacidade para exportar aproximadamente 150 mil toneladas de açúcar para o Quênia, que deixou de importar o produto em 2012, quando impôs barreiras comerciais ao açúcar ugandês. Naquela época, o país comprou 30,3 mil toneladas da commodity.

Maharashtra estima aumento produtivo em 2015

Pacific Ethanol bate recordes em vendas líquidas

Índia aumenta em 2% estimativa de produção de açúcar

A norte-americana Pacific Ethanol apresentou seus dados financeiros e produtivos relativos ao final do 4º trimestre de 2014 e acumulado do ano. Em bom momento para o etanol nos Estados Unidos, a empresa atingiu novos recordes em vendas líquidas (US$ 1,1 bilhão), lucro bruto (US$ 108,49 milhões), Ebitda ajustado

As estimativas de produção de açúcar na são otimistas para esta safra na Índia. Após início turbulento, com entraves políticos e trabalhistas, o país aponta crescimento produtivo de açúcar na região. O principal motivo é a expectativa de que Maharashtra, maior Estado indiano, obtenha produção recorde da commodity. Segundo anúncio oficial do governo, a Índia deve produzir 26,5 milhões de

(US$ 16,3 milhões) e total de galões vendidos (513,2 milhões). Segundo a empresa, este bom momento está em paralelo com ações nas áreas agrícola e industrial para redução de custos com aumento na efetividade dos projetos. Com quatro usinas no Oeste daquele país, a empresa produz etanol a partir do grão de milho. Todas estão lucrativas.

toneladas nesta safra, iniciada em novembro de 2014 e com previsão de término em setembro deste ano. O montante supera em 0,5 milhão a previsão feita no início deste ano (26 milhões), crescimento de 2%. A correção foi feita após nova apuração em Maharashtra, que espera produzir 10 milhões de toneladas de açúcar este ano. A previsão inicial era de 9,3 milhões de toneladas.


ADMINISTRAÇÃO & LEGISLAÇÃO

Março 2015

Produtividade sim, mas sem perder qualidade de vida jamais! WELLINGTON BERNARDES, DE SERTÃOZINHO, SP

Responsáveis pela gestão de confiança e garantia de qualidade de vida no trabalho, gerentes de RH do setor buscam novas metodologias que contribuam para amenizar as pressões das rotinas de trabalho. O desafio é tornar a rotina nas usinas mais leve, estimulando a criatividade e a produtividade em um cenário econômico, até o momento, conturbado. Ciente que o momento ruim da economia somado à crise setorial podem desestabilizar os colaboradores, o Grupo de Estudos em Recursos Humanos na Agroindústria (Gerhai) realizou sua primeira reunião de 2015 focado em discutir novas ferramentas para gerenciar e estimular o desenvolvimento das usinas e a qualidade de vida dos trabalhadores. Presente no encontro, Arnaldo Jardim, Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, reconheceu o papel destes profissionais na cadeia de etanol e açúcar. “O setor tem um histórico importante de renovação, atualização e formalização destas relações de trabalho”. O Secretário ressaltou a luta dos profissionais de RH agroindústria canavieira para combater complicados entraves no setor. “Aquela imagem obsoleta das relações de trabalho no setor foi mudada graças ao trabalho dos departamentos

de RH das usinas, que trouxeram o mais apurado desenvolvimento técnico e humano. E isto aconteceu graças a esta importante articulação que vocês fazem, para identificar os pontos críticos e combatê-los”. Durante a reunião, o grupo discutiu as relações de trabalho entre usinas e fornecedores. Fernando Brancaccio, da FairFun, comentou a importância do bom humor como competência para pessoas na organização. (veja matéria sobre este tema na próxima edição). No encerramento, os presentes discutiram algumas soluções trabalhistas para a otimização da excelência operacional. O debate foi conduzido por Alberto Belomi Camacho, gerente de recursos humanos do Grupo Tereos, e pelos advogados José Eduardo Pastore e Erotides Gil. Para José Darciso Rui, diretor executivo do grupo, estes debates fortalecem o agronegócio nacional por aprimorarem as gestões de cadeia produtiva, tornando-se estratégicos nos diversos segmentos da agroindústria. “Queremos amenizar a crise nas empresas. Nosso trabalho é estimular o diálogo e trazer novas metodologias para oxigenar o segmento. Trazer os atuais entraves na gestão de pessoas fortalece o RH de todo o agronegócio. Tanto é que cada vez mais recebemos outros setores em nossas reuniões”.

D EPO I M ENTOS

MERCADO

APRIMORAMENTO

“A participação no grupo é fundamental para entender o atual funcionamento do mercado e como as empresas respondem às variações na economia, possibilitando uma renovação das metodologias utilizadas internamente.” Vanessa Lellis, encarregada de recursos humanos, da Usina Pitangueiras

“É importante este diálogo entre empresas e agentes da área de Recursos Humanos, para que possamos discutir novas tendências e exigências, o que permite constante aprimoramento do segmento, em consequente, de toda a agroindústria” Paulo Henrique Leite Fernandes, auxiliar de departamento pessoal, do Grupo Viralcool

ENTENDER O SETOR EXPERIÊNCIAS “O encontro permite a troca de experiências, assim como a discussão de novas tendências neste setor, fundamental para que possamos levar maior qualidade a todos os envolvidos no setor sucroenergético.” Poliana Evangelista Marques, analista de qualidade de vida, do Senai

“Participar deste diálogo que o setor sucroenergético promove com a área de RH enriquece nosso conhecimento sobre as relações de trabalho no agronegócio.” Jéssica Pissolato Carrer, estagiária de RH, da JF Citrus

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ADMINISTRAÇÃO & LEGISLAÇÃO

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COMER, SABOREAR, TRABALHAR! Projeto da São Domingos garante refeição saborosa e balanceada com o projeto “Alimente-se Bem, Viva Melhor” R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP

A refeição de qualidade, consumida fora de casa, é importante tanto para a vida pessoal quanto para a profissional. Alimentação nutricionalmente balanceada é um eficiente “remédio” para eliminar riscos de surgimento de diversas doenças, além de contribuir para a melhoria da qualidade de vida, para a redução da obesidade e de suas consequências negativas para a saúde. Com o objetivo de criar condições para que seus funcionários tenham hábitos saudáveis, a Usina São Domingos, de Catanduva, SP, implantou, desde o início do ano passado, o “Alimente-se Bem, Viva Melhor”, que foi inclusive vencedor do Prêmio MasterCana Social 2014 – promovido pelo Gerhai e a ProCana Brasil – na categoria “Qualidade de Vida”. Esse projeto de reeducação alimentar tem a finalidade de servir refeições saborosas e balanceadas, utilizando cardápios variados, com duas opções de salada, duas de carne e

Alimentação nutricionalmente balanceada elimina riscos de surgimento de doenças

uma guarnição, arroz, feijão, suco e sobremesa. Um dos destaques dos cardápios é a inclusão de legumes e principalmente hortaliças produzidos na horta orgânica da São Domingos. Os cardápios são divulgados quinzenalmente por e-mail e murais. Há também, nesses comunicados, orientações sobre a quantidade de alimentos que deve ser consumida pelo funcionário dependendo de sua função. Para quem desempenha atividade leve, ou seja, trabalha sentado e transita em superfícies planas, a recomendação, por exemplo, é o consumo de uma escumadeira

de arroz, meia concha de feijão, uma porção de carne, peixe, ave ou ovo, dois tipos diferentes de vegetais (uma colher de servir para cada um deles), além de uma porção para outra guarnição e unidade de fruta ou doce. O “Alimente-se Bem, Viva Melhor” atende no refeitório da empresa oitocentas pessoas, entre os quais, funcionários da administração, indústria e oficina automotiva – informa Marcos Antonio Bernardo, supervisor de Recursos Humanos da usina. O pessoal do campo, que não faz uso do refeitório, recebe orientações sobre hábitos corretos de alimentação – esclarece –, que

são fornecidas pelo programa. Palestras mensais fazem parte inclusive das atividades do “Alimente-se Bem, Viva Melhor”. Especialistas de Catanduva e região abordam, por exemplo, os problemas que a obesidade acarreta para a saúde, orientações sobre o que é preciso para assegurar uma boa qualidade de vida. Além da necessidade de manter uma alimentação equilibrada, as palestras mostram a importância da prática de atividade física e da realização de acompanhamento médico. “Quando a pessoa está em uma situação de obesidade avançada, orientamos para que tenha um acompanhamento especializado”, afirma Marcos Bernardo que supervisiona o programa. A coordenação é do nutricionista Matheus Lopreto e da enfermeira do trabalho Lucimara Fernanda Brolini Valverde.

PESQUISA REVELA SATISFAÇÃO O programa tem se tornado um diferencial da empresa, principalmente em decorrência da qualidade do preparo, da conservação e da distribuição dos alimentos. Uma pesquisa realizada junto ao público atendido demonstrou elevados índices de aprovação: 92% dos entrevistados consideraram a refeição boa (46%) ou ótima (46%); 95% disseram que o atendimento è bom (37%) e ótimo (58%). Além disso, 96% avaliaram a limpeza e a organização como boas (39%) e ótimas (57%).


ADMINISTRAÇÃO & LEGISLAÇÃO

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Alimentação equilibrada melhora rendimento no trabalho Benefícios também se estendem à vida pessoal, pois funcionários utilizam informações, recebidas na empresa, para o seu dia a dia

HÁBITOS SAUDÁVEIS O projeto “Alimente-se Bem, Viva Melhor” da Usina São Domingos fornece aos funcionários diversas orientações e dicas sobre hábitos saudáveis, como: •

Apesar de estar em funcionamento há pouco mais de um ano, o “Alimente-se Bem, Viva Melhor”, já tem apresentado resultados positivos em relação à melhoria da saúde e, consequentemente, à diminuição da frequência no ambulatório, constata Marcos Bernardo. No caso de redução de obesidade, ele afirma que os efeitos, decorrentes da aplicação do programa, certamente serão percebidos no longo prazo. “Uma alimentação equilibrada, além de estar ajudando na saúde, proporciona um melhor rendimento no trabalho” – enfatiza. Os benefícios também se estendem à vida pessoal. O funcionário utiliza as informações, recebidas na empresa, para o seu dia a dia, adotando novos hábitos alimentares fora do trabalho. “Ele leva esse conhecimento para a sua própria família”, comenta. O “Alimente-se Bem, Viva Melhor” tornou-se, na verdade, uma estratégia da São Domingos, por meio de refeições

• saudáveis e orientações técnicas, para a busca de resultados concretos, como a perda de peso, elevação da autoestima, controle da pressão arterial, diminuição do colesterol e diabetes. Essa iniciativa da empresa é um contraponto às mudanças culturais e sociais da população em relação a costumes e hábitos, que provocam – conforme ressalta o projeto – um aumento no índice de obesidade e doenças associadas, o que causa queda na qualidade de vida e

consequentemente gera custos diretos e indiretos para a empresa e para a pessoa. Os problemas sociais e econômicos da obesidade podem ser maiores – segundo a própria São Domingos ¬– do que os provocados por diversas doenças crônicas. Na questão pessoal e profissional, ocorre um aumento nos dias de licença médica, incapacitação, aposentadoria, perda de emprego, sedentarismo, morte prematura e diminuição das perspectivas de relacionamento social. (RA)

Beber de oito a dez copos de água por dia; Evitar o consumo de alimentos industrializados e fast-food (alimentos com muita gordura saturada que fazem mal a saúde); Substituir refrigerantes por sucos de frutas naturais, pois o refrigerante é uma caloria vazia e o suco é rico em nutrientes; Incluir alimentos integrais no cardápio; Evitar o consumo de alimentos ricos em gordura, como frituras, carnes gordas, queijos amarelos, manteiga; Consumir doces esporadicamente e em pequena quantidade (preferir frutas ou barra de cereal); Praticar atividade física regularmente. Para isto, procurar orientação de um profissional.


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ADMINISTRAÇÃO & LEGISLAÇÃO

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Os empregos também correm risco de ser moídos? Com contratações reduzidas, usinas tentam pelo menos manter o quadro de funcionários para 2015/16 DA R EDAÇÃO

A safra 2015/16 começa a tomar forma no Centro-Sul. Colhedoras voltam aos campos e toneladas de cana passam a chegar às usinas através de inúmeros rodotrens, para serem processadas e transformadas em produtos da agroindústria canavieira. Para que este fluxograma ocorra é preciso que profissionais especializados estejam na operação destas diferentes etapas e garantam a otimização desta cadeia. Com uma crise que permeia todos os setores produtivos do país, uma questão intriga os especialistas em Recursos Humanos e outros diretores: conseguirá o sucroenergético sustentar as contratações neste início de ano produtivo e atrair os melhores profissionais? Pelo menos 78 usinas enfrentam o processo de recuperação judicial no país. Neste cenário, profissionais do setor de recursos humanos adiantam que nesta safra colaboradores terão que demonstrar versatilidade e conhecimento para manterem seus cargos. “As usinas têm buscado profissionais que agreguem valores e não somente toquem os negócios”, explica Renato Fazzolari, diretor da AGRHO, consultoria de recrutamento e seleção especializada no setor sucroenergético. Em relação às contratações, os especialistas possuem um discurso mais pessimista. “No geral as usinas estão mantendo o quadro da safra anterior. Há, eventualmente, uma ou outra substituição, porém não se tem observado aumento no quadro de profissionais”, observa Fazzolari. Para Silvio Limão Garcia, diretor da CCT Soluções Corporativas, esta diminuição é reflexo da redução de custo. “No início da

Renato Fazzolari: usinas têm buscado profissionais que agreguem valores

Contratações para esta safra será menor

safra 2014/15 participamos da seleção de 500 a 600 vagas. Para este novo ciclo, o número não alcançou 5% do esperado”. Com orçamento apertado, as usinas devem segurar o volume de contratações este ano, dando preferência aos cargos essenciais para operação. Uma delas é a área automotiva, que possui elevada demanda por profissionais capacitados, fenômeno causado pela diferença de tempo entre a transição para a mecanização dos canaviais e a capacitação da equipe de manutenção. Em menor número, profissionais desta área são atraídos por empresas que oferecem serviço de terceirização. “Empresas que terceirizam esta manutenção contratam estes profissionais com salários-base maiores do que as usinas, além de ofertar horários de trabalho mais atrativos, como o período diurno ou apenas no final de semana. Em usinas, estes colaboradores trabalham em turnos, incluindo feriados”, ressalva Garcia. A busca por informações mais precisas sobre o mercado e a otimização de recursos geram a demanda por profissionais especializados nas áreas financeira e administrativa. Segundo Renato Fazzolari, a informatização de dados da produção requer profissionais capacitados a compreender e analisar estes resultados. De acordo com ele, a demanda por profissionais que propiciem maior credibilidade às informações é alta. “Estes podem assegurar redução de custos e otimização dos recursos de uma empresa. Profissionais desta área também continuam cotados em processos de recrutamento”. Sem o registro de números consideráveis de demissões, a estimativa é de estabilidade no quadro de profissionais em relação à safra anterior. Profissionais com maior qualificação, em quaisquer áreas do setor, serão melhor aproveitados e treinados pelas empresas que buscam a retenção de talentos. “As usinas aproveitam este momento para garimpar os profissionais mais qualificados, oferecendo benefícios como treinamentos e assim assegurar a sua permanência”, finaliza Fazzolari.



