Jornal de toronto #11

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Jornal de Toronto Padronizado

D. Pedro e o barraco nosso de cada dia Esse ano vai ser puxado. Pode se

Aprender uma língua estrangeira não é fácil. Este é o drama vivido por Lipe, o protagonista da divertida websérie Standardized, que mostra o desafios de um ator brasileiro em sua busca pelo sotaque norte-americano padrão. p. 5

preparar pra terminar o ano com menos amigos do que você tinha ano passado, pois do jeito que a coisa anda, isso é inevitável. E não adianta me dizer... p. 6

edição # 11 | ano # 1 | maio 2018 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855

Amamentação Tens direito a desencontros & possibilidades não ter direitos No mês das mães, nada mais oportuno do que falar de amamentação, um dos principais ritos de passagem da maternidade. Por menos familiarizada que se esteja com o tema, está lá no inconsciente coletivo que esse é um evento natural, gratuito e possível, basta querer. Porém, quem amamenta ou já amamentou, sabe que nem sempre é assim. Para muita gente, um bom preparo e ajuda qualificada são fundamentais para tornar essa experiência viável e prazerosa. p. 7

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A Justiça, do escultor Alfredo Ceschiatti, em Brasília.

felipo tardim

Participação das mulheres no mercado de trabalho ainda é menor que dos homens p. 3

Ontário oferecerá child care gratuito p. 3

A saída para a classe Aumento do desemprego média

Uma febre chamada Bitcoin

não é apenas um índice

p. 4

A volta de José Francisco Schuster ao rádio

Com experiência de mais de 35 anos em jornalismo, nosso colunista do Jornal de Toronto retoma seu aclamado programa, agora na CHIN Radio. p. 5

A classe média trabalha horrores, mal consegue pagar as contas no final do mês e geralmente possui dívidas (no cartão de crédito, principalmente). O fato é que, independente dos índices econômicos, a classe média tem ficado mais pobre a cada dia. Com o desemprego subindo, o caminho é... para baixo. p. 4

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Esta edição de maio presta homenagem às mães e aos trabalhadores. As datas comemorativas reforçam o valor de acontecimentos, pessoas e grupos, mas sabemos que todo dia é dia das mães e que o trabalho... definitivamente, todo dia é dia do trabalho. E se podemos dizer que estamos tão fortemente preenchidos por esses dois temas, então resolvemos trazer uma edição que trata do ponto de vista inverso: o não preenchimento das coisas. Uma das fotos diz tudo: “Mind the gap”. Há um gap enorme entre os homens e as mulheres no mercado de trabalho; há um gap ainda maior entre aqueles que conseguem ter um emprego bom e aqueles quem nem mesmo emprego têm; há um gap no sistema judiciário, fruto da distância que certos grupos preferem manter sobre outros. Há o gap da língua, da medicina, da arte, da Educação, da política e do dinheiro, dentre tantos outros. Olhar para o espaço entre as coisas nos dá uma noção diferente sobre o cuidado com o próximo, a tolerância e a perseverança. E, no fim das contas, é disso que essas datas comemorativas tratam. ADR Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Gerente de mídia social: Luiza Sobral Revisor: Eduardo Castanhos Fotógrafos: Andrew Martin, Arek Socha, Dario Amaral, Felipo Tardim & Sigre Colunistas: Alexandre Rocha, Cristiano de Oliveira, Leandro Calado & José Francisco Schuster Colaboradores dessa edição: Alexandre Dias Ramos, Camila Valente & Cristina Martins Agradecimento especial para: Indira Naidoo-Harris, Mark Datuin, Michael Maranda, PaxLayla, Valentine Moreno Agências, fontes e parceiros: Art Gallery of York University, CHIN Radio, CIUT Radio, MAD Resilience Films, ONU Brasil, Parabolica, Plenarinho Câmara dos Deputados do DF Conselho editorial: Camila Garcia, Nilson Peixoto, Rosana Entler & Sonia Cintra © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, GTA, London, Montreal, Ottawa, Calgary e Vancouver. Contato: info@jornaldetoronto.ca Siga nossa página no Facebook, Twitter, e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #11, ano #1, maio 2018 ISSN 2560-7855

