Jornal de Toronto
Qual é o perfil dos evangélicos na maior cidade do Brasil?
Ao contrário das imagens que se tornaram clássicas de templos imensos, a realidade cotidiana dos evangélicos em São Paulo é a de frequentar templos pequenos. p. 9
Imigração: um mar de mudanças
Plano A Plano B
É preciso ter um plano B (ou C) para as constantes mudanças nas políticas de imigração do Canadá, que são fortemente influenciadas por fatores como a política interna e global, a economia, o mercado
Destinos turísticos criados por Inteligência
Artificial _ o caso do Algarve p. 8
Do
mariana sChuetze
Semana passada, eu estava assistindo a um tutorial de como transformar meu smartphone, transbordando com distrações e cores, em um dumbphone, uma máquina puramente funcional – buscando pelo básico: ligação, mensagem e foto.
Essa não é uma experiência isolada. Se você ainda não foi pêgo pela nova tendência das tecnologias analógicas, logo será. Flip phones, livros, revistas e jornais
Estamos
agora no Bluesky
Não, não estamos mais usando o Twitter –faz muito tempo, aliás. Estamos agora no Bluesky. Segue a gente lá: @jornaldetoronto.bsky.social
Trump presidente e os impactos sobre a democracia
Custo de vida canadense tem se tornado proibitivo
A dúvida mais comum em grupos de WhatsApp ou Facebook, por brasileiras e brasileiros que se preparam ou têm interesse de vir a Toronto, é sobre o custo de vida. Bom, meus caros, morar em Toronto virou praticamente um esporte de resistência. Para quem já está aqui há algum tempo, sem precisar de diploma em economia, sabe que, ano a ano, a situação se complica, e sente a mudança no bolso e no poder de compra. Os aluguéis exorbitantes e o custo de vida altíssimo fazem com que a cidade seja cada vez menos acessível à classe média e à classe trabalhadora. O preço médio de uma casa pequena na cidade ultrapassou $1 milhão de dólares – e insiste em não descer mais –, o que significa que, para muitos de nós, a casa própria entra na lista de sonhos que dificilmente serão conquistados. p. 3
físicos, discos de vinil e até walkmans estão na moda novamente. p. 8
Seja você um recém-chegado ou alguém que já mora aqui há algum tempo, esses eventos são uma ótima oportunidade para fazer amigos e construir conexões. p. 5
Como enviar cargas do Canadá para o Brasil? p. 4
Superando a saudade da terra natal p. 6
Como foi a primeira temporada do podcast “Causas e Causos: seus direitos no Canadá” p. 9
Planeje seu orçamento
assessoria financeira e planejamento
Invista e amplie seus rendimentos
Organize-se antes do imposto de renda
Todos os brasileiros expatriados projetam no exterior a imagem do país que somos e do país que desejamos ser.
Embaixador Enio Cordeiro p. 11 Cônsul-geral do Brasil em Toronto
Cristiano de oliveira
já não é mais o mesmo
Foi no inverno de 2004, há exatos 21 anos, que eu escrevi pela primeira vez para um jornal brasileiro em Toronto, na época o Brasil News. Se você já está na praça há um tempo, talvez já tenha lido algum artigo meu. Ou talvez não, porque resolveu ser metido a besta e não pega jornal brasileiro no açougue pra fingir que é gringo. Eu não devia, mas vou avisar: não adianta. Uma hora você vai ter que falar “Batman” e vai entregar a paçoca falando “bátima”. Portanto, relaxe. Entregue logo pra portuguesa do caixa que você é do Brasil, pegando um exemplar do Jornal de Toronto pra ler à moda antiga, folheando como papai fazia – o que antes era banal, hoje é uma experiência retrô. p. 7
É com imenso prazer que colocamos em suas mãos a edição #87 do Jornal de Toronto; uma edição muito especial, pois nosso último jornal impresso foi em março de 2020, quando a pandemia atingiu a todos de forma incontornável. Depois disso, mesmo sem imprimir, o Jornal de Toronto continuou forte: o número de leitores online dobrou e produzimos dezenas de episódios de podcasts, com seis programas diferentes, além de seminários e shows de música que pudemos fazer em nossa sede da Dufferin Street. Mas ficava sempre aquela saudade do papel jornal.
Nesse meio tempo, eis que o encantamento pelas mídias sociais se tornou vício e mesmice – quem diria – e um público crescente tem buscado se desconectar, viver uma vida mais tátil, mais consciente do mundo real, aquele onde é possível sentar, tomar um café e ler um bom jornal.
Essa edição fala bastante dos desequilíbrios da nossa realidade, incluindo as eleições nos EUA, sobre o alto custo de vida no Canadá, e fora dele; sobre as mudanças contínuas da Imigração e os imbróglios jurídicos que às vezes o imigrante passa. Mas também mostra o prazer dos encontros pessoais na comunidade, e da "nova" experiência analógica que as mídias sociais não podem oferecer. Trazemos aqui também dados relevantes sobre o perfil evangélico em São Paulo e uma entrevista especial com o cônsul-geral do Brasil em Toronto. Boa leitura!
Editor-chEfE: Alexandre Dias Ramos
rEvisor: Eduardo Castanhos fotógrafos: Clayton Guerreiro, Jörg Möller
colunistas: André Oliveira, Camila Garcia, Cristiano de Oliveira, Gabriel Melo Viana, José Francisco Schuster, Rodolfo Marques, Rodrigo Toniol colaboradorEs dEssa Edição: Corine Standerski, Débora Corsi, Eduardo Oliveira, Enio Cordeiro, Fabio Ludesi, Fabio Torres, Mariana Schuetze, Pedro da Cruz, Tristan Bowersox, Valf, Wanessa Oliveira & Will Leite agradEcimEntos para: Ana Paula Serrano Cruz, Bryant, Diulie Fernandes Maia agências, fontEs E parcEiros: BCBA, CDD20, CMHC, Concid Ontário, Consulado-Geral do Brasil em Toronto, Santos Port Authority, Unihertz consElho Editorial: Gabriel Melo Viana, Jananda Lima, Nilson Peixoto & Rosana Entler
© Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados.
circulação: O Jornal de Toronto é trimestral e distribuído em Toronto e GTA.
imprEssão: Master Web contato: info@jornaldetoronto.ca
subscription: $1.50/cada, $39.00/ano Siga nossa página no Bluesky, Linkedin, Facebook, Instagram e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca
Edição #87, ano #7, dezembro 2024 - fevereiro 2025
ISSN 2560-7855
Economia
Custo de vida canadense tem se tornado proibitivo
A dúvida mais comum em grupos de WhatsApp ou Facebook, por brasileiras e brasileiros que se preparam ou têm interesse de vir a Toronto, é sobre o custo de vida. Bom, meus caros, morar em Toronto virou praticamente um esporte de resistência. Para quem já está aqui há algum tempo, sem precisar de diploma em economia, sabe que, ano a ano, a situação se complica, e sente a mudança no bolso e no poder de compra. Os aluguéis exorbitantes e o custo de vida altíssimo fazem com que a cidade seja cada vez menos acessível à classe média e à classe trabalhadora. Apesar do mercado imobiliário flutuar bastante, o preço médio de uma casa pequena na cidade ultrapassou $1 milhão de dólares, de acordo com a Canadian Real Estate Association – e insiste em não descer mais –, o que significa que, para muitos de nós, a casa própria entra na lista de sonhos que dificilmente serão conquistados. O mercado de aluguel também tem a sua fatia do bolo, e não apresenta um cenário muito diferente. Dados do Toronto Regional Real Estate Board revelam que no terceiro trimestre de 2024 o aluguel médio de um apartamento de um quarto esteve em torno de $2.499 dólares, o que simboliza que o direito à habitação, enquanto um direito essencial, começa a parecer mais um privilégio.
