Jornal de Toronto #14

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Jornal de Toronto Trump, amigo do peito p. 7

O crescimento 4 meses para da comunidade equilibrar brasileira O número de as contas e eleitores brasileiros no Canadá aumentou 70%. começar a Em Ontário, a população quase dobrou e já investir p. 3 chega a 60 mil pessoas. p. 2

edição # 14 | ano # 2 | 2018 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855

Como você se socializa na mídia social? p. 5

Estamos preparados para o presente? José Francisco Schuster Com o Brasil naufragado em mais uma crise, onde o presidente Temer tem apenas 3% de aprovação, e com pesquisa do Datafolha indicando que 62% dos jovens iriam embora do país se pudessem, o Canadá tem aproveitado essa oportunidade para conceder a imigração a profissionais qualificados, através de seus 60 programas para este fim, sendo o principal deles o Express Entry. O Brasil está figurando no Top 30 do ranking das nacionalidades que mais conseguiram se tornar residentes permanentes no país, entre 2010 e 2016. p. 2

Lições pós-Copa Cristiano de Oliveira

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• Mais do que fazer absolutamente nada na Copa, Neymar ainda queimou o nosso filme, especialmente pra nós que moramos fora. Zoeira de gringo em cima do cai-cai não é restrita ao Neymar ou ao time. É sempre “you Brazilians”. “Por que you Brazilians tão sempre rolando no chão e coisa e tal...?” Meu irmão, eu não tenho nada com isso não! Você quer que eu responda o quê? Que é virose? Que a gente aprende isso com os macacos que moram com a gente na árvore? Ou que é tradição tribal passada de pajé pra pajé? Tô tão indignado como todo mundo ao ver a outrora tão temida camisa 10 hoje rolando no chão e sendo motivo de riso. Eu entendo que o jogador habilidoso sempre apanha muito e isso é frustrante, mas não é fazendo performance do Grupo Corpo que você resolve o problema. Portanto, pra saber de molecagem de Neymar, vá perguntar a Neymar, porque eu tenho ponto pra bater às 8:30am.

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Projeto Truco vai checar falas de candidatos ao governo

Além de equipes locais em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Ceará e Pará, projeto de fact-checking também vai verificar falas dos presidenciáveis p. 4

Incentivo às exportações brasileiras para o Canadá p. 3

Jornal de Toronto cobriu a Fórmula Indy! p. 6

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Editorial Dá pra sentir o conservadorismo no ar – e não só no Brasil, mas aqui e em todo lugar. A História prova que nenhum governo conservador ou totalitário foi bom para seus cidadãos (para alguns sim, claro) e nossa defesa, hoje, é se manter bem informado e, principalmente, crítico ao conteúdo que recebemos. Essa edição nos traz exemplos de como tudo, de alguma forma, está relacionado: esporte, economia, mídia social, política e aleitamento, e de como precisamos estar atentos ao mundo que nos cerca. Se Trump, Temer e, agora, Ford já nos mostram os sobrepostos problemas que seus governos produzem, precisamos então olhar para nosso futuro próximo – ou, como bem diz Schuster, nosso presente – e combater a injustiça e, principalmente, a intolerância. Ódio não se combate com ódio, mas com inteligência. Nossa comunidade no Canadá tem crescido muito, e isso mostra nossa responsabilidade em produzir um jornal melhor a cada dia. Boa leitura. Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Gerente de mídia social: Luiza Sobral Revisor: Eduardo Castanhos

Cotidiano

Estamos preparados para o presente? José Francisco Schuster O fato da comunidade brasileira na província de Ontário ter mais do que duplicado de tamanho em apenas quatro anos, como mostram os números recém-apresentados pelo Consulado-Geral do Brasil em Toronto (veja quadro ao lado), deveria acender um sinal de alerta para os governos do Brasil – e também para nós mesmos, comunidade que vive aqui, analisarmos e tomarmos atitudes urgentes perante esta nova realidade que não se projeta mais para o futuro, mas que, pelo contrário, já é o nosso presente, sem que muitos de nós tenham se dado conta. Para trás ficam perspectivas correntes do século 20, em que o sonho de imigração brasileiro

rior, para se tornar praticamente o ator principal, com sua receptividade a processos de imigração – algo raríssimo no mundo de hoje. Mudou também, nos últimos anos, o perfil do brasileiro que vem para o Canadá. Se o primeiro grande grupo pioneiro, de 1987, considerado o início oficial da imigração brasileira para o Canadá, aproveitou-se dos últimos dias antes de ser exigido visto para entrar, desde então é preciso ser aprovado no rígido processo do Consulado do Canadá, até mesmo para um simples visto de turista, o que coloca os requerentes em um funil por onde só passa os que pertencem, ao menos, à classe média. Na virada do milênio, o Cana-

