Jornal de Toronto
Quando pensamos em imigrantes, por que não incluir Einstein e Cristiano Ronaldo? p. 3
O dólar enlouqueceu?
O cartunista Will Tirando estreia no Jornal de Toronto! p. 6
Quem diria! Mais uma vez, a moeda americana nas principais páginas dos jornais. Mas o que realmente está acontecendo com o dólar? O mercado não perdoa: contra as incertezas, dólar para cima e bolsa para baixo. p. 4
edição # 13 | ano # 2 | julho 2018 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855
Desconexão, utopia 223 matérias, escritas por 83 pessoas, de possível? 32 diferentes cidades, Um guia em 7 diferentes países; 72 fotógrafos, 17 para ilustradores e 48 parceiros p. 11
ano de Jornal de Toronto institucionais
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Acompanhe nosso website com vídeos e matérias complementares
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brasileira no Canadá, é ajudar a subir o nível de qualidade do nosso setor, e assim aproximar público e empresários que, unidos, podem crescer ainda mais e melhor. O Jornal de Toronto trouxe, sem dúvida, novos ares para a mídia brasileira no Canadá, e junto novos leitores, novos escritores e, principalmente, uma perspectiva diferente de abordagem jornalística, num momento tão importante de transformação política e social – aqui e no Brasil. O mundo já não é como há um ano atrás, e nosso objetivo é dar ao leitor matérias que tragam um olhar mais crítico sobre essa “paisagem” que nos cerca, e que está sempre em constante mudança.
O incrível espetáculo na Basílica de NotreDame
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A gente comemora tanto com a equipe do Jornal que nem sente que precisa fazer uma comemoração especial em julho. Aliás, fizemos uma em junho também, claro, porque foi a edição #12; e a desse mês agora tem um gostinho especial, porque foi em julho nosso mês de lançamento, a exato um ano atrás. Todo mês curtimos montar cada edição, todo mês temos boas discussões de pauta, avaliações acaloradas e muita gente legal trabalhando por esse projeto incrível. Temos também nossos anunciantes que, além da questão comercial, entendem que apoiar o Jornal de Toronto é apoiar um projeto de fortalecimento da comunidade
O público, desde o início, tem sido fantástico e reconhecido nosso trabalho. Nosso site tem cada dia mais visitas e nossa edição impressa sai, a cada semana, com maior velocidade. Em números, nesse primeiro ano foram publicadas 223 matérias, escritas por 83 pessoas, de 32 diferentes cidades, em 7 diferentes países. Também participaram do jornal 72 fotógrafos, 17 ilustradores e 48 parceiros institucionais. Nada mal! E esse é apenas nosso primeiro ano! Queremos deixar aqui nossa gratidão por todos aqueles que têm nos acompanhado e nos apoiado com tanto entusiasmo. Sem o seu apoio o Jornal de Toronto não seria possível.
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Jornal de Toronto mudou o perfil da mídia brasileira no Canadá
curtir os festivais
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Cotidiano
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Jornal de Toronto resgata o Jornalismo maiúsculo José Francisco Schuster
Quando soube que ia ser lançado o Jornal de Toronto, pouco mais de um ano atrás, um brilho tomou conta dos meus olhos. E isso apenas pelo surgimento de um novo jornal, nem esperava a honra de ser convidado para ser colunista. Afinal, estamos vivendo um momento histórico mundial de transição no jornalismo. Depois de nada menos do que 400 anos em que jornais dominaram, apenas a partir da virada deste século que, com a internet, tornou-se possível ler notícias em outro suporte físico que não fosse papel. Contudo, a transição do conteúdo editorial não vem sendo acompanhada na mesma velocidade pela transição publicitária, e é por isso que jornalistas e leitores lamentam o fechamento de muitos jornais em Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Gerente de mídia social: Luiza Sobral Revisor: Eduardo Castanhos Vendas: Pulkit Sharma Fotógrafos: Diego Dea, Eduardo Teles, Gerd Altmann, Günther Simmermacher & Naji Habib Colunistas: Alexandre Rocha, Cristiano de Oliveira & José Francisco Schuster Colaboradores dessa edição: Eduardo Teles, Jasper Dag Tjaden, Letícia Tórgo, Maria Bitarello, Shon Ejai & Will Leite Agradecimento especial para: Samara Lourenço Agências, fontes e parceiros: AP Photo, BrazilFest, CHIN Radio, CIUT Radio, Moment Factory, ONU Brasil, Outras Palavras, The Guardian Conselho editorial: Camila Garcia, Nilson Peixoto, Rosana Entler & Sonia Cintra © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, Mississauga, Brampton, Oakville, London, Montreal, Ottawa, Calgary e Vancouver. Contato: info@jornaldetoronto.ca Subscription: $0.50/cada, $50.00/ano Siga nossa página no Facebook, Twitter, e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #13, ano #2, julho 2018 ISSN 2560-7855
