Jornal de Toronto #12

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Jornal de Toronto Queen Street West Mural Project

Aquela “corrente pra frente” hoje tem elos de rosquinha Mabel

O artista brasileiro Christiano De Araujo venceu o Queen Street West Mural Project, com uma obra que representa a cultura e a história da vibrante Queen Street West. O mural agora faz parte do incrível acervo de murais e grafites espalhados pela cidade. p. 5

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edição # 12 | ano # 1 | junho 2018 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855

A origem da Festa Junina

Você não me representa José Francisco Schuster

Deveríamos ter muito equilíbrio na hora de escolher quem nos representa politicamente, pois os rumos de uma cidade, de um estado ou província, e de um país, mexem com o rumo de nossas próprias vidas e com o nosso destino. p. 6

eduardo p. s.

Seguem as homenagens aos 30 anos da comunidade brasileira no Canadá p. 4

Mas, por que eu não posso traduzir? Emma Sheppard Quando me mudei para o Brasil, eu acreditava – porque eu sempre repetia isso – que a única maneira de aprender uma nova língua era nunca traduzir, para assim poder ensinar e aprender estando completamente imerso no inglês, se essa era a língua que você estava tentando aprender. Durante

mustafa kucuk

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o tempo que fui professora de inglês no Brasil, aprendi – enquanto lutava com explicações de gramática que eu mal conseguia entender – que essa regra não era tão sagrada quanto eu pensava, pois havia buracos nela. Houve momentos em que passar para o português tornava a aprendizagem melhor, não pior. p. 5

GOOD NIGHT.

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5 dicas que vão te ajudar a economizar e manter as suas contas em dia p. 3

Vai viajar para o Brasil?

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Editorial

Eis que chegamos na edição de #12, o que significa que estamos para completar 1 ano de vida – dia 10 de julho, quando foi lançada nossa primeiríssima edição. Portanto, já estamos em festa! Esta edição acabou se formando por uma linha mais idílica, onde não só a Festa Junina comemora o fantástico e o lúdico, mas também os 30 anos da comunidade brasileira no Canadá; o mural criado pelo artista Christiano De Araujo em homenagem a Queen St. West, a rua mais multicultural de Toronto; ou a homenagem a Chapada dos Veadeiros, escrita e pintada por Jhon Bermond. Há um pouco de sonho e ficção em tudo, e nossos políticos certamente vivem nele (ou dele, quero dizer, dos nossos). Também sonhamos com nossa viagem de julho, mas que precisa de um pouco de planejamento para não nos deixar nas nuvens. E nem sempre o que falamos é o que dizemos, e Emma Sheppard nos traz mais uma divertida coluna sobre os caminhos entre o português e o inglês. E Cristiano de Oliveira traz toda sua empolgação com a Copa do Mundo 2018. De uma forma ou de outra, tudo é festa! ADR Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Gerente de mídia social: Luiza Sobral Revisor: Eduardo Castanhos Vendas: Pulkit Sharma

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Vai viajar para o Brasil? Alexandre Rocha

Fotógrafos: Eduardo P. S., Holger Detje Colunistas: Alexandre Rocha, Cristiano de Oliveira, Emma Sheppard & José Francisco Schuster Colaboradores dessa edição: Christiano De Araujo, Jhon Bermond, Maria Lina, Mustafa Kucuk & Roger Borrell Agradecimento especial para: Ângela Mesquita Agências, fontes e parceiros: CHIN Radio, CIUT Radio, ONU Brasil Conselho editorial: Camila Garcia, Nilson Peixoto, Rosana Entler & Sonia Cintra © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, Mississauga, Brampton, Oakville, London, Montreal, Ottawa, Calgary e Vancouver. Contato: info@jornaldetoronto.ca Subscription: $0.50/cada, $50.00/ano Siga nossa página no Facebook, Twitter, e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #12, ano #1, junho 2018 ISSN 2560-7855