Cotidiano

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Tens direito a não ter direitos

arek socha

Editorial

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José Francisco Schuster Desde pequeno me dei conta de que meu destino era trabalhar com a informação. Mas, por sorte, me dei conta de que há duas maneiras de lidar com ela: o interesse individual ou o coletivo. Escolhi o Jornalismo, onde o objetivo é apresentar todos os lados de um fato para que o receptor forme livremente sua opinião a respeito – as profundas distorções quanto a isto na imprensa brasileira contemporânea rendem uma tese. Não optei, portanto, pela Publicidade e Propaganda, apesar de que fazemos, juntos com eles, as disciplinas da primeira metade do curso de Comunicação Social – porque depois disso o objetivo deles é deterem o monopólio da verdade.

Já meus pais insistiam para que eu fizesse Direito, e cheguei a concluir alguns semestres. Em seguida vi, porém, que não era para mim. Como na Publicidade e Propaganda, o advogado de cada lado se arvora como dono da verdade, colocando sua opinião à venda mesmo que saiba que não é a verdade. Um assassino brutal confesso sempre terá um advogado que o defenda e que fará de tudo para ocultar as barbaridades do seu cliente. O sui generis é que, condenado o réu e comprovada toda a mentira que foi construída para defendê-lo, o advogado não é condenado como cúmplice do crime! Das minhas aulas de Direito, recordo que ele foi criado não pe-

los gregos, pensadores, mas pelos belicosos romanos. Tudo começou com o direito costumeiro, baseado nos principais costumes dos cidadãos mais influentes; ou seja, já começou determinando-se que a plebe não tinha garantia nenhuma de direitos. Também foram criados instrumentos de aplicação do direito aos estrangeiros, o que contribuiu em muito para a expansão das fronteiras de Roma e para a dominação de uma grande quantidade de povos. O primeiro texto legal, a Lei das Doze Tábuas, previa a escravidão e a pena de morte por simples furto, e o poder de vida e morte do pai sobre os filhos, por exemplo.

Com o tempo, foi criada toda uma teatralização do Direito, sempre com o objetivo de convencer que as elites são as únicas dignas dele. O uso de togas e até perucas é mantido até hoje, e o terno-e-gravata obrigatórios são uma tradição justamente para afastar da Justiça os que não são bem aquinhoados. Some-se a isso o tratamento de “doutor” e “excelência”, para separar estes supostos seres superiores da plebe. Para completar, o texto jurídico tem que ser o mais rebuscado possível, absurdamente longo, com palavras raras e expressões latinas, justamente para aquele que não pertence ao clube não entender por que lhe roubaram seus direitos, mas mesmo assim achar que “o doutor deve ter razão”.

Ao contrário do Jornalismo, onde a regra na qual os professores insistem é do “curto, claro e simples”, na faculdade de Direito eram exigidos textos o mais longos possível, não importava o quão desconexos fossem – alguns colegas mais ousados chegavam a incluir no meio de seus trabalhos impropérios aos professores, que nem se davam conta deles na superficial correção que faziam. E uma secretária de juiz (cargo ocupado por formados em Direito) me confessou que quando recebia um processo para fazer uma sentença (o juiz, na verdade, só revisa), perguntava apenas “é para condenar ou absolver?”, pois sempre se encontram leis que sustentam as duas hipóteses. Aos que dizem que os dois lados têm direito a advogados (e aqui meus cumprimentos a aqueles heroicos que trabalham em defesa dos desvalidos), como contrapor a força, por exemplo, de um advogado de um trabalhador demitido ou de uma ONG ecológica contra um batalhão de advogados regiamente pagos por uma poderosa multinacional? Há, por fim, a questão dos juízes, que o Estado se propõe a bem remunerá-los para que não

se corrompam. O problema é que, desta forma, seus contatos sociais acabam sendo primordialmente com as elites, o que tende a gerar uma distorção de perspectiva. Passam a irritar-se simplesmente se quem busca o direito não está vestido como mauricinho ou patricinha, e não entendem a fome de quem rouba uma galinha. Por outro lado, um poderoso passar a ser proprietário de terras indígenas ou quilombolas não tem nada de errado, porque foi tudo feito dentro das brechas que a lei permite. Os juízes acabam também manipulando a lei a seu próprio favor, dando a si próprios polpudos aumentos e benefícios, em nome da independência do judiciário. Acaba vencendo, via de regra, o princípio do “direito adquirido”, que é o de não se alterar nada, o “sempre foi assim”, por mais danoso à sociedade que isto seja. E como os poderosos perpetuam-se no poder, a eles também se eternizam os direitos. À maioria, resta apenas as frases de efeito com pompa e circunstância das excelências a convencê-la de que não tem direito a nada.

Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, e agora produz e apresenta o programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.

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Economia

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Participação das mulheres no mercado de trabalho ainda é menor 47,7% 41% que dos homens As mulheres representam

organização das nações unidas – onu brasil

As mulheres são menos propensas a participar do mercado de trabalho do que os homens e têm mais chances de estarem desempregadas na maior parte dos países do mundo, afirma novo estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT). De acordo com o relatório, a taxa global de participação das mulheres na força de trabalho em 2018 ficou 26,5 pontos percentuais abaixo da taxa dos homens. Além disso, para cada dez homens empregados, apenas seis mulheres estão empregadas. “Apesar dos avanços conquistados e dos compromissos assumidos para continuar progredindo, as perspectivas das mulheres no mundo do trabalho ainda estão longe de ser iguais às dos homens”, disse a diretora-geral adjunta de políticas da OIT, Deborah Greenfield. “Seja sobre acesso ao emprego, desigualdade salarial ou outras formas de discriminação, precisamos fazer mais para reverter essa ten-

dência persistente e inaceitável com a implementação de políticas adaptadas às mulheres, levando em conta também as demandas desiguais que elas enfrentam em relação a responsabilidades domésticas e de cuidados de outros membros da família”, acrescentou Greenfield. No entanto, o estudo revela disparidades significativas, dependendo da riqueza dos países. Por exemplo, as diferenças nas taxas de desemprego entre mulheres e homens nos países desenvolvidos são relativamente pequenas. As mulheres chegam até a registrar taxas de desemprego menores do que os homens no Leste Europeu e na América do Norte. Mulheres demais no trabalho informal; poucas em cargos de gestão O estudo também mostra que as mulheres enfrentam desigualdades significativas na qualidade do emprego que possuem. Por exemplo, em comparação com os homens, as mulheres ainda têm mais que o dobro de chances de serem trabalhadoras

familiares não remuneradas. Isso significa que elas contribuem para um negócio familiar voltado para o mercado, muitas vezes sujeitas a condições de emprego vulneráveis, sem contratos escritos, respeito

lar sobre como o novo investimento de Ontário, de $2,2 bilhões em três anos, expandirá o acesso a creches para famílias em toda a província, minimizando os problemas financeiros que as famílias têm enfrentado ao longo desses anos. “Oferecer assistência infantil gratuita para crianças em idade pré-escolar permitirá que os pais voltem a trabalhar mais cedo e faz parte do leque de soluções implementadas pelo nosso governo para preencher as disparidades salariais entre homens e mulheres. Tenho ouvido de muitos pais sobre a necessidade urgente de child care a preços acessíveis em Toronto, e estou orgulhosa de que o nosso governo esteja respondendo a isso. A creche gratuita

da força de trabalho; e ganham em média

10%

sigre

pela legislação trabalhista ou acordos coletivos. Enquanto nos países emergentes a participação das mulheres entre trabalhadores familiares não remunerados diminuiu na última década, nos países em desenvolvimento ela continua alta, representando 42% do emprego feminino em 2018, em comparação com 20% do emprego masculino, e sem sinais de melhoria até 2021. Como resultado, há mais mulheres no emprego in-

é apenas uma das maneiras de fornecer às famílias jovens o apoio necessário para prosperar em nossa comunidade”, relata Cristina Martins. A aprendizagem precoce demonstrou melhorar o desempenho acadêmico de uma criança durante toda a vida. O acesso ao child care dá aos pais, especialmente às mulheres, mais opções sobre quando retornar ao trabalho, além de ajudar a diminuir a diferença salarial entre os gêneros. Esta mudança histórica na província seguiu as diretrizes do economista Gordon Cleveland, a partir de um extenso processo de consulta presencial e online, com milhares de pais, educadores e profissionais de creches de Ontário.

Analisando as mulheres que administram empresas, o estudo observa que, no mundo todo, quatro vezes mais homens estão trabalhando como empregadores do que mulheres em 2018.