todo o mundo – inclusive alguns de renome –, ou pelo menos o fim de suas edições impressas. A coragem de ter lançado em 2017 um jornal em papel, portanto, é para poucos, ainda mais sendo focado não no público em geral, mas nos imigrantes capazes de ler em uma língua não-oficial do país em que moram. A proposta do Jornal de Toronto, contudo, me encantou de imediato: ter um produto de qualidade, publicando-se apenas textos selecionados por um conselho editorial, para que sejam do agrado também da nova geração de brasileiros que vem chegando ultimamente em grande número no Canadá, seja para fazer cursos de inglês, cursos de nível superior ou como imigrantes aprovados pela sua alta qualificação profissional. O resultado não podia ser outro: uma tiragem crescente do Jornal, a par de um aumento exponencial também no número de pessoas que o leem online, já que a internet não pode ser desprezada. Se a distribuição de exemplares do JdeT impresso vem se expandido para cada vez mais cidades do Canadá,
o acesso pela internet permite que o Jornal de Toronto tenha leitores fiéis inclusive no Brasil – o envio pelo correio seria algo demorado e caro. Se a internet permite agregar conteúdo extra ao longo do mês, com reportagens atualizadas e até os podcasts com as entrevistas do programa Noites da CHIN - Brasil, a sensação de pegar um jornal impresso ainda é insuperável, uma excelente companhia em um café, um bar, um parque, uma praia, e assim por diante – até porque, o reflexo do sol em uma tela é muito incômodo para a leitura. Entretanto, insisto, o fundamental e o diferencial é o conteúdo. Pode-se creditar parte das tiragens decrescentes de muitos jornais brasileiros, principalmente, pelo descrédito cada vez maior que os leitores lhes dão. Incrivelmente, em pleno 2018, a mídia brasileira ainda está dividida entre poucas poderosas famílias, ao estilo das velhas capitanias hereditárias. Obviamente, seus interesses vêm antes de tudo e o resultado são visões distorcidas da realidade brasileira, para que as metas políticas, econômicas e sociais des-
Prensa rotativa que rodou a primeira edição do Jornal de Toronto, em julho de 2017.
sa elite sejam preservadas a todo custo. Muitos jornalistas bem-intencionados têm a tristeza de transformarem-se em fantoches nas mãos de seus patrões. O Jornal de Toronto, por outro lado, pertence ao seleto pequeno grupo de mídias em que verdadeiramente não há rabo preso – não havendo, portanto, uma lavagem cerebral dos leitores. Como diz o vice-presidente da Federação Internacional dos Jornalistas, o brasileiro Celso Augusto Schröder, “o que as empresas de comunicação cometeram contra a população brasileira ao transformarem seu
jornalismo em propagada política, em publicidade comercial velada ou não, em entretenimento e sensacionalismo, em mentira deslavada em suma, não será resolvido nas próximas décadas”. Nesta luta de David contra Golias, em busca de um Brasil e um mundo melhores, o Jornal de Toronto vem trazer esperança, na medida em que seus leitores constatam que ainda é possível Jornalismo com J maiúsculo. Longa vida, Jornal de Toronto! Um prazer imenso estar neste projeto!
Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, e agora produz e apresenta o programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.
Quando pensamos em imigrantes, por que não incluir Einstein e Cristiano Ronaldo? Jasper Dag Tjaden é pesquisador do Centro de Análise de Dados da Organização onu brasil / the guardian
Internacional para as Migrações
Quando a maioria das pessoas ouve a palavra “imigração” ou “imigrantes”, elas provavelmente pensam em pessoas amontoadas em pequenas embarcações, fugindo para a Grécia ou para a Itália. Eu duvido que a palavra “imigrante” evoque as imagens de Cristiano Ronaldo, Kate Winslet ou Albert Einstein. Isso não é o que as pessoas querem dizer quando falam sobre imigrantes. Mas deveria ser. O jogador de futebol mais bem-sucedido do mundo, uma atriz do segundo filme de maior sucesso de todos os tempos e uma das pessoas mais inteligentes na História são todos tecnicamente imigrantes. Eu não estou escolhendo a dedo. Minha própria pesquisa mostra que 55% dos futebolistas internacionais, quase metade dos nomeados ao Oscar de Melhor Ator e Melhor Atriz desde 2000 e
cerca de um terço dos nomeados para o prêmio Nobel desde 1901 eram imigrantes. A agência de migração da ONU define um imigrante como “qualquer pessoa que está se deslocando ou se deslocou por uma fronteira internacional ou dentro de um Estado, para longe de seu lugar habitual de residência, independentemente de seu status legal, causa ou razão para o deslocamento ou duração da estadia no país de destino”. O Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas contabiliza como “imigrantes internacionais” as pessoas que estão vivendo em um país fora de onde elas nasceram ou do país cujo passaporte possuem. A ONU recomenda que qualquer um que permaneça em outro país por mais de três meses seja considerado um imigrante internacional.
Albert Einstein, em sua chegada aos Estados Unidos, em 1932.