Nos meses de junho e julho, muitos brasileiros costumam viajar para o Brasil. Mas a viagem não começa no aeroporto. Ela começa muito antes. Tenha em mente que você vai passar um período no Brasil, mas aqui, no Canadá, as contas não vão parar de chegar. Para evitar surpresas desagradáveis e gastos inesperados, eu preparei 5 dicas que vão te ajudar a economizar e manter as suas contas em dia. Antes de tudo: planejamento financeiro É muito bom ir ao Brasil visitar a família, rever amigos, curtir uma praia e beber uma cervejinha gelada. Tudo é festa! Planeje com muita antecedência todos os seus gastos na viagem, mas sem esquecer das suas despesas aqui. Se você não vai colocar o seu apartamento no Airbnb, não tem saída: suas contas estarão te esperando. A dica é criar um fundo de reserva para a viagem e um outro para o seu retorno. Você acha difícil? Difícil vai ser quando você voltar e não se planejar. Vá depositando mês a mês uma quantia que possa minimizar o impacto que você terá no seu orçamento com a sua ida ao Brasil. A ideia aqui não é guardar 100% de todos os gastos. No way! Se você puder fazer isso,

ótimo! Mas o objetivo é acumular um montante que vai deixar a sua viagem mais leve e ter uma reserva financeira para as suas despesas fixas. É o clássico “você ainda nem foi mas já está pensando na volta”. Alertas para passagens aéreas E essa mania de brasileiro que deixa tudo para a última hora? Chega! Se você possui datas flexíveis para viajar, experimente colocar um alerta no Google Flights com diferentes possibilidades de dias e horários, em um intervalo de 2 a 3 semanas. Dependendo da data, você poderá encontrar opções mais baratas de voos. Mesmo se você não tiver esta flexibilidade, uma pequena pesquisa em 3 dias diferentes dentro de uma mesma semana já é o suficiente para encontrar descontos significativos nos bilhetes. Seguro viagem Se você é daqueles ou daquelas que acha que nada vai acontecer com você e só acontece com os outros, eu pensaria duas vezes. Nem pense em viajar sem um seguro. Mas calma que você pode se proteger sem gastar um “tostão”. Verifique com a administradora do seu cartão de crédito se você possui direito ao seguro viagem

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holger detje

5 dicas que vão te ajudar a economizar e manter as suas contas em dia

internacional. Geralmente, ao comprar as passagens com o cartão, e dependendo das cláusulas do seguro, você terá direito à proteção durante o período da viagem. Esta é mais uma maneira de poder economizar nos gastos com viagem. Câmbio “Quem converte não se diverte!” Já ouviu isso? Aqui é o oposto, minha gente! Com renda em dólares canadenses, você pode usar o câmbio a seu favor e se beneficiar de uma cotação interessante na viagem ao Brasil. Em economia, a variável câmbio é muito temida porque envolve diversos fatores em sua previsão. É quase impossível saber o valor exato da moeda para uma determinada data. Busque acertar a tendência. Para você, que ganha em dólares e vai gastar em Real, quanto maior a desvalorização da moeda brasileira em relação à canadense, melhor. Neste caso, não tente acertar o câmbio exato. Conforme a cotação for subindo, vá trocando aos poucos

os seus dólares e desfrute daquela sensação boa de receber o seu salário em moeda forte. Converta sim e sorria a cada vez que o câmbio subir. Comprinhas Ah... só aquela última garrafa de cachaça. Você está no Brasil com a família e amigos. Você quer comprar tudo, trazer coisas que farão você pagar excesso de bagagem e se arrepender depois. Calma que o mundo não vai acabar. Você sabe que aqui no Canadá podemos encontrar praticamente tudo que existe no Brasil. Então, controle o impulso e, antes de gastar o seu suado dinheiro, reflita se realmente você precisa trazer mais uma garrafa de cachaça... “Não faça compras no supermercado quando estiver com fome e nem prometa coisas quando estiver feliz.” Um pouco de planejamento e autocontrole é tudo o que você precisa para economizar na sua viagem e retornar com as finanças em dia.

Alexandre Rocha é trader nos mercados futuros do Brasil, EUA e consultor financeiro independente. Em 2014, deixou o Banco do Brasil para fundar a consultoria Aletinvest. Se formou em economia pela UCAM-RJ e é mestre em Études Internationales pela Université de Montréal. Atualmente mora em Montreal, mas é apaixonado por Toronto. _ www. aletinvest.com


Cultura

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eduardo p. s.

Você sabia?

