Jornal de Toronto Onda conservadora impede avanços para a maioria p. 7
Ladies TO Grow conecta e inspira mulheres imigrantes Grupo, que completa
Vários países embarcaram em uma onda conservadora que se espalhou inclusive entre províncias no Canadá, o que vem a causar um retrocesso em políticas sociais que vinham sendo desenvolvidas.
2 anos neste mês, reúne mais de 700 mulheres para gerar oportunidades na comunidade brasileira. p. 2
edição # 27 | ano # 3 | outubro 2019 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 25
Maconha no Canadá
Mas e aí, o que mudou?
O que é legal e o que não é
A marijuana recreacional foi legalizada no Canadá em 17 de outubro de 2018, e agora, no seu primeiro aniversário, a pergunta que fica é sobre o que realmente mudou.
p. 5
Durante o processo de criação da legislação, o governo federal foi bem enfático na sua preocupação em manter a maconha fora do alcance das crianças, promover uma cadeia de produção responsável e proteger a saúde pública. No entanto, ficou ao encargo de cada província determinar a sua distribuição e regras de uso. p. 4
Thanksgiving Homenagem e homenageados à mesa
O complexo sistema de navegação dos Grandes Lagos p. 3
Trata-se de uma festividade que marca o fim do período de colheitas. Em forma de agradecimento, é a ocasião para oferecer aos deuses uma festa com fartura de comida. Originalmente celebrada na Inglaterra, a data estabeleceu-se na tradição estadunidense e canadense a partir de meados do século XVII. p. 6 fabio ludesi
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Editorial
Quem acompanha o Jornal de Toronto sabe que somos progressistas. Para nós, é muito importante a consciência de que estamos no Canadá e, portanto, reafirmarmos os valores canadenses, de respeito mútuo, empatia, boa educação e diversidade; e também a consciência de que somos imigrantes, que fomos aceitos por esse país e devemos apoiar políticas que ajudem outros colegas imigrantes a terem uma vida melhor aqui. Todos sabemos que os conservadores pensam o oposto disso, e infelizmente a onda conservadora é uma realidade de nosso tempo – é só ler ou assistir o que está ocorrendo pelo mundo –, e quem não liga muito para direitos humanos, democracia ou mudanças climáticas está bem animado em ver as coisas pegando fogo. Essa edição reafirma nosso compromisso com a liberdade e a democracia, e mostra como é possível lidar com o mundo de forma mais aberta, com diálogo e cooperação. De alguma maneira, todas as matérias dessa edição falam de conexão, de como é importante ligar pessoas, conceitos e lugares para mudar a visão das coisas. Crescer não é só ler os números nos gráficos do telejornal, crescer é fazer networking, é reunir os amigos e compartilhar a mesa com quem está à nossa volta. Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Revisor: Eduardo Castanhos Fotógrafos: Leticia Becker, Marc Hatot & Patrick Brush Colunistas: Camila Garcia, Cristiano de Oliveira, José Francisco Schuster, Luiza Sobral & Rodrigo Toniol Colaboradores dessa edição: Alex Bordokas, Ana Paula Buttelli, Fabio Ludesi, Gutemberg de Vilhena Silva, Leticia Davolli, Pai Elton, Valf & Wilhelm Kuhnert Agradecimento especial para: Jô Duarte Agências, fontes e parceiros: CHIN Radio, Ladies TO Grow, Pitú Conselho editorial: Camila Garcia, Cristina Tozzi, Nilson Peixoto & Rosana Entler © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, Mississauga, Brampton, Oakville e Montreal. Contato: info@jornaldetoronto.ca Subscription: $0.50/cada, $50.00/ano Siga nossa página no Facebook, Twitter, Instagram e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #27, ano #3, outubro 2019 ISSN 2560-7855
Cotidiano
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leticia becker
Happy hour e evento de networking do Ladies TO Grow.