Ronaldo, Winslet e Einstein definitivamente preencheriam os requisitos. Ronaldo é um cidadão português que teve empregos na Inglaterra e na Espanha durante a maior parte de sua carreira. Winslet, que é britânica, trabalha nos Estados Unidos e morou lá por longos períodos em sua carreira. O alemão e vencedor do prêmio Nobel Einstein trabalhou na Uni-
ap photo
versidade de Princeton por mais de 20 anos e adquiriu a cidadania estadunidense em 1940. A ONU estima que existam aproximadamente 258 milhões de imigrantes internacionais no mundo – isso equivale a 3,4% da população mundial. Mas em média isso é muito mais comum no futebol, na atuação e na academia do que em todo o mundo. As–>
www.jornaldetoronto.ca pessoas frequentemente não associam imigração com os riscos e famosos, mas os dados contam uma uma história diferente. Minha análise, baseada em estatísticas de 2017 da FIFA, revela que 55% de todos os jogadores ativos que competiram por uma seleção em 2017 jogavam em um time fora do país onde eles têm cidadania. Mais de 90% dos jogadores das seleções da Colômbia, Bélgica, Irlanda, Suécia e Suíça jogavam em um time no exterior; 87% da seleção argentina e 83% da seleção brasileira ganhavam dinheiro fora do seu país de cidadania. A média é menor para as seleções europeias maiores: 48% dos jogadores da seleção espanhola, 39% nas seleções francesa e alemã e 13% dos italianos eram, de fato, imigrantes. Dos 100 melhores jogadores em 2017, 72 eram imigrantes. Essas estatísticas não incluem nem mesmo os jogadores que nasceram em um país diferente do qual cresceram e que, mais tarde, adquiriram cidadania. A busca em dados de todos os nomeados para o Oscar de Melhor Ator e Melhor Atriz desde o ano 2000 mostra que, em média, 41% daquelas pessoas lindas e talentosas são ou eram imigrantes. Ou elas nasceram no exterior e se mudaram para Hollywood
ou, no mínimo, elas trabalharam nos Estados Unidos por um longo período de tempo. Os dois casos fazem delas imigrantes. Há mais mulheres imigrantes em Hollywood do que homens: 45% das mulheres nomeadas nasceram fora dos Estados Unidos ou possuem um passaporte que não
Dos
100
melhores jogadores em 2017, eram imigrantes
72
é estadunidense, em comparação a 33% dos homens nomeados. A maioria deles pode até ser britânica, australiana ou canadense, mas só porque a maioria dos atores “estrangeiros” fala inglês como sua língua materna, isso não os torna menos imigrantes. Com base numa análise de todos os laureados do Nobel desde 1901, 29% de todos os nomeados para um prêmio Nobel em suas respectivas disciplinas eram
imigrantes. “Imigrante”, nesse caso, significa que eles foram nomeados por seu trabalho em uma instituição localizada fora do seu país de nascimento (independentemente de mudanças nas fronteiras). A porcentagem varia ao longo do tempo, entre 0% em 1922, 1965 e 1976, por exemplo, e 75% em 1957 e 1971. Não parece haver uma tendência crescente ou descendente clara com o tempo, o que sugere que as pessoas mais espertas foram pesquisadores internacionais desde que os suecos e noruegueses começaram a conceder os prêmios. No entanto, apresar de imigrantes estarem sobre-representados entre as pessoas mais bem-sucedidas e privilegiadas do mundo, a hostilidade contra a imigração perdura. A Ipsos Mori descobriu que, em muitos países ocidentais, as pessoas superestimam o número de imigrantes que vivem em seu país por uma ampla margem. Isso sugere que talvez tenhamos uma ideia distorcida de quem é, na verdade, um imigrante e do que eles trazem de contribuição. As percepções importam. Elas podem afetar atitudes gerais em relação a políticas de imigração e alterar eleições. Talvez muito do que esteja errado com o modo como pensamos
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O jogador português Cristiano Ronaldo.
günther simmermacher
sobre imigração se reflita na questão do por que nós não pensaríamos em pessoas bem-sucedidas, ricas, inteligentes e bonitas como imigrantes. Os 258 milhões de imigrantes internacionais que a ONU estima que estejam espalha-
dos pelo mundo são um grupo diverso: jogadores de futebol, atores, premiados do Nobel, mas, não menos importante, enfermeiras, agricultores, mecânicos, cozinheiros, empreendedores e cônjuges – e todos eles merecem ser valorizados.
gerd altmann
Economia Balancete do ano
O dólar enlouqueceu?
Alexandre Rocha Quando recebi o convite para escrever sobre finanças e economia, eu não pensei duas vezes e aceitei na hora. Era a oportunidade de trazer um pouquinho do mundo financeiro para os leitores do Jornal de Toronto. Neste primeiro ano de Jornal, a coluna já abordou diversos temas, como o dólar e a possibilidade de se proteger financeiramente. Falei sobre a importância de se adquirir o hábito de poupar e usar os juros compostos a seu favor. Como é bom o longo prazo! O planejamento financeiro e o controle de despesas não ficaram de fora. Falei sobre a necessidade de se controlar os gastos e de como esta atitude é essencial para quem está
pensando em construir um patrimônio. Falamos até de Bitcoin(!) – quem não se sente atraído por “coisas” exóticas? Este é um mundo novo que também foi abordado no JdeT. Finanças é um tema maravilhoso, mas eu sei que não é fácil. A falta de educação financeira e a dificuldade de se falar sobre dinheiro são alguns dos muitos desafios que envolvem a área. É daí que vem a motivação: transformar temas espinhosos e complicados em uma leitura leve e informativa. Quebrar as barreiras que existem entre os leitores e as finanças e mostrar que é possível sim trazer informação financeira e econômica de qualidade. A missão é educar e
apresentar aos leitores novas formas de investir com inteligência, protegendo o patrimônio e planejando o longo prazo. É muito gratificante poder fazer parte deste momento e saber que, neste primeiro ano de Jornal, a comunidade brasileira, e muitas outras que falam a língua portuguesa, pode contar com um jornal de qualidade em terras canadenses. Parabéns ao Jornal de Toronto pelo seu primeiro aniversário e pelo espaço dedicado à economia e ao planejamento financeiro pessoal. Vida longa ao Jornal de Toronto!