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TECNOLOGIA AGRÍCOLA

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Melhoramento da cana está em contínua especialização WELLINGTON BERNARDES, DA REDAÇÃO

A cultura canavieira enfrenta contínuos desafios para obtenção de elevada produtividade. O desenvolvimento de variedades responsivas a climas específicos com performance produtiva já é realidade no setor, capaz de inserir elevada tecnologia em mudas de cana-de-açúcar. O desafio é comprovar, premido por variáveis políticas e econômicas nada otimistas, que vale a pena apostar no novo material. Responsável pela liberação de 13 novas variedades na última década, o Programa Cana do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) tem importante papel no melhoramento da cultura. Marcos Guimarães de Andrade Landell, coordenador do trabalho, explica que os programas de melhoramento têm sido mais eficientes em levar variedades com melhor desempenho e que atendam demandas regionais. “Há uma grande rede experimental em curso para desenvolvimento destas variedades. O grupo varietal mais recente supera em quase 15% o potencial das variedades lançadas na década anterior”, ilustra. Com 25 anos completados em 2015, as variedades da Ridesa estão presentes em 65% dos canaviais, resultado obtido pela parceria entre o setor e as universidades. “Atualmente somos nove universidades com programas ativos de obtenção de variedades. Ou seja, são nove programas independentes de melhoramento genético. Isto significa que eles

Pesquisadores investem em variedades específicas às condições de cada região

não seguem orientação única, dando liberdade às universidades de inovarem em seus trabalhos”, enfatiza Edelclaiton Daros, coordenador geral da Ridesa. Com seis polos regionais, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) atenta para a regionalização da cultura. “O Brasil é um país com proporções continentais e, por isto, diferenças ambientais entre as diversas áreas produtoras da cana são rotineiras. Este fator dificulta o sucesso das variedades da cana”, afirma Hugo Campos de Quiroz, gerente de

melhoramento genético do CTC. Por este motivo, tem ocorrido regionalização de variedades. “Os programas têm adotado estratégias de seleção regional, o que acaba contemplando a maior diversidade ambiental abrangida a partir da última expansão da canade-açúcar entre os anos de 2003 a 2009”, observa Marcos Landell. Para os coordenadores, a resistência na aceitação de novos materiais é oriunda do receio de perdas da produtividade e da falta de conhecimento sobre as respostas destes

materiais. “Produtores e técnicos aprendem a conviver com uma variedade safra após safra, e isto gera experiência única destes profissionais, que passam a conhecer a reação destas variedades nas mais diversas situações. Naturalmente, há certa previsibilidade do comportamento e confiança” observa Landell. Em paralelo a estas barreiras, o surgimento de novos patógenos e o desenvolvimento de novos manejos fazem a pesquisa movimentar continuamente a genética em prol da alta produção.


TECNOLOGIA AGRÍCOLA

Março 2015

Marcos Landell, coordenador do Programa Cana do IAC

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Hugo Campos de Quiroz, gerente de melhoramento genético do CTC

Ambiente agrícola desafia a genética O desempenho da planta é dependente de seu material genético. Entretanto, sem condições adequadas para o crescimento, seu genótipo não será expresso da maneira correta. O fenótipo (genótipo somado às condições ambientais) é determinante na produtividade. Consciente disto, o melhorador passa a olhar de forma ampla o desenvolvimento das variedades. A mecanização dos manejos culturais alterou o ambiente agrícola, tornando viável o surgimento de novos patógenos e pragas. Marcos Landell, do IAC, aposta em novas técnicas de plantio, como o uso das mudas

pré-brotadas (MPB) para obter a real capacidade das variedades. “A melhor expressão da produção de materiais de elevado potencial biológico, com certeza se dará em canaviais que em um futuro próximo estejam sob um arranjo espacial e não sob uma base aleatória, que é o que temos há séculos, apesar de estarmos na era da agricultura de precisão”. Landell afirma que ganhos na faixa de 20% a 40% foram alcançados somando o potencial da variedade à técnica. A mecanização da cultura trouxe patógenos e pragas antes incomuns na

atividade. Conciliar o desenvolvimento de variedades sem olhar para este novo cenário está fora do planejamento dos programas. “O aparecimento de novos patógenos é um grande desafio para o melhoramento”, afirma Edelclaiton Daros, da Ridesa. O pesquisador cita o aparecimento do carvão e a falta de conhecimento sobre ferrugem alaranjada como barreiras a serem superadas, em parceria com a fitopatologia. Atento a essa nova demanda, o CTC lançará em 2017, uma variedade tolerante à broca. “Através de metodologias convencionais e da biotecnologia, queremos desenvolver somente

variedades tolerantes às principais doenças”, enfatiza Hugo Campos de Quiroz, gerente de melhoramento do centro. Daros explica que o gene da planta não trará todas as resoluções para os entraves no canavial, mas sim, possibilitará que a planta, em condições ideais, tenha um bom resultado. “O desenvolvimento de uma planta é um processo complexo, repleto de interações que devem ser bem executadas, para que o potencial das variedades apareça. O não entendimento deste complexo manejo reduz as chances da planta alcançar seu máximo desempenho”. (WB)


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TECNOLOGIA AGRÍCOLA

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Quais os limites do melhoramento? Usinas que confiaram nos novos materiais para incrementos produtivos moeram bons resultados. Com corretas práticas agronômicas, estes materiais mostram elevado potencial produtivo, confirmando a capacidade técnica da ciência ligada à cana-de-açúcar. “Creio que as unidades devam acreditar mais nos novos clones que estão chegando e ampliar o seu cultivo. Com manejo correto é possível obter elevada performance, uma vez que capacidade genética eles já possuem”, explica Edelclaiton Daro, da Ridesa. Marcos Landell, do IAC, concorda com o colega pesquisador e cita resultados expressivos que são realidade em grupos que trabalharam em uníssono com a pesquisa. “Não há mais dúvidas. Os produtores que ousaram adotar novas variedades estão entre os mais produtivos do Brasil. Gosto de citar a experiência da Otávio Lage, unidade pertencente ao Grupo Jalles Machado, que atingiu uma das maiores produtividades em 2014, apesar de se situar no Norte de Goiás, em solos de baixa capacidade produtiva”. Segundo os pesquisadores, o papel das variedades para aumentos sistêmicos na produtividade nos próximos anos é fundamental. “Temos visto produtividades em canas irrigadas de até 300 toneladas por hectare (t/ha), portanto existe um potencial de rendimento nas nossas variedades”, enfatiza Daros. No IAC, pesquisadores do Programa Cana forneceram tais condições

Técnicas e manejos devem acompanhar tecnologia de melhoramento

parecidas para catalogar a máxima performance dos materiais. “Com irrigação e nutrição plenas, algumas variedades atingiram produtividades de quase 400 t/ha, com os seus colmos medindo seis metros de altura, e o diâmetro próximo de 3,5 cm, com 17 colmos por metro de sulco”, exemplifica. Para os pesquisadores, a baixa

produtividade que acometeu principalmente o Centro-Sul é resultado da preferência pela expansão dos canaviais em detrimento do enfoque técnico, reduzindo o potencial da cana plantada. “A nosso ver, isto se deve à baixa adoção tecnológica neste período, o que levou a um retrocesso em práticas de viveiro e outros

Edelclaiton Daros, coordenador da Ridesa

fundamentos fitotécnicos”, afirma Landell. Segundo os grupos de pesquisa, o melhoramento não tem limites, a expressão do genótipo sim. A preocupação maior é se o setor irá investir em técnicas de manejo e conduções do canavial que façam justiça à elevada tecnologia inserida no DNA da canade-açúcar. (WB)


TECNOLOGIA AGRÍCOLA

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Qualidade de vida de rurícolas aquece mercado de saúde ocupacional Áreas de vivência oferecem carregadores para celular, bebedouros com água gelada, banheiros e refeitórios WELLINGTON BERNARDES, DA REDAÇÃO

Em busca da adequação às regulamentações do Ministério do Trabalho, usinas têm aquecido o mercado de produtos para a saúde ocupacional. Trabalhadores rurais são beneficiados por esta corrida, que promove a oferta de equipamentos destinados ao conforto e qualidade de vida no ambiente agrícola, cada vez mais moderno. Atentos ao cumprimento da legislação, gestores agrícolas adicionaram mais um elemento nas frentes de trabalho: a área de vivência, estrutura que possui a finalidade de oferecer ao trabalhador do campo as mesmas condições existentes no ambiente urbano. “As áreas de vivência possibilitam que trabalhadores rurais tenham maior conforto e segurança durante as operações no campo”, explica Christiano Massoni, da Alfatek. Antes em baixa oferta, a implantação de normativas como a NR 31, que trata da garantia de segurança e saúde no ambiente de trabalho agrícola, aqueceu o mercado de área de vivências. “No início foi difícil, pois não haviam estruturas adequadas para o campo. Hoje já

Rurícolas em área de vivência, em campo na unidade da Biosev

existe maior oferta destes produtos”, explica Rodrigo Alessandro de Lima Correa, diretor agrícola da Usina Batatais. Com o mercado aquecido, a tomada de decisões foi facilitada, pois produtos neste segmento estão padronizados e asseguram a saúde e conforto aos colaboradores. “Com as normativas, a oferta neste segmento segue um padrão mínimo de qualidade, o que facilita no momento de aquisição destes equipamentos”, explica Pedro Alves de Melo, da Rodotrem Implementos Rodoviários. O aumento da oferta pressionou o segmento a aprimorar a qualidade destes produtos. Assim, adequação às normas não é mais o único

parâmetro para investimento. As áreas de vivência devem possuir durabilidade e baixa manutenção. Com carregadores para celular, bebedouros com água gelada, banheiros e refeitórios, elas estão cada vez mais modernas, visando fornecer aos rurícolas um ambiente de trabalho mais confortável, que os proteja das intempéries climáticas. Eleita a melhor empresa no segmento pelo MasterCana Brasil 2014, a Alfatek oferece produtos com viés sustentável. A linha da empresa no segmento é movida à energia solar e possui tratamento de dejetos. Para Christiano Massoni, este segmento tende a crescer cada vez mais. “É um campo aquecido tanto para a

aquisição quanto para adequação de produtos às normativas. A obrigatoriedade destes equipamentos em todas as frentes de trabalho torna o produto constante no ambiente agrícola. Temos trabalhado para ofertar equipamentos de qualidade que acompanhem o viés sustentável da cana-de-açúcar”, explica. Com áreas preparadas para reduzir o risco de descargas atmosféricas, a Rodotrem acompanha esta especialização do segmento, Melo explica que o diferencial das companhias está em ofertar diferentes produtos. “O desafio no mercado de saúde ocupacional é apresentar um mix de produtos para as diferentes frentes agrícolas”.


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TECNOLOGIA AGRÍCOLA

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Usinas são responsáveis por adequação trabalhista de fornecedores Cientes de que a atenção deve ultrapassar os canaviais da própria usina, gestores de diversas áreas estão atentos às operações agrícolas de fornecedores, para que falhas no processo não contaminem o respeito social na produção de etanol, açúcar e energia no país. Obrigadas a monitorar o cumprimento das normativas do Ministério do Trabalho, as unidades podem assegurar de diferentes formas a qualidade de vida e segurança dos trabalhadores rurais. Estipular que fornecedores e terceirizados atendam à legislação através de contratos é uma alternativa para evitar que o descumprimento prejudique a usina. “As usinas são corresponsáveis pelo cumprimento dessas normas. Na formação inicial de um contrato de prestação de serviços, estas devem incluir tais aspectos da segurança do trabalho” explica Mário Márcio dos Santos, diretor presidente do Grupo de Saúde Ocupacional da Agroindústria Sucroenergética (GSO). Com mais de 900 hectares em contrato com fornecedores e parceiros, a Usina Batatais resolveu tomar a frente das execuções agrícolas. A usina realiza as operações de corte, carregamento e transporte (CCT), etapa que demanda maior mão de obra no campo, evitando assim problemas trabalhistas nesta etapa. “Nós fazemos todo o CCT. Nosso fornecedor apenas trata da canade-açúcar. Como a maior demanda por trabalho ocorre nesta etapa, preferimos realizá-la para ter maior controle do cumprimento da legislação”, afirma Rodrigo Alessandro de Lima Correa, diretor agrícola da Usina Batatais. Com 15 áreas de vivência móveis e dois caminhões pipas que trabalham as 24 horas do dia para levar água potável e gelada às frentes de trabalho, Rodrigo explica que possui colaboradores destinados apenas à manutenção destes equipamentos. “Temos pessoas dedicadas à operação de nossas áreas de vivência. Assim, alinhamos a manutenção à utilização, sem termos prejuízo no campo”, explica. O custo destes equipamentos é uma das queixas de gestores e às vezes, um entrave.

Área de vivência da Rodotrem: proteção contra descargas elétricas

Rodrigo Alessandro de Lima, da Usina Batatais

“Atualmente o elevado custo de manutenção com estes equipamentos é uma realidade, devido à sua presença obrigatória em todas as

frentes de trabalho. Para a garantia de qualidade de vida aos nossos colaboradores, temos que verificar constantemente seu

funcionamento”, explica Wilson Agapito, gerente de motomecanização da Usina Santa Isabel. Fornecedores e cooperativas que realizam as atividades agrícolas têm se unido para entender as cobranças do Ministério do Trabalho e prover qualidade de vida e segurança aos trabalhadores. Segundo o presidente da Coplacana, Arnaldo Antonio Bortolleto, o diálogo entre fornecedores e fiscais do trabalho tem ajudado no entendimento e implantação das normativas. “Estimulamos o diálogo entre o Ministério do Trabalho e nossos associados para que estes percebam os pontos que devem ser melhorados ou implantados, sempre com respeito à mão de obra”. Para Bortolleto, não há transição no cumprimento de normativas. “Sabemos que tais encargos e investimentos trazem maiores custos para nosso setor, porém não existe meio-termo no cumprimento de qualquer lei. Se quisermos produzir cana, devemos fazê-lo conforme diz a legislação”, conclui. (WB)



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ROBÔS PREPARAM-SE PARA INVADIR OS CANAVIAIS Uma das tecnologias está sendo desenvolvida para detectar doenças e pragas, além de estresse das plantas R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP

Após as transformações proporcionadas pela mecanização, as lavouras de cana-deaçúcar poderão ter um novo ciclo de mudanças, daqui a alguns anos, proveniente de uma tecnologia já bastante utilizada na área industrial: a automação. Os robôs agrícolas Agribot e Mirã – que fazem análises de plantas e de solo –, por exemplo, estão entre os principais candidatos a participarem de uma nova e “revolucionária” invasão no campo. Equipamento cor de laranja de dois metros de altura por três metros de comprimento, o Agribot está sendo desenvolvido, num primeiro momento, para detectar doenças e pragas, estresse das plantas por falta de água ou de algum nutriente, informa o engenheiro mecânico Ricardo Inamasu, pesquisador da Embrapa Instrumentação, de São Carlos, SP, há mais de 25 anos. A tecnologia faz a avaliação das condições das plantas por meio de espectro de luz. A utilização de sensores

Ricardo Inamasu: equipamento pode estar disponível em cinco anos

hiperexpectrais no robô agrícola cria condições para detecção de anomalias por meio da leitura de uma ampla faixa de luz. Refletindo nas plantas devido aos pigmentos que existem nas folhas e a biomassa, a luz dá uma resposta espectral – explica.

