Jornal de Toronto #18

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Jornal de Toronto

É mais fácil mudar Que Judiciário é issdaí? Até há pouco, havia um comportamento certa teatralidade para que se do que uma crença acreditasse que existia um pouco de Justiça. Nem mesmo a maior corte do país, o STF, envergonha-se de suas escancaradas preferências, além da prioridade edição # 18 | ano # 2 | ser o próprio bolso. p. 4

Como o investimento em estratégias e políticas de inclusão tem ajudado organizações a alcançar uma vantagem competitiva no www.jornaldetoronto.ca mercado. p. 7

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edição # 18 | ano # 2 | dez 2018 jan 2019 | www.jornaldetoronto.ca | info@jornaldetoronto.ca | ISSN 2560-7855

A política da vingança A agenda política de Doug Ford parece estar mais preocupada em derrubar seus opositores do que atender às demandas urgentes para o desenvolvimento da província de Ontário. p. 5

A oposição a Jair Bolsonaro ganha força de diferentes grupos sociais p. 4

O Jornal de Toronto cobriu o 300 Salão Internacional do Automóvel de São Paulo. Veja as fotos em nosso

A força da arte brasileira

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Exposição "Imprinted Lines: narrative in Brazilian woodcutting" apresentou em Toronto artistas de oito cidades do Brasil. p. 3

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Editorial

O ano de 2018 foi especialmente bom para o Jornal de Toronto, pois firmou o jornal como referência na comunidade e também tornou a equipe maior e mais unida. Foi um ano em que mais e mais pessoas, de dentro e fora do Canadá, descobriram a gente e passaram a ler nosso conteúdo. Aliás, é importante aqui dar destaque ao aumento crescente dos leitores portugueses, que têm nos prestigiado com grande atenção e carinho. Fica aqui toda a nossa estima e admiração. O ano que passou também foi, como sabemos, de grandes turbulências, especialmente em relação às eleições no Canadá e no Brasil. Isso nos trouxe, do ponto de vista jornalístico, um desafio extra. Se alguns preferem acreditar somente em sua pequena visão de mundo, há muitos outros que desejam abrir seu universo crítico através da reflexão e do diálogo com diferentes perspectivas. “Porque eu sou do tamanho do que vejo”, já dizia Alberto Caeiro. E o ano novo promete desafios ainda maiores. Ao menos não precisamos mais daquelas esperanças iniciais, meio enganosas, que se dissipam pelo caminho. Ao contrário, sabemos bem nossos desafios e teremos força para superá-los. Que entre 2019. Editor-chefe: Alexandre Dias Ramos Gerente de mídia social: Luiza Sobral Especialista de marketing: Jesiane Queiroz Revisor: Eduardo Castanhos Fotógrafos: Gustavo Chams, Jeff Sheldon, Marcos Tadeu Batista, Shane Fester Colunistas: André Oliveira, Camila Garcia, Cristiano de Oliveira, José Francisco Schuster & Rodolfo Marques Colaboradores dessa edição: Jamile Cruz, Valf Macedo & Will Leite Agradecimento especial para: Mônica Cândido Oliveira Agências, fontes e parceiros: CHIN Radio, CIUT Radio, Gladstone Hotel, I&D 101, Velocidade em Foco Conselho editorial: Camila Garcia, Nilson Peixoto, Rosana Entler & Sonia Cintra © Jornal de Toronto. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de qualquer trecho desta edição sem a prévia autorização do jornal. O Jornal de Toronto não é responsável pelas opiniões e conteúdos dos anúncios publicados. Circulação: O Jornal de Toronto é mensal e distribuído em Toronto, Mississauga, Brampton, Oakville, Montreal, Calgary e Vancouver. Contato: info@jornaldetoronto.ca Subscription: $0.50/cada, $50.00/ano Siga nossa página no Facebook, Twitter, Instagram e matérias complementares, durante todo o mês, em nosso site: www.jornaldetoronto.ca Edição #18, ano #2, dezembro 2018 ISSN 2560-7855

Cultura

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A força da arte brasileira Exposição Imprinted Lines: narrative in Brazilian woodcutting, na sede do Jornal de Toronto.