29%

menos que os homens

No entanto,

45%

trabalham em uma das 20 ocupações menos remuneradas

Boa notícia: Ontário oferecerá child care gratuito para crianças a partir de dois anos e meio A partir de 2020, Ontário tornará o child care gratuito para crianças em idade pré-escolar, a partir dos dois anos e meio, até que seja elegível para iniciar o jardim de infância, aqui chamado kindergarten. Segundo a Ministra da Educação, Indira Naidoo-Harris, “este compromisso histórico economizará milhares de dólares anualmente das famílias e dará tranquilidade aos pais. É um investimento histórico que beneficiará as crianças de Ontário por gerações”. A estimativa é de uma economia em torno de $17.000 dólares por criança. Cristina Martins, MPP por Davenport, esteve no St. Helen’s Children’s Place, no Mary McCormick Recreation Center, para fa-

formal nos países em desenvolvimento. Estes resultados confirmam pesquisas anteriores da OIT que alertaram sobre desigualdades significativas de gênero em relação a salários e proteção social.

Essas desigualdades de gênero também se refletem em cargos de gestão, onde as mulheres continuam a enfrentar barreiras do mercado de trabalho para acessar estes postos. “Os desafios e obstáculos persistentes que as mulheres enfrentam irão reduzir a possibilidade de as sociedades desenvolverem caminhos para alcan-

Pelo mundo, as mulheres ganham em média

23% menos

çar crescimento econômico com desenvolvimento social. Portanto, acabar com as desigualdades de gênero no mundo do trabalho deve continuar a ser uma prioridade máxima se quisermos conquistar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas até 2030”, concluiu o diretor do Departamento de Pesquisa da OIT, Damian Grimshaw.


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A saída para a classe média Aumento do desemprego não é apenas um índice

Alexandre Dias Ramos

Uma febre chamada Bitcoin Alexandre Rocha O ano de 2008 marcou o nascimento do Bitcoin. Nestes 10 anos de existência, a moeda chegou a valer aproximadamente US$20 mil, em dezembro de 2017. Os ganhos surreais atraíram investidores de tudo quanto é tipo que, mesmo sem entenderem direito como funciona, viram na moeda a chance de enriquecimento fácil e rápido. Mas o que é este tal de Bitcoin e por que ele se tornou uma febre mundial? O Bitcoin foi criado como uma moeda que não existe na forma de papel-moeda, como nós conhecemos. Ele é um arquivo de computador criptografado, ou seja, protegido por um código único. Vem daí o termo criptomoeda, por usar criptografia para garantir a autenticidade. Hoje, estima-se que haja mais de 1200 criptomoedas, sendo o Bitcoin a mais conhecida delas. Há milhares de teorias sobre quem poderia estar por trás da verdadeira identidade do criador do Bitcoin. Um tal de Satoshi Nakamoto, que não se sabe ao certo se é uma pessoa ou uma empresa, apresentou o conceito de Blockchain no ano de 2007, em um grupo de discussões na Internet, o The Cryptography Mailing. Como quase tudo que vem deste exótico investimento e do mundo das criptomoedas é especulação, não é surpresa que,

até hoje, ninguém saiba ao certo a sua verdadeira identidade. O Blockchain

É na Internet que tudo acontece. Blockchain é uma rede que possui, em seu sistema, blocos interligados que carregam informações e uma impressão digital. No Bitcoin, essa informação é a transação financeira. Uma transação só é realizada quando os computadores na rede do Bitcoin validam juntos o código da transação. Confirmada e depois validada, ela é gravada no Blockchain. Este registro é mais conhecido como “mineirar” Bitcoin. Como estes computadores possuem acesso a uma cópia da operação, isso aumenta a segurança do sistema. É o chamado protocolo de confiança. A valorização Ao constituir a moeda, o software controlador estabeleceu que haverá 21 milhões de Bitcoins disponíveis em circulação. Com este limite, a ideia é que um dia não seja mais possível criar mais Bitcoins na rede e, a medida que o tempo passa, a moeda vai se valorizando. Mas o que vimos nos últimos anos pode ser atribuído a uma valorização causada muito mais pela ganância e irracionalidade do que pela lógica estrutural. Somente em 2017 a moeda teve valorização de 1500%. Ela divide opiniões: bolha especulativa ou confiança na tecnologia? Não há respos-

ta. O fato é que, em uma bolha, o preço se descola da realidade e há um movimento que se retroalimenta, com investidores comprando mais, fazendo o preço subir rapidamente e atraindo mais investidores até que, subitamente, a bolha estoura e o preço desaba.