“Para entendimento mais simples, eu costumo ilustrar que a luz é como se fosse o som que tem o grave e o agudo. Nós nos comunicamos por meio do som. É possível detectar quem está do outro lado e se a pessoa está triste ou alegre. Uso o som como exemplo, porque é um conjunto: entonação,

timbre” – compara. De acordo com ele, a máquina vai identificar as áreas onde estão ocorrendo problemas. “Com um diagnóstico mais preciso, uma equipe poderá ser deslocada para pontos estratégicos, e não às cegas, verificando o que pode ser feito dependendo do estágio de desenvolvimento da cultura”, esclarece. Segundo o pesquisador, a máquina está sendo projetada, inicialmente, para entrar nas culturas de cana, milho, citros, soja ainda em tempo de intervenção. Ricardo Inamasu prevê que o equipamento poderá estar disponível no mercado, considerando uma avaliação otimista, daqui a cinco anos. Atualmente a terceira versão do protótipo desse robô agrícola está sendo submetido a testes de validação em uma plantação de milho. O desenvolvimento dessa versão do Agribot, iniciado há quatro anos, é coordenado pela EESC-USP - Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, tem o apoio da Finep – Financiadora de Estudos e Projetos, empresa pública federal vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e da Jacto, fabricante de equipamentos agrícolas. A tecnologia foi concebida na Embrapa Instrumentação – que integra o projeto até hoje – há catorze anos com o desenvolvimento de uma plataforma de apoio para a realização de medições no campo, conta Ricardo Inamasu.


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Testes avaliam potencial de retorno econômico do Agribot Alguns conceitos ainda precisam ser testados em campo para que seja possível avaliar o custo-benefício na utilização do Agribot e o potencial de retorno econômico desse investimento, afirma Ricardo Inamasu, da Embrapa Instrumentação. Segundo ele, esses equipamentos são caros, delicados e difíceis de serem operados no campo. “Exigem uma operação repetitiva, um procedimento de medição bastante rigoroso em termos de detalhes e de procedimentos”, observa. A expectativa é que o uso de robôs agrícolas possa apresentar vantagens econômicas significativas, pois tarefas repetitivas executadas em grandes extensões costumam ser bastante onerosas. “A gente imagina que o robô possa executar essas tarefas automaticamente no futuro. É possível fazer as medições a noite, pois pode ser usada luz artificial, nos feriados e finais de semana”, comenta. Além disso, os diagnósticos realizados por meio dessa tecnologia criam condições para o uso de agroquímicos (fertilizantes, nutrientes) conforme a necessidade de cada área. “Quanto maior a amplitude das diferenças, maior o potencial de retorno econômico”, enfatiza. A aplicação dessa tecnologia é baseada nos conceitos da agricultura de precisão. “A intervenção localizada é amigável ao meio ambiente. Não vai ser utilizada a subdosagem nem a superdosagem”, ressalta Ricardo Inamasu, que coordena o portfólio de automação da Embrapa. (RA)

Robô agrícola Agribot

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Robô Mirã ajudará na economia de agroquímicos e na sustentabilidade

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Débora Milori, entusiasta das ferramentas de agricultura de precisão

Mirã faz levantamento de dados sobre o solo Outra tecnologia que deverá aterrissar nas lavouras nos próximos anos é o Mirã – que significa futuro na língua tupi. Esse robô agrícola, de pequeno porte, é inspirado no jipe robótico explorador de Marte, Curiosity, da agência espacial norte-americana, Nasa. É dotado do sistema LIBS – sigla inglesa para “Espectroscopia de emissão óptica com plasma induzido por laser” –, capaz de

detectar informações sobre o solo. A atribuição do robô brasileiro será percorrer plantações, transitando nas entrelinhas, para o levantamento de alguns dados específicos. A leitura ocorre após um disparo de laser sobre uma amostra – que transforma uma parte do solo em plasma –, o que possibilitará a análise de sua composição química, a medição da

quantidade de matéria orgânica do solo, sua umidade e fertilidade. Com o uso dessa tecnologia será possível realizar a avaliação nutricional das plantas. O desenvolvimento dessa tecnologia é também uma parceria entre a Embrapa Instrumentação e a EESC-USP. Segundo a pesquisadora da Embrapa, Débora Milori, ferramentas de agricultura de precisão, como

o Mirã, ajudarão na economia de agroquímicos e na sustentabilidade ambiental da atividade agrícola. Esse projeto inclui o desenvolvimento do rover, ou seja, um robô móvel dotado de um sistema de suspensão passiva que cria condições para ele se deslocar para qualquer área de uma plantação, independentemente do tipo de terreno. (RA)



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Cuidados no plantio podem resultar em melhor produtividade WELLINGTON B ERNARDES, DE

R IBEIRÃO PRETO, SP

Etapa importante para a otimização da produção, o plantio necessita de olhar holístico para possibilitar à futura planta as melhores condições de desenvolvimento. Cientes da importância de elevar as produtividades nos canaviais, usinas se encontraram no Centro de Cana do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) para debater as melhores ferramentas e conhecer exemplos de sucesso na condução do plantio de canaviais. O encontro aconteceu no dia 10 de março em Ribeirão Preto (SP), e foi promovido pelo Grupo Fitotécnico de Canade-açúcar. Para Marcos Landell, coordenador do grupo, a oportunidade de reunir profissionais de diferentes regiões para debater técnicas fortalece a experiência do setor. “Unindo a discussão científica com as práticas realizadas nas usinas, podemos especializar cada vez mais estes manejos, otimizando a produtividade dos canaviais”. Para Landell, os preparos que antecedem o plantio são fundamentais para que a planta possa crescer em ambiente favorável à elevada produtividade.

Karoline Fernandes

Antônio Carlos de Oliveira,

Rodrigues, da Jalles Machado

da Denusa Destilaria

Representados no evento, o Grupo Jalles Machado anunciou que trabalha para reduzir as falhas no processo de plantio. Para tal, tem investido de forma ampla no manejo do solo através da implantação de rotação de culturas, preparo profundo do solo e sistemas de informação geográfica. “Preocupamo-nos de forma ampla com a implantação de um novo canavial. Para isto, preparamos o solo e o ambiente para que a planta cresça com o mínimo de interferências”, afirma Karoline Fernandes Rodrigues, gestora de planejamento e

pesquisa da Unidade Otávio Lage. Com estas medidas, a unidade conseguiu realizar o plantio em 97% das áreas com até 10% de falhas no processo, o que é considerado excelente pelo grupo. Em 2014 a Denusa Destilaria atingiu produtividade de 84 toneladas por hectare. Para alcançar este resultado, a empresa investe no plantio mecanizado e na implantação de mudas pré-brotadas (MPB). A expectativa é atingir produtividade de 100 toneladas por hectare este ano. “Para nós é muito importante a

redução de custos. Trabalhamos em constante diálogo para produzir uma matéria-prima de qualidade e com baixos custos de manutenção”, explicou o gestor de planejamento agrícola da Denusa, Antônio Carlos de Oliveira Jr., aos presentes. Em sinal de fortalecimento financeiro, a destilaria voltará a realizar a adubação de soqueiras, manejo importante para otimizar o desenvolvimento da planta. O manejo foi interrompido desde 2011, quando a empresa entrou em recuperação judicial.


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Cresce demanda mundial por açúcar cristal mais saudável O Brasil é o maior produtor e maior exportador mundial de açúcar, sendo também um dos maiores consumidores desse produto. Segundo a Unica —União da Indústria de Cana-de-açúcar e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Brasil é responsável por aproximadamente 44% das exportações globais A esses expressivos números têm sido somados nos últimos anos o interesse nacional em produzir cada vez mais um açúcar mais saudável e com melhor qualidade em termos de cor, filtrabilidade e maior rendimento de produção livre de descolorantes químicos, como o enxofre. Além disso, se faz necessário atender qualidade com baixo custo de produção, sem prejudicar o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores. Todas estas exigências já são possíveis, Com isto, as usinas que adotaram esta prática estão sendo priorizadas pelos compradores internacionais, uma vez que precisam cumprir as exigências mundiais cada vez mais frequentes por boas práticas de produção e ambientais. O Códex Alimentarius, norma internacional de alimentos, produzida em conjunto pela FAO e OMS, admite um limite máximo de 15 miligramas de SO2 por quilograma de açúcar branco, para consumo direto, mas há movimentos internacionais no sentido de se reduzir esse limite a 10mg/kg. A presença de resíduos de dióxido de

enxofre restringe as exportações brasileiras de açúcar branco, eis que diversos países importadores não admitem a presença dessa substância nos alimentos que ali ingressam. Embora a legislação brasileira tolere a presença de resíduos de dióxido de enxofre em açúcar e outros alimentos, até mesmo como consequência da adição de sulfitos — como conservantes, são notórios os prejuízos que sua ingestão pode causar à saúde humana. Broncoespasmos, reação anafilática,

dermatite de contato, hipotensão, cefaleia e dor abdominal são alguns dos efeitos adversos associados à ingestão de tais substâncias, relatados por L.A.F. Nagato e colaboradores, pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz, no trabalho intitulado “Avaliação do método Monier-Williams otimizado na determinação de dióxido de enxofre em sucos de frutas, água de coco e conserva de cogumelo”, publicado em 2009. Ademais, além de ameaçar a saúde dos consumidores de açúcar branco, o emprego

de enxofre no processo industrial expõe muitos trabalhadores à inalação de gases considerados cancerígenos. Há alternativas tecnológicas que não utilizam enxofre no branqueamento de açúcar. Até recentemente, o emprego de alguma dessas tecnologias implicaria na elevação do custo industrial. Entretanto, a nova tecnologia desenvolvida, denominada “processo de clarificação do caldo de canade-açúcar por ozonização”, além de eficiente, tem baixo custo.


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Uso do ozônio na clarificação foi inaugurado no Brasil em 2004 A nova tecnologia — que utiliza ozônio na clarificação do açúcar— foi empregada de forma pioneira em 2004, no Estado da Paraíba, com resultados positivos. A partir dessa experiência bem-sucedida, muitas indústrias sucroalcooleiras, instaladas em diversas regiões brasileiras, tendo constatado que a substituição de enxofre por ozônio aumenta a eficiência industrial e reduz custos, têm investido na modernização do processo industrial de clareamento do caldo de cana-de-açúcar. Poder-se-ia presumir que, pela pressão do mercado, a maioria das usinas brasileiras venha a modernizar-se de forma semelhante em um futuro próximo. Entretanto, como a substituição do processo que utiliza enxofre não é obrigatória, muitos anos ainda poderão decorrer até que esse pernicioso método seja completamente abandonado, em nosso País.

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A importância da patente concedida à Gasil A tecnologia que proporciona um açúcar mais saudável, com baixo custo de produção, favorável ao meio ambiente a saúde dos colaboradores das usinas, já está protegida pela lei, pois já foi concedida a patente do processo para a Gasil. A propriedade industrial se insere em ramo mais amplo do direito, denominado propriedade intelectual. Esta, por sua vez, se inclui tradicionalmente entre os direitos reais, dos quais o mais abrangente é o direito de propriedade, o qual, no caso, se exerce sobre bens imateriais. Na discussão dos projetos, argumentava-se ser a propriedade sobre o fruto do trabalho intelectual a mais sagrada das propriedades, pois não resultava da ocupação — como a propriedade sobre a terra — e o autor trazia ao mundo uma obra antes inexistente. A propriedade intelectual se tornou a nova riqueza das nações e temos de nos adaptar aos novos tempos. De um lado, como usuários do sistema, os centros de pesquisas necessitam tomar consciência da competição e se organizarem internamente para esse fim. Do outro lado estão os órgãos administrativos de concessão de direitos de propriedade intelectual: o Instituto Nacional

da Propriedade Industrial e os diversos órgãos descentralizados de registro de direito de autor. É preciso que o Governo Federal se conscientize de que o Instituto Nacional da

Propriedade Industrial não é mais um simples órgão administrativo de registros cartoriais, mas um instrumento de política econômica nos novos tempos. Um ponto positivo é o fato de o INPI ter se aproximado funcionalmente do CADE para a repressão do abuso do poder econômico exercido por meio de direitos de propriedade industrial. Mas o INPI necessita de urgente apoio do Governo Federal para que possa exercer eficientemente sua relevante função social e econômica. Em 26 de outubro de 2005 foi dada entrada no INPI o Pedido de Patente de Invenção sob o número de depósito PI 0505003-0 pelo Engenheiro Raimundo Nonato Coelho Silton. Em 30 de Dezembro de 2014 foi concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial a Patente de Invenção, que outorga a seu titular a propriedade da invenção caracterizada neste título, em todo o território Nacional, garantindo os direitos dela decorrentes, previstos na legislação em vigor. Gasil (81) 34718543 www.silton.com.br



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Nova linha de arames tubulares aumenta produtividade e vida útil das camisas de moenda Sabemos que o chapisco não é uma soldagem em si, e sim um tratamento de superfície que se faz nos frisos da camisa de moenda, através do processo de soldagem. O consumível de soldagem aplicado deve formar um depósito, ou partículas, que tenham em sua estrutura metalográfica certa quantidade de carbonetos duros para resistir ao desgaste abrasivo gerado pela cana e as impurezas presentes na mesma. A superfície dos frisos deve ter certa rugosidade para que ocorram duas funções básicas: primeiramente o arraste do bagaço (pega) pela camisa, para que não ocorram problemas com esmagamento e alimentação; depois, a proteção da superfície do friso para que este não tenha desgaste prematuro e perda de perfil. Contudo sabe-se que, se algumas destas funções forem comprometidas, implicarão diretamente no resultado operacional reduzindo índice de extração e aumentando as paradas da indústria. Do ponto de vista técnico, para a melhor eficiência do processo de chapisco se faz necessário a continuidade das aplicações de forma planejada através de uma planilha de controle, envolvendo os colaboradores diretos, distribuindo as tarefas de forma organizada em uma seqüência lógica para que a camisa de moenda nunca perca sua rugosidade.