Quem diria! Mais uma vez, a moeda americana nas principais páginas dos jornais. Mas o que realmente está acontecendo com o dólar? No mercado externo, atravessamos um cenário mais positivo, com a economia europeia se recuperando gradativamente e a americana mostrando muita força, principalmente no mercado de trabalho. Sendo assim, há expectativas de elevações graduais nas taxas de juros dos EUA e isso atrai capital para aquele país. Afinal, quem não quer colocar o seu suado dinheirinho em uma economia estável, segura e com juros atrativos?
Com menos oferta da moeda no mercado, é natural que as taxas de câmbio nos países sofram ajustes. Principalmente nos países chamados “emergentes”, que possuem históricos políticos e econômicos conturbados, como é o caso de Argentina, Turquia e Brasil. Sem segurança jurídica e instabilidade política o dinheiro vai à procura de terras seguras. No mercado interno brasileiro, no último mês, a chamada “greve dos caminhoneiros”, piorou a percepção sobre o quadro fiscal no Brasil. Soma-se a falta de reformas necessárias que a economia necessita para voltar a crescer e o
abismo entre os discursos dos políticos e a realidade da sociedade. O que parece é que cada partido político possui o seu próprio Show de Truman em um ambiente virtual. O mercado não perdoa: contra as incertezas, dólar para cima e bolsa para baixo. O fato de estarmos em um ano eleitoral aumenta ainda mais a incerteza e, no curto prazo, veremos muita volatilidade. Com candidatos e discursos populistas, muitos “analistas” apontam para um dólar entre R$4,80 e R$5,50. Será? Impossível saber. Quem viver verá.
Alexandre Rocha é trader nos mercados futuros do Brasil, EUA e consultor financeiro independente. Em 2014, deixou o Banco do Brasil para fundar a consultoria Aletinvest. Se formou em economia pela UCAM-RJ e é mestre em Études Internationales pela Université de Montréal. Atualmente mora em Montreal, mas é apaixonado por Toronto. _ www.aletinvest.com
Cultura
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moment factory
O incrível espetáculo na Basílica de Notre-Dame Como parte das comemorações dos 375 anos da cidade de Montreal, a Basílica de Notre-Dame apresenta o espetáculo Aura, uma experiência única de imersão no coração da Basílica, criada pela renomada empresa Moment Factory. O projeto é um dos mais incríveis shows de projeção mapeada já realizados, e o designer gráfico Eduardo Teles conversou com o Jornal de Toronto sobre sua participação no projeto, e todos os desafios superados pela equipe para entregar esta incrível experiência.
Jornal de Toronto - Conte-nos um pouco sobre a Moment Factory, como você foi trabalhar lá e se o seu objetivo, como artista 3D, era trabalhar neste segmento? Eduardo Teles - Moment Factory é
um estúdio multimídia com uma ampla gama de especialistas sob o mesmo teto. Nosso time é composto por especialistas em vídeo, iluminação, arquitetura, som e efeitos especiais, que criam experiências inesquecíveis. Com sede em Montreal, o estúdio também possui escritórios em Los Ange-
les, Tóquio, Londres, Nova Iorque e Paris. Desde a sua criação, em 2001, a Moment Factory criou mais de 400 shows e instalações multimídia únicas. Os projetos são realizados ao redor do mundo e incluem clientes como o Aeroporto de Los Angeles, Microsoft, NFL, Sony, Toyota, a Sagrada Família em Barcelona, Madonna, e o Royal Caribbean. Creio que quando uma pessoa começa a estudar animação 3D (computação gráfica), os segmentos que mais despertam o interesse são os filmes, publicidade e videogames, e para mim não foi diferente. Em 2006, no Brasil, praticamente não existiam produções de longa metragem, e por isso trabalhei no mercado publicitário, até que, em 2012, recebi uma proposta para desenvolver conteúdos visuais para shows no Brasil. Foi o meu primeiro contato com este meio, e foi algo que me agradou muito, pois passei a ter liberdade para criar e explorar. Em 2013, participei de um festival de arte e criatividade em São Paulo, e foi a primeira vez que soube da existência da Moment
Factory. No evento, eles mostraram os projetos da Sagrada Família, Royal Caribbean dentre outros. Naquele momento eu decidi que gostaria de desenvolver projetos multimídias e interativos. Em janeiro de 2016 eu apliquei para uma vaga de motion graphic designer, e em setembro deste mesmo ano, estava mudando para Montreal para trabalhar na Moment Factory.
