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Ribeirão Preto/SP
Janeiro/2015
Série 2
Nº 264
R$ 20,00
Extração (moenda)
Gilmar Galon, Usina Pitangueiras
Caldeiras e Geradores
SIM, É POSSÍVEL OTIMIZAR UMA USINA EM TEMPO REAL!
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ÍNDICE DE ANUNCIANTES
Janeiro 2016
Í N D I C E ANTIBIÓTICOS - CONTROLADORES DE
ELETROCALHAS
INFECÇÕES BACTERIANAS
OXIMAG
BETABIO / WALLERSTEIN11 38482900
14
ÁREAS DE VIVÊNCIA ALFATEK
17 35311075
3
21
16 35138800
DWYLER
11 26826633
13
AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL
EQUIPAMENTOS E MATERIAIS
UBYFOL
34 33199500
DURAFACE - DURAPARTS19 35080300 11 56450800
26
AUTHOMATHIKA
16 35134000
7
SAÚDE - CONVÊNIOS E SEGUROS 28
5
11 30605000
47
DURAFACE - DURAPARTS19 35080300
18
18
PLANTADORAS DE CANA DMB
16 39461800
7
REED ALCANTARA
METROVAL
19 21279400
24
FERRAMENTAS
CALDEIRAS 28
08007779070
51
SOLDAS INDUSTRIAIS AGAPITO
16 39462130
50
COMASO ELETRODOS
16 35135230
6
MAGÍSTER
16 35137200
9
SUPERFÍCIES - TRATAMENTO E PINTURA IRBI MÁQUINAS
18 36315000
42
SUPRIMENTOS DE SOLDA
FERTILIZANTES BINOVA
SÃO FRANCISCO SAÚDE
27
FEIRAS E EVENTOS
16 35134000
16 35138800
16 35138800
PEÇAS E ACESSÓRIOS AGRÍCOLAS
APS
AUTHOMATHIKA
ENGEVAP
ENGEVAP
NUTRIENTES AGRÍCOLAS 28
ELÉTRICOS AUTOMAÇÃO DE ABASTECIMENTO
A N U N C I A N T E S
MONTAGENS INDUSTRIAIS 11 42313778
ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO CIVIL ENGEVAP
D E
16 36158011
11
11 26316861
28
COMASO ELETRODOS
16 35135230
6
DMB
16 39461800
27
TESTON
44 33513500
2
11 47954233
19
CARRETAS ALFATEK
17 35311075
3
FLANGES CONEFLANGE
CARROCERIAS E REBOQUES SERGOMEL
16 35132600
GRÁFICA 30
COLETORES DE DADOS MARKANTI
16 39413367
TRANSBORDOS
SÃO FRANCISCO
16 21014151
DMB
16 39461800
INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO E
TRIBUTÁRIA
CONTROLE 16 35124310
33
19 21279400
METROVAL
27
VALTRA
TUBULAÇÕES PARA VINHAÇA 19 21279400
24
62 30883881
4
STRINGAL
IRRIGAÇÃO
CONTROLE DE FLUIDOS METROVAL
TRATORES
IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS 4
CONSULTORIA CONTÁBIL E
DIRETRIZ
37
24
IRRIGA ENGENHARIA
11 43479088
20
TROCADORES DE CALOR AGAPITO
16 39462130
50
ISOLAMENTOS TÉRMICOS CONSULTORIA / ENGENHARIA
REFRATÁRIOS RP
INDUSTRIAL EVOLUTION
16 36265540
PRODUTOS QUÍMICOS
MANCAIS E CASQUEIROS 16 32369200
26
CORRENTES INDUSTRIAIS
DURAFACE - DURAPARTS19 35080300
VÁLVULAS INDUSTRIAIS
49
18
LEVEDURAS
BETABIO / WALLERSTEIN11 38482900
14
PROSUGAR
29
ELLO CORRENTES
16 21056400
36
MSBIO
16 35124310
35
REFRATÁRIOS
PROLINK
19 34234000
17
FAR
16 35124300
31
REFRATÁRIOS RP
81 32674760
FOXWALL
11 46128202
10
TECNOVAL
16 39449900
41
VARIEDADES DE CANA 16 36265540
49
CTC
19 34298199
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CARTA AO LEITOR
Janeiro 2016
carta ao leitor
índice
Josias Messias
Agenda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6 Cana Livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8 a 10 Mercado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 e 13
Momento positivo do açúcar não é a saída para a crise do setor
Ação Social & Meio Ambiente . . . . . . . . . . . . . . .14 a 17
COP 21 firma acordo histórico em Paris
Usina aproveita rios piscosos do MT para ensino ambiental
Administração & Legislação . . . . . . . . . . . . . . . .18 a 26
Comprometimento e produtividade são essenciais em novo perfil
Planejamento estratégico é essencial para definir caminhos
A ARTE DA CONVIVÊNCIA!
Tecnologia Agrícola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 a 32
Qualidade deve ser princípio básico para pagamento de valor adicional
Informação é arma poderosa contra a baixa eficiência
Setor precisa se voltar às mudas pré-brotadas, diz especialista
Tecnologia Industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 a 40
Válvulas bem cuidadas apresentam desempenho satisfatório
Coluna recupera até 92% do etanol evaporado na fermentação
“É possível otimizar uma usina em tempo real?”
Produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42
Hora de cortar o S da palavra crise
Usinas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44 e 45
Fornecedores arregaçam as mangas e reativam usinas em PE
Política Setorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46
5
ENTREVISTA - Alexandre Andrade Lima, da AFCP e Unida
Saúde & Segurança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .48 e 49
Sistema de Gestão de SSO reduz acidentes na São Martinho
Bem-estar é o que importa na Clealco
Negócios & Oportunidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .50
O SENHOR REINA! “O Senhor reina; regozije-se a terra; alegrem-se as muitas ilhas”. (Salmos 97:1)
josiasmessias@procana.com
Mais cana e menos carvalho A palavra resiliência nunca foi tão utilizada quanto agora, desde que em 2006 começou a sair do ambiente da psicologia e passou a ser conhecida nas empresas. No caso do setor sucroenergético, que passa por um momento de quebra de paradigmas em todas as áreas, da agrícola à industrial, passando pela administração, a resiliência tornou-se fundamental para se manter a serenidade e assertividade diante das frequentes situações de estresse. Em uma definição simples, resiliência é a capacidade de voltar ao estado natural, principalmente após alguma situação crítica. Também é a aptidão de um determinado sistema que lhe permite recuperar o equilíbrio depois de ter sofrido uma perturbação. Em se tratando de pessoas e organizações, é a capacidade para se vincular a outras pessoas ou organizações a fim de viabilizar soluções contra as intempéries, sem medo do fracasso. Os especialistas no tema observam oito características do resiliente: autocontrole (capacidade de se administrar emocionalmente diante do inesperado); leitura corporal (amadurecer no modo de lidar com as reações somáticas que surgem quando a tensão ou o estresse se tornam elevados); otimismo para com a vida mesmo quando o poder de decisão está fora de suas mãos; análise do ambiente (capacidade de identificar e perceber precisamente as causas, as relações e as implicações dos problemas, dos conflitos e das adversidades); empatia (capacidade de emitir mensagens de bom humor que promovam interação e aproximação – veja matéria sobre harmonia na convivência nas páginas 24 a 26); autoconfiança; alcançar e manter pessoas sem medo de fracasso, conectando-as para a formação de fortes redes de apoio e proteção e sentido de vida. Estas são características bem superiores à outra habilidade antes admirada e valorizada no setor, que é a resistência. Isto porque resistência significa a capacidade de evitar qualquer força que tenta tirar algo de seu estado ou posição atual, quer estas forças sejam negativas ou positivas. Pode ser ilustrada pela estória entre a resiliente cana e o carvalho, que se vangloriava de sua resistência mas sucumbiu diante de uma tempestade, enquanto a frágil cana emergia com vitalidade. Que neste 2016, enquanto pessoas e organizações, sejamos menos como o carvalho e mais coma a cana, suportando e superando todas as eventuais adversidades. Tenha um excelente Ano Novo!
NOSSOS PRODUTOS DIRETORIA
O MAIS LIDO! ISSN 1807-0264 Fone 16 3512.4300 Fax 3512 4309 Av. Costábile Romano, 1.544 - Ribeirânia 14096-030 — Ribeirão Preto — SP procana@procana.com.br
NOSSA MISSÃO Prover o setor sucroenergético de informações relevantes sobre fatos e atividades relacionadas à cultura da cana-de-açúcar e seus derivados, e organizar eventos empresariais visando: Apoiar o desenvolvimento sustentável do setor (humano, socioeconômico, ambiental e tecnológico); Democratizar o conhecimento, promovendo o
intercâmbio e a união entre os integrantes; Manter uma relação custo/benefício que propicie
parcerias rentáveis aos clientes e demais envolvidos.
Josias Messias josiasmessias@procana.com.br Controladoria Mateus Messias presidente@procana.com.br Eventos Rose Messias rose@procana.com.br Marketing Digital Lucas Messias lucas.messias@procana.com.br
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AGENDA
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A C O N T E C E
FENASUCRO & AGROCANA Já está marcada a próxima Fenasucro & Agrocana de 2016. Será nos dias 23 a 26 de agosto de 2016 em Sertãozinho, SP, no Centro de Eventos Zanini. A feira é o maior evento mundial em tecnologia e intercâmbio comercial para usinas e profissionais do setor sucroenergético. O principal encontro entre produtores, profissionais e os principais fabricantes de equipamentos, produtos e serviços para a agroindústria da cana-de-açúcar, um evento completo que oferece aos visitantes a oportunidade de explorar toda a cadeia de produção: preparo do solo, plantio, tratos culturais, colheita, industrialização, mecanização, aproveitamento dos derivados transporte e logística do produto e subprodutos da cana-de-açúcar.
PRÊMIOS MASTERCANA 2016 As datas das três edições do Prêmio MasterCana já estão definidas: O MasterCana Centro/Sul será realizado em 22 de agosto, em Sertãozinho, SP, no dia anterior ao da abertura da Fenasucro&Agrocana; O MasterCana Brasil acontece em 25 de outubro, em São Paulo, SP e os troféus do MasterCana Norte/Nordeste serão entregues em 24 de novembro, no Recife, PE.
USINAS DE ALTA PERFORMANCE AGRÍCOLA O Fórum Usinas de Alta Performance Agrícola acontecerá no dia 28 de abril, em Ribeirão Preto, durante e dentro da programação da Agrishow 2016. Reunirá os maiores especialistas do país no tema. Maiores informações com Rose pelo email: rose@procana.com.br
F.O. LICHT SUGAR & ETHANOL BRAZIL A 12ª edição da F.O. Licht Sugar & Ethanol Brazil acontecerá nos dias 25 a 27 de abril, em São Paulo, SP. Reunirá investidores, traders, profissionais de usinas e as principais autoridades no mercado sucroenergético, para debater questões cruciais para o desenvolvimento e evolução do setor. Especialistas internacionais e nacionais discutirão questões como avaliação do equilíbrio entre oferta e demanda do mercado global de açúcar e etanol. O foco no Brasil. Serão debatidos temas de políticas setoriais, precificação e riscos de mercado, gestão e produtividade das usinas, entre outros. Mais informações no site: www.informagroup.com.br/sugar/pt.
AGRISHOW Em 2016, a Agrishow, Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação apresenta sua 23ª edição. O evento será realizado entre os dias 25 a 29 de abril de 2016, no Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste, em Ribeirão Preto, SP. Para obter mais informações sobre a Agrishow 2016, entrar em contato com a organização do evento através do e-mail: visitante.agrishow@informa.com.
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CANA LIVRE
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São Martinho premia fornecedores Enilson lucra com rapaduras
A São Martinho promoveu, no final de 2015, o Café da Manhã com Fornecedores, encontro de relacionamento com seus principais parceiros, e realizou a entrega do 1º Troféu Fornecedores Destaques do Grupo São Martinho, no dia 4 de dezembro de 2015. A premiação é destinada aos fornecedores estratégicos da companhia em insumos, equipamentos, serviços e manutenção. Visa reconhecer o desempenho desses parceiros a partir de quesitos, como: pontualidade, conformidade, segurança, inovação e colaboração. A entrega do prêmio aconteceu durante a realização do “Café da Manhã com Fornecedor”, promovida no espaço de eventos da usina São Martinho, em Pradópolis. O encontro de confraternização, que marca o final do ano reuniu cerca de 120 fornecedores das áreas agrícola e industrial, além dos serviços administrativos. Estavam presentes também gestores, diretores e conselheiros do Grupo São Martinho, que puderam entregar os troféus aos homenageados e celebrar esse momento. No encontro, a companhia compartilhou, com seus parceiros informações de interesse comum sobre a safra 2015/16 e o setor sucroenergético. O diretor administrativo do Grupo São Martinho, Rodrigo Tetti Garcia, conduziu a apresentação sobre os principais destaques produtivos da companhia em 2015 e falou sobre os cenários e perspectivas para a próxima safra.
Feita a partir da cana-de-açúcar, a rapadura sobrevive em meio a tantos doces. E mantém a geração de renda para fabriquetas do interior do estado de Minas Gerais, como o município de Itaguara, na região chamada de Campo das Vertentes. É o caso do produtor Enilson Magno Teles. Ao contrário de muitos produtores que preferiram migrar para a produção de tomate ou investir na prestação de serviços, ele decidiu seguir em frente com um trabalho que dura mais de duas décadas. Enilson conta que começou na atividade observando os pais. Hoje, além de contar com a mão de obra familiar, principalmente com a ajuda da esposa, ele também emprega quatro funcionários. O produtor planta a cana usada da fabricação da rapadura e não deixa de atualizar os conhecimentos, por meio de capacitações. Adepto das novidades tecnológicas, ele reconhece que muitos produtores de rapadura enfrentaram dificuldades, mas acredita que o bom desempenho do seu trabalho é fruto da modernização do maquinário. “Acredito na tecnologia, por isso comprei um caminhão pra puxar a cana e troquei o engenho. A forma de trabalhar a rapadura foi muito facilitada nestas últimas décadas”, diz Teles. Ele produz mensalmente 12 mil unidades de rapaduras. Cada uma, com cerca de 700 gramas é vendida a R$ 2 nos municípios de Pará de Minas, Divinópolis, Bom Despacho, Nova Serrana, Pitangui, Cláudio, Carmo da Mata, Oliveira e Carmópolis de Minas.
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Usinas Itamarati comemora 35 anos A Usinas Itamarati, de Nova Olímpia, MT, completou 35 anos no último dia 11 de dezembro. Ela é uma das unidades mais emblemáticas do setor. Seus executivos, diretores e gerentes estão entre os mais influentes do agronegócio canavieiro, laureados por vezes em importantes premiações, dentre elas os Prêmios MasterCana. A unidade também investe pesado em ações sociais, no relacionamento com seus fornecedores e no bem-estar de seus
colaboradores, sendo referência nestes quesitos e também premiada pelos mesmos. Após 35 anos e enfrentando reveses para se recuperar financeiramente a unidade continua com produção expressiva e contribuindo significativamente com a produção matogrossense. De acordo com o Jefferson Maia Rodrigues, gerente de planejamento e orçamento da Usinas Itamarati, a unidade encerrou a safra 2015/16 no dia 23 de novembro.
Instituto Santo Ângelo lança livro da RPPN Vereda da Caraíba O Instituto de Pesquisa e Preservação Ambiental Santo Ângelo lançou no último dia 10 de dezembro na CanaCampo, em Campo Florido, no Triângulo Mineiro, o livro de fotografias da RPPN Vereda da Caraíba. A reserva fica localizada em Bonito de Minas, no Norte do Estado e conta com mais de 10,4 mil hectares e na aquisição e manutenção já foram investidos R$ 5 milhões. Durante o evento foi prestada uma homenagem especial pelo coordenador
ambiental da Usina Santo Ângelo, Decriê Polastrini, ao ex-diretor do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Humberto Candeias. Humberto foi um dos incentivadores da criação da reserva, em 2008. Ele elogiou o trabalho de preservação dos recursos naturais que vem sendo feito na área no Norte de Minas, que tanto sofreu com a depredação das carvoarias. O presidente da Gaia Consultoria, Guilherme Barreto, um dos idealizadores da publicação.
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O jovem Endrygo Richard de Assis Zaniboni imaginou o mundo em 2050
A jovem Otília Castro da Silva: “Até quando somos capazes de aguentar?”