Em 2019, a Canadian Centre for Policy Alternatives introduziu o conceito de “rental wage” [salário de aluguel], ou seja, o valor do salário por hora necessário para pagar o aluguel, considerando 40 horas de trabalho por semana, por 52 semanas por ano e gastando no máximo 30% da renda em moradia. O “salário de aluguel” é então o valor que as pessoas precisam ganhar para pagar o aluguel sem sacrificar outras necessidades básicas. Pois bem, o relatório Out of Control Rents: Rental wages in Canada 2023 demonstrou, província por província, a disparidade entre esses dois fatores. De acordo com a tabela ao lado, em Ontário, para que uma pessoa possa viver confortavelmente em um apartamento de um quarto, ela precisaria ganhar $28.50 por hora. Efetivamente, em 1 de outubro de 2024, o salário mínimo na pro -
víncia passou a ser de $17.20 por hora; no entanto, uma vez que a diferença é tão grande, o aumento irá direto para o bolso dos proprietários, ao invés de melhorar a
milhões de visitas mensais. Enquanto lutamos para sobreviver no dia a dia, o cenário global vive um drama político que indica um futuro repleto de incerte-
qualidade de vida das famílias trabalhadoras. Esses números revelam um problema estrutural: uma economia centrada no mercado imobiliário e no lucro de grandes investidores que está pouco interessada nas pessoas que fazem a cidade acontecer. Os reflexos são percebidos em todos os departamentos da vida moderna, e acabam por sobrecarregar sistemas criados para situações emergenciais, como o caso dos bancos de alimentos. Uma divulgação recente do Food Bank Canada revelou que o uso de bancos de alimentos no Canadá atingiu um recorde histórico, com 2
zas. Nos Estados Unidos, Donald Trump foi reeleito, configurando o pressagio de um ano intenso nas relações bilaterais com o Canadá: o retorno de políticas protecionistas e tensões comerciais que podem desestabilizar ainda mais a economia canadense. Trump já expressou seu desdém pelo apoio econômico ao exterior, incluindo o Canadá, e os analistas da CBC ressaltam o impacto potencial que suas promessas de colocar os Estados Unidos “em primeiro lugar”
terão nos parceiros comerciais. Isso tornará nosso cotidiano menos estável, já que setores como o agropecuário e o de manufatura perderão investimentos, tornando consequentemente a vida mais cara para os cidadãos.
A combinação de um custo de vida proibitivo e a instabilidade política externa coloca em cheque o futuro de cidades como Toronto. A questão é clara: para quem estamos construindo essa cidade? É preciso repensar o modelo econômico que impulsiona a desigualdade social, enquanto poucos acumulam lucros. No Canadá, país que se orgulha de seus valores de equidade e justiça social, é inaceitável que tantos enfrentem a realidade de não poderem mais viver onde construíram suas vidas. Por fim, a luta é por um sistema mais justo, por oportunidades e por uma qualidade de vida decente para todos, e não somente para aqueles que podem pagar por elas. Até quando Toronto será apenas para poucos? A mudança é urgente, e ela só virá com políticas que priorizem as pessoas em vez do lucro. A pergunta que fica é: quem terá coragem de enfrentar esse desafio?
como educadora e realiza eventos de contação de histórias para crianças.
num mundo Cada vez mais Contaminado por desinformação, é muito importante termos bons jornalistas trabalhando para produzir um jornal de qualidade. o jornal de toronto é uma referênCia para a Comunidade de línGua portuGuesa no Canadá, mas não é fáCil manter a estrutura do jornal funCionando Por favor, considere nos fazer uma doação. Obrigado!
Como enviar cargas do Canadá para o Brasil?
Todo imigrante brasileiro já pensou em mandar encomendas para o Brasil. Mas qual o custo real disso e como fazer da forma correta?
josé franCisCo sChuster
Já passou pela cabeça de todo imigrante brasileiro no Canadá mandar encomendas para o Brasil. Algo que seria um bom presente para alguém ou até grandes volumes, como no recente caso em que os brasileiros se uniram para mandar vários contêineres com donativos para os flagelados pelas enchentes no Rio
lor e quantidade, além de formalidades alfandegárias a cumprir. Também é preciso lembrar que há produtos proibidos e restritos, conforme regulamentos da Receita Federal.
Custo do transporte
O custo do frete internacional pode ser elevado, tornando-se desproporcional para itens de menor valor
alguns estados que têm incentivo fiscal. Assim, não é comum ver muitas pessoas físicas fazerem envios, a menos que sejam itens muito específicos ou de alto valor agregado que não são encontrados no Brasil. Na maioria dos casos, os custos com transporte e impostos são maiores do que as vantagens de comprar o item fora
Grande do Sul. Contudo, há muita desinformação a respeito e, para esclarecer, conversamos com Arnon Melo, presidente da Mellohawk Logistics, que há mais de 22 anos trabalha com importação e exportação e é referência em cargas entre Canadá e Brasil. Para começar, Arnon explica que as encomendas de pessoas físicas do Canadá para o Brasil devem ser de itens novos e, de preferência, com nota fiscal. Mandar itens usados somente é possível quando a pessoa estiver de mudança, pois geralmente não são permitidos no Brasil sem antes ter autorizações da Receita Federal. Entre os métodos de envio estão os correios, serviços de remessa expressa (como FedEx, UPS, DHL, etc.) ou por frete aéreo (através de agentes de carga). Entretanto, há algumas limitações de va-
ou que já estão disponíveis no Brasil – algo que pode tornar a remessa economicamente inviável. Além do frete em si, é preciso adicionar os custos com embalagem, seguro (se necessário) e taxas de manuseio. O valor de frete é calculado em função do peso, volume e também do destino final. Dentre as opções, a remessa postal geralmente costuma ser a opção menos cara. Para produtos equivalentes disponíveis no Brasil, o custo de envio e a carga tributária geralmente não compensam. Se o produto for raro ou tiver um valor significativo (como eletrônicos, peças específicas ou artigos de luxo), pode haver um argumento a favor da importação, mas, ainda assim, seria mais comum para pessoas jurídicas, que têm acesso a regimes tributários mais favoráveis ou à entrada de produtos por
do Brasil, especialmente se um produto similar estiver disponível no mercado nacional.
Impostos
O Regime de Tributação Simplificada (RTS) é geralmente utilizado no Brasil para pessoas físicas na importação. Entre as regras, está a do valor-limite: o RTS pode ser utilizado para importações de até US$3 mil, aí incluídos o preço da mercadoria, frete e seguro, o que corresponde ao chamado valor aduaneiro. Acima deste limite é preciso a contratação de um despachante, ficando o processo mais caro e complexo, pois a compra passa a ser considerada de pessoa jurídica.
O principal tributo nesse regime é o Imposto de Importação (II.) Cargas com valor até US$50 dólares eram isentas, mas desde 1º de agosto passado, o novo
“Imposto das Blusinhas” passou a vigorar, para frear a competição de sites estrangeiros em relação à produção e comércio nacionais. Assim, bens adquiridos por remessas postais e encomendas aéreas internacionais de até US$50 passaram a ser tributados em 20%. Já para produtos com valores entre US$50,01 e US$3 mil, a taxação é de salgados 60%, com uma dedução fixa de US$20 no valor total do imposto.