JdeT - Fale sobre seu papel no
projeto do espetáculo Aura.
Eduardo - Aura é uma instalação permanente, envolvendo som, vídeo, luz, laser e fumaça, em uma arquitetura altamente detalhada, com maravilhosas esculturas de madeira e pinturas na Basílica de Notre-Dame, em Montreal. Tudo começa com um passeio para explorar a igreja, descobrindo as instalações multimídia que destacam as obras de arte. Esta primeira parte encoraja o espectador a conhecer os detalhes da Basílica no seu ritmo e para começar a sentir a atmosfera mágica do lugar. Então luz, trilha orquestrada original e a arquitetura grandiosa se unem para criar um
show multimídia que concentram a energia para elevar a experiência do espectador ao máximo. Neste projeto, tive a oportunidade de aplicar várias técnicas, pois participei desde a fase de design, onde estabelecemos o visual de todo o show, até a fase de integração do projeto, na qual garantimos que todo o conteúdo projetado estivesse perfeito em cores e intensidades. Desenvolvi dois momentos muito interessantes no show, transformando a Basílica em uma caverna de gelo, e em outra parte cobrindo-a de ouro. Também fiz alguns efeitos especiais, como uma simulação de chuva no teto da igreja.
JdeT - Qual foi o maior desafio técnico encontrado no projeto? Eduardo - Sem sombra de dúvida, foi lidar com as texturas e cores presentes na arquitetura. Praticamente todo o interior da Basílica é coberto por ornamentos e esculturas de madeira, e também há pinturas por toda parte. Quando projetamos o vídeo em tal superfície, as cores são bem diferentes das visualizados no computador. Então todo o vídeo
criado para o show teve que ter as cores reajustadas para que tivéssemos o resultado desejado.
JdeT - A arquitetura da Basíli-
ca é muito complexa e cheia de detalhes, como vocês conseguiram projetar o vídeo em quase todo o interior, quantos projetores foram utilizados e como vocês sincronizaram e gerenciaram todos os conteúdos?
Eduardo - O time responsável por alinhar os projetores fez um trabalho incrível. Foram utilizados 14 projetores de 20.000 lumens, posicionados no mezanino e alinhados com muita precisão para ter a melhor cobertura possível, sem causar distorção ao vídeo. A Moment Factory usa um software chamado X-Agora, que pega todos os vídeos que nós produzimos e distribui as imagens para os projetores. Um fator muito importante para o sucesso deste projeto foi o fácil acesso às instalações da igreja, e por isso tivemos a possibilidade fazer vários testes até a entrega final. Para saber dos horários do show, visite o site www.aurabasiliquemontreal.com
Will Tirando estreia no Jornal de Toronto É com grande prazer que anunciamos a estreia do cartunista Willian Leite no Jornal de Toronto. Will nasceu em Porecatu, no Paraná, e suas tiras já são conhecidas pelo Brasil todo, por seus prêmios e por sua participação em sites de humor, como o Jacaré Banguela, Chongas e, desde 2015, como parte da equipe do Kibe Loco, uma das mais tradicionais páginas de humor do Brasil. Seu olhar atento às transformações do mundo contemporâneo e seu humor inteligente só engrandecem ainda mais nosso jornal. É também mais uma mostra da importância que o Jornal de Toronto dá ao design gráfico e ao poder da imagem. Tê-lo com a gente é uma honra. Divirtam-se!
Viva
o agora _ Will Tirando
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Todo ano é igual: Um guia para curtir
os festivais
Letícia Tórgo é produtora cultural Todo ano é igual. Conforme a temperatura aumenta vagarosamente, o céu fica mais azul, as árvores mais verdes, as calçadas mais cheias de gente. E junto com o verão, vem a tão esperada temporada dos festivais. São tantos que a gente sempre pensa que não precisa planejar muito. Basta dar uma caminhada que um palco vai surgir à nossa frente. Na teoria, é lindo, mas na prática, não é bem assim... Todo verão tem seu fim e se a gente não abre bem os olhos, os braços e as janelas, quando vê, “puf!”, acabou. E aquele festival, aquele evento, aquele show que a gente queria tanto ver, passou. Então, que tal algumas dicas leves e despretensiosas para não sofrer da síndrome pós-verão? Aqui vai minha pequena contribuição para não deixar a temporada dos festivais passar em branco. Porque branco a gente deixa para o inverno.
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Selecione ao menos dois festivais preferidos e acompanhe a programação. Vale redes sociais, newsletter, notificações... tudo o que estiver ao seu alcance para não perder nada e poder curtir seus eventos preferidos.
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Crie sua tribo. Faça uma lista daqueles amigos que dizem “sim” para todos os seus convites e conte com eles quando
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químicos, mas saber que ali naquele hotel, naquele Tim Hortons ou naquele bar tem um banheiro acessível e limpinho, às vezes, é dica de ouro.