A informação de que a taxa de desemprego no Brasil subiu novamente – são agora 13,1 milhões de desempregados, segundo o IBGE – só mostra que a população, de modo geral, está vivendo pior. Grande parte do problema, como sabemos, é a corrupção, que afeta os investimentos públicos e as estruturas que deveriam mover o país. Mas isso é apenas a casca de questões mais profundas, pois a corrupção é também uma consequência das diferenças sociais e do individualismo característico da cultura brasileira. No fim das contas, individualismo

como uma forma – efetiva, é verdade – de realocar recursos públicos na cultura, mas a partir da lógica de marketing das empresas que obtêm a isenção fiscal, ou seja, sem a participação de uma política pública de governo. Em outras palavras, o governo se absteve de ter de administrar a cultura.) O fato é que nos foi ensinado que o crescimento do Brasil e a qualidade de vida da população deveria ser medida através dos índices econômicos e gráficos mostrados no telejornal. Ainda que a compra do supermercado esteja cada semana

A classe média trabalha horrores, mal consegue pagar as contas no final do mês e geralmente possui dívidas (no cartão de crédito, principalmente). A verdade é que, independente dos índices econômicos, a classe média tem ficado mais pobre a cada dia. Com o desemprego subindo, o caminho é... para baixo. É preciso olhar para o tamanho do buraco em que todos estão. E por isso, a falta de apoio aos mais pobres é um ponto muito importante a ser considerado. O Brasil é dos poucos países onde a classe média não apoia a classe baixa,

Regulação x Anonimato As criptomoedas garantem o anonimato total para seus operadores e essa característica tem feito Governos atentarem para o fato de que, por trás das negociações das moedas virtuais, podem existir diversas atividades ilegais, como tráfico de drogas, contrabando e lavagem de dinheiro. A ideia inicial de Nakamoto, ao propor o protocolo Blockchain, era fugir das normas básicas da economia e apostar no ambiente em que o dinheiro e a confiança pudessem andar juntos. Ele não contava com a “criatividade” humana. Países como China e Alemanha querem regulamentar o uso das moedas digitais. Empresas como Google, Facebook e Twitter proibiram qualquer tipo de publicidade em suas plataformas. Hoje, o Bitcoin encontra-se na faixa dos US$7 mil, uma desvalorização de 65% desde a sua máxima histórica. O que parece é que ele está mais para a Febre das Tulipas do século XVII do que para o novo sistema financeiro mundial. A história nos dirá.

Alexandre Rocha é trader nos mercados futuros do Brasil, EUA e consultor financeiro independente. Em 2014, deixou o Banco do Brasil para fundar a consultoria Aletinvest. Se formou em economia pela UCAM-RJ e é mestre em Études Internationales pela Université de Montréal. Atualmente mora em Montreal, mas é apaixonado por Toronto. _ www.aletinvest.com

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o seu espaço.

andrew martin

é o cerne da corrupção (tirar o dinheiro do outro em proveito próprio). Outro problema vem da ideia, muito difundida desde os governos Vargas e JK, de que o investimento massivo no setor secundário (indústria) resolveria todo o problema dos trabalhadores – como se o ideal de vida para um cidadão pudesse se resumir a trabalhar numa fábrica de carros. Um pouco por conta disso, nunca houve um interesse real dos governos em investir na área cultural e intelectual, de forma séria e consistente. Vemos a penúria de nossas universidades públicas, a falta de material nos laboratórios de pesquisa, a falta de apoio nos setores editorial e audiovisual, no turismo, patrimônio histórico, etc. (Vale aqui um parêntese, para quem se lembrou da Lei Rouanet, que foi criada

mais cara, ainda que o condomínio suba todo mês, se os índices forem bons, todos se sentem satisfeitos. E então quando o índice vai mal, a leitura dependerá de qual lado você estiver. Dependendo do “time de futebol” para quem se torce, o lado direito ou esquerdo do campo, um time acha tudo péssimo e o outro acha tudo ótimo; se inverter, ainda que os números sejam os mesmos, todo mundo achará o contrário. Ora, isso não ajuda muito nenhum dos lados, porque a vida de todos precisa ser boa, não importa o time ou partido que se prefira. O que tem faltado, então, é um entendimento menos carregado de emoção – em nossos tempos, de ódio – para que a população pare de olhar apenas para seu próprio grupo e possa começar a se preocupar com o país.

