Jornal de Toronto #16

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Jornal de Toronto

A união da comunidade A nova sede brasileira em favor da do Jornal de Democracia Evento no City Toronto! p. 2

O Batman Brasileiro

O primeiro Fan Film do mundo do Homem-Morcego no formato de longa p. 2

Hall reuniu cerca de 400 pessoas p. 5

edição # 16 | ano # 2 | outubro 2018 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | #elenão

Onde morar em Toronto?

Para quem está chegando, conheça alguns dos bairros e regiões da cidade p. 3

O comunista, esse desconhecido

lizardo carvajal

O brasileiro tem um apelido maldoso pra tudo: traíra, corno, frango, coxinha... e em época de eleição, surge o mais temido, o mais velho, o Mum-Rá dos apelidos: o comunista! p. 7

Questione sempre e evolua p. 5

É preciso aprender com a História p. 6

Acompanhe nosso website com vídeos e matérias complementares www.jornaldetoronto.ca

O Brasil corre riscos de deixar de ser uma democracia caso Bolsonaro vença as eleições presidenciais em 2018? p. 6

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Editorial

Quem, em sã consciência, gostaria de ser privado de sua própria liberdade de expressão, ficar sem poder dizer o que quer, sem poder ir a todo lugar ou talvez nem mesmo sair do país? Quem, em sã consciência, desejaria viver sob um regime militar? Uma rápida pesquisa pela internet – enquanto esta não for censurada – mostra que nenhum povo foi beneficiado em países com governos totalitários, e que seus esforços históricos (digo, do povo) foram justamente para lutar e se livrar da opressão desses governos, fossem eles de direita ou de esquerda. Por mais apartidário que o Jornal de Toronto possa ser, não podemos deixar de defender a liberdade e a democracia de nosso país. É nosso compromisso enquanto veículo de comunicação. Nossa equipe é composta por pessoas que apoiam diversos partidos e têm diferentes pontos de vista; mas certamente todos defendem os direitos humanos e a democracia. Essa edição, portanto, é um pouco mais densa do que o normal – reflexo do momento pelo qual estamos passando. Aqui vale uma explicação: por Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Gerente de mídia social: Luiza Sobral Especialista de marketing: Jesiane Queiroz Revisor: Eduardo Castanhos Vendas: Marina Oliveira Fotógrafos: Hao Zhang, Lizardo Carvajal, Reimund Bertrams & Uwe Baumann Colunistas: Alexandre Dias Ramos, Cristiano de Oliveira, Luiza Sobral & José Francisco Schuster Colaboradores dessa edição: André Silva de Oliveira, Rodolfo Silva Marques & Will Leite Agradecimento especial para: Angélica Barbosa, Carla Melo, Chris Mitchell & Jacob Stanescu Agências, fontes e parceiros: CHIN Radio, CIUT Radio, Flickr, PR Cinema Conselho editorial: Camila Garcia, Nilson Peixoto, Rosana Entler & Sonia Cintra © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, Mississauga, Brampton, Oakville, Montreal, Calgary e Vancouver. Contato: info@jornaldetoronto.ca Subscription: $0.50/cada, $50.00/ano Siga nossa página no Facebook, Twitter, Instagram e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #16, ano #2, outubro 2018 ISSN 2560-7855

conta dos prazos editoriais dessa edição, as matérias foram escritas ainda antes do primeiro turno das eleições, num período em que havia dois candidatos tecnicamente empatados para concorrer contra Jair Bolsonaro; ou seja, a intenção dessa edição não é indicar algum candidato ou partido específico, mas sim desindicar Bolsonaro. Mas não é só de monstros que vive o Halloween; então temos também, nessa edição de outubro, uma matéria sobre o Batman Brasileiro, sobre os melhores lugares para se morar em Toronto, e uma notícia pra lá de ótima: a inauguração da nova sede do Jornal de Toronto! Localizada no segundo andar do icônico Gladstone Hotel – construído em 1889 pelo arquiteto George Miller –, nossa nova sede agora é parte de uma das iniciativas culturais mais importantes da cidade. O prédio abriga, além dos quartos do hotel, um charmoso café, o concorrido Melody Bar, e um conjunto seleto de empresas da indústria criativa, como estú-

A nova sede do Jornal de Toronto!