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Respeite “a bolha”. Não invada o espaço do outro. Se esbarrar, peça desculpas. Se for esticar sua canga, mantenha um mínimo de distância. Se quiser ver o show de pertinho, chegue cedo. Não é porque tem espaço entre as pessoas que você pode chegar depois que o show começou e tentar pegar o melhor lugar na plateia. Se o show não estiver legal e você quiser conversar, afaste-se da frente do palco para não atrapalhar quem está lá pela música.
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BrazilFest, que acontece todo ano no Earlscourt Park, em Toronto.
a preguiça bater. Convide-os para os eventos que tem interesse em ir, para não esmorecer quando a data chegar.
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Confirme presença nos eventos através do Facebook, mas também coloque as datas e horários em sua agenda. Se você usa Google Agenda, por exemplo, a própria rede social permite enviar um e-mail ou exportar um evento que pode ser importado para a agenda automaticamente. Assim você evita perder algo importante porque não viu a notificação do Zuc.
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Não exagere na bebida. Se você já é veterano dos festivais, sabe que não é comum
a galera “meter o pé na jaca” por aqui. Aliás, se a ideia é curtir a música, o clima, o ambiente e a companhia, a bebida deve estar presente para acompanhar a festa e não para acabar com ela. Para os mais saidinhos, vale lembrar que é proibido entrar em festivais com bebidas. Não esqueça também de retornar seu eco-cup no fim do festival, garantindo a sustentabilidade do evento e recebendo de volta seu depósito pelo copo retornável.
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Tenha sempre uma canga para se esticar na grama, para conversar no intervalo dos shows ou para descansar entre uma banda e outra. Se você é menos “roots” e mais canadense,
vale também levar aquelas cadeirinhas e banquinhos de plástico e lona que são bem comuns pelas terras do Norte. Só não esqueça que a canga é leve e mais fácil de carregar.
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Chapéu, água e, quem sabe, um casaquinho. Sim, a temperatura por aqui está sempre em pauta e no verão não seria diferente. Hidrate-se, proteja-se e lembre-se que, segundo o aplicativo, mais tarde pode esfriar. Como mamãe já dizia “não esquece o casaquinho”.
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Mapeie os banheiros que ficam próximos da área dos festivais. Claro que sempre podemos contar com banheiros
Transforme a temporada dos festivais em um evento família. Lembre-se que a maior parte dos eventos realizados no Canadá, em geral, são baby-friendly e é super comum ver crianças pequenas com grandes fones de ouvido, carrinhos de bebês no meio da galera e programação especial para os pequenos. É de cedo que a gente mostra para os pequenos como arte e cultura são importantes.
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Lembre-se: o verão é uma delícia, a vitamina D é de graça e a diversão é garantida. Aproveite! Curta! Participe dos festivais! Quando as folhas começarem a cair e o outono chegar, você vai estar de baterias recarregadas para o inverno. Porque sim, todo ano é igual. E o calor não dura para sempre.
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Cristiano de Oliveira Saudações, Pachecos da Camisa 12.
Há uns dois anos, eu me aposentei do jornalismo brasileiro de Toronto. Foram doze anos escrevendo de graça quinzenalmente – não me pergunte por quê, pois hoje eu também não sei explicar que
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Um ano de retorno às letras zoonose foi aquela que me deu. Sei lá, acho que no começo foi o desafio, depois uma forma legal de me conectar com a comunidade, e
depois virou insistência mesmo, aquela coisa de não largar o osso, não desistir, pensar nos leitores, etc. Mas, ao mesmo tempo, vou ser m u i t o sincero: eu não
v i v o pra badalação, não vivo pelo dinheiro... mas gosto bem de uma festa onde não preciso levar Baconzitos e uma caixa de 6. E fui notando que ao mesmo tempo em que eu fazia grandes amizades entre os leitores e ouvia muita coisa bacana deles, escrever
pra jornal dava um trampo medonho, tomava tempo, e na hora dos eventos, dos festões, das premiações, eu continuava o mesmo anônimo de sempre. A mesma turma sempre convidada pro baile, indo receber prêmio de imprensa étnica, de imprensa ébria, e tome evento, champanhe, salgadinho, recepção... E o elemento em casa, bebendo água de uma Britta que não trocava o filtro há um ano e comendo cremecraque com atum. Na grande festa do jornalismo, eu cumprimentava os convivas, mas o garçom só chegava até mim pra recolher guardanapo e palito usado. Olhei para um lado e vi meus leitores. Olhei pro outro e vi minha casa pedindo vassoura. Larguei. Pois há um ano, vieram abrir o meu sarcófago. Vou ser sincero: só de falar em voltar a escrever, já me deu uma preguiça danada. Estava trabalhando igual um louco, nosso grupo Roda de Samba de Toronto lotan-
do casa em todo show, as panelas lá de casa todas socadas no armário debaixo da pia, quase precisando de uma mineradora pra conseguir encontrar minha forma de pudim... A última coisa de que eu precisava era mais serviço. Porém, uma coisa é estar todo mundo na cachaçada e um cara dizer “ei, e se nós fizéssemos...”. Daí não sai nada. Todo mundo já viu esse filme – eu não só vi como passei mal nesse cinema, comi pipoca, Coors Light, esqueci o nome da atriz no dia seguinte... Outra coisa totalmente diferente é alguém tomar coragem de colocar o bloco na rua e chegar com uma proposta. E a proposta do Jornal de Toronto era inovadora demais pra se ignorar. Contratar um time de colunistas pra produzir material original, sem depender de notícia de internet,
e recrutar um conselho editorial é algo que eu ainda não tinha visto por aqui. Cheguei a pensar que era qualidade demais pra um público muito restrito – ao mesmo tempo, lembrei-me de ter ouvido, quando começamos com nosso grupo de samba, que éramos loucos pois Toronto era cidade de pagode. Se funcionou pra nós, talvez fosse o sinal de um novo tempo na comunidade, e poderia funcionar para o Jornal. Só sei que há um ano eu abraçava a ideia e começava a escrever outra vez, e é com prazer que ainda estou por aqui, assistindo e aplaudindo essa luta. Parabéns ao Jornal de Toronto e que venham muitos outros aniversários.