Vendas: Pulkit Sharma Fotógrafos: Fábio Rodrigues Pozzebom & Marcos Tadeu Batista Colunistas: Alexandre Rocha, Cristiano de Oliveira, José Francisco Schuster & Luiza Sobral Colaboradores dessa edição: Angela Alonso, Camila Valente, Marcos Tadeu Batista, Tumisu & Will Leite Agradecimento especial para: Rodrigo Toniol Agências, fontes e parceiros: Agência Brasil, Agência Pública, CHIN Radio, CIUT Radio, Consulado-Geral do Brasil em Toronto, Editora Unicamp, Tasnim News Agency, Velocidade em Foco Conselho editorial: Camila Garcia, Nilson Peixoto, Rosana Entler & Sonia Cintra © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, Mississauga, Brampton, Oakville, Montreal, Calgary e Vancouver. Contato: info@jornaldetoronto.ca Subscription: $0.50/cada, $50.00/ano Siga nossa página no Facebook, Twitter, Instagram e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #14, ano #2, agosto 2018 ISSN 2560-7855

Escadaria Selarón, no Rio de Janeiro.

era para os Estados Unidos e, complementarmente, a Europa e, para os descendentes nipônicos, o Japão. Com os países europeus fechando-se para imigrantes e, como a cereja do bolo, a eleição de Trump nos Estados Unidos, o Canadá deixou de ser um coadjuvante distante, frio e exótico entre os brasileiros dispostos a tentarem uma nova vida no exte-

dá passou a ser o foco principal dos estudantes brasileiros que buscam um aperfeiçoamento no exterior, seja para um curso superior, de pós-graduação ou apenas um curso de inglês, ao oferecer, pelo câmbio, custos mais atrativos do que os Estados Unidos e Europa, e, pela distância, uma passagem aérea bem mais barata do que para a Austrália, por

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O crescimento da comunidade brasileira consulado-geral do brasil em toronto

O número de eleitores brasileiros em Toronto aumentou 83% desde as últimas eleições presidenciais, há quatro anos, passando de 5.436 para 9.970, informou a cônsul-geral do Brasil em Toronto, embaixadora Ana Lélia Benincá Beltrame. No total, o número de eleitores no Canadá passou de 12.942 para 22.060 – um incremento de 70%. A estimativa do número de brasileiros na província de Ontário também quase dobrou em apenas quatro anos, acreditando-se que o número esteja hoje entre 55 e 60 mil. Com isto, pela primeira vez, a sede do Consulado de Toronto não contará com espaço físico exemplo. Além disso, o Canadá e seus habitantes, por serem oriundos do mundo inteiro, sempre se mostraram mais solícitos e pacientes com estrangeiros, seus sotaques e costumes. Assim, há 13 anos o Canadá é o país que mais recebe estudantes do Brasil. Com o Brasil naufragado em mais uma crise, onde o presidente Temer tem apenas 3% de aprovação, e com pesquisa do Datafolha indicando que 62% dos jovens iriam embora do país se pudessem, o Canadá tem aproveitado essa oportunidade para conceder a imigração a profissionais qualificados, através de seus 60 programas para este fim, sendo o principal deles o Express Entry. O Brasil está figurando no Top 30 do ranking das nacionalidades que mais conseguiram se tornar residentes permanentes no país, entre 2010 e 2016. A chegada em massa de brasileiros aprovados pelo Canadá, entre estudantes e imigrantes, é sentida pelo Consulado de Toronto, que precisou contratar mais dois funcionários, duplicar sua área de recepção, e que, pela primeira vez, terá que organizar as eleições brasileiras em uma