Entre os dias 8 e 30 de novembro aconteceu a exposição Imprinted Lines: narrative in Brazilian woodcutting, na sede do Jornal de Toronto. A exposição destacou quatro artistas brasileiros: Maria Iza Campos, de São Paulo; Airton Laurindo, de Juazeiro do Norte; André de Miranda, do Rio de Janeiro; e Marcelo Monteiro, de Porto Alegre. Além deles, também foram selecionados outros quatro artistas e nove poetas de quatro cidades de Pernambuco (Caruaru, Lajedo, Recife e Bezerros), representando a Literatura de Cordel – também diretamente associada com a xilogravura. A noite de inauguração foi um grande sucesso e contou com cerca de 150 pessoas. O público ca-

nadense ficou muito impressionado com a força da arte brasileira e os visitantes ficaram curiosos com o processo de produção das xilogravuras, pois cada artista mostrou diferentes tipos de resultado gráfico. Sobre isso, no dia 25 de novembro, foi realizado um encontro com a gravurista Maria Iza Campos, uma das artistas da exposição, e com o curador Alexandre Dias Ramos, que falaram sobre a técnica da gravura e o processo curatorial da exposição em Toronto. O catálogo da exposição, em forma de jornal, foi publicado para a ocasião e pode ser acessado pelo www.issuu.com/jornaldetoronto

redação

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O evento de abertura da exposição Imprinted Lines: narrative in Brazilian woodcutting aconteceu na noite do dia 8 de novembro, na sede do Jornal de Toronto, e contou com cerca de 150 pessoas.

redação

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Política

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Que Judiciário é issdaí? José Francisco Schuster

Chega o dia na vida em que você descobre que o Judiciário não existe para fazer justiça, mas, como aparelho de Estado que é, seu objetivo é proteger os privilégios das elites. Para fazer com que os que a ela não pertencem sintam o maior incômodo possível ao buscá-la, o judiciário se acomoda em palácios, em vez de escritórios comuns, os juízes usam togas para parecerem superiores, e o linguajar é o mais complicado possível – para que os mortais não entendam nada do que significa “estamos virando o jogo para que, em vez do graúdo que você processou, você se ferre”. Além disso, advogados deveriam ser um direito universal como saúde pública, afinal, já basta que você está sendo injustiçado. Advogados pagos pelo Estado, contudo, são algo precário no Brasil, como o SUS, e tem que lutar contra bancas mantidas a peso de ouro pelas elites. Uma luta de Davi e Golias. Se o acesso à Justiça é o mais limitado possível à grande maioria, pior é sua transparência à sociedade. Os juízes são os únicos que conheço que se consideram acima do dever de prestar contas de seus atos, com a desculpa esfarrapada de que “os juízes só falam nos autos”. Como podem esquivar-se de entrevistas da imprensa, como se já não bastasse pertencerem ao único sistema no mundo do qual não é cobrada produtividade (empresas privadas vão à falência e Executivo e Legislativo podem cair nas eleições seguintes)? Nunca tive boa impressão do Judiciário. Afinal, quando meu carro sofreu perda total, a multinacional de agrotóxicos levou o caso até o STJ, arrastando-se por anos. O que recebi não dava

para comprar um jogo de pneus. No divórcio do meu pai, seu advogado alertou-o que só andavam os processos dos que molhavam as mãos dos escrivães. E como jornalista, testemunhei a mão impiedosa da Justiça sobre os Sem-Terra e os Sem-Teto em relação a terras abandonadas. Até há pouco, porém, havia certa teatralidade para que se acreditasse que existia um pouco de Justiça. Agora, assistimos a máscara cair de vez. A parcialidade do Judiciário brasileiro atingiu graus chocantes, com explícita perseguição a seus desafetos e acobertamento dos colegas de elite – afinal, praticamente só consegue passar em concurso para juiz os dela oriundos. Nem mesmo a maior corte do país, o STF, envergonha-se de suas escancaradas preferências, além de a prioridade ser o próprio bolso. E o máximo de punição para um juiz que descumpre do dever é a aposentadoria. Para completar, temos juízes se enveredando pela política, assumindo compromissos até mesmo antes de deixar seus cargos. A cereja do bolo é o novo governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que deixou a carreira de juiz federal pela política. Ora, se acredita – ou se acreditava – que juízes fossem pessoas ponderadas, equilibradas nas suas decisões, confiáveis como um Ghandi, Dalai Lama ou Papa Francisco. Witzel, porém, agora sabemos, defende a lei da Idade da Pedra, querendo policiais que atirem para matar, atiradores de elite à espreita e presídios em alto-mar. Quantos outros juízes pensarão igual? Como já dizia Chico, “chame o ladrão”.