Chapisco feito nos frisos da camisa da moenda

O número de colaboradores — e/ou equipamentos — que fazem a aplicação deve ser suficiente para atender a meta de gramas de chapisco aplicado por tonelada de cana processada e manter a moenda com seus índices estáveis. O número de gramas de chapisco por tonelada de cana

está relacionado com a qualidade do depósito realizado, o que é função da qualidade do eletrodo/arame. Com o desenvolvimento de um carboneto mais duro que as impurezas contidas na cana, tais como: sílica, quartzo, alumina, etc, associado ao

controle da aplicação do chapisco podemos obter uma durabilidade adequada. Enquanto um carboneto de cromo tem sua dureza entre 1200 ~ 1800 HV o carboneto de vanádio tem ~ 2950 HV com uma Matriz de ~ 66 HRC de dureza.


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Nova linha de arames tubulares Por esta razão, a voestalpine Böhler Welding desenvolveu uma nova linha de arames tubulares para chapisco (UTP AF Vanadium 500 e UTP AF Vanadium SG) com um novo conceito de formação de carboneto, se enquadra nesta filosofia de manutenção do chapisco, desenvolvido para resistir à extrema abrasão e outras condições provocadas pela moagem de cana-de-açúcar, lavada ou não, aumentando a produtividade e a vida útil das camisas de moenda. O desenvolvimento desta nova gama de consumíveis foi embasado no profundo estudo e conhecimento dos minerais abrasivos contidos no solo, pois uma vez que não é possível eliminar todas as impurezas nos sistemas de limpeza via úmido ou seco, se faz necessária a aplicação de materiais com compostos resistentes a abrasão severa. Uma solução buscada por muitos é a automatização ou

semi-automatização deste processo. Tirar ou reduzir o tempo de exposição do profissional que aplica o chapisco das áreas da moenda que oferecem riscos, ou seja, tirar o profissional da proximidade com os ternos. É evidente que o chapisco automatizado ou semiautomatizado, o qual faz uso do Arame Tubular como consumível, traz com ele uma série de vantagens técnicas comparadas ao processo Eletrodo Revestido. É importante ressaltar que o processo de chapisco com arame tubular é mais seguro para todos os colaboradores envolvidos, mantendo entre os colaboradores que estão manipulando os equipamentos a uma distancia segura. voestalpine Böhler Welding Soldas do Brasil (11) 5694.8370 www.voestalpine.com/welding/br/

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VANTAGENS DO PROCESSO ARAME TUBULAR AUTOMATIZADO

Mais rápido Maior taxa de deposição Menor perda Granulometria mais grosseira Fácil operação Melhor aderência das gotas com o metal base Aplicação de um rolo em ~3 horas (Eletrodo revestido 5~8 horas) Melhor qualidade da pulverização Maior durabilidade em dias de moagem, dependendo das condições de impurezas de cada usina os resultados podem variar em 3 a 12 dias sem aplicação.


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Eficiência na condução de projetos é decisiva para a sobrevivência DA REDAÇÃO

O sucesso na realização de projetos industriais está ligado à dedicação no planejamento. Prever possíveis variáveis, antecipar custos e definir cronogramas são fundamentais para o êxito, que é alcançado quando a imprevisibilidade é reduzida e os prazos são cumpridos. Para o engenheiro elétrico Alexandre Gonçalves Pedroso, a inserção de ferramentas de controle que reduzam as incertezas durante a aplicação de projetos é essencial em qualquer atividade financeira. “A implantação de uma metodologia para a gestão de projetos no setor melhora o controle e a condução destes, refletindo numa administração mais eficiente, capaz de enfrentar um cenário mercadológico competitivo e repleto de variáveis.” Pedroso esteve em Ribeirão Preto, SP, nos dias 26 e 27 fevereiro para ministrar o Curso de Gerenciamento de Projetos, realizado através da parceria entre a Sinatub Tecnologia e a ProCana Brasil. No evento, o engenheiro apresentou algumas etapas de aprovação de projetos antes da

liberação do orçamento. “É possível diminuir as variáveis e a probabilidade de que algo errado aconteça quando realizamos etapas graduais”, explica Pedroso. Gerente regional, Pedroso é responsável pela gestão de projetos em 7 unidades produtoras de açúcar e etanol do grupo Raízen. Experiente no segmento, o engenheiro é criterioso na condução destes processos, e alerta que os riscos econômicos do país e, principalmente do setor, devem ser observados para minimizar futuros problemas. “Em momentos de economia nacional frágil, fica evidente a importância de preparar corretamente todos os projetos conduzidos na indústria, melhorando a eficiência do fluxograma produtivo, que deve ser otimizado e possuir baixo custo”. Durante o curso, os participantes foram separados em turmas para simular a elaboração de um projeto na área sucroenergética. A dinâmica consolidou os conceitos apresentados e gerou debates e trocas de experiências sobre o tema. “Tivemos a oportunidade de ilustrar todo o ambiente da gestão de projetos, desde a fase de estudo até a implantação”, explicou Pedroso.

D EPO I M ENTOS

CONHECIMENTO PRÁTICO “Sentia a necessidade de aplicar na prática tais conhecimentos para solidificar a teoria, que já estudo há algum tempo. No curso consegui aplicar os conceitos e aprender um pouco mais sobre o correto planejamento.” Daniel Sabino, engenheiro de processos da Citrosuco

TROCA DE TECNOLOGIAS “É muito importante essa troca de experiência com colegas de outras empresas para entender a real situação da área e quais pontos todos nós podemos melhorar para alavancar o setor, oferecendo melhores tecnologias ao segmento”. Wilson Negrão, gestor corporativo de manutenção e engenharia, da Cutrale

APRIMORAR TÉCNICAS “Nossa função é buscar reduzir custos e aprimorar os processos industriais. Para isto, a constante renovação do conhecimento em paralelo com o diálogo com profissionais de sucesso e empresas do setor facilitam não só a melhoria interna da empresa, como de toda a agroindústria.” Aldo Périco, gerente de manutenção e projetos da Noble

MELHORAR METODOLOGIA

Alexandre Pedroso: é possível reduzir custo com planejamento

“Queremos melhorar a metodologia de projetos internos de nossa empresa, com vistas no cliente final, que terá um produto entregue com melhor qualidade, em menor prazo e com custo reduzido para empresa.” Rafael Caram, coordenador de desenvolvimento de produto, da Citrotec



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Terra Rica é a primeira usina a operar principais set points em laço fechado Sistema implantado na unidade gera ganhos de cerca de R$ 3 milhões por safra JOSIAS M ESSIAS, DE MARINGÁ, PR

É crescente o número de usinas que estão reconsiderando uma clássica expressão do setor, que diz que “a safra é feita no campo”. Se garantir a produtividade e qualidade agrícola é algo extremamente complexo e custoso, já que é altamente dependente de fatores externos como clima, pragas e mudanças varietais, o foco volta-se ao conceito de que uma usina, na sua essência, é uma processadora de energia e ART e deve realizar esta transformação com a maior eficácia possível. Transformar uma matéria-prima que consome entre 60% e 70% dos recursos da empresa e que apresenta crescentes variações de qualidade e de produtividade, é uma tarefa que a cada dia torna-se uma das mais complexas. Neste sentido, o Grupo Usaçúcar foi o primeiro a implementar o mais alto nível de controle em uma planta sucroenergética, o sistema de simulação e otimização em tempo real com atuação em laço fechado, denominado S-PAA. Na safra passada, a unidade Terra Rica implementou o S-PAA com operação em laço fechado em alguns dos principais set points da indústria, como a redução de vapor, embebição, direção de mel, controle de caldo misto, trocador de mosto, coluna A e na coluna C. Os ganhos apenas com as atuações deste sistema somaram R$ 600.000,00 para a empresa durante a safra. “O S-PAA é um software de gestão

Wilson José Meneguetti, diretor executivo da unidade Terra Rica, e João José Marafão, gerente industrial

que modela todos os processos da planta industrial e torna fácil enxergar pontos de operação que divergem de um padrão ideal de performance. É nestes pontos que a equipe trabalha com ideias de padronização e soluções automatizadas. A lógica do sistema é tão forte que às vezes apostamos que ela vá funcionar. E funciona!”, declara

Saulo Pertozan, engenheiro químico da Terra Rica. O laço fechado é o mais alto nível de atuação do software S-PAA, cujo desenvolvimento teve início com o gerenciamento online da parte de energia na unidade Tapejara na safra 2008/2009. Em função dos resultados obtidos pelo sistema, o

Ganhos de R$ 8,7 milhões apenas no primeiro ano O S-PAA é uma solução completa para gerenciamento e otimização em tempo real de toda a planta de açúcar e etanol, desenvolvido e comercializado há quatro anos pela Soteica do Brasil. A suíte denominada S-PAA possui três módulos principais: o de gerenciamento e otimização de energia; o de gerenciamento e otimização do processo produtivo; e o de operação em laço fechado. Os dois primeiros módulos fornecem soluções que permitem ganhos econômicos quando comparado à condição atual. São mudanças sutis, por exemplo, na pressão e temperatura das caldeiras, gerenciamento da carga dos turbo-geradores, gerenciamento do consumo de insumos, melhor uso da extração e contrapressão nos geradores, melhor aproveitamento do vapor de processo, etc. O terceiro módulo já permite que alguns “set points” sejam alterados automaticamente pelo sistema, agilizando as implementações propostas e estabilizando o processo em um novo patamar de rentabilidade. Implementado

Interface 3D mostra equipamentos e fluxos com baixa eficiência e faz recomendações de melhorias em tempo real

atualmente em 7 unidades produtoras, o sistema está em uso contínuo 24 horas por dia, fornecendo recomendações que geraram ganhos totais de R$ 8,7 milhões apenas no

primeiro ano. “O tempo médio de retorno do investimento observado nas usinas instaladas é de 90 dias após a implementação”, afirma Nelson Nakamura, diretor da empresa. (JM)

Grupo avançou com as implementações nas unidades Paranacity (2010), Cidade Gaúcha e Terra Rica (2012) e até nas usinas Iguatemi, Rondon e Ivaté, as quais não exportavam energia. O objetivo era economizar bagaço e enviar o excedente para as demais unidades com capacidade de exportação.

Diversidade de atuação gera visão privilegiada A carreira de João José Marafão demonstra que vivenciar cada etapa de produção permite uma visão estratégica de todo o processo. Marafão iniciou sua carreira na usina São Martinho, de Pradópolis (SP), trabalhando na lavoura. Sempre na busca pelo desenvolvimento profissional, passou por vários setores da indústria e formou-se engenheiro químico em 1992. Participou da integração do COI na São Martinho, em 1999, já que até então a usina era operada em ilha, cada setor tinha sua operação. Depois, trabalhou com açúcar líquido, agregando novos conhecimentos. De volta à gestão de usinas, atuou por três anos e meio na Dacalda, localizada em Jacarezinho, PR, quando aceitou o desafio para participar da implantação da unidade Terra Rica, onde vem atuando desde o projeto e construção. (JM)


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ENTREVISTA - João José Marafão, gerente industrial da unidade Terra Rica

FERRAMENTA É TUDO! O software evoluiu da área de cogeração para a área de processos em 2012 na unidade Cidade Gaúcha e para a unidade Terra Rica em 2013. Em entrevista ao JornalCana, o gerente industrial da unidade Terra Rica, João José Marafão, fala sobre a implementação desta inovação gerencial e tecnológica. JornalCana - Como aconteceu o projeto na Terra Rica? João José Marafão - De que adianta ter todo o trabalho e cerca de 70% dos investimentos na área agrícola, se quando a matéria-prima chega na indústria ela não é eficientemente processada? Somando as constantes pressões de preços baixos e altos custos, é preciso uma ferramenta de gerenciamento eficiente para maximizar a produção industrial. Este é o pensamento que norteia nosso trabalho e nossas decisões. Tendo em vista que a Terra Rica já nasceu com alto nível de automação e um sistema de exportação de energia fora do padrão convencional, tivemos que incorporar alguns controles de processo ao software para maximizar a cogeração. Com o grande ganho dessa implantação, decidimos controlar as demais etapas de produção de açúcar e etanol que a ferramenta permitia. Pensávamos que o COI seria o ápice de gestão industrial, mas diante dos grandes desafios atuais, o COI só é a base, é o mínimo para estar na média de eficiência. Quais os principais desafios na implementação? O principal desafio foi a primeira

reação dos colaboradores, que pensavam que era uma ferramenta para controlá-los. Na verdade não é isso, mas sim para facilitar e integrar o trabalho de todos os setores da indústria. Reunimos o pessoal do COI para juntar as informações e apresentar a todos. Depois, começamos a treinar os operadores e aí o pessoal entendeu que a lógica do software é facilitar o trabalho de todos. É como se os operadores contassem com um grupo de super consultores em cada etapa do processo, 24 horas, 7 dias por semana, dando recomendações objetivas para a máxima performance da produção industrial. Além dos ganhos econômicos, podemos dizer que o software eleva a integração da equipe. Ele traz um novo padrão de comportamento? Sim, o pessoal se torna mais vigilante, mais objetivo, com uma visão de indicadores e não apenas de experiências próprias. Hoje o operador sabe o que 0.1% de extração significa em termos de retorno financeiro. Existem muitas variáveis que afetam diretamente o resultado global da planta e que devem ser tratados corretamente a cada momento. O S-PAA traz esses indicadores para que a gente consiga maximizar os ganhos, fazendo os ajustes recomendados. Outro ganho importante do S-PAA é que ele permite ao operador ter uma visão da performance de toda a planta e não apenas do seu setor. Saber quais são os impactos que uma atuação específica vai gerar nos resultados da indústria naquele momento.