Empatia e benevolência entre mulheres Ladies TO Grow conecta e inspira mulheres imigrantes Ana Paula Buttelli é jornalista Ladies TO Grow é um grupo do Facebook que reúne mais de 700 mulheres. O grupo é administrado por quatro brasileiras de diferentes áreas profissionais que têm em comum a disposição em apoiar, promover e conectar outras mulheres. Andressa Grams, Leticia Davolli, Fernanda Pilloy e Leticia Becker são as responsáveis pelo projeto. Elas organizam eventos para apoiar as participantes e gerar oportunidades entre a comunidade brasileira. Empatia e benevolência caracterizam estas mulheres que doam o seu tempo e compartilham suas experiências com as demais. Conheça a trajetória do Ladies TO Grow, que está completando 2 anos neste mês.
Jornal de Toronto - Como surgiu a ideia de criar o grupo?
Leticia Davolli - Foi uma ideia que
a Andressa Grams trouxe da Califórnia. Nos conhecemos através de uma amiga em comum, quando ela se mudou pra Toronto depois de ter passado um ano no Japão e morado na Califórnia antes; tomamos um café juntas e ela me falou que gostaria de ter um
grupo no mesmo formato aqui. Achei super legal e pensei “como eu não tive esta ideia antes?”. Depois de algumas conversas, a Andressa me convidou pra tocar esse projeto adiante e chamamos mais duas amigas, a Fernanda e a Leticia, para fazerem parte da nossa equipe. O grupo começou com amigas de amigas, como um lugar onde as mulheres poderiam fazer conexões seguras. Agora somos um grande grupo de amigas das amigas de amigas.
JdeT - Ladies TO Grow é uma rede de apoio que promove palestras e workshops mensais. Qual é o propósito dos encontros presenciais? Leticia - É facilitar as novas amizades e trocar experiências. A gente é muito mais online do que offline. A gente precisa de olho no olho, de acolher e ajudar. O encontro é muito mais significativo e produtivo. É uma vitrine para a palestrante e também para quem está lá conhecendo outras pessoas. O primeiro evento foi um happy hour e fez muito sucesso. Começamos a buscar assuntos que interessassem as participantes. Tem muita mulher incrível aqui, líderes de empresa, executivas que estão dispostas a ajudar
Paola Wortman
Conselheira e Estrategista Financeira
RRSP/RESP/RDSP/TFSA/Corporations Seguros de Vida, Doenças Críticas e por Invalidez
paola.wortman@edwardjones.com
(905) 808-4573
aquelas que estão chegando. Temos que confiar e acreditar mais uma na outra. A gente se abre para o mundo de uma maneira muito mais incrível quando sai da zona de conforto. Hoje em dia estamos expostas numa plataforma global, então tem mais espaço para o diálogo que não tinha antes. Aprender juntas é uma grande satisfação para nós.
JdeT - Entre os temas apresentados até agora, quais as mulheres mais se identificaram? Leticia - Tudo o que serve de ins-
piração para mulher levar os seus projetos adiante. A gente já falou sobre assuntos diversos e não temos restrição de tema. Recentemente tivemos duas palestras que foram maravilhosas, “A Síndrome do Imigrante” e “Como ser empreendedora em Toronto”. As dinâmicas também motivam porque a mulher se abre quando encontra outra que está passando ou já passou pela mesma situação. Somos todas imigrantes e profissionais, muitas são mães, que vivem ou viveram as mesmas angústias. Passamos por mudanças pessoais quando nos mudamos pra cá e sabemos que é difícil chegar num lugar sem conhecer alguém. A energia de conexão
entre as mulheres impacta tanto no plano profissional quanto no pessoal e inclusive na família.
JdeT - O grupo é uma rede confiável que está crescendo e conquistando prestígio. Vocês têm algum plano futuro de expansão? Leticia - Começamos a nossa newsletter agora e queremos oferecer um programa de mentoria. Tem muita coisa que podemos fazer para motivar as mulheres que ainda estão se ambientando com a nova vida. Ter este espaço para promover as mulheres que a gente admira é muito importante. E tem muita gente com potencial e vontade de ajudar. Queremos oferecer o melhor da comunidade brasileira aqui. JdeT - O grupo aceita novas integrantes? Tem algum critério? Leticia - É um espaço de mulhe-
res generosas e de coração aberto. O único critério é morar em Toronto ou região metropolitana. É só solicitar a entrada no grupo Ladies TO Grow no Facebook. Dá para nos acompanhar no Instagram @ladiestogrow e no site ladiestogrow.com. Até o próximo evento!