suficiente em suas instalações para realizar as eleições de 2018, que acontecem nos dias 7 e 28 de outubro, das 8am às 5pm. O local de votação será a St. Mary Catholic Academy, localizada no 66 Dufferin Park Ave., próximo ao Dufferin Mall. Outros indicadores do grande crescimento da comunidade brasileira na jurisdição do Consulado em Toronto são o aumento de serviços como as transcrições de carteiras de motorista brasileiras, que cresceu 20% no último ano, e a emissão de certidões de nascimento, com 18% de crescimento. O número de passaportes emitidos pelo Consulado aumentou 40% em apenas um ano, passando de 3.564 para 4.496. escola, ao invés de suas próprias instalações, como ocorreu desde que foi criado, nos anos 1970. Mesmo assim, é pouco para fazer frente ao crescimento da comunidade brasileira nos últimos quatro anos. Os brasileiros não parecem perceber a nova realidade, e ainda não conseguem se organizar como comunidade, nem demonstrar sua representatividade junto ao Canadá. Tivemos, na verdade, até retrocessos, em termos associativos, nos últimos anos; e também ainda parece difícil estimular empresários a apoiar as iniciativas culturais da comunidade, ou instalarem novos negócios, simplesmente pela falta de apoio dos próprios brasileiros, que muitas vezes não prestigiam eventos e produtos da comunidade. Nossa comunidade não pode se portar como uma massa disforme, heterogênea e anônima – exceto em jogos da seleção na Copa do Mundo. Agora somos muitos e não podemos perder o bonde da história, é preciso olhar para o nosso presente aqui. A hora é agora.

Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, e agora produz e apresenta o programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.


Economia

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4 meses para equilibrar as contas e começar a investir Alexandre Rocha

Passamos do meio do ano de 2018. E o que isso quer dizer? Que você tem mais 4 meses pela frente para não ter que repetir aquela famosa frase no réveillon: “Este ano vai ser diferente!”. Ainda dá tempo de terminar o ano com as finanças controladas, investindo com inteligência e com foco no aumento do patrimônio. Para este desafio pessoal, a coluna deste mês vai tentar te ajudar a entrar em 2019 como um verdadeiro investidor. Vamos em frente porque time is money. Reduza as despesas e compreenda o valor do longo prazo Quando você controla os gastos, reduz as despesas e começa a poupar dinheiro para investir, saiba que os resultados não serão imediatos. Demora para perceber o resultado real destas

atitudes. Reduzir as despesas é focar no que realmente vale a pena para você e tentar cortar aquilo que é supérfluo e não gera valor. Sobrando dinheiro para investir, os juros compostos farão o restante do trabalho do outro lado. No início pode parecer pouco, mas não subestime o valor do longo prazo. É juros sobre juros e quanto mais dinheiro você investe mais juros você receberá. Se você compreender que os investimentos terão seus efeitos potencializados no longo prazo, e que você só vai conseguir poupar se sobrar dinheiro, você terá a consciência de que investir é um hábito e ele deve ser recorrente. Criando mais renda Controlou os gastos e está sobrando pouco? Você pode buscar uma nova fon-

tir em ações, Hedge Funds, ETFs e outros produtos financeiros que você não vai encontrar nos bancos tradicionais. Abrindo uma conta em uma corretora, procure diversificar os investimentos para não ficar exposto somente a um tipo de ativo. Cada investimento possui um propósito e trará um tipo de retorno, fazendo com que a sua carteira gere valor no longo prazo. te de renda. Eu nunca gostei de depender apenas de uma renda e sempre busquei alternativas ao esquema salário/trabalho 9 to 5. Ora, eu posso fazer mais, como dar aulas, montar um negócio, escrever um livro, criar um curso sobre finanças... Nós podemos! Eu te incentivo a pensar na possibilidade de você criar mais renda e usar boa parte desta renda para investir. Mas não faça qualquer coisa. Busque fazer algo que você goste e

tenha talento. Algo que vá ajudar outras pessoas e ao mesmo tempo gerar renda extra para você. Investindo como um profissional Finalmente, não adianta sobrar dinheiro e investir de forma errada. Fuja de poupança, CELI, Fundos

de bancos com taxas altas e planos de aposentadoria de Governo. Um investidor profissional possui conta no banco apenas para as transações do dia a dia e investe por meio de corretoras. O Canadá possui corretoras com acesso a diversos mercados ao redor do mundo, onde você vai poder inves-

Alexandre Rocha é trader nos mercados futuros do Brasil, EUA e consultor financeiro independente. Em 2014, deixou o Banco do Brasil para fundar a consultoria Aletinvest. Se formou em economia pela UCAM-RJ e é mestre em Études Internationales pela Université de Montréal. Atualmente mora em Montreal, mas é apaixonado por Toronto. _ www.aletinvest.com

