Jornal de Toronto #26

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Jornal de Toronto O que o Ártico tem em comum com a Amazônia? p. 5

Credit Score: O básico para sua vida financeira no Canadá p. 7

À esquerda, Uýra Sodoma, persona do artista indígena brasileiro Emerson Munduruku, inspirada nos mitos da Amazônia. Emerson estará no Arctic Amazon Symposium 2019, este mês em Toronto.

lisa hermes

edição # 26 | ano # 3 | setembro 2019 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855

Entre os dois lados Meus cinco piores há todo momentos em o resto voos para o Brasil Mesmo pessoas que no cotidiano ponderam, reavaliam, avançam e contradizem suas posições, nas redes tendem a se apresentar como mais convictas e extremistas do que são offline. Os temas que geram mais engajamento na rede, isto é, os mais polêmicos, são dominados por pessoas cujas interações virtuais reproduzem posições antagônicas. Ou seja, as interações via Twitter, Facebook e WhatsApp estimulam o debate entre atores que estão posicionados politicamente em extremos opostos. p. 5

rené magritte

Existem dois momentos revoltantes na vida do imigrante: quando ele descobre que pra beber na rua precisa estar dentro de um chiqueirinho, e quando ele precisa pegar um avião pra ir ou voltar do Brasil. Com o primeiro, você até se acostuma, mas o segundo há de lascar nossas cucarachas vidas por todo o sempre. Venho acumulando más lembranças ao longo desses anos todos; portanto, chega de guardá-las só pra mim. Vamos compartilhar a miséria com o próximo: apresentolhes o meu Top 5 da Roubada Aérea. p. 3 i fab

de o lu

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A solução pode ser um tipo de decrescimento positivo

O sono infantil Geralmente saímos do hospital sabendo como trocar fraldas, limpar o cordão umbilical, dar banho e amamentar (pelo menos em teoria) nosso bebê, mas pouco ou nada sabemos sobre o sono infantil. Muitas vezes não temos expectativas reais sobre as necessidades de sono. Pais precisam entender que o cérebro dos seus filhos ainda está em desenvolvimento – criando estruturas e conexões – e perceber que não podem forçar seus filhos a dormirem aplicando um determinado método. p. 8

O renomado inventor, arquiteto e designer francês Philippe Starck compartilha sua visão sobre como seria um futuro sustentável p. 6 Um dos mais aclamados designers contemporâneos, Philipp Starck.

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Editorial

Há muito no gap entre as coisas, entre os dois lados extremos que a política pode mostrar, entre os produtos que são produzidos e que consumimos, entre sua vida financeira e a visão que o mercado tem de você, entre o frio do Ártico e a floresta amazônica, entre a Bossa e o sertanejo, ou até mesmo entre a ida e volta do Canadá ao Brasil. Entender que vivemos e fazemos parte desse espaço entre as coisas nos ajuda a olhar de modo diferente. O Jornal de Toronto sempre prefere matérias “transversas”, que atravessam os assuntos de maneira inusual, e é por isso que valorizamos tanto os artigos de opinião. Há quem vote pela ignorância, pelo erro dos fatos e pelos conteúdos que soam melhor nos ouvidos mais conservadores. Mas lembre, ser conservador, em princípio, é tentar “conservar” os valores do passado – pressupondo, claro, que são melhores do que os do presente. E que tal tentarmos entender melhor o presente e olhar para um futuro diferente? Nossa equipe incrível e nossos oito mil leitores estão juntos curtindo essa ideia, todo mês. Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Revisor: Eduardo Castanhos Fotógrafos: Daniel Kirsch, James Bort, Lisa Hermes, Stine Moe Colunistas: Cristiano de Oliveira, José Francisco Schuster & Rodrigo Toniol Colaboradores dessa edição: Ana Paula Buttelli, Emerson Munduruku, Fabio Ludesi, Flavia da Silva, Jaider Esbell, Jananda Lima, Moana Ávila, Philippe Starck, Renata Quelhas, René Magritte, Will Leite Agradecimento especial para: Jô Duarte Agências, fontes e parceiros: CHIN Radio, The Power Plant, Museum Boijmans Van Beuningen, ONU Meio Ambiente, Outras Palavras, Wapatah Conselho editorial: Camila Garcia, Cristina Tozzi, Nilson Peixoto & Rosana Entler © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, Mississauga, Brampton, Oakville, Montreal, Boston e Nova York. Contato: info@jornaldetoronto.ca Subscription: $0.50/cada, $50.00/ano Siga nossa página no Facebook, Twitter, Instagram e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #26, ano #3, setembro 2019 ISSN 2560-7855