Usina Nardini promoveu a 10ª edição do Prêmio Aurélio Nardini
Riccardo Nardini, Guiomar Nardini, Rose Messias e Josias Messias
Usina Nardini premia alunos de Vista Alegre do Alto, SP Vencedores do Prêmio Aurélio Nardini receberão bolsas de estudo em colégio regular e cursos de inglês e de informática A Usina Nardini promoveu no último dia 26 de novembro, a 10ª edição do Prêmio Aurélio Nardini. Estudantes da quinta série da Escola Municipal Irineu
Julião e da nona série da Escola Estadual Professor Salvador Gogliano Junior, de Vista Alegre do Alto, SP, foram contemplados. A entrega do prêmio anual aconteceu em Vista Alegre do Alto, SP, onde está situada a usina. Neste ano a usina ofereceu aos vencedores bolsas de estudo em parceria com o colégio COC de Monte Alto, curso de inglês na escola Wizard de Vista Alegre e de informática na consultoria Simétrica. Os alunos vencedores este ano foram Endrygo Richard de Assis Zaniboni, do 5º C com a redação “O mundo em
2050” e Otília Castro da Silva, do 9º B com a redação “Até quando somos capazes de aguentar?” “O prêmio é um grande estímulo para meu futuro. Já participei de outras edições. Meu sonho era poder estudar no COC e agora ele se realizou”, disse a aluna Otília. Endrygo participou pela primeira vez e obteve o primeiro lugar em sua escola. O Prêmio Aurélio Nardini foi criado em 2006 pela senhora Guiomar Nardini, três anos após a morte do senhor Aurélio Nardini. A ideia de Guiomar era a de que a lembrança de seu marido permeasse não
apenas a usina, mas toda a comunidade. Aurélio Nardini sempre foi benfeitor da cidade e muito querido entre os moradores. Também sempre foi incentivador dos estudos. A exemplo de seu marido, Dona Guiomar é incentivadora dos estudos. Conta que esta premiação a alegra muito, especialmente porque ela foi professora por 33 anos de sua vida. “O estudo não é apenas importante, mas é fundamental para tudo na vida. Para nós é motivo de alegria participar deste incentivo que a Usina Nardini tem dado a estas crianças”, disse.
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MERCADO
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Momento positivo do açúcar não é a saída para a crise do setor Favorecido pelas políticas de reajuste do preço da gasolina, etanol pode atender atuais necessidades das usinas R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP
O bom momento do açúcar, nos últimos meses, tem ajudado a melhorar o “caixa” de unidades sucroenergéticas e também a evitar, em diversos casos, a captação de recursos por meio de empréstimos e financiamentos. Apesar disso, o aumento de ganhos com a venda desse produto não deverá ser o caminho para o setor sucroenergético superar as dificuldades provenientes da crise, conforme explica o economista André Felipe Danelon, pesquisador do Pecege – Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas, da Esalq/USP, de Piracicaba, SP. Existem diversos aspectos que precisam ser considerados nessa análise. Um deles é que a rentabilidade da comercialização do açúcar está sujeita à competição internacional, principalmente do
sudeste asiático – observa. Além disso, o açúcar tem seu preço formado, basicamente, pela relação entre estoque e consumo desse produto – avalia. “Como o consumo de açúcar geralmente acompanha o crescimento vegetativo mundial, o aumento do preço desse produto não deve ser a saída para a crise do setor”, afirma. As usinas brasileiras precisam reverter o ciclo de baixa rentabilidade das últimas safras. E, em decorrência disso, o atual cenário exige que o setor aposte em um produto com maior estabilidade de preços e melhor remuneração do que o açúcar – opina o pesquisador do Pecege. “Essa necessidade pode ser atendida pelo etanol, que vem tendo seu preço favorecido pelas políticas de reajuste do preço da gasolina. Por estar envolvida com questões macroeconômicas, a valorização do etanol mediante aumento do preço da gasolina deve se estender por mais tempo que as flutuações do preço de açúcar”, comenta. Segundo ele, as usinas devem liquidar os excessos de estoques com açúcar e manter a programação voltada para o etanol, pois o preço do açúcar deve retornar aos seus patamares tão logo a relação entre estoque e consumo seja novamente nivelada.
Economista André Felipe Danelon, pesquisador do Pecege
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MERCADO
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Usinas devem aproveitar preço e liquidar parte do estoque Algumas unidades e grupos mais capitalizados tiveram condições de manter açúcar estocado durante a última safra, apostando no aumento dos preços do açúcar, tanto o internacional – devido à desvalorização cambial –, quanto ao nacional, relata André Danelon, do Pecege. Em geral, poucas usinas puderam adotar, no entanto, essa estratégia – diz.
Empresas podem captar, dessa forma, mais recursos por meio da comercialização do produto e evitar financiamentos O custo de capital de giro cresceu junto com a elevação da taxa básica de juros e a comercialização do etanol apresentou baixa rentabilidade no mesmo período – constata. “O momento é propício para liquidar parte do estoque, especialmente pelo elevado nível de preços em que a saca de açúcar tem fechado nos últimos meses”, enfatiza. No mercado interno, o preço do açúcar disparou acompanhando o movimento dos
contratos futuros na Bolsa de Nova York, aumento impulsionado pela previsão de El Niño, que ameaça a produção de cana-deaçúcar na Índia e Tailândia – detalha. No mercado externo, a sustentação do câmbio desvalorizado, entre outros fatores, corroborou para a geração de um cenário favorável aos produtores, observa. “Apesar da desvalorização cambial, o preço internacional do açúcar se manteve reduzido devido ao baixo preço do barril de petróleo no mercado mundial. Desta maneira, apenas parte dos efeitos da desvalorização cambial foi repassada em aumentos do preço em reais da saca de açúcar”, esclarece. Segundo ele, essa desvalorização da moeda elevou, por outro lado, a necessidade de capital de giro das empresas, principalmente das que possuem dívidas dolarizadas. “Assim, o aumento de preços do açúcar é um forte incentivo para que as empresas captem mais recursos financeiros por meio da comercialização do produto, evitando recorrer a financiamentos”, ressalta. De maneira geral, as unidades sucroenergéticas precisam manter o foco no planejamento para a safra 2016/2017, com estratégias para redução de custos – afirma – visando maximizar a rentabilidade econômica na venda de açúcar, etanol e bioeletricidade. (RA)
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POLÍTICA SETORIAL
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COP 21 firma acordo histórico em Paris Pela primeira vez em conferências mundiais do clima houve um consenso geral entre os países DA R EDAÇÃO
No último dia 12 de dezembro terminou oficialmente a COP21 – Conferência do Clima da ONU. Em Paris, cerca de 195 países reunidos aprovaram novo acordo sobre a redução de emissões de gases de efeito estufa. O tratado prevê a criação de um fundo anual de U$ 100 bi. Serão financiados por países ricos a partir de 2020 a fim de manter o aquecimento global abaixo de 2°C, com esforços contínuos para limitar o aumento em 1,5°C. A emissão global de gases de efeito estufa (GEEs) em 2030 foi calculada em 55 gigatoneladas (Gt). Para que se atinja os objetivos de redução das emissões pretendidas no Acordo, este volume não deve passar de 40 Gt. A COP21 foi marcada pela decisão histórica de enfatizar as energias renováveis e substituí-la gradativamente no lugar dos petróleo, carvão e gases emissores de CO². “É hora do mundo se mover na direção oposta à dos combustíveis fósseis”, disse o presidente francês François Hollande ao encerrar o encontro. Segundo consta no documento, uma das principais metas é o dever dos países “adotarem reduções rápidas a partir de então, de acordo com a melhor ciência disponível, de modo a atingir um equilíbrio entre as emissões antropogênicas por fontes — queima de combustíveis fósseis — e pela remoção por sorvedouros de gases de efeito estufa na segunda metade deste século”. O acordo entrará em vigor legalmente a partir de 22 de abril de 2016, quando estará aberto para assinatura na sede da
François Hollande: hora do mundo se mover na direção oposta à dos combustíveis fósseis
ONU em Nova York. Isso porque ele precisa ser submetido, à ratificação, aceitação ou aprovação dentro de cada país. O Brasil teve na conferência a chance de ser líder em assuntos climáticos e ambientais. Possui o maior mix de energias e combustíveis não poluidores. Mesmo estando numa posição que ficava entre os países pobres e os ricos, infelizmente apostou no pré-sal e parece ter deixado o setor de lado.
Espera-se que o governo brasileiro volte sua atenção ao setor, que fornece energia e combustível renováveis; o que facilitaria o país cumprir suas metas de redução de gases poluentes. “Agora é necessário transformar o agronegócio brasileiro em referência mundial no sequestro de carbono e redução de emissões de gases de efeito estufa com a produção de bioenergia”, observa Ciro Antonio Rosolem vice-presidente de estudos do Conselho Científico para Agricultura
Sustentável (CCAS). Segundo Ciro, o Brasil precisa muito mais que dinheiro. “A agricultura brasileira ainda clama por regras claras, segurança jurídica, segurança fundiária, legislação trabalhista adequada e infraestrutura. Temos muito conhecimento de como fazer agricultura de baixo carbono nos trópicos, mas ainda há muito o que aprender. Mas é necessário apoio governamental. Será necessária uma clara opção pelo agronegócio”, conclui.
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Acordo prevê maior participação do setor Durante os doze dias do evento, cerca de 40 mil participantes de praticamente todo o mundo estiveram presentes em Paris. A Unica montou um estande no pavilhão onde foram realizadas as negociações da conferência. Estava exposto no estande produtos de matéria-prima da cana-deaçúcar. Também promoveu, junto com algumas empresas associadas do setor, um acordo. Houve um momento de discussões e debates sobre temas abordados no documento da COP 21 — que prevê a redução de emissões de gases e a meta de não passar de 1,5ºC a temperatura do mundo. Elizabeth Farina, presidente da Unica, acredita que o acordo representa um grande avanço nos esforços de diferentes agentes envolvidos com questões socioambientais. “O compromisso assumido reflete as necessidades e ideias dos mais variados agentes, com propostas ouvidas pelos participantes do mundo todo. “Além disso, as metas podem indicar boas oportunidades para a expansão internacional do etanol”, diz a representante da entidade, que esteve na COP21”. O documento elaborado pela Unica também lembra a importância da preservação de matas nativas e florestas, pois neutralizam as emissões de gases do efeito estufa (GEE). “Neste ponto, a produção sucroenergética
Elizabeth Farina: boas oportunidades para a expansão internacional do etanol
brasileira mostrará sua importância para o cumprimento das metas mundiais. Por seguir boas práticas ambientais e não prejudicar a
PRINCIPAIS PONTOS DO ACORDO DE PARIS E SUA RELAÇÃO COM O SETOR Prevê limitar o crescimento da emissão de gases de efeito estufa, estabelecendo um teto de 1,5ºC para o aquecimento global; revisão de pontos do Acordo será feita a cada cinco anos Possibilita a criação a partir de 2020 de um fundo anual de US$ 100 bilhões financiados por países desenvolvidos, para incentivar programas de baixa emissão de carbono para nações em desenvolvimento Nos próximos 10 anos, o Brasil deverá cortar 37% das suas emissões de GEEs – com base nos níveis de 2005 -, com reais possibilidades de ampliar esta redução para 43% até 2030 País precisaria produzir 50 bilhões de litros de etanol carburante em 2030 – atualmente, este volume é de 28 bilhões de litros Unica avalia que será necessário construir aproximadamente 75 novas unidades produtoras de etanol, considerando uma moagem média, por usina, de 3,5 milhões de toneladas de cana-deaçúcar em condições normais de cultivo
produção de alimentos, a expansão só acontece em solo degradado e em apenas 1% do território do País”, apontou a presidente
da Unica. Elizabeth acredita que se o acordo for bem-sucedido, a implementação exigirá bastante esforço.
Setor tem tudo para contribuir com as metas As Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas (INDC, em inglês) do Brasil favorecerão o setor. Foi proposto que até 2030 o país aumente em 18% a participação de biocombustíveis e um acréscimo de 10% para 23% no uso de energias renováveis na matriz elétrica. Segundo dados da Unica, para cumprir sua INDC no que se refere à sua matriz energética, o País terá que produzir 50 bi litros de etanol carburante em 2030 — atualmente, este volume é de 28 bi litros. Será necessário construir cerca de 75 novas unidades produtoras de etanol, com moagem de pelo menos 3,5 milhões de toneladas de cana por usina, prevê a Unica. Mas a situação delicada do setor nos últimos anos vem desacelerando esse processo e inclusive fechando usinas. “Em linha com as propostas discutidas na COP21, são necessários mecanismos de precificação do carbono que desestimulem a utilização de combustíveis fósseis e melhorem a competitividade e atratividade das fontes renováveis”, diz Elizabeth Farina, presidente da Unica. Com essa ampliação, seriam criados quase 250 mil novos postos de trabalho nos próximos quinze anos, atingindo cerca de 500 mil empregos indiretos. Segundo dados da Unica, os investimentos na ampliação da capacidade produtiva chegariam a US$ 40 bilhões. Desta forma, a economia de baixo carbono pode ser um fator preponderante na retomada do crescimento e desenvolvimento econômico do Brasil e também de outros países. “Espero que o setor sucroenergético receba melhores condições para ser um participante importante na diminuição dos gases de efeito estufa através da substituição de um combustível fóssil, gasolina e diesel, por um renovável, o etanol”, diz Manoel Ortolan, presidente da Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana). — Não tenho dúvidas que o setor tem condições para contribuir, e muito, com o problema da falta de energia, através da cogeração com uso do bagaço da cana. Nada mais
Manoel Ortolan: esperança de reconhecimento da importância do setor
justo e sensato do que a inclusão do etanol na matriz energética nacional. Manoel Ortolan acredita que as ações que o setor pode fazer no intuito de contribuir com metas ambientais definidas na COP21 são possíveis, “Basta o governo criar políticas públicas de longo prazo, o que, infelizmente, não temos no momento”, conclui.
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Usina controla consumo de água e comemora resultados Alta Mogiana capta 0,58 metro cúbico por tonelada de cana processada e obtém uma das melhores performance do setor R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP
A preservação ambiental já está tão incorporada à visão de diversas unidades e grupos sucroenergéticos que a sua sobrevivência no processo de gestão dessas empresas não depende de momentos favoráveis ou de turbulências da atividade. A responsabilidade ambiental está vinculada, nesses casos, à cultura da empresa. A Usina Alta Mogiana, de São Joaquim da Barra, SP, por exemplo, sempre teve um olhar para o futuro quando o assunto é preservação ambiental, segundo o diretor industrial da unidade, Fernando Vicente. As boas práticas nessa área fazem parte do dia a dia da usina, que fechou a safra 2015/16 com um volume captado de 0,58 metro cúbico de água por tonelada de cana processada – informa –, que está entre os melhores resultados do setor. “É um número difícil de conseguir. Mas, estamos realizando um trabalho muito grande, há quatro ou cinco anos, de reaproveitamento de toda a água da indústria”, afirma. A Alta Mogiana conta
Fernando Vicente, da Usina Alta Mogiana
inclusive com um engenheiro trainee – apelidado de “Aquaman” – que tem a responsabilidade de cuidar dessa área.
“Toda manhã, ele reporta como foi o dia anterior”, revela. Faz também uma cobrança em relação à postura dos integrantes da
Práticas adequadas incluem circuito fechado e uso de resíduos A preocupação com a economia e reaproveitamento da água ocorre em toda a unidade industrial da Alta Mogiana. “Basicamente a usina inteira é em circuito fechado, incluindo evaporação, parte da fabricação, a destilação, a própria água de lavagem de gases das caldeiras” – observa Fernando Vicente. A Alta Mogiana possui o maior sistema de retirada de fuligem do Brasil – destaca o diretor industrial. “Temos um decantador para fuligem de 1,5 milhão de litros. Ninguém no setor tem um decantador tão grande como o nosso”, ressalta. Essa unidade de São Joaquim da Barra bombeia em torno de três milhões de litros para lavar as caldeiras. “O tempo para decantação é de mais ou menos meia hora. Toda a fuligem, misturada à torta de filtro, é usada como adubo no campo”, diz. O sistema faz também a recuperação da água utilizada nesse processo que retorna à indústria ou é usada para fertirrigação. A reutilização de resíduos industriais tem sido uma prática ambiental adotada com sucesso pela usina que conta com uma produção de dez litros de vinhaça por litro de etanol. “Há também um aproveitamento da água que é descartada. A Alta Mogiana tem
A Alta Mogiana possui o maior sistema de retirada de fuligem do Brasil
fertirrigação com vinhaça e também fertirrigação com água e vinhaça”, detalha. O reúso da água ocorre em tudo o que é possível – enfatiza. “Para o futuro, podemos pensar em algum tratamento para a água que é jogada fora. Mas, isto hoje ainda não tem
viabilidade econômica”, comenta. De acordo com ele, esse é um caminho para reduzir a captação de 0,58 m³. Fora isto, não há muito o que fazer, pois este volume já é muito bom – esclarece. (RA)
equipe da área industrial para que sejam obtidos resultados satisfatórios. “Temos uma série de medidores de vazão que ajudam a policiar o consumo de água no processo. São instrumentos importantes. Fizemos um mapeamento da usina”, diz. Há um controle do consumo que considera os pontos estratégicos da planta industrial para verificação do aumento ou redução do uso de água – detalha. A economia de água é um procedimento adotado em diferentes etapas do processo. A usina usa, por exemplo, a flegmaça na fermentação. Há uma diluição do fermento com flegmaça para que ocorra uma diminuição do consumo de água nessa operação – explica Fernando Vicente. Os condensados, que são provenientes da água dos caldos da cana, são utilizados na embebição e para limpeza de equipamentos. A usina conta ainda com um sistema de limpeza de cana a seco que faz, além da retirada das impurezas minerais e vegetais, o desenfardamento da palha. Essa operação começou a ser realizada em 2015 – revela. “Processamos 26,5 mil toneladas de palha, que era inclusive nossa meta”, afirma. Com uma moagem de 5,090 milhões de toneladas de cana na safra 2015/16, a Alta Mogiana gerou neste período 172 mil megawatts/hora de energia. “A usina fechou este ano com 98% de cana crua. Nunca houve esse resultado. Não há queima da palha. Incêndios que ocorreram, foram acidentais ou criminosos. Essa visão de cumprir o Protocolo Agroambiental e moer cana crua já é uma realidade”, comemora.