A origem da Festa Junina Maria Lina é historiadora Comemorar o mês que inicia o verão já era algo tradicional na Europa, antes mesmo dos romanos. As fogueiras, balões, músicas, danças, brincadeiras e muita comida faziam parte da alegria pela boa colheita e fertilidade. Com o processo de cristianização dos romanos, o mês de junho passou a comemorar três santos católicos, Santo Antônio (dia 13), São João Batista (dia 24), que tem o dia mais próximo ao solstício de verão, e São Pedro (dia 29). A partir do século XVI, os portugueses levaram estas festas, então chama-

das “Festas Joaninas”, para a colônia do Brasil. Como os índios e africanos também comemoravam o solstício, essas festas rapidamente se fundiram e foram incorporadas à cultura brasileira. A maior parte das comidas, por exemplo, como canjica, pamonha, curau e pipoca, são feitas à base de milho por conta dos costumes indígenas. Outra característica muito forte é a valorização do sertanejo: o caipira. Até meados do séc. XX, a maior parte da população vivia no campo, e daí o aspecto rural da festa. A quadrilha surgiu na França do séc. XVIII, como uma dança de

Almécegas

côrte, em princípio dançada por quatro casais, a quadrille. Chegou ao Brasil no final de 1820 e era dançada pelos integrantes da côrte brasileira que vivia no Rio de Janeiro. No final do século XIX, a dança se popularizou nas festas juninas, como parte das brincadeiras tão comuns a esta festa, e também ganhou características dos casamentos tradicionais do interior do Brasil, por influência caipira e da devoção ao santo casamenteiro. Tudo na Festa Junina é alegria; uma festa de confraternização e fartura, que celebra a riqueza cultural de nosso país.

Seguem as homenagens aos 30 anos da comunidade brasileira no Canadá

Jhon Bermond é ilustrador e designer Certa vez, peguei uma bicicleta em Alto Paraíso e fui para a Fazenda São Bento, onde a mãe d’água preserva as cachoeiras Almécegas I e II. Andar de bicicleta pela estrada que corta o cerrado foi uma das melhores sensações entre duas rodas. No caminho, pegadas de onça, tucanos, fezes de guará, seriemas e maritacas animadas. Cheguei cedo e passei o dia todo desenhando, dormindo e sentindo as águas do rio que dança pelas grotas e veredas. Vi pessoas que chegavam e saíam. Algumas não chegavam, outras não saíam. Vi também o sol e as árvores que desenhavam no paredão. Enquanto ele descia, as cores mudavam. Folhas vermelhas e amarelas viravam barquinhos. Senti o passado, presente e futuro nesse lugar. Senti a água agitada na pedra e a calmaria dela no poço, como a vida é. No cheiro do breu-branco, ao passar do vento, sigo no entardecer pelo cerrado, onde logo vagalumes me guiam. [Dedicado aos voluntários e brigadistas que protegem a Chapada dos Veadeiros quando arde em chamas.]

jhon bermond_www.jhonbermond.com

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No dia 8 de maio foi inaugurada a placa comemorativa aos 30 anos da comunidade brasileira no Canadá. O evento foi no Real Institute, em Toronto, mas a placa será parte do acervo do Canadian Museum of Immigration at Pier 21, em Halifax. O museu está localizado no antigo galpão de desembarque dos imigrantes que chegaram após a Segunda Guerra Mundial. A ideia da placa foi iniciativa de Angela Mesquita, que contou com o apoio de Vilson da Silva e do Consulado-Geral do Brasil em Toronto. O evento teve comida brasileira, música ao vivo com Cibelle Iglesias e Carla Dias, e foi apresentado pelo jornalista Marzio Lorenzo, que produziu um filme sobre os 30 anos da comunidade brasileira no Canadá, com apoio do Brasil Remittance e da OMNI TV. O evento de Toronto foi marcado por muita emoção e lembranças daqueles que foram os pioneiros dessa longa jornada. Para todos que vieram naquela época, a vida não foi fácil; e prestar homenagens àqueles que representaram o início de nossa vinda para o Canadá é, sem dúvida, algo importante e digno de comemoração.


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Mas, por que eu não posso traduzir?

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Emma Sheppard Quando me mudei para o Brasil, eu acreditava – porque eu sempre repetia isso – que a única maneira de aprender uma nova língua era nunca traduzir, para assim poder ensinar e aprender estando completamente imerso no inglês, se essa era a língua que você estava tentando aprender. Durante o tempo que fui professora de inglês no Brasil, aprendi – enquanto lutava com explicações de gramática que eu mal conseguia entender – que essa regra não era tão sagrada quanto eu pensava, pois havia buracos nela. Houve momentos em que passar para o português tornava a aprendizagem melhor, não pior. Mas também aprendi, por experiência própria, que há limites para a tradução – como perda de significado e expressões que você não consegue entender quando traduzidas. Nos primeiros seis meses, toda vez que um aluno me dizia “te acalma”, enquanto esperava pelo seu dever de casa, eu ficava ofendida. Aquilo que deveria ser alegre em sua língua

GOOD NIGHT.

