Jornal de Toronto #15

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Jornal de Toronto Eleições 2018 edição # 15 | ano # 2 | setembro 2018 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855

Eleições 2018 Alexandre Rocha No último dia 15 de agosto, os partidos políticos brasileiros registraram os candidatos e seus respectivos planos de governo para as Eleições de 2018 no TSE. No total, treze candidatos à Presidência da República apresentaram suas propostas. Este dado faz desta eleição a maior em números de concorrentes desde 1989. Independente de quem for eleito, ao assumir o Governo em janeiro de 2019, o futuro ou a futura chefe do executivo tem a responsabilidade de trazer soluções para problemas complexos e urgentes, como: corrupção, desemprego, reforma da Previdência, segurança pública, autonomia do Banco Central, simplificação tributária, recuperação e melhoria empresarial das estatais, reforma do Pis/Cofins e privatização da Eletrobrás. Ufa! Não será nada fácil. Para se ter uma noção dos planos apresentados, eu separei as principais propostas econômicas dos cinco candidatos mais bem colocados nas pesquisas eleitorais: Ciro Gomes, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin, Jair Bolsonaro e Marina Silva. p. 4

Imigração é sempre um sucesso – para o Canadá p. 3

A consciência do voto e as eleições presidenciais brasileiras p. 5

andrew khoroshavin

Animais malignos da fauna brasileira Cristiano de Oliveira Rodei as matas e levei flechada de índio em dois hemisférios diferentes, mas meus estudos em Toscobiologia e Ictiologia da Lagoa da Pampulha finalmente estão gerando resultados. Posso hoje começar a apresentar meu compêndio de piores animais da fauna brasileira, a saber... p. 7

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Neutralidade e política Quando ser imparcial significa, na verdade, escolher um lado p. 5

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Editorial

É véspera de eleições no Brasil e acreditamos que seja muito importante, neste momento, focar na política. Não na polarização que assola as discussões das mídias sociais (e dos frenéticos compartilhamentos de WhatsApp), onde cada indivíduo tenta defender seu candidato, seja lá o que ele tenha feito de duvidoso. O momento é delicado e precisamos refletir sobre a importância de votar certo, de pensar no país e em todos que moram nele. Estamos em outro hemisfério, mas nossos amigos e parentes estão lá, e é o país que amamos. Pois bem, votar certo traz alguma chance do país melhorar, e para isso é preciso deixar a intolerância de lado e ter serenidade para escolher o candidato que terá melhores condições de mudar a situação que acomete nossa terra natal. Ainda há alguma esperança que o bom-senso prevaleça. Mais uma vez, o Jornal de Toronto segue seu compromisso em defesa da diversidade de opiniões para o pleno desenvolvimento de uma sociedade mais democrática e inclusiva. Essa edição trata, basicamente, das nossas expectativas sobre o futuro. Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Gerente de mídia social: Luiza Sobral Revisor: Eduardo Castanhos Vendas: Marina Oliveira & Mitul Parmar Fotógrafos: Andrew Khoroshavin, Ricardo Stuckert & Sergi Carretero Colunistas: Alexandre Rocha, Cristiano de Oliveira & José Francisco Schuster Colaboradores dessa edição: André Silva de Oliveira, Antônio Francisco Pereira, Rodolfo Silva Marques, Rosana Entler & Will Leite Agradecimento especial para: Chris Mitchell, Edwin Isensee, Maddie Siklos & Socorro Lustosa Agências, fontes e parceiros: CEPAL, CHIN Radio, CIUT Radio, ONU Brasil Conselho editorial: Camila Garcia, Nilson Peixoto, Rosana Entler & Sonia Cintra © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, Mississauga, Brampton, Oakville, Montreal, Calgary e Vancouver. Contato: info@jornaldetoronto.ca Subscription: $0.50/cada, $50.00/ano Siga nossa página no Facebook, Twitter, Instagram e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #15, ano #2, setembro 2018 ISSN 2560-7855