Potabilidade reflete preocupação com a qualidade A água em toda a usina é potável. Segundo Fernando Vicente, há dosagem de cloro, entre outros procedimentos, para a obtenção dessa potabilização. “A água que a gente capta, a gente também bebe”, diz. Ele observa que existe o desenvolvimento de todo um trabalho para a obtenção desse resultado. “Por conta de estar fazendo um açúcar que é alimento, temos isto como uma coisa que a gente considera importante. Onde se tem água natural, captada do rio, é potável. Se uma pessoa tomar uma água da torneira da oficina, essa água é potável”, exemplifica. O diretor industrial destaca que o cliente da Alta Mogiana quer um açúcar branco de qualidade. A usina fornece o produto para a indústria de alimentos e de refrigerantes. “Temos uma vocação para a qualidade”, enfatiza. Segundo ele, a Alta Mogiana possui todas as certificações que são possíveis para o setor sucroenergético. Na área ambiental, por exemplo, conta com a ISO 14001 e a Bonsucro que avalia a sustentabilidade da produção da cana-de-açúcar e todos os seus produtos nas dimensões social, ambiental e econômica. (RA)
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Usina aproveita rios piscosos do MT para ensino ambiental USINAS ITAMARATI
Alunos preservam ictiofauna nas regiões das Usinas Itamarati, por meio do programa Doce Peixe I SAC ALTENHOFEN, DE TORRES, RS
A Usinas Itamarati tem aproveitado o fato de que está instalada entre rios piscosos do Mato Grosso para investir em meio ambiente. A companhia realiza, desde 2011, o Programa Doce Peixe que envolve a proteção dos ecossistemas aliados a conscientização ambiental de crianças e jovens pertencentes às escolas do entorno da empresa. O projeto tem por objetivo a recomposição da ictiofauna, que é o conjunto das espécies de peixes que existem em uma determinada região. Visa garantir o equilíbrio ambiental na Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai. Por meio desse programa alunos de 5 a 17 anos aprendem a importância de preservar a biodiversidade aquática. O Programa Doce Peixe teve início com um estudo ambiental realizado nas malhas hídricas inseridas nas áreas das Usinas Itamarati. Estabelecido o estudo, que foi implantado a partir de 2011 durante os meses de janeiro a março, alunos soltaram nos rios alevinos de peixes nativos da região.
Nos eventos são distribuídos aos estudantes estojos escolares e lixeira de carro para as escolas. Eles também recebem orientações ambientais a fim de formar e incentivar o interesse de hábitos socioambientais. Desde 2011 o programa atingiu cerca de 4.000 participantes dos municípios de Nova Olímpia, Denise, Tangará da Serra e Distrito
de Assari. Em média para cada evento são contabilizados 700 alunos, professores e demais envolvidos. Mais tarde, os participantes dos eventos são convidados novamente para apreciarem o crescimento dos peixes que um dia foram soltos. Essa prática faz dos alunos de meros expectadores para atuantes da própria
problematização ambiental. Com esse tipo de proposta os estudantes conseguem entender a importância da preservação dos ecossistemas aquáticos. Por esse trabalho, a Usinas Itamarati recebeu a primeira colocação na categoria Sustentabilidade/Meio Ambiente do MasterCana Social 2015.
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Comprometimento e produtividade são essenciais em novo perfil Quem está apenas de corpo presente no ambiente de trabalho, não tem mais espaço no setor, constata gerente de Recursos Humanos
RENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP
O perfil dos profissionais que atuam no setor sucroenergético já não é mais o mesmo. O mercado tem demonstrado maior interesse por empregados proativos, comprometidos com a empresa e que tenham facilidade para trabalhar em equipe. A expectativa das unidades e grupos produtores é contar com pessoas que agregam tarefas na função – conhecidas como multifuncionais –, enfatiza Mauro de Jesus Garcia, gerente de Recursos Humanos da Usina Ibéria (Grupo Toledo), de Borá, SP. Os serviços precisam ser realizados, mesmo com a diminuição significativa do quadro de pessoas no setor – constata. “Se houve redução, alguém tem que fazer o serviço de quem foi embora”, observa. O operador de colhedora, se for também mantenedor, ou seja, um profissional que faz pequenos reparos na máquina, tem mais um valor agregado – exemplifica. Segundo Mauro Garcia, o comprometimento é outra característica que deve fazer parte do novo perfil dos profissionais do setor. O funcionário que não demonstra essa postura não tem permanecido na empresa – revela. A proatividade do colaborador é também um aspecto valorizado no mercado de trabalho. O ‘presenteísmo’ não garante o emprego – afirma. “Quem está apenas de corpo presente no ambiente de trabalho, não apresenta rendimento nem dá retorno para a empresa, não tem mais espaço no setor”, enfatiza. As mudanças de perfil afetam tanto os novos contratados como também os profissionais com mais tempo de “casa”. Envolvem os colaboradores de todas as áreas: agrícola, manutenção automotiva, industrial, entre outras. De acordo com ele, esse interesse em contar com profissionais que apresentem esse novo perfil tem sido geral no setor. Se o vizinho mandou um determinado número de pessoas embora e continua moendo a mesma quantidade de cana, a usina próxima terá que adotar medidas nessa área para manter o seu custo competitivo – compara. “É um efeito quase em cascata” – diz.
Mauro de Jesus Garcia, gerente de Recursos Humanos da Usina Ibéria, de Borá, SP
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Exigências incluem funcionários que já fazem parte da equipe Não são apenas os candidatos às vagas oferecidas pelas usinas e destilarias que devem se preocupar com o novo perfil exigido para os profissionais do setor. Os que já fazem parte do quadro de funcionários de unidades e grupos sucroenergéticos também estão precisando se adaptar aos novos tempos.
Avaliação pode indicar a possibilidade de promoção ou mesmo a necessidade de aprimoramento de competências A Usina Ibéria, por exemplo, faz avaliação de desempenho 180 graus que possibilita a constatação das dificuldades profissionais de cada funcionário – detalha Mauro Garcia. A partir das competências por eixo de carreira, incluindo as das áreas industrial, agrícola, automotiva e as de liderança, ocorre a avaliação dos colaboradores tanto na área comportamental como na operacional – explica. Segundo ele, essa averiguação pode
indicar a possibilidade de promoção ou mesmo a necessidade de treinamento. Em alguns casos não ocorre nem uma coisa nem outra. “Há o desligamento do profissional” – informa. A avaliação é feita em conjunto com o trabalhador que fica sabendo qual é a competência ou habilidade que precisa aprimorar. A Ibéria oferece inclusive treinamentos técnicos e comportamentais. O funcionário também é informado, se
for o caso, qual é o motivo que impediu a sua promoção – detalha. “Procuramos dar esse feedback para o trabalhador, o que tem melhorado o ambiente como um todo. Agora, o colaborador sabe onde está, onde pode chegar e o que tem que fazer para alcançar uma determinada posição”, diz. Se o funcionário não der uma resposta positiva em relação às competências que precisa melhorar, infelizmente será demitido – afirma. (RA)
Questão comportamental é valorizada no processo de seleção As novas exigências relacionadas ao perfil dos profissionais de usinas e destilarias estão também interferindo no processo de seleção e recrutamento. A facilidade de relacionamento interpessoal e de trabalho em equipe tem sido mais valorizada. Está sendo dada maior importância à realização de testes psicológicos para a avaliação de questões comportamentais – diz Mauro Garcia. Um dos objetivos é verificar como o candidato agiria em algumas situações, caso seja realmente contratado para uma determinada função – exemplifica. “Percebemos que estávamos contratando por competências técnicas e dispensando por questões comportamentais”, observa o gerente de RH da Ibéria. Outras mudanças, durante o processo de contratação, ocorreram também no teste técnico-profissional que tem avaliado se o candidato pode agregar funções, ou seja, se tem outras competências além das exigidas para a atividade que ele está concorrendo – esclarece. (RA)
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O momento é bom e de boas perspectivas I SAC ALTENHOFEN, DE VALINHOS, SP
No último dia 27 de novembro aconteceu em Sertãozinho, SP, a 188ª reunião do Gerhai – Grupos de Estudos em Recursos Humanos na Agroindústria, realizada em parceria com o CeiseBr. “É um bom momento para o setor, com boas perspectivas”, disse o especialista Júlio Maria Borges, durante o encontro. Júlio Borges apresentou dados relevantes referentes à comercialização do açúcar demerara que, de agosto a novembro, teve alta de preço em 50%. Segundo ele, havia previsão de um déficit global de 5 milhões a 10 milhões de toneladas de açúcar até o encerramento da safra 2015/16, o que sinaliza a continuidade de aumento dos preços da commodity no próximo período. “Diante da crise, o setor está criando condições de recuperar as perdas das últimas três safras”, avaliou o consultor. Em sua apresentação apontou também questões sobre o ambiente externo, a retomada do crescimento, a demanda crescente de alimentos e energia, o suporte para o preço de commodities e a responsabilidade com o meio ambiente. Júlio Borges incentivou a continuidade
no trabalho de qualificação e de qualidade da gestão das empresas a fim de que se preparem para o novo tempo de crescimento que se aproxima. Para ele, a excelência empresarial está relacionada a questões de observância de valores, cumprimento de objetivos, metas claras e de conhecimento geral, controle de riscos operacionais, administrativos e financeiros e política adequada de Recursos Humanos, com ênfase nos planos de carreira, remuneração justa e líderes preparados. Endossando a temática, o palestrante Marco Viana mostrou alguns fatores que colocam o Brasil na liderança da produção de açúcar: economia de escala; safras longas e o fato de que 65% da cana no Brasil é controlada pelas usinas; ele apontou ainda a diversificação comercial, a alta produtividade da cana e o fato de o setor sucroenergético ser totalmente privado, com muitas variedades de cana e de suporte logístico e de implementos. A última reunião do Gerhai de 2015 contou a participação do gerente executivo no Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça, Rafael Albuquerque Braghiroli e do profissional Danilo Terra. Ambos apresentaram as possibilidades das leis de incentivos fiscais em prol de projetos sociais.
Júlio Maria Borges
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Planejamento estratégico é essencial para definir caminhos Empresa deve racionalizar custos, definir medidas para acertar os seus processos e pensar em que mercado vai atuar para avançar R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP
As dificuldades enfrentadas no dia a dia pelo setor sucroenergético não diminuem a necessidade e a importância da realização do planejamento estratégico que estabelece metas e objetivos para o curto, médio e longo prazo não apenas em função de produtos e do mercado, mas também em decorrência do aspecto financeiro. “Quem está numa situação mais confortável deve olhar para os seus processos e definir qual é o caminho que a empresa vai seguir”, opina Carlos Eduardo de Freitas Vian, professor da Esalq/USP – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo, de Piracicaba, SP. Um trabalho de racionalização de investimento em eficiência, principalmente nas áreas agrícola e industrial, tem sido muito importante para unidades e grupos sucroenergéticos – destaca. “Mas, não dá ainda para voltar a falar em expansão. O
planejamento com essa finalidade está realmente postergado para daqui a alguns anos. Ninguém tem falado em expansão nesse momento”, comenta. Para quem está numa situação complicada, fica muito difícil fazer o planejamento estratégico – observa Carlos Vian. Até mesmo a adoção de medidas para redução de custo – que exige investimento inicial –, definida em um planejamento, pode se tornar inviável para a empresa que não tem caixa. O setor é sempre predisposto a crises esporádicas, seja por causa do açúcar ou do etanol. Para amenizar os efeitos destas situações, a empresa tem que racionalizar custos o máximo que puder, planejar e adotar medidas sobre o que poderia ser feito para acertar os seus processos e pensar em que mercado vai atuar para poder avançar – detalha. “Havendo possibilidade, fazer investimento em algum momento, isso vai ser necessário. Tem que estar se preparando para isto”, recomenda. Mas, é preciso ir com calma nessa questão de investimento. “Às vezes, um horizonte mais no curto prazo é muito otimista e pode levar as empresas a adotarem estratégias que não são as corretas. Dependendo do negócio e de como estiver a situação, pode ser melhor não entrar na euforia e manter um determinando caminho definido anteriormente”, avalia.
Carlos Eduardo de Freitas Vian: situação financeira complicada dificulta planejamento
Horizonte mais favorável não evita incertezas e turbulências Os complexos cenários que envolvem o setor sucroenergético dificultam a realização do planejamento estratégico. As crises econômica e política, a indefinição de regras para a comercialização e produção de etanol e bioeletricidade, o endividamento das usinas têm sido alguns complicadores para quem busca momentos de maior estabilidade.
Diversas usinas ainda enfrentam grandes dificuldades financeiras, com problemas de caixa por causa do endividamento Apesar das turbulências, o mercado apresenta um horizonte um pouco melhor em comparação a 2014, conforme avaliação de Carlos Vian. “Está havendo uma retomada. A crise da Petrobras fez o governo mudar algo que estava atrapalhando muito o setor que era o controle do preço da gasolina e derivados”, constata. O próprio aumento da gasolina no início de 2015 já permitiu um reajuste de preço do etanol – observa. Segundo ele, a situação um
Aumento da gasolina e melhor preço do açúcar ajudaram a criar perspectiva para o mercado
pouco mais favorável para a comercialização do açúcar – que é também um produto importante para o setor – tem ajudado a criar uma melhor perspectiva para o mercado sucroenergético. Na avaliação de Carlos Vian, o que está mais complicado em relação a 2014 é a
questão política. “Gera indefinição sobre a atuação do governo em 2016 e muita incerteza para o setor”, comenta. De acordo com ele, existe uma expectativa mais positiva em relação a preços. Em decorrência disto, há uma possibilidade das unidades e grupos sucroenergéticos terem uma tranquilidade um pouco maior, mas ainda assim é difícil – afirma. Há um grupo de empresas que tem dívidas. Mas, com uma perspectiva melhor para equilibrar suas contas com esse novo horizonte – enfatiza. Diversas usinas enfrentam, no entanto, grandes dificuldades financeiras, com problemas de caixa por causa do endividamento – comenta. Algumas delas estão inclusive em recuperação judicial. Existe uma grande dúvida, se mesmo com o novo horizonte, essas unidades e grupos terão capacidade para retomar o equilíbrio de suas contas – diz. “O que pode acontecer no setor, possivelmente, é uma nova onda de aquisição – não tão grande como a anterior –, com a participação de grupos estrangeiros. No período do auge, as usinas estavam muito caras. Agora, com essa questão da crise, tem grupos interessados em comprar ativos com um preço mais razoável”, compara. (RA)
Rápido processo de mecanização pode ter agravado a crise A crise financeira setorial pode estar vinculada ao rápido processo de mecanização da colheita da cana – pondera Carlos Vian, que é professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq. Com a assinatura de protocolos para a antecipação do fim da queima da palha, houve a mecanização das lavouras de cana em todo o estado de São Paulo em praticamente quatro ou cinco anos – observa. “O investimento em mecanização é alto. Talvez, possa ter ocorrido um erro estratégico de excesso de otimismo”, diz. Além disso, o processo de mecanização tem registrado alguns problemas e exigido um aprendizado por parte das empresas. “Há relatos de usinas que voltaram a ter problemas com algumas pragas, porque a queima da cana evitava que isto ocorresse. Apesar dos ganhos em relação à eficiência no trabalho, ocorreu inicialmente queda de produtividade, porque as variedades não eram as mais aptas. Existem ainda as questões da compactação do solo e do pisoteio”, constata. Pode ter sido um erro grande avançar de maneira tão rápida – comenta. Na opinião dele, o resultado poderia ter sido diferente caso tudo fosse feito com um prazo maior. (RA)
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Ferramentas ajudam a montar cenários e a pensar no futuro Para acabar com a instabilidade, o setor sucroenergético precisa fazer uma negociação muito forte com o governo – afirma Carlos Vian. “O papel do etanol na matriz energética ainda não está definido. Não há clareza também nas regras para a produção de energia elétrica que é outro produto importante para o setor”, constata.