Além disso, em muitos estados brasileiros também é cobrado o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A alíquota de ICMS varia entre os estados (normalmente entre 17% e 25%) e ele incide sobre o valor da mercadoria somado ao frete, seguro e ao próprio imposto de importação, ou seja, imposto sobre imposto. Essa alta cobrança tem como objetivo a proteção da indústria nacional.
Tem mais: se o produto for enviado pelos Correios, há também uma taxa fixa de “Despacho Postal”, que atualmente é de R$16,50 por encomenda, cobrada pela Receita Federal para cargas internacionais entregues via Correios. Se a entrega for via transportadoras expressas como DHL, UPS ou FedEx, por sua vez, são cobradas taxas administrativas adicionais.
Procedimento de importação
Enquadrada no RTS, a Receita Federal calculará o imposto de importação de 20% ou 60% sobre o valor aduaneiro, conforme o valor. Um detalhe é que a fiscalização pode arbitrar um valor diferente ao produto daquele informado na fatura comercial, quando há uma grande diferença entre o valor na nota e o aplicado no mercado. O destinatário é notificado a respeito dos tributos devidos e deve fazer o pagamento antes de receber a encomenda, sen-
do para isso usado o seu CPF. São isentos de impostos apenas medicamentos para uso próprio, até o limite de US$10 mil (acompanhados de receita médica), livros, jornais e periódicos. Enfim, a carga tributária é alta, o que pode tornar a importação pouco vantajosa em muitos casos. Além disso, nem todos os produtos são permitidos sob o RTS, e há restrições em itens como medicamentos, alimentos e produtos controlados, além da necessidade de conformidade com as normas da Anvisa, Inmetro e outros órgãos reguladores. Há também as demoras na alfândega, com possíveis atrasos no desembaraço, especialmente em épocas de alta demanda.
Cuidados com anúncios de facilidades
Algumas empresas oferecem serviços que facilitam o processo de importação para pessoas físicas, atuando como intermediárias. Elas podem prometer a “facilidade” de importar produtos do exterior com todos os custos e impostos já inclusos no preço final para o cliente. Estas empresas lidam com os trâmites burocráticos, incluindo o cálculo e pagamento dos impostos, e entregam o produto diretamente ao destinatário. “É importante perguntar para a empresa ou pessoa que está oferecendo o serviço como a liberação vai funcionar na chegada do produto no Brasil”, diz Arnon Melo. Entre os riscos para os que optam por empresas duvidosas está o subfaturamento: algumas empresas podem tentar declarar um valor menor do que o real para a mercadoria a fim de reduzir o imposto, o que é ilegal – e, se detectado pela
Receita Federal, pode resultar na apreensão da mercadoria, multas pesadas e até processo criminal. Podem ser também empresas que desconhecem as normas alfandegárias, o que fará o cliente ter problemas como atrasos ou taxas adicionais inesperadas. Por fim, há o risco da qualidade do serviço, com possibilidade até de golpes, onde o cliente paga por uma remessa que nunca chega ou que não cumpre o anunciado. Caso a Receita Federal descubra erros ou tentativas de fraudes nas informações das notas fiscais, o comprador irá pagar os impostos devidos acrescidos de multa. “É importante sempre perguntar às empresas que oferecem esses serviços de redirecionamento como os produtos chegam ao Brasil, como serão liberados junto à alfandega brasileira e se todos os impostos serão pagos na chegada ao Brasil. O consumidor tem o direito de saber se seu CPF será usado de maneira correta junto à Receita Federal”, alerta Arnon. É bom lembrar que todas as encomendas estão sujeitas à fiscalização da Receita Federal no Brasil; “a verificação é feita por amostragem, e se alguém que você conhece importou e não pagou impostos, foi apenas sorte”, diz ele. Mas o governo já está estudando novas medidas de fiscalização, principalmente para combater o contrabando e a falta de pagamento de impostos, que provocam bilhões em prejuízos para o Brasil. “Conhecimento e planejamento são importantes para evitar surpresas desagradáveis”, conclui o presidente da Mellohawk Logistics.
Com mais de 40 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Ao longo dos últimos 17 anos, tem apresentado programas de rádio e podcasts para a comunidade brasileira no Canadá.
Imigração
Você está convidado para os happy hours do Conselho Brasileiro de Cidadania de Ontário
Os encontros do Conselho Brasileiro de Cidadania de Ontário (CONCID Ontário) têm atraído bastante público desde 2023. Eles acontecem, em geral, na última sexta-feira do mês, no Firkin Pub (1075 Bay Street), que fica próximo ao Consulado Brasileiro; começam às 6pm e não têm horário para acabar. Os happy hours são organizados pelos membros do CONCID com o objetivo de oferecer um espaço de confraternização e networking informal para a comunidade brasileira de Toronto e GTA. A comunidade reencontra colegas e amigos ou faz novos contatos com profissionais da própria área ou afins.
Segundo o depoimento de Gustavo Macedo, um dos participantes, “o CONCID é uma ótima oportunidade para conhecer pessoas e construir conexões, e eu recomendo a todos, seja você um
recém-chegado ou al guém que já mora aqui há algum tempo. Além disso, os happy hours muito animados, propor cionando um ambiente descontraído e repleto de trocas significativas entre os participantes”. O networking que é muito rico para todos. Para quem está chegando e ainda está enfrentando os desafios da língua ou da busca/ mudança de emprego, é como um bálsamo poder se comunicar e ser entendido sem barreiras linguísticas e culturais, que costumam pontuar o dia a dia do imigrante. O sucesso desses encontros tem se mostrado no número crescente de participantes, que já chegou a contar com a presença de 60 pessoas. Por vezes, ocorrem até encontros de grupos de profissio -
nais brasileiros de áreas específicas, como o de logística, uma das áreas mais demandadas no mercado de trabalho atualmente. Para ficar ligado e participar, confira sobre os happy hours no Instagram @concidontario, e no Linktree verifique as últimas informações relevantes para a comunidade, assim como as ou-
tras mídias do CONCID Ontário, como o YouTube, o Facebook e o website.
Imigração: um mar de mudanças
É preciso ter um plano B (ou C) para as constantes mudanças nas políticas de imigração do Canadá
Quando falamos em regras relacionadas à imigração, nunca podemos considerar nada como garantido. As políticas migratórias estão em constante mudança, influenciadas por fatores como, por exemplo, a política interna e global, a economia, o mercado imobiliário e educacional. O que acontece é que muitas vezes alguém deixa seu país com um plano bem definido, às vezes investindo milhares de dólares, mas, no meio do caminho, as regras mudam, e essa pessoa, que se planejou cuidadosamente, pode acabar em uma situação indesejável.
Como se prevenir disso? Em alguns casos, é impossível evitar surpresas, mas em muitos outros, ter um plano B (e até mais de um plano alternativo) pode fazer, e
muito, a diferença. Por exemplo, se alguém vem ao Canadá para estudar, é fundamental entender quais programas de imigração podem estar disponíveis mais tarde. Algumas pessoas tomam a sua decisão sem pensar nesses fatores, e isso pode influenciar até na escolha da província ou do idioma para os estudos, considerando que algumas regiões oferecem mais opções de imigração que outras. Se um programa federal for alterado, ter um programa provincial como alternativa pode ajudar.