Adeus, cinco letras que choram.
Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.
Política
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Popularidade ladeira abaixo Quando 82% do país desaprova seu governo
Alexandre Dias Ramos
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Alexandre Dias Ramos é editor-chefe do Jornal de Toronto, mestre em Sociologia Até algum tempo atrás, falar mal do exda Cultura pela FE-USP, doutor em História, Teoria e Crítica pela UFRGS, e membro-vice-presidente da república era ser pesquisador do Grupo de Estudos sobre Itinerários de Formação em Educação e Cultura da Universidade de São Paulo. chamado de comunista, petralha, etc., mas pelo visto agora TODO MUNDO entendeu que, não importa o quê, político ruim é político ruim, seja lá pra que time você torça. Com 82% de rejeição, segundo o Datafolha, Michel Temer é o presidente com o pior índice de toda a história da democracia do Brasil. Ok, falar em “democracia” já não é exatamente o caso brasileiro – nesses tempos duvidosos – e “presidente” também não é o melhor termo para Temer, mas, afinal, é o que está escrito nos documentos que ele tem assinado nesses últimos dois anos, em sua cruzada por colocar o Brasil de volta no terceiro mundo. Descontando os que acham “regular”, apenas 3% da população considera seu governo “ótimo” ou “bom”; ou seja, talvez somente a mãe dele, sua esposa recatada do lar e seus colaboradores do DF e de Curitiba aprovem sua gestão. No auge da crise econômica dos anos 80, José Sarney detinha 68% de reprovação (em 1989); mais adiante, Collor teve também 68% (em 1992) e Dilma, em seu pior momento, amargou 71% (em agosto de 2015). Sobre Temer, ao menos agora podemos dizer que, no meio de todo esse ódio e intolerância de Facebook, onde temos a impressão de que o Brasil está caminhando para um regime fascista, a realidade pode ser, talvez, mais branda, mais humana e de acordo com a boa índole do povo; quero dizer, os políticos estão nessa cruzada, seus assessores de marketing e seus exércitos de perfis-fake no FB também, mas a população definitivamente não aprova um governo incompetente e irresponsável, que nada faz pelo bem-estar do cidadão. Todos se deram conta, afinal, que foram enganados, e que agora precisamos aguentar nosso 8o vice terminar seu mandato de presidente. Sim, a democracia é frágil, e a essa altura é difícil não ver o que está acontecendo. Então, caso tenhamos eleições diretas, será importante escolher um candidato com propostas consistentes, maduras, que lute pelos direitos dos brasileiros, por um país melhor, mais tolerante e justo. Estamos vendo 2 anos de um tipo de governo que 82% da população desaprova completamente, então está na hora de escolhermos o oposto disso. Precisamos observar com atenção o que tem acontecido na história recente de nosso país, e aprender como fazer melhor.