Com mais de 35 anos de experiência como jornalista, José Francisco Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Foi, durante 8 anos, âncora do programa Fala Brasil, e agora produz e apresenta o programa Noites da CHIN - Brasil, na CHIN Radio.

Fotografia apresentada na exposição Meanderings, inflections, and Angry Camels, do artista brasileiro Gustavo Chams, realizada no The Fields Exhibition and Project Space, em Vancouver, em outubro de 2018.

A oposição a Jair Bolsonaro ganha força de diferentes grupos sociais André Oliveira & Rodolfo Marques Com a confirmação da vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais e com os primeiros passos do governo de transição, as forças políticas e ideológicas brasileiras passam por um processo de reorganização, tanto no apoio ao grupo liderado pelo presidente eleito, como também nas chamadas forças de oposição. Ambos os grupos apresentam uma composição heterogênea, com diversos grupos e interesses distintos. A vitória de Jair Bolsonaro – incontestável, mas não tão avassaladora como se imaginava – trouxe grandes consequências que já podem ser visualizadas. A despeito de uma clara onda conservadora, tanto no Congresso Nacional e em vários estados, com a ascensão de partidos como o PSL e o PSC, houve o surgimento e o crescimento de vários movimentos, alguns sem organicidade, contrários ao governo eleito e que pretendem se tornar forças de resistência. Dentro desse contexto de oposição, o primeiro ponto a ser destacado dentro desse cenário é a (real) força do PT. Fernando Haddad e seu partido tiveram mais de 40 milhões de votos (vencendo em 11 estados) e, apesar da

derrota e grande movimento antipetista predominante no país, a agremiação conseguiu fazer a maior bancada da Câmara Federal (57 deputados) e quatro governos estaduais, fortalecendo suas ações no Nordeste. O movimento “vira-voto pela democracia e contra o fascismo”, ocorrido às vésperas da eleição, mesmo sem organização ou liderança do PT, é um dado representativo desse processo. O modo como o PT vai funcionar neste novo cenário de oposição efetiva será um grande desafio que envolverá a capacidade de se reconectar com as classes populares de todas as regiões do país, considerando-se o fato de que, no Nordeste, o partido continua bem consolidado. Há, no campo partidário, também a mobilização de grupos de esquerda buscando lideranças fora do partido. Alguns candidatos derrotados no pleito presidencial, como Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede), buscam homogeneizar essas forças, assim como, dentro do PSDB, busca-se uma opção dentro do centro político, com lideranças como o ex-presi-

dente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) também busca mais espaços, ainda mais com o crescimento de mais de 100% de sua bancada na Câmara dos Deputados. Dentro da sociedade civil organizada, vários movimentos vêm crescendo na oposição ao presidente eleito. O movimento antifascista, pró-democracia e defensor das minorias, como os grupos LGBTs e as organizações feministas, fortalecem tal processo de luta. Um dos slogans desses agrupamentos é “Ninguém solta a mão de ninguém”, dentro da perspectiva de que é necessário fortalecer as conquistas feitas e buscar a consolidação da jovem democracia brasileira. Um argumento utilizado é o de que, segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral, quase 61% dos eleitores brasileiros não escolheram Jair Bolsonaro, ao votar em branco, nulo, em Fernando Haddad ou não comparecendo às urnas no mês de outubro de 2018. E um espaço em que se

André Oliveira (à esquerda) é advogado com especialização em Direito Público, doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco e membro da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) desde 2009. Rodolfo Marques é analista judiciário, publicitário e jornalista; Mestre (UFPA) e Doutor (UFRGS) em Ciência Política, e professor de Comunicação Social na Universidade da Amazônia e na Faculdade de Estudos Avançados do Pará.

desenvolve uma força de resistência é o das universidades, que historicamente têm um pensamento ideológico mais alinhado com os movimentos sociais, ações de esquerda e situado no campo progressista. E um outro polo importante também são as ações de grupos na internet – em mídias e redes sociais. A formação do governo Bolsonaro parece indicar que a segurança será entregue aos militares, que retornam a um certo protagonismo político, a economia aos Chicago Old Men sob o comando de Paulo Guedes, e o combate à corrupção ao controvertido Sérgio Moro. A julgar pelos últimos resultados das eleições norte-americanas que apontaram avanço das minorias nacionais, o governo Bolsonaro, se não apresentar rapidamente resultados expressivos na economia e segurança, pode ver sua popularidade ser corroída em curto prazo. A oposição, mesmo heterogênea, estará vigilante em todos os passos do novo governo, apontando falhas e buscando correções de rota.