Outro ponto importante é que, em algumas situações, o plano alternativo pode ser até mesmo ir para outro país ou regressar ao país de origem, se não houver uma opção viável. Ter essa flexibilidade é crucial, especialmente
Venha encontrar sua turma e fortalecer nossa comunidade! Todos são muito bem-vindos!
Plano A Plano B
porque há quem invista muito dinheiro tentando se manter em um país específico sem considerar se esse investimento vale a pena ou não. Está tudo bem ter que redirecionar os planos em algumas situações. Na organização do projeto de imigração, é essencial ter capital de reserva para imprevistos. Não é recomendável vender tudo que se tem para ir a outro país com o orçamento apertado, e todas as esperanças depositadas nesse novo lugar. Imagine alguém que se endivida para estudar no exterior, contando que poderá trabalhar para se sustentar e, após chegar, descobre que o governo limitou as horas de trabalho para
estudantes. Isso já aconteceu aqui no Canadá, e novas restrições podem acontecer aqui ou em qualquer outra parte do mundo. Sem uma reserva financeira adequada, essa pessoa pode enfrentar grandes dificuldades. Por fim, é muito importante se informar sobre os programas de imigração e se manter sempre atualizado sobre as políticas locais e as tendências globais. Algumas mudanças acontecem repentinamente, mas outras já
começam a ser discutidas com certa antecedência. Buscar orientação profissional é também uma estratégia extremamente valiosa para entender melhor o cenário, ao invés de confiar cegamente em comentários de leigos em redes sociais. Não planeje a sua vida através das redes sociais; a informação de fontes confiáveis é o melhor investimento para quem planeja imigrar.
Superando a saudade da terra natal
Voltar
ser mais difícil do que parece
Morar fora do país nativo envolve um planejamento cuidadoso. Mesmo que todo o processo esteja concluído, a mudança em si pode ser um desafio. Em muitos casos, a pessoa se muda sozinha, em busca de um emprego melhor e de um local seguro para se estabelecer antes de trazer a família. No entanto, um problema surge nesse trajeto: a saudade.
Como superar a falta do abraço dos pais? Como se contentar com o beijo virtual do cônjuge que está do outro lado da tela do smartphone? Como aliviar a angústia de não ter os amigos mais próximos nos churrascos de fim de semana? Como não chorar ao ver o filho dizendo que não aguenta mais a ausência? Essas são perguntas sem respostas fáceis, pois somos sensíveis a tudo isso. A tecnologia trouxe muitos avanços para nossas vidas, mas nunca conseguirá substituir uma pessoa amada. Ela nos aproxima de quem está longe através das redes sociais e mensagens de WhatsApp, mas não pode fazer um teletransporte para estarmos
perto de quem desejamos, mesmo que seja por apenas cinco minutos.
Um filme que ilustra bem essa ideia é The Fly [A Mosca], um filme de ficção científica lançado em 1986, dirigido por David Cronenberg. A trama gira em torno de Seth Brundle (interpretado por Jeff Goldblum), um cientista brilhante que desenvolve uma máquina de teletransporte. No filme, a experiência é frustrada, mas o cerne da abordagem é o desejo de transportar uma pessoa para outro local, o que seria maravilhoso. Se hoje isso fosse possível, certamente aliviaria muito a saudade. No entanto, como essa máquina não existe, precisamos utilizar os recursos disponíveis neste século, como, por exemplo, as chamadas de vídeo. Retornar ao país de origem não é uma opção, especialmente porque o planejamento da saída foi concluído, e o retorno nem sempre é simples. Em determinadas situações, pode surgir a chamada “síndrome do regresso”. Concebido pelo neuropsiquiatra Dr. Décio Nakagawa, esse termo descreve o processo de readaptação que muitos enfrentam ao
retornar ao seu país de origem. A síndrome do regresso é mais comum do que se imagina. Ela se manifesta quando uma pessoa volta para casa e, em poucos dias, percebe que a saudade se limita à família, e não à cultura, aos costumes, à casa ou ao ambiente. Além disso, a perda de privacida-
de pode representar um desafio significativo, exigindo uma nova adaptação que muitos não conseguem suportar. Assim, a sensação de reviver o passado pode se tornar mais difícil do que viver em um país estrangeiro, onde tudo é novidade e repleto de possibilidades. Assim, a alegria inicial passa
rápido e logo surge o desejo de planejar uma nova saída do país. Podemos concluir que a realidade é angustiante – até porque, a máquina de teletransporte não existe – e regressar não está nos planos. Contudo, a saudade continua “rasgando” o coração. O que podemos fazer para atenuar isso? Algumas dicas podem ajudar quem está passando por esse desconforto:
• Pratique atividades físicas;
• Faça chamadas de vídeo alegres;
• Experimente a meditação;
• Procure ouvir canções animadas;
• Busque lazer local;
• Faça novas amizades;
• Participe da comunidade: conecte-se com brasileiros para compartilhar experiências e conversar sobre coisas que apenas vocês entendem.
É claro que eliminar totalmente a saudade é impossível, mas é possível amenizá-la o suficiente para que se consiga permanecer num país longe de sua terra natal.
Uma das clínicas odontológicas mais tecnológicas do Brasil
Diagnóstico 100% digital
Especialistas em todas as áreas + de 20 anos de experiência
Escaneamento dentário • Microscopia • Tratamento com laser • Anestesia computadorizada sem dor • Raio-X digital
Cultura
Ele já não é mais o mesmo
Saudações, meu povo. Foi no inverno de 2004, há exatos 21 anos, que eu escrevi pela primeira vez para um jornal brasileiro em Toronto, na época o Brasil News. Se você já está na praça há um tempo, talvez já tenha lido algum artigo meu. Ou talvez não, porque resolveu ser metido a besta e não pega jornal brasileiro no açougue pra fingir que é gringo. Eu não devia, mas vou avisar: não adianta. Uma hora você vai ter que falar “Batman” e vai entregar a paçoca falando “bátima”. Portanto, relaxe. Entregue logo pra portuguesa do caixa que você é do Brasil, pegando um exemplar do Jornal de Toronto pra ler à moda antiga, folheando como papai fazia – o que antes era banal, hoje é uma experiência retrô.