Zzzz???!!!

roger borrell

sempre soava rude na minha. E, claro, tinha também o fato da metade dos meus alunos – quase todos adolescentes – me chamarem de “tia”, apesar de eu realmente não fazer parte da família deles. Ninguém conseguia me explicar isso também, só diziam “é assim que a gente fala”.

Quando voltei para o Canadá, foi minha vez de ajudar os estudantes a navegar pelos pequenos detalhes do inglês, que eu não tinha percebido serem difíceis até aquele momento, mesmo já tendo explicado aquilo pela décima vez. Coisas como o fato de não poder dizer “good night” quan-

do se cumprimenta alguém, ou “congratulations” pelo aniversário da pessoa. Ou como soa estranho quando ouço alguém dizer “thanks God” em vez de “thank God” – tão estranho que sempre me faz rir, mesmo sabendo que não deveria. Depois de tantos anos aprendendo português e ensinando inglês, me dei conta de que são os pequenos detalhes da língua os mais frustrantes de se aprender, justamente aqueles que mais nos ajudariam a soar como se estivéssemos realmente confiantes em nosso novo idioma. E essas são as coisas que a tradução não consegue nos ajudar, que conquistamos somente através da escuta, da tentativa, e através da nossa imersão em nossos novos mundos. “Te acalma”, você vai chegar lá.

Emma Sheppard é nova iorquina, mas paraense de coração. É professora de inglês há mais de 10 anos, com mestrado em Pedagogia pela UofT. Atualmente, Emma dá aulas para a comunidade brasileira e angolana, e para todos aqueles que desejam melhorar a sua experiência no Canadá. _ teacheremma123@gmail.com

Queen Street West Mural Project O brasileiro Christiano De Araujo venceu o Queen Street West Mural Project, com um projeto para representar a cultura e a história da vibrante Queen Street West. O mural foi inaugurado em dezembro do ano passado e agora faz parte do incrível acervo de murais e grafites espalhados pela cidade.

“Esta obra acolhe e celebra o espírito eclético de Queen West, brilhante e vibrante como a própria vida da rua. Nos últimos vinte e cinco anos, a Queen Street West tornou-se um centro internacional de artes e uma das maiores atrações turísticas de Toronto. A Queen West é verdadeiramente

uma bonita mistura de diferentes culturas e pessoas!”, explica o muralista. A imagem central da Rainha é o ponto focal do trabalho, representando a cultura da rua. “Exploramos toda a riqueza que moldou o que a Queen West é hoje, com o estilo, a forma e a personalidade característica que a rua desenvolveu ao longo dos anos. As pes-

soas, tribos, tendências, bandas, moda, mágicos e artistas estão representados no mural”, conta Christiano. As personalidades representadas no mural são: Kalyna Rakel, George Chenery, Anthony Illz Put, Jacob Gorzhaltsan, Bruno Smoky, Marie Poliak, Jack Von Spade, Lauren Spike, Dolly Mo-

moiro, Thadea Decora, Kenny Reynolds e Laura Chrobak. Fizeram parte da equipe de produção: Natasha Dichpan, Aline Setton, Ksenia Sapunkova e Thomas Mallerman. O mural pode ser conferido na 399 Queen St. West, em Toronto. Entre na loja e peça para ver o surpreendente mural.


Política

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Você não me representa José Francisco Schuster Uma das grandes causas que impede que tenhamos um mundo melhor é o pavio curto do ser humano. Temos a tendência de resolver tudo no calor do momento, na impulsividade, sem parar para refletir um segundo sequer, e tomamos atitudes drásticas, que chegam a ser irreversíveis, e até fatais. É assim que, nas redes sociais e até na imprensa, viralizam fake news, pois poucos dão-se ao trabalho de examinar por um momento se o fato é verídico, antes de passá-lo adiante. Poucos têm o discernimento do policial de Toronto, que conseguiu prender um perturbado mental – que atropelou e matou com uma van 10 pessoas e feriu outras 16 – sem disparar um tiro, ao contrário do que seria o comum nos Estados Unidos e no Brasil, onde certamente terminaria com morte. Esse pavio curto impede que nos demos conta de quem está do nosso lado, de quem efetivamente nos representa. Se encontramos uma fruta estragada