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dios de arte e design, um grande hall para exposições, o jornal comunitário West End Phoenix (nosso colega de porta), e também a VISIT curatorial art magazine, que também é produzida por nossa editora. Essa conquista é o resultado do trabalho sério e profissional desenvolvido por aqueles que colaboram com o Jornal de Toronto. Nosso muito obrigado a todos que apoiam nosso projeto, especialmente os leitores e anunciantes, sem os quais tudo isso não seria possível. Nosso crescimento é, sem dúvida, o reflexo de uma comunidade que valoriza o jornalismo de qualidade.

Cultura

O Batman Brasileiro

Primeiro Fan Film do mundo do Homem-Morcego no formato de longa pr cinema

Quatro anos após ser finalizado e iniciar trajetória no circuito underground do cinema brasileiro, o primeiro Batman Fan Film longa-metragem do mundo, feito pelo cineasta Elvis delBagno, ganha espaço na TV e em festivais de cinema. Um Conto de Batman: na Psicose do Ventríloquo foi o primeiro filme longa-metragem da carreira do diretor de 32 anos, um paulistano amante dos filmes de “gênero”. A obra já rendeu diversos prêmios internacionais a Elvis, como o de Melhor Fotografia, no The Scare-A-Con Film Festival; Melhor Filme de Super-Herói, no PollyGrind Undergroung Film Festival of Las Vegas; e Melhor Filme Estrangeiro, no Indie Gathering International Film Festival, todos nos Estados Unidos. No Brasil, o “filme do Batman” conquistou exibições na TV e na terceira edição do Santos Film Fest. A obra tem enredo autoral, prioriza os personagens, ao invés de explosões, lutas e efeitos especiais, e mostra uma narrativa mais lenta, por vezes, sem falas. O filme traz uma visão desvinculada das características hollywoodianas tradicionais, mas com produção robusta, fotografia

marcante e enredo denso. Elvis gosta de utilizar o ambiente como um dos protagonistas, pois é ele o responsável pelos males das pessoas, por uni-las ou afastá-las. “Aprecio demais essa peculiaridade, pois é o ambiente que faz você entender sobre o ser humano. Uma pessoa só é o que é devido aos incontáveis fatores e forças que o ambiente exerce sobre ela”, comenta o diretor. Para Elvis, as crises existenciais se sobrepõem aos problemas externos, e seus roteiros buscam mostrar o porquê daquela pessoa se tornar um vilão e quais motivos a levaram a esta condição. O cineasta preza por filmes do gênero “Fantástico” – com toques surrealistas, de horror ou dramas – que fogem do convencional. “Busco inverter histórias, dar outro fim ao final já conhecido, desestruturar narrativas. Assim, acredito que o filme se torna mais autoral, com características marcantes. Sempre procuro associar o filme a uma discussão política ou social de nosso país. E prefiro o ritmo do cinema clássico”, afirma o fã da obra de Roman Polanski e Luis Bruñuel.

Cartaz do filme dirigido por Elvis delBagno. Assista ao filme completo Um Conto de Batman: na Psicose do Ventríloquo pelo site do Jornal de Toronto: www.jornaldetoronto.ca


Cotidiano Luiza Sobral West, East, North, South. Provavelmente no Brasil você não tinha o costume de falar coisas como: “Eu moro na Rua Tal Leste, no quarteirão sul da Avenida Bla. Vai subindo em direção norte!”. No Canadá, isso é comum de se ouvir. Quando cheguei aqui, achei que nunca iria entender; agora, já ficou fácil. As cidades norte-americanas, incluindo Toronto, são bem planejadas e fáceis de compreender. As ruas são longuíssimas, se estendem por vários bairros – às vezes, cruzam até diferentes cidades. A Yonge Street já esteve no Guinness Book como rua mais longa do mundo; e é ela mesma que divide a cidade. Olhando para o lago – que é o ponto sul da cidade – o que estiver à esquerda da Yonge Street é o lado leste (East), e o lado direito é a região oeste (West). Quanto mais distante da Yonge você estiver, mais leste ou oeste você estará.