Economia
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O complexo sistema O sistema conecta mais de 100 portos comerciais no de navegação dos Canadá e nos Estados Unidos, e vence o enorme desnível Grandes Lagos de 183 metros do Lago Superior para o Oceano Atlântico Gutemberg de Vilhena Silva é geógrafo da Universidade Federal do Com a adoção de complexos sistemas de engenharia, ao longo da história, a humanidade superou diversas barreiras naturais e ampliou sua capacidade de circulação. Neste contexto, os
Se a região fosse um país, por exemplo, seu PIB ficaria atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Historicamente, as cidades da região foram fundadas como postos de comér-
passado de superações técnicas é possível ser visto no Museu da Canoa, em Peterborough, no Canadá (www. canoemuseum.ca). Aquela considerável massa hídrica é formada pelos lagos Superior (maior e mais profundo), Michi-
Grandes Lagos da América do Norte se tornaram um exemplo, sendo hoje um pilar industrial fundamental dos Estados Unidos e do Canadá, com um Produto Interno Bruto (PIB) combinado, em 2017, de mais de $6 trilhões de dólares.
cio ao longo daquela vasta massa hídrica, cujos “caminhos fluviais” facilitaram o comércio em um momento anterior a estradas de ferro e rodovias, e hoje se tornaram a base para a conexão comercial desta região com o mundo. Um pouco desse
gan (único totalmente americano), Huron (segundo maior em superfície), Erie (menos volumoso) e Ontário (o menor em superfície). Quando associados com o rio Saint Lawrence, seu canal de ligação com o oceano Atlântico,
Amapá, e professor visitante na Brock University
torna-se um dos maiores reservatórios de água doce do mundo, com uma estimativa de 6 quatrilhões de litros de água (20% da água doce em estado líquido do mundo). Em adição, é considerado o mais longo sistema de navegação interior do
Saint Lawrence, por meio dos quais mais de 200 milhões de toneladas de carga viajam anualmente. Tudo isso é possível em razão do sistema de eclusas (16 ao total) construído para superar principalmente o desnível dos lagos. Formando
Do magnífico espetáculo das Cataratas do Niágara, ao charme vitoriano da Ilha Mackinac; de dunas ondulantes e grandes vistas, a quilômetros de praias de areia branca, das florestas verde-esmeralda ao pôr-do-sol escaldante que trans-
mundo, conectando mais de 100 portos comerciais no Canadá e nos Estados Unidos. Os Grandes Lagos funcionam como uma complexa “rodovia fluvial” de 3.700 km entre Duluth, Minnesota (Lago Superior) e o rio
um elaborado sistema de elevação, a combinação destas eclusas permite que navios atravessem uma vasta extensão territorial, em que os níveis de água caem mais de 183 metros do Lago Superior para o Oceano Atlântico.
formam o horizonte aquoso em chamas, passando pelos canais que conectam os Grandes Lagos, a região se mostra como um magnífico complexo natural, cuja formação geológica remonta 12 mil anos atrás, durante a última era glacial.
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Maconha no Canadá Mas e aí, o que mudou? Camila Garcia Do ponto de vista dos não-consumidores, de fato nada ou pouco mudou; afinal, antes mesmo de legalizada, a população em Toronto já sentia a liberdade de falar abertamente sobre o consumo da maconha; os consumidores, no entanto, experimentam um mercado que embora com produtos de qualidade superior e assegurada, ainda é imaturo e não preparado para a alta demanda – com frequentes atrasos, falta de estoque e preços incompatíveis com o mercado clandestino, que aliás continua firme e forte. Pesquisadores e cultivadores possuem novas possibilidades de estudo e especializações, e finalmente foi eliminado das batidas policiais o registro criminal por porte de maconha, algo que antes acompanhava os jovens durante toda a vida, difi-
Com erros e acertos, as lições aprendidas pelo Canadá estão sendo observadas por muitos países desenvolvidos que buscam trilhar o mesmo caminho no futuro próximo.
cultando as suas oportunidades futuras. A segunda fase da aplicação da legislação federal está por vir até o final deste ano, com a legalização dos comestíveis. Mais uma vez, uma série de medidas serão implementadas para que esses produtos não sejam atrativos para as crianças.