Isto facilita todos os setores a remarem na mesma direção. Percebo também que gestores e líderes às vezes têm medo de uma ferramenta como o S-PAA, acreditando que ela possa mostrar falhas ou um baixo desempenho profissional. Essa não é a nossa visão! Até porque não adianta “maquiar” números, pois a eficiência industrial é, em resumo, a diferença entre o ART que entrou e que saiu da planta. E nosso papel é gerenciar esta eficiência. Se você contar com um software como o S-PAA, muito melhor, o ideal é incorporá-lo como ferramenta de gestão e de trabalho da equipe, baseando as decisões em indicadores reais. Neste sentido, o laço fechado veio a contribuir? A princípio o nosso intuito com o laço fechado foi atuar na extração e na fermentação, áreas que apresentam tendência de perdas significativas no processo. Daí, na safra passada, avançamos com a operação do S-PAA em laço fechado em alguns dos principais set points, como a redução de vapor, embebição, diluição de mel, controle de caldo misto, trocador de mosto, na coluna A e na coluna C. Começamos a implementar as malhas fechadas com o pessoal ao lado, auxiliando e ajudando. Com o tempo eles começaram a operar com malha fechada e logo já não sabiam mais operar sem ela, pediam até para voltar quando, por um ou outro motivo, era preciso operar em manual. Este fato demonstra que a operação

humana deve ser reservada cada vez mais para eventos não previstos e análises de ocorrências, e delegar ao software a atuação naquelas operações onde as lógicas envolvidas e o conhecimento adquirido já permitem uma atuação direta. Especialmente nos set points que requerem rapidez ou muita frequência na atuação sob pena de perdas significativas na recuperação da fábrica. A embebição serve como exemplo. E quais os resultados econômicos? Nossa medição em energia com e sem o S-Energy apresentou ganhos de R$ 1,2 milhão na primeira safra, aplicando um fator de segurança de 30%. Do S-Energy para o S-PAA (processo), o ganho foi de R$ 600 mil na safra. Já do S-PAA para S-PAA em laço fechado, de um ano para outro, foi mais R$ 1,2 milhão de ganhos. Com isso, só a unidade Terra Rica já soma um benefício na casa de R$ 3 milhões, valor que paga todo o investimento que o Grupo USAÇÚCAR fez na implantação do sistema em suas unidades. Percebemos que o S-PAA é um PDCA online. Você agrega conhecimento utilizando a ferramenta. Temos reuniões semanais para discutir as ocorrências, gráficos de eficiência, e debatemos as causas e as soluções. Aí padronizamos nossos procedimentos em níveis superiores de eficiência. Com o S-PAA podemos aprender com os parâmetros adotados em um ano e buscar novos deltas ótimos para o próximo ano. É um crescimento contínuo, e a Soteica tem parte importante neste ciclo de evolução.

Equipe da Terra Rica: software facilita o trabalho visando o resultado econômico de toda a planta e não apenas de um setor


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TECNOLOGIA INDUSTRIAL

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Eletrificação amplia disponibilidade de energia para exportação Motorização de acionamentos também aumenta produtividade da extração e simplifica manutenção R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP

Maior rendimento na conversão de energia, instalações mais compactas, manutenção simplificada, possibilidade de acionamento individual de cada rolo de um terno de moenda são algumas vantagens proporcionadas pela eletrificação de acionamentos das plantas industriais de usinas e destilarias. Para isto, o mercado fornecedor oferece uma linha de equipamentos e acessórios que inclui inversores, painéis, transformadores, sistemas de controle e automação, além de motores elétricos e redutores dotados de tecnologias cada vez mais avançadas. A eletrificação veio para melhorar o ciclo térmico, proporcionando a redução de consumo de vapor no processo, afirma Carlos Alberto Caserta, gerente industrial da Usina Iacanga, de Iacanga, SP. Segundo ele, o rendimento da turbina a vapor fica na faixa dos 50% e do motor elétrico entre 85% a 90%. As vantagens da eletrificação podem ser constatadas também pelos excedentes de energia para exportação. Uma usina com sistema de extração acionado por motor

Com o motor elétrico é possível operar o sistema de extração por via remota, do COI

elétrico, para o processamento de 1,8 milhão de toneladas de cana por safra, tem um ganho de aproximadamente 13kW/tc em relação a uma unidade, com planta industrial equivalente para a moagem da mesma quantidade de matéria-prima que utiliza, no entanto, turbinas a vapor para acionar as moendas. Essa diferença na disponibilidade de bioeletricidade pode ficar entre 20 a 25 kW/tc se a usina com extração não eletrificada utilizar também turbina a vapor no sistema de preparo de cana. Os benefícios proporcionados pelo uso do motor elétrico não param aí. “Uma moenda eletrificada tem maior produtividade. É mais flexível. Há um maior controle da velocidade. Com o motor, é possível utilizar 25%, 50%, 75% e 100%

de rotação”, detalha Carlos Caserta. A motorização possibilitou o surgimento de redutores de velocidade mais modernos, mais compactos, que requerem menos espaço – observa. Além disso, criou condições para a modernização do sistema de preparo de cana com a utilização de apenas um desfibrador – vertical e horizontal – mais eficiente, em substituição ao sistema convencional que utiliza picador e desfibrador. Nessa nova alternativa, a eficiência na abertura das células varia de 89% a 91,5%, superando entre 2% a 3%, na média, o resultado obtido pelo preparo tradicional. “A manutenção do sistema, com motor elétrico, é bem menor. Antigamente existiam grandes engrenagens, com volandeiras, pinhão, palito. Hoje, o sistema conta com

motor, redutor e moendas”, comenta. Além da redução de custo, há maior rapidez na montagem do sistema eletrificado em relação à extração acionada por turbina a vapor – compara. “É mais fácil, tem menos componente. Ganha-se tempo na entressafra”, ressalta. Com o motor elétrico, é possível operar o sistema de extração, de maneira remota, do COI – Centro de Operações Integradas, afirma Carlos Caserta. Em decorrência disto, há uma redução do número de pessoas na unidade industrial. Existe a necessidade, no entanto, de contar com profissionais mais qualificados, especializados em elétrica para que ocorra a identificação de eventuais problemas com inversores ou mesmo para a operação do COI – exemplifica.

PROJETO ELEVA EFICIÊNCIA Um projeto de automação bem elaborado pode contribuir expressivamente para uma melhor eficiência energética, levando em consideração sempre o atendimento das normas vigentes, observa Alexandre Lima, supervisor de Engenharia da APS Componentes Elétricos, que é o maior distribuidor autorizado ABB do Brasil. “Além de um bom projeto, é necessário também um plano de manutenção preventiva contínua para esses sistemas, evitando assim possíveis paradas e desperdício”, afirma. Para a realização de um plano de manutenção, a APS conta com um laboratório e técnicos especializados e certificados pela ABB – informa. (RA)

Tecnologia evita desperdícios e aumenta competitividade Com diagnósticos e controles bem feitos, é possível otimizar processo e obter ganhos em produtividade A automação dos sistemas de acionamentos elétricos é considerada um recurso tecnológico importante para a elevação da eficiência energética de plantas industriais de usinas e destilarias. Os benefícios proporcionados por essa tecnologia aumentam a competitividade da empresa. “O investimento inicial em automatização tem, na maioria das vezes, um retorno muito rápido, pois o processo aumenta a produção e a qualidade da matéria produzida, além de evitar desperdícios, atrasos e acidentes na área de trabalho”, avalia Alexandre Lima. Os acionamentos e CCMs modernos, com redes, proporcionaram um avanço impressionante aos sistemas de controle, segundo Victor Coelho, diretor de Engenharia da Authomathika. A partir das redes de controle, é possível acionar com precisão, fazer diagnósticos e executar um controle muito refinado – destaca.

Victor Coelho: a partir das redes de controle é possível acionar com precisão

“Com a facilidade dos ajustes, controle e diagnósticos bem feitos, conseguimos sintonizar melhor as malhas de controle e otimizar os processos e assim ganhar muito em produtividade e produção”, afirma

De acordo com ele, uma malha de controle, que não trabalha no seu limite de controle, traz perdas enormes ao processo, seja de energia, vapor, tempo e qualidade do produto final. Com o sistema bem controlado,

trabalhando no limite ideal e mantendo-se todo tempo nestes parâmetros, independente do operador, consegue-se reduzir muito os gastos com energia e aproveitá-la melhor, afirma. Os acionamentos elétricos, como elemento final de controle, bem dimensionados, com instalações adequadas e bem construídos contribuem muito para isto – ressalta. A Authomathika disponibiliza inclusive diversas soluções para acionamentos elétricos das plantas industriais de usinas, que podem ser utilizadas de maneira parcial ou total pelos clientes. Esse trabalho abrange: área de projeto (básico, executivo, plano diretor); aquisição de equipamentos, materiais de construção, de instalação; estruturas dedicadas de controle, administração, logística e armazenamento, entre outros itens. Além disso, a empresa oferece construção e produção, o que inclui fabricação dos painéis, quadros, produção dos CCMs discretos, CCMs inteligentes, bancos capacitores e cubículos, execução de obras civis e eletromecânicas. Há ainda serviços voltados à realização de estudos para adequação à NR 10; gestão de obras, logística e mobilização e certificação de redes e documentações. (RA)


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Motores proporcionam maior flexibilidade nos acionamentos O desenvolvimento de equipamentos de controle, como inversores de frequência, criou condições favoráveis para a eletrificação A incorporação de motores elétricos nas plantas industriais de usinas e destilarias, em substituição às turbinas a vapor, tem proporcionado maior flexibilidade nos sistemas de acionamento, além de outras vantagens. A motorização permitiu a utilização de novos modelos de equipamentos que vão desde os que são usados para o acionamento do terno completo de moenda até o acionamento individual de cada rolo de um terno de moenda. Esse recurso de variação de velocidade de cada rolo possibilita, por exemplo, girar em sentido inverso, em caso de eventuais embuchamentos de ternos. A opção de ajuste individual da velocidade de cada rolo permite também o emprego de motores de menor potência e baixa tensão, o que gera economia em relação ao acionamento por um só motor, de grande potência, que requer sistemas de controle e proteção que apresentam custo mais elevado.

Alexandre Lima: em busca da eficiência energética

A utilização de motores no acionamento de moendas cria condições para a medição de parâmetros, como rotação, potência e torque, facilitando a automação da operação. A motorização elétrica dos acionamentos em usinas começou a ser viabilizada a partir do surgimento dos semicondutores e, em seguida, dos tiristores, uma chave eletrônica de estado sólido. É que esses avanços tecnológicos possibilitaram o desenvolvimento de inversores de frequência e de outros equipamentos de controle para

motores. Os inversores de frequência têm papel importante na eletrificação, ajudando até na proteção do motor, comenta Carlos Caserta, da Usina Iacanga. Segundo ele, com esses componentes, é possível obter mais arranque com a mesma potência e reduzir também os tempos de parada. “Há maior integração de sistema, pois os inversores auxiliam na automação na planta”, diz. Para Victor Coelho, da Authomathika, não existem atualmente mais condições de

montar um projeto de automação, de controle, seja do processo, seja moenda elétrica, sem os inversores de frequência. “Eles são fundamentais como elemento final de controle e feedback”, ressalta. Os inversores de frequência têm uma grande participação em soluções da APS Componentes Elétricos, promovendo ganhos significativos na produtividade e redução do consumo de energia, afirma Alexandre Lima, supervisor de engenharia da empresa. “É o investimento ideal para a eficiência energética, dado o atual cenário que enfatiza o não desperdício”, observa. Entre os produtos, comercializados pela APS, que têm facilitado o processo de automatização dos sistemas de acionamentos elétricos de usinas e destilarias, incluem-se ainda disjuntores de média tensão, banco de capacitores para correção de fator de potência, painéis certificados de baixa e média tensão A APS Componentes Elétricos possui outras soluções para acionamentos elétricos em média e baixa tensão, como SPMA Sistema de Proteção microprocessado APS; CCM - Centro de Comando de Motores com ou sem monitoramento em rede e segregações 1, 2, 3 ou 4; QGBT - Quadro Geral de Baixa Tensão, com certificação TTA ou PTTA (60439-1); QD e QDF - Quadro de Distribuição e Força; QTA - Quadro de Transferência Automática com chave comutadora ou disjuntores intertravados, com transferência automática ou manual. (RA)


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TECNOLOGIA INDUSTRIAL

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Planetário cria opções para a configuração da montagem O processo de eletrificação das plantas industriais tem proporcionado ganhos expressivos para as unidades sucroenergéticas, principalmente para usinas e destilarias que comercializam bioeletricidade. “Não há dúvidas que a eletrificação dos acionamentos é um dos principais pontos para viabilizar um projeto de geração de energia”, ressalta Alexandre Azzine, gerente da Unidade de Negócio Transmissões TGM. A eletrificação criou condições para o surgimento de modernos redutores de velocidade, que empregam avançada tecnologia. Na hora de escolher um equipamento nessa área, é preciso levar em consideração, no entanto, as condições em que o equipamento será submetido. “Podemos listar como alguns dos principais pontos a potência instalada, a relação de transmissão e o torque requerido pelo equipamento a ser acionado”, afirma o gerente da TGM. Segundo ele, a empresa disponibiliza, para a eletrificação de acionamentos, a linha de redutores planetários G3 Full, que conta com mais de 1.300 equipamentos em operação. “O G3 Full traz inovações no sistema hidráulico, no dimensionamento dos componentes e no sistema de proteção eletrônica Monitork”, afirma. Diminuição de custos de instalação, redução de manutenção dos equipamentos, melhor controle operacional da moenda, maximização dos resultados na extração e aumento da capacidade de moagem estão entre as vantagens proporcionadas pelos redutores planetários da empresa, destaca Alexandre Azzine. Os equipamentos da linha G3 Full tiveram pequenas alterações em seu projeto, nos últimos anos, com modificações nos componentes periféricos e rolamentos, para que esses redutores tenham um ciclo de dez safras sem manutenção – comenta. “Os planetários de gerações anteriores podem ser convertidos para a linha G3 Full. A maioria dos nossos clientes tem optado pela conversão no momento da manutenção dos equipamentos, dado a pequena diferença nos preços da manutenção básica e na conversão”, diz.

Planetário G3 Full: redutor no acionamento central, rolo a rolo e também no assist drive

Alexandre Azzine: G3 Full tiveram pequenas alterações em seu projeto

Além do dimensionamento para dez safras sem manutenção, os redutores G3 Full permitem ao cliente flexibilidade no projeto de instalação, perfeito controle operacional de torque e rotação e elevada eficiência energética – enfatiza Alexandre Azzine. Para os acionamentos de moenda, os redutores planetários TGM apresentam basicamente três configurações de montagem: o sistema de acionamento central, o acionamento rolo a rolo e o assist drive utilizado quando há necessidade de alívio no sistema existente de acionamento. Além disso, os planetários podem acionar diversos equipamentos – informa –, como difusores, esteiras, mesas alimentadoras, hilos, tambores, entre outros. (RA)

Soluções levam em conta cargas requeridas e regime de trabalho A partir de determinadas condições das plantas industriais, como cargas requeridas, regime de trabalho, ambiente, a WEG Cestari oferece diversas soluções para o atendimento das demandas de acionamentos de usinas e destilarias. Entre as opções, incluem-se equipamentos para

picador/desfibrador, redutor em balanço com acoplamento rígido para transportadores de correia e corrente, acionamentos para torres de resfriamento, o sistema STC para decantadores, os motorredutores para ambientes alimentícios (Wash e DryWell), os motorredutores Dip, destaca Marcelo Girardi, engenheiro de vendas técnicas da empresa.