Viagem

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Meus cinco piores momentos em voos para o Brasil 2

Cristiano de Oliveira

Bin Laden com líquidos na bagagem de mão a me levar.

xou passar sem muitas delongas.

Existem dois momentos revoltantes na vida do imigrante: quando ele descobre que pra beber na rua precisa estar dentro de um chiqueirinho, e quando ele precisa pegar um avião pra ir ou voltar do Brasil. Com o primeiro, você até se acostuma, mas o segundo há de lascar nossas cucarachas vidas por todo o sempre. Venho acumulando más lembranças ao longo desses anos todos; portanto, chega de guardá-las só pra mim. Vamos compartilhar a miséria com o próximo: apresento-lhes o meu Top 5 da Roubada Aérea.

Pinga-pinga com 100% dos voos atrasados

O nome é fictício, pra preservar a identidade dessa cidadã muito simpática que me pediu em casamento 7 vezes pra poder se legalizar. Nunca quebrei o galho dela nem de mais ninguém nesse as-

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Cortesia das sensacionais companhias americanas e suas escalas de meia hora em cada uma das 600 conexões. Meu mais recente

Geralda do Casamento

ríssimo voo pra cá, em 1998. Encantado com o tamanho do avião da Vasp e com o travesseiro, o tampão de ouvido, a luzinha de leitura etc., eu achei altamente divertido quando a turbina do avião explodiu no momento em que ele começava a correr pra decolar. Um barulhão, aquela

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Rio-Toronto com a bateria da Imperatriz Leopoldinense

Essa dispensa explicações. E naquela época não tinha nada de comissário de bordo botar moral não. Eles não mandavam em nada e a cuíca roncava de acordo – literalmente.

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A menina que chuta

Tem menino que entra em avião e parece que tá aprendendo a fazer vinho. Passa o voo inteiro sapateando no encosto da cadeira da frente, e geralmente se senta bem atrás de mim pra exercer esse ofício. Pois um dia, depois do vigésimo coice nas costas, eu pedi educadamente pra menina parar. Como brasileiro é folgado, eu já esperava que o pai fosse me peitar, mas para minha surpresa, os pais se desculparam e a menina tomou uma dura. Gesto raro e bonito, palmas para os pais. Então, como foi que eu me lasquei? Foi lascação emocional: quando o avião pousou, mãe e filha foram para o corredor e se alinharam frente ao meu assento. A mãe olha pra menina e diz “Fala!”. A menina, com uma cara de arrependimento profundo, pede desculpas por ter chutado minha cadeira, e desde esse dia eu me sinto um passageiro tão ruim, mas tão ruim, que as companhias aéreas deveriam preferir levar o

Éo Brasil na

fabio ludesi

roteiro com uma delas conseguiu a proeza de ter todos os voos atrasados, e o primeiro, saindo de Toronto, atrasou tanto que eu nem fui, pois já não dava pra pegar a conexão mesmo. E pra voltar pra casa depois de passar por toda a segurança americana do Pearson? Eu tive que imigrar de novo pro Canadá sem ter viajado. Preenchi formulário de bagagem, peguei a fila, passei no computador, no rapaz da imigração... “O senhor está vindo de onde?” Olhei pra ele com aquela cara de mestre do Kung Fu passando um enigma da vida pra Gafanhoto e respondi com a voz do Velho do Rio, “Daqui mesmo, filho”. Deve ter se perdido em reflexão no mistério da resposta, ou então já tinha visto uns 30 na mesma situação e tava de saco cheio, pois me dei-