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Onde morar em Toronto? Para quem está chegando, conheça alguns dos bairros e regiões da cidade

“Tá, ok, acho que entendi. Mas e agora, para onde devo ir? Onde ficar, onde morar?”

A resposta é: depende do seu objetivo. Está vindo para ficar poucos dias e a ideia é explorar? Sacrifique o quesito espaço, e talvez desembolse um pouco a mais, mas escolha um bairro downtown. Está mudando de mala e cuia com a família? As casas e apartamentos fora do quadrante central vão ser mais espaçosos e confortáveis. Se você estiver sem carro, procure algo próximo ao metrô.

Downtown

Afinal, quais são exatamente os limites de downtown Toronto? Sul da Bloor, oeste da Church, leste da Dufferin: o quadrante que engloba esses perímetros é o mais centralizado, o mais movimentado e onde se hospeda a maioria dos turistas quando vêm conhecer a cidade. Mas dentro disso há vários bairros, com várias identidades diferentes. Uma simples análise de alguns:

West Queen West – foi eleito pela Revista Vogue o segundo bairro mais cool do mundo – apesar de tecnicamente não ser um bairro, e sim a região ao redor da rua Queen, na parte oeste da Bathurst, até mais ou menos a Ossington Ave. Porquê? Barzinhos, restaurantes e boutiques funky, trendy, e todos os outros adjetivos que fazem moda com pessoas interessantes. Ah, e também é

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hao zhang

onde está a nova sede do Jornal de Toronto, claro!

Trinity Bellwoods – agora esse sim é bairro oficial, apesar de muita gente conhecer só o parque de mesmo nome. E é o parque que é a sensação da área, unindo a Dundas West, uma rua com vida noturna interessante e bastante influência portuguesa, a uma das partes mais gostosas da mesma Queen West, que mencionamos acima. Fashion & Entertainment District – digamos que é o “meio do buxixo”, onde fica a CN Tower, os teatros da King St. W., o shopping a céu aberto na Queen St., as baladas mais ferventes, e a maior concentração de restaurantes. Costumava ser a região mais cara para se morar, mas com a inauguração de conjunto de prédios arranha-céus, como o CityPlace, o preço de aluguel de apartamentos (normalmente, minúsculos) barateou um pouco (porém, aumentando o trânsito de carros por ali). Yorkville – o bairro chiquetê de Toronto! Lojas de grife, pessoas ricas, clínicas de botox, essas coisas. Little Italy – o bairro da comunidade italiana fica ao redor da College St. e tem também alta concentração de estudantes e restaurantes.

Chinatown – dispensa apresentações. É uma mini-China bem no meio de Toronto. A grande vantagem é, inclusive, sua ótima localização – e com preços às vezes mais baixos do que outros bairros vizinhos.

Kensington Market – a região das ruas Augusta e Kensington, norte da Dundas St., é a mais hippie da cidade. Viver ali pode ser gostoso, mas o morador tem que se acostumar ao alto movimento noturno e de turistas durante o dia. Church & Wellesley – o bairro mais simpatizante de Toronto. Mas muito além da alta concentração LGBT da cidade, a região é cheia de restaurantes e bares e uma energia menos pretensiosa do que os bairros centrais do lado oeste.

Ufa! Esses são só os principais – mas deu para você ter uma ideia de como downtown Toronto está dividida. A vantagem, no geral, de morar nessa região é a facilidade de mobilidade (você não precisa de carro, sempre tem comércio perto, uma bicicleta quebra o galho). A desvantagem? O preço de um “apartamentico” é normalmente mais alto do que de um de tamanho beeem melhor, mas menos centralizado. A regra é: quanto mais longe de downtown, mais espaço o seu aluguel te compensa.