Olha só que tristeza, o texto durou três linhas e eu já mudei de assunto. Isso tem acontecido às vezes, e é uma das coisas que me deixa cabreiro. É definitivamente um grande prazer voltar a colaborar com o Jornal de Toronto, onde escrevi entre 2017 e 2022, mas ao mesmo tempo dá medo por um simples motivo: o tempo passou, a idade avançou, e já não sei quem eu sou (e se nesse momento você sentir uma gotinha caindo
na cabeça, é Carlos Drummond de Andrade chorando de tristeza no céu). Mas a pergunta é válida mesmo: quem é esse cara hoje em dia? Escreve como? Jogou com quem? Tava fazendo o que nesse meio tempo, tava preso? Tava na droga? Ah, certamente é droga. Ou foi jogo de sinuca valendo? Perdeu tudo no baralho? Tá vendo como é a peste da idade? Num mundo em que tá todo mundo endividado por apostar nas Bets, o eunuco de faraó ainda tá na casa de Potifar falando em jogar baralho valendo! Quem é que faz dívida com baralho a dinheiro hoje em dia, quando a tecnologia se coloca a serviço pra facilitar a vida do cara que quer se lascar? É, tem jeito não, a gente vai ficando pra trás. Lá naquele início dos anos 2000, eu fazia um show de anos 80 no violão e voz, e era sempre muito animado. Hoje em dia, ou é a vasta maioria do público brasileiro em Toronto que desconhece essa época longínqua, ou é porque não combina um cara de óculos e barba meio grisalha tocando Plebe Rude. Você continua se sentindo a mesma pessoa, mas o mundo tá vendo outra coisa. Muitos dos meus contemporâneos se acabavam de dançar house, Milli Vanilli, Technotronic e outras modas de outrora, em seguida
viraram ratos de Micareta, dançaram muito axé... Mas daí o tempo foi passando e, naquele desespero da idade batendo, e na necessidade de se tornarem “diferenciadões”, esconderam o passado debaixo do tapete, viraram todos devotos do roquenroll e inimigos de todos os outros estilos. Que coisa, daí você chega ao Brasil e tá aquele monte de véi bobo suando camisa social Dudalina em show de banda cover do Queen. Eu descobri o rock aos 15 anos, deixei o cabelo crescer e virei ímã de bullying por causa disso. Fui chato, fui besta de não dançar passinho e ver show do Asa de Águia, e ainda por cima era o primeiro que a polícia mandava botar a mão na parede. Mas colecionei discos, comecei a tocar, aprendi muito, e acho que o rock e esse pedantismo que ele traz passou por mim no momento certo da vida. Daí ele se sentou ao lado de vários outros estilos, e nós todos convivemos em paz. E não, não cuspo no prato nem virei defensor de outros estilos, pelo contrário, tenho minhas críticas a todos. Só não sou diferenciadão nem quero ser, meu conhecimento de rock e minha bela coleção de discos de vinil não são armas pra enfrentar as novas gerações que vêm aí passando o trator. Se não sou o mesmo de 20 anos atrás, ao menos nesse ponto eu encarei a idade com dignidade.
Toda essa dignidade vai embora pelo ralo quando eu entro no bar Amigos da Dundas, sede do consulado atleticano Galo Toronto, com aquela mesma crista de Galo na cabeça que eu uso desde as antigonas. Virei meio que o Dadá Maravilha dos torcedores de futebol brasileiro aqui, aquele torcedor folclórico que você quer ver revoltado quando seu time ganha do dele (o que é raro, porque o Galo é uma força da natureza. E mesmo que por acaso perca, cê não vai me achar pra me zoar porque eu não sou besta de dar bobeira do seu lado!). Portanto, não, não sou melhor que ninguém: seja a ferro, no cartão ou no débito, se tem vergonha pra passar eu também passo; afinal, eu também ri da propagada do tio da Sukita, e também me tornei o próprio (com a exceção de que não mexo com mulher no elevador. Véio safado, aí não!).
Fiz 50 esse ano. Quem é esse cara agora? Aquele humor de 20 anos atrás era alimentado pelas roubadas que o recém-chegado encara. Dividir casa, ganhar pouco, trabalhar em tudo quanto é emprego, achar móvel na rua se pelando de medo de bedbug, conhecer um Brasil longe do Brasil, lidar com povos diferentes, limpar neve, botar ratoeira, encarar um zero medonho de mulher na vida – Ave Maria, que seca que foi aquela... E agora, como encontrar inspiração na vida pacata e bem resolvida? Mas não tô reclamando não, viu? Deus que me livre e guarde, eu deixo de escrever até cheque mas não quero voltar naquele tempo (Cheque!!!! O cara falou “cheque”. Ei Tio Barnabé, o que é isso?).
E no fim, esse é o grande detalhe: muito se diz, “no meu tempo era melhor”, mas não, no meu tempo não era melhor. A única certeza que eu tenho, que me faz esquecer a dúvida e o medo que o avançar da idade me traz, é a de que o tempo bom é o presente. Terei saudades, arrependimentos? Definitivamente, pois são partes saudáveis de nós, mas com a certeza de que o presente é bom demais e que é muito bom poder viver e produzir nele, seja de que jeito corpo e mente ainda consigam. Como isso vai se traduzir no papel eu não sei, só sei que “faz escuro mas eu canto” (Thiago de Mello). Adeus, cinco letras que choram.
Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, e um grande cronista do samba e das letras. Formado em Ciência da Computação no Brasil e pósgraduado em Marketing Management no Canadá. É colunista do Jornal em Toronto desde 2017.
Instagrâmicos
Do smartphone ao dumbphone: a volta à experiência analógica
mariana sChuetze é jornalista
A empresa Meta bloqueou as páginas do Instagram e do Facebook de todas as agências de notícias do Canadá. Siganos no www.jornaldetoronto.ca, no Linkedin e no Bluesky.
People in Canada can't see this content @viaoens
Blisk lit up our studio with their traditional Eastern European folk songs. On the REVERB podcast show, hosted by Erin Ademoglu, Stephania Woloshyn and Ekaterina shared their amazing stories, traditions, and music. Listen to the whole episode on Spotify or Apple Podcast.
Semana passada, eu estava assistindo a um tutorial de como transformar meu smartphone, transbordando com distrações e cores, em um dumbphone, uma máquina puramente funcional –buscando pelo básico: ligação, mensagem e foto.
Essa não é uma experiência isolada. Se você ainda não foi pêgo pela nova tendência das tecnologias analógicas, logo será. Flip phones, livros, revistas e jornais físicos, discos de vinil e até walkmans estão na moda novamente. Considerando o mundo digital como algo completamente poluído, com anúncios, sons e imagens bombardeando as nossas telas, e vidas, não é difícil entender por que muitos estão migrando de volta ao universo analógico, mesmo que parcialmente. Na reportagem “The perfect escape from our online world”, publicada pela Vox em 2024, a jornalista Zoë Bernard analisa nosso uso atual dessas tecnologias, os vícios associados e como alguns tentam escapar das “garras do mundo digital”. Essa busca pelo analógico talvez esteja refletindo um desejo por uma realidade mais concreta, mais pé-no -
-chão. Com a internet, especialmente as redes sociais, muitas vezes nos perdemos em uma realidade imaginária; já sentar com um jornal no sofá nos incentiva a viver o presente. Desconectar é exercitar até mesmo o tédio, visto pela maioria como um grande monstro do qual todos nós precisamos fugir. Nesse mundo no qual tudo e todos estão a um clique de distância, aquilo que não estiver disponível instantaneamente corre o risco de se tornar obsoleto. Mas não é bem assim. A reportagem de Bernard conclui que esse movimento de volta ao analógico é uma busca justamente por uma tecnologia mais lenta, mas que ao fim vai nos trazer sensações que as ferramentas digitais não conseguem proporcionar. Como ficam as notícias no Canadá?
