Jornal de Toronto
Buscar emprego é um trabalho duro
Dois pequenos gigantes
Um marco de Toronto com a marca do Brasil
A busca por emprego requer muita dedicação em tempo integral, como se fosse um trabalho. p. 6
Crianças mantêm viva a cultura brasileira no Canadá p. 4
O brasileiro Rafael Salsa Correa fala de seu projeto da nova iluminação do St. Lawrence Market p. 5 rafael salsa correa
edição # 29 | ano # 3 | dezembro 2019 |
www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855
O ano novo na vida nova
Como fazer resoluções de Ano Novo que realmente funcionem
p. 3
Ano novo, país novo, clima novo. Ao invés de vestidinho branco e sandália de dedo, é meia calça fio 80 e bota com pelinho dentro. Champanhe só em lugar fechado, pois não pode beber na rua. Feliz Canadá 2020!
Então é chegada aquela época do ano em que nossos corações se enchem de esperanças novamente. Vamos nos aproximando do encerramento de mais um ciclo... o ciclo de 2019. Começam os preparativos para o ciclo de 2020. Preenchidas desta energia de renovação, muitas pessoas aproveitam a época para fazer suas resoluções de Ano Novo. p. 7
É um choque; não só térmico, mas também cultural. Mas calma, sister (ou brother), eu te entendo. Você não está só. Somos milhares de brasileiros por aqui, acostumados com o réveillon tropical e festeiro, e agora lidando com hands and feet warmers para entrar no Ano Novo sem morrer de frio. Mas vou lembrar o que todo mundo sabe: a felicidade não está fora, mas dentro de nós. Sério! Ano Novo em Toronto vai ser legal, sim.
Natal sem vó
Dica
sustentável Ana Paula Buttelli é jornalista
Cristiano de Oliveira
Quem acompanhou minhas colunas ao longo desses 15 anos em jornais brasileiros de Toronto provavelmente notou, em torno das festas de fim de ano, que a minha avó sempre aparece nos meus textos. Afinal, o Natal com vó é uma tradição que eu criei naquele meu mundinho de imigrante re-
cém-chegado, carregado de saudades, expectativas e uma enorme culpa por deixar pra trás aqueles que mais me amam. Eu disse a ela que no Natal voltaria, e ao mesmo tempo prometi que não passaria um Natal sequer sem ela. p. 4
Atuamos nas áreas de Direito Empresarial, Trabalhista, de Família, Testamentário, Sucessório, Imobiliário, Criminal e Civil
fabio ludesi
O clima de Natal é envolvente e a vontade de presentear as pessoas mais próximas é inevitável. Começa a caça ao presente ideal. Precisa caber no bolso de quem compra e agradar quem recebe. Mas a causa ecológica também deve ser levada em conta. Ao invés de comprar objetos triviais, que tal adquirir algo de artesãos ou proporcionar uma experiência? Presentear com algo fora do comum é dar a chance para alguém vivenciar sensações inesperadas. Seja uma peça artesanal ou um momento de bem-estar. Ao contribuir com o mercado local, também colaboramos com o planeta, pois a compra consciente é uma opção que está ao nosso alcance imediato. Assim como experimentar uma nova culinária ou conhecer um lugar diferente são algumas das alternativas que despertam emoções e curiosidade. Que seja um Natal criativo e memorável!