Essas opções aliam o profundo conhecimento das aplicações no setor com a integração do Grupo WEG e suas soluções em motores e automação, visando o fornecimento de acionamentos de alta eficiência e performance, objetivando maior confiabilidade e disponibilidade dos equipamentos – enfatiza. (RA)



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POLÍTICA SETORIAL

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BNDES aprova financiamentos voltados ao setor DA R EDAÇÃO

No fim de 2014 o BNDES — Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social aprovou financiamentos a quatro projetos do setor sucroenergético, que totalizam R$ 592,1 milhões. Grande parte deste montante, cerca de R$ 310 milhões, será destinado a implantação da planta de etanol de segunda geração da Abengoa Bioenergia, construída de forma integrada ao processo tradicional na Usina São Luiz, em Pirassununga, SP (veja entrevista na página 48). Esta será a quarta planta de etanol 2G do Brasil e terá a capacidade nominal de 64 milhões de litros por safra. Em comunicado, a Abengoa informou que o Brasil é o maior produtor de cana do mundo e o segundo na produção de etanol, atrás dos EUA, por isso o uso de palha e do bagaço é uma alternativa para a produção de bioetanol. Foram aprovados também dois projetos no âmbito do PAISS Agrícola, programa do BNDES e da Finep de incentivo à inovação tecnológica na área agrícola. O primeiro é o da Biovertis Produção Agrícola Ltda., de Barra de São Miguel, Alagoas, que receberá R$ 139,3 milhões. Os recursos serão destinados à realização de investimentos no estabelecimento de um sistema de manejo adequado para canaenergia, planta com alta produtividade e maior concentração de biomassa.

O projeto visa desenvolver diferentes técnicas de manejo de alta performance para várias atividades, dentre as quais estão preparo do solo, plantio, tratos culturais, colheita e transporte. A segunda aprovação do PAISS Agrícola é da Raízen Energia, no valor de R$ 4,5 milhões. O objetivo é viabilizar em larga escala técnicas mais ágeis e eficientes de propagação de mudas pré-brotadas de cana-de-açúcar. Com o novo método, espera-se reduzir significativamente os custos de plantio, além de aumentar a qualidade da germinação da lavoura de cana, contribuindo para incrementar a produtividade agrícola do setor. O setor foi o responsável pela primeira aprovação dentro deste programa, que busca, dentre outros objetivos, apoiar o desenvolvimento tecnológico e a difusão de produtos e processos

que promovam a produção sustentável. A operação aprovada é da Cerradinho Bioenergia, que terá financiamento de R$ 138,8 milhões para investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) relacionados à implantação de sistema de limpeza a seco e à implantação de sistema de recepção e separação de fardos na unidade industrial de Chapadão do Céu, GO. Com os recursos, a empresa também investirá na compra de máquinas e equipamentos nacionais. Eles serão usados na recepção e separação dos fardos de palha de braquiária e da cana. O projeto também inclui investimentos que devem elevar de 70 MW para 160 MW a capacidade de cogeração de energia elétrica da usina. Também será adquirido um sistema de limpeza a seco da cana-de-açúcar na fábrica de Chapadão do Céu.

5 Perguntas para Artur Yabe Milanez

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O que demonstram os projetos aprovados ao setor? Confiança da indústria. No ano passado tínhamos um contexto mais complicado e vejo que em 2015 a conjuntura se apresenta melhor. Mesmo com as dificuldades, as empresas apresentaram investimentos para desenvolver novas tecnologias ao setor. Podemos dizer que é um sinal de recuperação do segmento? É cedo para avaliar as medidas. Acreditamos que as coisas estão começando a caminhar melhor. Mas ainda é necessário tempo para o setor se recuperar economicamente. Acredito que este seja um ano para indústria se recolocar no mercado. As usinas endividadas têm acesso aos financiamentos? Estamos abertos a todo o setor com vários programas de crédito. É necessária uma análise de capacidade de endividamento, documental, enfim, procedimentos padrões em qualquer banco, antes de se conceder financiamentos. Com a melhora nos preços, muitas delas vão reduzir o endividamento e retomar a capacidade financeira. O BNDES fomenta novas tecnologias que visam melhorar o rendimento da indústria e aumentar a produtividade agrícola. Hoje vemos que muitas tecnologias já saíram do papel. Estamos com três plantas de etanol 2G em operação. Tão logo se tornem viáveis a gente imagina que a conjuntura será melhor. Com a crise hídrica, tem aumentado o interesse em cogeração? Até o momento não registramos aumento na procura por projetos que envolvam energia. Mas pelo

Artur Yabe Milanez é gerente do departamento de Biocombustíveis do BNDES

que o mercado tem apresentado, principalmente no que se refere aos projetos envolvidos nos leilões de energia, esperamos que a procura melhore. É uma área importante para o setor que deve se desenvolver.

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O que o setor pode esperar para o futuro? O setor vai se recuperar à medida que retomar sua competitividade. E isso pode vir de duas maneiras: uma com reajustes tarifários, que ocorreu; e outra por aumento de produtividade, onde entra a necessidade de novas tecnologias e investimentos. O BNDES está pronto para auxiliar o setor neste trabalho.

Parceria ajuda Biosev a elevar liquidez financeira Ao passo que o setor se movimenta em busca de uma retomada, empresas de outros segmentos voltam suas atenções para a cana-de-açúcar. Um acordo assinado pela Biosev, braço sucroenergético da Louis Dreyfus Commodities (LDC), em dezembro último, é exemplo disso. A empresa firmou parceria com o IFC — International Finance Corporation para entrada de aproximadamente R$ 128 milhões em novo capital na empresa. A companhia vai emitir 12.817.750 novas ações, ao preço de R$ 10 cada uma, chegando ao valor de capital estimado. A companhia considera que este seja um passo importante para elevar sua liquidez financeira e alongar o perfil de vencimento da sua dívida. Em comunicado, informou: “Os recursos captados asseguram uma maior flexibilidade na gestão financeira e garantem à companhia acesso a linhas de financiamento em condições adequadas e competitivas.” Rui Chammas, presidente da Biosev, fala com satisfação sobre a decisão da IFC em se tornar acionista da companhia, ressaltando que o entendimento só foi possível após um rigoroso processo de análise. “Esta transação representa um voto de confiança na nossa estratégia e na nossa capacidade de gerar valor para nossos acionistas”, afirma. O executivo acrescenta que o objetivo para 2015 é tornar a empresa uma geradora de caixa. Para Luiz Daniel de Campos, executivo responsável por Agronegócios da IFC no Brasil, esta é uma área estratégica para a IFC por conta de seu potencial para o desenvolvimento e a redução da pobreza. “Apoiamos o plano da Biosev de elevar sua produtividade e sua geração de energia a partir de biomassa, que ajudará a melhorar os padrões de sustentabilidade da indústria e estimular o setor de energia renovável do país”. A Biosev se originou a partir da fusão da LDC Bioenergia com a Santelisa Vale, em 2009. É a segunda maior processadora de cana do mundo, com 11 unidades industriais localizadas em quatro polos agroindustriais no Brasil. Conta com capacidade total de moagem de 36,4 milhões de toneladas por safra.


PRODUÇÃO

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No Nordeste há quem aposte em eucalipto para complementar renda Joint venture formada entre Caeté e Duratex é sinal de que um novo modelo de produção associada se inicia

no município de Maceió, a topografia não favorece a entrada das máquinas e torna o manejo complexo e custoso. “Precisamos atender a legislação e a cana tem se tornado inviável em algumas regiões. Estamos nos antecipando a problemas futuros principalmente com a área ambiental.”, afirma. De acordo com Lyra, a Usina Caeté é responsável por plantar e cultivar os eucaliptos, que estão sendo alocados em

áreas antes com cana-de-açúcar. A colheita, produção e a parte comercial, será de responsabilidade da Duratex. Ao todo, são previstos investimentos de 12 milhões de reais anuais pelos próximos seis anos, tendo como objetivo o aumento de 1.500 hectares a cada um deles. Num futuro não tão distante, Aryl Lyra acredita que o eucalipto se tornará um importante complemento financeiro para as usinas. Isso porque a crise vivida pelo setor

tem feito com que os produtores busquem alternativas de maior rentabilidade. O engenheiro agrônomo e responsável pelo projeto de Eucaliptocultura do Grupo Carlos Lyra, Shirlan Madeiros fala sobre a viabilidade do cultivo e o ganho em termos de produtividade. “Não podemos deixar de mencionar os benefícios ambientais gerados pelo plantio do eucalipto. Além de proteger as encostas, futuramente serão formados corredores ecológicos, interligando os remanescentes de mata pertencentes à usina”, assinalou Madeiros. A própria Caeté planeja, caso os valores de energia sejam compatíveis, investir em uma termoelétrica. “Em regiões onde se constate que a cana não é viável, podemos plantar eucalipto e comercializar energia elétrica.” Aryl Lyra diz ainda que a empresa não perderá sua essência sucroenergética, mas tem revisto sua forma de atuação. A partir de agora serão necessárias regiões planas para que se mantenha o cultivo de cana, ainda que estas estejam distantes das unidades produtoras. “O custo do CCT — Corte, Carregamento e Transporte final é melhor. Infelizmente, a cana se tornou muito cara e temos que antecipar algumas ações. Precisamos de áreas onde se possa colher mecanicamente, ainda que sejam distantes.” Composto atualmente por quatro indústrias produtoras de açúcar, etanol e bioeletricidade, o Grupo Carlos Lyra está presente nos estados de Alagoas e São Paulo. Além do setor sucroenergético, atua também nos segmentos têxtil, pecuária, táxi aéreo e radiodifusão, e agora, silvicultura.

A falta ou a não utilização de uma regulamentação é o grande problema. “A solução para o fornecedor é cumprir uma regulamentação. Depois que acabaram com o IAA — Instituto do Açúcar e do Álcool não colocaram nada no lugar. Existe uma lei, a 48/70, que entre seus artigos, diz que a usina poderia produzir 40% da cana e os outros 60% tinham que ser de fornecedor. Hoje ninguém fala nisso, mas a lei existe. Esse é apenas um ponto, mas existem outros que nos auxiliavam e são deixados de lado”.

O experiente produtor acredita que a região esteja iniciando um novo ciclo. “Antes tínhamos cana, agora eucalipto. Estamos vivendo um processo de substituição. E já percebemos que no Nordeste o eucalipto se dá muito bem, principalmente nas encostas. Sem contar o cultivo de pasto para gado, que tem apresentado preços compensadores.” A primeira ‘safra’ de eucalipto já vem sendo colhida. Num primeiro momento, a madeira tem sido usada para construir mourões de cercas em suas propriedades.

Para o futuro, Antonio Celso espera por dias melhores. “Não tenho dúvida de que o mercado é muito melhor aqui. Ao contrário da cana, você corta quando considera melhor, não quando a usina define”. Por amor, ele diz que pretende deixar alguns hectares de cana-de-açúcar, ainda que seja para jogar conversa fora com os amigos. “Tenho uma propriedade na Zona Norte que quero manter por carinho. A ideia é manter um engenho de pinga, para que a tradição continue”. (AR)

ANDRÉ R ICCI, DE R IBEIRÃO PRETO, SP

Apresentada aos brasileiros no início do século XVI, a cana-de-açúcar foi a base da economia nordestina na época dos engenhos. Com o passar do tempo, ganhou força em outras regiões do país e se tornou uma importante cultura do agronegócio brasileiro. Contudo, a região que abriu as portas para o seu plantio, agora vê no eucalipto uma aposta futura. Em uma joint venture inédita no setor sucroenergético, a Usina Caeté, pertencente ao Grupo Carlos Lyra, e a Duratex Florestal, farão investimentos em silvicultura. As conversas entre as empresas aconteciam já há algum tempo. Entre julho e setembro de 2013, a Usina Caeté plantou, por conta própria, 1.500 hectares de eucalipto. Já em 2014, outro tanto igual foi investido e a parceria foi firmada. Aryl Lyra, diretor do Grupo Carlos Lyra, conta que a ideia de investir em outra cultura surgiu há cerca de sete anos, quando alguns produtores se juntaram em busca de uma solução para o constante aumento de custo da produção canavieira. O processo de mecanização, segundo ele, é um dos responsáveis por este aumento. Na Usina Cachoeira, por exemplo, localizada

Aryl Lyra, do Grupo Carlos Lyra: ideia de investir em outra cultura surgiu há sete anos

Coração partido Um dos maiores produtores e fornecedores de cana do Nordeste brasileiro, em breve, poderá ocupar outro lugar. Isso porque em vez da tradicional cultura, Antônio Celso Cavalcanti de Andrade, com o coração partido, não tem feito a renovação de seus canaviais. Muito pelo contrário. No lugar da cana, eucalipto e pasto são as apostas. Ex-presidente da Feplana — Federação dos Plantadores de Cana do Brasil, Andrade explica que vem colhendo cana apenas nas áreas que se mantém. Já as que demandam maior investimentos para renovação, estão sendo substituídas. Há cerca de dois anos, ele lembra que detinha entre 90 e 100 mil toneladas de cana. Atualmente, o valor não ultrapassa 50 mil. “O objetivo é acabar com o plantio de cana. O motivo? O fornecedor não tem mais condição de sobreviver. Trabalhamos em um segmento intranquilo, desunido e norteado por incertezas. Quem tiver juízo, deixará o setor.” Nascido e criado dentro dos canaviais, Antonio Celso afirma que hoje em dia, com o fechamento de várias usinas, os poucos compradores que restaram definem as regras de mercado e deixam os fornecedores sem opção.


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PRODUÇÃO

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5 perguntas para Luís Alleoni

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Qual o atual cenário da análise de solo no país? Devido à agricultura de precisão, aumentou muito a quantidade de amostras enviadas para os laboratórios de análise de solo. Porém, produtores e agrônomos devem avaliar a qualidade do laboratório e não somente valorizar o preço e a rapidez na entrega dos resultados. Nossa recomendação é escolher um laboratório credenciado pelo Inmetro ou que participe dos programas de proficiência dos órgãos oficiais de pesquisa, como é o do IAC. Quais os ganhos do agronegócio nacional com a acreditação de laboratórios? A maior chance de receber laudos com resultados mais confiáveis. Laboratórios acreditados pela ISO 17.025 empregam técnicas rigorosas de controle de qualidade e são avaliadas anualmente pelo Inmetro. Rastreiam informações, usam amostrascontrole certificadas, calibram anualmente os equipamentos e treinam permanentemente sua equipe técnica. O Laboratório de Análises Químicas de Solo da Esalq está entre os mais acreditados laboratórios de análise de solo do país. Qual trabalho tem sido desenvolvido para obter tal resultado? Nossa equipe tem profissionais com formação sólida em química laboratorial e profissionais de nível superior fazem cursos de pós-graduação (lato sensu). Implementamos cartas-controle, introduzimos rígida auditoria interna, controlamos rigorosamente a qualidade de vidrarias, reagentes e equipamentos de laboratório. Tramitamos todas as informações por meio de sistema informatizado e aumentamos o leque de análises, incluindo as ambientais, com determinação de teores de metais pesados em solos e resíduos agroindustriais. O setor tem buscado quais análises? Basicamente análises químicas e físicas para fins de classificação e avaliação da fertilidade do solo, além de vinhaça, calcário, gesso agrícola, fertilizantes e demais resíduos.