pecto, mas sabia que ela sempre tentaria de novo, pois viu qualidade no produto e topava até casar de verdade. E cada proposta vinha sempre mais ousada que a anterior. Pois um dia, sento-me na poltrona do avião e ela se senta bem atrás de mim. Tadinha, nem tocou no assunto, mas ainda assim passei as 10 horas de viagem achando que em certa altura ela ia acabar beliscando a minha bunda por entre as poltronas.

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A explosão

freada violenta, mala caindo, o povo gritando enlouquecido, e eu achando tudo muito pitoresco. Todos corriam para as portas, e eu corria pra catar os sensacionais e nunca dantes vistos foninhos de ouvido que todo mundo estava deixando pra trás. O voo foi cancelado, o roteiro teve que mudar todo, a viagem ficou 300 vezes mais complicada, e eu querendo saber se podia levar pra casa essa invenção revolucionária que era o cobertor ultraportátil. Adeus, cinco letras que choram

A pior errada ocorreu justamente quando eu não estava nem aí pras erradas: no meu primei-

Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.

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Cultura

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Estamos enterrando de novo João Gilberto?

José Francisco Schuster Imaginava que, com a internet, os compositores, cantores e músicos, através das plataformas online, haviam alcançado a liberdade de criação e execução do que bem quisessem, ao eliminar-se a imposição das gravadoras. O tempo em que os executivos dessas empresas ditavam o gosto nacional, onde elegiam quem merecia apoio e quem seria sucesso ou não, havia acabado. Entretanto, em entrevistas que realizei recentemente com artistas, revelaram que o problema, incrivelmente, persiste. Oriundos da diversidade de ritmos que possui o Brasil, uns tomaram gosto pela Bossa Nova, outros pela MPB, terceiros pelo pop-rock, e assim por diante. Contudo, músicos dizem que invariavelmente têm ouvido de donos de bares e restaurantes, porta de entrada para os primeiros shows, a seguinte observação: “Muito bom, mas dava pra tocar sertanejo?”. E ainda justificam: “É o que os jovens gostam”. Se

daniel kirsch

há verdade nisso, pode ser fundada no destaque que emissoras de rádio e de TV dão ao sertanejo, e certamente por trás disso está a força econômica do interior paulista. Enfim, a imposição continua, sob nova roupagem. Nada contra o sertanejo, nem a nenhum ritmo brasileiro, todos com o seu valor de expressão cultural e suas virtudes. O condenável são os jogos sujos de bastidores que, como em outras áreas, tentam manipular a opinião nacional. Cada ritmo deve vir para agregar à cultura, ocupando seu justo espaço, e não como erva daninha, para destruir o que encontra por diante. A bem de ter onde mostrar sua arte, há novos músicos que sucumbem aos desejos dos patrões e obrigam-se a tocar sertanejo, embora não tivessem contato com o ritmo antes, e até a eliminar o resto de seu repertório. Entrevis-

tei, porém, uma cantora que fez questão de se manter fiel à Bossa Nova. A alternativa que lhe restou para isso foi fazer shows no exterior, onde o público brasileiro dá o devido valor ao estilo, como o fazem os estrangeiros. “Das milhares de rádios no Brasil, hoje apenas duas são especializadas em Bossa Nova”, lamentou ela. Assim, um ritmo que projetou o Brasil para o mundo e que é reverenciado pelos jazzistas está sendo enterrado no país que o criou, junto com o recente falecimento de João Gilberto, um dos líderes do inovador movimento dos anos 50, ao lado de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. E não só ele, MPB e pop-rock nacional sofrem o mesmo triste risco. O Brasil segue a sina de negar sua memória cultural e de não valorizar o ouro que tem nas mãos, deixando-o escorrer entre os dedos.

Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, e agora produz e apresenta o programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.

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O que o Ártico tem em comum com a Amazônia? Jananda Lima é designer de inovação

social

O coração do mundo, do artista indígena brasileiro Jaider Esbell, que estará no Arctic Amazon Symposium 2019, em Toronto.

Atualmente, o mundo passa por transformações políticas, econômicas e sociais que têm impacto direto em nossas vidas. A arte se faz essencial nesse momento, pois ela faz o pensamento tomar forma e é a manifestação de como nós vemos, sentimos e refletimos o mundo. Nesse contexto, a arte indígena pode nos trazer perspectivas que nem sempre estão sendo percebidas pelo restante da sociedade. Os territórios indígenas da Amazônia têm papel fundamental na conservação dos recursos naturais e preservação da biodiversidade. O desmatamento da floresta, seja pela prática do garimpo, criação de gado, grandes plantações de monocultura ou

Política Rodrigo Toniol É corrente a ideia de que a história é pedagógica, que o passado nos instrui sobre os caminhos a evitar e nos dá pistas sobre futuros mais ou menos promissores. Certamente poder acionar o repertório da história para analisar e tomar decisões é salutar, mas isso não garante que seja assim que as pessoas procedam. A história está aí para oferecer exemplos, nem sempre estamos dispostos a aprender com eles. Em 1994 ocorreu um dos maiores genocídios da história da humanidade. Em Ruanda, disputas políticas e étnicas resultaram na morte de centenas de milhares de pessoas. Os números são imprecisos, mas gravitam entre 500.000 e 1.000.000 de mortos. Não cabe aqui retomar a minúcia da disputa local, mas faço referência ao caso para retomar a explicação de alguns analistas sobre o massacre. Como pode ter

Sem

ocorrido, em 1994!, um genocídio com um milhão de mortos? Os caminhos explicativos são muitos, mas um deles é frequentemente acionado: a desidentificação da população. A progressiva desidentificação teria chegado em um ponto sem retorno naquele momento. Os adversários políticos toraram-se inimigos, derrotá-los já não era suficiente, era preciso eliminá-los. Não restrito ao campo político-partidário, tal desidentificação criou profundas raízes naquela sociedade. A resultante do exemplo é extrema – trata-se de um genocídio –, mas o processo que levou até ela é bem mais próximo; afinal, a desidentificação é produzida no cotidiano, entre círculos de amizade, grupos de trabalho e na família. E a análise desses microprocessos parece ser cada vez mais pertinente para nós. Especialmente porque temos um novo ingrediente que amplia a combustão disso, as redes

internet _ Will Tirando

sociais. Essas plataformas nos convocam, por conta do próprio tipo de interação que promove e de sua lógica algorítmica, a hipertrofiar nossa perfomance política. Mesmo pessoas que no cotidiano ponderam, reavaliam, avançam e contradizem suas posições, nas redes tendem a se apresentar como mais convictas e extremistas do que são offline. Essa é a conclusão que pesquisadores dedicados ao tema têm apresentado, como é o caso de Fabio Malini e Pablo Ortellado: “Ocorre que o comportamento virtual produz efeitos de desidentificação difíceis de serem recuperados uma vez que se estabelecem. E aí está o nosso maior risco”. Outro dado importante das análises desses pesquisadores é que os temas que geram mais engajamento na rede, isto é, os mais polêmicos, são dominados por pessoas cujas interações virtuais reproduzem posições antagônicas. Ou seja, as interações via Twitter, Facebook e WhatsApp esti-

pelo corte de árvores para venda de madeira, contribui para o agravamento das alterações no clima. Do outro lado do mundo, a calota de gelo do Ártico cumpre função vital na regulação da temperatura global. Mas as similaridades entre esses dois territórios, aparentemente tão diferentes, não param por aí. Riquezas naturais atraem interesses públicos nacionais, internacionais e de grandes corporações, e ambos também são zonas intensas de contato entre indígenas e não-indígenas. Os povos indígenas são os grupos mais vulneráveis às mudanças climáticas, por terem uma relação indissociável com seus territórios. Não só sua saúde é afetada pela escassez de fontes alimentares tradicionais, como toda sua identidade cultural e dinâmica social são afetadas pelo