Incentivo às exportações brasileiras para o Canadá O Consulado, através do seu Setor de Promoção Comercial, estimula as exportações brasileiras para o Canadá. Segundo o chefe do Setor, ministro Ademar Seabra da Cruz Júnior, o Canadá é o 21º destino das exportações brasileiras, através de 1800 empresas. O Canadá, por outro lado, tem no Brasil seu 12º maior parceiro comercial importador, com negócios em 2017 de cerca de US$ 2 bilhões. Números mais expressivos, porém, estão na área de investimentos, com o Brasil tendo estoque de US$ 20 bilhões no Canadá e o inverso sendo de US$ 15 bilhões. O ministro acredita que o comércio

bilateral deverá passar por um incremento logo que se concretizarem as negociações para o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e o Canadá, levando a uma diminuição de restrições para a importação. “É um momento muito bom para as relações bilaterais”, afirmou o ministro. O Setor de Promoção Comercial, segundo ele, vem desenvolvendo um ativo trabalho de articulação com câmaras de comércio, universidades e outras entidades. Um dos destaques são as negociações com a Universidade de Guelph, para que certifique a carne bovina brasileira e assim permita que seja exportada. A Universidade também desenvolve uma parceria com a Embrapa para que o Brasil obtenha maior

competitividade na área agrícola, não se limitando a commodities e buscando a inovação. Outra frente de trabalho do setor é o estímulo às exportações através de parcerias entre as câmaras de comércio e órgãos como Apex e Sebrae. “O Canadá fica muito mais perto do Brasil do que a Ásia para importar água de coco”, exemplificou. Já a divulgação do turismo no Brasil é outra prioridade, uma vez que os canadenses viajam em números expressivos para o exterior. “O visto eletrônico para os canadenses em viagem de turismo ou negócios ao Brasil, implantado no último mês de janeiro, deve facilitar este movimento”, concluiu o ministro.

Vamos começar 2019 com dinheiro no bolso e investindo como os profissionais? A hora é agora! Reduza as despesas, encontre maneiras de fazer renda extra e invista como um profissional que o você terá o resultado.

Estimativa de crescimento nas exportações brasileiras para o Canadá.


Política

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Projeto Truco vai checar falas de candidatos ao governo de sete estados

fábio rodrigues pozzebom_agência brasil

Além de equipes locais em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Ceará e Pará, projeto de fact-checking também vai verificar falas dos presidenciáveis agência pública

O Truco, projeto de checagem da Agência Pública, está se preparando para cobrir as eleições de 2018 em sete estados, além da corrida presidencial. A Pública vai checar os candidatos ao governo de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Ceará e Pará, além dos candidatos à presidência. As equipes que farão a cobertura nos estados de São Paulo e Minas Gerais serão coordenadas por repórteres da própria Agência Pública. No Ceará, a cobertura será feita por uma equipe comandada pela jornalista Thays Lavor. No Rio Grande do Sul,

a Pública terá como parceiro o Filtro, organização local de fact-checking. Em Pernambuco e no Pará, as checagens serão produzidas pela Marco Zero Conteúdo e Outros 400, respectivamente. No Paraná, a cobertura será feita pelo Livre.jor. As checagens dos presidenciáveis serão feitas pela redação da Agência Pública, em São Paulo, que será também a sede da coordenação geral do projeto. Ao todo, a cobertura vai contar com 30 pessoas checando falas de políticos e boatos. As checagens dos candidatos a governador e presidente serão publicadas a partir do dia 13 de agosto no site da Agência Pública.

O candidato à presidência Jair Bolsonaro, que costuma utilizar dados falsos em seus discursos.