Camila Garcia é paulista e já trabalhou com teatro, rádio, televisão e jornalismo. Sempre de olho no universo político, adora trocar suas impressões com os mais chegados, e agora com os leitores do Jornal de Toronto. Atualmente é apresentadora do programa de televisão Focus Portuguese, todos os sábados e domingos, na OMNI TV.
fabio ludesi
A marijuana recreacional foi legalizada no Canadá em 17 de outubro de 2018, e agora, no seu primeiro aniversário, a pergunta que fica é sobre o que realmente mudou. Durante o processo de criação da legislação, o governo federal foi bem enfático na sua preocupação em manter a maconha fora do alcance das crianças, promover uma cadeia de produção responsável e proteger a saúde pública. No entanto, ficou ao encargo de cada província determinar a sua distribuição e regras de uso. Por exemplo, em Ontário a regulamentação aconteceu em meio a troca de governo: dos liberais para os conversadores; o que consequentemente mudou as regras do jogo. O premier Doug Ford, além das lojas administradas pelo próprio governo, abriu a venda para empresas privadas, em um sistema de loteria programado para acontecer em duas rodadas. Com bastante dificuldades e atrasos, no segundo trimestre deste ano foram abertas 25 lojas na província e planejadas em torno de mais 25 para este outubro – o que tudo indica que não irá acontecer. A compra, uso, posse e cultivo só podem ser realizadas por pessoas com 19 anos ou mais e a quantidade permitida é de até 30 gramas. A utilização segue as mesmas condições do tabaco, ou seja, em Toronto é legal consumir maconha nos espaços públicos, como parques e calçadas. O primeiro ano passou rápido demais e de certa forma ainda é pouco tempo para determinar mudanças radicais, uma pesquisa, resultado da parceria da universidade de St. Thomas e do Trinity College em Dublin, está sendo conduzida e pretende identificar os efeitos da legalização nos diferentes aspectos da sociedade canadense.
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O que é legal e o
Cultura
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o que não é Luiza Sobral O carteiro chega anunciando: “Chegou sua maconha!”. O sogro começa a usar cápsulas de CBD para aliviar a dor nas costas, e o marido passa o verão tomando conta das plantas favoritas do Bob Marley no nosso quintal. Normal? Mais que isso: muito legal! Dia 17 de outubro de 2019 completamos um ano da legalização da maconha no Canadá. Um ano de uma lei controversa que gerou muitos pontos de interrogação, muito ajuste burocrático e social, e, claro, muita curtição. O maconheiro foi de hippie para hype. Mas há uma diferença entre o que é legalizado e o que não é legal fazer. Apesar da medida tomada por Justin Trudeau ser imensamente liberal – o Canadá é o primeiro país do G7 a legalizar a cannabis em âmbito nacional –, não dá para achar que virou a festa do caqui. Aproveitemos o aniversário da Maria Joana para lembrar o que pode e o que não pode, nem com a desculpa de estar “lesado”.
É legal:
• Conhecer o produto – Se decidiu experimentar, ou continuar a consumir, entenda direitinho os efeitos do uso. O site governamental Ontario Cannabis Store (www.ocs.ca) explica a diferença entre CBD e THC, entre Sativa e Indica, entre outros. • Falando no site OCS, compre sua maconha legalmente ou online, ou em uma das lojas autorizadas. Já são 5 em Toronto, e mais 13 a serem abertas nos próximos meses. • Mais legal ainda? Plantar sua própria plantinha – São 4 liberadas por domicílio. Um projeto de jardinagem que, se ao ar livre, fica para 2020: começa na primavera e colhe os frutos no outono. • Óleos, cápsulas, comestíveis, cremes – Fumar não é a única
opção, e muito menos a mais saudável. A fumaça da maconha é tão prejudicial quanto a do cigarro. • Saber seu limite – Comece aos poucos para poder curtir os efeitos positivos que funcionam para você. Cada corpo reage de uma maneira.