ago. 2016
jun. 2017
diego dea
jun. 2018
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Tecnologia
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Desconexão, utopia possível? Maria Bitarello é escritora, jornalista e tradutora outras palavras
pessoas ao invés de adicioná-las. Eu era, visivelmente, uma usuária equivocada. O Twitter não colou comigo, nem nenhuma dessas outras coisas mais jovens que eu nem conheço pra falar a verdade – Snapchat, Telegram, etc. O Instagram me convenceram a baixar faz pouquíssimo tempo, mas não me lembro de usá-lo. Já o Linkedin me pareceu útil uma época, pra fins empregatícios, mas também o abandonei por negligência. Quando os smartphones se proliferaram, vi que não haveria saída. Adquiri meu primeiro em 2010 e três meses depois ele foi roubado. Daí ganhei outro, que também foi roubado em menos de dois meses. Me dei por vencida e fiquei um tempo sem telefone algum antes de voltar ao velho e bom Nokia lanterninha, a horcrux dos celulares (referência Harry Potter). Ele nunca estraga, a bateria é semi-eterna e ninguém vai te roubar. Um imortal. E o melhor: tem o jogo da cobrinha. Voltei a ser feliz só podendo checar e-mails de casa, sem ter que dar retorno sobre prazos do trabalho às 22h de uma sexta-feira, incapaz de postar qualquer coisa que fosse, nem tirar fotos ou dar check-in em parte alguma. Não havia cobrança nem expectativa quanto a minha velocidade em dar retorno e passei a ser considerada meio café-com-leite. As pessoas
riam da minha resistência à modernidade, mas a verdade é que eu era mais relaxada sem aquela inhaca apitando a cada minuto no bolso e, uma surpresa, minha memória melhorou. O aumento substancial de estímulos sonoros e visuais aliado à possibilidade de se googlar toda e qualquer dúvida não são, na minha opinião, aliados da inteligência e de sua irmã, a contemplação. A pessoa entra em colapso por sobrecarga. Passei a fazer o que fosse do mundo virtual apenas quando estivesse diante do computador e, assim, eu e meu Nokia lanterninha fomos felizes e apaixonados por um ano e meio. Escrevi muito nessa época. Enquanto isso, o mundo urgia em altíssima velocidade; São Paulo nem se fale. Mas em 2013 não teve jeito. A Tim não me aguentava mais. Minha conta mensal era de R$ 12 e eles começaram a me ligar sem parar pra oferecer pacotes incríveis de 3G. Um dia, de saco cheio, respondi: “não precisa me oferecer esses pacotes porque meu celular não tem 3G, eu não preciso desse serviço, obrigada, estou muito feliz só com torpedos”. Dois dias depois, nova ligação da operadora me oferecendo um Samsung bem simples de graça, mais seis meses de um pacote de dados gratuitos. Aceitei. O celular era tão ruim e o pacote de dados tão lento que eu continuava praticamente
na mesma – não conseguia fazer nada com a combinação daquele aparelho de plástico com o sinal horroroso da operadora que, na época, não pegava nem dentro da minha casa. Mas o aparelho tinha uma câmera, dava pra ouvir música e, em caso de urgência urgentíssima, poderia checar meu velho e bom e-mail. Nosso romance também durou cerca de um ano e meio e somente nos últimos três anos voltei a ter um smartphone realmente inteligente. Diante de tais invasões bárbaras da tecnologia, foi preciso reagir com vigor pra não ser engolida pela internet. Resolvi largar o Facebook. Passei um ano fora da rede – e de tantas outras coisas pras quais as pessoas não lembravam mais de me convidar, como lançamentos de livros, festas, shows e aniversários. Só fora do FB você se dá conta do quanto ele guia e organiza a vida de todo mundo, e também de quanto do seu tempo diário é passado ali. Vivi meses gostosos e muito produtivos, e deixei de ter aquelas palpitações esquisitas que nos acometem quando desce-
mos a barra de rolagem da timeline e assistimos ao show de horrores cotidiano que é ser exposto à opinião de todo mundo sobre todos os assuntos. Cruz credo. No entanto, não consegui sustentar a ausência, sobretudo porque o FB se autoprojetou de tal maneira em nossa vida que se tornou indispensável ao trabalho, e me vi impelida a retornar. E foi bom também. Segui conectada com moderação. Agora, há um mês, um presente das deusas: circunstâncias muito favoráveis a um sumiço da rede por um tempo. Não sei ainda por quanto tempo. Voltei a praticar o gênero epistolar e-mail/ carta, tenho muito mais contato direto (mesmo que virtual) com pessoas específicas, não conheço os memes da semana, sou a última a saber das novidades e, sim, sou esquecida de eventos. E nos momentos mais utópicos, me permito sonhar com o saudoso Nokia lanterninha. Quem sabe um dia…
Maria Bitarello acaba de lançar seu novo livro de crônicas, chamado O tempo das coisas, pela editora InMediaRes.
naji habib
No mundo do consumo de tecnologia, existe a expressão early adopters. Ela se refere àqueles pioneiros no consumo, os que aderem cedo às novidades. Os que querem ser os primeiros a ter o novo modelo de smartphone ou videogame, os que encomendaram os óculos da Google, os que sempre conhecem os novos aplicativos e softwares que surgiram pra solucionar problemas que você não tinha. Os early adopters muitas vezes antecipam o hype e contribuem pra que ele exista, mas também cometem seus erros e aderem a modinhas que não pegam. Eles sofrem com tecnologias ultrapassadas e são nostálgicos do futuro tecnológico que não chegarão a viver, só de imaginar a quantidade de brinquedinhos eletrônicos que não chegarão a conhecer, pois serão inventados depois de seu tempo de vida terrena. Pois é, eu não sou uma dessas pessoas. Sou uma late adopter, uma aderente tardia, desconfiada; e, em alguns casos até, uma no adopter. Meu conhecimento de videogames ficou estacionado em meados dos anos 90, e mesmo assim nunca gostei muito daquilo. Só de pinball, que nem sei se qualifica como um game mais. No início dos anos 2000, quando surgiu o Orkut, durei poucos meses na rede. Coisinha mais chata. Depois veio o Facebook, ao qual eu demorei uns bons anos a me render. E quando o fiz, não sabia muito bem que uso fazer daquilo. Não via ninguém a meu redor que, como eu, apagasse
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