que a serve. Em contrapartida, apoia a classe alta, que apenas a usa como mão-de-obra e mercado consumidor. A classe média fica feliz de ser usada porque almeja ascender, sem se dar conta que isso não vai acontecer. Uma classe trabalhadora empobrecida, num país com alta desigualdade social, puxa a economia para baixo e impede que haja uma classe média forte. Nesse sentido, o caminho mais acertado para a classe média avançar (ou sobreviver) é se unir à classe mais pobre e lutar por melhores condições para o país. Isso significa defender a justiça social, os direitos dos cidadãos e combater o preconceito, o individualismo e a intolerância que imperam nesse país.

Alexandre Dias Ramos é editor-chefe do Jornal de Toronto, mestre em Sociologia da Cultura pela FE-USP, doutor em História, Teoria e Crítica pela UFRGS, e membropesquisador do Grupo de Estudos sobre Itinerários de Formação em Educação e Cultura da Universidade de São Paulo.


Cultura

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Padronizado A divertida websérie “Standardized” mostra o desafios de um ator brasileiro em sua busca pelo sotaque norte-americano padrão Leandro Calado Aprender uma língua estrangeira não é fácil. Ainda mais difícil é precisar livrar-se do sotaque causado pela sua língua de nascença. Este é o drama vivido por Lipe, o protagonista da premiada websérie Standardized. Criada em 2015 por Felipe Viana (Parabolica) e dirigida por Mark Datuin (MAD Resilience Films), a produção canadense acompanha as visitas de um ator brasileiro a uma variedade de profissionais de fonoaudiologia. Felipe Viana produz e protagoniza o seriado. Durante os nove episódios da primeira temporada, Lipe têm o auxílio de um grupo de pesquisa formado por fonoaudiólogos para que atinja o seu objetivo de perder o sotaque brasileiro e, consequentemente, conseguir mais papéis destinados para atores norte-americanos. O problema é que Lipe é um pouco egocêntrico e apresenta dificuldade em receber instruções e feedback, o que torna a vida dos pesquisadores mais complicada.

O seriado marca todas as colunas do que faz uma comédia ser boa. Devido à duração dos episódios – 3 minutos em média – as piadas vão direto ao ponto, o ritmo é rápido e não existe enrolação. As situações vividas pelo protagonista são fáceis de se identificar – por exemplo, as barreiras da comunicação causadas pelo sotaque e os estereótipos sofridos pelo povo latino num país de língua inglesa. Os traços da personalidade de Lipe dão motivos para não gostar do personagem, mas o resultado é completamente oposto. Apesar de todo egocentrismo, o carisma do ator prevalece e Felipe Viana tem uma performance hilária na websérie. O restante do elenco engrandece a produção com atuações igualmente engraçadas diante do objeto de estudo surreal que é Lipe. Standardized possui duas temporadas e todos os episódios estão disponíveis online no YouTube (StandardizedSeries.com).

Nascido no Rio de Janeiro e nordestino de coração, Leandro Calado é jornalista graduado pela Universidade Federal de Sergipe. Em 2017, trocou o menor estado do Brasil pela imensidão de Toronto. Apaixonado pela sétima arte e cultura pop em geral, escreve semanalmente para a versão online do Jornal de Toronto, onde indica (ou não) filmes para os leitores.

O produtor e ator Felipe Viana, na websérie Standardized.

Brasil ganha programa na Galeria da York University faz exposição rádio CHIN de artista brasileira

Terceira sala da exposição, obra de Bárbara Wagner.