Planejamento estratégico possibilita que empresas reajam de maneira mais adequada às mudanças de mercado De acordo com ele, toda essa situação gera incertezas, porque amanhã as regras podem mudar. O grande problema é que o próprio governo vive um momento de indefinição devido à crise política. Instabilidade econômica, expansão da atividade sucroenergética, rápido processo de mecanização estão servindo para uma ampla reflexão. “Espero que possa emergir, depois disso tudo, um setor diferente: moderno, mais sedimentado”, enfatiza o professor da Esalq. Apesar do momento de incertezas e dificuldades, é necessário planejar conforme as possibilidades – propõe. “É preciso ter uma estratégia definida. Essa questão de elaborar planejamento estratégico e montar
possíveis cenários faz com que a empresa pense no futuro”, afirma As unidades e grupos sucroenergéticos podem se antecipar em relação a determinadas questões. “Sem o planejamento estratégico, quando acontecem algumas coisas, a empresa pode reagir de forma errada”, diz. E, com isto, aumentar os seus problemas. Para fazer um trabalho de qualidade nessa área, devem ser utilizadas ferramentas de planejamento estratégico que fazem com que a empresa olhe para si, saiba o que quer,
qual é o seu papel e a estratégia a ser adotada – ressalta. Pode até parecer muita teoria – comenta – mas, essas ferramentas ajudam bastante. “Com um planejamento estratégico bem elaborado, a empresa fica mais preparada e precavida, respondendo melhor às mudanças de mercado”, destaca. Entre as metodologias clássicas para a realização de trabalhos nessa área inclui-se a Análise SWOT, uma ferramenta utilizada na avaliação de cenários a partir de quatro fatores que dão origem a essa sigla do idioma
inglês: forças (Strengths), fraquezas (Weaknesses), oportunidades (Opportunities) e ameaças (Threats). Outro recurso usado no processo de elaboração do planejamento estratégico – que pode ser utilizado concomitantemente à metodologia SWOT – é a ferramenta de análise de concorrência, de Michael Porter, o consultor da moda nesta área. Esse modelo leva em consideração, por exemplo, a relação dos concorrentes com os seus compradores e fornecedores ((veja abaixo o quadro Quem Sou, Onde Estou e para Onde Devo Ir). (RA)
QUEM SOU, ONDE ESTOU E PARA ONDE DEVO IR? A Metodologia 5 Forças de Porter resulta da ação conjunta de cinco fatores ou forças que agem sobre as empresas e são capazes de modificar seu nível e potencial de competitividade: 1 Clientes: poder de barganha dos clientes 2 Fornecedores: poder de barganha dos fornecedores 3 Concorrentes: perfil de concorrência ou nível de competição entre os atuais players de uma determinada indústria 4 Sucedâneos: potencial de novas empresas entrarem no mercado 5 Substitutos: ameaças de surgimento de produtos substitutos aos atuais A metodologia direciona as análises estratégicas no sentido de identificar o grau de atratividade ou de competição em determinado setor ou indústria, onde, quanto menores ou mais bem controladas/minimizadas forem as pressões exercidas pelas 5 forças, maiores serão as chances de determinada empresa obter vantagens competitivas mais duradouras e atingir patamares diferenciados de resultados. Para cada uma das forças competitivas exercidas destacam-se critérios de análise que ajudam na condução de um aprofundamento acerca de cada uma delas: Força Novos Entrantes: critérios relacionados a criação ou existência de
Michael Porter, o consultor da moda
barreiras de entrada (dificultadores) são de extrema importância tais como: economias de escala, produtos ou serviços diferenciados, know-how, custos de troca (switching costs), imagem, marca etc. Força Poder de Barganha de Fornecedores: aqui os principais critérios são relacionados à concentração e nível de dependência para com os mesmos, implicando em riscos potenciais que podem gerar a falta
de insumos, arbitragem de preços ou recursos produtivos ou ainda por variáveis como a baixa qualificação ou quantidade de competidores para seus atuais fornecedores, gerando escassez de opções. Força Poder de Barganha dos Clientes: abarca, dentre outros, critérios que impactam em riscos relacionados à concentração de altos volumes em poucos clientes ou switching costs (custos de troca) reduzidos na medida
em que não há uma diferenciação clara e tangível em termos de proposta de valor, posicionamento, atributos diferenciais, serviços ou produtos. Força Ameaça de Surgimento de Produtos Substitutos: se relaciona a critérios que podem colocar em risco toda uma operação ou mesmo a posição no setor de atuação, na medida em que estes substitutos podem passar a ter a preferência de seus clientes (principalmente se forem inovadores ou romperem os padrões da categoria vigente); em outras palavras, o que a empresa produz ou oferta atualmente deixa de ter valor percebido superior e toda uma estrutura estabelecida pode ficar obsoleta Força Concorrência: mesmo tendo sua dinâmica específica para cada mercado (vide mercados regulados, monopólios, mercados online, mercados globais, mercados altamente informais, etc), alguns dos fatores essenciais referem-se ao crescimento da indústria ou setor em que se compete, gerando um contexto de aumento de competitividade mais ou menos acirrado pelo nível de demanda, competência de resposta à externalidades (leis, regulamentações, monitorias, etc), capacidade de atendimento a demandas/clientes, custos fixos elevados, diferenciação frente a concorrência, networking e sólidos relacionamentos estratégicos.
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POR QUEM OS SINOS DOBRAM? “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti. JOHN DONNE, (poeta metafísico inglês, 1572-1631)
A ARTE DA CONVIVÊNCIA! I SAC ALTENHOFEN, DE TORRES, RS
“Nenhum homem é uma ilha, que possa viver isolado”. A famosa frase do poeta inglês John Donne do século XV reflete a necessidade que todo homem tem de conviver em sociedade. A história conta que ele era pobre no início de sua vida e muito tímido. Precisou de recursos de amigos ricos para conseguir viver dignamente. Lutou muito consigo mesmo para encarar a convivência com as pessoas até se formar em direito e ser o poeta hoje honrado e admirado. Há momentos em que a vida em sociedade é de fato um desafio. Cada pessoa tem sua individualidade e pensa de forma diferente de outra. E a rotina torna o contato humano cansativo muitas vezes. De igual forma, dentro do local de trabalho, é necessário aprender a conviver com as pessoas. Nas usinas o desafio é maior, pois há três áreas de atuação que contam com diferentes tipos de colaboradores: a administrativa, que no geral são: diretores, gerentes, recursos humanos e departamentos pessoais; a industrial, onde trabalham os operários do chão de fábrica, seus líderes, gerentes industriais e profissionais específicos de almoxarifado, técnicos de segurança no trabalho, etc; e o
campo, a conhecida área agrícola, onde estão os plantadores, cortadores, tratoristas, operadores de máquina, motoristas e seus respectivos líderes, entre outros. Nessas três áreas atuam colaboradores que, no geral, possuem formação e educação muito distintas. Neste ambiente, discórdias e discussões acontecem. São, mesmo, inevitáveis. Resolver definitivamente estas situações é praticamente impossível, porque estas incongruências fazem parte da natureza humana. Mas é possível amenizá-las, isto com certeza. Em momentos de tensões ao limite, há empresas
que solicitam ajuda profissional externa, a fim de serenar os ânimos e trazer a paz de volta ao ambiente. Afinal, nem sempre o problema é causado por alguém, ao contrário, não é incomum pessoas reagirem negativamente a alguma situação de trabalho porque está, na verdade, afetada por alguma situação adversa externa. Este trabalho de gerir crises e relacionamentos está incluído no que é chamado hoje nas empresas de gestão de pessoas. Há algumas opções para ajudar a facilitar a convivência entre os trabalhadores. Uma delas, bastante usada, é a usina reunir todo o pessoal, geralmente no início da safra, e estabelecer os princípios e metas da empresa para aquele ano, sempre deixando seus líderes imediatos prontos a ouvir o pessoal da equipe em qualquer situação. Isto ajuda muito. Mas a safra é longa e os problemas aparecem. E, muitas vezes a ajuda externa é bem-vinda. Uma das formas de auxílio que unidades costumam ter é contratando os chamados coaches. Estes especialistas fazem um trabalho importante, em todos os níveis, orientando diretores e colaboradores a, por exemplo, melhorar o convívio social, levando-os a enxergarem melhor o mundo e seus companheiros de atividade, tão necessitados de respeito e consideração como eles.
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Princípios e virtudes sempre geram vida, garante coach vocacional Clésio Pena é um coach que que atua como orientador vocacional. Conferencista, vem ganhando destaque nas empresas. Ele está à frente do programa VGV – Virtudes Geram Vida, cujo foco de suas palestras gira em torno de despertar as melhores virtudes inerentes ao ser humano. Ele costuma fazer quatro tipos de abordagens em suas apresentações: “Vivendo de Forma Inteligente”, “O que Realmente Importa”, “Estabelecendo Prioridades para a Vida” e “Inteligência Espiritual”. Além das palestras, Clésio Pena oferece o curso “A Arte de Conectar-se”, que fala sobre relações pessoais dentro das empresas e do dia a dia de cada indivíduo, ajudando-o não apenas profissionalmente, mas também na vida pessoal e social. “Os maiores problemas nas grandes companhias não são as ideias – ou a falta delas – mas as dificuldades nos relacionamentos, principalmente numa empresa familiar e seus naturais herdeiros”, observa. Nas apresentações de Clésio Pena os assuntos que mais chamam a atenção são sobre princípios e virtudes. “Quando apresento ‘A arte de Conectar-se’, ensino os profissionais a como melhor lidar com as pessoas à sua volta”, explica. “Afinal, todas as pessoas, se relacionam, vivem em comunidade – mesmo que não queiram”. Clésio ressalta a importância de retomar princípios de vida, como: gentileza,
honestidade, gratidão, para que todos possam ter melhor desempenho em suas atividades tanto na área externa como na área interna das empresas. “Bons princípios, não são privilégio de uma classe social. Independente de cargos, funções, escolaridades, títulos, etc., todos nós precisamos — em prol da sociedade como um todo — praticar estas virtudes”. O coach acredita que no mundo atual poucos estão levantando uma bandeira de virtudes e bons hábitos. “Você sabia que no dicionário, a expressão ‘gentileza’ aparece como uma qualidade em extinção?” A palestra Inteligência Espiritual para Executivos – Intuição e Senso de propósito para líderes é de grande importância para líderes, gestores e diretores. Traz reflexão sobre a demanda e pressão trabalho que aumentam com a concorrência e briga pelo crescimento profissional. Rosemberg Souza, diretor comercial de uma empresa paulista de tecnologia em tratamento de efluentes e produção de água, elogia o trabalho do coach Clésio Pena. “É palestra objetiva, que trata de assuntos de extrema importância para a construção de relacionamentos saudáveis dentro da organização”. Ele conta que o clima da organização melhorou. “As pessoas estão mais gentis, prestativas e com uma atitude de servir ao outro”. (IA)
Clésio Pena: Os maiores problemas nas empresas são as dificuldades nos relacionamentos
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Empresas devem ter boa gestão de relacionamentos No passado ouvia-se muito falar de trabalho escravo e exploração de pessoas nas áreas de plantio da cana. Hoje as fiscalizações são rígidas, o que diminuiu drasticamente esse comportamento. Entretanto, diretores de empresas, sobretudo usinas, devem sempre ter em mente que seu quadro de colaboradores é muito diversificado e precisam ter jogo de cintura afinado para trabalhar estas crises. Na área agrícola, em geral, o universo de colaboradores é composto de pessoas simples, sem muito estudo. Por isso é necessário a companhia primar por uma gestão de relacionamentos cada vez mais eficaz que aproxime o trabalhador rural da empresa como um todo e dê a ele a dignidade que merece. “Gestão de relacionamentos é o foco principal. Neste âmbito, trabalha-se muito o desenvolvimento de comportamentos gerenciais em seus diversos níveis. Prezamos pela postura do gestor que está na frente dos desafios atuais, a visão do todo e visão criativa do negócio”, explica Jackson Tadeu, executivo da Usina Ester, que também presta serviços de coaching para o setor sucroenergético. Suas intervenções estão relacionadas à área comportamental, com ênfase no relacionamento interpessoal. Segundo Jackson, grande parte dos temas comportamentais são resultados de necessidades ou dificuldade do dia a dia e que se apresentam em todos os níveis. De forma geral, os gestores das áreas possuem conhecimentos básicos sobre comportamento e isto é fundamental, hoje, observa. Entretanto, muitas vezes se faz necessário rever os conceitos de gestão nos relacionamentos dentro da empresa. Jackson afirma que as mudanças são sentidas quase que em sequência às apresentações. “As pessoas descobrem que existem meios plausíveis de se trabalhar e influir nos comportamentos e que os resultados são benéficos ao seu trabalho.”
Jackson Tadeu, da Usina Ester: gestão de relacionamentos é o foco principal
De acordo com o coach, esses fatores minimizam problemas comuns de relacionamento no trabalho e facilita as tomadas de decisões da gestão. Os resultados das intervenções são claros e evidentes. “Em qualquer
circunstância trabalhar o desenvolvimento de relacionamentos traz união e integração e contribui, em última instância, com o cumprimento dos objetivos da organização”, conclui Jackson Tadeu. (IA)
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Entrevista - Dr. José Francisco Garcia
DOUTORES DA CANA! Os cases de quem partiu na frente na corrida pelas altas produtividades
produtividade agrícola. Neste contexto, quais decisões vêm sendo adotadas para alavancar a produtividade? O setor sucroenergético investe cada vez mais no MIP Manejo Integrado de Pragas em cana-de-açúcar. Fator esse que contribui sobremaneira para a manutenção não somente da produtividade, mas da superior qualidade dessa matériaprima. Atualmente, esta cultura possui inúmeros inseticidas, biológicos e químicos, registrados para o controle de insetospraga. Mas este não é o único fator de sucesso, somam-se metodologias eficazes de amostragem e capacitação técnica de equipe. Esses fatores somados, refletem de forma direta em produtividade e qualidade desta cana-de-açúcar.
Não deixe que as pragas acabem com sua imagem! Este é o slogan da Global Cana - Soluções Entomológicas Ltda., referindo-se à importância dos insetos-pragas da cana-deaçúcar. À frente da empresa, o Dr. José Francisco Garcia formou-se engenheiro agrônomo pelo Centro de Ciências Agrárias (CCA/UFSCar) em 2000 e realizou o curso de pósgraduação na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), onde obteve os títulos de mestre em entomologista (2003) e doutor em entomologia (2006). Atualmente, é diretor da Global Cana - Soluções Entomológicas Ltda., localizada em Ribeirão Preto, SP, desde 2008, e consultor em Manejo Integrado de Pragas em Canade-açúcar, realizando palestras e capacitação técnica na América do Sul, Central e Ásia/Pacífico. Ele deu a seguinte entrevista: JornalCana - Qual a sua visão sobre a importância dos insetos-praga na produtividade agrícola dentro do processo produtivo sucroenergético? José Francisco Garcia - A relação entre a quantidade de cana-de-açúcar produzida e o fator de produção (área) denomina-se produtividade. Inúmeras técnicas objetivam aumentar esta, como por exemplo: manejo adequado do solo, fertilidade, uso de variedades de qualidade, selecionadas e adaptadas, espaçamento adequado, irrigação, mecanização, etc. Porém, a negligência no controle de insetos-praga podem colocar todos esses fatores em situação de risco, pois o
resultado esperado de todas as técnicas utilizadas nessa verticalização de produtividade podem refletir em matériaprima de baixa qualidade, gerando não só diminuição na parte agrícola, mas principalmente na indústria. O aumento da incidência e o surgimento de novos insetos-praga geram um cenário de limitação de
Nesta corrida para verticalizar a produtividade, o uso da nutrição via foliar tem crescido bastante e muitas vezes sendo compartilhadas na mesma calda de aplicação dos inseticidas. Quais são os principais fatores de sucesso ou insucesso desta prática? Primeiro fator, planta em equilíbrio nutricional possui maior capacidade de tolerar o ataque de insetos-praga. Pensando em verticalização da produtividade e redução de custos, a pulverização conjunta de inseticidas mais nutrientes foliares tem chamado a atenção em nosso setor. Porém, alguns pontos devem ser questionados, como por exemplo, pH dessa calda após a adição do produto, o qual deve ficar entre 4,5 a 5,5 (meio ácido), qualidade da formulação utilizada e compatibilidade com as moléculas. O investimento em pesquisa por parte das empresas desse segmento é fundamental para o setor sucroenergético, gerando informações de qualidade e confiabilidade para seus produtos.
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Qualidade deve ser princípio básico para pagamento de valor adicional Quantidade de perdas, ocorrência de pisoteio e volume de impureza mineral precisam ser considerados R ENATO ANSELMI,
DE
CAMPINAS, SP
A premiação por qualidade na colheita que algumas usinas vêm implementando, conforme noticiou o JornalCana na edição passada, 263, é uma boa medida, afirma Reinaldo Municelli, agrônomo do Departamento Cana da Canacap – Cooperativa dos Plantadores de Cana da Região de Capivari, com sede em Capivari, no estado de São Paulo. Ele não é favorável, no entanto, ao pagamento de valores adicionais em decorrência do aumento de produtividade no corte mecanizado. “O princípio básico é a qualidade. É difícil trabalhar as duas situações ao mesmo tempo”, observa. Segundo o agrônomo, se houver premiação por produtividade, a qualidade deixa de existir. Para Reinaldo Municelli, devem ser avaliados diversos itens, como:
quantidade de perdas (toco, estilhaço, cana inteira), ocorrência de pisoteio, volume de impureza mineral. A vegetal depende da situação da própria cana na hora da colheita, observa. “Com temporal, a cana fica toda deitada e com certeza vai mais impureza vegetal para a indústria”, exemplifica. A premiação por qualidade pode ser inclusive – afirma – ampliada para outras operações agrícolas, como o plantio, que tem apresentado diversas falhas. “O plantio benfeito é garantia para a formação de um bom canavial”, diz. Apesar dos funcionários já receberem salários, nada como serem valorizados de uma maneira diferenciada pelo trabalho bem executado que proporcione um retorno maior para o empregador – comenta. De maneira geral, a premiação pode estimular o operador a ter mais cuidado e atenção na execução de suas atividades – enfatiza. “Alguns operadores gostam da máquina e não da cana. É preciso gostar das duas coisas”, afirma. O treinamento é essencial para a obtenção de resultados positivos – ressalta. A região de Capivari, onde atua a Canacap, conta com quinhentos fornecedores de cana. Na maioria dos casos, a colheita é feita pelas próprias usinas ou produtores 2terceirizados – informa.
Reinaldo Municelli, da Canacap: olho nos tocos e estilhaços da cana
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Informação é arma poderosa contra a baixa eficiência Coleta, transmissão e gerenciamento de dados possibilitam otimização de operações e processos agrícolas RENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP
O uso das telecomunicações agrícolas e outros recursos tecnológicos para a coleta e transmissão de dados, associado à utilização de sistemas da área de TI Tecnologia da Informação, tem sido uma “arma” poderosa contra o desperdício e a baixa eficiência das operações no campo. A adoção de soluções nessa área, que inclui o uso de softwares específicos para as atividades agrícolas, tem criado condições para a realização de uma gestão voltada à redução de custos, à elevação da eficiência operacional e ao aumento da produtividade agrícola. Os dados coletados no campo demoravam até um ou dois dias, em diversos casos, para chegarem à área administrativa das unidades e grupos sucroenergéticos há mais de dez anos. A transferência das informações é feita, atualmente, em tempo real, em poucos minutos ou, no máximo, no mesmo dia no final do expediente, dependendo da tecnologia utilizada.