Alguns

bairros legais (po-

rém, fora do quadrante central)

são

Parkdale + Roncesvalles – praticamente fechando o oeste da Queen St. W., o bairro é considerado downtown por alguns. Um streetcar facilmente te leva a CN Tower. A região era mais caída, quase meio gueto, mas a popularidade da Queen se estendeu para lá e hoje é mais hippie-cool, inclusive sendo chamada de “VeganDale”.

High Park – morar perto do maior parque da cidade é uma vantagem para os amantes da natureza. Quanto mais próximo da Bloor St., melhor. Earslcourt – se você quer estar perto da comunidade brasileira, essa é a melhor área. Restaurantes, como o Rio 40 Graus, salões de beleza e outros comércios, brasileiros e portugueses, se concentram aqui.

Yonge & Eglinton – considerado a região mais “downtown de uptown”. Explico: entre os bairros de midtown ou uptown, é dos mais movimentados. O cruzamento das duas ruas é quase tão cheio como o cruzamento da Bloor

com a Bay, e as opções de comércio são muitas. Fica ali pertinho o bairro Leaside, vizinhança com casas bem legais e escolas ótimas para crianças. Casa Loma + Rosedale + Summerhill + Moore Park – aqueles bairros que são o melhor exemplo de sonho americano. Casas lindas e grandes, todas com preços de compra acima dos 2 milhões.

Beaches + Leslieville – bairros da região leste, próximos ao lago. As casas são lindinhas, e o clima é bem família. Uma opção para quem quer ficar próximo à praia, porém escolha Leslieville se você pretende ir a downtown com mais frequência, pois o streetcar até as Beaches leva uma eternidade – ok, mais ou menos uma hora. Enfim, Toronto é uma cidade grande, mas nem tanto. E a melhor vantagem: é, em grande parte, segura. Seja norte, sul, leste ou oeste, espero que nosso resumo de bairros te ajude na escolha e que, situado, você se sinta em casa. Oh Canadá!

Luiza Sobral é paulista de nascença, baiana de coração, e adoraria morar no Rio. Está em Toronto desde 2011, onde se certificou como jornalista. Ama escrever, principalmente sobre viagens e outras maravilhas da vida. Luiza assina a (super lida) coluna Acontece! toda semana no site do Jornal de Toronto.


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Política

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Questione sempre e evolua

José Francisco Schuster

Uma das mais belas fases do desenvolvimento humano, para mim, é a idade dos porquês, entre os três e quatro anos de idade. É o período em que a criança começa a descobrir o mundo que a cerca e a questioná-lo. Uma minoria de pais inteligentes fazem muito bom uso dela, não só dando respostas adequadas, mas aproveitando para questionar a si próprios sobre o que já virou rotina. Para a maioria das crianças, no entanto, é a fase de descobrir a ira dos adultos, raivosos com tantos questionamentos, por diversas razões. Ou se sentem ocupados para dar atenção à criança, ou não sabem e não querem buscar uma resposta, ou, pior, não querem se questionar por que algo é

de determinada maneira. E aí vem respostas absurdas, menosprezado a inteligência das crianças, ou malcriadas e ofensivas, ou os malditos “porque sempre foi assim” ou “porque sim”. Esses adultos que fogem dos questionamentos são assassinos do presente e do futuro, não revendo suas posições atuais e fazendo com que os pequenos se tornem igualmente não-questionadores e virem massa de manobra. Claro que dói responder por que colocamos comida no lixo, por que não separamos o reciclável e por que a empregada não tem carro como nós. Mas é preciso engolir em seco e enfrentar cada porquê recebido, e aprender com eles. Neste momento de elei-

uwe baumann

ções no Brasil e no Canadá, talvez uma das perguntas difíceis com que os adultos se deparam é dar um por-

A união da comunidade brasileira em favor da Democracia

quê sobre quais candidatos decidiram votar. Talvez o motivo seja o de muitos adultos considerarem votar algo chato, uma obrigação da qual querem se livrar o mais rapidamente possível. Assim, os candidatos são escolhidos em cinco minutos, sem reflexão alguma, sem analisar histórico, programas partidários, nada. “Os homens de terno na TV sempre dizem que este é o melhor candidato”, pode ser a resposta que a criança receba. Afinal, assistir o ho-

Pergunte

Manifestação reuniu 400 pessoas em frente ao City Hall de Toronto.