em uma sacola de orgânicos, já queremos rodar a baiana e voltar a consumir os produtos com agrotóxicos, sempre perfeitinhos. Se o personal trainer força um pouco mais em um exercício, nos revoltamos e decidimos voltar à vida sedentária. Se os pais forçam o filho a estudar para a prova de amanhã, eles são os bandidos da fita, bonzinhos são os amigos que estão insistindo pra largar tudo e ir pra balada. Não nos damos conta, enfim, de quem está do nosso lado, tentando nos ajudar; e não perdoamos o mínimo erro que cometam, esquecendo-se de que são humanos. Preferimos radicalizar e passar para o outro time, daqueles que se fazem de amigos mas que estão, na verdade, querendo nos cravar pelas costas. Deveríamos ter muito equilíbrio, portanto, na hora de escolher quem nos representa politicamente, pois os rumos de uma cidade, de um estado ou província, e de um país, mexem com o rumo de nossas próprias vidas e com o nosso destino. Sem uma análise com senso crí-

tico – e os políticos apoiam a educação o mínimo possível, para que ele não se desenvolva em grandes camadas da população –, muitos acabam votando no político mais bonitão, com melhor oratória, que faz as promessas mais mirabolantes, que faz pose de super-heroi, ou até que, na cara-de-pau, se propõe a comprar seu voto. É necessário que entendamos que existem apenas dois motivos que fazem uma pessoa se tornar um político – e é por isso que você, eu e a maioria das pessoas nunca pensou em candidatar-se a nada: ou é um líder nato, dotado de senso altruísta, alguém que realmente quer o bem da comunidade, ou é mais um clone de Justo Veríssimo, o personagem de Chico Anysio que, como político, confessava que “eu quero é me fazer” e “quero que pobre se exploda”. Deveria gerar uma desconfiança natural, portanto, a candidatura de quem nunca foi líder sequer como síndico de edifício. Frequentes são os casos de candidatos que saem do nada, beneficiados apenas

mustafa kucuk

por uma grande exposição na mídia pelo seu trabalho anterior, como comediante, jogador de futebol, cantor ou servidor público graduado. Outros são assediados pelos partidos simplesmente porque podem aportar um grande volume financeiro para a campanha eleitoral, graças a seu poderio econômico, não importa o quão vazios de propostas sejam. É inebriados por campanhas eleitorais pomposas, às quais se soma o apoio da imprensa amiga, que muitos votam nos Justos Veríssimos que aparecem a cada eleição, que buscarão apenas to-

mar o poder – e não sair dele –, beneficiando-se a si próprios e a seu grupelho o máximo possível, seja legal ou ilegalmente, não ligando a mínima para o interesse público. Cortam, sem dó, a assistência social para quem está abaixo da linha da pobreza para, poder reduzir os impostos dos amigos multimilionários. Os candidatos do bem encaram uma luta de Davi contra Golias. Ao não verificarmos e votarmos em quem efetivamente nos representa é que o mundo enfrenta ciclos de retrocesso político, enquanto o natural seria que, a cada eleição, tivéssemos

candidatos e propostas cada vez melhores. Irritados com os pequenos defeitos dos candidatos do bem, e com a maciça propaganda dos poderosos Justos Veríssimos, caímos em retrocessos muito mais destrutivos do que os poucos avanços que os candidatos bem intencionados obtiveram na gestão anterior. Em ano de eleições no Canadá e no Brasil, portanto, deixemos as atitudes passionais de lado para perguntarmos a nós próprios quem representa nossos ideais e quem é um Cavalo de Troia.

Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, e agora produz e apresenta o programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.

Declaração Universal dos Direitos Humanos combate máquina da intolerância, diz ONU organização das nações unidas – onu brasil

Eleanor Roosevelt, segurando a Declaração Universal dos Direitos Humanos em espanhol, em dezembro de 1948.

O alto-comissário da ONU, Zeid Ra’ad Al Hussein, condenou o aumento da violência e dos ataques contra civis no mundo, em pronunciamento no qual lembrou que este ano é comemorado o 70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro. “Hoje, a propagação da violência em diversas regiões, muitas anteriormente estáveis, é alarmante. Ataques contra alvos civis estão se tornando generalizados e quase rotineiros”,

declarou Zeid em comunicado. “Porque a intolerância é uma máquina insaciável. E suas rodas, uma vez que começam a funcionar em certa amplitude, tornam-se incontroláveis ​​– triturando mais profundamente, de forma mais cruel e ampla.” O chefe de direitos humanos da ONU ressaltou a importância da colaboração entre países para garantir a segurança internacional, destacando o novo cenário de tensão entre nações. “Há um novo desprezo pela cooperação multilate-

ral, que é a única maneira de enfrentar os desafios e resolver as disputas pacificamente. Há um claro e ameaçador retorno aos instintos tóxicos e profundos que conduzem à violência: intolerância, preconceito e ódio”, afirmou. Segundo Zeid, ainda há muito a ser feito no exercício da garantia dos direitos humanos. “Em nenhum lugar os direitos foram alcançados de maneira irreversível. Em todos os países, parece que um grupo de pessoas ou aspirantes a líderes minam ou atacam