O equacionamento dos recursos existentes, como veículos, máquinas e mão de obra, nas operações de colheita mecanizada tem sido, por exemplo, uma das soluções mais adotadas para o
gerenciamento das atividades agrícolas no setor sucroenergético. Com a transmissão de dados em tempo real, tornou-se possível também a adoção imediata de medidas voltadas à otimização das operações, caso as metas não estejam sendo cumpridas. Os ganhos com essas intervenções podem ser bastante significativos em diversas situações, pois os procedimentos de corte, carregamento e transporte representam aproximadamente 25% dos custos totais de produção. O mercado disponibiliza soluções para a coleta e transmissão de informações referentes a diferentes processos da área agrícola, como tratos culturais, plantio, colheita, possibilitando o levantamento de dados sobre operações mecanizadas, abastecimento da frota, aplicação de insumos, entre outras. De acordo com especialistas, é importante que os programas de gestão para a área agrícola – e para as demais áreas – ofereçam condições para uma total integração às ferramentas de gerenciamento da empresa, inclusive ao ERP - Enterprise Resource Planning (Sistema Integrado de Gestão Empresarial). Algumas soluções possibilitam que usuários de dispositivos móveis – smartphones, tablets – tenham um retorno das informações enviadas da área agrícola para a administrativa da empresa, recebendo orientações e indicadores referentes às operações que estão sendo realizadas.
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Tráfego está livre entre o campo e o escritório O tráfego de informações entre o campo e o escritório tem criado também condições para a composição de uma base de dados consistente e de qualidade, que subsidia a realização de um planejamento de curto, médio e longo prazo. Com isto, é possível avaliar, com maior precisão, se a utilização de uma determinada variedade não está sendo mais interessante ou se uma máquina não tem apresentado uma boa performance em uma operação específica, mesmo com a realização dos serviços de manutenção, entre outros exemplos. (RA)
Recursos tecnológicos podem exigir avaliações detalhadas Existem atualmente algumas opções para a coleta e transmissão de informações operacionais do campo para os escritórios de unidades e grupos sucroenergéticos. Cada vez mais aumentam, inclusive, as alternativas tecnológicas para a transferência de dados em tempo real.
Aplicativos que disponibilizam informações climáticas ajudam a tomar decisões sobre o uso de fertilizantes foliares, defensivos, maturadores A geração e transmissão de informações podem ocorrer de diferentes maneiras, incluindo a utilização de recursos de radiofrequência, computador de bordo, tablets, smartphones ou por meio da combinação de modalidades diferentes. A opção de transmissão de voz e dados via celular ocorre a partir da identificação do tipo de tecnologia (GPRS, 3G, 4G)
disponível em uma determinada região. A implantação de qualquer recurso tecnológico voltado à transmissão de informações ou à emissão de sinais exige um diagnóstico preciso do local onde vai ser instalado – ou mesmo ampliado – um determinado sistema. Existe a necessidade da realização de testes e avaliações detalhadas. No caso da radiocomunicação, é preciso definir os pontos de instalação de torres para que a cobertura do sinal atenda, por exemplo, as demandas da unidade sucroenergética. Com a mecanização das lavouras de cana, outro recurso importante é o RTK - Real Time Kinematic, que envia sinais por meio de ondas de rádio para máquinas dotadas de piloto automático. Esta modalidade cria condições para a
otimização das operações de sulcação, plantio e colheita. Até mesmo aplicativos usados em smartphones, com informações climáticas de diferentes regiões – que podem ser identificadas e analisadas por geolocalização (GPS), dependendo da ferramenta utilizada – ajudam a tomar decisões, em tempo real, referentes ao emprego de defensivos, maturadores, fertilizantes foliares, entre outros produtos. Diversos dados podem ser disponibilizados por meio deste recurso, como: temperatura, sensação térmica, pressão, velocidade e direção do vento, que são informações importantes para pulverizações e aplicações de agroquímicos. (RA)
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Setor precisa se voltar às mudas pré-brotadas, diz especialista ISAC ALTENHOFEN, DE VALINHOS, SP
Embora empresas de pesquisa particulares invistam pesado em melhoramento genético (veja matéria nesta página), os centros de pesquisas nacionais têm insuspeita vanguarda na área. Prova disso aparece no trabalho da equipe do Centro Avançado da Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Cana (Apta) do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), dirigida por Marcos Guimarães de Andrade Landell. Uma das prioridades do centro hoje é apontar os conceitos e vantagens das mudas pré-brotadas (MPB). O manejo por mudas pré-brotadas já não é novo, mas ainda pouco implementado nas unidades. De acordo com especialistas, o setor precisa se interessar mais por este tipo de produção e manejo. No caso do programa desenvolvido pelo Apta, iniciado em 2008, a ideia do desenvolvimento de MPBs surgiu por causa da demanda por maior eficiência produtiva e econômica dos viveiros, da necessidade de replantio de áreas e da renovação e expansão de canaviais. O aumento de 5 milhões de hectares para 9 milhões de hectares plantados no país acarretou em uma série de deficiências produtivas nos canaviais. A chegada das mudas pré-brotadas contribuíram para preencher os
Marcos Landell: O uso de variedades com a baixa adaptação é um dos fatores importantes na queda dessa produtividade
buracos nos canaviais. Hoje, uma das maiores peculiaridades da muda pré-brotada é a de preencher os espaços vazios deixados por soqueiras arrancadas ou morte prematura de pés, por algum motivo. A estagnação da produtividade nos últimos anos vem da falta de incorporação de ganhos por novas e melhores variedades. “Costumo dizer que nós plantamos variedades que foram desenvolvidas na era da prémecanização, lançadas na década de 90, quando não tínhamos praticamente nada de
plantio mecânico e muito pouco de colheita mecânica. O uso de variedades com baixa adaptação foi um dos fatores importantes na queda da produtividade”, explica Marcos Landell. Nos últimos dez anos cerca de noventa novas variedades foram lançadas em programas de melhoramento, como o do CTC, Ridesa e IAC. E essas novas variedades são consideradas insumos de maior impacto. Às vezes a migração de uma variedade para outra gera um ganho de produtividade de 11%. Para
se gerar uma variedade, leva em média quinze anos de pesquisa e estudos. É realmente um insumo que tem valor alto em termos de investimento e que muitas vezes não recebe a atenção devida por aqueles que a adotam. Marcos revela que o IAC possui variedades que geram mais de 300 t/ha em 12 meses, o que indica o potencial biológico da cana. No entanto só conseguem chegar a cerca de 25% dessa produtividade em função de uma série de limitações, como a seca. “Antigamente de 1 ha conseguíamos fazer 10 ha de mudas. Hoje no máximo conseguimos 3,5 hectares e é o que conseguimos plantar”, observa Landell. O sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB) é uma técnica simples, lembra Marcos Landell, “Passamos a produzir as mudas atuando sobre fatores de deformidade, ou seja, tiramos tudo aquilo que tem na cana que quando você a lança no sulco é desconsiderado e na realidade você tem uma alta heterogeneidade e baixa qualidade no seu plantio. Passamos a criar a MPB a partir do conhecimento da tecnologia da brotação, entendendo o substrato em que ela se adapta, a condição de irrigação que nós deveríamos ter para que tivéssemos uma otimização disso”, explica. E conclui “As plantas têm tido boa adaptabilidade a ambientes rústicos, chegando em oitenta dias a um metro, o que faz com que tenham uma rápida adaptação nas condições de campo”.
Sistema é menina dos olhos da pesquisa particular Empresas particulares também investem em mudas pré-brotadas. O AgMusa é a menina dos olhos da Basf e a Syngenta retoma seus trabalhos também na área. A Basf desenvolve, em parceria com empresas e institutos de pesquisa, desde a tecnologia da muda em si até a plantadora específica, neste caso, com a DMB. A Case participa da parceria somando esforços com a Basf no sentido de ampliar estudos para minimizar as perdas que acontecem na colheita por qualquer tipo e marca de máquina. O AgMusa está disponível no mercado desde o segundo semestre de 2013. É um sistema de formação de viveiros de cana-de-
açúcar com mudas sadias oriundas de variedades nobres. A Basf é responsável por realizar o plantio de um viveiro-matriz com material de origem certificado e controlado, o que assegura a performance no campo, com aumento da produtividade, sanidade e o estabelecimento da planta, informa. No que diz respeito ao Sphenophorus (bicudo da cana), além da sanidade que evita o aparecimento desta e outras pragas, a empresa recomenda a formação dos viveiros de AgMusa consorciado às culturas de soja e amendoim pelo plantio em meiose ou método inter-rotacional. Esta forma de plantio tem como objetivo proporcionar rotação de cultivos, benefícios agronômicos e ganhos adicionais com o cultivo intercalar.
Plantadora DMB para mudas pré-brotadas
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Válvulas bem cuidadas apresentam desempenho satisfatório As de controle geram ganhos significativos, como elevação da produtividade R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP
A boa performance das unidades sucroenergéticas na produção de açúcar, etanol e bioeletricidade dependem, entre outros fatores, de cuidados na utilização de válvulas que integram uma verdadeira malha de controle das plantas industriais. Para isto, é necessário levar em consideração a adoção de critérios e procedimentos adequados na aquisição, aplicação, montagem e manutenção desses produtos. As válvulas são utilizadas em diversas etapas da produção nas unidades sucroenergéticas, desempenhando funções, como: controle e bloqueio de gases, líquidos e de vapor em vários tipos de processos e equipamentos. Entre as mais usadas em usinas e destilarias estão as do tipo globo, gaveta, borboleta, de descarga contínua, de descarga de fundo, dessuperaquecedora de vapor. As dimensões desses produtos são bastante variadas. Existem desde modelos com alguns centímetros de diâmetro, usados nas dosadoras atuadas por solenoide, até os que apresentam medidas superiores a um metro, utilizados para manobras de vapor nos
Válvulas oferecem maior eficiência do processo e melhoria da qualidade do produto final
evaporadores de múltiplo efeito. Com a ampliação dos projetos de automação, as chamadas válvulas de controle têm sido cada vez mais utilizadas nas plantas industriais de usinas e destilarias. Esses modelos são dotados de sistemas que utilizam ar comprimido e, em alguns casos, acionamento elétrico.
Proporcionando maior estabilidade durante as diversas etapas da produção, as válvulas de controle geram ganhos significativos, como elevação da produtividade, maior eficiência do processo e melhoria da qualidade do produto final. Podem ser empregadas, por exemplo, em vasos de pressão e caldeiras. Nestas
aplicações, o objetivo é controlar temperatura, nível, pressão e vazão. Em decorrência dos benefícios proporcionados pelas válvulas de controle para o processo de produção, os operadores da unidade industrial têm maior disponibilidade de tempo para a realização de outras atividades.
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Produtos devem ser adquiridos de fabricantes com experiência A aquisição de válvulas de primeira linha deve levar em conta alguns critérios. Os produtos devem ser fabricados com materiais de qualidade e adquiridos de empresas com experiência no mercado, que apresentam inclusive capacidade para dimensionar e especificar as válvulas de maneira correta e com precisão. É importante também que o fabricante faça todo o acompanhamento necessário, disponibilizando informações, orientações e assistência técnica durante a pré e pós-venda, além de oferecer produtos com certificados de procedência e certificado de qualidade. Em relação às características desejadas dos produtos, inclui-se a possibilidade do usuário contar com válvulas que tenham um número significativo de peças intercambiáveis entre os diversos modelos para que seja possível manter uma quantidade reduzida de peças sobressalentes em estoque. As condições favoráveis para todo o processo de montagem e desmontagem são outro aspecto que deve ser considerado na hora de adquirir esses produtos. Para a montagem correta das válvulas, é necessário seguir as orientações dos fabricantes em relação à posição na linha e ao tipo de flange a ser utilizado. O mercado oferece também boas opções para a aquisição de atuadores de qualidade. Nessa linha de produtos incluem-se os de simples ação, usados para garantir – quando houver falta de energia – a posição inicial da válvula. Outros modelos são: o dupla ação e os elétricos – utilizados na automação de válvulas – que substituem os pneumáticos. Entre as características de diversos tipos de atuadores destaca-se o processo de fabricação com grau de proteção IP67, a prova d’água e poeira. Para contribuir com a otimização da malha de controle das plantas industriais, uma medida importante é a aquisição de modernos posicionadores de válvulas com operação inteligente que contam com recursos para teste automático realizado a intervalos previamente definidos. Os posicionadores facilitam a manutenção preventiva das válvulas. (RA)
Aplicação correta reduz falhas e problemas de manutenção
Especificações mal elaboradas ocasionam desgastes Diversos tipos de válvulas, de diferentes marcas, podem ser recuperadas de maneira eficiente com custo compensador dependendo, é claro, de seu estado. Empresas especializadas nessa área realizam serviços de retíficas, lapidação, jateamento, troca de peças fundamentais, entre outros procedimentos. Desgastes prematuros nas válvulas podem ser decorrentes de corrosão, cavitação, flashing provocados por diversos tipos de fluidos. Especificações mal elaboradas e alterações ocorridas no processo também ocasionam falhas e desgastes em componentes das válvulas. (RA)
As válvulas não costumam, de maneira geral, ser exigentes em relação à manutenção nem apresentam grandes problemas decorrentes de falhas quando são aplicadas de forma correta e fabricadas de acordo com normas e parâmetros internacionais. A realização de testes e ensaios de diversos modelos em laboratórios industriais é outra forma de garantir o bom desempenho desses produtos. Em qualquer circunstância, as manutenções periódicas (preventivas e preditivas) também asseguram, na maioria dos casos, o funcionamento satisfatório e preservam a vida útil média – que varia, por exemplo, conforme as condições operacionais – desses produtos. Atenção redobrada deve ser dedicada à manutenção de válvulas de controle que operam, em diversos casos, em pontos críticos do processo, onde falhas podem provocar riscos à segurança ou perdas de fluidos. Um dos cuidados que deve ser adotado, para a operação adequada das válvulas de controle, é manter o ar comprimido isento de óleo, água e outros contaminantes que podem provocar problemas para o funcionamento de posicionadores e atuadores. Para evitar esse tipo de transtorno e preservar as válvulas de controle, diversos fabricantes disponibilizam estações de ar comprimido, voltadas para sistemas de instrumentação. Esse investimento acaba sendo compensador – conforme a opinião de especialistas –, pois o retorno ocorre devido ao prolongamento da vida útil dos atuadores e à maior confiabilidade operacional desses dispositivos.
No caso dos atuadores, é preciso ainda escolher, de maneira correta, o material usado no diafragma por ocasião da manutenção realizada na entressafra. Se o material não tiver qualidade satisfatória, poderá ocorrer ruptura do diafragma, o que inviabilizará o funcionamento da válvula. Todas as ações direcionadas à manutenção criteriosa e ao funcionamento eficiente de válvulas, atuadores e acessórios tornam-se interessantes, pois proporcionam aumento da confiabilidade operacional e redução de custos devido à diminuição de paradas não programadas na planta industrial. (RA)
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Coluna recupera até 92% do etanol evaporado na fermentação Sistema eficiente possui bandejas valvuladas, conta com pratos, chuveiro e recirculação de água bem calculados, além de ter dornas fechadas R ENATO ANSELMI, DE CAMPINAS, SP
A instalação de coluna de recuperação de etanol no CO2 possibilita o reaproveitamento de até 92% do álcool evaporado durante o processo de fermentação, segundo José Henrique de Paula Eduardo, diretor da Conger, de Saltinho, SP. Mas, este resultado não é obtido por todas as destilarias que utilizam o sistema. “Tem unidade que consegue apenas 50%”, revela. Nas colunas menos eficientes – detalha –, há a utilização de tubo cheio de anéis de Raschig (como se fosse bob de cabelo) onde é jogada a água. “Uma coluna de inox, com bandejas valvuladas, com pratos, chuveiro e recirculação da água bem calculados, chega a 92%”, compara. O número de bandejas também interfere na eficiência – esclarece. De acordo com ele, gastar dinheiro com um sistema ineficiente é um desperdício, pois a unidade deixa de recuperar em torno
José Henrique de Paula Eduardo: “Tem Coluna de recuperação de etanol
de 40% do etanol evaporado. O investimento na recuperação do etanol é bastante compensador, afirma José Henrique. “Paga-se uma coluna de boa qualidade em menos de um mês de safra devido ao elevado índice de recuperação de etanol”, afirma. Houve caso em que o investimento foi amortizado em uma semana devido ao grande volume de etanol produzido e, consequentemente, recuperado pela usina – revela. Pode haver a necessidade de gastos com o fechamento de dornas. Se uma usina fechar dez dornas com aço carbono, o valor
será equivalente a uma coluna de recuperação de aço inox – calcula. A quantidade de etanol que pode ser arrastada no CO2 liberado durante a fermentação é significativa. Segundo José Henrique, alguns fatores interferem no volume do etanol arrastado, como: temperatura, teor alcoólico, velocidade da fermentação, configuração do sistema. A variação é muito grande. Em um dia frio, a evaporação é pequena. Quando a temperatura está elevada, com muito calor, a evaporação é bem alta – constata. O teor alcoólico elevado aumenta o
unidade que consegue apenas 50%”
índice de evaporação e a velocidade da fermentação também interfere – detalha. Quanto mais rápido for esse processo, maior a evaporação que aumenta a quantidade de CO2 liberado e, em consequência disto, ocorre uma elevação do etanol arrastado – enfatiza. A configuração do sistema influencia na temperatura. A fermentação mais veloz libera calor de maneira mais rápida. E, com isto, há uma tendência de aumento do aquecimento da fermentação – explica. “Se a refrigeração da fermentação for eficiente, ocorre redução da perda”, observa.