O Truco também passa a ter redes sociais próprias, www.facebook.com/projetotruco e @truco no Twitter. Desde 2017 o Truco é certificado pela International Fact Checking Network, rede organizada pelo Instituto Poynter, dos Estados Unidos, que reúne os principais sites de fact-checking do mundo. O projeto é apartidário e transparente. Como funciona? Para produzir as checagens, o primeiro passo da equipe é selecionar uma frase que possa ser verificada. Para isso, é preciso que contenha um dado, faça referência a leis, permissões, proibições, situações verifi-

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o seu espaço.

cáveis ou traga afirmações categóricas. Dentre as declarações que podem ser analisadas, são escolhidas aquelas que têm relevância para o debate público. O Truco faz um rodízio entre as personalidades e autoridades verificadas, para manter o equilíbrio da cobertura e garantir que todos sejam fiscalizados. Em todas as checagens, a equipe entra em contato com o autor da frase e pede para que forneça a fonte da informação. Paralelamente, são procuradas outras fontes, oficiais ou não, e especialistas. A apuração é comparada com os dados fornecidos e, com isso, a informação é classificada. Um selo que mostra o resultado da checagem é atribuído à afirmação. Por fim, o Truco volta a entrar em contato com o autor da frase e dá uma última chance para que se explique, diante da conclusão.

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Conservadorismos, fascismos e fundamentalismos Livro lançado pela Unicamp discute conceitos Angela Alonso é professora de sociologia da USP e presidente do Cebrap O “conservadorismo” é o movimento de defesa de costumes, valores e hierarquias da sociedade tradicional. Conformou-se junto e em reação à modernidade, com adeptos em toda parte e de muitos naipes. Conservadores para todo gosto: os devotados à moralidade e os aferrados à economia; confessionais e midiáticos, os que preferem as urnas e os que elegem as armas. Nada disso é recente. O fenômeno está aí há mais de dois séculos, lançando raízes, espalhando rama. Mas é notável sua visibilidade recente em ruas e mídias, como seu sucesso eleitoral mundo afora. Acostumado desde a Redemocratização a manifestações de esquerda, o Brasil vem se surpreendendo com o vigor com que o outro lado se lançou ao combate do status quo pós Constituição de 1988. Vê, por exemplo, políticas de Estado (caso de programas redistributivos) como fonte de disfunções na gestão da coisa pública, e a efetivação de leis protetoras de direitos de minorias (vide casamento entre pessoas de mesmo sexo) como atentado à família. Neste livro, autores de variadas orientações e disciplinas, recortam pedaços do iceberg: políticas públicas e artes, parlamento e protestos, dimensão internacional e difusão local. O efeito é de mosaico. Facetas se sucedem, sem se sobrepor por completo. Avistam-se complementaridades e descompassos. Sem pretensão de aprisionar o assunto em fórmula, os ensaios registram uma eloquente complexidade, estampada na abundância de designações: “direita”, “fascismo”, “reação”, “anticomunismo”, “fundamentalismo”. O conservadorismo emerge segmentado e plural. Como deus e o diabo, responde por vários nomes e ostenta suas múltiplas faces. Texto de orelha do livro Conservadorismos, fascismos e fundamentalismos: análises conjunturais, organizado por Ronaldo de Almeida e Rodrigo Toniol, que é colaborador do Jornal de Toronto.


Cultura

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Como você se socializa na mídia social? Luiza Sobral

Carta

lida _ Will Tirando

Mês passado, o Jornal de Toronto se rendeu ao Instagram (segue a gente!), que é a mídia social favorita de muitos usuários. Um ano atrás, a equipe do Jornal decidiu primeiro focar no Twitter, já que, no jornalismo, usamos mais palavras do que imagens – e com o passarinho azul fica mais fácil repassar notícias pertinentes aos interesses dos nossos leitores. No Facebook já estamos desde que começamos a impressão dos mensais, e é a ferramenta mais importante para nos conectar com a comunidade. Adoramos ver os comentários, as curtidas, os seguidores. A verdade é que, junto com a sociedade, também ficamos viciados nas redes sociais! E por isso agora estamos também no Instagram. Afinal, sobretudo nesse mundo de hoje, uma imagem pode valer mais que mil palavras. E, para nós, os leitores

valem mais que tudo. Então, vamos com você. Estaremos com você que ama palavras, e com você que prefere rolar a página e só parar nas imagens que te interessam; e, claro, sempre estaremos com você que quer se conectar com a gente. E a todos que preferem seguir na tradição centenária do jornal impresso: foi por esse mesmo afeto que começamos o Jornal de Toronto. Obrigado.

Luiza Sobral é paulista de nascença, baiana de coração, e adoraria morar no Rio. Está em Toronto desde 2011, onde se certificou como jornalista. Ama escrever, principalmente sobre viagens e outras maravilhas da vida. Luiza assina a (super lida) coluna Acontece! toda semana no site do Jornal de Toronto.