Economia

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Imigração é sempre um sucesso – para o Canadá José Francisco Schuster

sergi carretero

A mentalidade brasileira traz embutido um paternalismo que perpassa todas as classes sociais, indo do pobre, com “o dotô vai me ajudar”, passando pela classe média, com “o cartão do deputado vai te abrir portas”, e chegando aos ricos, com “o pistolão no governo vai me isentar dos impostos”. O potencial imigrante, porém, tem que entender que o Canadá não se comporta como instituição de caridade, tendo compaixão de quem está na miséria do outro lado do mundo: o país é gerido como um negócio. E se John Kennedy dizia “não pergunte o que o seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo seu país”, não estaria de todo errado adaptarmos para “não pergunte o que o país pode lhe dar de dinheiro, pergunte o que você pode dar de dinheiro para seu país”. Senão, vejamos: para começar, só tem potencial para ser aprova-

do no difícil processo de imigração quem está disposto a transferir ao Canadá um grande investimento do Brasil, e do seu bolso, na sua formação profissional – uma grande economia para o Canadá, que já pega alguém pronto sem gastar um tostão. Depois, é preciso pagar as taxas de imigração e, para maior tranquilidade, um consultor, colocando mais dinheiro na economia canadense. Um dos itens exigidos no processo é ter uma poupança para se manter, sem ajuda do governo, por meses após a chegada, ou seja, muito mais reais viram dólares. Chegando no Canadá, a primeira providência será providenciar onde morar, e aqui se paga adiantado dois meses de aluguel, que é caríssimo, antes de colocar os pés na casa, exigindo um caminhão de dinheiro. Com a chave, você entra em uma casa vazia, sem um garfo, um travesseiro, um sabonete,

nada. Ou seja, compras que você dilui por anos no Brasil têm que ser feitas de uma tacada ao chegar no Canadá, colocando muito dinheiro na economia. Quer um carro? Você pode ter anos como motorista no Brasil, mas para o Canadá é considerado novato, e o seguro obrigatório lhe sairá muito mais do que a própria prestação do carro. Para completar, a pegadinha: os diplomas que lhe foram exigidos para ser aprovado na imigração quase nada valem no Canadá, e você terá que gastar milhares e milhares de dólares praticamente refazendo seu curso ou buscando uma nova carreira. Se a grana já acabou a essa altura, o Cana-

dá oferece crédito educativo, ou seja, uma grande dívida. Porque se você se recusar a jogar o jogo, provavelmente ficará marginalizado – e frustrado profissionalmente. Se formar, além disso, exige trabalhos voluntários ou estágios muitas vezes não-remunerados, o que vem a ser mão-de-obra gratuita para o país, para não usar um termo mais forte. Só após a graduação, enfim, você terá chances significativas no mercado de trabalho e começará, lentamente, a recuperar o imenso investimento feito. Seu futuro ainda pode ser incerto, mas, com todos estes gastos, o do Canadá já está garantido.

Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, e agora produz e apresenta o programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.

Com evolução tecnológica, 65% das crianças terão empregos que ainda não existem onu brasil

De acordo com a chefe da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), Alicia Bárcena, 65% de todas as crianças do planeta que entram hoje na escola primária terão empregos que ainda não existem. “Precisamos ajudar os jovens a compreender as novas tecnologias, porque muitos empregos que existem hoje não existirão no futuro. Estamos preparando pessoas para trabalhos que não existirão”, alertou Bárcena. Segundo ela, os avanços em robótica, inteligência artificial, genética

e energias renováveis prometem erradicar a pobreza e promover o desenvolvimento sustentável. As conquistas da ciência “representam uma oportunidade”, acrescentou Bárcena, mas apenas se houver um novo pacto social entre os governos, setor privado, academia e a juventude, a fim de mudar os sistemas educativos e a forma como países enfrentam os problemas tecnológicos. Na América Latina e Caribe, 60% da população tem acesso à internet, e a maioria dos usuários é de jovens. Porém, existem disparidades no acesso entre zo-

Crianças contempladas pelo programa Um Computador por Aluno.

nas rurais e urbanas, e também entre homens e mulheres, o que limita as oportunidades profis-

ricardo stuckert

sionais das meninas nos setores científicos.