No Canadá, a situação é um pouco diferente. Estamos, de uma certa maneira, sendo empurrados para um mundo digital pouco inteligente. Em agosto de 2023, a Meta, empresa-mãe do Instagram e Facebook, começou a bloquear no Canadá o acesso a notícias em suas plataformas, como uma resposta dramática à Bill C-18, conhecida como
“Online News Act”, sancionada um mês antes. A lei, criada para promover a justiça no mercado digital de notícias, busca combater a desinformação, garantir acesso a fontes de notícias confiáveis – em um ambiente saturado de conteúdo digital superficial – e ao pagamento correto das agências que produziram as notícias. De acordo com a 2020 General Social Survey - Social Identity (GSS SI), 95% dos canadenses entre 15 e 34 anos acessaram suas no -
Destinos turísticos criados por Inteligência Artificial
da Cruz é administrador do
tícias online naquele ano. Segundo uma outra pesquisa, da Statistics Canada de 2023, as principais plataformas online utilizadas para notícias no Canadá em 2022 foram Facebook, YouTube e Instagram. Com a implementação da Online News Act, empresas como Meta e Google devem pagar por conteúdos de notícias compartilhados em suas plataformas, algo que elas se recusam a fazer. Como consequência, o bloqueio da Meta força os usuários a buscarem notícias em outros lugares ou a ignorá-las, o que se torna perigoso. Por outro lado, newsletters, revistas e jornais impressos podem se tornar o novo go-to daqueles que querem se manter informados. Comparado com a visita poluída ao mundo digital, cheio de anúncios e imagens pulando em sua frente, sentar e ler um jornal impresso pode ser muito mais prazeroso. Realmente, o nosso uso das tecnologias e das redes sociais não é só um vício, é quase uma obrigação da sociedade contemporânea. Esse movimento em direção ao analógico, liderado pela geração Z, pode representar uma nova revolução na forma como consumimos informação.
Seu destino de viagem pode não ser o que está sendo divulgado para você pedro
Portugal é um país lindo, que não exige muito em termos de filtros de imagem ou retoques. No entanto, é importante que você esteja ciente de que há uma tendência crescente online de páginas querendo enganar seus olhos. Hoje em dia, há muitas fotos geradas ou retocadas por Inteligência Artificial (IA) sendo compartilhadas no Facebook, Instagram e
outras plataformas de mídia. E todas elas têm um propósito: são iscas de cliques de bots que querem que você siga suas páginas, para que eles possam ganhar dinheiro com publicidade com base no número de seguidores. Se você receber uma mensagem dizendo “você curtiu minha foto e deveria seguir minha página”... NÃO SIGA.
Um bom exemplo é a imagem mostrada aqui à esquerda: ela não é do Algarve, é uma foto falsa de Benagil. No entanto, o post obteve mais de 1000 reações e centenas de comentários. As pessoas estão sendo enganadas com fotos falsas de praias e belos edifícios em Portugal que não existem!
Tenha cuidado e não acredite em tudo o que você vê
em algumas dessas páginas de influenciadores e grupos de viagens em Portugal. É importante prestar atenção e seguir grupos que são bem administrados e ativamente gerenciados. Se a imagem parece perfeita demais, provavelmente é fake Independentemente da Inteligência Artificial, de uma coisa você pode ter certeza: o Algarve é mesmo lindo!
&Cotidiano
Qual é o perfil dos evangélicos na maior cidade do Brasil?
rodriGo toniol
Ainda no primeiro semestre de 2024 fui convidado para compor um pequeno grupo de pesquisadores cuja missão era estruturar um questionário que seria aplicado na cidade de São Paulo pelo Instituto Datafolha sobre o tema “evangélicos e política”. Junto com o também antropólogo Juliano Spyer, a socióloga Christina Vital e o cientista político Vinícius do Valle, elaboramos um extenso questionário que nos ajudasse a entender qual é o perfil dos evangélicos na maior cidade do país.
Se agruparmos os resultados da pesquisa e montarmos um perfil médio do evangélico paulistano, suas características seriam a de uma mulher negra, com ensino médio completo, renda individual mensal de até um salário mínimo, casada, que frequenta uma igreja pentecostal pequena, com capacidade de, no máximo, 200 pessoas, mais de uma vez por semana.
Esse não é um perfil surpreendente. Há mais de uma década está consolidada não somente a presença feminina e negra nessas comunidades religiosas, como também poderíamos dizer que, numericamente, a religião mais negra do país é evangélica. No entanto, um dado que merece atenção, captado pela pesquisa e muito menos debatido pela opinião pública, e mesmo entre especialistas, diz respeito ao tamanho das igrejas. Ao contrário das imagens que se tornaram clássicas ao longo da década de 1990 e dos anos 2000, de templos evangélicos imensos que recebiam milhares de pessoas diariamente, a realidade cotidiana dos evangélicos em São Paulo é a de frequentar templos pequenos.
Esse fato importa por, pelo menos, duas razões. A primeira delas é que esse dado nos reafirma que, ao falarmos dos “evangélicos”,
estamos tratando de um grupo muito diverso internamente. Essa diversidade está expressa nas inúmeras igrejas que se espalham pelas cidades brasileiras, cujos perfis teológicos, políticos e comunitários variam bastante. A segunda razão da relevância, do fato das pequenas igrejas serem a maioria, diz respeito ao progressivo questionamento que pastores com perfil político-midiático têm sofrido ao pretenderem falar em nome de todos os evangélicos.
Sobre a relação mais explícita entre religião e política, mais de 76% dos evangélicos entrevistados afirmaram serem contra que líderes religiosos usem o culto de suas igrejas para falarem de assuntos políticos. Diante da consolidação de um perfil de evangélico que cada vez mais se reconhece a
partir de sua própria diversidade, e que se incomoda com o uso político do púlpito, resta saber quais serão os efeitos disso para as transformações na nossa relação entre religião e política ao longo dos próximos anos.
Rodrigo Toniol é antropólogo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É membro da Academia Brasileira de Ciências. Atualmente, é professor visitante na Universidade de Leipzig, na Alemanha.
Como foi a primeira temporada do podcast “Causas e Causos: seus direitos no Canad á”
Wanessa oliveira & eduardo oliveira são advogados e apresentadores do programa problemas de ordem jurídica que podem surgir após iniciar a vida por aqui. O programa tem prestado um serviço de grande importância para a comunidade, já que há um sério problema de acesso à Justiça em Ontário. O primeiro episódio trata de serviços jurídicos gratuitos, incluindo o Legal Aid e Legal Clinics na província de Ontário. Também foram dadas dicas fundamentais sobre a importân-
Ao longo do último ano e meio, o podcast “Causas e Causos: seus direitos no Canadá”, produzido pelo Jornal de Toronto e em parceria com a Brazil Canada Bar Association (BCBA), publicou uma série de episódios com os mais variados temas sobre questões jurídicas que afetam o dia a dia da comunidade brasileira no Canadá. O objetivo do podcast é informar o público em geral sobre potenciais desafios ao lidar com
cia de contratar profissionais qualificados no Canadá para dar assistência jurídica em diferentes situações.
Nos sete episódios publicados nessa primeira temporada, foram abordados temas de interesse geral, como divórcio, imigração, direitos dos locatários, entre outros. O segundo e o quinto episódios tratam de como abrir sua empresa no Canadá e quais questões considerar durante o
Você poderá ouvir todos os episódios do "Causas e Causos" no site do Jornal de Toronto ou em sua plataforma de podcast preferida:
processo de abertura. O terceiro episódio trata de separação e divórcio. O episódio quatro discute o direito de buscar indenização por danos causados pelo famoso “slip and fall”. Além disso, no episódio seis, tratou-se da lei do inquilinato e direitos dos locatários no cenário de despejo. O sétimo episódio detalha as questões referentes à aplicação para residência permanente (PR) por razões humanitárias.
Anuncie em
O “Causas e Causos: seus direitos no Canadá” vai continuar trazendo novos temas nos próximos meses e ampliar a discussão para frentes pouco abordadas em geral, como, por exemplo, a parte do direito criminal. Também vamos incorporarar mais contribuições de ouvintes e pedidos do público.
Não deixe de acompanhar os próximos episódios!