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Editorial E eis que o ano termina e mil coisas aconteceram. Agora é o momento de encontrar a família, viajar e fazer os planos para 2020. Olhar para os acontecimentos de 2019 nos mostrará o que fazer, e o que não fazer, no ano que está por vir. Nós, da equipe do Jornal de Toronto, fizemos o possível para contribuir para um mundo mais justo, inclusivo e democrático. Nosso projeto cresceu, aproximou muito mais gente ao grupo, tomou corpo, e já podemos dizer que fizemos alguma diferença. Um bom veículo de comunicação se faz com bons profissionais e seu estimado público, e nosso maior prazer é receber tantas mensagens elogiosas sobre o nosso trabalho. Muito nos honra publicar para vocês. Que todos aproveitem o Natal, o réveillon, e que 2020 seja repleto de alegrias e realizações. Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Revisor: Eduardo Castanhos Fotógrafos: Adjane Santiago, Alexander Fraser, James Victor Salmon, Michael Zender & Rafael Salsa Correa Colunistas: Alexandre Dias Ramos, Cristiano de Oliveira, José Francisco Schuster, Luiza Sobral & Rodrigo Toniol Colaboradores dessa edição: Ana Paula Buttelli, Fabio Ludesi, Lucas Correia, Michele Rufatto Vaz, Nayá Illanes Ramos, Rafael Salsa Correa, Rosana Entler & Will Leite Agradecimento especial para: Domingos Correia Agências, fontes e parceiros: Concid, Smith+Andersen, Toronto Reference Library Conselho editorial: Camila Garcia, Cristina Tozzi, Nilson Peixoto & Rosana Entler © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, Mississauga, Brampton, Oakville e Montreal. Contato: info@jornaldetoronto.ca Subscription: $0.50/cada, $50.00/ano Siga nossa página no Facebook, Twitter, Instagram e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #29, ano #3, dezembro 2019 ISSN 2560-7855
Cultura
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O ano novo na vida nova Luiza Sobral Ano novo, país novo, clima novo. Ao invés de vestidinho branco e sandália de dedo, é meia calça fio 80 e bota com pelinho dentro. Champanhe só em lugar fechado, pois não pode beber na rua. Feliz Canadá 2020! É um choque; não só térmico, mas também cultural. Mas calma, sister (ou brother), eu te entendo. Você não está só. Somos milhares de brasileiros por aqui, acostumados com o réveillon tropical e festeiro, e agora lidando com hands and feet warmers para entrar no Ano Novo sem morrer de frio. Mas vou lembrar o que todo mundo sabe: a felicidade não está fora, mas dentro de nós. Sério! Ano Novo em Toronto vai ser legal, sim. Olha onde dá para passar a virada:
Na CN Tower Imagina dançar naquele chão de vidro a 350m de altura, com Toronto aos seus pés? Esse é o segundo ano que a torre organiza festa de réveillon, e os ingressos acabam rapidinho ($200/pessoa). Também vai ter festa para as crianças na parte da tarde.
No Museu O ROM (Royal Ontario Museum) oferece festa com banda e DJs em meio a suas exibições permanentes e temporárias. Além disso, dá para fechar pacote com jantar. A partir de $90/pessoa.
No Aquário Nada como celebrar a virada do ano bebendo como um peixe.
Fim
fabio ludesi
Aliás, com os peixes, tubarões e afins do Ripley’s Aquarium. Acesse o site www.ripleyaquariums. com/canada/ para ingressos e mais informações.
a movimentação é grande. Vá preparado e leve seus próprios patins para não precisar enfrentar a fila do aluguel de equipamento.
Sambando com passistas
Ver os fogos de artifício no meio da muvuca: clássico! Desde que você esteja rodeado por pessoas que você goste e se agasalhe bem, esse programa de graça pode ser a melhor experiência para sua entrada de ano.
Para quem quer entrar no clima Brazil for Gringos, ou prometeu começar a dieta ano que vem: as quatro unidades do Copacabana Steakhouse oferecem jantar especial dia 31. Opção legal para ir com a família.
Patinando no gelo no Harbourfront Centre Um programa ótimo, inclusive para levar as crianças, é passar a virada na pista de patinação do Natrel Rink. Com DJs ao vivo animando a festa e entrada gratuita,
de ano de engorda _ Will Tirando
Paola Wortman
Conselheira e Estrategista Financeira
RRSP/RESP/RDSP/TFSA/Corporations Seguros de Vida, Doenças Críticas e por Invalidez
paola.wortman@edwardjones.com
(905) 808-4573
Na Nathan Phillips Square
No bate-e-volta Ou, claro, você pode fazer uma mini viagem e aproveitar as festas
maravilhosas de cidades icônicas e “pertinhas” como Niagara Falls e Montreal, ou pode até ver a bola cair em Nova York. Melhor ainda? Alugar um cottage em Collingwood e passar o réveillon em Blue Mountain. Mas quer um conselho? Esqueça minhas sugestões até aqui. Faça uma festa em casa. Reúna os amigos, conhecidos, vizinhos. Encha sua casa de amor, e assim o seu coração também. Feliz ano novo!