desequilíbrio do bioma e pelos conflitos políticos. Nos trabalhos de artistas do Ártico e da Amazônia, a particular relação com o território, o meio ambiente, a cultura e a política aparecem de forma contundente, combinando tradição e inovação e refletindo as mudanças pelas quais estamos passando. A arte é um poderoso meio de comunicação, um espelho do tempo e da circunstância em que vivemos. Como bem diz o artista Jaider Esbell, da etnia Makuxi, “a arte indígena contemporânea é o lugar de encontro do momento”. Jananda Lima faz parte do Wapatah: Centre for Indigenous Visual Knowledge, que está organizando o Arctic Amazon Symposium 2019, reunindo artistas indígenas do Ártico e da Amazônia nos dias 19 e 20 de setembro, no Harbourfront Centre, em Toronto.

Entre os dois lados há todo o resto

La reproduction interdite, de René Magritte, 1937, Museum Boijmans Van Beuningen.

mulam o debate entre atores que estão posicionados politicamente em extremos opostos. Decorre disso três

efeitos importantes: 1. Os debates virtuais que parecem permitir grande pluralidade de posição retratam uma disputa de extremos; 2. Esses debates desestimulam a intervenção de pessoas com posições intermediárias, que é a maior parte dos usuários; 3. A disputa particular entre esses grupos é trans-

formada na totalidade dos debates e elimina a chance de maior identificação com posições ponderadas, que não estejam entre um extremo ou outro. A má notícia, então, é que as redes ajudam a promover a desidentificação; a boa notícia é que a maior parte de nossa sociedade ainda está no espaço entre os dois lados.

Rodrigo Toniol é doutor em antropologia e professor da Unicamp, tendo realizado estudos de pós-doutorado na Universidade de Utrecht (Holanda); foi também pesquisador-visitante nos Estados Unidos e México. Suas pesquisas e publicações estão principalmente relacionadas com os temas de religião, saúde e ciência.


Economia

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A solução pode ser um tipo de decrescimento positivo O renomado inventor, arquiteto e designer francês Philippe Starck compartilha sua visão sobre como seria um futuro sustentável ONU Meio Ambiente Que critérios um produto deve atender para ser realmente “sustentável”? Como nossos lares serão no futuro? E como nossa economia deve mudar para as pessoas e o planeta? Starck supervisionou 10 mil criações em seu país natal e no mundo todo, de mobília, termostatos inteligentes e bicicletas elétricas a casas pré-moldadas de madeira e edifícios. Ele acredita em “fazer mais com menos” e em criar objetos que ajudem a melhorar nossas vidas enquanto abraçam a natureza. O conceito de propriedade pode desaparecer No futuro, o conceito de pro-

priedade pode desaparecer e ser substituído por uma economia do aluguel, acredita o designer. “Alguém que pega emprestado tem a responsabilidade de devolver o produto. Alguém que vende não tem essa responsabilidade – ele pode não se importar se um produto é reciclado ou não, por exemplo”, argumenta Starck. “Não venderemos produtos, mas sim serviços integrados a produtos”, afirma. “Nossa economia deve ser completamente transformada, uma vez que nosso planeta está sendo degradado a uma velocidade muito mais rápida do que jamais vimos”, diz. Starck também acredita que podemos abrir mão de “cerca de

james bort

O designer Philipp Starck vive hoje em Portugal.