Economia Política & www.jornaldetoronto.ca

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Brasil - Eleições 2018 Alexandre Rocha No último dia 15 de agosto, os partidos políticos brasileiros registraram os candidatos e seus respectivos planos de governo para as Eleições de 2018 no TSE. No total, treze candidatos à Presidência da República apresentaram suas propostas. Este dado faz desta eleição a maior em números de concorrentes desde 1989. Independente de quem for eleito, ao assumir o Governo em janeiro de 2019, o futuro ou a futura chefe do executivo tem a responsabilidade de trazer soluções para problemas complexos e urgentes, como: corrupção, desemprego, reforma da Previdência, segurança pública, autonomia do Banco Central, simplificação tributária, recuperação e melhoria empresarial das estatais, reforma do Pis/ Cofins e privatização da Eletrobrás. Ufa! Não será nada fácil.

Para se ter uma noção dos planos apresentados, eu separei as principais propostas econômicas dos cinco candidatos mais bem colocados nas pesquisas eleitorais: Ciro Gomes, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin, Jair Bolsonaro e Marina Silva. Mas, antes de falar sobre cada candidato, é importante entender o atual contexto político e econômico. É neste cenário que os candidatos disputarão o seu voto. Contexto Atual No dia 7 de outubro, cerca de 147 milhões de eleitores, com escolaridade média do Ensino Fundamental incompleto, irão às urnas para eleger 1 Presidente, 27 Governadores, (2/3) dos Senadores e ainda, deputados Federais e Estaduais. Esta eleição possui novas regras eleitorais, como o fim do financiamento privado das campanhas e a criação do fundo público de financiamento.

Com 13,1 milhões de desempregados, o país passa por uma das piores crises econômicas da sua história, com problemas fiscais e baixo crescimento, legado de má administração e escândalos de corrupção. Temos hoje um ex-presidente preso, um total de vinte partidos políticos envolvidos em esquemas criminosos e mais de cento e vinte políticos, dos seis maiores partidos, sendo processados (PP 35; PT 32; MDB 32; PSDB 26; PR 19; PSD 17, DEM 15), o que dá um toque ainda mais especial à crise atual. O atual Governo possui a pior avaliação de desempenho da história, sendo considerado por 82% da população como ruim; 14% regular e apenas 3% o consideram bom. O que temos é um cenário extremamente desafiador para os eleitores e o próximo Governo terá pouca margem de erro, se quiser realmente colocar

Geraldo Alckmin O economista Pérsio Arida traz uma agenda reformista para o plano de Governo de Geraldo Alckmin. Nos primeiros 6 meses de Governo, haverá a reforma previdenciária e tributária. O candidato pretende abrir a economia e fazer com que o comércio exterior represente 50% do PIB, priorizando ainda os investimentos em infraestrutura, em parceria com a iniciativa privada, como fator estratégico para o aumento da competitividade da economia brasileira. Alckmin quer privatizar empresas estatais liberando recursos para fins socialmente mais úteis, e assim aumentar a eficiência da economia, simplificando o sistema tributário pela substituição de cinco impostos e contribuições por um único imposto, o IVA.

Jair Bolsonaro O economista Paulo Guedes é o responsável pelo plano de Governo do candidato Bolsonaro. Em seu projeto “Fênix”, o candidato defende o que chama de Brasil livre, com uma proposta de reorganização da área econômica, com dois organismos principais: o Ministério da Economia, que engloba os atuais Ministérios da Fazenda, Planejamento, Indústria, Comércio, Secretaria Executiva do PPI, e ainda o Banco Central, que terá um caráter formal e politicamente independente. Para estruturar o seu plano, Bolsonaro propõe que as instituições financeiras Federais sejam todas subordinadas ao Ministério da Economia, um orçamento base zero, o controle dos custos associados à folha de pagamentos do Governo Federal, a eliminação do déficit público primário já no primeiro ano e a Conversão em superávit no segundo ano. Uma redução de juros com a desmobilização de ativos públicos, com o correspondente resgate da dívida mobiliária Federal e a redução natural do custo médio da dívida, também faz parte da estratégia. Por fim, o candidato sugere um novo modelo de Previdência, no sistema de capitalização, uma reforma tributária com a unificação de tributos e a radical simplificação do sistema tributário nacional, com a manutenção do tripé econômico vigente: câmbio flexível, meta de inflação e meta fiscal. Todos os recursos obtidos com as privatizações e concessões deverão ser obrigatoriamente utilizados para o pagamento da dívida pública.