No dia 29 de setembro, cerca de 400 pessoas participaram da manifestação contra o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro, em frente ao City Hall da prefeitura de Toronto. Apesar do cunho diretamente político, o evento foi suprapartidário e não havia bandeiras, cartazes ou manifestações de partidos políticos. O conteúdo dos cartazes e camisetas foi principalmente o hashtag #EleNão, em referência à campanha no Twitter em favor dos direitos das mulheres, iniciada pelo grupo “Mulheres contra Bolsonaro”, que já está chegando a 4 milhões de membros.

O foco principal da manifestação foi esclarecer e combater os valores de extrema-direita defendidos pelo candidato Bolsonaro e seu vice, general Mourão. Toronto foi uma das mais de 60 cidades espalhadas pelo mundo que se mobilizou contra o candidato e a favor da Democracia brasileira. No Brasil, as manifestações reuniram milhares de pessoas, e ocorreram em 65 cidades, nas 27 unidades da federação. “Em 18 anos de Canadá, nunca testemunhei uma manifestação da comunidade desse porte. Muito feliz de ver a comunidade

se unindo pelo amor, pelo respeito ao próximo, e pela democracia”, diz Rosana Entler. A manifestação em Toronto foi pacífica e reuniu os mais diversos grupos da comunidade, incluindo as principais mídias, jornalistas internacionais, músicos, empresários, além da presença de católicos e evangélicos. “Toda a comunidade está aqui”, disse uma participante, que assistia ao evento do terraço superior do City Hall. Neste momento tão importante da política do país, a comunidade brasileira em Toronto mostrou sua força e deu seu recado: #EleNão.

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rário eleitoral é o pior castigo que se pode ter. Ainda se pode simplesmente votar em branco ou anular o voto e a obrigação está cumprida. E viva o Canadá, onde o voto não é obrigatório. “Eu, ainda ter que entender de política canadense, em inglês ou francês? Nem pensar! Não vou e pronto.”

Os adultos, tão infantis, não se dão conta que votar é a única chance que se tem na vida de escolher seus próprios chefes. Você, que suou em tantas entrevistas de emprego para ser chamado, quando é sua vez vai no uni-duni-tê? É a oportunidade de comportar-se como recrutador profissional e verificar com cuidado quem vai fazer um bom trabalho ou botar fogo na casa, ou seja, na sua própria vida, fazendo dela um inferno, com consequências até para seus filhos e netos. Votar mal ou alhear-se é dar oportunidade para que aquele bando de malas-sem-alça do outro departamento contratem um que seja cupincha deles. Tire, então, um tempo para escolher com cuidado bons candidatos. E seja capaz de mostrar a uma criança que você usou critérios racionais, não emocionais. Elas sim lhe agradecerão de coração, por sua paciência em explicar e por dar a elas um futuro melhor.

Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, e agora produz e apresenta o programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.

a outro _ Will Tirando


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reimund bertrams

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O Brasil corre riscos de deixar de ser uma democracia caso Bolsonaro vença as eleições presidenciais em 2018? Rodolfo Silva Marques é doutor em Ciência Política pela UFRGS e professor-adjunto da Universidade daAmazônia