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A política da vingança Camila Garcia No ditado popular, vingança é um prato que se come frio. Contudo, o sabor da vitória nunca dura o suficiente e o estômago logo volta a roncar vazio. Quem nunca ouviu falar no olho por olho, dente por dente? Um sentimento tão remoto, inerente ao ser humano e que facilmente arrasta consigo a ideia de justiça. Na política, sob o pretexto de justiceiros, muitos são eleitos. Até aqui, nada de novo. Os eleitores que anseiam por mudança são rápidos em eleger esses políticos. Na província de Ontário, por exemplo, o comportamento do premier Doug Ford, do Partido Conservador (PC), tem fomentado inúmeras especulações a este respeito. Tudo começou, poucas semanas após sua posse, quando Ford anunciou a redução no número de vereadores da prefeitura de Toronto, de 47 (novo formato aprovado para eleições de 2018) para 25, que, de acordo com ele, economiza aproximadamente

$25 milhões de dólares aos cofres públicos. A oposição oficial (NDP), entretanto, entendeu a decisão como uma vingança a cidade de Toronto, pela derrota que ele sofreu nas eleições municipais de 2014, e ao baixo número de votos que obteve no centro da cidade em 2018. Apontaram ainda para uma economia ilusória e não justificada, uma vez que, cuidando de áreas maiores, os gastos mensais de cada vereador aumentarão. O corte afetou a eleição de representantes municipais da região do Peel, onde concorriam dois dos seus principais rivais políticos, Steven Del Duca (Partido Liberal) e o líder expulso do Partido Conservador, Patrick Brown. Para não ficar sem posição política, Brown conseguiu se eleger como prefeito da cidade de Brampton. No dia seguinte, Ford anunciou o cancelamento da verba destinada aos três novos campus universitários aprovados pela província para Brampton, Milton e Markham.

O enredo não pára por aí. Recentemente foi revelado que um funcionário sênior do gabinete de Doug Ford pediu a demissão de Alykhan Velshi, executivo da Ontario Power Generation. Velshi teve um papel chave no escritório de Patrick Brown. O decreto custou $500.000 mil dólares aos contribuintes. Do mesmo modo, a tentativa de dificultar ou bloquear opositores políticos ocorre dentro do Queen’s Park. O PC apresentou legislação para modificar o número de representantes necessários ao status de partido oficial, subindo de 8 para 12. Atualmente, o Partido Liberal conta com sete membros eleitos e encontra-se a apenas um assento de atingir o status. A ideia para a mudança surgiu após o afastamento de Jim Wilson do cargo de ministro do desenvolvimento econômico e criação

valf macedo

de emprego, e seu consequente desligamento do PC. Como membro eleito, ele permanece no parlamento na categoria independente, e pode se filiar em qualquer outro partido. É só ligar os pontos. Enquanto eles brigam, as cidades e os cidadãos perdem. A agenda política de Doug Ford parece estar mais preocupada em derrubar seus opositores do que atender às demandas

urgentes para o desenvolvimento da província de Ontário. Logo mais, chegaremos à marca dos seis meses de governo, e é passado o momento de reconhecer que a melhor vingança é governar respeitando o sistema democrático, onde

tolerância política e legitimação da oposição são direitos que devem estar sempre assegurados, e então trabalhar para fazer jus ao slogan da sua campanha: “For the people”.

Camila Garcia é paulista e já trabalhou com teatro, rádio, televisão e jornalismo. Sempre de olho no universo político, adora trocar suas impressões com os mais chegados, e agora com os leitores do Jornal de Toronto. Atualmente é apresentadora do programa de televisão Focus Portuguese, todos os sábados e domingos, na OMNI TV.