Todas as informações contidas no texto desta matéria tiveram como fonte: IBGE, TSE, Bacen, Congresso em Foco; Datafolha e Focus-Bacen.

o país em um caminho de prosperidade. Confira abaixo quais são as principais propostas ECONÔMICAS dos candidatos para as Eleições 2018, conforme os planos registrados no TSE:

Ciro Gomes

O Economista Nelson Marconi foi quem coordenou a proposta do candidato para as Eleições de 2018. O foco do programa está no ajuste fiscal, em reformas na Educação e na segurança pública, e no aumento da poupança doméstica. Ele é contra a privatização de setores estratégicos. Para tentar tirar o país da crise, o candidato diz que irá reduzir a Selic junto com a realização de um ajuste fiscal. Além disso, promete uma reforma monetária, manutenção de inflação baixa e a criação de um fundo para ajudar os brasileiros com nomes sujos a refinanciar suas dívidas. Dentro do plano ainda está a manutenção do regime de metas de inflação e a implementação de duas metas para o Banco Central: taxa de inflação e taxa de desemprego. Ele pretende adotar uma medida de núcleo dos índices de preços, como meta de inflação, redução de 15% das desonerações tributárias, isenção de tributos na aquisição de bens de capital, redução do imposto de renda, Pis, Cofins e ICMS. Implementará o IVA (Imposto sobre Valor Agregado) e recriará o imposto de renda sobre lucros e dividendos. Por fim, revogará o teto dos gastos, e recomprará todos os campos de petróleo brasileiro vendidos ao exterior pelo governo Temer após a revogação da lei de partilha, o mesmo se dando com relação ao acordo Boeing e Embraer.

Fernando Haddad Márcio Pochmann é o economista responsável pelo programa de Fernando Haddad. A prioridade é a redução da desigualdade, a revisão do teto de gastos e a alteração da reforma trabalhista aprovada no governo Temer. O candidato ainda propõe mudanças no poder judiciário, reforma política com participação popular, fortalecimento do SUS, além de controle de capitais. Ele também defende um esquema de duplo mandato para o Banco Central com meta de emprego e inflação. Haddad é contra qualquer privatização e suspenderá a política de privatização de empresas, além da venda de terras, água e recursos naturais para estrangeiros. Por fim, pretende revogar as leis aprovadas durante o governo Temer, como o teto dos gastos e a reforma trabalhista.

Marina Silva Os economistas Eduardo Gianetti e André Lara Resende elaboraram o programa da candidata Marina Silva. Marina focará na estabilidade econômica e respeitará o regime de câmbio flutuante, mas com intervenções para evitar excessivas flutuações. Assim como Bolsonaro, defende a autonomia do Banco Central e o tripé macroeconômico, e fala em realizar uma reforma da Previdência já no início do Governo. Esta reforma seria com adoção de idade mínima e regra de transição que não atinja quem está perto de se aposentar. Seria implementado um sistema misto de contribuição e capitalização. O plano econômico propõe uma revisão completa das renúncias fiscais e da suspensão do Refis. A candidata é contra qualquer aumento da carga tributária e vai revisar as prioridades de intervenção do Estado, privilegiando as atividades que de fato geram mais empregos, podendo privatizar empresas estatais, com exceção de Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica.

Economia e segurança pública terão pesos importantes nos debates. A expectativa do PIB para este ano é de 1,5% e a solução para questões econômicas e fiscais, como a reforma tributária, Previdência e teto de gastos, poderão ser cruciais para a retomada do crescimento do Brasil. A intervenção Federal no Rio de

Janeiro é o destaque na pauta sobre a violência urbana no Brasil. Com mais de sessenta mil mortos apenas em 2018, o país já bateu o seu próprio recorde antes mesmo do ano acabar. As propostas apresentadas acima podem ser realidade para uns ou devaneio para outros, mas o que importa é que ninguém gover-

na sozinho. O Congresso, mais uma vez, terá a responsabilidade de aprová-las (ou não). Em outubro saberemos quem governará, de fato, este gigante chamado Brasil. Boa sorte para nós!