Mas não é bacana:
• Dirigir e fumar – Matt, que já fuma maconha há mais de 10 anos, conta que a única coisa que mudou pós-legalização é que “agora preciso tomar mais cuidado ao dirigir”. Sim, se antes os maconheiros adoravam fumar ao volante, agora têm que entender que devem tratar o ato tão ilegal quanto beber e dirigir. Ambos os consumos prejudicam a coordenação motora. A polícia das estradas está de olho, e quem ganha com esse cuidado somos todos nós. • Vender – Não pode repassar ou vender a produção caseira. É crime federal que pode levar a até 14 anos de cadeia. • Viajar – Não é permitido cruzar a fronteira (ou embarcar em voos internacionais) com maconha. Pode falar para a sua turma brasileira que eles terão que vir pra cá se quiserem experimentar. • Fumar perto de crianças e adolescentes – Uma das prioridades do Cannabis Act é a saúde de jovens com menos de 19 anos. Portanto, a ofensa é considerada gravíssima para quem passar/ vender maconha para menores. Também não pode fumar próximo de escolas e playgrounds. • Comestíveis e cremes tópicos serão legalizados para a venda dia 17 de outubro, no aniversário de 1 ano da legalização. Só depois dessa data os produtores serão regularizados e, provavelmente em dezembro ou janeiro, os produtos poderão ser vendidos legalmente – ou seja, cuidado com a distribuição dos space brownies e gummies que já rolam por aqui. No fim, sabe o que é o mais legal? Saber usufruir de mais esse liberalismo que temos a sorte de desfrutar por aqui, mas com responsabilidade digna de um cidadão canadense. Sorry!
Luiza Sobral é paulista de nascença, baiana de coração, e adoraria morar no Rio. Está em Toronto desde 2011, onde se certificou como jornalista. Ama escrever, principalmente sobre viagens e outras maravilhas da vida. Luiza assina a (super lida) coluna Acontece! toda semana no site do Jornal de Toronto.
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A caipirinha e a história da cachaça Pitú Alex Bordokas é produtor cultural A caipirinha é a nossa bebida nacional e está presente em todas as festas, de norte a sul do Brasil. É também o drink mais reconhecido no exterior, com seu sabor único, feito de cachaça, açúcar e limão. O segredo consiste no modo de preparo – o limão certo, o modo de quebrar o gelo e mistu-
de água doce muito apreciados, que existiam em abundância nos mananciais que banhavam o engenho. A fábrica da Pitú está localizada no município de Vitória de Santo Antão (PE) e seu nome se espalhou rapidamente pelo Brasil, sendo hoje líder nas regiões Norte e Nordeste. Já no exterior, lidera em absoluto, sendo a maior ex-
da destilação do melaço de cana. Como resultado, são bebidas com sabores completamente diferentes. Seu reconhecimento internacional, aliada à fama que a caipirinha tem, fez com que a LCBO passasse a encomendar a Pitú para suas lojas. Nosso Brasil, então, passou a ser representado com sua bebida mais conhecida e prestigiada.
portadora de cachaça brasileira. A exportação começou pela Alemanha, em 1972, e se espalhou rapidamente, sendo que hoje a Pitú pode ser encontrada em vários países e freeshops do mundo. A empresa ainda está entre as 20 marcas de bebidas destiladas mais produzidas no mundo. Nos Estados Unidos e em vários outros lugares, a cachaça é conhecida como “Brazilian rum”, mas como todo brasileiro sabe, “se você pensa que cachaça é água, cachaça não é água não” (parodiando uma famosa canção) e nem muito menos rum. A diferença entre rum e cachaça é que a cachaça é feita com suco da cana fresca (a garapa), fermentada e destilada, e o rum é feito a partir
Enfim, apresente aos seus amigos a cachaça Pitú, ela se tornará inesquecível em festas e reuniões entre amigos.