Luiza Sobral é paulista de nascença, baiana de coração, e adoraria morar no Rio. Está em Toronto desde 2011, onde se certificou como jornalista. Ama escrever, principalmente sobre viagens e outras maravilhas da vida. Luiza assina a (super lida) coluna Acontece! toda semana no site do Jornal de Toronto.
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Natal sem vó Cristiano de Oliveira
Dois pequenos gigantes
Crianças mantêm viva a cultura brasileira no Canadá trazia a turma da Mônica. Sem um de aprender capoeira e eu achei Rosana Entler Em 2020 completo 20 anos de Canadá e posso afirmar que se não fosse pelas minhas infinitas playlists de música brasileira e pelos amigos e artistas brasileiros locais, que para minha felicidade e sanidade mental insistem em manter nossa cultura viva, eu talvez já estivesse em outro lugar. Foi pensando na cultura brasileira que conversei com dois brasileiros que me inspiram sempre: Naya Illanes Ramos, 8 anos, e
michael zender
Lucas Correia, 9 anos. Quem circula pelas rodas de samba, noites de forró, toques dos tambores do maracatu e shows de artistas brasileiros com certeza já encontrou com esses dois seres iluminados. Naya chegou em Toronto com 2 anos e 3 meses, e na bagagem
personagem preferido, ela se identifica um pouco mais com a Magali porque ela é comilona, e quando falamos em comilança Nayá solta um suspirão e uma lista: “ah, pão de queijo, brigadeiro, pastel, bolo de fubá, tapioca, feijoada!”. Fluente nas duas línguas, Nayá vai sempre falar em português com quem ela tem certeza que conhece o idioma, e quando pergunto por quê, ela responde: “porque o português é uma língua muito bonita”. Perguntei então o que lhe vem à cabeça quando se fala de Brasil – “minha família e a cultura”. Nayá já subiu ao palco com Liniker, Luegi Luna e Alceu Valença. Seus livros de cabeceira são parte de uma coleção sobre o folclore brasileiro – “Curupira, Saci Pererê e a Cuca são alguns dos personagens do folclore brasileiro”, ela lembra. Nayá tem ouvido pra música. Ela me conta que conheceu o maracatu acompanhando a mãe aos ensaios e logo ganhou uma alfaia da Mari Palhares. Com expressão de orgulho, me conta que conheceu o Mestre Pitoco da Nação Estrela Brilhante de Recife. Sem saber muito o significado da palava, Nayá já é uma ativista, tocou com o Maracatu na Pride de Toronto em 2019, e também estava lá com sua alfaia no dia do Climate Change Rally. Lucas nasceu em Toronto, mas me diz que se considera brasileiro, porque é o único da família que nasceu no Canadá. Além disso, o português foi sua primeira língua, antes mesmo do inglês. Lucas me diz que ama a cultura brasileira, que o diga quem já o viu dançando samba e forró. Lucas joga capoeira – “um dia meu pai me perguntou se eu gostaria
que seria divertido. Hoje amo a capoeira e sua história”. Lucas vai além, me dá uma aula sobre a história da capoeira e realizo que eu não sabia nada sobre o Maculelê. Lucas me diz que sempre que a família tem uma chance eles vão ao Brasil. Conhece cidades grandes e o interior. Quando pergunto o que ele mais curte no Brasil, pasmem com a reposta – “a feira livre, porque é muito diferente daqui. É colorida, tem muita gente diferente e tem todo dia em diferentes lugares. Adoro ir à feira livre só pra ficar olhando as
Quem acompanhou minhas colunas ao longo desses 15 anos em jornais brasileiros de Toronto provavelmente notou, em torno das festas de fim de ano, que a minha avó sempre aparece nos meus textos. Afinal, o Natal com vó é uma tradição que eu criei naquele meu mundinho de imigrante recém-chegado, carregado de saudades, expectativas e uma enorme culpa por deixar pra trás aqueles que mais me amam. Eu disse a ela que no Natal voltaria, e ao mesmo tempo prometi que não passaria um Natal sequer sem ela. Ao comemorar através dos meus textos a conquista de cada Natal com vó, eu acabei a transformando numa personagem, meio