Alexandre Rocha é trader nos mercados futuros do Brasil, EUA e consultor financeiro independente. Em 2014, deixou o Banco do Brasil para fundar a consultoria Aletinvest. Se formou em economia pela UCAM-RJ e é mestre em Études Internationales pela Université de Montréal. Atualmente mora em Montreal, mas é apaixonado por Toronto. _ www.aletinvest.com


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Neutralidade e política

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Quando ser imparcial significa, na verdade, escolher um lado Rosana Entler Tá bom, você não gosta de falar de política. Essa conversa de esquerda e direita tá mais parecendo discussão de time de futebol. Você se coloca à parte dos bate-bocas na mídia social, não foi bloqueada(o), e o grupo da família segue na paz com os memes de “bom dias” com crianças sorrindo e flores com luzinhas piscando. Dessa balburdia chamada política você se considera isento. Mas como ficar realmente isento na conjuntura política mundial? Praticamente impossível. A partir do momento em que nos posicionamos em relação aos movimentos migratórios, à qualidade dos sistemas educacional e de saúde, à eficiência do transporte público, estamos sim falando sobre política. Mais do que isso, o simples exercício da cidadania já é, por si só, um ato político. Podemos não acompanhar os movimentos dos

bancos centrais em relação à taxa Selic, mas sabemos se os juros do nosso cartão aumentaram. Não entendemos direito a relação entre produto interno bruto e a inflação, mas sabemos dizer se o nosso poder de compra aumentou ou diminuiu. Sabemos quanto tempo deveríamos levar até o trabalho, e reclamamos com propriedade da infra-estrutura oferecida versus impostos pagos. Portanto, falamos de política mesmo quando não

estamos falando deste ou daquele partido político. Se a coisa tá ruim ela pode ficar pior sim; portanto, é hora de parar e refletir. Tipo meditação, todo dia, pelo menos por uma hora, sem prestar atenção nos ruídos, sozinhos com nossa consciência política. Em que realmente acreditamos? No livre mercado? Foco principal no social? No meio termo entre os dois? E qual ideologia política se aproxima mais das

nossas ideologias pessoais? O mais bonito da democracia e liberdade de expressão – guardadas as devidas proporções sobre o que passa a ser considerado crime de ódio e ataques aos direitos humanos – é o debate leal, que acrescenta, cujo resultado expressa o desejo da maioria de um povo. Se o resultado do pleito não for aquele que gostaríamos que fosse, teremos que aumentar o debate e exercer o direito democrático no pró-

ximo período eleitoral. Isso é democracia. Também não adianta se autodenominar isento e colocar a decisão nas mãos das divindades superiores, primeiro porque o Estado é – e deve continuar sendo – laico, mas também porque não foi nenhuma força divina que inventou teorias econômicas, relações trabalhistas, cargas tributárias, sistemas previdenciários, só pra citar algumas das leis criadas pelos mortais.

Ao final, independentemente de quão apolítico ou avesso à política formos, sempre haverá um grupo de políticos legislando e outro executando programas de governo – e, em todos os casos, interferindo diretamente na sociedade em que estamos inseridos, e cujas consequências afetarão não só a nossa, mas também as gerações futuras. Votar é um direito e um privilégio que, como se diz por aqui, “cannot be taken for granted”.

A consciência do voto e as eleições presidenciais brasileiras Rodolfo Silva Marques é doutor em Ciência Política pela UFRGS e professor-adjunto da Universidade da Amazônia & André Silva de Oliveira é doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco Em 7 de outubro de 2018, cerca de 147 milhões de brasileiros estarão aptos para ir às urnas e eleger o próximo Presidente da República Federativa do Brasil. São 13 candidatos disputando a preferência do eleitor brasileiro – alguns dos pleiteantes ao cargo envolvidos em casos polêmicos. Além de imprevisíveis, as eleições presidenciais brasileiras guardam complexidade sobre qual futuro o brasileiro espera e como elementos como a propaganda eleitoral, os discursos políticos, os debates públicos e as denúncias de corrupção podem influenciar na escolha de um candidato ou na rejeição de outro. A informação é um dos fatores mais importantes que levam o eleitor a fazer suas escolhas eleitorais. Cidadania, na ampla acepção,