Fábrica da Pitú, em Pernambuco.
rar a bebida – e, claro, na qualidade da cachaça. Felizmente temos aqui a famosa Pitú, considerada uma das melhores cachaças para fazer caipirinha, e referência por seu perfume e gosto apurado. Fundada em 1938 na Zona da Mata, norte de Pernambuco, inicialmente a empresa trabalhava com a fabricação de vinagre, bebidas à base de maracujá e jenipapo, além de engarrafar aguardente de cana fornecida por engenhos locais. Naquela época, mal sabiam eles que a cachaça seria o sucesso da marca, e uma das bebidas mais consumidas pelos brasileiros. Em 1945 a empresa passou a produzir sua própria aguardente de cana em destilaria, e industrializou seu engarrafamento. Foi nesta época que a empresa recebeu o nome de Indústria de Aguardente Pitú, uma referência ao nome do engenho e aos “pitús”, crustáceos
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Thanksgiving Rodrigo Toniol Tão comum no hemisfério norte e tão alheio ao hemisfério sul, o Thanksgiving (Dia de Ação de Graças) nem sempre é fácil de ser incorporado pelos expatriados. Para assimilá-lo, terminamos considerando-o como um feriado familiar, algo similar ao Natal e à Páscoa, mas sua incorporação no cotidiano é quase artificial, daquele tipo de coisa que precisamos marcar na agenda para lembrar. A origem é repetida ad infinitum ao longo das semanas que o antecedem. Trata-se de uma festividade que marca o fim do período de colheitas. Em forma de agradecimento, é a ocasião para oferecer aos deuses uma festa com fartura de comida. Originalmente celebrada na Inglaterra, a data estabeleceu-se mesmo na tradição estadunidense e canadense a partir de meados do século XVII. Essa versão oficial da origem da comemoração, que reafirma a Europa como fonte de todas as tradições do Novo Mundo, invisibiliza o fato de que esse tipo de celebração reverberou em práticas bastante comuns entre os próprios grupos nativos que habitavam a América do Norte an-
Homenagem e homenageados à mesa
tes da colonização. Especialmente na costa oeste do continente –
menagem a alguém. Não bastasse a comilança, a pessoa ou grupo
doados circulariam novamente na celebração seguinte. De algu-
The Walas’axa’, pintura de Wilhelm Kuhnert, que mostra uma cerimônia de potlatch de 1894, em British Columbia.
e curiosamente também em algumas ilhas do Pacífico, próximas do atual território australiano –, grupos indígenas praticavam o ritual chamado “potlatch”. Trata-se de um ritual que geralmente envolvia um banquete com carne de foca ou salmão servido em ho-
que fazia a homenagem renunciava a todos os seus bens e os doava ao homenageado. A aparente irracionalidade da oferta deste ritual, que inclusive esteve proibido pelo governo canadense de 1884 até 1951, estava baseada na expectativa de que os bens
ma maneira, era a renúncia que também garantia a bonança. No território brasileiro, as populações nativas também tinham sua própria forma de celebrar a homenagem. Uma prática que também envolvia comida. Mas nesse caso não se tratava de oferecer comida, mas de comer o próprio celebrado. O canibalismo dos Tupinambás não era uma forma de detração dos inimigos, pelo contrário, era um desejo de comunhão, de incorporação das qualidades daquele sujeito: canibalizá-lo é tornar-se um pouco do outro. Há maior homenagem que se poderia fazer a um inimigo do que querer tornar-se ele próprio? Do lado de cá do hemisfério sul, o nosso Thanksgiving é antropofágico. Sempre é tempo de se lembrar do maior dilema filosófico posto pelos modernistas brasileiros, no manifesto de Oswald de Andrade: “Tupi or not tupi, that is the question”.
Rodrigo Toniol é doutor em antropologia e professor da Unicamp, tendo realizado estudos de pós-doutorado na Universidade de Utrecht (Holanda); foi também pesquisadorvisitante nos Estados Unidos e México. Suas pesquisas e publicações estão principalmente relacionadas com os temas de religião, saúde e ciência.