Política
Trump presidente e os impactos sobre a democracia no planeta
Donald Trump foi eleito com certa folga para um segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, ao contrário do que predisseram vários institutos de pesquisa que haviam projetado uma disputa acirrada com Kamala Harris, a candidata democrata. Mesmo usando linguagem desabrida, sobretudo contra os imigrantes latino-americanos, e ostentando o apoio de grupos supremacistas brancos, Trump conseguiu a surpreendente adesão da maioria dos próprios latinos, negros e jovens.
O desempenho da economia sob o presidente Joe Biden não foi capaz de superar a narrativa trumpista sobre fazer, de novo!, “a América grande” (no original, “Make America Great Again”, slogan também conhecido pela sigla MAGA).
Trump se dirigiu novamente aos excluídos da globalização econômica, os americanos medianos com baixa qualificação profissional, que alimentam notório res-
sentimento contra as elites bem pensantes e cosmopolitas que formam também o núcleo duro do partido democrata. Reintegrar tais trabalhadores a uma economia dependente das cadeias produtivas globais será uma tarefa muito difícil, senão mesmo impossível. Seria mais congruente acenar com um programa de renda mínima universal, uma proposta muito atraente para os excluídos da globalização, ou com programas de qualificação ou retreinamento; tais propostas, todavia, não seriam compatíveis com a narrativa grandiosa contida no mote MAGA. Líderes populistas adotam soluções simplistas e imediatas, não respostas complexas de execução gradual. No campo político, os receios de regressão do status democrático são ainda maiores, considerando que Trump é apoiado por grupos de extrema-direita, alguns deles supremacistas brancos, que não excluem o recurso às teorias da conspiração como instrumento de propaganda. Essa vinculação com grupos radicais de direita parece remontar à própria trajetória da família de Trump. No livro O Crepúsculo da Democracia (editora Record), a jornalista Anne Applebaum narra que, nos anos 1920, o pai de Trump foi preso junto com membros da Ku Klux Klan!
A grande questão é se Trump será capaz de concentrar poderes executivos exorbitantes a ponto de reduzir a qualidade da democracia americana, convertendo-a em uma autocracia tal como sucede hoje om alguns países como Hungria,
André Oliveira (à esquerda) é advogado com especialização em Direito Público, doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco e membro da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) desde 2009. Rodolfo Marques é servidor público, publicitário e jornalista; Mestre (UFPA) e Doutor (UFRGS) em Ciência Política; e professor na Universidade da Amazônia e na Faculdade de Estudos Avançados do Pará.
Turquia e Rússia. A literatura em ciência política recentemente modificou seu entendimento para indicar que erodir as instituições da democracia liberal não é uma tarefa fácil para os líderes de perfil autoritário. Neste sentido, o cientista político americano, e professor da Universidade de Harvard, Steven Levitsky reviu em artigo sua posição catastrófica sobre a “morte” das democracias para reconhecer que elas apresentam resiliência diante de ameaças autoritárias.
Trump vai governar com maioria na Corte Suprema, Senado e Câmara (House of Representatives); portanto, não será espantoso se tentar ampliar seus poderes executivos, tornando-os exorbitantes, de modo a causar desequilíbrio entre os ramos de poder e, assim, rebaixar a qualidade da democracia americana. Se tentar essa via, o que reputamos como provável, restará à sociedade civil estadunidense, ainda que escorada em minorias, bem como à imprensa livre e às organizações independentes, resistir às intentonas autoritárias.
Afinal, o incremento do déficit democrático nos Estados Unidos, cujos Pais Fundadores mostraram ao mundo que poder democrático é poder compartilhado, seria uma catástrofe planetária para a causa da liberdade política. Se os recentes trabalhos em ciência política estiverem certos, a democracia americana mostrará resiliência às eventuais investidas autocráticas, uma hipótese que esperamos venha a se cumprir.
“Cada brasileiro no exterior é um representante de nosso país”
O Embaixador Enio Cordeiro assumiu o Consulado-Geral do Brasil em Toronto em junho de 2024, e concedeu, para nossa Edição de Inverno, uma importante entrevista a Alexandre Dias Ramos, editor-chefe do Jornal de Toronto: alexandre dias ramos – O senhor foi cônsul-geral do Brasil em Nova York, num país onde a comunidade brasileira é muito grande. Quais as diferenças que o senhor tem visto entre a comunidade brasileira dos Estados Unidos e a daqui?
enio Cordeiro – Primeiramente, agradeço o convite desta entrevista, com que o Jornal de Toronto me concede valiosa oportunidade de dirigir-me à comunidade brasileira. Deverei, em princípio, exercer a função de Cônsul-Geral em Toronto nos próximos 3 anos e essa é a terceira vez que exerço a chefia de um posto consular na América do Norte. Fui chefe do então Consulado em Houston, em 1994-95, e do Consulado-Geral em Nova York, de 2018 a 2021.
A diáspora de cidadãos brasileiros no exterior é, como todos sabem, um fenômeno relativamente recente, que se fortaleceu nas últimas duas décadas, a ponto de tornar-se um verdadeiro patrimônio cultural, que reforça a presença e a expressão do nosso país em todo o mundo. Esse movimento criou novas demandas sobre o serviço consular brasileiro e determinou a necessidade de aperfeiçoá-lo para ampliar a capacidade de atenção aos brasileiros residentes no exterior. Esse é um processo em permanente evolução, e a contribuição da própria comunidade brasileira em cada jurisdição consular é um elemento fundamental para que os objetivos sejam continuamente alcançados.
Estima-se que cerca de 5 milhões de brasileiros vivem atualmente no exterior, entre os quais mais de 2 milhões encontram-se nos EUA. Outras comunidades numericamente importantes estão em Portugal, Reino Unido, Itália, Irlanda, Espanha, Japão, Canadá, Bolívia e Paraguai. Mas, de maneira geral, os cidadãos brasileiros estão hoje presentes em todas as partes do mundo e constituem comunidades ativas, visíveis, solidárias e trabalhadoras. São parte da imagem do Brasil no mundo e isso é muito importante. Costumo dizer, a esse respeito, que todo brasileiro expatriado é, na verdade, um representante de nosso país no exterior. O perfil das comunidades brasileiras no exterior é bastante variado e com características distintas em cada país. Em Nova York, por exemplo, além da presença de cerca de meio milhão de brasileiros, registra-se um fluxo anual de cerca de 1 milhão de turistas brasileiros que visitam anualmente os EUA e que ingressam no país
e retornam ao Brasil através dos aeroportos da cidade. No Canadá, estima-se a presença de cerca de 140 mil brasileiros, dos quais 90-100 mil vivem na jurisdição do Consulado-Geral em Toronto. Trata-se, na maioria, de famílias jovens, de estudantes e profissionais que aqui vivem com situação migratória permanente ou temporária. São muitos os estudantes de idiomas, artes e ciências, assim como os bolsistas e estagiários brasileiros que ingressam anualmente no Canadá e encontram oportunidades de permanecer. Outros postulam, desde o princípio, a condição de imigrantes. É importante também, na comunidade brasileira, o percentual de cidadãos com dupla nacionalidade, condição que também se estende a seus filhos, pequenos brasileiros que são também canadenses.