Lições pós-Copa

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marcos tadeu batista_velocidade em foco

Esportes

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Cristiano de Oliveira que eu estava assistindo a Atlético x Cruzeiro. • Mais do que fazer absolutamente nada na Copa, Neymar ainda queimou o nosso filme, especialmente pra nós que moramos fora. Zoeira de gringo em cima do cai-cai não é restrita ao Neymar ou ao time. É sempre “you Brazilians”. “Por que you Brazilians tão sempre rolando no chão e coisa e tal...?” Meu irmão, eu não tenho nada com isso não! Você quer que eu responda o quê? Que é virose? Que a gente aprende isso com os macacos que moram com a gente na árvore? Ou que é tradição tribal passada de pajé pra pajé? Tô tão indignado como todo mundo ao ver a outrora tão temida camisa 10 hoje rolando no chão e sendo motivo de riso. Eu entendo que o jogador habilidoso sempre apanha muito e isso é frustrante, mas não é fazendo performance do Grupo Corpo que você resolve o problema. Portanto, pra saber de molecagem de Neymar, vá perguntar a Neymar, porque eu tenho ponto pra bater às 8:30am. • Em 2026 a Copa está vindo pra cá, e os torcedores safados sem-vergonha que agarram as repórteres e sacaneiam as mulheres locais vão vir também. Se caírem no seu quintal, não jogue água não que é perigoso eles se multiplicarem. Mas pode alimentar depois de meia-noite, vai que eles se transformam em algum bicho um pouco menos repugnante.

Brasileiros Tony Kanaan e Matheus Leist, na disputa por posições durante prova da Honda Indy Toronto.

A Fórmula Indy transforma Toronto na cidade da velocidade! Marcos Tadeu Batista é jornalista, fotógrafo e correspondente do Jornal de Toronto na Indy 2018 Entre os dias 13 e 15 de julho, as ruas da cidade de Toronto receberam a etapa canadense da Fórmula Indy. A mais importante categoria de carros fórmula da América do Norte, em sua única excursão fora dos EUA. A história da Fórmula Indy na cidade de Toronto come-

çou no ano de 1986, em prova vencida pelo piloto americano Bob Rahal. De 1986 a 2018, foram realizadas 33 etapas da Indy em solo canadense, das quais Michael Andretti soma 7 troféus de primeiro colocado, tornando-se o maior vencedor, e das quais o Brasil soma duas vitórias, em 1987, com Emerson Fittipaldi, e

mais baixa em uma tomada de tempo foi uma boa 6ª colocação no treino livre 3, o público canadense assistiu a vitória do piloto Scott Dixon, da Chip Ganassi, e a sua consolidação como o líder da temporada 2018 da Fórmula Indy, após 12 etapas. Completaram o pódio o experiente piloto francês Simon Pagenaud, cam-

marcos tadeu batista_velocidade em foco

E lá se foi mais uma Copa, e que Copa interessante. Além das novidades na competição e das surpresas quando a bola rolou, ainda vimos a Copa levantar questões políticas e sociais por todos lados. Tá vendo como é possível assoviar e chupar cana ao mesmo tempo? Não é preciso esquecer as mazelas do mundo e se alienar durante a Copa. E, além de tudo, enquanto brasileiros, ainda pudemos tirar valiosas lições, a saber: • Em seu desespero louco de copiar estrangeiros, o brasileiro mais uma vez enfia os pés pelas mãos e copia o que não presta. Pois o time inteiro resolveu copiar a cintura dura e a tristeza da maioria dos times do hemisfério norte. Uma seleção apática, sem criatividade, acanhada e com cara de quem tirou a calça no meio do clube pensando que estava com short de banho por baixo. Se bem que meu pai fez isso uma vez e ficou rindo dele mesmo, coisa que essa Seleção deveria ter feito, ao invés de entrar em campo com os 7 a 1 escrito na testa e a cabeça baixa que aquele placar nos proporciona desde 2014. Assim sendo, com base nos meus experimentos antropológicos de infância, concluo que a solução é: a equipe brasileira precisa reencontrar jogadores capazes de manter a classe ao andar de cueca em locais públicos. • Sempre achei que a Seleção

Torcedores acompanham a largada da Honda Indy Toronto, nas ruas do Exhibition Place.