Política
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Onda conservadora impede avanços para a maioria José Francisco Schuster Vários países da América e da Europa embarcaram em uma onda conservadora na última década que se espalhou inclusive entre províncias no Canadá, o que vem a causar um retrocesso em políticas sociais que vinham sendo desenvolvidas para diminuir a desigualdade social. Por razões diversas, os eleitores passaram a apostar em propostas que já provocaram severos danos no passado. Sem aprender a lição, só mais tarde se dão conta de que repetem uma história conhecida e de final amargo. Nos Estados Unidos, Trump foi eleito em 2017, ao derrotar a candidata democrata Hillary Clinton no número de delegados no colégio eleitoral, mesmo perdendo por mais de 2,8 milhões de votos, a maior derrota nas urnas de um presidente eleito na história do país. Entre outros fatores, Trump venceu ao apresentar-se como outsider, o
forasteiro. Nem prometer um muro na fronteira com o México em um país de imigrantes o deteve. Hoje os americanos convivem com o aumento da violência, a saída do Acordo de Paris sobre o clima e posições polêmicas em política internacional. Na Europa, a crise econômica e a de refugiados levou à chamada “Pasokificação”, o declínio de partidos de centro-esquerda, em alusão à derrota do Pasok, o partido socialista grego em 2012. Desde então, conservadores ganharam espaço também na República Tcheca, França, Hungria, Holanda, Itália e Polônia. Já na América Latina, a vitória de partidos progressistas em vários países e seu consequente declínio posterior, quase de forma simul-
tânea, dá origem a teorias de que houve apoio de forças conservadoras estrangeiras para que o continente voltasse à situação anterior, com o retorno de milhões à situação de miséria. Mauricio Macri, eleito presidente da Argentina em 2015, entretanto, perdeu nas recentes eleições primárias justamente pelo aumento da miséria, disparada da inflação e por não conseguir atrair investimentos externos. O caso do Brasil é amplamente conhecido, com manobras políticas para destituir a presidenta Dilma Rousseff e impedir a candidatura do líder nas pesquisas, Lula. A popularidade do sucessor Michel Temer, todavia, foi quase a zero e a do governo Bolsonaro começa a cair, já que o crescimento econômico e
valf
os empregos que surgiriam “automaticamente” com a saída de Dilma não se concretizaram. No Canadá, o Partido Conservador elegeu governadores em Ontário, Quebec, New Brunswick, Alberta, Prince Edward Island e acaba de reeleger-se em Manitoba. Isto significa que 82% dos canadenses são governados provincialmen-
Cristiano de Oliveira marc hatot
portante elemento de cada cultura. Cada país, cada região, transforma sua eleição em palhaçada ao seu modo, respeitando a diversidade cultural da sociedade e os povos que a compõem. Assim sendo, é importante respeitar e colaborar com o barraco eleitoral canadense, trazendo para esse grande conjunto de práticas sociais e simbologia a nossa própria e bonita experiência em gerar eleições embaraçosas. Canadense adora o passado. Uma coisa que o cama-
Éo Brasil na
rada disse ou fez um dia vai com certeza virar escândalo 600 anos depois. Trudeau despencou nas pesquisas depois que uma revista americana (estranhamente interessada na eleição canadense, coisa que nunca acontece) publicou sua foto com a cara pintada à “blackface”, tirada durante uma festa em 2001. Ele pediu desculpas, seu governo não foi marcado por quaisquer atos ou medidas discriminatórias... mas a memória do povo não perdoa. Ora,
são um sinalizador importante do rumo do Canadá, como um todo, em um mundo que não favorece a maioria. Isto porque políticos voltados às elites têm o mantra de cortar impostos, já que assim beneficiam principalmente seus amigos endinheirados. Porém, como diz o sábio ex-presidente do Uruguai, José Mujica, “os que comem bem, dormem bem e têm boas casas pensam que se gasta demais em políticas sociais”.
Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, e agora produz e apresenta o programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.