constrói-se através da informação e, no contexto da decisão do voto, tal reflexão se torna ainda mais verdadeira. O eleitor pode pensar em suas demandas pessoais ou voltar o olhar para a coletividade. Um voto consciente e responsável contribui para a ideia da Qualidade da Democracia. Tal conceito se manifesta no melhor funcionamento das instituições e na confiança das pessoas nelas. O voto seria, assim, uma ferramenta de accountability vertical. Com maior ou menor grau de consciência, os eleitores buscam, pois, escolher governantes melhores, que mantenham padrões como a impessoalidade e o combate permanente à corrupção. Nessa discussão, podem ser acrescentadas algumas questões referentes à Cul-

tura Política, e de que maneira esse processo pode se consolidar em determinada sociedade. A formação de uma cultura política está diretamente ligada ao desenvolvimento humano, podendo se manifestar no comportamento eleitoral e na construção de valores adequados à democracia representativa – que é o modelo que vigora de forma consolidada no Brasil há quase três décadas, a despeito de algumas interrupções. Outra reflexão a ser feita é entender até que ponto o desencanto com a classe política brasileira – em virtude, principalmente, de episódios recentes – pode se manifestar através de um voto de protesto ou mesmo de abstenção às urnas. No pleito de 2014, em que Dilma Rousseff se tornou

vencedora – posteriormente sofrendo o processo de impeachment em 2016 –, cerca de 27,7 milhões dos 142,8 milhões de eleitores brasileiros (ou 19,4%) estiveram ausentes às seções de votação, índice superior aos três pleitos anteriores, de acordo com os dados do Tribunal Superior Eleitoral. O que as urnas eleitorais brasileiras vão revelar em 7 e 28 de outubro, com a

realização dos dois turnos eleitorais para a Presidência da República? Quais variáveis emergirão na escolha do eleitor? Até que ponto o voto é ideológico, representa uma reclamação ou é decidido por aspectos mais pragmáticos? Destarte, mesmo com um quê de imprevisibilidade, as eleições presidenciais de 2018 demonstram que pode haver um voto mais

consciente, com ou sem a carga de um viés ideológico, mas com um grau maior de responsabilidade em se escolher o Chefe do Executivo Federal pelo período de 2019 a 2022, além dos outros cargos que estarão em disputa no Brasil – governadores, senadores, deputados federais e deputados estaduais, nas 26 unidades federativas e no Distrito Federal.


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A bundóloga Antônio Francisco Pereira é escritor em MG Vivendo e aprendendo. Acabo de saber que a sensitiva inglesa Sandra Amos é capaz de ler a bunda das pessoas. Não ria, o assunto é sério. Muitos clientes atestaram o acerto de suas previsões. E ela explica, didaticamente: “Todos carregamos nosso futuro escrito no traseiro. Mais do que isso, é como se ele fosse uma enciclopédia da nossa vida. A nádega esquerda expressa o passado, enquanto o futuro está ali mesmo, entre carne, músculo e celulite, do lado direito”. Ou seja, assim como o cérebro tem dois hemisférios e cada um exerce uma função, os flancos do nosso traseiro também têm registros diferentes. Quando você repousa numa cadeira, por exemplo, está sentando em cima do seu passado e do seu futuro. Com “anos” de experiência (o trocadilho é inevitável), Sandra esclarece que os babilônios, os antigos gregos e romanos já praticavam essa técnica pra lá de curiosa: ler bundas. Eu nunca soube disso. Quer dizer então que, se Ulisses tivesse consultado uma vidente dessas na época, ele saberia com antecedência que nem sua mulher iria reconhecê-lo na sua volta pra casa? Outra curiosidade revelada pela rumpologia (nome correto do ofício) é que as nádegas, pelo seu formato, mostram também traços da personalidade do indivíduo. Alguns exem-

plos: Forma de maçã: pessoa carismática, dinâmica e criativa. Forma de pera: caráter firme e paciente. Redonda: alegre e otimista. Côncava: negativa e deprimida. Se tem maçã e pera nesse catálogo, certamente haverá uma leitura para a mulher melancia, mulher melão, mulher moranguinho e outras frutas tropicais. Pelo que li, a agenda de Sandra Amos está lotada. Astros de Hollywood e esportistas famosos não veem a hora de baixar as calças diante dela antes de aceitar um novo papel no cinema ou fechar um contrato no Paris Saint Germain. Até alguns políticos brasileiros, de olho nas eleições desse ano, tentaram agendar uma consulta com ela para examinar suas possibilidades. Mas, nesses casos, a vidente foi curta e grossa: “não preciso ver a bunda deles para saber que vai dar merda” (tradução livre). De minha parte, como tenho mais passado que futuro e como a minha vida já é um livro aberto, não preciso que ninguém leia a minha bunda. Nessa idade, mal consigo limpá-la diariamente.