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Ausência de sistema adequado deixa dinheiro escapar pela atmosfera A ausência de colunas de recuperação de etanol no CO2 em plantas industriais de destilarias é a mesma coisa do que deixar escapar dinheiro pela atmosfera, costumam dizer profissionais envolvidos com o processo de produção em unidades sucroenergéticas.
Projeto hidráulico geral dos fluxos de líquido e gases e nível de agitação das dornas podem interferir no volume de etanol arrastado A premissa básica é que se as dornas fossem abertas haveria perda de etanol de 1 a 2% pelo arraste do CO2 liberado na atmosfera, conforme dados da literatura disponível sobre o assunto, afirma Alexandre Oliveira Calegari, gerente industrial da Usina São Manoel, de São Manuel, SP. Diversos fatores interferem no volume de etanol arrastado durante o processo de fermentação contínua – exemplifica –, como projeto hidráulico geral dos fluxos de líquido e gases, geometria das dornas, taxa de conversão dos estágios/teor alcoólico e respectiva temperatura das dornas. Além disso, o nível de agitação das dornas e o controle automatizado da operação podem contribuir para a redução ou aumento do volume do etanol arrastado no CO2. (RA)
Dorna aberta aumenta evaporação Em relação à configuração, José Henrique de Paula Eduardo, diretor da Conger, alerta que a dorna aberta é sempre um fator de perdas no processo. “A usina produz ‘açúcar’ no campo, colhe a cana, utiliza essa matériaprima na fermentação e, depois deixa isto evaporar”, comenta. De acordo com ele, as unidades sucroenergéticas não davam a devida atenção para o fechamento das dornas. Mas hoje, grande parte das destilarias têm dorna fechada. Se a usina decide fazer a recuperação de etanol no CO2, tem que adotar medidas para que esse sistema apresente bons resultados – enfatiza. (RA)
Alexandre Oliveira Calegari, gerente industrial da Usina São Manoel
São Manoel começou a implantar processo em 2004 A Usina São Manoel instalou três colunas de recuperação de etanol no CO2 entre 2004 e 2007, que substituíram as colunas antigas que operavam até aquele período, informa Alexandre Calegari. Segundo ele, a coluna de recuperação da São Manoel possui onze bandejas de alta eficiência, valvuladas. Na fabricação da coluna, houve a utilização de açoA inox AISI304 para costado e bandejas e de aço carbono para saia de sustentação. Com diâmetro de 1.600 milímetros, esse modelo de
coluna conta com distribuidor de água spray ou bicos e espaçamento entre bandejas de 500 milímetros. “Desde que foram instaladas, essas colunas praticamente não tiveram modificações”, observa. Além das três colunas, o processo de recuperação de etanol da São Manoel é composto por sistema de água recirculada, que é desviada para a dorna de vinho delevurado após saturar – explica. “As dornas não sofreram mudanças estruturais, mas receberam agitação por recirculação de vinho com bombas/bicos Venturi”, diz. (RA)
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Já é possível otimizar uma usina em tempo real JOSIAS MESSIAS, DA REDAÇÃO
Se garantir a produtividade e qualidade da cana-de-açúcar é algo extremamente complexo e custoso, já que a área agrícola é altamente dependente de fatores externos, como clima e pragas, o foco volta-se ao conceito de que uma usina, na sua essência, é uma processadora de energia e ART e deve realizar esta transformação com a maior eficácia possível. Neste sentido, um dos principais desafios da indústria é conhecer a melhor forma de operar uma planta sob diferentes condições, tais como: variação da composição da matéria-prima, mudança no mix de produção, disponibilidade de energia, mudanças frequentes dos preços, etc. Este cenário indica que a operação deve se adequar rapidamente à dinâmica do negócio. Isto requer ferramentas, métodos e procedimentos que permitam uma rápida e contínua atuação nos diversos parâmetros operacionais. “Num mercado competitivo, com margens de lucro cada vez mais estreitas para as usinas, atuar online, antecipando e ajustando variações no processo, faz grande diferença no resultado econômico-financeiro da atividade”, diz Fernando Cesar Calsoni, gerente da Divisão Industrial da Bevap Bioenergia, de João Pinheiro (MG). “Contar com um sistema que gerencia e otimiza em tempo real toda a planta de açúcar e etanol, incluindo o balanço de vapor e a exportação de energia, é o sonho de todo gestor de usina”, afirma Walter Di Mastrogirolamo, gerente industrial da Cerradinho Bioenergia, localizada em Chapadão do Céu (GO). “Em tempos de stress contínuo no setor, gerado por políticas unilaterais e desmedidas, as metas das unidades têm sido um constante desafio, portanto poder contar com o uso de uma ferramenta que antecipa a visão do operador, com um tempo de resposta muito menor, é uma excelente ideia e uma alternativa viável na busca da excelência operacional e na conquista e superação das metas pelas equipes industriais”, afirma. Para fazer isto é necessário, em termos conceituais, um sistema on-line que simule o comportamento da planta e preveja o desdobramento das ações, indicando ao longo do tempo uma melhor forma de operá-la, considerando os aspectos econômicos, técnicos, ambientais, limitação dos equipamentos, segurança, qualidade e os compromissos comerciais assumidos. Atualmente, as principais tecnologias disponíveis para este desafio são: • Controle / Automação • Controle Avançado • Otimização em Tempo Real • Simulação e Planejamento A figura que se segue apresenta uma visão em camada destas tecnologias.
Fernando Cesar Calsoni: atuação on line faz grande diferença
Na estratégia convencional de controle de otimização em camadas, a camada de otimização em tempo real calcula os valores ideais de operação de cada um dos set-points de processo e uma camada inferior (controle) implementa este valor otimizado junto ao processo. Controle Regulatório/Automação Segundo autores como Arbex (”Reduzindo Custos Variáveis”), nem sempre a adoção de controle automático reduz a variabilidade de uma planta industrial. Aproximadamente 80% das malhas de controle em operação aumentam a variabilidade em vez de reduzi-la como seria esperado. A variabilidade causada pelo próprio sistema de controle, como defeitos em sensores e transmissores, válvulas de controle com folgas, atritos e histerese, controladores mal sintonizados e estratégias de controle erradas ou inadequadas somam-se aos desvios inerentes ao processo, aumentando a sua variabilidade total. O desempenho do controle oferecido pelo algoritmo PID muitas vezes não é suficiente para se obter a redução da variabilidade desejada. Este algoritmo tem sérias limitações para controlar processos com características difíceis como não-linearidade, interações com outros controladores, grande tempo morto, dinâmica e ganho variantes no tempo. Não tem características adaptativas e sua sintonia é sempre um problema. Nestes casos a solução é usar uma tecnologia de controle avançado (Guimarães, Joaquim). Controle Avançado Entre as técnicas de Controle Avançado, temos duas que se destacam: a) Controle por Lógica Nebulosa (Fuzzy Logic) O uso da lógica nebulosa em conjunto com as técnicas de análise e inferências da inteligência artificial permitiu o desenvolvimento de controladores Fuzzy. Em geral este tipo de controlador deve ser desenvolvido com regras e características internas específicas para cada sistema que se deseje controlar. A lógica Fuzzy não necessita de conhecimento prévio dos fenômenos envolvidos. Os sistemas atualmente disponíveis no mercado utilizam valores mínimos, médios e máximos dos sensores (temperatura, pressão e fluxo) e dos atuadores (válvulas, bombas e motores) para definir regras que podem ser posteriormente ajustadas.
b) Controle Preditivo com Otimização (MPC) O Algoritmo MPC tem característica preditiva, ou seja, utiliza um modelo interno do processo para prever o comportamento das variáveis dependentes ao longo de um horizonte futuro, em função de variação nas variáveis manipuladas ou perturbações. Este modelo é gerado por meio de testes de variação na própria unidade de processo. Utilizando as predições futuras das variáveis dependentes, o algoritmo calcula os movimentos necessários nas variáveis manipuladas que minimizem a soma dos erros futuros. O MPC pode ser dotado de capacidade de otimização local. Otimização em Tempo Real (RTO) Como ferramental tecnológico, a técnica que tem recebido maior atenção na indústria de processos é a Otimização em Tempo Real (Real Time Optimization). O RTO procura otimizar o desempenho do processo (geralmente medido em termos de lucro ou custo operacional) permitindo que as empresas possam aumentar a sua rentabilidade nas diversas condições da planta. O RTO baseia-se num modelo matemático da planta para “explorar”/simular regiões próximas da operação atual e para então encontrar uma melhor condição de operação e definir um valor de set-point mais adequado para obtê-la. Se a variável controlada for um indicador de qualidade, a sua estabilidade pode ser suficiente para redundar em ganho, pois se deixa de produzir itens com qualidade fora da especificação e se atinge uma maior produção. No caso da produção, a redução da variabilidade não é suficiente para gerar benefício. O ganho se obtém com a mudança do patamar médio (set-point). Conceitualmente, num RTO, a operação não teria que atuar nos set-points. A operação deveria fornecer o intervalo (mínimo / máximo) e o RTO determinaria o melhor set-point. E estes setpoints seriam passados para as camadas de automação e controle regulatório. Simuladores para Planejamento Os simuladores de processo são ferramentas para estudos de engenharia e viabilidade, sendo que seu público-alvo são os engenheiros de processamento da planta, que fazem uso da ferramenta para avaliar comportamento e a modelagem dos equipamentos em análises
estratégicas, com foco voltado ao médio e longo prazo. Estes simuladores são ferramentas off-line parametrizadas para avaliações pontuais e atingimento de metas pré-definidas em partes do processo, e também para planejamento industrial. Geralmente não contam com um algoritmo integrado de otimização global do processo. Algumas usinas substituíram as tradicionais planilhas de balanço de massa e energia por softwares simuladores de processo para fazer o planejamento da produção, utilizando dados digitados e, em parte, captados de sistemas gerenciais. Baseado em estudos de engenharia e informações do passado da planta, estes simuladores emitem relatórios com estudos que permitem à equipe gerencial planejar a produção nos ciclos seguintes, seja mensal, semanal ou diário. Para evitar o trabalho de confrontar manualmente o Planejado com o Realizado, dentro da filosofia do PDCA ou PDCL (Plan, Do, Control, Analyze ou Learn), a primeira evolução destes sistemas seria capturar os dados de produção dos sistemas de informação das usinas, evitando a injeção manual dos dados, com a análise e correção sendo feita para o próximo ciclo. Atualmente temos fabricantes que mantém o posicionamento de que o simulador é para estudos de what-if, ou seja, uma ferramenta offline, enquanto outros buscam agregar funcionalidades para torná-lo on-line. Os principais desafios são: (i) obter um modelo aderente com a realidade e simples para os algoritmos de otimização; (ii) alimentação automática dos dados; (iii) mecanismos de checagem da coerência das medições; (iv) otimizador robusto que permita simular e otimizar toda a usina em segundos; (v) indicação dos pontos de melhoria em tempo real; (vi) operar a planta em laço fechado, quando recomendado. Os fabricantes de software encontram-se atualmente em estágios diferentes. A maioria encontra-se no estágio (ii), onde o nível de detalhe da modelagem dos equipamentos e a volumosa quantidade de dados necessários a essa modelagem é a grande dificuldade para que estas soluções consigam operar on-line no futuro, ou seja, chegarem a atuar como um RTO. Isto se deve ao conceito de detalhamento e estudo de planejamento da ferramenta, além do que a operação em tempo real requer ferramentas eficazes de reconciliação de dados e otimizadores que possam fornecer os cálculos em segundos.
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“RTO é tecnologia à frente do que as usinas estão acostumadas” Para Walter Di Mastrogirolamo, que utiliza tecnologias de controle avançado e simuladores, nenhuma destas ferramentas consegue realizar e entregar os resultados que a tecnologia de Otimização em Tempo Real (RTO) proporciona. “O RTO é uma tecnologia que está muito à frente do que as usinas estão acostumadas, por isso representa um paradigma a ser quebrado. Num futuro próximo, o RTO será o padrão da gestão industrial nas usinas, algo como o COI é hoje”, conclui.
QUADRO COMPARATIVO CRITÉRIO
SIMULADORES TRADICIONAIS
CONTROLE AVANÇADO
RTO
Otimização
Normalmente não é nativa
Local
Global
Fundamento
Princípios gerais da engenharia (Termodinâmica, Balanço, Equilíbrio)
Baseado em regras e características internas específicas para cada sistema que se deseje controlar
Princípios gerais da engenharia (Termodinâmica, Balanço, Equilíbrio) aliado a reconciliação de dados e algoritmo de otimização global integrado
Tecnologia
Simulação de casos. Escolha da melhor opção dentre as opções simuladas
Controle Avançado Lógica Fuzzy
RTO ou Controle Avançado Preditivo com Otimização Global e modelo da Planta
Acesso aos dados
Injeção manual dos dados a serem analisados
Processo - Via OPC
Processo - Via OPC Dados de contrato – Via ODBC Dados de Laboratório – Via ODBC
Atuação
Geração de relatórios e programação de produção
Controle regulatório existente
Fornece recomendações em Tempo Real ao operador ou atua diretamente em laço fechado
Frequência do uso
Em função da necessidade
24 h / 7 dias da semana
24 h / 7 dias da semana
Solução de Otimização em Tempo Real (RTO) para usinas, o S-PAA
Walter Di Mastrogirolamo, da Cerradinho Bioenergia: sonho de todo gestor
O setor sucroenergético já conta com uma ferramenta do tipo RTO, o S-PAA. As principais características que definem o S-PAA com um RTO são: • Possui mecanismos para coletar em tempo real as informações da planta; • Possui um modelo representativo de todo processo produtivo e de utilidades, que permite explorar as regiões próximas à da operação da usina (Planta Virtual); • Possui um otimizador, que procura uma melhor condição de operação respeitando os limites da operação;
• Fornece recomendações para o operador ou atua diretamente em laço fechado. O S-PAA determina e pode atuar em malha fechada, determinando o set-point para o sistema existente de controle, mas não atua diretamente no controle regulatório. Ou seja, as tecnologias de controle e RTO são complementares, pois estão em camadas distintas. Atualmente a estrutura convencional de controle de otimização por camadas tem se modificado. Um exemplo citado anteriormente é o Controle Preditivo com Otimização. A diferença é que o modelo utilizado pelo MPV se baseia em
modificações feitas na própria planta e a otimização é Local. Dentro desta nova abordagem o S-PAA pode ser visto como uma extensão do Controle Preditivo com Otimização Global, e baseado nos primeiros princípios de Engenharia (Termodinâmica, Balanço de Massa, Equilíbrio de Fase). O S-PAA conta ainda com capacidade de simulação de cenários que a planta já viveu e o comportamento da planta em novas condições também podem ser preditas, portanto engloba características de todas as soluções supracitadas, inclusive as de um simulador.
Software representa o “estado da “O S-PAA trouxe arte” em gerenciamento industrial ilimitadas possibilidades” Gilmar Galon, gerente industrial da Usina Pitangueiras, que completou o processo de implantação do S-PAA no último mês de outubro, concorda que o software representa o “estado da arte” em gerenciamento industrial já aplicado a usinas e destilarias, especialmente pela atuação em laço fechado nos principais set-points da indústria, como a embebição e controle caldeira/turbogerador. “Com apenas 45 dias de utilização do software nesta safra, pudemos perceber toda a potencialidade do sistema, tanto na gestão e operação quanto nos ganhos econômicos, e estamos entusiasmados para extrair o melhor do sistema na próxima safra.” Nelson Nakamura, diretor da Soteica, desenvolvedora do S-PAA, explica que a empresa possui 27 anos de experiência em desenvolvimento e implementações de RTO no mercado petroquímico e de óleo e gás e já atua em usinas há mais de 8 anos. “O S-PAA já nasceu on-line e usa tecnologia que foi testada em condições críticas como as do mercado petroquímico. Não é uma solução que nasceu de um simulador off-line e depois foi agregando drives de comunicação, isso faz toda a diferença e garante a robustez de uma
Gilmar Galon, gerente industrial da Usina Pitangueiras
ferramenta que já nasceu um RTO.” Profissional com 30 anos de experiência nas áreas de processo, operação, manutenção e projetos nos mercados sucroenergético, Papel e Celulose e indústria química, Fernando Calsoni vê o S-PAA como uma inovação tecnológica imprescindível. “O SPAA é uma ferramenta poderosa e de alto nível, a qual permite aos gestores industriais tomarem decisões assertivas e em tempo recorde. “
Pioneiro na utilização do SPA-A , o Grupo paranaense Usaçúcar possui 7 unidades com o sistema já implantado. O gerente industrial da Unidade Cidade Gaúcha, Maurício Honda, observa que existem vários tipos de sistemas de automação e controles industriais para atender as diferentes necessidades das empresas. "O S-PAA trouxe ilimitadas possibilidades como o aumento de produtividade, redução de custos, análises, diagnósticos e simulação do processo produtivo, fatores que nos tempos atuais podem fazer a diferença na sustentação de uma empresa”, observa Maurício Honda, De acordo com João José Marafão, também da (Usaçúcar) a ênfase mais forte deste controle é que conseguiram elevar o desempenho do processo. Utilizando-se de todos os balanços juntos e otimizados, esse ganho gerou performance operacional
Maurício Honda
relevante para a operação da planta em estabilidade e produção. “A malha fechada estrutura o processo para a máxima performance e gera confiança operacional, pois o operador tem uma ferramenta confiável e que ele pode iniciar o processo e na sequência passará para o S-PAA e terá todas as informações em tempo real para acompanhar”, constatou.