que simbolizando o amor pelo que deixamos de mais importante por lá, e que não importa o tamanho da vitória alcançada no exterior, sua ausência nunca permitirá que a celebração esteja completa. Quando digo “conquista” de um Natal com vó, não estou brincando. Todo ano é uma luta diferente. Quando não é dinheiro, é um chefe que não quer me liberar. É festão de fim de ano por aqui, ou uma viagem bacana, de que abri mão. Foi muito choro no aeroporto abraçado à companheira, ambos resignados ao fato de que jamais passaríamos um Natal juntos. E imagine naquela terceira entrevista de emprego, quando você já está discutindo salário e férias, ter que dizer pro empregador: “Então tá tudo certo, Seu Coisinha, mas já avisando que no Natal eu não tô aqui não, viu?”. Ainda não sei de onde tiro essa coragem, mas sempre coloquei aquilo na mesa com tanta convicção que o povo deve ver como um motivo religioso, tipo viajar pra Meca ou coisa assim. Enfim, sempre deu muita encrenca, mas sempre venceu a resistência. São 18 Natais morando em Toronto, 18 Natais passados no Brasil com vó. E ela esperava com a força que adversidade nenhuma conseguiu
derrubar. Nem a emigração do Líbano por semanas em um navio, nem a vida sofrida no novo país – diz a lenda que o padre Júlio Maria de Lombaerde, hoje em processo de beatificação, um dia se aproximou curioso daquela vendinha já aberta às 4 da manhã e iluminada por velas. Como ele conversou com a minha bisavó eu não sei, pois o português dela sempre foi péssimo, mas descobriu que meu bisavô servia o exército no Líbano e o pouco dinheiro não permitia que as seis meninas fossem à escola. O padre então conseguiu bolsas de estudo para todas elas, que puderam enfim estudar, mas sem moleza, pois seriam párias por toda a vida escolar: as seis crianças bolsistas eram retiradas da sala de aula em momentos esporádicos para fazer serviços gerais. Mas nada a derrubou. Nem a infância, nem as mazelas da idade adulta. Foi ela que derrubou o mundo, e daí resolveu parar pra descansar. Em agosto, veio a ligação que eu mais temi ao longo de todos esses anos. Você reza, pede, bate na madeira só de pensar, mas a ligação um dia vem, e eu fui ao Brasil correndo responder à pergunta que ela sempre me fez: “Quando você volta?”. Pois voltei, e antes do Natal, pra segurar a mão dela e dizer, mesmo sem saber se ela me ouvia, que não passou uma noite em quase 20 anos em que, antes de dormir, eu não pensasse nela e na família que ela criou ao seu redor. Quase todo o texto foi escrito no presente de propósito, pois o Natal com vó não acabou. Ela não vai estar mais lá, e isso vai doer muito, mas eu não posso infligir saudades de mim àqueles que, como eu, já têm sofrimento demais com a saudade dela. A pergunta da minha avó sempre terá resposta, e é o mínimo que eu posso fazer além de tratar da dor. Adeus, cinco letras que choram.
Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Famigerado colunista de jornal em Toronto há mais de 14 anos. É um grande cronista do samba e das letras.
adjane santiago
cores e as pessoas”. Pergunto ao Lucas se ele acha importante os pais insistirem em manter a cultura brasileira na criação dos filhos que nascem no Canadá, e aqui fica a dica – “com certeza, os pais tem que manter essa cultura dentro da gente para que a
gente saiba de onde viemos e também para que possamos conversar com nossa família lá no Brasil. Se a criança começa a responder só em inglês os pais devem insistir que ela repita em português”. Encerro a conversa com os dois relembrando os tempos em que eram praticamente bebês. O tempo passa rápido demais. Enquan-
to me preparo para encarar meu 19º inverno canadense, no calor da minha comunidade, não posso deixar de agradecer Nayá e Lucas por fazerem parte dos guardiões da cultura brasileira. Boas Festas a todos e a todas com muita música brasileira e no calor dessa cultura tão rica e diversa.