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Animais malignos da fauna brasileira

Cristiano de Oliveira Rodei as matas e levei flechada de índio em dois hemisférios diferentes, mas meus estudos em Toscobiologia e Ictiologia da Lagoa da Pampulha finalmente estão gerando resultados. Posso hoje começar a apresentar meu compêndio de piores animais da fauna brasileira, a saber: O Furão Festeiro Esse bichinho da cara pidona sente cheiro de picanha de longe. Bastou ter festa na sua casa, e ele já está rodeando o seu quintal. Ai de você se não deixá-lo entrar, vai ficar muito feio no reino animal, mas se ele entra, você se lasca do mesmo jeito. Sendo um bicho onimerdófilo (significa que faz todo tipo de bobagem, sem distinção), ele age em várias áreas: é comum vê-lo levar 6 Coors Light pra festa e acabar bebendo 12 Stellas. Outros espécimes só vão embora depois que o dono da casa começa a manusear armas de fogo. Dica: ao perceber a presença de um Furão Festeiro no seu quintal, não entre em pânico. Evite fazer movimentos bruscos e esconda todos os instrumentos de percussão disponíveis, pois se ele começar a tocar, é igual mor-

dida de tartaruga: dói, e só larga quando chove. A Taturana Pimenta-No-Dos-Outros Essa criatura é originária do Brasil, onde ela se autoproclama “diferenciada”, acha que lagarta pobre tem mais é que se virar sozinha e programas do governo da mata são coisas pra insetos vagabundos. Em certa altura da vida, emigra para o Canadá, onde passa a habitar a camada mais rasteira da pirâmide alimentar, e aí se diz defensora das lagartas em situação de fuleiragem extrema. E se pintar uma árvore do governo bem verdinha, ela traça as folhas com o maior prazer. O Esquilo Furta-Conta Esse simpático bichinho costuma andar em bandos e esperar por você de braços abertos no Brasil. Muito afável, ele sempre aceita convites pra tomar uma gelada. O problema é que, ao ser exposto à conta, o bicho demonstra uma habilidade sem igual e desaparece, deixando a conta pra você. Em situações de pânico, o Esquilo Furta-Conta emite a frase “Você ganha em dólar”.

O Rouxinol Delícia Ah, esse é enjoado. O Rouxinol Delícia é um bicho que aprende a cantar no Brasil e se apaixona pela própria voz. Em certa altura da vida emigra para o Canadá achando que o Brasil é pequeno demais pra tanta gostosura e que o mundo precisa conhecer o seu talento incomensurável. Até a ficha cair e ele concluir que é um zero à esquerda, o Rouxinol Delícia encherá imensamente o saco do povo, não só cantando, mas também dedicando seu tempo livre a contar pra todo mundo como ele fez o maior sucesso ao tocar no International Festival Zemaneh Rocks. O Mico Delícia Do mesmo reino e filo do Rouxinol Delícia, mas com duas pequenas diferenças de classe: ao invés de passarinho, é um macaco; e ao invés de cantar, toca algum instrumento. Retém a mesma habilidade do primo de se achar gostoso, além de coçar o ouvido e cheirar o dedo. O Baiacu Delícia É outro neto do Vô Delícia, só que esse nem canta nem toca, ele

Não

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é chato e metidão de graça mesmo. Os outros ao menos ou voam ou pulam pelas árvores, mas esse aí só enche.

Gabinete de curiosidades de Ferrante Imperato, gravura de 1599.

E calma que tem a parte 2. Quando eu invoco, a casa cai. Adeus, cinco letras que choram. Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.

confie em pitbull _ Will Tirando


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