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princípios fundamentais com base em pretextos fabricados.” O alto-comissário também reiterou a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos para a promoção do desenvolvimento. “Para aqueles Estados que adotaram a visão da Declaração, ela trouxe benefícios mensuráveis. Milhões de pessoas ganharam justiça por seus direitos, além de proteção nacional e internacional quando esses direitos são prejudicados”, completou.

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Esportes

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Aquela “corrente pra frente” hoje tem elos de rosquinha Mabel Cristiano de Oliveira A Copa vem aí! Mas olha só que osso: você já percebeu que com o passar dos anos a gente vai se empolgando menos com ela? Eu tô tão animado pra Copa quanto para a vaquejada de Jacaré dos Homens. Acho que começa pela corrosão dos valores da família brasileira: uma de suas mais estimadas tradições é matar aula ou serviço em dia de jogo de Copa. Era fácil nos tempos de escola, mas o tempo passa, e Copa após Copa o trabalho vai apertando daqui, dali, daí você muda pro Canadá pra complicar mais ainda... e então acabou. Não tem mais essa de sair mais cedo pra ver jogo.

A única saída do fanático por Copa é o famoso Sick Day, e com todo mundo ficando doente em dia de jogo, o patrão canadense fica sem saber se o fenômeno é amor à bola ou surto de Ebola. Mas Toronto também mudou e a festa aqui parece que só diminui. Na Copa de 2006, a College St. ficou fechada da Dufferin a Ossington para as comemorações. Veio 2010, e não só não fecharam rua, como os malditos holandeses ainda foram pra Dundas quando nos eliminaram. Ficar sem festa tudo bem, mas ter que aguentar desaforo do maior campeão de falecimento litorâneo do planeta (que é a

Álbum de figurinhas dos chicletes Ping-Pong, com parte da seleção da Copa de 1982.

versão gourmet de “morrer na praia”) é de lascar. Em 2014 a festa diminuiu mais, mas eu nunca torci tanto! Estava desempregado e classificação do Brasil significava show de samba pra fazer; portanto, torci mais do que o Araquém e o Pacheco da Gilette juntos pra Seleção pagar meu aluguel. Da mesma forma, o 7x1 também doeu bem mais em mim. Lembrou-me uma vez em que um suíço passou por Alvinópolis durante a Copa, e a todo jogo da Suíça ele ia pro bar do Ninho da Águia assistir. O detalhe é que ele chegava lá e pagava birita pra todo mundo tor-

cer com ele. Será que fez sucesso? Rá! Quando a Suíça foi eliminada, nem Zurique nem Berna choraram tanto quanto o povo do Ninho da Águia. Aliás, acho que nem o próprio suíço chorou tanto. Os tempos atuais revelaram também muita podridão desanimadora no futebol. E já não há jogadores dos times da gente na Seleção, só os caras que jogam na Europa com a vida ganha e não estão nem aí pra Copa. E o álbum de figurinhas já não é do Ping-Pong, ninguém precisa mais mascar 800 chicletes pra achar a figurinha do

Zico. A Copa já não é mesmo como antigamente. Mas claro que não é! Nada é igual a antigamente. Só que nós estamos ficando velhos e enjoados, e queremos viver de memórias do passado, ao invés de criarmos um presente memorável. A vida traz outras prioridades e a gente perde um pouco o interesse mesmo. Se perdeu a graça, é porque outras coisas ganharam graça. Então vamos aproveitar o que ainda nos

dá prazer na Copa e deixar o resto de lado – incluindo aí os Ping-Pongs, porque dentadura no Canadá deve ser uma fortuna! E se tudo der errado, ainda assim faça como eu e agradeça: agradeça por não depender mais de vitória daquela perebada come-e-dorme de chuteira pra pagar aluguel. Ô raiva daquele 7x1 miserável... Adeus, cinco letras que choram.

Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.


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