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O brasileiro Rafael Salsa Correa fala de seu projeto da nova iluminação do St. Lawrence Market Alexandre Dias Ramos é editor Jornal de Toronto - O St. Lawrence Market é um dos pontos turísticos mais importantes de Toronto. Como surgiu a oportunidade de trabalhar no projeto de iluminação do mercado municipal? Rafael Salsa Correa - A prefeitura
de Toronto abriu uma competição para selecionar profissionais que poderiam executar o trabalho. O meu escritório ganhou o processo seletivo por causa do baixo custo e alta experiência em iluminação de projetos históricos. O design foi desenvolvido seis meses depois e aprovado pelo cliente.
JdeT - Você se tornou um arquiteto de iluminação reconhecido e trabalhou em importantes projetos, como o Goldring Centre (ao lado do ROM), Robarts Library, Rotman School of Management e Square One, em Mississauga. Você acredita que teria as mesmas oportunidades e visibilidade se tivesse morando no Brasil? Rafael - Talvez sim. Sempre acre-
ditei que somos responsáveis por nossas próprias oportunidades e que “ter sorte” ou “talento” são ilusões. Oportunidades são conquistadas com sangue, suor, lágrimas, perseverança e muita, mas muita, paciência. Acho realmente importante o esforço para produzir um conteúdo de qualidade, e eu ando fazendo a mesma coisa por 19 anos.
JdeT - O St. Lawrence é um pré-
dio histórico, que sofreu inúmeras transformações ao longo dos anos, de alojamento à
prédio municipal da prefeitura e depois à galpão. Como foi o processo de pesquisa para iniciar o projeto de iluminação e de que maneira a história do prédio influenciou o projeto?
Rafael - A cidade de Toronto já tinha um guia de planejamento urbano de revitalização da parte histórica do centro da cidade, feito em 2008 pelo grande arquiteto de iluminação canadense Philip Gabriel (falecido em 2014). Esse documento incluía o prédio do Mercado e foi utilizado como guia da expectativa da cidade em relação à iluminação do projeto. O guia indicava áreas que poderiam ser beneficiadas com uma nova iluminação, mas deixava a execução a cargo do futuro projetista. Tivemos que adaptar as sugestões de iluminação para incluir soluções mais modernas e incluir as últimas restrições impostas pela cidade, para regularizar a atualização do documento, e ainda incluímos o efeito de luz multicolorida na área das claraboias. Tive acesso a imagens históricas que serviram de base para o desenvolvimento do visual final da fachada e dos pendentes internos. JdeT - Você disse que nunca um prédio em Toronto teve esse nível de detalhamento em iluminação. Explique melhor sobre isso. Rafael - Esse projeto é um reflexo do meu TOC [risos] e foi minha obsessão nesses últimos anos. No ano que o projeto começou, a empresa italiana iGuzini tinha desenvolvido uma luminária de fachada com quatro graus de abertura de facho de luz com distribuição lateral de 360 graus, em um formato tão compacto que ainda hoje é revolucionário. Essa luminária cria
rafael salsa correa
um efeito de lâmina de luz onde toda a luz indireta fica contida no interior do caixilho das janelas, e cada luminária foi ajustada individualmente durante a madrugada para garantir que nenhum grau ou milímetro estivesse fora de alinhamento. Toda a iluminação da fachada é localizada rasante ao prédio. Essas soluções removem o impacto da luz no céu noturno, que é, por exemplo, um problema para aves e moradores vizinhos – e é por essa razão que todas as luminárias de luz indireta no St. Lawrence são desligadas depois das 11pm e durante os meses de migração de aves. O letreiro principal foi reconstruído para garantir o acesso às luminárias, que estão localizadas atrás e acima dele. Cada detalhe arquitetônico do prédio recebeu um destaque exclusivo da iluminação, o que cria um efeito visual 3D da fachada – algo que é mais comum na Europa do que aqui. A equipe de eletricistas foi excelente na instalação e fez de tudo para que o resultado final fosse milimetricamente igual ao design proposto (o que é raro hoje em dia).