70%” de toda a mobília que usamos atualmente em nossas casas. “Nossas cortinas podem ser substituídas por um cristal de vidro líquido, enquanto a tinta pode ser eletroluminescente”, sugere. Surpreendentemente, o inventor prefere o uso de materiais sintéticos aos naturais para seu próprio trabalho. “Materiais sintéticos nascidos da genialidade humana quase sempre têm um melhor desempenho”, argumenta, completando que “preferiria trabalhar com alguém que usa plásticos totalmente rastreáveis a alguém que derruba árvores”. Reciclagem Para produtos serem chamados de sustentáveis, Philippe Starck acredita que eles não devem ser

apenas recicláveis e usar o mínimo de materiais naturais e energia, mas devem também ser “politicamente justos”.

O designer acredita que os consumidores devem querer viver com os produtos que compram, e não jogá-los fora por capricho. Ele considera que a indústria da moda traz “vergonha” à nossa sociedade de consumo por criar novas tendências muitas vezes ao ano. Também destaca que “antes de pensar em sustentabilidade, a primeira questão deve ser: eu realmente preciso desse produto?”. Está em nosso DNA construir e criar Apesar disso, o designer acredita que nós não devemos buscar refrear o instinto humano de criação. “A diferença entre nós humanos e outros animais é que somos criadores. Está em nosso DNA construir e criar – não podemos ir contra isso. A solução pode, então, ser um tipo de ‘decrescimento positivo’, onde decrescemos nossa produção enquanto aumentamos nossa criatividade”.

Icônico espremedor de frutas criado por Philipp Starck.

O economista Ricardo Abramovay desconstrói o mito ruralista de que preservar prejudica a Economia; ao contrário, “abre-se uma nova oportunida-

de: o Brasil poderia liderar combate a práticas predatórias e gerar empregos e inovação ligados à recuperação de florestas”. Segundo Ricardo, “são irrisórios os prejuízos econômicos decorrentes do fim do desmatamento na Amazônia no plano nacional”. Além disso, o economista explica que “as perdas decorrentes do fim do desmatamento recaem sobre atividades que uma sociedade democrática moderna deveria superar, ou seja, aquelas que se concentram em atividades extrativistas e na maior parte das vezes ilegais, distantes das inovações tecnológicas das eco- Reflorestamento na Amazônia pelo Programa Carbono Neutro Idesam (PCN). Fonte: Outras Palavras. nomias contemporâneas”.

Paola Wortman

Conselheira e Estrategista Financeira

RRSP/RESP/RDSP/TFSA/Corporations Seguros de Vida, Doenças Críticas e por Invalidez

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Dica sustentável Ana Paula Buttelli é jornalista

O programa de recolhimento de lixo orgânico de Toronto é bem específico e permite o descarte de alguns itens peculiares. Além de restos de alimentos, deve-se colocar na lixeira verde: fralda, absorvente higiênico, areia de gato, filtro de café, saquinho de chá de papel, guardanapo, papel toalha, lencinho de papel, pote de sorvete de papel, e embalagens de papel de açúcar, farinha e pipoca. O lixo deve ser empacotado e dá para reaproveitar, por exemplo, as sacolas plásticas de leite. Não é preciso usar saco biodegradável, porque os sacos são abertos e destinados ao local apropriado. Qualquer dúvida, basta ligar 311 ou consultar o aplicativo TOwast.

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Credit Score: O básico para sua vida financeira no Canadá Flavia da Silva é mortgage broker Trabalhando como mortgage broker por mais de uma década, já me acostumei com clientes que chegam ao meu escritório e, apesar de boas rendas, descobrem que o Credit Score os puxa para baixo. Os brasileiros são especialmente afetados por esse problema, pois nós temos uma cultura financeira muito diferente e, neste caso, os pequenos hábitos fazem a diferença. O exemplo mais comum é o recém-chegado ao Canadá que, em meio a tantas dificuldades da imigração, deixa o Credit Score para depois. Passam-se alguns anos até que, enfim, ele consegue a residência permanente e renda suficiente para comprar um imóvel. Ele vai atrás de um financiamento, mas os bancos aumentam os juros quando veem o seu Credit Score: baixa pontuação significa um mutuário de alto risco. Esse problema vai além dos empréstimos bancá-