Luís Alleoni é professor do departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP

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Qual a recomendação para acompanhamento da fertilidade neste início de safra? Deve-se monitorar permanentemente a fertilidade do solo. Usinas que investem em correção adequada do solo e adubação equilibrada estarão sempre com o canavial bem cuidado e com maiores produtividades. Não recomendamos redução na intensidade de amostragem de solo e nem estratégias arriscadas de diminuição do custo, como diminuir o número de sub-amostras a serem coletadas, assim como laboratórios que ofereçam preços excessivamente baixos em relação aos praticados pelo mercado.


PRODUÇÃO

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Excedente de etanol explica queda de preços

Hidratado é destaque em 2014/15 no Centro-Sul A safra 2014/15 está próxima do término no Centro-Sul, apenas seis unidades continuam a moer cana-de-açúcar, conforme divulgado pela União da Indústria de Cana-deaçúcar (Unica) no relatório de acompanhamento de safra. Divulgado no dia 11 de março, o relatório aponta produção acumulada de 26,095 milhões de litros de etanol, crescimento de 2,22% na produção, alavancada pelo hidratado, que somou 15,27 milhões de litros, variação positiva de 5,34%. A moagem acumulada está menor devido aos baixos índices pluviométricos, resultando em queda de 4,26% no processamento da cana, que somou 570,78 mil toneladas. A produção de açúcar apresentou a maior queda, com redução de 2,3 mil toneladas, que representam 6,73% a menos em relação à 2013/14. No acumulado, foram produzidas 31,96 mil toneladas da commodity.

O excedente de 1,6 bilhão de litros de etanol no mercado interno em fevereiro, em relação ao mesmo período da safra passada, mais o início antecipado da safra 15/16 explicam a forte queda de preços registrada até 23 de março último. A avaliação é de Júlio Maria Borges, diretor da JOB Economia e Planejamento. “Considerando que as exportações da região Centro - Sul na atual safra estão cerca de 1,2 bilhão de litros inferiores à safra passada e a produção 0,56 bilhão de litros superior, podemos dizer que até fevereiro/15 temos um excedente de 1,6 bilhão de litros em relação ao mesmo período da safra passada”, relata.

Seca reduz entrega de cana em 80% no Espírito Santo Os fornecedores ligados a Coafocana, cooperativa de cana de Itapemirim, Marataízes e Presidente Kennedy, no Espírito Santo, contabilizam 80% de perdas no campo devido à pior estiagem registrada nas últimas décadas no estado. Segundo Gilberto Miranda Fernandes, presidente da entidade, somente 28 mil toneladas de cana deverão ser entregues para a Usina Paineiras. Na safra anterior, os cooperadores entregaram 140 mil toneladas para a usina, principal parceira da matéria-prima dos fornecedores. No total, a usina deve processar 780 mil toneladas. “Além da estiagem, a redução na oferta decorre também da falta de estímulo do governo federal, que concedeu subvenção a produtores [de cana] do Nordeste e do estado do Rio, mas ‘pulou’ o Espírito Santo”, critica Fernandes. A Coafocana representa mais de 500 pequenos produtores. Mais de 90% deles planta apenas cana.


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PRODUÇÃO

Março 2015

ENTREVISTA: Gerson Santos-Leon, vice-presidente executivo da Abengoa

Operação 2G da Abengoa não afeta a convencional na São Luiz A Abengoa Bioenergia Agroindústria será a empresa responsável pela quarta planta de etanol celulósica brasileira. Com mais este investimento, a capacidade instalada de produção de etanol 2G no país atingirá aproximadamente 200 milhões de litros por safra. O grupo conseguiu a aprovação de um financiamento via BNDES de cerca de R$ 309,6 milhões para implementar o projeto. O valor total da obra não foi informado, mas o JornalCana entrevistou o vice-presidente executivo da Abengoa, Gerson Santos-Leon, que trouxe detalhes do trabalho. Confira: JornalCana: Em qual unidade será construída a fábrica de etanol 2G e como funcionará? Gerson Santos-Leon: A Abengoa pretende construir uma nova linha de etanol de segunda geração na unidade São Luiz (Pirassununga, SP). A linha processará a palha da cana para produzir cerca de 80 milhões de litros por ano de etanol hidratado de segunda geração enquanto cumpre as demandas de vapor e energia autossuficientes, utilizando a tecnologia de propriedade da Abengoa. Irá operar em escala comercial? Qual o custo estimado para a produção do biocombustível? Nossa estimativa aproximada é de cerca de R$ 0,90 a R$ l,00 por litro. Quais as vantagens do conceito de hibridação proposto pela Abengoa? Existem alguns pontos importantes. A nova linha de operação 2G não afeta a operação atual da Usina São Luiz na produção de açúcar e etanol 1G; a capacidade de operar durante todo o ano (340 dias/ano), sem parada forçada durante a entressafra; sinergias nas operações agrícolas (plantio de cana); além da produção de etanol muito competitivo. Qual o cronograma da obra? A construção está prevista para começar em 2016, o comissionamento da planta ocorreria em 2017 e o início da operação em 2018. O aporte financeiro virá 100% via BNDES? Estamos trabalhando com o BNDES sob os termos e condições do financiamento. Atualmente estamos buscando parceiros de capital próprio para o projeto e estamos em negociações com várias instituições financeiras.

A empresa acredita que esta seja a principal forma de superar a crise? Com certeza. A estratégia da Abengoa, mesmo nestes períodos incertos de energia renovável, continua firmemente alinhada à nossa missão e visão principais, aplicando soluções inovadoras para a sustentabilidade nos setores ambientais e energéticos, trazendo valor a longo prazo para os nossos acionistas através de um modelo de gestão caracterizado por empreendedorismo, responsabilidade social e gestão transparente e eficaz. Em 2014 e 2015 tivemos e continuamos a ter marcos significativos para o setor de biocombustível e especificamente para o etanol celulósico. Pela primeira vez, as usinas de etanol celulósico bem financiadas e de dimensão comercial são o início das operações - e o sucesso de

brotamento da indústria do etanol celulósico está apenas no horizonte. Os senhores trabalham com alguma associação ou empresa de pesquisa neste projeto? A Abengoa, através do seu grupo empresarial Abengoa Bioenergia, é líder no desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de biocombustíveis e bioprodutos químicos e a sustentabilidade das matérias-primas, dedicando recursos significativos para pesquisa. A Abengoa tem a sua própria tecnologia de produção de álcool de segunda geração que é um pacote de tecnologia única capaz de produzir biomassa derivada de açúcares, biocombustíveis e bioprodutos que combinam o nosso próprio processo com enzimas e a criação de levedura.



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SAÚDE & SEGURANÇA

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Segurança do trabalho exige vigilância e atenção redobrada Crise não pode ser usada como justificativa para o adiamento de medidas que eliminam comportamentos de riscos e suas consequências R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP

O momento é de atenção e vigilância. Não se deve baixar a guarda quando o assunto é segurança do trabalho e saúde ocupacional, mesmo diante das dificuldades econômicas decorrentes da crise que afeta o setor sucroenergético. A tendência de algumas empresas, nesses momentos de instabilidade, é diminuir gastos e adiar projetos de áreas e atividades que gestores avaliam, de maneira equivocada, não estarem diretamente ligadas à produtividade e à rentabilidade da usina. O atendimento de diversos itens da área de segurança, incluindo as exigências das NRs – Normas Regulamentadoras – gera custos devido à necessidade de implantação ou adequações de áreas de vivência e de locais para treinamentos, instalação de ponto de descarga de óleo diesel, aquisição de EPIs e de equipamentos de combate a incêndios, investimentos em treinamentos, entre vários exemplos. A postergação de medidas na área de

segurança, com justificativas relacionadas à necessidade de contenção de despesas, podem ter, no entanto, efeitos desastrosos – alertam especialistas. Engana-se quem avalia que ações voltadas à segurança e saúde no trabalho nada têm a ver com a otimização de recursos e elevação da competitividade. Mais do que isto, as empresas têm a obrigação de evitar riscos e zelar pela saúde e integridade

física dos seus funcionários. A adoção de práticas seguras nas atividades desenvolvidas no campo e na indústria resulta no aumento da produtividade, reduz custos por afastamentos e indenizações por acidentes de trabalho, evita ações trabalhistas, civis e criminais e, em casos de maior gravidade, autuações e interdição pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Além disso,

gera impactos positivos na imagem da empresa junto a investidores e clientes. O setor de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) deve ser visto como prioridade em usinas e destilarias – enfatizam profissionais da área. A realização de campanhas e ações isoladas, apesar de positiva, não apresenta resultados efetivos na maioria dos casos.


SAÚDE & SEGURANÇA

Março 2015

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Gestão de SST deve envolver todos os recursos humanos O sistema de gestão de SST deve ser desenvolvido – afirmam – nos moldes dos modelos adotados em qualidade, meio ambiente, responsabilidade social para que possa, de maneira contínua, envolver todos os recursos humanos e projetos do empreendimento com ações de controle dos riscos. O cumprimento das inúmeras exigências das normas regulamentadoras – que é

considerada tarefa de elevada complexidade – contribui inclusive para a implementação de ações de controles de riscos, definindo e atribuindo procedimentos e responsabilidades para empregadores e empregados. Programas voltados ao acompanhamento das ocorrências criam condições para a identificação de evidências que possam resultar em aprendizado, treinamento e reciclagens de procedimentos ou instruções

de trabalho. O treinamento contínuo de profissionais de todas as áreas desempenha também um papel fundamental para afastar as práticas inseguras do dia a dia da empresa. Além disso, existe a necessidade da capacitação adequada dos gestores para o desenvolvimento de conhecimentos específicos voltados ao acompanhamento da aplicação da legislação. Diversos problemas trabalhistas, inclusive os ligados à área de

segurança do trabalho, ocorrem devido à falta de condições adequadas oferecidas pela empresa e ao despreparo de lideranças em relação às questões que envolvem a aplicação de normas. De maneira geral, unidades e grupos sucroenergéticos precisam estar sempre atentos – recomendam especialistas – aos fatores relacionados à identificação, avaliação e controle adequado dos riscos. (RA)


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USINAS

Março 2015

Pitangueiras celebra 40 Anos e lança Projeto UP! Projeto consolida investimentos na integração de pessoas, processos e softwares JOSIAS M ESSIAS, DE PITANGUEIRAS, SP

Para celebrar os 40 anos de sua fundação, a agora denominada Usina Pitangueiras, realizou um evento na manhã de 10 de março, reunindo os gestores e líderes da empresa para homenagens e lançamento do Projeto UP! O Projeto consolida grandes investimentos da empresa na integração de pessoas, processos e softwares visando melhorar os resultados gerais do negócio como meio de garantir a longevidade e perpetuação da empresa. “É um esforço integrado de toda a empresa, unindo potenciais na implementação do ERP e de softwares especialistas, tendo em vista que a evolução na gestão de uma empresa com a complexidade de uma usina é um grande desafio”, afirma João Henrique de Andrade, diretor administrativo e industrial. Em seu discurso, Rafael de Andrade Neto, diretor agrícola, disse que o objetivo e missão dos acionistas é que a empresa não só cresça, mas também que se perpetue independente das falhas do governo brasileiro. “Vamos reduzir custos, porém de maneira correta, cortar gastos onde podemos e investir onde é necessário de maneira que tenhamos o melhor custobenefício para a empresa e para seus colaboradores.” Na ocasião também foi inaugurado oficialmente o Refeitório da unidade, sendo denominado “Pedro Miguel”, em homenagem ao funcionário que completou 60 anos de serviços exemplares à família. “A dedicação, o comprometimento e o entusiasmo do Pedro antecedem a própria fundação da Usina”, completou Rafael.

João Batista de Andrade, diretor presidente; João Henrique de Andrade, diretor administrativo e industrial; Pedro Miguel, funcionário homenageado e Rafael de Andrade Neto, diretor agrícola

SAFRA A Usina Pitangueiras, localizada na cidade paulista de mesmo nome, prevê começar a safra entre a última semana de abril e começo de maio. E o término está previsto para outubro ainda. “Não gostamos de entrar com a safra em novembro, por conta das chuvas, que atrapalham o sistema

de colheita e tem de segurar o safrista por mais tempo que o contratado”, diz João Henrique de Andrade, diretor da companhia. A previsão da Pitangueiras é de moer 2,250 milhões de toneladas de cana, 150 mil acima do volume processado na safra 14/15. Do total de cana, 15% são cana própria e arrendada, e os 85% restantes de

fornecedores. Devido aos investimentos feitos na fábrica de açúcar, a safra da Pitangueiras deverá ser açucareira. “No máximo poderemos fazer 36% de etanol”, estima Andrade. A comercialização do etanol e do açúcar da Pitangueiras é 100% feita pela Copersucar, a qual a empresa é coligada.


PESQUISA & DESENVOLVIMENTO

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Cana transgênica tem lançamento previsto para 2017 Impacto de variedades geneticamente modificadas deverá ser maior que o do etanol 2G RENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP

O setor sucroenergético brasileiro prossegue sua busca incessante por inovações tecnológicas que possam agregar valor ao processo de produção agroindustrial. Após o surgimento do etanol celulósico – o chamado etanol 2G –, que começa a dar os seus primeiros passos, a cana transgênica pode ser a protagonista de um novo salto tecnológico na atividade sucroenergética. O CTC – Centro de Tecnologia Canavieira prevê o lançamento da primeira variedade geneticamente modificada em 2017. Todas as atividades relacionadas com a primeira cana transgênica CTC estão progredindo de acordo com o cronograma, confirma Alessandro Pellegrineschi, gerente de biotecnologia da empresa. Essa variedade, que é resistente à broca (Diatraea saccharalis), incorpora a tecnologia Bt que tem sido largamente estudada em

Alessandro Pellegrineschi: principal benefício será econômico

milho, soja e outras culturas. O Centro de Tecnologia Canavieira também realiza estudos para o desenvolvimento de cana tolerante à seca e de linhagens transgênicas com alto teor de carboidratos para a produção de etanol – revela. Na opinião dele, o lançamento da cana transgênica terá provavelmente, para o processo de produção, um impacto muito

maior que o etanol 2G deverá proporcionar, com a sua consolidação, para o setor sucroenergético. “Aumenta o retorno do produtor e reduz as perdas de produtividade sem mudanças nas práticas atuais de produção de açúcar ou etanol”, enfatiza. O principal benefício para os agricultores, proporcionado pela cana transgênica, será econômico – destaca Alessandro Pellegrineschi. “Eles terão redução do uso de pesticidas e um maior rendimento, além da tranquilidade ao saber que seu canavial está mais seguro”, afirma Mas, o que está faltando ainda para que as variedades geneticamente modificadas se tornem realmente acessíveis aos produtores? No caso da variedade Bt – que está mais adiantada –, o CTC já conta com os fenótipos de tolerância a insetos. “Estamos concluindo os testes regulamentares em campo. O grande desafio será introduzir continuamente novas variedades Bt e desenvolver boas práticas agronômicas”, afirma. Em relação à variedade com alto teor de carboidratos, o gerente de biotecnologia informa que o trabalho está na fase de desenvolvimento do produto. Para a cultivar tolerante à seca, o Centro de Tecnologia Canavieira realiza testes de campo em linhagens transgênicas de cana desenvolvidas pela Embrapa Agroenergia –

detalha. Está sendo avaliado se alguma dessas linhagens dará fenótipos úteis – observa – que possam ser usados para melhorar a tolerância à seca. Essa pesquisa conta também com a parceria da Basf. Segundo o gerente de biotecnologia, o CTC tem inclusive diversos colaboradores internacionais e nacionais em seus projetos de desenvolvimento da cana transgênica. Além de trabalhos voltados à obtenção da cana tolerante à seca, a Embrapa Agroenergia possui ainda duas linhas de pesquisa de engenharia genética com essa planta. Uma delas tem o objetivo de aumentar o conteúdo da biomassa. A outra visa modificar a parede celular para facilitar o acesso aos açúcares do bagaço e palha, o que favorecerá a produção de etanol celulósico e outros produtos de alto valor agregado. O lançamento de variedades da cana do futuro tem mobilizado algumas instituições e empresas. A norte-americana Ceres anunciou que pretende lançar no Brasil sua cana geneticamente modificada num período de cinco a sete anos, que terá um ganho de produtividade em até 30%. A empresa trabalha no país três características prioritárias para a cana transgênica: aumento de biomassa, tolerância a estresse e elevação da produção de sacarose.