JdeT - Quanto tempo levou entre o início do projeto no papel e a finalização da iluminação do
St. Lawrence Market? E quais as curiosidades encontradas durante os trabalhos?
Rafael - Foram três anos e muitas
toneladas de café espresso consumidas. Fun facts: • Tive acesso a imagens de arquivo do início do século passado que mostravam o interior do prédio com pendentes, umas chapeletas brancas. Um fabricante local tinha os desenhos originais da GE sobre esses pendentes de arco-carbono de 1890 (tecnologia antes da popularização das lâmpadas incandescentes). Usamos essa informação para reconstruir a luminária original e utilizamos um equipamento de LED interno como nova fonte de luz. • A claraboia, que havia perdido a sua função de fonte de luz natural, devido à instalação do acesso ao sistema de máquinas de circulação de ar do prédio, recebeu uma iluminação multicolorida pré-programada, para ser usada durante celebrações anuais e feriados cívicos, como acontece com as luzes da CN Tower. • A maior dificuldade na ilumina-
ção de prédios históricos é como preservar os elementos arquitetônicos originais sem chamar a atenção para a iluminação e luminárias modernas. As luminárias foram escondidas de modo a não interferirem no visual do prédio. Onde não foi possível escondê-las da vista do público, caixas metálicas foram construídas em volta das luminárias e pintadas com o mesmo tom de cor adjacente na fachada, minimizando assim drasticamente o impacto visual. • A placa com o nome do St. Lawrence Market na fachada da frente ficava antes logo acima da porta – provavelmente por conta da enorme cobertura curva que unia as duas partes do mercado (norte e sul) e cruzava a Front St. até os anos 1950 – e agora foi para a área acima das janelas. A placa anterior, que já não era a original, teve suas letras copiadas fielmente, mas reconstruída de forma vazada, para que tivesse o aspecto claro durante o dia e escuro durante a noite, criando contraste com sua iluminação.
Alexandre Dias Ramos é editor-chefe do Jornal de Toronto, mestre em Sociologia da Cultura pela FE-USP, doutor em História, Teoria e Crítica pela UFRGS, e membro-pesquisador do Grupo de Estudos sobre Itinerários de Formação em Educação e Cultura da Universidade de São Paulo. james victor salmon
Primeira construção do Market Square, de 1814, em aquarela de Frederic Victor Poole.
Prédio do St. Lawrence em 1899.
alexander fraser
St. Lawrence Market, em foto de 1952, onde se vê a cobertura curva que ligava o prédio sul ao prédio norte.
Designado como Market Square em 1803, o St. Lawrence Market teve sua primeira construção temporária, feita de madeira, em 1814, e em seguida um prédio “permanente” a partir de 1820, que foi reconstruído em 1831. Parte do prédio que conhecemos hoje foi erguido em 1844/1845, e reconstruído em 1850, após o grande incêndio de 1849. Junto com o mercado, o prédio também foi departamento de polícia e a prefeitura da cidade, de 1845 até 1899.