& André Silva de Oliveira é doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco “O inominável”, “coiso” e “#EleNão” são denominações e campanhas nas redes sociais contra o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro. O Deputado Federal pelo Rio de Janeiro liderou as pesquisas de intenção de voto durante boa parte do pleito e tem chances reais de vencer a eleição em 28 de outubro. O capitão reformado do Exército tem utilizado vários estratagemas políticos e midiáticos em sua campanha, como “vender” a ideia de ser alguém de fora do sistema político – “o outsider” –, capaz de “implodir tudo que está aí” e, com um viés conservador, abraçou demandas de vários estratos sociais, como o “armamento de homens de bem”, o combate à violência e a “recuperação” de valores familiares. É importante ressaltar, todavia, que Bolsonaro é um político de carreira, com 27 anos na Câmara Federal, e ampliou o poder através de sua família, com 3 filhos parlamentares (Eduardo, Deputado Fede-

ral-SP; Flávio, Deputado Estadual-RJ e candidato ao Senado; e Carlos, Vereador pela cidade do Rio de Janeiro). Como fenômeno eleitoral, Bolsonaro guarda semelhança com o ex-presidente Fernando Collor que, em 1989, usou o discurso de “caçador de marajás” e “defensor dos descamisados”, embora sempre tenha sido um político tradicional, vinculado às oligarquias econômicas nordestinas. Do ponto de vista dos riscos para a democracia, em uma possível vitória de Jair Bolsonaro, é importante destacar a postura dele na negação de que tenha havido Ditadura Militar no Brasil, entre 1964 e 1985, o radicalismo de seus discursos e a imprevisibilidade a respeito de suas ideias e atitudes. A falta de conhecimento de política econômica; a desconfiança – verbalizada em várias ocasiões – para com o sistema eleitoral brasileiro (e para com o uso das urnas eletrônicas); o desapreço pelas instituições e por determinados grupos sociais, além

de declarações polêmicas, inclusive de seu candidato a vice-presidente, General Mourão (relativizando, por exemplo, o respeito à Constituição Federal), trazem a muitos cidadãos brasileiros a sensação de que o Brasil poderia passar por riscos em sua democracia em uma possível gestão Bolsonaro. É importante lembrar que a democracia brasileira, a partir de 1985, vem buscando se consolidar, mesmo que tenham sido interrompidos dois mandatos presidenciais pela via do impeachment – Fernando Collor, em 1992, e Dilma Rousseff, em 2016. No modelo de presidencialismo de coalizão, o Chefe do Executivo precisa fazer articulações com o Congresso Nacional em todos os níveis, além de respeitar as decisões do Poder Judiciário. Dessa forma, algumas posições radicais precisariam ser repensadas, sob pena de gerar uma paralisia decisória e comprometer a qualidade da democracia brasileira.

É preciso aprender com a História Sobre um futuro sem fascismo

Alexandre Dias Ramos Hitler era um cabo do exército que subiu ao poder com astúcia, senso de oportunidade e, principalmente, um discurso de ódio que prometia o tão desejado “Retorno à Ordem”. Da Inquisição ao Holocausto, passando pela escravidão e o Apartheid, não há na História final feliz para autoritarismos que tentaram aniquilar ou restringir a liberdade de pessoas “diferentes” de um pretenso padrão superior. O resultado foi só desgraça e vergonha. Para aqueles que valorizam a intolerância, o ódio e a segregação; para aqueles que se incomodam com a cor da pele do outro, com a vida sexual do outro, ou acreditam que sua educação, cultura

e posição social te tornam alguém apto a diminuir ou prejudicar outra pessoa, há um candidato perfeito nessas eleições. Se o país vai ficar melhor com ele? Sabemos a resposta. Não podemos, claro, diminuir a força da imagem que Bolsonaro exerce; no entanto, apesar de sua índole nazi-brazuca, Bolsonaro é uma espécie de palhaço de côrte, uma figura caricata e completamente fora do mínimo que nosso país necessita. Não tem preparo técnico, não tem educação, tato social, nem respeito pela população. Bolsonaro não tem como ser uma opção. Bolsonaro dá voz a uma parcela da população que não sente vergonha de seus preconceitos, fundamentados numa moralidade de ocasião (que varia

conforme credo, raça e distinção social); são eleitores que não se ajustam à liberdade de expressão, e que desejam um tirano para lhes dizer o que fazer. Seu eleitorado clama por obediência – pressupondo, claro, que serão apenas os outros que terão problemas para obedecê-lo. Afora as preferências em partidos e candidatos no primeiro turno, o momento agora é delicado e cada voto conta e pode ser uma arma importante para combater alguma possibilidade de um candidato fascista vencer. É preciso aprender com a História, e não deixar que o Brasil se torne uma triste parte dela.