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não me representava, por não ter jogadores que a gente vê no Campeonato Brasileiro durante o ano. Com a Copa, essa sensação passou: a quantidade de passes errados da Seleção fez com que eu me sentisse em casa, parecia

Mas acabou. Acabou Messi, Cristiano Ronaldo, Cavani e cia. Fala a verdade: seus olhos não chegaram a arder ao assistir futebol após a Copa não? Os meus eram jalapeño puro. Adeus, cinco letras que choram.

Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.

em 2002, com Cristiano da Matta. Em circuito temporário, montado nas ruas do Exhibition Place, a programação contou com provas das categorias de base do programa Road To Indy, como a USF2000 e a Indy Lights Pro Mazda, responsáveis pela descoberta de novos futuros talentos para a Fórmula Indy, além das provas da Porsche GT3 Cup Challenge e da divisão canadense da Nascar, a Pinty’s Series. No domingo, sob o forte sol do verão canadense, o público lotou as dependências do Exhibition Place para acompanhar de perto a prova da Honda Indy Toronto 2018 e torcer para os representantes locais, James Hinchcliffe e Robert Wickens. E, após um final de semana onde sua posição

peão da categoria em 2016 pela equipe Penske, na 2ª colocação, e a joia canadense Robert Wickens, da pequena equipe Schmidt Peterson Motorsports, que saíra da 10ª posição do grid de largada e concluiu a prova na 3ª colocação. Os representantes brasileiros Tony Kanaan e Matheus Leist concluíram a prova em uma ótima 6ª colocação para Tony Kanaan, e na 15ª colocação para Matheus Leist, que soma bons pontos para o campeonato. Além dos representantes na categoria principal, a Verizon Indy Car, o Brasil foi muito bem representado pelo piloto Igor Fraga, na categoria USF2000, com um bom pódio na segunda colocação da prova de domingo.


Saúde& Bem-Estar

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Trump, amigo do peito

Camila Valente é enfermeira especialista em amamentação Recentemente o New York Times publicou sobre a polêmica atitude de Trump de tentar inviabilizar uma resolução de proteção ao aleitamento materno e controle ao marketing voraz de leites artificiais durante a Assembleia Mundial da Saúde. A tentativa de Trump fracassou, mas a delegação dos EUA foi acusada de favorecer os interesses de empresas de fórmula infantil em detrimento da saúde pública. Muitos se surpreenderam com a repercussão dessa notícia, incluindo uma representante do Equador, que não quis ser identificada pelo NYT: “Ficamos chocados, pois não

entendemos como uma questão tão pequena como amamentação poderia provocar resposta tão dramática”. Essa fala ilustra muito do senso comum atual referente à nutrição infantil. Durante o século XX, a alimentação artificial foi promovida gradualmente de intervenção a experiência inerente à infância, resultado do trabalho competente da indústria da fórmula. Está nos livros infantis, nos utensílios das bonecas, na TV, no inconsciente coletivo. Hoje, leites artificiais são frequentemente administrados prematuramente, comercializados livremente em supermercados e distribuí-

dos durante emergências naturalmente, como cobertores. A ideia subliminar é a de que leite artificial e materno são equivalentes, quando não é esse o caso. E pelo contexto de total desigualdade de incentivos entre o normal biológico e o comercial, nós, consumidores, também frequentemente desconhecemos os riscos da alimentação artificial infantil, bem como estratégias necessárias para reduzi-los, quando da necessidade de seu uso. Fórmulas infantis podem ser necessárias em alguns casos e serão úteis quando bem indicadas, como a insulina, por exemplo. É por isso que organizações defensoras

tumisu

da amamentação exigem o controle de qualidade dos leites artificiais comercializados, para que bebês que precisem fazer esse uso tenham acesso a uma alimentação segura, ainda que inferior. Ainda assim, estima-se que o uso indiscriminado de fórmula atualmente custe ao mundo aproximadamente US$ 300 bilhões em custos relacionados à (falta de) saúde, 823.000

vidas de crianças e 20.000 de mulheres – atenção – por ano. Enquanto que o lucro projetado para 2019 das empresas que comercializam leite artificial é de US$ 70 bilhões. Será essa a motivação de Trump e motivo do alarde? Pois é, atualmente amamentar pode ser quase que um ato de resistência – ao que hoje é “normal” – mas que deveria ser um direito humano básico, natural e

gratuito. A quem for jogar pedras, por favor, mirem nos titãs e não nas Genis. Estamos ocupadas fazendo nosso melhor; seja resistindo ou pagando por fórmula. camilavalente.com


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