Economia
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Buscar emprego é um trabalho duro José Francisco Schuster Embora a taxa de desemprego no Canadá seja oficialmente de 5,8%, enquanto a do Brasil é de 11,8% – ou seja, o dobro –, não se deve criar ilusões de que encontrar um emprego fora dos considerados “de sobrevivência” será fácil. Tanto que qualquer feira de empregos é superlotada e mais de 250 brasileiros compareceram ao evento Emprego no Canadá: Superando Barreiras em novembro, organizado pelo Conselho Brasileiro de Cidadania de Ontário, Networking para Brasileiros - Toronto e Believe Brazil, com apoio do Jornal de Toronto. Recheado de informações valiosas, ficou claro que a busca de emprego requer muita dedicação em tempo integral, como se fosse um trabalho. É algo que deve ser feito com planejamento e estratégia, pois o tem-
po em que simplesmente se telefonava respondendo a ofertas em classificados de jornal ficou no passado. Hoje a competição é imensa, com centenas de candidatos por vaga (eu disse centenas, como nos concursos públicos do Brasil), a ponto de em muitos casos a triagem inicial de currículos ser delegada a um computador, que buscará as palavras-chaves requeridas pela empresa. Só os que passam por esta peneira inicial chegam às mãos de um recrutador humano, que por sua vez tem poucos segundos para se encantar com o currículo ou jogá-lo na lixeira. Fica claro, portanto, que o currículo (aqui chamado “resume”) e a carta de apresentação (“cover letter”) têm que estar não só perfeitos, como também adaptados à vaga anunciada, em um trabalho minucioso, que toma tempo do candidato. Um especialista que o oriente
nisto é importante, e a província de Ontário oferece gratuitamente conselheiros, através de várias instituições, para ajudar nesta tarefa, através do programa Employment Ontario (www. ontario.ca/page/employment-ontario). Os conselheiros também auxiliam na preparação para a próxima etapa, a entrevista de emprego, inclusive com treinamento, já que também é necessário desempenho perfeito nesta fase. Como mencionaram os palestrantes no evento do Concid, os brasileiros têm boa formação (hard skills), mas também é essencial demonstrar ter incorporado a cultura canadense, com seus comportamentos e competências (soft skills), para não ficarem para trás em relação aos nascidos aqui. Para não ser uma agulha no palheiro, porém, é necessário mais esforço.
Auditório do Medical Sciences Building, na Universidade de Toronto, onde ocorreu o evento Emprego no Canadá: Superando Barreiras, organizado pelo Concid, Networking para Brasileiros - Toronto e Believe Brazil, com apoio do Jornal de Toronto.
Como 80% das vagas são preenchidas por indicação, sequer chegando à internet, é necessário montar uma boa rede de relacionamentos, o networking, para que alguém que lhe conhece – e confie – lhe indique. Mais difícil para quem é imigrante, por chegar sem conhecidos ao país, a rede começa comparecendo a eventos na sua área de atuação e com o voluntariado. Isso possibilitará construir um Linkedin com contatos canadenses, em vez de brasileiros, onde também é essencial uma participação ativa, como
ferramenta essencial que se tornou. Outro fator a ser seriamente considerado é uma formação em College ou universidade canadense, pois por mais que sua instituição no Brasil seja famosa, ela é desconhecida no Canadá. Um curso aqui obviamente também ajuda no networking e pode incluir um estágio (placement) ao fi-
nal que, se não levar à vaga, pelo menos servirá como a essencial “experiência canadense”. Portanto, imensos desafios; mas quem já conseguiu passar por todas as barreiras e ser aprovado como imigrante no Canadá ao menos não enxerga como novidade.
Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil e do programa Noites da CHIN - Brasil, ambos em Toronto.
Cotidiano
Como fazer resoluções de Ano Novo que realmente funcionem Michele Rufatto Vaz é especialista em produtividade e empreendedorismo Então é chegada aquela época do ano em que nossos corações se enchem de esperanças novamente. Vamos nos aproximando do encerramento de mais um ciclo... o ciclo de 2019. Começam os preparativos para o ciclo de 2020. Preenchidas desta energia de renovação, muitas pessoas aproveitam a época para fazer suas resoluções de Ano Novo. O fato é que existem
estatísticas que mostram que mais de 80% dessas resoluções ficam apenas na promessa mesmo. Mas por que essas resoluções são abandonadas, em sua maioria, ainda no primeiro trimestre do ano? A questão é que fazer resoluções
é apenas o primeiro passo. O que você precisa fazer para que elas ganhem mais potencial para se transformarem em realidade é se comprometer!
E não existe melhor maneira para se comprometer do que transformar essas resoluções em metas. Para definir suas metas sugiro que você utilize o método SMART, criado por Pe-
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entender exatamente o que você quer.