Alexandre Dias Ramos é editor-chefe do Jornal de Toronto, mestre em Sociologia da Cultura pela FE-USP, doutor em História, Teoria e Crítica pela UFRGS, e membropesquisador do Grupo de Estudos sobre Itinerários de Formação em Educação e Cultura da Universidade de São Paulo.


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O comunista, esse desconhecido Cristiano de Oliveira

Dentre as coisas mais típicas da cultura brasileira, além do palito Gina e do amor pela corrupção desde que ela nos favoreça, uma das coisas que mais se destaca é o desaforo. Ah, como é bom apontar o dedo na cara do outro e falar um bocado de nomes... Você já viu algum outro país com tanto nome disponível pra se xingar o próximo? O brasileiro tem um apelido maldoso pra tudo: traíra, corno, frango, coxinha... e em época de eleição, surge o mais temido, o mais velho, o Mum-Rá dos apelidos: o comunista! Pense num nome antigo! Seu sentido se perdeu no tempo e virou apenas outra palavra difícil que é bacana falar. Hoje em dia, no meio da discussão política, quando um diz para o outro que “você é um comunista!”, ele não quer dizer “você é um seguidor do ideário de Marx e Engels”.

Ninguém nem sabe o que é isso mais; mas continuam chamando todo mundo de comunista porque vô fazia assim, ou coisa do gênero. Na cabeça do desaforado, o que ele está realmente querendo dizer é “você deve ser aquele cigano que aparecia no Jubileu de Manhumirim e o povo dizia que sujava a praça e sequestrava menino”. É inimaginável que, em pleno 2018, alguém ainda esteja com medo do perigosíssimo comunista. O que é um comunista? Como se identifica um? Se estiver fumando Minister e tomando Conhaque de Alcatrão São João da Barra, é porque é comunista? Falam dele como se fosse um cara que saiu do bar muito doido e mandou avisar que tá indo pra sua casa bagunçar sua gaveta de meias! E o pior é que há décadas a situação se repete. Sempre

que é preciso instilar medo na população, basta falar que fulano é comunista e

pronto, está criado um inimigo público – ninguém sabe por quê, mas todos concordam que deve ser uma coisa muito ruim. Engraçado é que o papo começa logo que alguém tenta justamente melhorar a vida do povo: quando Getúlio Vargas criou as férias remuneradas e o décimo terceiro, ele foi chamado de comunista também. Justo ele, que de comunista não tinha nada e até andara flertando com Hitler alguns anos antes. A verdade é que basta pensar em ascensão social das classes mais baixas e você já pode esperar alguém pra te chamar de comunista. É apontar dedo primeiro pra pensar depois – ou abrir uma revistinha do Cascão depois, pois é muito mais fácil do que pensar e ainda tem um caça-palavra no meio. Criam um monte de historinhas de terror grotescas e sem fundamento – pin-

tar a bandeira brasileira de vermelho? É preciso ter um furúnculo no cérebro pra acreditar numa coisa dessas – simplesmente pra evitar que a população pare e pense: “Peraí; tão chamando esse cara de comunista por quê?”. Reduzir o questionamento e trocá-lo por um apelido que pega rápido, eis o velho plano de alienação popular. Foi assim com Anões do Orçamento, com Pedaladas, etc. Não, eu não acredito nesse medo velho caduco de comunista. Eu tenho certeza absoluta de que um cara não vai entrar lá em casa e pegar minhas cuecas pra distribuir pra multidão. Nem que Guarapari vai virar Cuba – só se for Cubatão, o que aliás já deve estar encaminhado. Vote em quem quiser, só não deixe que o medo guie seu voto. Adeus, cinco letras que choram.

Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.

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