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PDCA on-line agora é uma realidade nas usinas D OUGLAS CASTILHO MARIANI*
O PDCA é a sigla das palavras em inglês plan, do, check e action, ou seja, em português: planejar, executar, verificar e agir. É uma ferramenta de gestão cuja eficiência é amplamente reconhecida para a melhoria dos processos de fabricação ou de negócios e foi criada há 20 anos por Edward Deming, considerado o “pai” do controle de qualidade moderno. A sua aplicação é simples e deve ser feita de modo contínuo, em espiral.
line em uma planta sucroenergética? Esta possibilidade já está disponível, o S-PAA e suas funcionalidades de Tutorial Integrado (ou Instrução Operacional Integrada), que já vem sendo utilizado por grupos e usinas que estão se diferenciando dos demais players. Fazendo referência aos números na figura do início deste artigo, segue o detalhamento dos processos de um PDCA com as ferramentas disponíveis no S-PAA.
PLAN
O ciclo PDCA tem seu início pela etapa de planejamento (Plan), nesta etapa o objetivo é focar na parte estratégica do ciclo, ou seja, no levantamento e análise das informações. Em seguida ocorre a execução (Do), onde tudo aquilo previamente planejado é executado, gerando a necessidade de avaliar a qualidade do que está sendo feito e nos levando à etapa do processo de checagem (Check). Nesta etapa temos a verificação de tudo que foi feito, comparando o que havia sido planejado com o resultado final, e com consequentes problemas e falhas que possam ter ocorrido durante o processo. Por fim, toda essa análise implica na necessidade de ação (Action) e na correção dos problemas e divergências encontradas.
1-) Identificação: Com o S-PAA, um modelo detalhado de todo o processo é construído e são definidos os limites operacionais que devem ser seguidos durante a operação. 2-) Observação: Estas informações são colhidas on-line dos sistemas de monitoramento e controle do processo, e dos sistemas de qualidade através das referências (TAGs ou identificadores de análise) definidas durante a modelagem. 3-) Análise: o S-PAA captura os dados automaticamente (on-line) e calcula o balanço de massa e energia, identificando os pontos que não estão dentro da faixa operacional esperada. 4-) Plano de Ação: Com o Tutorial Integrado do S-PAA, além de identificado o desvio, já está disponível para o operador qual plano de ação ele deve tomar com apenas um clique no alerta.
APLICAÇÃO PDCA USINAS
DO
Uma planta sucroenergética tem uma grande quantidade de processos que devem ser acompanhados e controlados pela equipe de operação, supervisão e gerência para que estes operem dentro dos objetivos propostos e alcancem suas metas. A aplicação de um PDCA faz com que as equipes nos diversos turnos sigam procedimentos operacionais que são aprimorados dia a dia e ajustados de acordo com as variações de qualidade de matériaprima, clima, mercado, entre outros. Ou seja, para cada cenário vivido na usina é necessário planejar uma ação (Plan), executá-la (Do), avaliar seus resultados (Check) e disseminar entre equipes e turnos em caso de resultado positivo ou reavaliar em caso de desvios e/ou problemas (Action). Implementar este procedimento aos diversos subprocessos de uma usina sucroenergética é um trabalho hercúleo e que consumiria uma quantidade vultuosa de horas trabalho de profissionais capacitados. Recursos humanos este que, atualmente, é escasso no cenário de reestruturação pelo qual o setor está passando.. A solução para se manter um ciclo de melhoria contínua sem consumir tantos recursos humanos capacitados é fazer uso de ferramentas que por si implementem um ciclo automático de PDCA.O S-PAA é um exemplo de ferramenta com capacidade de implementação on-line de PDCA em um processo sucroenergético. É possível implementar um PDCA on-
5-) Ação: Como o S-PAA é um RTO capaz de atuar em Laço Fechado (o próprio software definindo os set-points de controle da planta), além de alertar a operação ele ainda tem a capacidade única de atuar diretamente no processo, evitando os desvios e diminuindo o tempo morto entre a identificação e atuação.
COMO FUNCIONA UM PDCA?
CHECK 6-) Verificação: Com o sistema é possível analisar cada uma das ocorrências frente a variabilidade do processo e a problemas específicos, dando ao operador uma ferramenta para registro de sua atuação ou da impossibilidade em atuar. Aos gestores, o S-PAA fornece uma plataforma integrada de observação das ocorrências e entendimento da forma de reação da operação frente as mesmas. Os botões desse aviso apresentam as seguintes funcionalidades: Ocultar até simular: Irá ocultar a mensagem até a próxima simulação. Ocultar por 30 min: Essa opção não exibirá a mensagem por 30 minutos. O mesmo vale para a terceira opção “Ocultar por 1 hora.” Justificar: A partir deste botão, entrase numa caixa de texto em que o operador que está vendo o aviso na tela do S-PAA, pode justificar o motivo de ter ocorrido o desvio e sua atuação frente ao mesmo. Ao clicar em “Gravar” Esse texto ficará armazenado no software para a geração de relatórios.
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QUADRO QUE RESUME AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE UM PDCA TRADICIONAL E O PDCA ON-LINE
CRITÉRIO
PDCA TRADICIONAL
PDCA ON-LINE
Consumo de Recursos Humanos Qualificados na Implementação
Bastante Elevado – Necessário pessoal para acompanhamento de vários processos
Baixo – S-PAA faz o acompanhamento on-line dos processos
Forma de Implantação
Estruturação deve ser feita pela empresa
O S-PAA já tem sua própria estrutura replicável
Integração das Informações
Necessário utilizar vários sistemas da empresa e geralmente é necessária ainda alguma customização por parte da TI
Todas as informações estão em um único sistema que pode se comunicar com os demais e gera relatórios em formato Excel, que é amplamente conhecido e disseminável
Impacto Turnover
Elevado – processo é mais dependente das pessoas e de sua capacidade de replicação aos novos colaboradores e da aceitação destes novos integrantes da equipe
Baixo – processo está estruturado no S-PAA e os novos colaboradores apenas devem ser treinados na utilização do sistema e o processo vem como consequência da utilização
Manutenção do Ciclo
Dependente do gestor
Própria utilização do S-PAA se encarrega da manutenção
ACTION 7-) Padronização: O gestor tem a sua disposição em uma única ferramenta todas as informações para entender os cenários de desvios e atuações da operação, e com base nisso chegar a uma conclusão. Os dados referentes ao tutorial, como por exemplo, as justificativas que os
operadores deram ao ver um alerta e quais ações foram tomadas durante a ocorrência dos eventos configurados ficam disponíveis em relatórios em formato Excel. Nesta planilha são geradas três abas. Justificativa Operador: Essa aba contém todas as justificativas fornecidas pelo usuário do S-PAA quando o mesmo viu
a ocorrência. Clicks Operador: Esta aba indica quais avisos foram abertos pelo usuário ao ver o alerta. Além disso, a coluna tipo indica o que foi feito pelo operador. Por exemplo, se foi justificado o evento, se o tutorial foi aberto e apenas fechado. Eventos Ocorridos: Este relatório
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indica todos os eventos ocorridos em dado equipamento e/ou setor. O gestor tem ainda a opção “Ocorrências Por Hora” onde será contabilizada a quantidade de ocorrências para cada equipamento e/ou setor em dado período de tempo. 8-) Conclusão: Com todos estes dados disponíveis em uma ferramenta integrada e que conta com atuação e otimização online, o gestor poderá chegar de modo mais eficaz a uma conclusão e ajustar o plano de ação, iniciando um novo ciclo e garantindo a melhoria contínua com baixo consumo de recursos humanos, deixando o S-PAA trabalhar e implementar o PDCA por ele.
*Douglas Castilho Mariani, engenheiro químico e consultor da Soteica do Brasil
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HORA DE CORTAR O S DA PALAVRA CRISE Mesmo com crise mais amena, setor investirá menos, esperando transparência nas políticas públicas I SACALTENHOFEN, DE TORRES, RS
Em 2016 alguns discursos continuarão sendo recapitulados e repetidos pelo setor, mas com baixo risco de serem decorados. Espera-se que a crise, por exemplo, seja um deles porque a expectativa é que, pelo menos no caso do sucroenergético, mais ao fundo do que está, não há como ir – e ninguém o deseja, mesmo se houvesse forma. O desafio é aprender a usar o momento delicado para rever conceitos e ativar novas ideias. E não desanimar. É o que aconselha a diretora da Assocap — Associação dos Fornecedores de Cana de Capivari, SP, Maria Christina Pacheco. “Corte o S da palavra crise e teremos a palavra crie”, sugere. Ela reconhece que o setor está, claro, passando por um momento difícil, mas está certa também de que este é o momento ideal para ele se reinventar. Na área de mercado, Maria Christina acredita que neste 2016 o setor terá uma safra com melhores preços e com boa
Maria Christina Pacheco, presidente da Assocap
produtividade. “Esperamos que também tenhamos melhor ATR, para recuperarmos mais sacarose e os fornecedores também ganhem mais”. A diretora explica que a Assocap vem mantendo seus associados informados a
respeito do momento difícil para o setor nacional. Revela, por exemplo, que uma das usinas associadas enfrenta dificuldades financeiras e que ainda deve parte dos 20% retidos da safra 2014/15. Consequentemente sua safra 2015/16 será
TRÊS PONTOS CRUCIAIS Rui Chamas, presidente da Biosev, aponta três pontos que serão o foco de 2016 para reduzir os efeitos da crise no setor: Otimização das necessidades de capital de giro, por meio de gestão disciplinada e eficiente dos estoques e do ciclo de conversão de caixa; Seletividade nos desenvolvimentos, com prioridade nos investimentos em plantio, tratos e manutenção; Alongamento do perfil do endividamento e da redução da alavancagem financeira.
Rui Chamas, presidente da Biosev
prejudicada. Mas nada que não se resolva. A solução no curto prazo da associação tem sido orientar os produtores a cuidar da sua lavoura e cortar custos a fim de pelo menos manter a mesma produção da safra anterior em 2016/17. (IA)
O biocombustível está mais competitivo, sustenta Ortolan Manoel Carlos de Azevedo Ortolan, diretor da Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), acredita que o mercado será positivo para o setor no próximo ano. Segundo ele, o etanol vem batendo recorde de consumo, o que faz com que os preços provavelmente continuem nos patamares atuais. “O biocombustível está mais competitivo”, afirma. Ele acredita que em 2016 as exportações do etanol brasileiro aumentarão ainda mais em função do aumento de interesse dos compradores indianos e chineses. Em relação ao açúcar, os preços também deverão continuar bons. “A safra 2015 dos associados da Orplana foi iniciada no dia primeiro de outubro e irá até trinta de setembro de 2016”. Ortolan prevê um déficit de 2,5 milhões de toneladas de açúcar na safra. “É possível que após um ciclo de excedente de açúcar nos últimos anos, tenhamos um ciclo de déficit. Mas esperamos ter mais cana, com melhor preço!” (IA)
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Setor exige políticas públicas mais eficazes Outro discurso que constantemente foi ouvido em workshops, seminários, celebrações e conferências sucroenergéticas é quase um clamor pela necessidade de melhor atuação das políticas públicas de apoio ao setor. E esse apelo continuará reverberando em 2016. Tornou-se praticamente um jargão o pensamento comum dos envolvidos na cultura canavieira: o governo brasileiro precisa criar políticas mais transparentes e eficazes para o setor. Ricardo Junqueira, diretor da Usina Diana, é enfático: “As políticas públicas para o nosso segmento deixam muito a desejar”. Roberto Cestari, presidente da Associação dos Fornecedores de Cana da Região de Orindiúva (Oricana), acredita que se o governo brasileiro atrapalhasse menos o setor do agronegócio em geral, haveria maior contribuição para o PIB nacional e a cadeia produtiva e industrial seria mais competitiva em nível mundial. — A crise política e econômica refletiu 100% no setor sucroenergético brasileiro. A inépcia chegou ao ponto de
conseguirem quebrar a maior empresa do país, a Petrobras. Isto trouxe imediato reflexo na economia, principalmente em nosso setor. Sendo assim, penso que levará muito tempo para que o setor volte a fluir dentro de sua normalidade. Maria Christina Pacheco, da Assocap, ressalta que o Brasil tem as leis mais restritivas do mundo para a produção de cana-de-açúcar. Lembra que em outros países produtores não há legislações trabalhistas e ambientais exigentes como as nossas. — No exterior, ficam horrorizados quando mostramos as leis que devemos seguir. Nunca ouviram falar em “mata ciliar” ou “reserva legal”, NR31, etc. Lá fora é possível terceirizar atividades e contratar mãodeobra temporária sem nenhuma burocracia. Para Alexandre Andrade Lima, presidente da AFCP, uma das políticas que deve ser adotada e mantida sempre, por exemplo, é a paridade da gasolina com preços de mercado, além de um aumento da Cide na composição dos preços da gasolina. (IA)
Roberto Cestari, presidente da Oricana
“Não podemos descuidar dos custos e da produtividade”
Ricardo Junqueira, diretor da Usina Diana
Ricardo Junqueira, diretor da Usina Diana, também tem visão positiva em relação às melhorias dos preços do etanol e do açúcar. Acredita que a tendência do mercado é melhorar ainda mais a partir do ano que vem. “Não podemos descuidar dos custos e da produtividade”, diz. Sua empresa tem buscado soluções para amenizar os efeitos da crise. Ele e seus técnicos pretendem fixar alguns preços de venda que remunerem
antecipadamente a usina. — É importante ressaltar que o Brasil precisa se inserir nos mercados mundiais de comércio através de tratados bilaterais de cooperação. Penso que estamos ficando para trás neste assunto que é de extrema relevância para todo o setor agroindustrial brasileiro. Seria de bom tom o Governo Federal ‘acordar’ e tomar as devidas atitudes para que o Brasil volte a ter a relevância que sempre teve no passado. (IA)
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Fornecedores arregaçam as mangas e reativam usinas em PE Depois da Pumaty, Pedroza e Cruangi retomam atividades, para alegria nas matas Norte e Sul LUIZ MONTANINI, DE CORTÊS, PE
Os integrantes do setor sucroenergético de Pernambuco chegaram ao final deste 2015 comemorando pelo menos três iniciativas de sucesso. Em um movimento de recuperação que começou em 2014, com a retomada da Pumaty, rebatizada depois como Agrocan, outras duas unidades foram reativadas, uma em cada ponta das matas: Na Mata Norte a Cruangi retomou as atividades e na Mata Sul a Pedroza, em Cortês, agora renomeada como Copersul Açúcar e Álcool, também voltou a moer, arrendada pelo Grupo Farias a Gerson Carneiro Leão e Reginaldo Morais. O fator significativo destas três reativações é que à sua frente está boa parte dos fornecedores de cana do estado de Pernambuco. Com Gerson Carneio Leão, do Sindicape - Sindicato dos Cultivadores de Cana-de-açúcar no Estado de Pernambuco e Alexandre Andrade Lima, da AFCP –
Copersul Açúcar e Álcool (antiga Pedroza): uma das 3 arrendadas por fornecedores
Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco e Unida (União Nordestina dos Produtores de Cana) representando-os, os fornecedores estão, de alguma forma, saindo da condição de coadjuvantes no setor para se tornarem empresários produtores de açúcar, álcool e outros derivados da cana-de-açúcar. Das agora dezoito unidades em operação no Estado, três são geridas por fornecedores de cana. Gerson Carneiro Leão, por sua vez, dirige a cooperativa Agrocan como presidente do Sindicape e a Copersul, como arrendatário, ao lado do amigo e sócio Reginaldo Morais, ambos sempre contando com a ajuda dos filhos. A reativação das unidades repercutiu economicamente no estado e foi sentida nos índices do país. No mês de setembro, o Caged – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho, informou que Pernambuco fora o estado que mais gerara empregos no País em admissões, especialmente por causa das contratações feitas na época pelas usinas Cruangi e Pedroza (Copersul). Naquele mês foram admitidos 52.583 pessoas e desligadas 37.335, com um saldo de 15.248 vagas criadas no período. A diferença entre os números representou 1,16% mais vagas em comparação a agosto. No mesmo período, em todo o país foram fechadas 95.602 vagas.