A Art Gallery of York University (agYU) inaugurou dia 18 de abril a exposição da brasileira Bárbara Wagner e do alemão Benjamin de Búrca, com a curadoria de Emelie Chhangur. Os artistas mostram, em salas com fotografias e vídeos, a relação e o espaço entre a cultura tradicional e a cultura pop, como o frevo e o brega do Recife, a estética dos MCs e a dança do hip-hop. É uma oportunidade de ver o trabalho de Bárbara, que é uma das maiores fotógrafas contemporâneas do Brasil (www.barbarawagner.com.br). No dia 27 de maio, às 2pm, os artistas falarão sobre seus trabalhos. A exposição vai até dia 24 de junho. Tudo é grátis e a galeria fica a poucos passos da nova estação York University do metrô. A exposição é realizada em parceria com o Scotiabank CONTACT Photography Festival e a programação off-screen do Images Festival 2018.

Estreou no último dia 21 de abril o programa Noites da CHIN Brasil, na rádio CHIN, que pode ser escutada no mundo inteiro através de seu app, do site www. chinradio.com ou, na Grande Toronto, no 1540 AM. O programa vai ao ar aos sábados e domingos, das 7pm à meia-noite, trazendo notícias da comunidade, do Brasil e do Canadá, entrevistas, e também o melhor da música brasileira. A programação é totalmente em português brasileiro. O produtor e apresentador é o jornalista José Francisco Schuster, nosso colunista do Jornal de Toronto, que possui uma experiência de mais de 35 anos em jornalismo, inclusive tendo passado por rádios de Porto Alegre e Florianópolis, e tendo mantido um programa brasileiro em outras rádios comunitárias de Toronto por oito anos, o estimado Fala, Brasil. “Ter um programa brasileiro na grade de programação da CHIN, porém, tem um sabor especial, por ter sido a primeira estação de rádio multicultural do Ontário”, destaca Schuster. Fundado em 1966 pelo lendário Johnny Lombardi, filho de imigrantes italianos, o grupo CHIN, iniciado

José Francisco Schuster nos estúdios da CHIN Radio.

pela rádio AM, incorporou duas emissoras FM em Toronto e uma em Ottawa, e produz dez horas semanais de programação de TV, exibidas nas manhãs de sábado e domingo na City TV. Com programação em mais de 30 línguas no rádio, a CHIN agora inclui o Brasil. “É um reconhecimen-

dario amaral

to ao crescimento da comunidade, que completou 30 anos no ano passado e que vem agregando um número crescente nos últimos anos; e a seu valor e contribuição para o Canadá”, entende o produtor. E você pode também ouvir o podcast do programa no site do Jornal de Toronto. www.jornaldetoronto.ca


Política

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Cristiano de Oliveira Esse ano vai ser puxado. Pode se preparar pra terminar o ano com menos amigos do que você tinha ano passado, pois do jeito que a coisa anda, isso é inevitável. E não adianta me dizer “ah, mas eu sou pessoa boa, eu só quero o bem” e revirar os olhinhos, mas depois chegar no Facebook e falar que esquerdista é burro, coxinha tem ovo de solitária no cérebro... Bezerra da Silva hoje em dia cantaria, “Você com o telefone na mão é um bicho feroz / Sem ele anda rebolando e até muda de voz”. E eu também já vi que vou escutar muito, pois insisto que nesse momento o povo brasileiro é simplesmente a lêndea do piolho da juba do leão desse circo. Dali, a grande maioria não enxerga o que o trapezista realmente está armando lá em cima e vem descontar em mim. Eu fui gostar de História só depois que me formei e não fui mais obrigado a estudar História, mas aí também me empolguei com a matéria. O problema é que, quanto mais você estuda a História do Brasil, mais você vê que nada mudou. Se dependesse do brasileiro, seríamos colônia de Portugal até

d. pedro i_plenarinho_câmara dos deputados, df

D. Pedro e o barraco nosso de cada dia hoje – quem fez a independência foi o próprio português, e não o brasileiro. Para o brasileiro, o medo de ver a população pobre (em maioria escrava) se revoltar era maior do que a vontade de ser independente. Então o plano era: “seremos colônia, mas ao menos a negrada está no seu devido lugar e nóis tamo aqui no quentím”. Essa era a mentalidade em 1800 e pouco, e acredite: essa é a mentalidade de hoje. Publicações e universidades simplesmente foram proibidas até a primeira década do século vinte, ou seja, temos só cem anos de educação superior no Brasil. Ninguém nunca ouviu falar de um bisavô

formado no Brasil. É difícil mudar a mentalidade de uma população em tão pouco tempo, tanto é que hoje você vê todo mundo clamando por educação, mas aquele medão antigo ao mesmo tempo se manifesta quando grande parte já acrescenta que “educação sim, mas pra ensinar matemática, e não ensinar História, humanismo, etc.”. Ou seja, vá lá, estude, mas não balance muito os esquemas e mantenha no quentím quem é do quentím. É educar pra formar gente que possa construir uma sede nova no meu sítio, e não levar o país pra frente. É a mentalidade do Império que nunca foi embora.