rios. O Credit Score é o fator mais importante da sua vida financeira no Canadá, desde os momentos mais corriqueiros até grandes compromissos financeiros – seja na abertura de uma nova linha telefônica ou num financiamento imobiliário. Ele será consultado por todas as entidades que precisarem confirmar os seus hábitos de pagamento. Como já dizia o ditado, o seu nome é tudo. A situação piora com a falta de informação e o excesso de mitos sobre o assunto. A internet não possui todas as respostas, e boa parte dos resultados são sites americanos ou blogs escritos por quem não tem tanta prática com o assunto. E, para piorar, cada amigo possui uma história diferente para contar. Foi pensando nisso que decidi escrever o livro

“Credit Score: O guia prático e fácil”, onde todos poderão aprender os segredos

do Credit Score de forma simples e rápida. O livro ensina a iniciar a sua vida financeira no Canadá, ler o seu Credit Report, acumular pontos e se recuperar de uma bancarrota, além de mostrar como se proteger de fraudes e evitar pequenos hábitos que custam

muitos pontos. O mais importante, o livro conversa com o público. Eu, como brasileira, entendo as perspectivas e dificuldades dos meus compatriotas aqui no Canadá; posso oferecer um conteúdo para ajudá-los, sem que tenham que lidar com livros em diferentes línguas e voltados para outros públicos. Com este projeto, espero ajudar tanto os recém-chegados quanto as pessoas que já se estabeleceram aqui. Construir a nossa reputação leva vários anos, mas levamos apenas alguns segundos para destruí-la. É melhor se informar o quanto antes, acumular seus pontos da maneira certa e evitar surpresas desagradáveis. O livro custa apenas CAD$9.99 e pode ser adquirido pelo www.flaviadasilva.com/ebook-credit-score


Saúde& Bem-Estar

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Sono infantil e parentalidade expatriada Moana Ávila é psicomotricista & Renata Quelhas é especialista em sono infantil Geralmente saímos do hospital sabendo como trocar fraldas, limpar o cordão umbilical, dar banho e amamentar (pelo menos em teoria) nosso bebê, mas pouco ou nada sabemos sobre o sono infantil. Muitas vezes não temos expectativas reais sobre as necessidades de sono. Pais precisam entender que o cérebro dos seus filhos ainda está em desenvolvimento – criando estruturas e conexões – e perceber que não podem forçar seus filhos a dormirem aplicando um determinado método. A ciência do sono é muito importante, mas não podemos falar de sono sem também observar o lado emocional. A proximidade é uma necessidade de apego importantíssima. Os desafios do sono não são um problema comportamental, precisando de um método/punição/disciplina para mudá-lo. O objetivo não deve ser forçar seu

filho a dormir uma noite inteira antes que ele esteja pronto física e emocionalmente; o ideal é que ele possa chamar pelos pais para o resto da vida, todas as vezes que tiver alguma necessidade. Então, precisamos olhar para o bebê, para a mãe e para a família como um todo, para que possamos entender o sono de maneira integral. Compreender o contexto em que o bebê ou a criança está inserida é de extrema importância para uma rotina saudável. Os pais que estão vivendo em um contexto de expatriação, longe de sua família e/ou cultura de origem, têm suas referências, muitas vezes, postas em questão. Hábitos, rotinas, valores e tradições podem ser diferentes no novo país, influenciando na maneira como se compreende a forma de se criar um filho, incluindo o sono infantil. Além disso, muitos pais, ao imigrar, precisam viver novos papéis sociais

e profissionais, o que pode trazer alguma insegurança e refletir no ambiente familiar. O bebê ou a criança precisa de afeto e segurança para que possa

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se desenvolver e ser feliz. Se os pais olharem de forma cuidadosa e entenderem o contexto em que seu filho está inserido, fica mais fácil fazer pequenos ajustes na ro-

tina e nas suas relações, para que a vida flua com maior qualidade e todos possam dormir melhor.

stine moe


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