Toronto é o grande espelho do multiculturalismo no Canadá, e os brasileiros se sentem aqui, de maneira geral, numa terra acolhedora e generosa. A contribuição cultural da comunidade brasileira na cidade se faz cada vez mais presente e visível com manifestações artísticas espontâneas. O vigoroso empreendedorismo dos imigrantes brasileiros, inclusive na gastronomia e na importação de produtos alimentícios, é também um traço marcante dessa presença. alexandre – Em seu post no Facebook do Consulado, no último 3 de setembro, o senhor expressou a necessidade de “superar com crescimento econômico, liberdade e democracia as desigualdades sociais que ainda marcam tão profundamente o nosso país”, e também falou sobre a responsabilidade das autoridades e representantes nesse desafio. Como podemos fortalecer esses valores em nossa comunidade?
enio – Essa é uma tarefa de todos os brasileiros e é algo que sempre faço questão de relembrar nas ocasiões em que celebramos a Data Nacional. Transformar verdadeiramente o Brasil significa resgatar os direitos de cidadania dos milhões de excluídos que temos entre nós. Isso exige mobilização permanente de recursos para investimento em políticas sociais. Exige responsabilidade dos governantes e solidariedade de todos.
A conscientização política dos desafios é importante para a sociedade como um todo. E nossa capacidade coletiva de empreender e promover soluções transformadoras depende muito da sensibilidade social e do comprometimento político dos que exercem a responsabilidade de dirigir e governar.
A enormidade dos desafios que enfrentamos nas áreas de educação, saúde, emprego e habitação traduzem em números pungentes o retrato da desigualdade no Bra-
sil. Somos ainda um país com um massivo contingente de analfabetos funcionais, um país em que o espectro da fome e da desnutrição infantil ainda precisa ser removido, um país em que uma enorme parcela da população não dispõe de condições dignas de moradia, de acesso à água tratada e de saneamento básico. Criar um país mais igualitário para as futuras gerações precisa ser nossa ambição coletiva e nosso projeto central como nação.
alexandre – Num país tão polarizado como o nosso – algo que também temos visto em outros países – qual o papel do Consulado para a união da comunidade, independentemente da preferência por um determinado partido político?
enio – A polarização é um movimento natural nas sociedades e isso não é necessariamente negativo. Toda convicção profunda se traduz necessariamente num pólo de pensamento e de ação. É importante ter convicções. Mas é importante ter a mente aberta ao pensamento divergente, à visão e às razões do outro. Isso é importante não apenas no plano interpessoal, mas também na dialética entre os grupos sociais, entre os partidos políticos e também na convivência entre as nações.
O que se mostra sempre negativo é uma persistente inclinação a reduzir as opções a dois únicos pólos opostos e excludentes. Nada de duradouro se pode alcançar fora de um ambiente democrático e plural. Não é necessariamente negativo que as sociedades se mostrem politicamente divididas. Pelo contrário, esse é um dos pressupostos para que ocorra a alternância no poder – princípio tão caro à democracia. As falsas unanimidades, forjadas pela propaganda política, constituem um risco maior para a democracia. Para um país como o Brasil, nada pode ser mais favorável do que um mundo multipolar e cooperativo. E, internamente, nossa fortaleza como sociedade depende da estabilidade das instituições, da civilidade e do respeito ao pluralismo. Esses são os valores que precisamos sempre cultivar. alexandre – Já ouvi a comunidade reclamar da falta de ação do Consulado em resolver alguns problemas, individuais ou coletivos; no entanto, entendo que nem sempre é possível que o Consulado tenha condições de fazer alguma coisa. O senhor poderia nos explicar um pouco
sobre o objetivo e a função de um Consulado para sua região? enio – O serviço consular brasileiro deseja estar próximo das comunidades, servir e atender a suas necessidades com presteza e eficiência, dentro de suas possibilidades institucionais, que são claramente definidas no ordenamento brasileiro e na Convenção de Viena sobre Relações Consulares. Os consulados devem ser também um ponto de referência e de apoio a iniciativas espontâneas da comunidade brasileira no exterior. A rotina diária de um serviço consular consiste na emissão de documentos de viagem, na realização de registros notariais e na emissão de vistos para estrangeiros. Somam-se a isso as atividades de assistência a brasileiros em casos de desvalimento ou quando buscam orientação em questões relacionadas com sua adaptação ao país onde vêm residir. A condição de expatriado, por vezes, envolve uma carga emocional marcada por situações de insegurança e instabilidade. É muito importante que, nessas condições, as pessoas possam encontrar no Consulado e nas associações comunitárias um ponto de apoio e de orientação, inclusive no que se refere à possibilidade de acesso a serviços de assistência localmente disponíveis. Além dessas tarefas, os consulados atuam como interlocutores com as autoridades locais sobre assuntos de interesse para o Brasil e desenvolvem atividades de promoção comercial, atração de investimentos, apoio ao empreendedorismo, promoção e divulgação cultural, apoio à cooperação em ciência e tecnologia, e apoio ao ensino do português e do seu uso como língua de herança. Em grande medida, no exercício dessas atividades, é importante que os consulados atuem em parceria com instituições locais, com as câmaras de comércio e associações comunitárias. Outra tarefa fundamental do serviço consular é atuar na realização dos processos eleitorais no exterior.
Atender aos cidadãos com presteza e cordialidade é dever e obrigação de todos os funcionários consulares. Contudo, nem sempre é possível satisfazer inteiramente às expectativas. É normal que isso ocorra. O atendimento do Consulado-Geral em Toronto está informatizado e é feito com
agendamento prévio, salvo em situações emergenciais para as quais existe um sistema de plantão permanente. São oferecidos até 40 atendimentos presenciais diários, além da resposta tempestiva às consultas recebidas por correio ou meios eletrônicos. O Consulado-Geral estabelecerá um instrumento de avaliação voluntária de seus serviços pelos consulentes, inclusive com a possibilidade de sugestões. De maneira geral, os consulentes mostram-se satisfeitos com o atendimento recebido. Em casos pouco prováveis de atendimento descortês ou inapropriado, os consulentes podem dirigir-se diretamente à atenção da chefia do Consulado-Geral, através do endereço cg.toronto@ itamaraty.gov.br ou referir-se à Ouvidoria do Ministério das Relações Exteriores, através do endereço ouvidoria@itamaraty.gov.br. alexandre – O senhor foi chefe da Divisão de Meio Ambiente do Itamaraty, além de ter sido membro do Conselho de Administração da Usina de Itaipu. Como o senhor vê o impacto das mudanças climáticas na economia brasileira? enio – São duas encarnações anteriores em minha carreira de 50 anos no Serviço Exterior Brasileiro. Fui chefe da Divisão de Meio Ambiente do Itamaraty, em 199597, e representei o Ministério no Conselho de Administração de Itaipu, quando exerci a função de Subsecretário-Geral para a América do Sul, em 2008-10. Especificamente sobre a questão da mudança climática, participei de reuniões do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), ainda em 1989, no período anterior à Conferência do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, na qual foi aprovada a Convenção-Quadro pelas Nações Unidas. O enfrentamento da questão da mudança climática está entre os principais esforços empreendidos pelo multilateralismo e pela cooperação internacional nas últimas décadas. Não é demais enfatizar a urgência na adoção pelos países de medidas adicionais de contenção do aquecimento global, tendo sempre presente o princípio da responsabilidade comum mas diferenciada. O Brasil tem sido um ator internacional de grande destaque nesses esforços, e a realização em Belém do Pará, em 2025, da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas deverá representar um momento fundamental para a implementação dos compromissos internacionais com relação à redução das emissões globais de gases de efeito estufa, proteção das florestas e de avanços na transição energética, com uma cooperação internacional mais efetiva e cumprimento das obrigações financeiras e de transferência de tecnologia assumidas pelos países desenvolvidos.