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Retrospectiva do seu Lunga Jr. Cristiano de Oliveira

Ô ano complicado. Não dá pra chegar a essa época sem olhar pra trás e refletir sobre tudo o que aconteceu, mas ao mesmo tempo 2018 tá dando uma preguiça de analisar... Teve Copa do Mundo, e embora ninguém lembre quem ganhou, ninguém se esquece de quem mais nos matou de raiva, e é claro que me refiro a Neymar, o craque que é fruto do nosso chão: caiu de maduro e por ali ficou. Pois é, esse fruto era jaca, e lá foi ele desabando jogo após jogo. E fica pior mesmo é pra nós: você passa uma vida no exterior tentando provar que nem todo brasileiro é pilantra, daí vem um camarada desses tentar ganhar uma Copa do Mundo enganando juiz? Depois dessa, quando o assunto por aqui for futebol, finja que é gringo e diga “Ai lóve iú”. Por falar em pilantragem, esse ano eu fiz um experimento. Em meio a muito bate-papo de política, sempre cito o fato de que político não desce de disco voador. Ele sai do nosso meio e carrega nossos mesmos valores distorcidos, só que ele tem a oportunidade de lucrar mais com a sacanagem. Até aí, tudo bem. Daí eu tento trazer a conversa para perto, para os pecados do nosso pró-

prio dia-a-dia. RÁ! Incrível como, de repente, só tem santo a minha volta. Todo mundo vive num mar de honestidade, veio de família muito sofrida, muito trabalhadora, os avós foram escravos (disse uma cidadã mais branca que perna de canadense em março. Deus tá vendo), um chororô medonho, e no fim é sempre assim: sujeira, só a dos outros. Meu experimento concluiu que todo brasileiro é honesto, pobre e sofredor. Os corruptos vieram trazidos de outro planeta pelo Satangôs. E por falar em política, daí veio a eleição. Se existisse iogurte sabor barraco, com certeza seria feito a partir do cultivo de uma bactéria brasileira. Aquele papo de “dou um boi pra não entrar numa briga”... Tudo conversa fiada. A porteira dessa fazenda abre inteira quando a briga buzina pra entrar. Não adianta tentar conversar, você sempre acaba sendo chamado de burro, ladrão, doente etc. Eu perdi a conta de quantas vezes os universitários das Faculdades Integradas WhatsApp me mandaram ir estudar. Até pensei bem na sugestão, mas acabei optando por seguir carreira no ramo das drogas, crime, vagabundagem, filme pornô, dança do rock, baralho valendo e cria-

ção de frango com pixilinga. Mas o pior da eleição é o que vem agora: os eleitores arrependidos que resolvem me escrever pedindo “umas dicas” pra poder vir morar aqui. É só o que dá: você perde seu tempo dando dica até babar, e a pessoa, além de não dar valor, também não escuta o que você diz porque leu uma coisa mais bonita na internet. Aliás, não sei pra que dica, se a internet já falou que tudo aqui é lindo, a vida vai ser mansa e o extraordinário profissional brasileiro é tratado por todos como o gato do faraó.

Ah, eu cansei. A minha dica agora é: vá a CN Tower e a Niagara Falls. E não me chame. Mas o amor é lindo e vocês moram no meu coração. A todos vocês, aos amigos e também à cambada de safados sem-vergonhas que me fez raiva, eu desejo só coisa boa, luz e prosperidade, e quem tiver mesmo que ir se lascar, desejo que vá de primeira classe. Paziamô, meu povo, e em 2019 tem mais. Termino meu 14º ano como colunista de jornal nessa terra, e só tenho a agradecer a vocês pela preferência. Obrigado com força e um excelente ano pra nós. Adeus, cinco letras que choram.

Cristiano de Oliveira é mineiro, atleticano de passar mal, formado em Ciência da Computação no Brasil e pós-graduado em Marketing Management no Canadá. Foi colunista do jornal Brasil News por 12 anos. É um grande cronista do samba e das letras.