Universidades desenvolvem Ganho de produtividade pesquisas com finalidade didática depende de pesquisa básica A cana transgênica tem sido também tema de pesquisas de alunos de graduação e pós-graduação de universidades que integram a Ridesa – Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético, que mantém inclusive convênio com a Embrapa para a realização de ações conjuntas nessa área. “Na Universidade Federal do Paraná, temos alguns trabalhos de transformação genética. O intuito é muito mais didático do que tentar construir uma planta que demanda genes de outras empresas e universidades”, explica Edelclaiton Daros, coordenador geral da Ridesa. Segundo ele, o desenvolvimento de cana transgênica não é o foco, nesse momento, da Rede Interuniversitária. “Mas, como temos um percentual de variedades

bastante expressivo no Brasil, é evidente que as empresas vão procurar a Ridesa, em um determinado momento, para a realização de alguma parceria nessa área. Haveria, nesse caso, muito aporte de recurso”, observa. A transgenia é mais uma ferramenta para que se obtenha ganhos com determinadas tolerâncias, como resistência à seca, ao frio, a uma doença – avalia. “Infelizmente, a cana-de-açúcar é uma cultura poliplóide, ou seja, tem um cromossomo sobrando. Essa característica, que é diferente em relação a outras culturas, complica mais o trabalho”, observa. Mas, de alguma forma, esse aspecto deverá ser dominado pela engenharia genética. (RA)

A incorporação de um gene específico na planta é importante, diz Edelclaiton Daros, que é professor no curso de Agronomia da Universidade Federal do Paraná. “Mas, a cana transgênica vai ser plantada no mesmo ambiente que temos hoje para plantas tradicionais, que está degradado, compactado”, constata. Em decorrência disto, não é possível afirmar – avalia – que haverá ganho de produtividade com a cana transgênica. “Se uma planta mais tolerante à seca for plantada num solo compactado, qual será o resultado? O que adianta ter uma planta que acumula mais açúcar ou que tenha resistência a um determinado herbicida? Pode haver um ganho em custo, o que é extremamente importante. Mas, para isto se tornar produtividade, existe ainda um

caminho que precisa ser percorrido” – pondera. De acordo com ele, faltam investimentos em pesquisa básica para a cultura, como adubação com palha e sem palha, mudanças em decorrência da mecanização. Existem problemas sem respostas, como compactação do solo devido à maior presença de máquinas – exemplifica. “O que adianta investir milhões de dólares na construção de uma planta transgênica, se não estamos sabendo nem o bê-á-bá?” – questiona. Caso ocorresse uma retomada das pesquisas no setor, haveria um ganho significativo do rendimento das variedades convencionais e também aumentaria – enfatiza – o potencial de produtividade das canas transgênicas que ainda serão lançadas. (RA)


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LOGÍSTICA & TRANSPORTES

Sistema de delivery agiliza serviços de almoxarifados Localização estratégica, próxima ao local de consumo, também facilita a operação e diminui custos R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP

Estoque não agrega valor ao negócio. Pelo contrário: agrega custo. Em decorrência disso, uma das metas da gestão de almoxarifados de usinas e destilarias é reduzi-lo o máximo possível, sem comprometer, no entanto, o principal objetivo dessa atividade, que é garantir as operações, inclusive as de manutenção, nas áreas agrícola e industrial. Quem explica isto é Francisco Luiz Gallo, gerente corporativo de suprimentos do Grupo Pedra Agroindustrial, com sede em Serrana, SP. “Costuma-se dizer que o valor em estoque é do tamanho de nossa ignorância. Quanto mais inteligente se consegue ser, quanto mais se consegue gerir a cadeia de suprimentos, menor valor vai se ter em estoque para assegurar a operação. Quando não se sabe direito como vai ser a manutenção e como será o atendimento do fornecedor, o estoque é inflado” – comenta. O ideal é ter operação ininterrupta. E, depois, o menor estoque possível – enfatiza. Para a obtenção de resultados positivos nessa área, é necessário levar em consideração diversos fatores. Um deles está relacionado à própria localização dos almoxarifados. “A

praticidade de estarem próximos ao local de consumo não só facilita a operação, como reduz custo”, afirma Francisco Gallo. Antigamente as usinas mantinham diversos almoxarifados. Com a construção de usinas mais compactas, o foco hoje é o funcionamento de um único almoxarifado – constata. É exatamente assim que acontece nas duas unidades mais novas do Grupo Pedra Agroindustrial: Ipê, de Nova Independência, e Buriti, de Buritizal, ambas no estado de São Paulo. Na Usina da Pedra, de Serrana, SP, que é uma unidade antiga, a oficina agrícola está muito distante da indústria. Neste caso, há dois almoxarifados: um industrial e outro agrícola. Para aprimorar a gestão, os almoxarifados do grupo utilizam o sistema de delivery para o atendimento da área industrial. Mesmo na unidade de Serrana, esse serviço de entrega é realizado, porque a destilaria e a fábrica de açúcar ficam um pouco distante do almoxarifado industrial devido ao porte da usina. A oficina da indústria fica próxima. “Dá para buscar a peça a pé”, observa. Nas usinas Ipê e Buriti, o delivery também se tornou fundamental para a agilidade dos serviços. O funcionário da indústria faz uma solicitação pelo sistema. Após o pedido ser aprovado, um veículo transporta a cada meia ou uma hora os produtos solicitados – diz. A confiabilidade dos estoques, o endereçamento correto, avaliação de giro, data de vencimento do produto – no caso de agroquímicos, por exemplo – são fatores que também precisam ser considerados na gestão de almoxarifados.

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LOGÍSTICA & TRANSPORTES

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Curva ABC é ferramenta importante para a redução de estoque “O principio do almoxarifado é atender com velocidade. Esse é o conceito”, ressalta Francisco Gallo. A questão de quantos deles são necessários depende inclusive das estratégias adotadas para o cumprimento dessa meta. O que não pode ocorrer é inflar o estoque, com 100% dos produtos que a usina pode precisar, elevando os custos do almoxarifado sem critério, de acordo com o gerente de suprimentos da Pedra Agroindustrial. Avaliação criteriosa é um item que não pode faltar na gestão do almoxarifado. Para isto, Francisco Gallo utiliza, entre outras metodologias, a Curva ABC – Análise de Pareto (baseada no teorema desenvolvido na Itália pelo economista Vilfredo Pareto, no século XIX), que é usada na área administrativa para a classificação de informações, possibilitando inclusive a separação de itens de maior importância ou impacto, geralmente em menor número. “Os itens A que representam grande volume financeiro, vou procurar ter estoque de no máximo quinze dias, com maior giro possível. Os classificados como B, que são intermediários, vou ter um estoque intermediário. Os itens C, que representam pouco valor, com movimentações mais esporádicas, de valores menores, vou ter um estoque maior, com duração para um a três meses, porque há o custo de compra” – detalha. Segundo ele, não se pode adotar a Curva ABC como uma regra burra. “Existem itens

Crise pressiona adoção de filosofia de centro de distribuição

que têm uma cadeia de suprimentos muito longa em que o fornecedor não tem um material específico, que vai ser comprado de terceiros; há itens importados que exigem uma logística de seis meses. Nesses casos. o Pareto não se aplica”, observa. É preciso levar em conta as especificidades de cada produto. No controle do estoque, deve ser considerada também a questão de segurança patrimonial. “Todos os nossos almoxarifados possuem câmaras, alarmes”, diz. De acordo com ele, alguns itens requerem maiores

cuidados, inclusive com metodologia de conferência diária. A gestão ambiental é outro aspecto fundamental na administração dos almoxarifados. “Para alguns produtos, como agroquímicos, é preciso de ambientes específicos, com lâmpadas a prova de explosão, piso com captação no caso de vazamento”, exemplifica. Além disso, há necessidade da realização de treinamentos da equipe voltados à adoção de determinados procedimentos em relação aos riscos e preocupações ambientais. (RA)

A crise tem sido um fator de pressão na gestão de almoxarifados, reconhece Francisco Gallo. “Todo valor que se reduz em estoque, sem diminuir a disponibilidade da operação, possibilita o aumento do capital de giro”, comenta. Na Pedra Agroindustrial, uma medida adotada em decorrência da crise foi a filosofia de centro de distribuição. “Passamos a comprar preferencialmente para a matriz (a Usina da Pedra, de Serrana) que fornece diariamente para as outras unidades”, informa. Houve um aumento do estoque da Usina Pedra e diminuição de produtos estocados no grupo como um todo, sem prejuízo da disponibilidade – relata. Com essa medida foi possível melhorar o processo de negociação, aprimorar o recebimento de produtos e até reduzir o custo logístico – destaca. (RA)


NEGÓCIOS & OPORTUNIDADES

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Produtividade agrícola será debatida no VI Fórum e Exposição Abisolo Nos dias 15 e 16 de abril, em Ribeirão Preto, SP, toda a cadeia comercial, técnica e institucional do agronegócio, incluindo representantes de governos, estarão reunidos para debater formas de aumentar a produtividade agrícola com o uso intensivo de nutrição vegetal, com a realização do VI Fórum e Exposição Abisolo. Além de palestras, proferidas pelos maiores especialistas do segmento, o evento inclui ainda a 2ª Exposição Nacional e Internacional da Indústria de Tecnologia em Nutrição Vegetal, que contará com 50 estandes de empresas ligadas à área de

nutrição vegetal. A expectativa é de que o VI Fórum e a Exposição atraiam um público de aproximadamente 1.500 visitantes. Considerado o maior evento da indústria de tecnologia agrícola de nutrição vegetal da América Latina, o encontro é uma iniciativa da Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo) e representa uma grande oportunidade para que todos os envolvidos com o segmento se atualizem sobre as novidades e também reforcem o network com parceiros, fornecedores e clientes.

Prova disso é que na edição anterior, nada menos que 68% dos participantes eram formados por executivos, técnicos, vendedores e distribuidores das empresas ligadas ao segmento de fertilizantes. Ambos os eventos serão realizados num momento de desafio para o segmento. O mercado brasileiro de nutrição vegetal, cuja movimentação em 2014 girou em torno de R$ 3,5 bilhões, deverá apresentar neste ano, um crescimento aproximado de 6%, ou seja, 50% inferior à média anual de crescimento de 12% registrada no último quinquênio, e decorre

da redução do crescimento previsto para agricultura, como um todo. “Teremos um crescimento menor em razão dos problemas enfrentados por toda a cadeia agrícola, que está sofrendo com o fraco desempenho da economia do País e também do segundo ano consecutivo de uma crise hídrica sem precedentes”, disse Clorialdo Roberto Levrero, presidente da Abisolo. Abisolo 11 3251.4559 www.abisolo.com.br


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NEGÓCIOS & OPORTUNIDADES

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Unitrol aumenta produtividade na geração de energia cogerada A cogeração de energia é uma das principais apostas do setor para vencer a crise que o assola. Sempre em busca de soluções e atualizada sobre as necessidades sucroenergéticas, a APS Componentes disponibiliza ao mercado a solução Unitrol. Produzido pela ABB, fornecedora de Reguladores de Tensão Automático (AVR) e Sistemas de Excitação Estática (SES), o Unitrol é indispensável para indústrias que trabalham com cogeração de energia, pois garante melhor eficiência e facilidade na produção. Em suma, a função dos reguladores estabilizar a tensão que o gerador produz de acordo com os limites da bateria e do sistema elétrico que o alimenta. O Regulador Automático de Voltagem (AVR) mantém a tensão de saída igual, mesmo com a

existência de variações. Os produtos que compõem a Unitrol cobrem toda faixa de aplicações de baixa potência: funcionalidade, confiabilidade e conectividade, sendo uma referência para a indústria global. Todas essas características contribuem para o aumento da produtividade além de garantir a segurança e a durabilidade do gerador. Com a utilização do sistema Unitrol uma unidade geradora ganha uma solução para este período que exige alto retorno de investimento, além de contar com a garantia dos produtos ABB. APS componentes 11 5645.0800 www.apscomponentes.com.br

Metroval possui exatidão no carregamento e descarregamento Os sistemas de carregamento de etanol disponibilizados pela Metroval podem ser utilizados tanto em modal rodoviário como ferroviário, com tecnologia que permite carregar tanques com extrema exatidão, informando ainda volume, densidade e grau INPM corrigidos à temperatura de 20oc.Possuem aprovação de modelo para transferência de custodia. A empresa também oferece sistemas semelhantes que permitem o controle da produção antes do envio para a estocagem. Quanto aos sistemas de descarregamentos de etanol, são utilizados no recebimento do álcool combustível disponibilizado por outras unidades ou usinas. Dotado de um sistema de eliminação de gases provenientes do descarregamento do tanque, este procedimento faz com que apenas o volume de líquido seja medido, garantindo assim a confiabilidade do processo, além de medir a densidade e grau

INPM e corrigir o volume à temperatura de 20oC. Os sistemas possuem aprovação de modelo para transferência de custodia.

SOBRE A EMPRESA Com mais de 24 mil medidores comercializados para mais de 6.000 clientes, Metroval tem orgulho em ser a única empresa da América Latina a dominar completamente o ciclo de produção de medidores de vazão. Com modernos laboratórios de vazão e equipamentos de última geração, Metroval oferece Skids para calibração de analisadores de BS&W, sistemas de medição de GLP a granel, máquinas para dosagem de óleo em motores em linhas de montagem, sistema de controle de misturas para fábricas de bebidas e muitas outras soluções a seus clientes. Metroval 19 2127.9400 www.metroval.com.br




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