Aquele DNA exploratório e anticomunitário que colonizou o Brasil ainda corre no nosso sangue e a gente nem nota. Reclamamos do político X, mas no dia seguinte queremos que alguém dê o famoso jeitinho pra resolver o nosso lado. Soma-se isso ao medo lá do tempo de D. Pedro, e está alterada a nossa percepção da realidade. Fica fácil cair no conto que o trapezista criou pra guiar a turma do picadeiro.

Questione. Antes de armar barraco, procure se informar direito. Há muito interesse por trás da informação que chega até a gente, e o Brasil só crescerá quando, ao invés de criarmos um fuzuê de ódio e vazio, analisarmos com olho clínico e um pé atrás aquilo que nos é passado. Adeus, cinco letras que choram.

Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.

Todo dia é dia das mães.

Feliz Dia das Mães! são os votos do

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Saúde& Bem-Estar

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Amamentação: desencontros & possibilidades Camila Valente é enfermeira especialista em amamentação No mês das mães, nada mais oportuno do que falar de amamentação, um dos principais ritos de passagem da maternidade. Por menos familiarizada que se esteja com o tema, está lá no inconsciente coletivo que esse é um evento natural, gratuito e possível, basta querer. Porém, quem amamenta ou já amamentou sabe que nem sempre é assim. Para muita gente, um bom preparo e ajuda qualificada são fundamentais para tornar essa experiência viável e prazerosa. Clinicamente, é crescente o número e a variedade de queixas. Vemos muitas pacientes com dores intensas, mamas machucadas,

inflamadas, baixa produção de leite, bebês ictéricos, com dificuldade em ganhar peso, desconfortáveis. Problemas assim, quando identificados precocemente, podem ser resolvidos sob a orientação de profissionais treinadas, mas frequentemente acabam virando uma bola de neve. Diante de tantas dificuldades, amamentar pode acabar ficando com cara de batalha, e a ideia inicial de ser natural fica distante para muitas mães. Algumas acreditam que a dor faz parte do amamentar, outras recorrem a conselhos de pessoas próximas; e quem busca ajuda com profissionais do parto, enfermeiras ou pediatras,

nem sempre recebe a assistência adequada, porque a maioria deles não tem o treinamento mínimo ou certificação em amamentação, mesmo que trabalhe diretamente com mulheres e bebês. Portanto, essa é uma especialidade necessária – demande do profissional que te atende a certificação ou encaminhamento adequados.

Cuidar da amamentação vai muito além da competência técnico-científica. Os desafios na amamentação demandam sutilezas que não se enquadram no formato tradicional de atendimento em saúde. Apesar da necessidade de diagnóstico e tratamento, o apoio é fundamental – principalmente para nós expatriadas.

Como enfermeira, mudei de especialidade por ter experienciado dificuldades em amamentar meu primeiro filho. Desde então, tive o privilégio de ser treinada por profissionais internacionais renomados. Hoje utilizo a abordagem Baby-led & women-centered, aliada sempre ao máximo respeito pelas escolhas e metas de cada mãe. Junto

com evidências científicas atuais, vejo que tem sido uma combinação muito eficiente! O começo da amamentação pode ser o “freio de arrumação” da nova vida. E tudo bem. Contar com ajuda especializada previne dificuldades, resolve queixas, ajuda a economizar e aquece o coração. Amamentar dá trabalho, mas é uma aventura transformadora que não tem preço; como a vida, né? Desejo a todas as mães que, nesse universo tão vasto e incrível que é maternar, seu caminho seja cheio de bons encontros. Um feliz-dia-das-mães-todos-os-dias! www.camilavalente.com


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