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N egócios Economia &

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É mais fácil mudar um comportamento do que uma crença Jamile Cruz é cofundadora e diretora executiva da I&D 101 “É mais fácil mudar um comportamento do que uma crença”, essa frase foi recorrente nas conversas com minha sócia e cofundadora da I&D 101, Laura Methot. Ela foi repetida inúmeras vezes enquanto passávamos horas, dias, semanas discutindo conceitos e soluções para desafios que empresas enfrentam no seu dia a dia. Refletimos muito sobre como o investimento em estratégias e políticas de inclusão tem ajudado organizações a alcançar uma vantagem competitiva no mercado. Com o avanço de nossas discussões e o uso contínuo dessa frase, foi importante que eu entendesse seu verdadeiro significado e se havia formas práticas de aplicação desse conceito. Em discussões sobre a nossa proposta de valor, definimos que líderes de negócio seriam a prioridade na nossa lista de clientes. Nós nos questionamos sobre o que fazer quando estes líderes não acreditam que Inclusão e Diversidade (I&D) sejam conceitos que devam fazer parte de conversas com outros executivos da empresa. Esse assunto poderia ser caracterizado por alguns como “mimimi” – uma expressão

usada pelos céticos para desvalorizar qualquer ideia trazida por minorias ou qualquer grupo que exija tratamento justo ou igualitário na sociedade. É usado informalmente para satirizar alguém que está sempre reclamando. A menção de “mimimi” nesse contexto existe porque acredito que esta seja uma das principais questões perante a socialização do conceito e prática de I&D. Quando o tópico surge, muitos correm para dizer que não é um problema e tentam invalidar a conversa dizendo que esta não pertence ao mundo corporativo (“não é nossa responsabilidade”), ou pior, dizendo que o problema não existe. Defendem que todos têm as mesmas oportunidades e que alguns apenas estão mais aptos a aproveitá-las e serem bem-sucedidos. Deixar de reconhecer que o privilégio desempenha um papel fundamental no mundo corporativo é descontar um fator crítico que afeta uma grande parcela da força de trabalho. É ignorar que um grupo seleto tem mais acesso a oportunidades, vantagens em relação a referências em processos de recrutamento, promoção e as-

jeff sheldon

censão. Isso produz um resultado parcial e mantém um grupo mais diverso longe da mesa de tomada de decisões. Ao analisar as mudanças comportamentais que sustentam um ambiente de trabalho mais inclusivo, o primeiro passo é parar de negar a existência de atitudes de exclusão. Para um(a) líder, isso significa que quando um funcionário apresenta um caso onde há uma percepção de disparidade ou que demonstre tratamento privilegiado de um indivíduo ou grupo dentro de sua organização, deve-se ouvir atentamente, reconhecer a experiência desse colaborador, ouvir a solução pro-

posta e definir um plano de ação. O processo se inicia com uma investigação do ocorrido e deve ser seguida por ações concretas para a correção de quaisquer problemas reais encontrados. Como a mudança de comportamento acontece? Em termos práticos, se uma mulher em sua equipe chega até você (o/a líder) e expõe uma situação em que haja uma percepção de vantagem dada a um homem na mesma equipe, devido a um preconceito de gênero, você deve ouvi-la, tentar entender o impacto que esse comportamento teve nessa colaboradora e na equipe que você está gerenciando. Em seguida, deve definir e executar as ações necessárias para resolver o problema e garantir que ele não se repita. Quando você reconhece que há um possível problema a ser resolvido, você está apoiando o crescimento dos membros de sua equipe e de sua organização, o que é o oposto do que acontecerá se você ouvir o que ela tem a dizer e responder:

“ele não teve a intenção...” ou “o João é assim, foi só uma brincadeira!”. Com o aumento das discussões sobre o significado de Inclusão e Diversidade em nossas sociedades, governos, organizações e vidas pessoais, a necessidade de mudança se torna cada vez mais evidente. Para avançar com harmonia e eficácia, devemos reconhecer que nossas diferenças podem nos fortalecer, ao invés de nos dividir. Todos nós precisamos rever nossos comportamentos e crenças e tentar novas abordagens. Quando começarmos a demonstrar comportamentos mais inclusivos, começaremos a ver os benefícios de uma força de trabalho inspirada nesses comportamentos, impulsionando um aumento na criação de valor e inovação em nossas organizações. Ao modelar esses comportamentos, nós implicitamente incentivamos outros ao nosso redor a fazer o mesmo. A mudança consistente de comportamento pode levar à transformação de nossas crenças.


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