Barraco eleitoral, uma manifestação cultural Pleno mês de eleições no Canadá, e o brasileiro deve estar sofrendo com o choque cultural. Mas afinal, onde está o barraco? Não tem tabefe, não tem gritaria, não tem molecagem. Família nenhuma rachando, não tem dedo na cara, nem candidato com nome de Paul das Girls, Grete Cover, Ninguém ou Alceu Dispor. Pois a cultura de um país é formada por todos que nele residem, e você, caro brasileiro perdidão, também tem muito a contribuir. O barraco eleitoral é im-
te por conservadores, embora o primeiro-ministro do país seja do Partido Liberal. Em Ontário, porém, também já começa a haver um movimento reverso, já que a promessa foi de que “ninguém vai perder seu trabalho” e milhares perderam o emprego, além de não ter sido implementado o salário mínimo de $15 dólares/hora e terem ocorrido cortes na saúde, educação, ajuda jurídica, e apoio para os autistas. As eleições federais deste 21 de outubro, portanto,
pois o brasileiro pode contribuir imensamente para essa faceta do barraco eleitoral local, ensinando o povo a não se lembrar de absolutamente nada que aconteceu do almoço de ontem pra trás. O candidato pode ter confessado à nação até que rói unha e cospe no sofá – amanhã o assunto já é outro. Canadense gosta de defender direitos adquiridos. Andrew Scheer deu diversas declarações no passado se opondo aos direitos das
mulheres e da comunidade LGBTQ, além do seu partido defender cortes agressivos no sistema de saúde (vide Doug Ford em Ontário), para revolta da população local. Pois o brasileiro está apto a prestar valorosa contribuição a essa cultura trazendo seu imenso carinho e afeição pelas ações do tipo “pó cortá é tudo”. Nossa habilidade de ouvir discursos que prometem acabar com a nossa raça, mas bater palma pra eles pelo simples pronunciar das palavras “cortar”, “reduzir”, “economizar”, “Cuba” e “Venezuela”, adicionará
algo muito bonito à colcha de retalhos da cultura canadense e sua prática do barraco eleitoral. O imigrante tem muito a aprender, mas também tem muito a ensinar. Com o passar dos anos, não se espante quando seu coração sentir aquele calorzinho gostoso da lembrança de casa ao passar pela rua e ver uma plaquinha dizendo “Vote for Watermelon Woman” ou “Ontario for Tiriráica, worse than is don’t stay”. Adeus, cinco letras que choram.
Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.
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Outubro de escolhas difíceis a transformações de valores Pai Elton é astrólogo Querido leitor do Jornal de Toronto, eu sou o Pai Elton. Hoje começamos nossas viagens astrais mensais. Espero que você tenha prazer em ler meus artigos tanto quanto eu terei em escrevê-los. Mas agora mãos à obra! Aqui estarei primeiramente abordando as quadraturas e oposições salientes em outubro: Na linguagem astrológica, quadraturas são desgastes formados por ângulos de 90 graus entre planetas. Então pense no atrito de duas peças de uma grande engenhoca astral que precisam estar em contato para funcionar. Neste caso, elementos astrais de caráter pessoal como o Sol, Vênus, Mercúrio e Marte em Libra vão estar quadrando planetas de órbitas
mais longas, como Saturno e Plutão já no signo de Capricórnio. Na verdade, o signo de Libra reina na harmonia e no âmbito dos relacionamentos. É também o signo não só das escolhas, mas também da indecisão. Isto significa que esta energia vai estar em atrito com a necessidade de se atingir metas e objetivos (energia de Capricórnio). Ou seja, podem ser exigidas de você escolhas difíceis na esfera dos relacionamentos para que você continue rumo ao caminho almejado. Ou você pode ficar se perguntando: Vale a pena alienar o outro ao se deixar guiar pelo medo ou pela obrigação? Questões como esta podem até mesmo sair da esfera pessoal ao atingir um nível maior, como na hora do voto por exemplo.
patrick brush
Já o segundo ponto a ser mencionado aqui tem a ver com oposições. Elas são tensões entre pólos opostos. A maioria dos elementos astrais pessoais referidos aqui vão entrar em Escorpião e daí enfrentar uma oposição a Urano em Touro, justamente no signo oposto. Pois é, Escorpião já naturalmente põe quaisquer planetas em situações-limite. Este é um
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signo que pede posicionamento. E uma necessidade de comprometimento tende a gerar processos de transformações internas; e por causa da oposição referida aqui, estas transformações podem pedir de você também uma inesperada mudança de valores. E não haverá como você se transformar internamente sem o necessário desapego às questões materiais
ou àquelas ligadas ao conforto. Pois bem, estas são basicamente as energias que governam outubro de 2019, um mês de escolhas difíceis e transformações de valores. Pai Elton é um astrólogo que atende em Toronto e que conta com mais de 20 anos de estudos e prática na área. Para maiores informações sobre consultas, visite Pai Elton Astrology no Facebook.