“Se Cruangi e Pedroza não voltassem a moer a turma estava lascada” Fundada em 1891, em toda a sua história a Usina Pedroza só deixou de moer na safra passada (2014/2015). Ela retoma as atividades após arrendamento, pelo Grupo Farias à Copersul. A expectativa é de que a usina moa nesta safra 400 mil toneladas de cana, gerando 30 mil toneladas de açúcar (600 mil sacos), que produzirão sete milhões de litros de álcool. O faturamento global estimado para a safra é de R$ 60 milhões, movimentando cerca de R$ 45 milhões na economia local. Quatro mil postos de trabalhos foram gerados, entre diretos e indiretos. A unidade beneficia a produção de 1,2 mil fornecedores, pequenos e médios, de nove municípios. Além de Cortês, são beneficiados Ribeirão, Barra de Guabiraba, Joaquim Nabuco, Escada, Amaraji, Palmares, Primavera e Gameleira. Gerson Carneiro Leão conta que perdeu a conta dos abraços que recebe quando chega a uma destas cidades, a começar de Cortês. “A usina ficou parada por apenas uma safra, mas foi o suficiente para afetar toda a população da região”, lembra. “Se estas três usinas (Pumaty, Cruangi e Pedroza) não voltasse a moer, não sei o que seria do povo destas regiões”. — É verdade, se Cruangi e Pedroza não voltassem a moer a turma estava lascada — concorda no seu tom peculiar de falar o também fornecedor José Renato de Menezes Lins, da região do Cabo, PE. Gerson Carneiro Leão explica: “Ou a gente reativava essas três usinas ou a
Gerson Carneiro Leão perdeu a conta dos abraços que ainda recebe
classe desaparecia...” Com a retomada da Pedroza, a alegria voltou à região de Cortês. Além do próprio trabalho no campo, a unidade gera
centenas de outros trabalhos diretos e diretos, seja no campo, seja em serviços, seja na cidade. “São borracheiros que abrem borracharia, mecânicos que abrem
suas oficinas, farmacêuticos que abrem farmácias, enfim o comércio retornou com vigor para a cidade”, observa Gerson Carneiro Leão. (LM)
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USINAS
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Volta da Pedroza reativou o comércio na região Há poucos dias Gerson Carneiro Leão entrou em uma loja de eletrodomésticos da cidade de Palmares e mal deu alguns passos o proprietário da loja se aproximou: — Deixa eu te dar um abraço — Ôxi, por quê, homem? — Olha, Gérson, eu ia ter que demitir gente que trabalha na loja e estava agoniado. Mas a volta da usina reativou o comércio na cidade. Estão todos trabalhando, não vou precisar dispensar ninguém... Gérson conta que estas coisas o alegram muito, mas também lhe servem de inspiração. Ele diz que recebe um novo ânimo quando chega alguém e repete uma frase que tem ouvido muito desde que se aventurou a reativar a unidade. “Não desista, doutor Gerson....! E ele mesmo pergunta: “Dá para desistir ouvindo alguém que é daqui te animar assim? Não vamos desistir mesmo”! Hoje também do outro lado do balcão, o presidente do Sindicape Gerson Carneiro Leão e Líder do Ano do MasterCana Brasil, conta que vai comemorar 27 anos de experiência no setor neste 2016 realizando um sonho: Não apenas o de gerir uma usina mas sim o de ver seus colegas fornecedores recebendo o preço justo e em dia pela cana que produzem com tanto sacrifício. (LM)
“Primeiro açúcar saiu preto que só ele”
Gestão jovem A forma de gestão que a Copersul encontrou é interessante, dividindo os trabalhos por áreas e responsabilidades. Otaviano Rocha assumiu desde setembro a gerência industrial, Flávio Romero de Souza Leão se responsabilizou pela gerência agrícola e Guilherme Aguiar Carneiro Leão e Reginaldo de Morais Filho assumiram a área comercial. — É uma nova geração, com pensamento jovem, realmente uma nova forma de gestão — reconhece Gerson Carneiro Leão. O próprio contrato de arrendamento foi assumido pelos mais jovens: está em nome da filha de Gérson, Betânia Aguiar Carneiro Leão e do filho de seu sócio, Reginaldo Morais Filho. (LM)
Guilherme Aguiar Carneiro Leão e Otaviano Rocha, dois da equipe de jovens
Colocar a usina para funcionar depois de um ano parado não foi nada fácil, tampouco bonito. Antes de chegarem as autoridades, como governador do Estado para a inauguração a equipe trabalhou e suou muito. O apontamento aconteceu de junho a outubro de 2015. — Quando o primeiro açúcar saiu era preto que só ele, lembra Gerson. “Então saímos em seguida limpando os canos... Agora tá branco, tá perfeito, e graças ao trabalho da equipe, liderada principalmente por meu sócio e amigo Reginaldo Morais, especialista na indústria”. (LM)
José Elias ganha para manter o preparo físico em dia Alguns setores fundamentais da unidade continuam a receber os cuidados de profissionais experientes. O encarregado da moenda, por exemplo, é um senhor simpático de 68 anos. José Elias do Nascimento tem 37 anos de experiência com moendas e, destes, só ficou fora da Pedroza por 4 anos, de 2011 a 2015. Foi convencido a voltar por Gerson, Otaviano e Reginaldo Morais. — Eles começaram a aperrear o meu juízo. Devo a eles a volta e estou contente
porque aqui mantenho meu preparo físico em dia e ainda ganho dinheiro para isso —, brinca. A equipe é afinada. Ismael Lima da Silva é o supervisor da área de fabricação de açúcar. Ele diz que a reativação foi boa para todos. Recuperou os empregos e foi bom para ele, para sua e para outras famílias da região. Andrelino José de Moura, 21 anos apenas com o Grupo Faria, é o supervisor da destilaria e, da mesma forma, está feliz com o retorno às atividades. (LM)
José Elias do Nascimento, supervisor de moenda
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POLÍTICA SETORIAL
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ENTREVISTA – Alexandre Andrade Lima, da AFCP e Unida
FOGO AMIGO NA CRUANGI Fornecedores ainda têm dificuldade de entender e abraçar o sistema como causa LUIZ MONTANINI, DE TIMBAÚBA, PE
As 24 horas do dia são poucas para tanto trabalho diante de Alexandre Andrade Lima, presidente da AFCP — Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco e da Unida – União Nordestina dos Produtores de Cana, com sede no Recife. Aos inúmeros afazeres que estas atuações políticas o obrigam, somados aos que já possui como produtor de cana, Alexandre Andrade Lima incluiu a direção da recém reativada Usina Cruangi, de Timbaúba, PE, por meio da Coaf — Cooperativa do Agronegócio dos Fornecedores de Cana, ligada à AFCP. (O JornalCana publicará matéria especial sobre a usina na edição de fevereiro). Alexandre se desdobra em nome do setor e em favor da continuidade do trabalho com dignidade dos fornecedores de cana de Pernambuco. Em uma pequena pausa da correria da usina para resolver problemas emergenciais da área industrial, Alexandre Andrade Lima falou ao JornalCana especialmente sobre as dificuldades dos fornecedores de cana entenderem e abraçarem como causa o sistema cooperativista: JornalCana: A reativação da Usina Cruangi tem movimentado novamente a economia local. Como está sendo isto? Alexandre Andrade Lima: É gratificante ver as pessoas enviando ou trazendo na portaria seus currículos para preencher vagas de caldeireiro, soldador, maçariqueiro, serralheiro, enfim. Foram muitas vagas abertas e é ótimo perceber o sorriso no rosto dos trabalhadores. Quanto foi investido nesta retomada? Olha, conseguimos recolocá-la para moer com R$ 3 milhões e vamos moer em torno de 350 mil toneladas até este mês de janeiro e produzir 35 milhões de litros de etanol. Pouco, em se tratando da Cruangi, não? Sim, não me conformo que uma usina que já moeu 1,4 milhão de toneladas, que fez a terceira maior safra do estado e a segunda em produtividade e em rendimento industrial tenha chegado a esse ponto. Ficou parada por 3 anos, mas pelo menos conseguimos reativála. Mas e as outras, que fecharam ou estão para fechar, qual será seu destino? Não podemos deixá-las neste estado. Como aconteceu o arrendamento pela associação de fornecedores de cana? O fornecedor de cana aqui na região estava necessitando de uma unidade para
moer e pagar por sua matéria-prima porque havia muito calote. E a classe se uniu no arrendamento, através da cooperativa. Fizemos um investimento inicial de R$ 3 mi e há muito ainda por fazer, porque uma fábrica parada por três anos exige muito por fazer ainda. Mas entramos aqui em julho para começar a moer em setembro e conseguimos. Começamos com álcool, pois para fazer açúcar precisamos de mais cana e ainda está difícil conseguir a quantidade necessária, mas chegaremos lá. Como conseguiram viabilizar o arrendamento? O investimento foi dos próprios cooperados. Nós agora estamos começando a pagar esses investimentos. A usina tinha dívidas de quase R$ 8 milhões e também recebemos auxílio do governo, por meio de incentivos fiscais. Qual a maior dificuldade de vocês hoje? É a situação climática adversa. Esse El Niño que aqui chamamos de “El monstro.” Ele afeta demais essa região. Principalmente a mata norte do estado. Existem áreas aqui que têm perda de cana de até 60%. Eu até brinco com o pessoal de São Paulo. Lá, quando há uma redução de 5% ou 7% é uma calamidade. Aqui, temos dez vezes mais. Isto sim é calamidade. Isso é o que está afetando mais a Coaf — Cooperativa do Agronegócio dos Fornecedores de Cana de Pernambuco. Se não tivesse havido esta redução certamente moeríamos 500 mil toneladas de cana nesta safra. Há então uma cooperativa dentro da associação? Essa cooperativa já funciona há 5 anos na Associação. Por meio dela compramos e vendemos insumos mais baratos aos
cooperados e outros bens. Sou o presidente dela e, como tal, tive que assumir esse gargalo aqui e sem tempo. Sou agrônomo, tenho alguma experiência, espero que possa ajudar. A classe de fornecedores é unida? No geral sim, mas infelizmente alguns não entendem nossa luta e trabalham contra, unindo-se a poderosos que querem nos ver no chão. Então você está lutando na verdade até com fogo amigo? Você falou tudo agora. Tem gente que não tem essa concepção da cooperativa. Sabe a importância dela pra continuar funcionando, mas não coloca sua matériaprima na própria cooperativa. Está se aproveitando da cooperativa pra viabilizar seus interesses nas outras usinas próximas. Como assim? Barganhando a cana. Na semana passada eu disse a muitos deles que o sucesso da cooperativa só depende dos cooperados. Se estamos numa região com escassez de cana e vocês trazerem a cana para a cooperativa ele vai ter sucesso e todos terão. Caso contrário, inviabiliza a iniciativa. Você tem algum bom exemplo de cooperado que contribui de forma efetiva com a cooperativa? Cito o exemplo de um fornecedor de cana, Raimundo Nonato, que foi presidente da Asplana da Paraíba. Ele nos ajuda, transportando sua cana por 78 km até a usina. Coloca a cana aqui dentro para dar sua participação no processo. Traz quase 2 mil toneladas de cana por mês e dessa distância. Se os daqui de perto tivessem essa concepção, a gente teria uma safra de 660
mil toneladas já neste ano e já fazendo açúcar também, porque temos capacidade instalada para isso. A questão financeira é um grande problema? É difícil, mas estamos conseguindo dar conta. O governo de Pernambuco concedeu um incentivo para as cooperativas que estão reabrindo unidades e ele é maior do que é dado às usinas normais. Com quantos funcionários a Cruangi trabalha hoje? Em torno de 350 mais ou menos e estamos pagando em dia, graças a Deus. E qual é a expectativa para os próximos anos? Olha, o pessoal já está começando a ganhar aqui. O açúcar subiu, graças a Deus, mas não estamos fazendo açúcar. Para fazer açúcar a gente precisaria moer pelo menos 6 mil toneladas por dia e estamos moendo 4 mil. Acha que em 3 ou 4 anos consigam um crescimento interessante? Isso vai depender de Papai do céu, porque a expectativa aqui é difícil, por causa dessa seca. E vai depender dos fornecedores cooperados trazerem a cana para a gente moer também. Algum proprietário tradicional de usina apoiou vocês? Há resistência, mas alguns deles apoiam sim. Faço elogio público ao Jorge Petribu, que várias vezes liga para mim e diz: “Alexandre o que você precisar é só pedir. A gente está à sua disposição. Nossas moendas e nossas turbinas são iguais e eu tenho aqui outras na reserva. Conte comigo...”
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Sistema de Gestão de SSO reduz acidentes na São Martinho I SAC ALTENHOFEN, DE TORRES, RS
O reconhecimento que o Grupo São Martinho recebeu em 2015 pelo Sistema de Gestão de SSO na categoria Saúde Ocupacional está programado para ser mantido neste 2016. Iniciado como ferramenta para a melhoria do desempenho financeiro, operacional e social da organização, fornece uma estrutura básica padronizada para todas as unidades dentro e fora da indústria. Em sua política estão os princípios e o compromisso da companhia em melhorar seu desempenho de forma contínua e conduzir o negócio de maneira responsável. O principal objetivo do programa é a redução das taxas de gravidade dos acidentes do trabalho, sem deixar de adotar uma agenda preventiva. São promovidas ações que focam a próatividade e melhoria da performance em SSO — Sistema de Saúde Ocupacional. Para chegar a este nível foi necessária a padronização de procedimentos, entre outros aprimoramentos implantados, disseminando a nova cultura de segurança
entre gestores e lideranças da companhia. Os colaboradores, clientes, fornecedores, acionistas, bem como outras partes interessadas são os principais beneficiados. Atualmente o Sistema de Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional beneficia diretamente cerca de 14 mil pessoas. A implantação do Sistema de Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional do Grupo São Martinho padronizou as iniciativas ligadas ao tema em todas as unidades, possibilitando melhor planejamento, controle e monitoramento. “Além de colaborar na drástica redução do número de acidentes, os indicadores gerados nos ajudam a tomar decisões mais acertadas, proporcionando cada vez mais um ambiente seguro e saudável aos nossos colaboradores” aponta Márcia Cubas, Diretora de RH e Sustentabilidade do Grupo São Martinho. A entressafra é um período crítico dentro do setor, onde requer muita atenção pelo fato de ocorrerem muitas manutenções. Nesta, o Grupo São Martinho deve manter o mesmo índice de redução de 80% de sua taxa de gravidade em acidentes dos últimos três anos.
Marcia Cubas
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SAÚDE & SEGURANÇA
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Bem-estar é o que importa na Clealco Projeto RH em Ação usa a informação para valorizar saúde, segurança e vida saudável dos colaboradores Em 2014 o Grupo Clealco desenvolveu o projeto “RH em Ação: saúde, segurança e informação”. A ideia era levar informações relacionadas aos benefícios, bem-estar, saúde, legislação e treinamentos para os colaboradores, já que possuem pouco contato com as áreas administrativas. Dessa forma oferece aos que exercem cargos operacionais, a oportunidade de conhecimento dos processos administrativos que são de interesse comum. Quinzenalmente a equipe de recursos humanos visita as frentes de trabalho específicas para levar informações relevantes. Os temas abordados são: q Treinamento e desenvolvimento – São realizados treinamentos, bolsas de estudo, transferência de função, baixa de requisitos, oportunidades de estudo e cursos são oferecidos. Por meio destas explanações o colaborador se informa sobre as oportunidades profissionais disponibilizadas pela companhia. q Departamento pessoal – Reajuste salarial, dúvidas no holerite, descontos e registros de pontos são trazidos à transparência do colaborador. Desta forma,
Equipe de garotos bons de bola é notícia no jornal interno
ele fica informado sobre seus direitos e obrigações relacionados à área de administração. q Comunicação – A Rádio Clealco e o Informativo Clealco, são canais de comunicação da companhia. Elas anunciam o dever de atualização dos dados cadastrais, divulgam os classificados para compra e venda de materiais, e noticiam pautas de interesse da empresa para o jornal interno. q Fundo médico – Leva informações
relacionadas aos benefícios médicos e hospitalares em que o colaborador possui direito. Explica os procedimentos de utilização, apresenta as novidades de programas disponibilizados e demonstra os benefícios do Clube Cares (Clealco Associação Recreativa e Social). q Alimentação ao trabalhador – Os colaboradores recebem informações relacionadas à alimentação saudável, tipos de alimentos que fazem bem à saúde,
pirâmide alimentar e dicas de alimentação para o dia a dia. q Segurança do Trabalho – Realiza instruções de segurança no trabalho e ordem durante as atividades na empresa. Dá instruções quanto à utilização de EPIs e consequências quanto a sua não utilização. q Medicina do trabalho – São abordados os temas referentes aos acidentes no trabalho, consultas médicas, atestados e grupos de riscos.
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NEGÓCIOS & OPORTUNIDADES
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Revestimentos de moenda da Comaso apresentam excelentes resultados Após o término da safra, chega o momento de se desmontar os rolos de moendas, avaliar o desgaste ocorrido e planejar sua recuperação. Neste momento é verificada a eficácia do revestimento utilizado nos rolos de moenda antes da safra. Usinas que utilizaram a solução da Comaso para revestimentos de moendas obtiveram excelentes resultados, terminando a safra com os rolos quase intactos, mesmo após 3 milhões de toneladas de cana moídas. As principais vantagens desta solução da Comaso são: maior resistência ao desgaste, pequena incidência de quebra de frisos e custo competitivo. Lembrando que rolos desgastados durante a safra geram perdas de extração, maior custo de recuperação e reduzem a vida útil dos rolos. “A escolha de um revestimento adequado é fundamental para não se ter problemas ao longo da safra ou após ela. Garantimos a eficácia de nossa linha de produtos, que já tem sido aplicada por vários anos em diversos clientes”, explica o engenheiro Luiz Frederico Caspari, diretor da Comaso. A Comaso possui consumíveis para revestimentos de moenda, preparo de cana e seus equipamentos auxiliares. A empresa convida interessado a solicitar visita de um consultor a fim de conhecerem esta solução inovadora. Comaso Eletrodos 16 3513 5230 www.comaso.com.br
Rolo superior de usina da região de Sertãozinho após 3 milhões/t de cana moída
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