Measurable (Mensurável) – Mensurar uma meta significa determinar seu tamanho, de forma qualitativa ou quantitativa. Essa resposta pode ser dada em valor, em tempo ou em qualquer outra unidade de medida que permita o acompanhamento dos seus passos. (Alcancável) – Sua meta precisa ser desafiadora, mas possível. Ela não pode ser fácil demais,
Achievable
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relevância da sua meta é o que vai fazer com que você se empenhe ao máximo e não desista dela diante dos obstáculos que se colocarão à sua frente durante a jornada. (Temporal) – Até QUANDO você quer ter atingido seu resultado esperado? O importante aqui é definir o prazo em termos específicos. Nada de se dar prazos como “daqui a 1 ano”, “semana que vem”, “na segunda-feira”, “em maio”. Toda semana
Time-based
SMART ter Drucker. SMART é um acrônimo com as iniciais das palavras:
Specific (Específica) – Especificar significa detalhar ao máximo o que você deseja. Sua meta deve ser definida de forma muito específica, a tal ponto que qualquer pessoa possa visualizá-la e
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que te faça perder o interesse por ela, mas também não pode ser impossível de ser alcançada. Neste ponto, determine COMO você irá atingir seu resultado esperado.
Relevant (Relevante) – POR QUE atingir esta meta é importante para você? A
terá uma semana que vem, toda semana terá uma segunda-feira e todo ano terá um mês de maio. Tendo isso definido e escrito, é hora de entrar em AÇÃO! Feliz 2020!
Política
Rodrigo Toniol
Em uma pesquisa realizada no centro da maior metrópole brasileira, pesquisadores da Universidade de São Paulo perguntaram aos entrevistados quais eram suas posições com relação aos direitos humanos. As repostas, por mais que tenham variado, repetiam padrões como a reação de Geórgia, 40 anos, advogada, residente na Mooca: “E o pior de tudo é que houve uma inversão de valores. Quer dizer, o bandido, ele é muito mais importante do que o civil, do que o coitado do cidadão que trabalha. O bandido, hoje em dia, ele é endeusado, é um coitado que está expiando, pagando por alguma coisa
que eventualmente não teria cometido, embora seja assassino, seja estuprador, seja o diabo”. Certamente uma resposta reconhecida por muitos em seu círculo familiar e de amizade. Diante de reações como essa tendemos a dissertar longamente sobre como a sociedade brasileira se transformou nos últimos anos, sobre a onda de conservadorismo, sobre como perdemos o fio de solidariedade que nos unia como nação e passamos a viver em um país dividido. Ocorre que a pesquisa mencionada, coordenada pelo já falecido sociólogo Antônio Flávio Pierucci, foi realizada em 1986, portanto, há 33 anos. Seu objetivo era compreender o voto nas candidaturas de dois
políticos conservadores que concorriam para ocupar a prefeitura de São Pau-
lo: Jânio Quadros e Paulo Maluf. A análise dos resultados está publicada em um texto intitulado “As bases da Nova Direita”. O texto nos coloca diante de um descompasso na análise atual da política brasileira: a “nova” onda conservadora
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A direita diz seu nome que identificamos hoje fora notada por Pierucci há três décadas. Nesse caso, o que há de novo no “novo” conservadorismo brasileiro?
As pautas daquele momento se confundem com as do atual: queriam mais efetivos policiais, punições mais severas para criminosos, ponderavam a relevância dos gastos públicos e, ao mesmo tempo que desejavam mais inves-
timento em saúde e educação, eram anti-intelectuais. Há pouco de novo nas marcas que conformam o que podemos reconhecer como eleitores de direita no Brasil. A novidade não
está aí. A principal mudança está na auto-identificação desses eleitores. No fim dos anos de 1980, como nos diz
Pierucci, a direita não dizia seu nome, era um problema identificar-se como tal. Mesmo Paulo Maluf e Jânio Quadros se apresentavam como candidatos do centro. Ao que parece, então, o que mudou foi a possibilidade de acionar a “direita” como identidade política. O termo deixou de ser acusação e passou a servir para auto-identificação. A novidade da nova Nova Direita, então, é a capacidade de nomear-se. Parece pouco, mas na política nomear é criar posições e, nesse caso, posições que alteram todo o jogo que se joga.
Rodrigo Toniol é doutor em antropologia e professor da Unicamp, tendo realizado estudos de pós-doutorado na Universidade de Utrecht (Holanda); foi também pesquisador-visitante nos Estados Unidos e México. Suas pesquisas e publicações estão principalmente relacionadas com os temas de religião, saúde e ciência.